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07 abril 2024

Mito das Dez Mil horas

Gladwell popularizou a ideia de que seriam necessárias dez mil horas para produzir um especialista em qualquer área. O autor utilizou um artigo de 1993, de Anders Ericsson, que estudou músicos que alcançavam ou não fama mundial. A simplificação de Gladwell era bastante atraente, assim como todos os temas do autor. No entanto, era uma enorme simplificação.

Na verdade, Anders falava no número de horas, mas insistia na prática deliberada. O pesquisador esclarece isso de forma bem consistente no livro "Direto ao Ponto", que faz uma boa leitura. Mas encontrei um artigo de Scott Young onde se questiona o fato de Anders ter subestimado a habilidade ou o talento. Naturalmente, isso varia conforme o campo de conhecimento. Mas Young chama a atenção para o fato de que o processo é comparativo. Um cantor de elevada qualidade significa uma comparação com milhões de outros cantores. Aqui, a exigência de um grande número de horas dedicadas à prática deliberada pode ser necessária. Mas pessoas que tocam Glass Armonica, um instrumento que usa uma série de tigelas de vidro de tamanhos graduados onde o músico toca as bordas umedecidas com os dedos para produzir sons, são raras e exigirão menos devoção para ser um artista de elite.


A discussão é importante e afeta o campo do ensino. Considere um programa de doutorado. Uma das habilidades importantes para a futura doutora é a capacidade de fazer pesquisa e escrever relatórios. Assim, a prática focada na pesquisa pode ser uma exigência interessante para a aluna de pós-graduação, mais do que fazer provas sem consulta ou decorar deduções matemáticas.

Leia: Young, Scott. The 10,000-Hour Rule is a Myth. 23 de jan 2024.  Imagem criada pelo ChatGPT

05 abril 2024

Faleceu Michael Jensen


Michael Jensen, um dos mais influentes economistas dos últimos anos, faleceu no dia 3 de abril. Ele ficou muito conhecido por suas contribuições para a teoria das finanças corporativas. Talvez sua principal obra seja um artigo escrito em conjunto com William Meckling, denominado "Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure" em 1976. 

No texto, os pesquisadores exploram os conflitos de agência. A base é que os interesses do principal podem não ser o mesmo do agente. Em uma empresa, um exemplo seria o interesse do gestor - o agente aqui - que não coincide com o interesse do acionista, o principal nessa relação. Há diversas maneiras de resolver o problema de agência, como a remuneração. 

Jensen era americano e fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago, tendo por orientador Merton Miller. Ele foi fundados do Social Science Research Network ou SSRN. Particularmente, nunca consegui entender as razões do não reconhecido do Nobel de Economia. 

04 abril 2024

Vegano e honestidade no julgamento de SBF

De Marc Mukasey — advogado de Sam Bankman-Fried — sobre seu cliente:

"Ele é um nerd estranho da matemática. Ele é vegano. Ele tem um intelecto fora das tabelas. Ele é um enigma belo. Ele pode analisar palavras melhor do que um estudioso do Talmude. Ele era um bilionário desinteressado por posses materiais."

A defesa de SBF apelar para o fato de ser um vegano é estranho, pois parece não existir uma relação comprovada entre este fato e a honestidade de uma pessoa. O juiz Lewis A. Kaplan também achou estranho, e o pedido de uma sentença de 6,5 anos não passou. SBF pegou 25 anos. 

Abaixo, a comparação com outros criminosos famosos. 



Clima e as múltiplas regras

De um relatório da EY:


A SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) adotou recentemente regras finais que exigem que os registrantes façam divulgações relacionadas ao clima tanto dentro quanto fora dos demonstrativos financeiros auditados. O primeiro conjunto de Padrões Europeus de Relatórios de Sustentabilidade da Comissão Europeia exige que as entidades façam divulgações de sustentabilidade, incluindo certas divulgações relacionadas ao clima. Os padrões gerais de divulgação de sustentabilidade e relacionados ao clima do ISSB (International Sustainability Standards Board) precisam ser adotados pelas autoridades em uma jurisdição específica para serem obrigatórios.

Entidades com operações significativas em múltiplas jurisdições precisam entender as principais diferenças entre as regras da SEC, os padrões ESRS (European Sustainability Reporting Standards) e os padrões do ISSB porque podem estar sujeitas a mais de um conjunto de requisitos.

No documento há um quadro comparativo das diferenças das normas. 

02 abril 2024

IA e Bayes-Laplace

Muito interessante isso. Em 1968 Edwards propôs um problema de probabilidade bastante simples. A questão era a seguinte: 

Suponha duas caixas, Caixa A = contendo 700 fichas azuis e 300 fichas brancas. Caixa B = contendo 300 fichas azuis e 700 fichas brancas. Sem saber o conteúdo das caixas, você escolheu uma delas, mas não retirou nenhuma ficha. Na sua opinião, qual a probabilidade que seja a caixa A?

O resultado é básico, já que a chance seria de 50%. A grande maioria das pessoas acerta a resposta. Mas Edwards complicou um pouco mais e fez uma nova pergunta: 

Suponha duas caixas, Caixa A = contendo 700 fichas azuis e 300 fichas brancas. Caixa B = contendo 300 fichas azuis e 700 fichas brancas. Sem saber o conteúdo das caixas, você escolheu uma delas e retirou, sem olhar, 6 fichas, sendo 4 azuis e 2 brancas. Na sua opinião, qual a probabilidade que seja a caixa A?

Agora já fica um pouco mais complicado. Mas já temos uma informação de que parece existir mais fichas azuis do que brancas. Então a chance deveria ser maior do que 50% de que a caixa seria A. Ou seja, o resultado correto estaria entre 50,1% e até 99,9%. Em meados do século XVIII apareceu uma solução para este problema. Nós conhecemos como sendo Teorema de Bayes, muito embora tenha sido Laplace o principal responsável por sua formalização. Laplace criou a famosa fórmula, que Edwards aproveitou para criar o problema da caixa. 

É bom lembrar que em 1968 prevalecia a estatística oriunda de Fisher, Pearson (pai e filho) e Neyman. Mas Edwards estava interessado em saber se as pessoas eram ou não conservadoras. Apesar do Teorema de Bayes-Laplace dar uma resposta para o problema, a maioria das pessoas arriscava um valor que era bem menor que a resposta correta. 

Isso tudo é para chegar a questão da inteligência artificial. Coloquei este problema no ChatGPT e no Gemini e eis o resultado. Em um primeiro momento, o resultado foi: 


Em uma segunda tentativa, o Gemini cravou: 


No GPT também tivemos o mesmo problema. A primeira tentativa com resposta (em dois momentos ele indicou o cálculo, mas não o resultado) teve:
E depois 


Fiz uma terceira vez: 

É interessante que é o mesmo problema. Mas o resultado. 

(Quem quiser ler sobre a história do teorema, recomendo: MCGRAYNE, Sharon. A teoria que não morreria. São Paulo: Perspectiva, 2015. Uma explicação bem simples você acha em SILVER, Nate. O Sinal e o ruído. Intríseca, 2012. Se você acha que isso não tem nenhuma relação com a contabilidade recomendo JOHNSTONE, David. Accounting Theory as a Bayesian Discipline. Foundations and Trends in Accounting: Vol. 13, No. 1-2, 2018. O problema das caixas está em: EDWARDS, Ward. Conservatism in human information processing. Judgment Under Uncertainty, 359–369, 1968.) 

01 abril 2024

Boeing e regulador

Os problemas da Boeing persistiram nos últimos dias e, na semana passada, tanto o CEO quanto o presidente do conselho anunciaram que estariam saindo da empresa. Talvez o principal problema esteja relacionado com o avião 737 Max, que sofreu dois grandes acidentes aéreos (Indonésia, em 2018, e Etiópia, em 2019), com 346 pessoas. Os problemas com o jato não surgiram por acaso, mas estão vinculados à cultura organizacional, focada na eficiência, redução de custos e metas financeiras de curto prazo.

Mas há um problema que tem sido destacado pela imprensa: a relação estranha entre os reguladores e a empresa. Conforme Cory Doctorow:

Em um mundo ideal, eu nem precisaria pensar nisso. Eu poderia confiar que reguladores publicamente responsáveis estavam fazendo seu trabalho, garantindo que os aviões estivessem em condições de voo. "Caveat emptor" (comprador, esteja atento) não é forma de administrar um sistema de aviação civil. (...)

Existem dezenas – centenas! – de questões técnicas de vida ou morte que você precisa resolver todos os dias apenas para sobreviver. Deve-se confiar no firmware de freios ABS do seu carro? E sobre as regras de higiene alimentar nas fábricas que produziram os alimentos no seu carrinho de compras? Ou na cozinha que preparou a pizza que acabou de ser entregue? A escola do seu filho está ensinando bem, ou eles crescerão ignorantes e, assim, serão atropelados economicamente?

Mas para que nossa vida seja possível, precisamos de reguladores que façam seu trabalho corretamente. Os problemas com a Boeing trouxeram uma análise sobre o papel do regulador; nos Estados Unidos, seria uma agência com a sigla FAA, que delegou à Boeing – você não leu errado – a certificação de que seus aviões são seguros. Não é preciso ser um especialista em aviação para saber que isso não é uma medida adequada.

Agora, olhe para o processo regulador da contabilidade. Há muitas entidades, como IASB, sistema CPC/CFC, CVM e outras. Você estaria satisfeito com a qualidade do produto que a contabilidade está entregando à sociedade? Há muitas pessoas que responderiam não, como Renato Chaves do Blog de Governança. Acredito que podemos aprender com o que está ocorrendo com a Boeing, olhando de maneira crítica, o que pode melhorar o processo.


Uma medida simples que podemos adotar é proibir a porta giratória nas entidades reguladoras contábeis. Outra, é aumentar a diversidade dessas entidades, não somente de gênero, mas também geográfica e origem. A vantagem da nossa área é que existe muita pessoa competente para ajudar. 

31 março 2024

Linguagem obscura, não saber o que diz ou não acreditar no que diz

Um texto de Gellman pontua sobre a escrita nebulosa. Ele lembra George Orwell, autor de Revolução dos Bichos, que afirmava que se você não sabe o que está dizendo - ou está dizendo algo que não quer dizer - um estratégia é escrever de forma pouco clara. Gellman usa o argumento para a linguagem científica e o uso da estatística. 

Pode ser isso: Você está tentando escrever algo que não entende completamente, está tentando preencher uma lacuna entre o que você quer dizer e o que é realmente justificado pelos seus dados e análise... e o resultado é "Orwelliano", no sentido de que você está desesperadamente usando palavras para tentar cobrir esse abismo enorme no seu raciocínio.

Vamos agora para uma informação contábil. Parte da informação pode ser transmitida por palavras, gráficos e discurso do executivo. Para o contador, os números das demonstrações deveriam ser um campo de fácil comunicação. Assim, não seriam um problema. Mas a comunicação escrita, gráfica e verbal pode ser um problema.

Vamos nos ater aqui somente à linguagem textual. Junto com os números contábeis, há a necessidade de escrever as notas explicativas, o relatório do auditor e outros textos. E o contador precisa dizer coisas que ou não sabe ou não acredita.

Há técnicas para resolver os problemas da escrita, mas o uso de uma linguagem não clara pode ser uma saída para a situação. Outra possibilidade é usar a linguagem que já existe nos pronunciamentos, reproduzindo o texto, sem comprometer-se com a realidade que ele percebe.

Essa é uma razão interessante pela qual o estudo da linguagem opaca, com termos complicados, frases longas e sem sentido, pode ser útil para o usuário da informação. Saber se o contador entende o que está escrevendo ou acredita naquilo que informa pode ser realmente valioso.

(Imagem ChatGPT)

28 março 2024

Comentário sobre os periódicos nacionais

A expansão dos programas de pós-graduação em nossa área, ocorrida no início do milênio, também trouxe uma consequência importante: o aumento dos periódicos nacionais. Como cada programa “tinha” seu periódico, com algumas exceções, o número de veículos para publicação das pesquisas cresceu substancialmente. Outro fator importante foi o fato de que a grande maioria era em formato digital, o que significava um custo próximo de zero. Tudo parecia funcionar perfeitamente: o aumento no número de alunos e docentes na pós-graduação levava ao crescimento da produção científica, que, por sua vez, impulsionava os periódicos.


Há outro fato que não podemos desprezar que ocorreu no Brasil. Algumas áreas da pós-graduação decidiram deixar de lado as métricas tradicionais de publicação, usadas globalmente, e passaram a contar com uma métrica específica para o nosso país, o Qualis. Assim, um periódico não precisava estar em uma grande base mundial de pesquisa para entrar no Qualis. Também não era relevante a publicação de pesquisa em inglês, a linguagem universal da ciência atual.

Mas, nos últimos anos, os editores de periódicos perceberam três pontos relevantes. O primeiro deles é que a quantidade de artigos de qualidade submetidos parece ter diminuído. Houve também uma redução na demanda por pós-graduação que pode justificar parcialmente essa redução. E a redução no número de alunos da pós – ou talvez seja no número de candidatos dispostos a fazer a pós – ocorreu dado que a expansão da pós atendeu à demanda reprimida que existia, representada por professores mais experientes que precisavam da titulação, e por uma visão de que estudar em uma instituição formal talvez não seja tão vantajoso assim. Este último ponto é polêmico e merece, eu sei, maior aprofundamento.


Mas a menor quantidade de artigos submetidos certamente não foi justificada somente pelo menor número de alunos da pós. Os autores de pesquisa perceberam que publicar em periódicos internacionais tinha algumas vantagens interessantes. Na maioria dos casos, essa publicação é paga, mas o fato de a pesquisa ser indexada em uma base de publicação reconhecida permite que a pesquisa seja citada no exterior. Um dos grandes motores da publicação é o orgulho, e ter um artigo publicado em língua inglesa, citado por um autor de outro país e até reconhecido, compensa o desafio de publicar em periódico internacional.

O segundo ponto relevante que os editores perceberam é que o custo de manter um periódico não é zero. Você precisa ter um apoio administrativo para lidar com a quantidade de artigos que chegam, o registro do periódico em algumas bases, para torná-lo mais atrativo, tem um custo, e o tempo que o editor se dedica à tarefa é muito grande. E a brincadeira cansa. Há pressão para soltar o periódico no prazo, manter-se atualizado em termos de novas tendências, encontrar pareceristas que façam um bom trabalho e lidar com a concorrência. Tornou-se comum os periódicos demorarem mais de 500 dias para recusar um artigo depois de seis rodadas com um parecerista (aconteceu comigo). Outros simplesmente não fazem seu artigo progredir. Ou publicam seu artigo atrasado, afetando seu planejamento de publicação. E muitas pessoas perceberam que ser editor de um periódico significa trabalho, mas muito pouco status.

A percepção chegou de forma forte para alguns periódicos, onde os editores foram fazer outra coisa e ninguém apareceu para se dedicar com empenho à tarefa. Vários deles sumiram. Publiquei, por exemplo, um artigo em um deles e não guardei a versão final em PDF. O resultado é que, quando alguém pede a pesquisa, não tenho como encaminhar. O custo oculto do periódico não foi devidamente calculado no passado e cobra seu preço.

A terceira questão é que o processo de publicar um artigo em um periódico é mais complexo do que parece. Não irei falar aqui da fase de formatação ou da fase de captação dos pareceristas, mas sim do momento após o artigo estar disponível para os leitores. Alguns periódicos internacionais enviam um e-mail bastante atraente com um resumo menos técnico para que a pesquisa cause impacto. Isso envolve podcasts e infográficos que são realmente atraentes. A presença nas redes sociais também é notada, o que inclui postagens específicas em blogs, Instagram ou TikTok. Durante quase vinte anos de blog, confesso que não me lembro de um editor solicitando a divulgação das pesquisas dos periódicos. Fazemos isso por opção, mas a falta de interesse mostra que o caminho da divulgação das pesquisas por parte dos periódicos brasileiros precisa melhorar bastante.

É verdade que alguns poucos periódicos perceberam que precisam estar em bases de dados indexadas para serem vistos. Ou que os artigos só serão lidos se estiverem em língua inglesa. Ou que poderiam lançar um serviço de apoio ao autor para ajudá-lo no processo de submissão e publicação. Ou que o e-mail enviado aos cadastrados não seja apenas algo como "foi publicada uma nova edição". No mundo onde a atenção é importante, atrair o leitor significa ter pessoas que não só irão ler, mas também citar os trabalhos.

Diante desse contexto, o processo de extinção de periódicos continuará acontecendo. Alguns poucos até serão vendidos para editoras internacionais, que passarão a cobrar pela publicação e acesso ao artigo. Outros continuarão com uma qualidade de atendimento ao pesquisador tão ruim que serão extintos ou definharão. 

(Imagem criada pelo GPT a partir do texto acima)

27 março 2024

Ovos na mesma cesta


Apesar de toda a conversa sobre os "Magníficos 7", o mercado de ações dos EUA é um dos menos concentrados do mundo. Suas 10 maiores empresas por valor de mercado - que incluem essas gigantes da tecnologia, além da Berkshire Hathaway e um elenco rotativo de outras - representam 19% do total, muito menos do que no Reino Unido (28%), Alemanha (45%) e Taiwan, onde a gigante de chips TSMC responde por 40% de todo o mercado, de acordo com o novo anuário de investimentos do UBS. Se a Samsung (Coréia do Sul), BHP (Austrália) ou AstraZeneca (Reino Unido) entrassem em colapso, esses países perderiam não apenas campeãs nacionais, mas pilares de seus mercados de capitais. (Do newsletter da Semafor)

Do relatório citado achei interessante:

Eight of the 12 markets in the middle panel have long-established stock exchanges dating back well over a century: Argentina (1854), Brazil (1890), Chile (1893), Greece (1876), Hong Kong SAR (1890), India (1875), Mexico (1894) and Singapore (1911)

A figura a seguir mostra que o mercado hoje é bem mais concentrado do que antes: 



Kahneman ...

Danny Kahneman passed away today.

Here's the Washington Post obituary:

Daniel Kahneman, Nobel-winning economist, dies at 90. He found that people rely on shortcuts that often lead them to make wrongheaded decisions that go against their own best interest  By Chris Powe

"Daniel Kahneman, an Israeli-American psychologist and best-selling author whose Nobel Prize-winning research upended economics — as well as fields ranging from sports to public health — by demonstrating the extent to which people abandon logic and leap to conclusions, died March 27. He was 90.

"His death was confirmed by his stepdaughter Deborah Treisman, the fiction editor for the New Yorker. She did not say where or how he died.

Fonte aqui

26 março 2024

Trump e a fiança

Do jornal Estado de S Paulo:

Um tribunal de apelação de Nova York concordou em adiar a cobrança da sentença de fraude civil do ex-presidente Donald Trump de mais de US$ 454 milhões se ele depositar US$ 175 milhões em um prazo de 10 dias. O ex-presidente teve pouco tempo para comemorar. Em um outro tribunal da cidade, um juiz negou seu esforço para adiar outro processo, marcando o início para o dia 15 de abril. Com isso, Trump provavelmente se tornará o primeiro ex-presidente americano a ser julgado por acusações criminais.

No caso de fraude fiscal, o tribunal de apelação determinou que se o pagamento de US$ 175 milhões for feito no prazo, interromperá o tempo de cobrança e impedirá que o Estado confisque os bens de Trump enquanto ele recorre. O tribunal de apelações também reverteu outros aspectos da decisão anterior que proibiu Trump e seus filhos Eric Trump e Donald Trump Jr. de exercer liderança corporativa por vários anos. No geral, a ordem foi uma vitória significativa para o ex-presidente, que defende o império imobiliário que o lançou na vida pública.


25 março 2024

Empatia com de Waal

Frans de Waal foi um renomado primatologista e etólogo holandês, nascido em 29 de outubro de 1948. Ele é reconhecido por seu trabalho na área da sociobiologia dos primatas, especialmente no estudo do comportamento e da inteligência dos grandes símios. O foco de De Wall foi no estudo dos primatas, concentrando-se em temas como empatia, justiça, cooperação, e a capacidade de paz entre os membros das especies. 

Recentemente eu li a obra de Frans de Waal "A Era da Empatia". É uma obra otimista sobre o ser humano, apesar de usar muitos casos da suas pesquisa. Com 75 anos, de Waal faleceu há dez dias de câncer no estomago. 

iLobby

Após enfrentar a Comissão Internacional de Comércio dos EUA (ITC) em tudo, desde iPhones a relógios inteligentes nos últimos anos, a Apple está aumentando seus esforços de lobby em Washington para reescrever as regras da agência, segundo o NYTimes.

No ano passado, a empresa foi forçada a remover uma funcionalidade de medir o oxigênio no sangue do seu Apple Watch nos EUA após a ITC banir o produto por infrações de patentes. Multas são algo com que a Apple pode lidar, mas a capacidade da ITC de implementar proibições completas é mais preocupante para o fabricante do iPhone, levando a empresa a fazer lobby junto aos legisladores para remodelar o foco da ITC em direção ao que está no "interesse público".


Como gastar dinheiro e influenciar pessoas

Embora gastar muito para conseguir o apoio do governo possa parecer um fenômeno moderno, a prática data quase desde a fundação da nação, com os primeiros lobistas supostamente contratados em 1792, quando veteranos do Exército Continental recrutaram influenciadores políticos para fazer lobby no Congresso por mais compensação.

Embora a indústria farmacêutica tenha sido a maior gastadora na cena do lobby por décadas, as grandes empresas de tecnologia têm aumentado seu orçamento à medida que o escrutínio aumentou. No ano passado, as 5 maiores empresas de tecnologia voltadas para o consumidor gastaram cerca de $76 milhões na busca de seus interesses políticos, segundo dados da Open Secrets. De fato, o gasto de $9,86 milhões da Apple no ano passado parece relativamente frugal em comparação com o Meta e a Amazon, cujos gastos ultrapassaram $19 milhões cada.

Fonte: Chartr

24 março 2024

Confusão ESG no Texas

Postura anti-ESG fica mais complicado de fazer negócios. Da newsletter do NYTimes

O abraço de Wall Street ao financiamento climático está novamente sob ataque na América dos estados vermelhos [republicanos]. Um fundo escolar do Texas disse que estava encerrando seu contrato com a BlackRock para gerenciar cerca de $8,5 bilhões em dinheiro do estado, acusando a firma de boicotar empresas de energia, uma fonte de dinheiro em Texas.


A movimentação de ontem vem enquanto bancos enfrentam uma enxurrada de desafios legais de estados conservadores e à medida que os investidores estão perdendo o interesse em E.S.G. — abreviação para governança ambiental, social e corporativa — estratégias de investimento.

Gigantes de Wall Street já estavam reduzindo a promoção de E.S.G. No mês passado, BlackRock, JPMorgan Chase e State Street reduziram seu envolvimento ou se retiraram do Climate Action 100+, uma coalizão global de gestores de fundos que vinha pressionando empresas a descarbonizarem. (Larry Fink, C.E.O. da BlackRock, também disse que não usava mais o termo "E.S.G.", embora a firma permaneça comprometida com a estratégia.)

O Texas liderou uma nova investida conservadora contra E.S.G. Ao romper com a BlackRock, o Fundo Escolar Permanente do Texas disse que estava cumprindo uma lei de 2021 que restringia municípios e agências estaduais de trabalharem com bancos que fossem considerados como desinvestindo em petróleo e gás ou empresas de armas de fogo. Está entre as maiores retiradas por um estado de um gestor de fundos sobre a questão.

Chris Van Es, um porta-voz da BlackRock, chamou a decisão do fundo de "unilateral e arbitrária", acrescentando que ela "ignora nosso investimento de $120 bilhões em empresas públicas de energia do Texas."

A dura postura anti-E.S.G. pode não ser boa para os negócios. A Associação de Negócios do Texas, um grupo de lobby que inclui grandes empresas de energia, divulgou um relatório este mês descobrindo que a lei de 2021 poderia custar milhões ao estado.

Houve cerca de 145 projetos de lei anti-E.S.G. introduzidos em 28 estados este ano. Mas apenas um foi aprovado, de acordo com Frances Sawyer, chefe da Pleiades Strategy, um grupo de pesquisa de políticas que tem acompanhado as batalhas legislativas. Os projetos de lei estão enfrentando resistência de uma coalizão de ativistas climáticos e grupos empresariais.

"O extremismo está sendo bloqueado", disse Sawyer ao DealBook, apontando para a derrota no mês passado de um projeto de lei de New Hampshire que propôs tornar o investimento E.S.G. com fundos estaduais em um delito criminal.

Imagem: GPT

Trump e a fiança de 454 milhões

O ex-presidente e atual candidato à presidência, Donald Trump, foi condenado por fraude civil em Nova York. A fiança é de 454 milhões de dólares e ele não conseguiu o dinheiro. Nos últimos dias, Trump está procurando possíveis doadores e, ao mesmo tempo, uma possível decisão favorável no tribunal de apelação. Se não conseguir, ele pode perder bens valiosos. 


Mas parece que poucos estão dispostos a ajudar. Em alguns casos, Trump propôs suas propriedades como garantia. Mesmo sendo um bilionário, há um problema de liquidez. Seu patrimônio é composto por imóveis e parte dos recursos já estão vinculados a uma fiança em uma caso de difamação, contra E. Jean Carroll

O prazo termina amanhã, dia 25 de março. Caso não pague, a procuradora Letitia James poderá limpar as contas bancárias de Trump ou confiscar outros ativos menos líquidos, como seus imóveis. Especula que a Trump Tower poderia ser um alvo, já que há uma associação entre Trump e o prédio. 

Trump pode reagir e usar uma legislação de falência para evitar uma medida mais drástica. Trump já teve uma experiência anterior com falência, mas aumentaria os litígios contra as suas empresas. 

Imagem: GPT. Informação: newsletter do NY Times de 19 de março

Dinheiro público para equipes esportivas

Os proprietários das equipes esportivas usam a ameaça de levar a sede de um time para outra cidade sob a justificativa, muitas vezes verdadeira, que estão recebendo benefícios para isso. Ou seja, dinheiro público. Tal fato parece ser comum nos Estados Unidos, conforme newsletter da Bloomberg, que diz: 

Outra tradição, infelizmente, é os donos de times basicamente extorquirem suas comunidades para pagar por esses novos estádios reluzentes, ameaçando levar seus times para cidades mais acolhedoras (ou seja, mais ingênuas) dispostas a desembolsar dinheiro público em elefantes brancos. Os últimos casos aconteceram na Virgínia e em Chicago. 


"Os legisladores estaduais da Virgínia fizeram algo raro," escreve Nia-Malika. "Diante da chance de trazer dois times profissionais, eles bloquearam o acordo vantajoso da arena que seria a grande conquista do Governador Republicano Glenn Youngkin. Outros legisladores e eleitores deveriam prestar atenção e reconhecer o que tem sido claramente óbvio por décadas. Os locais esportivos beneficiam os bilionários proprietários e raramente trazem os benefícios econômicos locais prometidos para as comunidades e contribuintes... se isso significa que os times vão para outro lugar, que assim seja."

Veja que isso não é novidade no Brasil. Há equipes esportivas de futebol que mudam de cidade, como o Grêmio Barueri, que chegou a transferir para Presidente Prudente. Mas a tradição local de um clube e o fato de existirem competições regionais fortes no futebol ainda é um fator que inibe essa mudança. 

Sobre o uso de dinheiro público, não podemos esquecer da construção de estádios de futebol, como a polêmica da Arena Itaquera, com recursos da Caixa


Levitt anuncia aposentadoria

O economista Levitt anunciou sua aposentadoria. O co-autor do famoso Freakonomics parece estar cansado da academia. A revista The Economist fez uma análise do trabalho dele, mas destaco o seguinte: 

O capítulo mais controverso do livro argumentava que a legalização do aborto em todo o território americano em 1973 levou a uma queda no crime nos anos 90, porque mais bebês indesejados foram abortados antes que pudessem crescer e se tornar adolescentes delinquentes. Era um clássico do gênero inteligentinho: um cientista social destemido usando dados para chegar a uma conclusão contraintuitiva e não se esquivando de ofender. No entanto, estava errado. Pesquisadores posteriores encontraram um erro de codificação e apontaram que o Sr. Levitt havia usado o número total de prisões, que depende do tamanho de uma população, e não a taxa de prisão, que não depende. Outros apontaram que a queda no homicídio começou entre as mulheres.


O divórcio sem culpa, ao invés do aborto legalizado, pode ter desempenhado um papel mais significativo. Outros economistas, incluindo James Heckman, colega do Sr. Levitt em Chicago e também ganhador do Prêmio Nobel, preocupavam-se com a trivialização. "Fofo", foi como ele descreveu a abordagem em uma entrevista. Pegue um artigo sobre discriminação no "The Weakest Link", um show de jogos onde os concorrentes votam para eliminar outros participantes dependendo se eles acham que estão custando dinheiro ao errar perguntas (na parte inicial do jogo) ou se são competição para o prêmio por acertá-las (mais tarde). Isso forneceu um cenário no qual o Sr. Levitt pôde observar como a percepção da competência dos outros interagia com racismo e sexismo. Um design astuto — mas talvez de relevância limitada para entender resultados econômicos mais amplos.

No cerne da crítica do Sr. Heckman estava a ideia de que os praticantes de tais estudos estavam focando em "validade interna" (garantir que as estimativas do efeito de alguma mudança fossem corretamente estimadas) sobre "validade externa" (se as estimativas se aplicariam mais geralmente). O Sr. Heckman, em vez disso, achava que os economistas deveriam criar modelos estruturais de tomada de decisão e usar dados para estimar os parâmetros que explicavam o comportamento dentro deles. O debate se tornou tóxico. De acordo com o Sr. Levitt, o Sr. Heckman chegou ao ponto de designar alunos de pós-graduação com a tarefa de desmontar o trabalho do autor de Freakonomics para seu exame final. Você sabia... Nenhum dos dois ganhou. A revolução da credibilidade devorou seus próprios filhos: trabalhos subsequentes muitas vezes revertiam resultados, mesmo que, como no caso daqueles popularizados por Freakonomics, tivessem uma sobrevida como anedotas de festas. O problema se espalhou para o restante da profissão também. Um estudo recente de economistas do Federal Reserve descobriu que menos da metade dos artigos publicados que examinaram poderia ser replicado, mesmo quando recebiam ajuda dos autores originais. Os resultados contraintuitivos do Sr. Levitt saíram de moda e os economistas em geral se tornaram mais céticos. Ainda assim, as abordagens favorecidas pelo Sr. Heckman têm seus próprios problemas. Modelos estruturais requerem suposições que podem ser tão implausíveis quanto qualquer experimento quase-exótico. Infelizmente, muitas pesquisas contemporâneas usam vastas quantidades de dados e as técnicas da "revolução da credibilidade" para chegar a conclusões óbvias. As questões centenárias da economia são tão interessantes quanto sempre foram. As ferramentas para investigá-las permanecem em desenvolvimento.

(Traduzido via ChatGPT)

Medir a corrupção dos países corretamente

(...) Índices globais de corrupção, incluindo o Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional (CPI) e o Índice de Controle da Corrupção do Banco Mundial, atribuem uma única pontuação aos países. Essas métricas consistentemente mostram que os países ricos são “muito limpos” enquanto os países pobres são “altamente corruptos”. Por exemplo, o CPI de 2023 classifica o Reino Unido (com pontuação 71) como o 20º país menos corrupto do mundo, muito mais limpo que a China (42) e o Brasil (36). A maioria dos usuários do CPI, incluindo meios de comunicação, empresas e analistas, interpretam esses números como um fato.


Mas os países mais ricos são realmente menos corruptos que os mais pobres? Métricas unidimensionais como o CPI obscurecem o fato de que variedades qualitativamente diferentes de corrupção não podem ser reduzidas a uma única pontuação. Essas métricas também sub-medem sistematicamente o que chamo de “corrupção dos ricos” – que tende a ser legalizada, institucionalizada e eticamente ambígua – em oposição à “corrupção dos pobres”.

Em países mais pobres, a corrupção assume formas claramente ilegais e ultrajantes, como o roubo de fundos públicos e a aceitação de subornos. Em países ricos, por outro lado, muitos acreditam que o problema desapareceu. Em "The Quest for Good Governance", Alina Mungui-Pippidi conclui até que as economias avançadas alcançaram um estado final de “universalismo ético”, onde “o tratamento igual se aplica a todos”. A Grã-Bretanha é “o executor histórico clássico” neste aspecto, seguido por “fragmentos do império britânico povoado principalmente por populações de descendência europeia”. Em resumo, o rico Ocidente é limpo.

Mas, dado o surgimento do populismo nas democracias de alta renda hoje, muito dele uma reação contra as vantagens desproporcionais desfrutadas pelos ricos e politicamente conectados, o “universalismo ético” parece mais ilusório do que real. Como uma exposição contundente do New York Times em 2020 revelou, metade dos contratos do governo do Reino Unido para suprimentos médicos durante a pandemia da COVID-19 foi para “empresas administradas por amigos e associados de políticos” por meio de uma “Faixa VIP” especial.

Como, então, o CPI classificou o Reino Unido como o 20º país menos corrupto? A pontuação é baseada não em pesquisas conduzidas internamente pela Transparência Internacional, mas em uma combinação de várias pesquisas de terceiros. Quase todas essas vêm de organizações ocidentais como a Unidade de Inteligência.

Além disso, a formulação dessas pesquisas é frequentemente vaga. Por exemplo, o Anuário de Competitividade Mundial, uma das fontes do CPI, apresenta aos executivos de empresas uma escolha binária grosseira: “Suborno e corrupção: existem ou não existem.” Não é de admirar que o CPI mostre que os países ricos são “muito limpos” ano após ano, mesmo quando seus cidadãos comuns discordam.

Reconhecendo que não havia alternativas a essas métricas convencionais, apesar de numerosas críticas (incluindo do próprio criador do CPI), eu desenvolvi o Índice de Corrupção Desagregado. Como o CPI, o UCI é uma métrica de percepção de corrupção que depende de pesquisas de especialistas. No entanto, ele desagrega a corrupção em quatro variedades distintas: pequenos furtos (extorsão por oficiais de nível de rua), grandes furtos (desfalque por políticos), dinheiro rápido (pequenos subornos para superar obstáculos burocráticos ou assédio) e dinheiro de acesso (grandes pagamentos em troca de privilégios exclusivos e lucrativos, como contratos e resgates).

Enquanto as três primeiras variedades de corrupção - as endêmicas em países pobres - são descaradamente ilegais e diretamente prejudiciais, o dinheiro de acesso pode ser ilegal (como no caso de suborno) ou permitido (como no financiamento de campanhas). Métodos sofisticados de compra de privilégios podem envolver instituições inteiras onde nenhum indivíduo é corrupto. Por exemplo, a lavagem de dinheiro, para a qual Londres é um polo conhecido, pode envolver a movimentação de fundos sem empecilhos através de fronteiras por meio de instituições financeiras amplamente respeitadas. Nos Estados Unidos, os bancos gastaram coletivamente bilhões em lobby por regulamentações laxistas, levando à crise financeira de 2008, mas apenas um banqueiro foi indiciado.

O UCI utiliza uma pesquisa original de especialistas para classificar todos os quatro tipos de corrupção. Para melhorar a qualidade da medição, emprego vinhetas estilizadas que pedem aos respondentes para avaliar a prevalência de cenários representativos específicos em vez de níveis gerais de corrupção. Meu protótipo, cobrindo 15 países, é visualizado abaixo. A pontuação total do UCI de cada país aparece no topo e é dividida nas quatro categorias de corrupção, com uma caixa colorida representando o tipo mais dominante. Agora podemos comparar não apenas os níveis agregados de corrupção percebida, mas também o tipo e configuração da corrupção entre os países.


Uma comparação esclarecedora é entre os EUA e a China. Os EUA são menos corruptos que a China em geral, mas a lacuna é mais estreita na categoria de acesso ao dinheiro, o tipo dominante de corrupção em ambos os países. Notavelmente, a pontuação de acesso ao dinheiro dos EUA é mais alta do que a de países de renda mais baixa como Tailândia e Gana. Se dependêssemos apenas de pontuações agregadas, concluiríamos que os EUA são limpos. Mas, uma vez que as pontuações são desagregadas, podemos explicar o apelo das promessas populistas de "drenar o pântano".

Ainda mais interessante é que diferentes formas de acesso ao dinheiro prevalecem nos EUA e na China. Em uma comparação baseada em uma vinhetas sobre a tomada de suborno por meio de redes pessoais de políticos, a China domina claramente. No entanto, quando nos voltamos para práticas de "porta giratória" e captura regulatória por meio de lobby, os EUA assumem a liderança.


Em resumo, o dinheiro de acesso nos EUA é principalmente institucional, enquanto o problema na China ainda está enredado em relações pessoais envolvendo suborno e pilhas de dinheiro enterrado. A China não é necessariamente mais corrupta do que os EUA, mas sua corrupção certamente tem uma qualidade diferente.

Medir erroneamente a corrupção não é mera tecnicidade. Fundamentalmente, reforça a mensagem ilusória, hipócrita e muitas vezes eurocêntrica de que os países de alta renda alcançaram um estado duradouro de pureza ética. Na realidade, a corrupção não necessariamente desapareceu à medida que os países enriqueceram - em vez disso, evoluiu, tornando-se mais sofisticada e imperceptível.

Devemos continuar a combater a "corrupção dos pobres". Mas, ao desagregar a corrupção, as democracias capitalistas também podem direcionar a atenção urgentemente necessária para alguns de seus problemas mais prementes, incluindo o aumento da desigualdade, a diminuição da confiança pública no governo e o que a administradora da USAID, Samantha Power, chama de "corrupção moderna" (tais redes transnacionais de finanças ilícitas). Superar esses desafios requer medi-los com precisão, em vez de fingir que eles não existem.

A Má Mensuração da Corrupção Poupa os Países Ricos - 22 de Março de 2024 - YUEN YUEN ANG

Há alguns pontos do texto que tenho ressalvas, como argumentar através de alguns exemplos. Mas entendo que o texto possui pontos válidos. Lembro o caso da Suíça, que provavelmente está entre os países menos "corruptos" do mundo, mas a sua riqueza depende também da existência de corrupção em outros países. 

 

23 março 2024

Por que voltar do sistema híbrido para o 100% presencial?

Fonte da imagem: Aqui

Recentemente troquei de emprego tendo como principal motivador a busca pelo sistema híbrido de trabalho, no qual é possível alternar entre o remoto e o presencial.  Reportagens que debatem este tema, têm me chamam especial atenção. Esta, da BBC, traz um trecho que, na minha opinião, sintetiza bem a situação atual: 

[...]um estudo realizado em 2023 por dois professores da Escola de Graduação em Negócios Katz da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Eles examinaram 137 anúncios diferentes de retorno ao escritório no ano passado. A pesquisa concluiu que os gerentes usam as exigências de retorno ao escritório "para reafirmar o controle sobre os funcionários e culpá-los como bodes expiatórios pelo mau desempenho das empresas". 

[...] Bloom prossegue: "No longo prazo, o desempenho melhora mantendo os funcionários felizes e reduzindo os custos de retenção e contratação. As pesquisas mostram com muita clareza que, para os profissionais e para os gerentes, o trabalho híbrido é lucrativo para as empresas." 

Ele acredita que as empresas que assumiram uma posição linha-dura quanto ao retorno ao escritório são exceções e que muitas das que se opuseram ao trabalho remoto irão mudar de posição em breve. 

"Acho que nenhuma empresa no mundo de hoje pode impor uma política contra os talentos", afirma Choudhury. "Simplesmente não vai funcionar. Você irá sentir a dor. Você irá ver algumas das suas melhores pessoas saírem. E, então, haverá uma correção de curso."

21 março 2024

Problema fundamental

Dado que há apenas uma linha de fundo, o problema fundamental da teoria da contabilidade financeira é como projetar e implementar conceitos e padrões que melhor combinem os papéis de informação do investidor e de avaliação do desempenho do gerente para informações contábeis. No futuro, nos referiremos à combinação desses dois papéis da prestação de contas financeira como o problema fundamental. (William Scott, Financial Accounting Theory, 2015, cap. 1)

O livro é de 2015 e parece que o problema fundamental tem adquirido uma conotação não binária nos dias atuais. Apareceu o usuário sociedade que parece estar interessada nas informações contábeis das empresas, especialmente as informações ESG. 


Mas poderia ser argumentado que as informações ESG são para atender aos investidores. Ou seja, o problema fundamental permanece como enunciado por Scott. 

(Imagem gerada a partir do texto acima, pelo ChatGPT)