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28 janeiro 2019

Vale e o mercado

Como era esperado, a cotação das ações da Vale caíram substancialmente na abertura do mercado acionário: - 18%. O índice da Bolsa também está em queda.

O curioso é que a queda da Vale não é a pior do dia (pelo menos até agora). Bradespar, um dos acionistas da empresa de minério, caiu mais.

Vale e Brumadinho - 3

O rompimento da barragem de Brumadinho da Vale poderá ter algumas consequências. Mas alguns fatos já são conhecidos:

Fato 1 - Na sexta, as ações da empresa nos Estados Unidos tiveram uma queda de 8% após a notícia do fato. O mercado brasileiro estava fechado, em razão do aniversário da cidade de São Paulo. Hoje, na abertura do pregão, teremos uma ideia melhor do efeito da tragédia.

Fato 2 - No sábado, a agência de rating Standard e Poor´s alertou que poderia reduzir a nota da empresa.

Fato 3 - Duas novas medidas judiciais aumentou o valor do caixa congelado da empresa, de 1 bilhão para 11 bilhões. Em setembro, a empresa tinha informado que seu caixa era de 25 bilhões. Mesmo que a empresa consiga derrubar a medida, isto deverá aumentar o desgaste. Além disto, foi também multada pelo governo de Minas.

Fato 4 - O Conselho de Administração da empresa decidiu constituir dois comitês independentes para o caso. Um deles terá como função a apuração das causas e das responsabilidades.

Fato 5 - O Conselho também decidiu suspender os dividendos e JSCP, assim como remuneração variável aos executivos.

Para os próximos dias espera-se que a empresa

Projeção 1 - O atual presidente da empresa será cobrado por ter sido tão otimista sobre a empresa. O seu mandato encerra em maio, mas talvez ele não tenha mais condições de renovar.

Projeção 2 - A empresa estava chegando a um acordo com respeito ao problema da Samarco, de 2015. O valor pode ser majorado (ou até suspenso, segundo a Reuters) e a empresa pode sofrer com isto.

Foto: Estadão

Rir é o melhor remédio






Fotografias malucas. Via aqui

27 janeiro 2019

Uma pesquisa comportamental sob suspeita

Um dos mais famosos experimentos das finanças comportamentais está sob questionamento. Em 2008, Amir, Mazar e Ariely publicaram um estudo sobre resolução de matrizes. Foi dado a algumas pessoas, um conjunto de números e solicitado que respondessem quantos problemas eles resolveram. Os pesquisadores não controlaram se a informação era correta ou não. A pesquisa estava focada na honestidade das pessoas.

Os pesquisadores dividiram as pessoas em grupos. Para um grupo, solicitou que lessem os dez mandamentos. Para outro, uma listagem de livros que leram. O primeiro grupo indicaram um número de resoluções menor do que aqueles que fizeram a outra tarefa. Assim, a leitura dos dez mandamentos seria um “lembrete” mental para que as pessoas fossem honestas. Isto realmente era interessante e revolucionário sobre o assunto.

Este talvez seja o principal mote do livro de Ariely sobre desonestidade. Muitos anos depois e com várias pesquisas realizadas reproduzindo o tema, um grupo de pesquisadores reuniu estas pesquisas e ... não encontrou nada. Os resultados (figura abaixo) mostram que os efeitos da leitura dos dez mandamentos, se existirem, estão no sentido oposto.

Amir, Mazar e Ariely fizeram uma réplica as críticas recebidas. A réplica não convenceu a Jason Collins e a Andrew

Despesa para ganhar o Oscar

Harvey Weinstein tinha um grande número de estratégias para fazer com que os filmes que produzia ganhassem prêmios.

A empresa de streaming Netflix parece desejar muito prêmios para ser levada à sério como produtora. E esta apostando muito no filme Roma. Enquanto o filme teve um custo de US$15 milhões, a empresa tem um orçamento de US$25 milhões na campanha do filme. Isto inclui Angelina Jolie na campanha, material promocional para os eleitores, livro de 200 páginas, chocolates artesanais com bilhete da atriz protagonista. E também um spot publicitário na CBS, anúncios impressos e digitais, um coquetel de degustadores (com a presença de Jolie).

Uma das condições para um filme concorrer ao Oscar é ser exibido em cinemas. Muitos concorrentes divulgam os números de receita obtida no cinema. No caso de Roma, a Netflix não somente não divulga como restringiu o lançamento a um número de locais o suficiente para cumprir os critérios. 

Roma é um filme adorado pelos críticos; mas nem tanto pelo público. No Metacritic a avaliação é muito positiva, uma das melhores de todos os tempos. Mas no IMBD, onde prevalece a crítica os não especialistas, sua nota é 8, bem abaixo de uma unanimidade. (Uma nota: comecei a ver e não consegui acabar)

Assim, os eleitores do Oscar, optando pelo filme, estarão concordando com os críticos e com a campanha de marketing. Muitos deles (muitos mesmo) sequer assistem os filmes que concorrem, mas votam e são influenciados por estes gastos. Não por coincidência, a pessoa que comanda a campanha do filme é Lisa Taback que trabalhou para ... Harvey Weinstein, com Shakespeare Apaixonado, Discurso do Rei, Spotlight e Moonlight.

Fonte: The Telegraph. Fonte da fotografia: aqui (montagem a partir de uma cena do filme)

História da Contabilidade: Ensino à distância e o IUB

O Instituto Universal Brasileiro foi durante muitos anos uma referência no ensino à distância no Brasil. No caso, o aluno mandava um formulário indicando o curso de seu interesse, o endereço e efetuava o pagamento para receber o material em sua casa, pelos correios.

Um dos cursos oferecidos pelo Instituto era o de contabilidade. Talvez fosse um dos mais importantes, pelo volume de propaganda que era feita. Talvez seja impossível de precisar a quantidade de alunos formados pelo Instituto ao longo do anos, mas não era um valor desprezível.

Durante a década de 30 a 40, analisando a principal revista brasileira da época, “O Cruzeiro”, era possível achar uma propaganda do IUB em quase todas as edições. A seguir, um exemplo de uma destas propagandas. Ela ocupava cerca de um quarto da página 21, edição 6, de 6 de dezembro de 1941.

Aqui outra, agora com um depoimento de um aluno do Poxoreu, Mato Grosso:

História da Contabilidade: Nasser e a UBC em 1948

David Nasser foi um conhecido compositor brasileiro (“A Camisola do Dia”, “Nega do cabelo duro” entre outras) e jornalista. Talvez tenha sido um dos jornalistas brasileiros mais conhecidos de todos os tempos, tendo atuado na revista O Cruzeiro, Manchete entre outros.

Em 1948, Nasser publicou na revista O Cruzeiro um texto chamado: Que Cigarro Fuma o Tesoureiro? (edição 11 de 1948, p. 62, 4 e 6, nesta ordem, de 3 de janeiro de 1948). O texto comentava sobre uma queixa-crime apresentada por Osvaldo Santiago, tesoureiro da União Brasileira de Compositores. A UBC era responsável por ajudar os compositores a arrecadar os direitos autorais de suas obras. Na abertura do texto, Nasser escreveu:

"(...) Osvaldo Santiago deveria, imediatamente, antes de qualquer processo criminal contra seus denunciadores, vir a público e, com o desassombro de quem tem a consciência tranquila, solicitar, êle mesmo, a abertura de um inquérito, com o exame de tôda escrita da sociedade."

(grafia da época, conforme página 62 da revista. O termo "escrita" refere-se a "contabilidade")

Mais adiante, na página 4, Nasser informa que o perito Florindo Focaccia, "membro efetivo da Câmara de Peritos Contadores do Instituto Brasileiro de Contabilidade" apresentou um laudo sobre a contabilidade da UBC. E cita parte deste laudo, reproduzido, também em parte, a seguir:

a U.B.C não se esforça nem mantém aceitável serviço de contabilidade, visto que o técnico que se propõe a fazer uma investigação contábil no seu campo administrativo, enfrenta tamanho "cáos", que, fatalmente, se embaraçará no cipoal de detalhes (...) [grifo no original]. 

(...) Ora, esta modalidade é inteiramente irregular e pode bem ser chamada de "martelo contábil", porque no fim do exercício financeiro, a diretoria vê-se na situação bastante cômoda" de fazer lançamentos de ajustes" que não se recomendam. 

Na página 6, continuando o texto, Nasser afirma que não é possível analisar os balanços patrimoniais e a "receita e despesa" em razão dos problemas contábeis da entidade. Como o texto é de 1948, observe que o termo "martelo contábil" (que alguns ainda hoje conhecem como "princípio da marreta") é anterior a esta data.

Apesar de ser um famoso jornalista, Nasser esteve envolvido em diversas polêmicas. Esta parece ter sido mais uma delas.

Rir é o melhor remédio

Esta é uma história sobre gasto público. Vou contar uma versão que saiu na O Cruzeiro, de 20 de dezembro de 1930 (existem outras).

O Barão do Rio Branco, um dos maiores nomes da história brasileira, foi importante na definição das fronteiras do Brasil. Também era conhecido por esbanjar o dinheiro público. No tempo que o Barão era ministro da Relações Exteriores existia um diretor da contabilidade, ótimo funcionário, mas bastante surdo. Um dia este funcionário estava atravessando uma sala, quando o Barão gentilmente o interpelou:

- Então, como vai o senhor? Está melhor?

Como o funcionário não conseguiu ouvir, replicou frenético:

- Não há mais dinheiro, Senhor Barão, não há mais dinheiro.

O Barão achou graça e aproximando mais disse:

- Não senhor Ernesto. Estou perguntando como estás?

- Ah, entendeu o diretor da Contabilidade. Um pouco melhor, senhor Barão. Muito obrigado.

E apressou em sair, antes que o Barão arrumasse outro gasto.

26 janeiro 2019

Impostos de celebridades

A conhecida atriz chinesa Fan BingBing ficou oficialmente desaparecida em 2018. No final do ano confirmou a notícia que a atriz ficou detida em razão da evasão de impostos. A China tomou sua atriz mais conhecida para mandar um aviso para as demais celebridades: paguem seus impostos.

Segundo a Forbes, a China conseguiu obter 1,62 bilhão de dolar em impostos por parte de celebridades e empresas na área do entreterimento. A informação da Forbes tem sua origem na própria empresa estatal Xinhua.

Malásia e os auditores

A questão do fundo 1MDB, que investia recursos públicos da Malásia, realmente poderia, quem sabe, resultar em um filme, com participação de Leonardo diCaprio (no papel dele mesmo), Miranda Kerr (idem), Elva Hsiao (idem), Foxx (idem) e Alicia Keys (idem).

Uma notícia de um jornal chinês diz que os reguladores do país asiático estariam investigando a conduta dos auditores em relação ao trabalho que deveria ter sido feito no fundo. O regulador asiático diz que ainda está investigando o trabalho da KPMG e da Deloitte, para verificar se "ajudaram" ou simplesmente foram "negligentes". Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, mais de 4,5 bilhões de dólares foram roubados do 1MDB entre 2009 a 2014.

(Fotografia: Di Caprio e Jho Low, o responsável pelo desvio)

Vale e Brumadinho 2

O rompimento da barragem de Brumadinho levou um juiz a adotar uma medida de tornar indisponível e a bloquear um bilhão de reais "da Vale S/A ou de qualquer de suas filiais indicadas [...] com imediata transferência para uma conta judicial a ser aberta especificamente para esse fim, com movimentação a ser definida pelo juízo competente pelo Estado de Minas Gerais”.

Segundo a notícia:

Outras determinações foram feitas pelo Juiz de plantão, são elas: impedir que os rejeitos contaminem as fontes de nascente e captação de água [isto não faz sentido]; ter total cooperação com o Poder Público no resgate e amparo às vítimas, devendo apresentar no prazo de 48h relatório pormenorizado das medidas adotadas; iniciar a remoção do volume de lama lançado pelo rompimento da barragem, informando semanalmente ao Juízo e às autoridades competentes as atividades realizadas e os resultados obtidos; realizar o mapeamento dos diferentes potenciais de resiliência da área atingida.

O Governo de Minas também pediu a indisponibilidade das ações da empresa Vale [?] em Paris, Nova York e São Paulo, mas não foi concedido na tutela de urgência do Juiz da Vara de Belo Horizonte.


Com respeito ao bloqueio, no último balanço a empresa tinha informado um total de caixa e equivalentes de 24 bilhões de reais no consolidado e 2,8 bilhões na controladora.

Diante do fato, seria possível imaginar que a contabilidade já poderia estar lançando provisões relacionadas ao acidente que ocorreu ontem. Olhando as demonstrações de setembro a resposta seria: provavelmente não. Veja o que diz um trecho (nota explicativa 22, item d, "Contingências relacionadas ao acidente da Samarco")

Em função do estágio dos processos envolvendo o acidente da Samarco e descritos acima, não é possível determinar nesse momento um intervalo de possíveis desfechos ou uma estimativa confiável da exposição potencial para a Vale S.A. Portanto, nenhum passivo contingente foi quantificado e nenhuma provisão para os processos relacionados ao acidente está sendo reconhecida.

Vale e Brumadinho

A Vale, diante da tragédia de Brumadinho, divulgou na sua página (imagem), algumas poucas informações sobre o que ocorreu. Talvez seja cedo para ter mais informações, mas o presidente da empresa, em entrevista, afirmou que era muito mais uma tragédia humana que ambiental. Estava comparando com o rompimento de outra barragem, também em Minas Gerais, na cidade de Mariana, que provocou consequências ambientais. Afirmou também que Brumadinho tinha sido "auditada" por uma empresa alemã em setembro. Posteriormente, um grupo de técnicos da Agência Nacional de Mineração (antigo DNPM) tinha vistoriado a mesma barragem.  Em 2016, o TCU (?) tinha alertado para problemas na fiscalização das barragens no Brasil e a chance de risco de um novo problema. A barragem estaria desativada, segundo informação da Vale.

Para o presidente da Vale a pressão é grande principalmente depois que, ao assumir o cargo, declarou "Mariana Nunca Mais". Otimismo demais, comum em todos os executivos.