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26 janeiro 2015

Finanças Pessoais: Valor do Dinheiro no Tempo



Se você for estudar finanças pessoais é provável que você encontre uma tentativa de apresentar conhecimentos básicos de valor do dinheiro no tempo. Inicialmente, os conhecimentos básicos dos juros simples (qual a razão disto? Ninguém usa isto mais). Depois, juros compostos, que inclui valor presente, valor futuro, anuidade, etc. Tudo isto pode ser acompanhado de instruções que como usar uma calculadora antiga (HP 12) ou planilha.

Não iremos falar sobre este assunto aqui. Vamos comentar sobre um dos pressupostos do valor do dinheiro no tempo: o custo crescente do dinheiro ao longo do tempo. Se você decidir fazer um empréstimo de 15 anos provavelmente irá pagar mais do que um empréstimo de 12 meses. A razão disto é que os juros são calculados sobre os juros. Ou de uma forma mais simples: eu cobro ou pago juros numa operação de empréstimo pelo fato de abrir mão da liquidez do dinheiro. É por este motivo que existe a incidência de juros sobre uma operação a prazo. E somos levados a acreditar que toda operação a prazo possui estes juros.

Entretanto o leitor já deve ter visto uma situação onde o vendedor divide o valor a vista em duas ou três parcelas sem juros. E não concede nenhum desconto sobre o pagamento em dinheiro. Qual a razão disto acontecer?

A primeira justificativa é a comodidade. Se um produto custa três parcelas de R$400 reais é muito mais fácil determinar o preço à vista multiplicando o valor da parcela por três, chegando a um valor de R$1.200. Determinar o valor à vista, com uma taxa de desconto, significa cálculos mais elaborados, sujeitos a erros.

A segunda razão é que alguns comerciantes sabem que a divisão da compra em parcelas induz o consumidor a gastar mais. Se você entra num supermercado somente com dinheiro da sua carteira, você irá controlar a quantidade de supérfluo que coloca no carrinho. Já se você possui um cartão de crédito, a possibilidade de pagar somente um terço do valor das compras na próxima fatura induz encher o carrinho. Deste modo, incentivar o uso do cartão pode ser interessante para o comerciante que deseja empurrar os produtos com maior margem de lucro. Existe uma estratégia derivada desta, presente em lojas como Renner: você divide em duas ou mais vezes, mas faz o pagamento na loja. Quando o cliente estiver voltando para efetuar o pagamento, aumenta a chance de uma nova compra. Esta é justificativa derivada do marketing da empresa.

A terceira razão é a informação. Se você vai pagar em dinheiro, a empresa fica sabendo muito pouco ou quase nada sobre o cliente. Mas ao pagar com cartão de crédito, a empresa pode associar aquele número e nome às compras realizadas. E traçar um bom perfil do seu cliente. Na era do bigdata este motivo tornou-se mais importante.

Finalmente a última justificativa é a concorrência. Se o meu concorrente faz uma promoção onde a compra a prazo tem o mesmo valor da operação à vista, seguir a estratégia da loja ao lado pode impedir que se perca participação do mercado. E anula o movimento do concorrente.

25 janeiro 2015

Rir é o melhor remédio



Mania de Celular 2

História da Contabilidade Brasileira



Por um tempo publiquei aqui no blog diversas postagens sobre a história da contabilidade no Brasil. Mas como agrupar os eventos que ocorreram no passado de maneira didática?

Uma possibilidade é dividir a história da contabilidade de forma a coincidir com os períodos da história do Brasil. É pouco criativo, mas resultaria em algo como: (a) Colônia; (b) Brasil Império; (c) República Velha; (d) Estado Novo; (e) Redemocratização; (f) Período Militar; e (g) período pós-ditadura. Mas isto implicaria não reconhecer, por exemplo, que a adoção das normas internacionais seria um novo período contábil. Não, esta não é uma boa opção.

Outra possibilidade é corresponder a divisão com a evolução econômica do país. Assim, a história seria dividida no extrativismo, ciclo do ouro, café, industrialização, milagre econômico, hiperinflação e estabilização. Mas não me agrada, já que o período anterior a chegada da Família Real é basicamente um só termos da nossa história contábil.

Finalmente estou propondo aqui que nossa história seja dividida conforme alguns fatos marcantes. Seriam oito períodos assim constituídos:

Período - Primórdios
Tempo - de 1500 a 1850
Fato que marcou o término - Aprovação do Código Comercial
Características - Lentidão na adoção das técnicas contábeis; educação contábil não estruturada; contabilidade para o gestor; predomínio das partidas simples

Período - Estruturação do ambiente de negócios
Tempo - 1851 a 1891
Fato que marcou o término - Criação do curso técnico
Características - primeiros escândalos; primeiras obras nacionais; primeira lei das sociedades por ações; primeira associação de classe; contabilidade ensinada logo após a alfabetização

Período - Cursos Técnicos
Tempo - 1892 a 1924
Fato que marcou o término - Primeiro congresso científico nacional
Características - adoção das partidas dobradas no setor público; fortalecimento da auditoria;

Período - Busca do Reconhecimento Profissional
Tempo - 1924 a 1945
Fato que marcou o término - Criação do Conselho Federal de Contabilidade
Características - congressos científicos; imposto sobre o lucro; organização do ensino contábil;

Período - Padronização
Tempo - 1946 a 1971
Fato que marcou o término - Resoluções do CFC, CMN e Banco Central antecipam a mudança na Lei das SA
Características - Começa o debate sobre padronização (inclusive internacional); Troca de experiência com o exterior; criação da pós-graduação

Período - Inflacionário
Tempo - 1972 a 1994
Fato que marcou o término - redução drástica da inflação com o Plano Real
Características - ambiente econômico confuso com reflexo na contabilidade; expansão do ensino superior; discussão sobre a estrutura conceitual

Período - Contabilidade de Custos
Tempo - 1995 a 2007
Fato que marcou o término - criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis
Características - retomada do uso da contabilidade de custos; expansão da pós-graduação; (re) aproximação com outros países

Período - Normas Internacionais
Tempo - 2008 a
Fato que marcou o término -
Características - adoção parcial das normas internacionais de contabilidade; fortalecimento das pesquisas empíricas relacionadas com o mercado acionário; institucionalização do CPC.

24 janeiro 2015

Rir é o melhor remédio

Mania de Celular







Fato da Semana (Semana 4 de 2015)



Fato: Estamos na semana de antecede às demonstrações contábeis mais aguardadas dos últimos tempos no Brasil: os relatórios do terceiro trimestre devem ser divulgados na próxima semana. Isto significa dizer que esta semana foi de muita especulação sobre o conteúdo da contabilidade da empresa e se a auditoria deverá assinar o balanço. Uma série de perguntas poderá ser respondida, mas outras ainda ficarão sem respostas.

Qual a relevância disto? Trata-se de uma das maiores empresas brasileiras, num dos grandes escândalos de corrupção, falhas de controle internos, problemas que a empresa de auditoria só viu tardiamente, efeitos sobre o preço das ações, discussão sobre o teste de recuperabilidade, etc.

Positivo ou  Negativo – Neutro, já que a rigor não tivemos um “fato” de fato (desculpa pelo trocadilho irresistível).

Desdobramentos – A próxima semana será de muita discussão e polêmica. Qualquer que sejam os números e os procedimentos contábeis adotados, críticas estarão presentes.

Melhores Fotos do Flickr de 2014






As melhores fotos. Será que você consegue advinhar a melhor?

23 janeiro 2015

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

Projeção e contabilidade


Imagine que o leitor desta postagem esteja respondendo um daqueles questionários de pesquisas com as seguintes questões:

“Numa escala de 0 a 10, sendo 0 discordo totalmente e 10 concordo plenamente, analise as seguintes frases sobre um Contabilista típico:

1. Um contabilista típico possui um grande conhecimento político
2. Um contabilista típico possui uma mente aberta
3. Um contabilista típico está disposto a considerar idéias não tradicionais
4. Um contabilista típico está disposto a mudar sua crença
5. Um contabilista típico não é preconceituoso
6. Um contabilista típico sabe usar abordagem probabilística na sua vida diária
7. Um contabilista típico considera todas as alternativas disponíveis
8. Um contabilista típico está treinado para trabalhar em grupo”

Depois de pensar em cada uma das afirmações acima, verifique se suas respostas estão mais para o discordo totalmente (a nota zero) ou o concordo totalmente (nota dez).

Mudemos um pouco de assunto. Há quarenta anos o Ibracon aprovou um estudo sobre princípios contábeis. Na lista de princípios havia a “objetividade”. Basicamente as decisões contábeis deveriam, na medida do possível, estar baseadas em critérios objetivos, como um documento de transação passada. Este princípio estava ligado à convenção do “custo como base de valor”. Isto significava que a mensuração contábil deveria ser realizada através do valor do custo do ativo ou passivo. Se uma empresa comprou um terreno por $100 há tempos, mas hoje ele possui um valor de mercado de $50 ou $200, o valor da mensuração deveria continuar sendo $100.

Os princípios do Ibracon estavam baseados nos estudos realizados quarenta anos antes nos Estados Unidos por Paton e outros teóricos. Foram adotados pela CVM e extensamente ensinados pelo Brasil. Mas naquele momento estava ocorrendo grandes mudanças nas finanças empresariais, com a introdução da mensuração do risco e discussão sobre precificação de ativos. Estas questões começaram a chegar à contabilidade dos países desenvolvidos, que resolveram rediscutir a questão da objetividade e do custo como base de valor.

Inicialmente os países abandonaram todo arcabouço teórico construído em torno dos princípios contábeis. E começaram a olhar a contabilidade sob a ótica da informação útil para o usuário. Como consequência, a objetividade e o custo como base de valor deixou de ser a sustentação desta contabilidade. O importante era informar que o terreno tinha um valor de $50 (ou $200), e não que foi adquirido por $100.

Outra consequência desta mudança foi que a contabilidade deveria olhar mais para o futuro, deixando de lado o registro do passado. Estamos aqui fazendo algumas simplificações, mas espero que o leitor compreenda, ao final da leitura, nosso objetivo. O principal ponto que queremos ressaltar é que o profissional passou a ser demandado em termos da necessidade de olhar para o futuro.

Ao mesmo tempo, o auditor começou a ser cobrado também em termos desta visão. Em lugar de meramente dizer se a contabilidade de uma empresa tinha feito o registro adequado dos eventos passados, o seu parecer precisava informar se haveria condições futuras em termos da continuidade. Assim, em sua opinião, o auditor informava se a empresa satisfazia o “going concern”, baseado em diversas variáveis.

Há mais de uma semana Robert Shiller publicou um texto no Project Syndicat (e traduzido pelo Valor Econômico) tentando responder a seguinte pergunta: “para que servem os economistas?”. Num determinado trecho o Nobel de Economia de 2013 afirma:

Sim, a maioria dos economistas não consegue prever crises financeiras – assim como os médicos também não conseguem prever doenças.

A capacidade de projeção tem sido extensamente estudada por diversos cientistas, sendo o mais famoso deles Philip Tetlock (aqui por exemplo). Num estudo que ficou famoso, Tetlock solicitou de diversos estudiosos da política que fizessem uma série de projeções sobre como ficaria o mundo nos próximos anos. Anos depois, ao comparar as projeções com o que tinha ocorrido, Tetlock constatou que os cientistas políticos eram péssimos nas suas projeções. Era como se astrológos estivessem fazendo estas afirmações, com conselhos sem nenhum valor, a exemplo dos peritos, nas palavras de French.

A questão da previsão está na base da decisão que a Petrobras terá que tomar nos próximos dias: deverá fazer a amortização de certos ativos em razão da queda do preço do petróleo. Esta decisão é a seguinte: se o preço do petróleo continuar no nível baixo atual, alguns investimentos da empresa deverão ser considerados inviáveis em razão do elevado custo. Nesta situação, a contabilidade da empresa deverá verificar se os preços no futuro manterão reduzidos. Se esta for a crença, o resultado será levar para o resultado, com o sinal negativo, estes valores.

A contabilidade da Petrobras deverá prever o preço futuro do barril de petróleo. Mas será possível? Os economistas, os médicos e os cientistas políticos não conseguem fazer boas projeções.

Recentemente algumas pesquisas mostraram que a capacidade preditiva está associada a uma série de características. Isto inclui conhecimento político, ser uma metamorfose ambulante, não ortodoxo, ter a mente aberta e sem preconceito, usar a construção de cenários probabilísticos considerando todas as alternativas e construir suas decisões em grupo.


Se nos oito itens do inicio deste texto você marcou mais para “discordo totalmente” isto é sinal que acredita que o profissional contábil não é capaz de fazer boas previsões. Caso você tenha dado notas mais próximas do “concordo totalmente” isto é sinal de que você considera que o contabilista típico está preparado para colocar nas demonstrações contábeis suas previsões. Isto seria um bom sinal.

Mas ao contrário dos economistas, dos astrológos e dos cientistas políticos, as projeções do contador possuem duas características. Em primeiro lugar, elas devem ser muito precisas em termos numéricos. Enquanto o cientista político pode afirmar que haverá conflitos no Oriente Médio, algo um tanto quanto impreciso, o contabilista deve afirmar que o ativo deve ter um valor de “x”. Em segundo lugar, enquanto a afirmação do economista ou do astrológo se perde nas páginas velhas da internet, a projeção do contabilista fica registrado num conjunto de documentos.

Voltaremos a discutir sobre este assunto.

(Seria bom que algum aluno, no seu TCC, fizesse uma pesquisa com os oito itens acima, para certificar o que as pessoas acreditam em termos das características do contabilista. Se alguém aceitar o desafio, peço encaminhar o resultado para este blog)