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27 junho 2011

IPO sem balanço pro forma

Por Pedro Correia

A confiança foi fundamental para que a rede de drogarias Brazil Pharma, controlada pelo BTG Pactual, conseguisse atrair demanda suficiente para concluir com sucesso sua oferta inicial de ações, que terá o preço fechado hoje à noite.Conforme apurou o Valor, na tarde de ontem os bancos coordenadores BTG, Bradesco BBI e Morgan Stanley já tinham os pedidos de reserva necessários para vender as ações, provavelmente entre o piso e o ponto médio do intervalo, que vai de R$ 16,25 a R$ 19,25.

A depender do preço final e da venda de lotes extras, a oferta de ações vai movimentar de R$ 325 milhões a R$ 519 milhões. A importância decisiva da crença dos investidores nos bancos e na administração se explica pelo fato de os dados oficiais auditados que constam do prospecto preliminar não serem de grande valia para análises. “Nossas demonstrações financeiras e outras informações financeiras apresentadas no Formulário de Referência podem não ser um bom instrumento para avaliação de nossa performance passada e nossa situação econômico-financeira atual, bem como não são indicativas de nossos resultados e performance futuros”, alerta a própria Brazil Pharma, como primeiro fator de risco no prospecto de distribuição das ações.


Não por acaso, a oferta de dispersão se destinou somente a investidores institucionais, sendo que as ações serão negociadas em lotes indivisíveis de 10 mil papéis por 18 meses. Como diversas mudanças societárias ocorreram nos últimos meses e ainda estão em curso em conjunto com a oferta, os dados contábeis oficiais não permitem comparação fiel sobre o valor relativo da empresa versus suas concorrentes já listadas em bolsa, Drogasil e Droga Raia.


O fato de empresa também não ter apresentado números pro forma[1] que permitissem a comparação incomodou alguns gestores de recursos locais, que não se sentiram seguros para fazer investimentos sem dados auditados sobre como a companhia realmente será depois da oferta.[1]


O mínimo que esses investidores gostariam de ter era um desconto pela falta de informações.[2] Na opinião de um gestor que preferiu não se identificar, a empresa é quase pré-operacional, mas os bancos a venderam como se ela fosse comparável a Drogasil ou Raia, que têm uma história no mercado.[3] Para ele, que considera o preço sugerido fora da realidade, a oferta reflete o “oba-oba” do varejo, segmento que atrai muitos investidores estrangeiros.


A depender do preço fechado na noite de hoje, a Brazil Pharma deve ter valor de mercado entre R$ 1,23 bilhão e R$ 1,59 bilhão quando estrear na bolsa. Tendo em conta as 302 lojas próprias que a empresa tinha ao fim de março (número auditado), isso representa entre R$ 4,08 milhões e R$ 5,28 milhões por unidade.

Sem os dados oficiais auditados para mostrar, os argumentos usados pela administração nas reuniões com investidores tinham como base um estudo técnico[3], que segue como anexo ao prospecto, e foi feito pela Apsis, uma consultoria especializada em avaliação de empresas e ativos, a pedido da Brazil Pharma.


Após fazer as ressalvas de costume, alertando que o estudo não deve ser lido de forma separada do prospecto e do Formulário de Referência,[4] a Apsis aponta que a Brazil Pharma teria uma margem bruta 4 pontos percentuais acima das rivais já listadas em bolsa, pelo fato de os remédios genéricos terem peso de 24% na receita com medicamentos, ante um índice próximo 14% das outras duas empresas.[4]


A consultoria também lança mão da métrica não contábil “Margem Ebitda Loja” para mostrar rentabilidade maior da Brazil Pharma. A medida não contábil se refere ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização ao se olhar somente as receitas e despesas das lojas.[5]


Um ponto que a Brazil Pharma destacou nas conversas com investidores é o fato de que uma parcela grande de suas lojas, representando mais de 60% do total, ainda está em fase de maturação (com menos de três anos de atividade), o que permitiria crescimento mais acelerado das receitas no curto prazo.

Fonte: Valor Econômico

[1] Os demonstrativos financeiros pro forma são utilizados para evidenciar aos investidores o impacto de uma transação , caso ela tivesse ocorrido em período anterior. Assim. as informações pro forma antecipam o resultado de determinada transação.Por consequência, estas informações são um resumo da situação econômico-financeira futura da empresa, com base nos demonstrativos passados.

[2]No caso desta oferta de ações, alguns investidores estavam insastisfeitos com a não divulgação das informações financeiras pro forma, pois não têm certeza de qual será o impacto deste evento na situação econômico-financeira da Brazil Pharma.As informações pro forma evidenciam o efeito esperado do evento ou transação na viabilidade econômica da empresa.Além disso,no Brasil, não há regras sobre os critérios de obrigatoriedade da divulgação destas informações.

[3]Os argumentos do gestor anônimo, provavelmente, são válidos. Uma empresa em situação pré-operacional,talvez não tenha uma situação econômico-financeira "atraente" aos investidores.Haja vista que, a Brazil Pharma tem várias lojas, esta em fase de maturação e consolidação no mercado nacional.

[4]Aparentemente, houve um esforço para esconder a real situação da empresa, já que não foram divulgados demonstrações pro forma, e ainda, foi feito alerta quanto a "inutilidade" das informações contidas no Formulário de Referência. Ademais, foi contratada consultoria para mostrar que investir na companhia é um bom negócio.

[5] É importante ressaltar, que  outros fatores devem ser analisados para a utilização do Ebtida  como indicador de fluxo de caixa .Além disso, é um indicador que não representa bem a liquidez de uma empresa, pois não considera as necessidades adicionais de capital de giro etc.

27 janeiro 2011

Contabilidade é importante

Veja a seguinte notícia do Brasil Econômico:

Com o início da temporada de balanços corporativos nas próximas semanas, a equipe do JPMorgan divulgou suas projeções de crescimento das empresas, elencando as principais apostas.

Na lista das companhias que deverão apresentar maior crescimento figuram Telemar, Brasil Foods, Rodobens, PDG Realty, Vale, Odontoprev, Lupatech e SLC Agrícola.

A estimativa é de que as companhias brasileiras deverão reportar crescimento médio de 30,1% na geração operacional de caixa (Ebitda). (...)

Com isso, o JPMorgan prevê que alguns resultados devem surpreender. Para o banco, Usiminas, SLC Agrícola, Telesp e a Ambev deverão apresentar um Ebitda acima do esperado pelo mercado. 

Para o setor financeiro, a entidade está mais pessimista. Embora espere um crescimento médio de 1% em média no lucro por ação, a estimativa é quase 10% abaixo das expectativas de mercado.

Na análise por empresa, o JPMorgan aponta que, dentre as brasileiras, a Positivo, MPX e a Magnesita vão apresentar os piores resultados, em comparação com as expectativas. (Resultados de empresas brasileiras devem surpreender - Felipe Peroni - 26/01/11 18:15)

11 março 2010

EBITDA

A recente Instrução CVM 480 trouxe como uma de suas inovações o Formulário de Referência, que possibilitará aos diversos interessados ter uma visão mais rica e mais profunda das companhias cujas ações são negociadas no mercado brasileiro.

Além do fornecimento de novos dados, o Formulário de Referência prevê o detalhamento de informações que as empresas vinham divulgando de maneira agregada ou de modo impreciso ou incompleto. Uma das novas exigências diz respeito à necessidade de esclarecimentos caso as companhias publiquem medições não contábeis. O exemplo mais comum de medição não contábil é o lucro antes dos juros, imposto de renda, depreciação e amortização - Lajida, que é também conhecido pela sigla Ebitda, em inglês.

A Instrução CVM 480 estabelece que, "caso o emissor tenha divulgado, no decorrer do último exercício social, ou deseje divulgar no formulário de referência medições não contábeis, como o Lajida, deve: informar o valor das medições não contábeis; fazer as conciliações entre os valores divulgados e os valores das demonstrações financeiras auditadas; e explicar o motivo pelo qual entende que tal medição é mais apropriada para a correta compreensão da sua condição financeira e do resultado de suas operações."

A providência é muito bem-vinda, já que as companhias abertas vêm divulgando à larga e segundo critérios particulares, discrepantes entre si, o Lajida como uma medição paralela às convencionais apresentadas nas demonstrações contábeis - normalmente, sem reconciliá-la com a medição econômica baseada nas normas contábeis mais diretamente comparáveis.

Visa-se com o Lajida produzir um tipo de fluxo de caixa bruto da empresa que sirva, por exemplo, como uma medida da capacidade de servir a dívida e o capital dos acionistas, quando comparada aos recursos aplicados na companhia (valor de mercado mais dívida líquida). Ou para ser utilizado como um múltiplo para avaliação de empresas.

Para refletir, como aproximação, a geração de caixa operacional normal da companhia, o cálculo do Lajida deveria considerar apenas receitas ou despesas diretamente vinculadas ao negócio e que sejam recorrentes, ou seja, as que se espera que sejam auferidas ou incorridas nos próximos exercícios. Da receita líquida deveriam ser subtraídos os custos e as despesas administrativas e de vendas, e somadas as cotas de depreciação e de amortização do período, que são despesas de caráter provisional e não representam saída de caixa.

Faltou à Instrução a proposição de uma rotina de cálculo, para pôr um pouco de ordem na confusão em relação ao cálculo do Lajida. Entre as exigências, deveria haver a de uma menção ao fato de ter sido feita, ou não, a revisão por auditores independentes, assim como uma referência obrigatória às limitações dessas medidas não contábeis. O uso da Lajida como indicador do fluxo de caixa da companhia, sem consideração de outros fatores, pode levar a graves equívocos.

A medida ignora as necessidades adicionais de capital de giro, o que pode ser particularmente grave em certos momentos do ciclo de negócios. Desconsidera também os investimentos que serão necessários para ampliação da capacidade e de manutenção que possam exceder o valor das cotas de depreciação e de amortização apropriadas no período. O Lajida não é um bom indicador de liquidez, nem representa os recursos que estarão efetivamente à disposição da companhia para saldar dívidas e distribuir proventos a seus acionistas.

Receitas e despesas são construções contábeis que se baseiam em critérios de reconhecimento. O lucro nem sempre representa dinheiro no caixa - por influência, inclusive, desses critérios de reconhecimento, que não são uniformes entre as empresas, variando de acordo com as características de cada negócio. Em certas indústrias, como bens de capital e construção civil, o caixa gerado no período pode estar bem distante do Lajida calculado. Melhor se fiar no fluxo de caixa.

O usuário deve também estar atento a regras simples, como a de que quanto menor for a participação das cotas de depreciação e amortização, melhor a qualidade do Lajida. Ele conta com a força do hábito e o apelo da simplicidade. Ruge muito, mas, devido às suas limitações, tem escassa efetividade como ferramenta de análise.

As limitações do lajida como ferramenta de análise - Reginaldo Alexandre – Valor Econômico – 9/3/2010

19 dezembro 2008

Avaliação em Tempo de Crise

O texto a seguir mostra a dificuldade de fazer avaliação em tempos de crise. Muitos modelos de avaliação dependem da estimativa da receita (incluem aqui os múltiplos como o Ebitda ou ate mesmo a projeção do fluxo de caixa futuro, que geralmente parte da receita). Com a crise, a estimativa de receita de muitos setores tornou-se pessimista, com reflexos no resultado final.

Mas existe algo que o texto não considera: o efeito psicológico da avaliação em momentos de crise. Se no período que antecedeu os analistas apresentaram projeções otimistas demais, neste momento projetar cenários otimistas é desestimulado. Os analistas preferem agora errar para menos, fazendo estimativas mais pessimistas dos investimentos.

A magical mystery tour over private equity valuations
By Jennifer Hughes
4/12/2008

How can you value a private equity investment? Let me count the ways.

Or rather, let the industry come up with the answers as that is exactly what groups are struggling to do now as they face year-end reports to investors.

Like other sectors facing valuation issues, the discussions have centred around "fair value", or the use of market prices where possible. In the private equity universe, this isn't that often. Without market prices, the firms then descend through a sliding scale of measuring systems.

Blackstone, the US giant, helpfully lists in its latest quarterly report the range of methods it most uses, including projected net earnings, multiples of earnings measures (such as ebitda), valuations for comparable companies, discounted cash flow method and/or capitalisation rates analysis (for property investments) and for some holdings, cost, or the price paid.

3i, the UK-listed group, even breaks its portfolio down by valuation method, among which it reports a quarter at cost, almost a third on some earnings-based measure and "other", including discounted cash flow, at a further 20 per cent.

The problem for the industry is that all of these just got harder and they weren't straightforward to begin with.

Any valuation involves making assumptions about cash flows, primarily based on revenues. With the economy falling rapidly into a worse downturn than had been expected just a couple of months ago, it has become harder to weigh up what is truly an unlikely Armageddon scenario and what is actually reasonable.

In 3i's half-yearly results (to September 30) the value of its investments assessed on an earnings multiple dropped £194m from last year. Total valuation losses came to £414m.

It is a fair bet that Blackstone, 3i and others will struggle to use public or private market transactions as a measuring stick since there are very few of these.

The market volatility has pretty much rendered any transactions of just a few months ago as virtually unusable.

Discounted cash flow models depend on all sorts of assumptions that just became trickier. Alongside revenue expectations, cost of capital is one of the most important calculations and is likely to have risen sharply.

There are other assumptions within that, such as the risk-free rate. MBA students are usually taught to use a conservative standard measure for the risk-free rate such as 8 per cent. Investment banks and others have been using something much closer to 5 per cent or lower.

AAA-rated government yields are far lower than that right now as interest rates fall. But is that a good basis on which to base forecasts given the glut of government borrowing coming soon that will push up yields? All these points, and many others, have to be thought through by each firm and for each investment.

The wider point to take from all this is summed up in the last line of the Blackstone paragraph summarised above: "These valuation methodologies involve a significant degree of management judgment."

To swing this point around to the danger from an investor point of view: "There's still some misconception that there is some magic number that's the right one - and there isn't," says Nick Rea, partner in PwC's advisory practice.

Private equity, with its lack of market pricing at the best of times, is an extreme example of the issues a broad range of companies will face this coming year.
Any valuation, unless it is for some heavily traded security such as a blue chip stock or a Treasury bond, is going to involve assumptions that produce a range of valuations for that asset, reduced to a single figure for presentation on the balance sheet.

Worried private equity investors, like their counterparts in listed companies, are demanding more explanation of the assumptions behind the final number. Any company or investment firm would be wise to produce as much as they can - and as clearly as they can - to help alleviate the jitters.

14 agosto 2008

Polêmica

A seguir, um artigo polêmico do Valor Econômico (não tenho o nome do autor). É óbvio que existem simplificações absurdas, mas os aspectos citados são interessantes:

Alguém precisa avisar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que não há necessidade de se preocupar mais com essa história de convergência das normas contábeis com os padrões internacionais. Está dando um trabalho danado - é um calhamaço de regras, uma apoteose da burocracia européia, que precisa ser regulamentado, juramentado e publicado. Poucos contadores entendem dessa parafernália de pronunciamentos esotéricos, a CVM não tem gente suficiente para cuidar disso e os jornalistas (que já não entendiam as regras antigas) não têm tempo para ficar filosofando sobre valor justo de ativos. A boa notícia é que as empresas estão dispostas a pôr um fim nessa discussão estéril.

Os executivos sempre foram pródigos em soluções criativas para a eterna disposição dos burocratas de complicar o que pode ser simples. Toda vez que o câmbio castiga o balanço, o que fazem aqueles que se endividaram em dólar na hora errada? Culpam a contabilidade.

O prejuízo é "contábil", afinal onde já se viu contabilizar juros que ainda não foram pagos? É para isso que inventaram um dos mais horríveis acrônimos de todos os tempos: ebitda. Não deu lucro? Ebitda neles.

Não seria diferente desta vez. Em meio a essa confusão, as empresas tomaram a iniciativa e por conta própria fizeram a convergência que os burocratas do Conselho de Padrões Contábeis Internacionais (Iasb, na sigla em inglês) nunca poderiam ter imaginado. É muito simples, nada de pronunciamentos de várias páginas que ninguém vai ler. A regra é: tudo se ajusta ao que a administração acha mais correto. Cada um ajusta do seu jeito e fica assim, tudo ajustado, na acepção primeira do Aurélio: tornar justo, exato.

A CVM deveria aproveitar a deixa e acabar de uma vez por todas com o tal lucro líquido. Aquilo que já foi chamado de "última linha" caiu em completo descrédito. Afinal, para que serve o lucro líquido? As empresas tratam-no como figura meramente contábil, a Receita Federal criou um resultado só para ela, o "lucro real". Se esse é o real, o que é o líquido? Irreal, é claro.

Nesta safra de balanços, as empresa estão particularmente empenhadas em colocar os pingos is. O presidente de um grande frigorífico bem que tentou ensinar o bê-á-bá para os jornalistas, com pouco sucesso. A empresa chamou a imprensa para anunciar o lucro "efetivo" do segundo trimestre, de R$ 102 milhões. O balanço que foi para a CVM, no entanto, mostrava um prejuízo de R$ 984 milhões por conta de uma amortização de ágio gigante, um evento não operacional e não recorrente, sim, mas que vai dar um belo desconto no Imposto de Renda. Prejuízo real.

Outro passo importante para a convergência voluntária de balanços é o uso das regras americanas no lugar das brasileiras. A globalização impõem-se e é preciso comparar-se aos concorrentes na linguagem do mercado de capitais de primeiro mundo. Uma grande mineradora divulgou um aumento de 22% no lucro pelas regras americanas. Mais tarde, soube-se que a lei brasileira dizia exatamente o contrário: 22% de queda. Para que tanta confusão? Adotemos logo esse conjunto avançado de regras, aliás, muito aprimorado desde que Enron e WorldCom aprontaram suas estripulias. Melhor ainda, cada um adota o que for mais apropriado no momento. Convergência instantânea e sem traumas. Ou alguém aí quer discutir o valor recuperável dos ativos?

Convergência contábil sem traumas - 14 Agosto 2008 - Valor Econômico

19 abril 2006

Ebitda

Uma reportagem interessante do Jornal do Comércio de ontem

Debate sobre eficiência do Ebitda gera controvérsia

Nos últimos anos, um indicador financeiro passou a ser amplamente utilizado pelas empresas de capital aberto e pelos analistas de mercado como a principal e, às vezes, única avaliação de desempenho ou do valor das companhias: o Ebitda.

A sigla corresponde a “Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization” ou, em português, “Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização”, também conhecido como Lajida.

Tido por muitos como um certo modismo, o Ebitda foi utilizado por diversas empresas como único índice em negociações de compra e venda, procedimento visto com reservas pelo mercado. “Ele é mais um dado que, sozinho, não funciona. Precisa de outros parâmetros para refletir a avaliação correta de uma empresa. Quando vai comprar um carro, por exemplo, você olha o consumo, a quilometragem e a pintura. Com uma empresa é o mesmo processo”, alerta Geraldo Soares, presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri).

De fato, segundo analistas, o modismo disseminou-se rapidamente e muitas empresas, dos mais variados portes e segmentos no Brasil também passaram a considerar o Ebitda como uma importante ferramenta de avaliação de performance operacional. Ao mesmo tempo, o procedimento para calcular o Ebitda é inteiramente livre de regulamentação, ou seja, a empresa calcula o seu da maneira que desejar. Este tipo de postura chamou a atenção de entidades como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec).

Para o presidente do Ibri, é necessário que a CVM estabeleça normas para estrutura o índice, já o órgão com poder para regular o mercado. Mesmo assim, alguns discordam, porque o Ebitda não é considerado um parâmetro contábil. “Ele mede o fluxo de caixa e o retorno sobre os ativos, sendo muito utilizado, mas não foi bem esclarecido. Precisamos de uma metodologia para padronizar, levando em conta as diferenças entre as empresas”, pede Soares. Segundo o executivo, com um modelo único, será possível a comparação entre o desempenho das empresas.

O Ebitda tornou-se conhecido e ganhou notoriedade no mercado norte- americano na década de 70. Naquela época, a métrica era utilizada pelos analistas como uma medida temporária para avaliar o tempo que seria necessário para que uma empresa, com grande volume de investimento em infra-estrutura, viesse a prosperar sob uma perspectiva de longo prazo. Ao excluir os juros dos recursos financiados e somando-se a depreciação dos ativos, os investidores conseguiam projetar uma medida de performance futura da empresa, considerando apenas a atividade operacional.

Contudo, ao longo do tempo, o Ebitda foi se tornando cada vez mais popular, chegando a ser comparado por muitos como uma aproximação do Fluxo de Caixa e passando a funcionar como um “amortecedor” (quando mal utilizado) em relação ao julgamento do mercado quanto ao efetivo “lucro líquido” da empresa. “Mesmo assim, é um índice importante, que faz parte da cultura do mercado, que não pára de aumentar. Temos que crescer com responsabilidade empresarial, acima de tudo”, ressalta Soares.

Entre os executivos favoráveis ao Ebitda, dois são os principais argumentos. O primeiro seria o de que, por eliminar os efeitos dos financiamentos e decisões contábeis, o Ebitda pode fornecer uma comparação relativamente boa para o analista, pois mede a produtividade e a eficiência do negócio. No segundo argumento, a variação percentual do índice de um ano em relação a outro mostra aos investidores se uma empresa conseguiu ser mais eficiente ou aumentar sua produtividade.

Para os analistas que vêem a métrica com reservas, contudo, o Ebitda não considera as mudanças no capital de giro e, portanto, sobrevaloriza o fluxo de caixa em períodos de crescimento do capital de giro, além de causar uma falsa idéia sobre a efetiva liquidez da empresa. “Lado bom e lado ruim sempre existirão, mas repito: é preciso estabelecer um parâmetro de cálculo, pois um índice tão admirado pelo mercado tem que ter uma fórmula”, resume Soares.

Norte-americanos mostra-se cautelosos com a métrica
Principalmente após os escândalos contábeis de grandes corporações norte-americanas, como a Enron e a Worldcom, a preocupação com o Ebitda vem crescendo. Especialmente nos Estados Unidos, muitas companhias que davam excessiva ênfase à métrica em suas comunicações sobre os resultados voltam a focar muito mais no lucro por ação e dar mais atenção a outros indicadores.
Muito embora a ênfase possa vir a ser menor, analistas prevêem que o Ebitda continuará sendo muito utilizado porque é um bom indicador para a avaliação da tendência dos lucros da atividade principal de uma empresa. Adicionalmente, parece que, de forma gradual, haverá uma compreensão melhor de que, por existir diferenças significativas entre os dois, o Ebitda não é ideal em substituição ao Fluxo de Caixa Operacional. Assim, este continuará sendo a melhor forma de saber o quanto o cofre de uma companhia está produzindo.
No Brasil, executivos do mercado de capitais acreditam que o Ebitda permanecerá muito utilizado pelo mercado, principalmente na avaliação de empresas, e deve continuar valorizando mais a variação percentual de crescimento ou queda do indicador em relação ao período anterior do que o valor isolado do Ebitda.

CVM solicita maior consenso na padronização
No ofício circular CVM/SNC/SEP, de janeiro de 2006, a Comissão de Valores Mobiliários finalmente constata que as companhias abertas vêm o Ebitda como uma medição paralela às convencionais, apresentadas nas demonstrações contábeis. Essa medição também é largamente utilizada como um tipo de fluxo de caixa da companhia para fins diversos como a capacidade de servir a dívida, comparada aos recursos aplicados na empresa (valor de mercado mais dívida líquida a valor presente), ou utilizada como um múltiplo para avaliação de empresas, dentre outras aplicações.

Conforme a Comissão, vem sendo observado pelas entidades representativas do mercado de capitais que a informação do Ebitda está sendo elaborada e divulgada de forma muito particular pelas companhias abertas e de forma divergente entre elas.

“Essa situação torna difícil compreender tanto a formação do número apresentado quanto a sua integração ou conciliação com os outros números da Demonstração do Resultado, além de não ser comparável”, alerta Daniel Maranhão, auditor da BDO Trevisan. Essas medições, portanto, não são diretamente extraídas da mesma estrutura da demonstração do resultado construída segundo os princípios e normas contábeis, mas incluem e excluem montantes não previstos nessas normas.

Segundo a CVM, as medições não baseadas em normas contábeis são definidas como aquelas que incluem ou excluem montantes não previstos nas medições econômicas associadas às normas contábeis mais diretamente comparáveis. Esses ajustes pretendem refletir a visão da administração sobre a geração de recursos pela companhia, mas devem, também, estabelecer uma relação com as medições previstas nas normas contábeis. Como exemplo, a companhia ao divulgar uma medição semelhante ao Ebitda deve estabelecer uma reconciliação com a medição econômica baseada nas normas contábeis mais diretamente comparável com o Lucro Operacional.

No ofício a entidade sugere alguns modelos de construção do Ebitda, que servem como “um possível exercício de julgamento do administrador e não têm a pretensão de serem apresentados como uma solução única para o problema dos itens que devem ser incluídos ou excluídos em cada medição divulgada”, explica o ofício. Maranhão acredita que existe a necessidade de esclarecimento complementar e sobre as medições divulgadas dos conceitos e objetivos presentes na elaboração e divulgação do índice. “Deve-se considerar esse conjunto como base para a compreensão pelo usuário da construção da medição não baseada na estrutura contábil elaborada segundo as normas e práticas contábeis”, conclui o auditor.

Instituição avalia restrições técnicas e limitações do índice
O Moody´s Investors Services foi uma das muitas instituições que pesquisaram a validade do Ebitda como métrica. O levantamento é rico em dados que mostram claramente a falência do índice quando usado fora das condições limitadas a que se aplica.

Segundo a instituição, a exemplo do Lucro Econômico, o Ebitda é um item manipulável, mesmo sem se desobedecer qualquer regra legal ou contábil. Mudanças de critérios de depreciação e amortização, de avaliação de estoques, de remuneração da Administração, de apropriação das variações patrimoniais de investimentos, entre outras, são exemplos de como se pode melhorar ou piorar o lucro e o Ebitda da companhia, sem quebrar qualquer regra contábil estabelecida.

“Para negociações de compra e venda ele é um parâmetro fraco, servindo mesmo para publicação em jornais, com um modelo mais simplificado”, esclarece o auditor Roger Artur Lahm. Segundo ele, ganhos atípicos durante o ano podem facilmente inflar o Ebitda, mostrando uma saúde financeira não-usual.

A pesquisa do Moody´s constatou que investidores mais sofisticados utilizam o Fluxo de Caixa Livre em substituição ao lucro tradicional, atribuindo àquele maior confiabilidade, porque representa o quanto efetivamente sobra de dinheiro no caixa da empresa, depois de se deduzir os investimentos em capital fixo e de giro necessários para manter o crescimento nas vendas. Porém, isto deve ser feito antes de pagar seus financiadores: acionistas (dividendos) e bancos (juros).
Ainda segundo o estudo, o Ebitda também não considera o montante de reinvestimento requerido, o que é especialmente grave no caso de empresas com ativos de vida útil curta. Empresas de alta tecnologia, de transportes e várias outras cujos ativos tornam-se obsoletos em curto espaço de tempo correm o risco de perder espaço de mercado ou até desaparecer, se não se atualizarem na mesma velocidade dos concorrentes. “O conceito muito genérico do Ebitda permite que diversas formas de cálculo sejam adotadas, o que não é saudável e, por isso, a CVM quer agir. Ela apenas pede que as empresas mostrem como estão calculando seu Ebitda”, complete Lahm.

Além disso, o Ebitda, isoladamente, nada revela sobre a qualidade do lucro da empresa. Ao somar-se a depreciação e a amortização, pode-se conseguir Ebitda positivo, se os valores forem suficientemente grandes para cobrir o prejuízo e deixar um saldo. Estes e outros pontos têm tirado o sono de investidores, que apóiam a necessidade de regulação do Ebitda.