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29 janeiro 2011

Poeira

Tramita na Justiça do Trabalho, em Salvador, um processo que levanta suspeita sobre a lisura da gestão de suas empresas. A ação é movida pelo baterista Antonio da Silva, o Toinho Batera. Ele pede 4,5 milhões de reais em reparação de perdas trabalhistas e acusa a Caco de Telha, holding que controla os negócios de Ivete [Sangalo], de usar expedientes ilegais para pagar aos músicos que a acompanham em seus shows. O objetivo seria fraudar o INSS e o Fisco. Segunho Toinho, a história é a seguinte: ele e outros doze músicos foram pressionados pelo irmão [1] e empresário de Ivete, Jesus Sangalo, a abri uma empresa de fachada, a Banda do Bem Produções Artisticas Ltda. Por meio dela, passaram a receber seus salários – mas o montante declarado era muito menor que os valores reais dos pagamentos. Com isso, tributos trabalhistas eram sonegados.

Toinho garante que ele e os outros músicos jamais tiveram controle sobre a Bando do Bem. “Sou um laranja. Quem administrava tudo era o Jesus. Nós só assinávamos os recibos”, diz ele. É bom frisar que o esquema, se verdadeiro, também foi lucrativo para os músicos: graças à sonegação, eles receberam somas bem mais altas [2]. Foram anexadas aos processo cópias de cheques pagos a Toinho em 2009, no valor toal de 600 000 reais. Mas a declaração dele, fornecida pelo contador que atende também a Caco de Telha quanto a Banda do Bem, atesta que o músico só recebeu 5 530 reais tributáveis no período. (...)

A exposição da bagunça administrativa fez com que Ivete contratasse auditores externos para identificar problemas na holding. Os resultados assombraram. Além de erros gerenciais [3], foram descobertos prejuízos ocultos. A baiana botou para ferver: afastou Jesus do comando e endossou um saneamento contábil que causou uma série de demissões, entre elas a do vice-presidente do grupo, Ricardo Martins. (Leonardo Coutinho, Levantou Poeira!, Veja, 2 fev 2011)
[1] Observe, nas linhas seguintes, que Ivete cometeu o mesmo erro de Sílvio Santos: confiança total nos parentes.
[2] Esta afirmação é questionável. Será que os músicos realmente receberiam menos se todos os valores fossem declarados? Não é possível afirmar isto.
[3] A empresa foi produtora de alguns shows recentes que aconteceram no Brasil e que provocaram prejuízos.

Rir é o melhor remédio


Armas e EUA

Panamericano

Diversas notícias envolvendo o Panamericano, depois do sobe e desce das suas ações. A Folha de São Paulo (Sílvio Santos aceita vender o Panamericano, Mario Cesar Carvalho, 29 jan 2011) registra que o proprietário controlador, Sílvio Santos, aceitou vender o banco para o BTG Pactual. O valor seria o total do rombo existente no banco. Isto representa uma mudança na disposição do empresário, que em novembro considerava possível recuperar a dívida do banco (na época, em 2,5 bilhões de reais).

Ontem, o Panamericano tinha divulgado um fato relevante sobre uma possível negociação com outras instituições financeiras (Dois Banqueiros em Apuros, Isto é Dinheiro, 28 jan 2011). Naquele dia existiam três candidatos: BTG Pactual, Bradesco e Safra. O motivo da venda era simples: o patrimônio do controlador, estimado em R$2,7 bilhões, não é suficiente para cobrir o rombo. A cobiça pelo banco teria a seguinte explicação, segundo a revista: “O grande trunfo nas mãos do banco é sua capacidade de conceder empréstimos de maneira barata, por meio de uma rede de financeiras. Essas lojas não contratam bancários e não têm de pagar os custos elevados de segurança das agências bancárias.”

Começam a surgir mais detalhes dos problemas do banco: segundo Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos, o rombo começou com a “adulteração do sistema de controle financeiro, chamado Autobahn, desenvolvido por uma empresa de informática do Espírito Santo, a Projeta.”

Quanto ao tamanho do rombo, sabe-se que é maior que os R$2,7 bilhões iniciais. Na sexta-feira, o banco afirmou que ainda não sabe o valor das “inconsistências contábeis” encontradas (Brasil Econômico, Panamericano não sabe valor do desfalque das contas, 28 jan 2011, Weruska Goeking). Na quarta-feira, o jornal Estado de São Paulo tinha anunciado que o rombo era maior que o divulgado anteriormente. Isto provocou uma queda no preço das ações do banco. Ontem surgiu um novo número: o problema seria acima de R$4 bilhões. Segundo o Valor Econômico, seriam mais R$1,5 bilhão. O texto do Valor Econômico foi baseado no relatório preliminar do Banco Central sobre o assunto, e inclui problemas na administradora de cartões de crédito. O jornal apontava os problemas contábeis existentes:

Os problemas não se restringiram às informações desencontradas sobre o valor das carteiras cedidas e compradas. O PanAmericano também apresentava informações conflitantes em seus balanços em relação a essas carteiras. Enquanto em um determinado mês algumas delas eram apresentadas como cedidas, em outras voltavam a fazer parte da carteira de créditos do banco – sem, no entanto, haver registro de qualquer recompra dos créditos. Segundo o relatório do BC, os ativos inexistentes no balanço do banco por causa dessas operações somavam R$ 1,4 bilhão.

Outra fonte dos problemas contábeis do PanAmericano foi a forma de contabilização de contratos de empréstimo. Em alguns casos em que os tomadores de créditos estavam inadimplentes, esses valores devidos deveriam ter sido baixados da carteira de crédito e colocados na conta “bens não de uso próprio”, que incorpora as garantias dadas nos empréstimos e assumidas pelo banco. Da mesma forma, há situações em que os contratos foram quitados antes de seu vencimento pelos clientes, mas que as parcelas futuras continuavam a fazer parte das carteiras de crédito, que eram cedidas. E, em uma terceira situação, saldos devedores refinanciados foram mantidos como cedidos. Somente esses três tipos de problemas nos contratos envolvem a quantia de R$ 673,7 milhões.


O problema do PanAmericano também pode estar vinculado a desvios de recursos por parte de seus ex-diretores, através de contratos entre as empresas do grupo Sílvio Santos e as companhias cujos sócios eram esses gestores. Existe a promessa que o balanço de 2010 deverá ser entregue à CVM na próxima segunda-feira, conforme apurou a Folha de São Paulo (Rombo do Panamericano deve ir a R$4 bilhões, Mario Cesar Carvalho).

A Veja apresenta hoje mais informações sobre a confusão contábil:

a instituição divulgou seu formulário de referência de maneira equivocada, contendo números trocados. O formulário é um documento enviado anualmente para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e informa aos investidores pontos importantes sobre a política de atuação das empresas, a remuneração de seus diretores e alguns de seus principais dados financeiros.

Nesta quarta-feira, o documento foi enviado pelo banco à CVM e informava os resultados financeiros de 2010 sem que o balanço tivesse sido divulgado. Segundo as normas de governança da autarquia, o balanço de uma companhia aberta deve ser divulgado a todo o mercado em uma data pré-estabelecida, sem que informações financeiras escapem antes de sua divulgação oficial. O balanço do Panamericano está previsto para a próxima semana e tem deixado investidores apreensivos – já que desde o segundo trimestre do ano passado a instituição não publica resultados.

Os números divulgados, tais como o patrimônio líquido de 1,3 bilhão de reais e 11 bilhões de reais em ativos totais da empresa, entraram no formulário de referência como se correspondessem aos resultados que o mercado tanto aguarda, mas não passavam de mais um erro.

Questionado por VEJA, a área de Relações com Investidores (RI) do banco inicialmente confirmou a divulgação dos números de 2010. Minutos depois, negou que os dados estivessem relacionados aos resultados do ano passado. Segundo o departamento, o sistema de dados da CVM 'entendeu' os números de forma errada e acabou contabilizando os resultados financeiros de 2009 como se fossem de 2010. "Neste momento estamos atualizando o sistema e voltando para outra versão do backup, com os números corretos de 2009", afirma o analista de RI do Panamericano, Anderson Machado Vianna. (...)
Assim, o formulário de referência traz a remuneração dos diretores e conselheiros do banco em 2010 (tanto da diretoria destituída quanto dos novos executivos), além da previsão de remuneração para 2011. De acordo com o formulário, os diretores continuarão sem receber bônus ou remuneração em ações. Já o pró-labore pode variar entre 960 mil reais e 480 mil reais anuais. O total previsto para pagar os diretores em 2011 é de 4,4 milhões de reais. Já para o conselho de administração, presidido pela presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos, a remuneração total anual deve chegar a 1,24 milhão de reais – ou salários anuais entre 81 mil reais e 174 mil reais.


O texto da Veja é importante por mostrar que alguns dos problemas do Panamericano persistem na atual gestão.

28 janeiro 2011

Rir é o melhor remédio

Propagandas criativas:

Câmara fotográfica que reconhece faces

Produto contra queda de cabelos

Câmara fotográfica com grande angular

Idem

Contra o fumo

Cola

O outro lado dos EUA

Links

FMI alerta para problema fiscal do Brasil

Durante um test-drive, editora de revista bate um carro de 250 mil dólares

R$3,27 para cada brasileiro: gasto em publicidade do governo brasileiro

Será ainda mais raro ver um empresário condenado à prisão no Brasil caso o projeto que trata da reforma do Código de Processo Penal

Fórum mundial: atenção aos super lucros

O melhor retorno dos últimos anos: Detroit

Ministro da Inglaterra defende maior concorrência no setor de auditoria

Panamericano: ontem as ações valorizaram; depois da notícia que o rombo é maior, as ações sofrem perda, aumentando os boatos

Contribuição de um banco ao risco sistêmico: papel da correlação dos ativos e do tamanho da instituição

Teste 419

A The Economist é considerada a revista semanal mais influente do mundo. Seu surgimento ocorreu em 1843! No número 3, de setembro de 1843, o principal assunto era o Brasil. O assunto tratado foi:

café
escravidão
situação política do Império


 

Resposta do Anterior: Na distribuição de drogas, enviando o produto através da fronteira do México com os Estados Unidos. Fonte: aqui


Por que a inflação oficial nunca parece com a inflação real?

O governo brasileiro divulga regularmente a taxa de inflação da economia. Entretanto, desde o tempo do regime militar, existe uma desconfiança generalizada de que a medida da inflação não reflete a variação de preço real da economia. Por que isto ocorre? Mas antes disto, será que isto é verdade?

Já foi provado que o governo militar brasileiro, na década de 1970, realmente manipulou o cálculo da inflação. Mas depois disto, não se tem notícia que isto tenha ocorrido novamente. Então, a princípio isto parece não acontecer.

Na realidade, alguns trabalhos já realizados mostraram que em geral a variação dos preços tende a estar superestimada no cálculo da inflação. É isto menos, o valor da taxa de inflação geralmente é maior que a inflação real. Existem duas explicações para que isto ocorra e para entender é necessário fazer um breve retrospecto sobre como é calculada uma taxa de inflação.

Para começar é feita uma pesquisa para determinar qual a cesta de consumo de uma família típica. Assim, determina-se que alimentação representa, por exemplo, 15% do orçamento doméstico. Esta pesquisa é realizada de tempos em tempos, em intervalos razoavelmente grandes, em razão da sua complexidade e do seu custo. Com o passar do tempo é óbvio que o hábito de consumo muda; assim, há alguns anos nenhuma família tinha no seu orçamento "gasto com telefonia celular", hoje um item quase que obrigatório. Assim, se a pesquisa sobre a cesta de consumo foi realizada num passado distante, a variação de preços do telefone celular pode não entrar no cálculo da inflação. Mas existe outro problema na forma como se calcula a inflação. Se o preço de um produto aumentou de forma expressiva num período, em geral as pessoas tentam substituir o seu consumo. Por exemplo, se o preço do chuchu aumentou as pessoas não irão comprar chuchu, mas talvez comprem mais cenouras. Mas como o índice apresenta uma ponderação constante no tempo, o aumento no preço do chuchu termina sendo incorporado à inflação como se as pessoas continuassem comprando o produto na mesma proporção. Esta é a primeira explicação sobre a superestimação da inflação.

Existe uma segunda explicação: o progresso tecnológico. Um produto recém-lançado tende custar mais na fase inicial; mas neste momento a procura é reduzida, pesando pouco no orçamento doméstico pesquisado. Entretanto, com o passar do tempo, o preço tende a cair. Assim, uma televisão LCD talvez não esteja no índice de preços calculado pelos institutos de pesquisa. A queda no seu preço não irá aparecer no índice de inflação.

Então já sabemos que o índice em geral pode estar superestimado. Mas qual a razão para que tenhamos a impressão de que o valor da inflação é menor que a inflação real? Provavelmente nós lembramos mais dos aumentos de preços do que das reduções. Além disto, temos a tendência de considerar como a inflação o aumento de um preço específico. Assim, se o preço da gasolina aumentou 10%, temos a tendência de imaginar que a inflação aumentou 10%.

Inflação Manipulada?

A revista The Economist apresentou um cálculo interessante. Usando o índice Big Mac, que mede se a taxa de câmbio está valorizada ou não, comparou-se com a taxa de inflação oficial para um período longo de tempo. O resultado encontra-se no gráfico abaixo.


 


A Argentina aparecendo como a maior diferença entre a taxa de inflação oficial e a variação do preço do Big Mac não é uma surpresa. Afinal, sabemos que nossos hermanos estão calculando a inflação de maneira inadequada. A inflação anual do hambúrguer ficou em 19%, enquanto a inflação oficial foi de 10% no período de 2000 a 2010. Mas observe que o Brasil está logo após. A diferença anual estaria em 10%. Uma parte da variação talvez seja explicada pelo fato de que no início do século o câmbio está muito desvalorizado e agora está valorizado. Mas só isto ajudaria a explicar isto? Será que não existe uma manipulação dos preços?

Executivo brasileiro e remuneração


Os presidentes de empresa em São Paulo têm uma remuneração média de mais de US$ 600 mil por ano (sem contar bônus), valor acima do de seus pares de Nova York, Londres, Cingapura e Hong Kong. Os números são da Dasein Executive Research.

Na capital paulista, diretores de empresas tiram mais de US$ 200 mil por ano na forma de salário; em Londres, a média fica abaixo desse patamar.

Há que se considerar um fator importante: "A comparação embute o custo de contratação no Brasil: suas taxas trabalhistas estão entre as mais altas do mundo", afirma a revista. (Altos executivos ganham mais em São Paulo do que em NY – Estado de São Paulo – 27 jan de 2011 - Sílvio Guedes Crespo)

Os dados são da revista The Economist (Top Whack, 27 jan 2011), fonte do gráfico. Parte da questão da remuneração é o reflexo da elevada demanda.

Prejuízo da Exxon

Depois de perfurar três caros poços em águas profundas na costa brasileira, a Exxon Mobil Corp. não conseguiu encontrar petróleo, confirmou ela ontem.

É um grande revés para a petrolífera americana, numa parte do mundo em que outras empresas, especialmente a Petróleo Brasileiro SA, conseguiram algumas das maiores descobertas petrolíferas das últimas décadas.

Um porta-voz disse que a Exxon planeja "continuar analisando os dados dos três poços" e ainda não desistiu totalmente de encontrar petróleo na região.

A Exxon informou que deu baixa contábil no custo dos poços no quarto trimestre de 2010, que totalizaram centenas de milhões de dólares. A empresa ainda não divulgou seus resultados do quarto trimestre. (...) A Hess Corp., dona de 40% da concessão da Exxon na costa brasileira, contabilizou ontem despesa extraordinária de US$ 111 milhões (US$ 72 milhões depois de impostos) para dois dos três poços. Com base na sua fatia, é possível inferir que o custo de perfurar esses dois poços passou de US$ 250 milhões.(Exxon perde dinheiro com poços secos no pré-sal, Wall Street Journal Americas, 26 jan 2011)

27 janeiro 2011

Rir é o melhor remédio


Adaptado daqui

Por que o crescimento econômico é difícil de ser medido?

Se você pesquisar o endereço do Banco Central, no Focus, irá encontrar uma estimativa do crescimento econômico previsto para economia brasileira. Pesquisando mais ainda, é possível achar a taxa de crescimento do país dos últimos anos. Mesmo com tanta precisão no cálculo do crescimento, os técnicos (estatísticos, economistas e outros) ainda não estão satisfeitos com a medida.

A principal razão é que as estatísticas são falhas e não conseguem refletir a economia real. Ou como os economistas gostam de falar: a taxa de crescimento do produto interno bruto é apenas uma proxy do crescimento verdadeiro. Num país onde a presença da economia informal é expressiva, como é o caso do Brasil, estimar o tamanho da economia é mais difícil ainda. Não sabemos, por exemplo, a qual a importância do trabalho manual feito pela artesã, que é vendido sem nota fiscal. De igual modo, só conseguimos mensurar o trabalho doméstico se o mesmo for feito por um empregado com carteira assinada. O trabalho doméstico feito por nós, sem a participação de um empregado fichado, não entra no cálculo.

As situações são as mais diversas e isto faz com que regularmente o processo de cálculo seja revisto, na tentativa de chegar a um valor próximo ao valor real.

Alguns técnicos estão tentando procurar medidas alternativas. Uma das mais criativas é olhar as imagens do mundo do espaço, durante o período noturno. Comparando um período com outro podemos encontrar diferenças que podem confirmar as medidas falhas dos economistas ou negá-las.

Veja a seguinte figura abaixo. Ela foi tirada das Coréias, entre os anos de 1992 e 2008. Observe que enquanto a parte norte permanece praticamente constante, o sul apresentou um aumento substancial na iluminação (pontos brancos, azuis, amarelos e vermelhos, sendo quanto mais próximo do vermelho maior a presença da luz). Isto significa que no período a Coréia do Sul apresentou um crescimento econômico muito maior que a Coréia do Norte.


Observe agora a outra figura. Na parte superior a esquerda temos Ruanda, em 1993. Na parte superior a direita, o mesmo país, um ano depois. Observe que a luminosidade diminuiu. Ou seja o país reduziu sua economia. A causa foi o massacre ocorrido naquele país em 1994. Dois anos depois, na parte inferior a direita, o país parece que recuperou dos problemas políticos.