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18 julho 2006

Mudanças nos Balanços

Uma reportagem sobre as alterações nos balanços das empresas brasileiras referente as obrigações tributárias. Como nossa legislação fiscal é as vezes confusa, temos uma justiça lenta, os efeitos podem ser significativos. A reportagem foi enviada por Ricardo Viana.

CVM exige adaptação de balanços
Josette Goulart
03/07/2006

Os balanços das empresas brasileiras vão passar por uma transformação neste ano que pode trazer à tona uma série de esqueletos escondidos sob a égide de "contingências tributárias possíveis ou remotas". É que, ao classificar disputas fiscais dessa forma, as empresas não são obrigadas a provisionar os valores de impostos que não pagaram e estão discutindo administrativa ou judicialmente. Muitos desses casos, entretanto, escondem passivos que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a exigir, por meio da Deliberação nº 489, que sejam classificados como "obrigações tributárias" e que, portanto, estejam refletidos nos balanços. A nova regra entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano, mas poucas são as empresas que ajustaram seus balanços do primeiro trimestre. Nem mesmo a CVM já está preparada, pois só vai fazer a fiscalização a partir dos balanços anuais referentes a 2006.

A regra gera ainda muita controvérsia e muitas empresas sequer sabem exatamente o que precisam fazer para se adequar. O tributarista Roberto Haddad, do escritório Branco Consultores, diz que em princípio, pela forma como a regra foi apresentada, com exemplos do que deveria mudar, entendia-se que era necessário provisionar toda e qualquer autuação que a Receita Federal lavrasse contra a empresa. Isso causaria rombos bilionários em todos os balanços e quebraria contabilmente muitas empresas. Mas a regra é muito mais subjetiva.

De acordo com o esclarecimento do gerente de normas da CVM, José Carlos Bezerra da Silva, a comissão só fez algumas adaptações e detalhou um pouco melhor uma norma que já existia. Bezerra da Silva diz que as empresas precisam classificar como obrigação tributária aquilo que está na lei, mesmo que a empresa esteja questionando o pagamento na Justiça. A idéia é a de que uma lei só se torna ilegal se o Supremo Tribunal Federal (STF) assim determinar ou até que esta lei seja revogada pelo Senado. Mas o gerente informou que somente os balanços anuais serão fiscalizados pois a CVM está se organizando para fiscalizar todos os pontos da Deliberação nº 489, apesar de as normas já vigorarem para as informações trimestrais.

O vice-presidente do Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes (Ibracon), Francisco Papellas, diz que cada disputa descrita nos balanços na linha de contingências precisa ser analisada individualmente - o famoso cada caso é um caso. Em alguns, discute-se a lei, em outros a interpretação da lei. O primeiro é uma obrigação, o segundo uma contingência. Mas não é tão simples assim, pois o que os auditores vão considerar como uma obrigação é muito subjetivo e extremamente jurídico. O advogado Vinícius Branco, do escritório Levy & Salomão, defende a idéia de que o Ibracon e a CVM chamem os advogados para ajudar a fazer os regulamentos, já que os aspectos contábeis podem ser alterados pelos processos jurídicos.

Branco diz ainda que essa deliberação com certeza afetará muitos balanços e isso vai acontecer especialmente por um outro problema: o fato de os advogados que promovem as ações tributárias em nome da empresa serem os mesmos que classificam as contingências como prováveis (que precisam ser provisionadas), possíveis ou remotas. "Como um advogado que oferece uma ação para a empresa pode, alguns meses depois, dizer a esta mesma empresa que as chances de perda são prováveis?", diz Branco. "Os acionistas de hoje vão pagar pelos lucros dos acionistas de ontem", diz Branco, referindo-se ao fato de que, ao reconhecer provisões que já deviam estar nos balanços, os lucros distribuídos aos acionistas são reduzidos.

Em uma busca pelas notas explicativas dos balanços trimestrais são encontradas desde empresas que explicam absolutamente todos os questionamentos em que estão envolvidas, mesmo de contingências que não precisam ser provisionadas, até aquelas que admitem que suas notas explicativas estão equivocadas. A ALL, por exemplo, informa na nota explicativa de seu balanço que não provisionou R$ 15 milhões, pois considera remota a chance de perda de uma disputa que questiona a majoração da alíquota de 2% para 3% do PIS e da Cofins. Mas essa questão já foi definida no ano passado pelo Supremo, que deu ganho de causa ao fisco. Por meio de sua assessoria, a empresa informou que a nota explicativa será corrigida, pois os valores já estão contabilizados nas obrigações tributárias.

Por outro lado, algumas empresas deixam de informar as contingências consideradas como possíveis ou remotas, como é o caso da Sadia e da Ambev. A Sadia informa que tem R$ 460 milhões em discussão tributária que não estão provisionados, mas não especifica que discussões são essas. Procurada pelo Valor, a empresa não respondeu o pedido de informações. O mesmo faz a Ambev, que diz ter contingências de R$ 4,8 bilhões que não estão provisionadas porque os consultores jurídicos entendem que são possíveis ou remotas de perdas, e que portanto, não é preciso provisionar. A empresa explica apenas que R$ 3,6 bilhões referem-se a autuações fiscais com base em lucros auferidos por coligadas ou controladas, mas os outros R$ 1,2 bilhão não estão relacionados. A assessoria de imprensa da Ambev informou que os valores referem-se a disputas muito pulverizadas, e que por isso não estão especificados no balanço. Mas assim como estes valores podem estar classificados corretamente como contingências que não precisam ser provisionadas, podem também se referir a questionamentos que passam agora a fazer parte da conta "obrigações tributárias".

O auditor Valdir Coscodai, sócio da PricewaterhouseCoopers, lembra que essas obrigações só poderão ser reconhecidas nos resultados quando a disputa judicial já estiver transitado em julgado para a empresa. Foi o que aconteceu com a questão do alargamento da base de cálculo da PIS/Cofins, em que o Supremo decidiu pela inconstitucionalidade da lei em um recurso extraordinário e que, portanto, só vale para as empresas que já tiveram suas ações julgadas pela corte.

Valor Econômico

13 julho 2006

Receita, Previsão e Cinema

Uma das tarefas mais difíceis de um especialista em contabilidade financeira é fazer uma previsão. Quando se pensa em estimativa de demonstrações financeiras, a tarefa torna-se mais complicada ainda.

Geralmente o processo de previsão inicia-se com a receita da empresa. Através da receita podemos estimar mais facilmente os valores a receber e outros itens vinculados ao ciclo financeiro, além de algumas despesas.

A indústria do cinema é bastante sugestiva nesta dificuldade de fazer uma previsão para a receita. Segundo sítio The Stalwart, os grande sucessos de Hollywood, em termos das maiores arrecadações no final de semana de estréia, são os seguintes:

1. Piratas do Caribe 2
2. Star Wars III
3. X-Men: The Last Stand
4. Spider Man 2
5. Harry Potter and the Goblet of Fire
6. Spider Man
7. Harry Potter and the Prisoner of Azkaban
8. The Matrix Reloaded
9. The Lord of the Rings: The Return of the King
10. Harry Potter and the Sorcercer´s Stone
11. X2: X-Men United
12. Star Wars II

Fonte: The Stalwart

A lista parece promissora pois a maioria dos filmes são seqüencias. Então a projeção da receita ficaria mais fácil uma vez que um filme que seria a continuação de um sucesso tem grandes chances de ser também um sucesso?

Ledo engano. Uma consulta no sítio The Numbers, sobre cinema, revela que o recorde de receita, ajustado pela inflação, ainda está com os filmes originais: Star Wars, ET, Titanic, O Império Contra-ataca, Retorno de Jedi, Jurassic Park, Star Wars: Phantom, Os Caçadores da Arca Perdida, Forrest Gump e o Rei Leão, nesta ordem. (Somente receita nos Estados Unidos. A ordem considerando o mundo todo muda um pouco)

Segundo Leonard Mlodinow, numa reportagem para o Los Angeles Times, a previsão para o filme que será sucesso é algo que se aproxima do caos. Mlodinow lembra inúmeros casos em que o acaso foi muito mais preciso que a confiança dos executivos de Hollywood. Este autor de livros de física e matemática lembra que os bem remunerados executivos não acreditavam em sucessos como Guerra nas Estrelas, Tubarão, entre outros, mas apostaram em Ishtar (Warren Beatty+Dustin Hoffman+$55 milhões de orçamento=$14 milhões de receita) ou Last Action Hero (Schawarzenegger+85 milhões=50 milhões) entre outros fracassos.

A reportagem do LA Times lembra de erros comuns já investigados pela ciência. Um deles é a ilusão do controle, onde as pessoas pensam que tem poder sobre o que ocorre no mundo (algo como vestir "aquela" camisa da sorte e o Brasil não irá perder para a França. Deu sorte na última copa). Os executivos tem ilusão do controle pois acreditam que sua decisão terá influencia sobre o mercado de cinema. É uma "ilusão".

No sítio Art de Vany existem dois gráficos interessantes que mostram a dificuldade da estimativa no cinema. O primeiro gráfico mostra uma curva normal e uma curva com a variação do lucro ao longo do tempo. A curso do lucro de filmes reflete uma distribuição que não é simétrica.















O segundo gráfico apresenta a variação do lucro ao longo do tempo. Não existe uma tendência a redução da variância, demonstrando que o negócio cinema é arriscado

As 500 maiores do mundo e o Brasil

Na relação divulgada das quinhentas maiores empresas da Fortune aparecem 4 empresas brasileiras:

Petrobrás = 86a., com Receitas de US$56 milhões;
Bradesco = 269a., com Receitas de US$22,9 milhões
Banco do Brasil = 323a. com receitas de 20,0 milhões; e
Itaúsa = 415a., com receitas de 16,2 milhões.

Fonte: Fortune

Entre as maiores empresas do mundo, a lista é a seguinte (receita e lucro, na ordem, em $bilhões):

1
Exxon Mobil 340 36
2 Wal-Mart Stores 316 11
3 Royal Dutch Shell 307 25
4 BP 268 22,3
5 General Motors 193 -10,6
6 Chevron 189,5 14,1
7 DaimlerChrysler 186,1 3,5
8 Toyota Motor 185,8 12
9 Ford Motor 177,2 2,
10 ConocoPhillips 166,7
13,5

Os três maiores prejuízos:

1 Vodafone 66 39,092.9*
2 UAL 369 21,176.0*
3 General Motors 5 10,567.0

Fonte: Fortune

Inscrições para Mestrado

Estão abertas inscrições para o mestrado da Universidade de Brasília, UFPB e UFRN. Para maiores informações consulte: www.unb.br/cca
Também estão abertas as inscrições para o mestrado da Universidade Estadual de Blumenau. Informações em http://www.furb.br/ppgcc

Quanto menos informação, melhor

Publicado no jornal Valor Econômico, cita uma pesquisa que afirma que "quanto menos informação, melhor". Comenta uma pesquisa realizada nos Estados Unidos e é muito interessante. Enviado por Ricardo Vianna.

Quanto menos informação, melhor a decisão de investimento
Aquiles Mosca
11/07/2006

Via de regra, aceitamos sem questionar que quanto mais informação tivermos, maior é a probabilidade de que uma dada decisão seja acertada, sobretudo se tais informações forem apresentadas de maneira lógica e sistemática. No entanto, em diferentes campos de estudo, que variam da medicina ao comportamento de consumidores, passando por decisões de investimentos, há ampla evidência de que a maior parte de decisões acertadas são feitas com base em um conjunto bastante limitado, porém altamente relevante, de poucas informações.

Para a maioria dos profissionais é difícil admitir que tal afirmação seja verdadeira e provavelmente ninguém sofre mais com isso que os economistas (grupo do qual também faço parte), para quem o domínio das relações de causa e efeito, de variáveis endógenas e exógenas e uma pretensa capacidade de organizar o caos econômico conferem uma aura de sabedoria.

O estudo conduzido por Stuart Oskamp, professor emérito de ciência do comportamento da Universidade de Stanford, pode ajudar a compreender a mecânica mental e a conseqüência comportamental que dão validade à afirmação de que na hora de tomar decisão, menos informação pode valer muito mais. Oskamp reuniu um grupo de psiquiatras e psicólogos aos quais foi colocado o desafio de traçar o perfil de um indivíduo de 29 anos e veterano de guerra de nome Joseph Kidd.

Na primeira fase, apenas informações básicas, como idade, cidade de origem, profissão dos pais, etc, foram disponibilizados. Na segunda fase, Oskamp forneceu uma página e meia com informações relativas à infância de Joseph, seguidas na terceira fase por informações sobre os anos de Joseph no colegial e faculdade. Por fim, na quarta e última fase, o grupo de analistas recebeu informações detalhadas sobre o tempo de Joseph no exército e em outras atividades. Após cada fase, os analistas tinham de responder um questionário de múltipla escolha sobre a vida de Joseph.

Oskamp descobriu que, quanto mais informação era fornecida aos analistas, maior era a crença desses na exatidão de suas avaliações. Esse aumento de confiança se tornava mais significativo quanto mais detalhes recebiam. No entanto, apesar dos próprios analistas julgarem estar cada vez mais precisos em suas avaliações, o que Oskamp verificou foi que a cada nova fase e inclusão de novas informações, o percentual de acerto permanecia consistentemente ao redor de 30% para todos os analistas, muitos dos quais respondiam de maneira diferente a mesma questão em fases distintas.

Ou seja, conforme recebemos mais e mais informações, a certeza na exatidão de avaliações torna-se fora de proporção se comparada com a exatidão das decisões efetivamente tomadas. Para o universo dos investimentos, tal estudo e suas conclusões colocam grandes questionamentos. Há um risco não desprezível de ao coletar e analisar um número crescente de informações (o que é perfeitamente compreensível dada a complexidade dos sistemas econômicos) acaba-se por gerar uma situação onde o volume de dados é tal que uma parcela significativa das informações ou é irrelevante para a decisão a ser tomada ou somos simplesmente incapazes de processá-las de tal forma que contribuam positivamente para a qualidade de decisão. No entanto, fazem com que seja muito maior o grau de conforto e a confiança sob o qual a decisão é feita.

Há uma grande ironia em tudo isso: o desejo de gerar confiança é exatamente o que acaba minando a qualidade da decisão tomada. Acaba-se alimentado com mais dados e informações, muitas delas irrelevantes, um sistema mental que muitas vezes já se encontra congestionado.

O mercado financeiro não está imune a essa tendência comportamental. Ganha espaço a avaliação de que o fator fundamental para o sucesso das decisão de alocação, seleção de ativos e momento mais adequado de montar posições nos diversos mercados parece estar baseado na identificação das teses de mercado, isto é, a convergência da expectativas dos agentes para uns poucos temas que acabam conduzindo os movimentos das cotações dos principais ativos. No período atual, tal tese é de que há um risco global de que o período recente de bonança nos mercados poderá ser ameaçado pela continuidade do ciclo de aperto monetário nos EUA. Esse fator tem ditado o rumo dos mercados há alguns meses e o investidor que concentrou com antecedência o foco de sua atenção nesse componente do mercado, desconsiderando demais informações que possam poluir seu processo decisório, certamente teve mais sucesso que seus concorrentes, ao menos até que tal tese, e a conseqüente convergência de expectativas, sofra nova mudança de foco.

Aquiles Mosca é economista e estrategista de investimentos pessoais do ABN Amro Asset Management


Falha de comunicação e falha em projetos

Notícia sobre pesquisa que mostra a relação entre falha de comunicação e falha em projetos:

Falta de comunicação é principal razão de falhas em projetos

Segundo estudo divulgado pela companhia Vital Smarts, especializada em treinamento corporativo, dificuldade de trocar informações é a mais causa de problemas.

Por COMPUTERWORLD
07 de junho de 2006 - 16h47

Falhas de comunicação podem ser a principal causa de falhas em projetos corporativos. É o que apontam os resultados preliminares de uma pesquisa sobre gerenciamento de projetos, conduzida pela empresa norte-americana de treinamento Vital Smarts.

O estudo mostra que a falta de habilidade dos gerentes de projetos para conversar com sua equipe sobre situações críticas freqüentemente acarretam o
fracasso. O diretor da pesquisa David Maxfield sugere cinco situações críticas que envolvem problemas de comunicação:

- Estabelecer prazos finais arbitrários e recursos inadequados
- Falta de liderança e energia para conduzir o projeto, além de interesses políticos
- Não respeitar a priorização dos processos do projeto
- Má vontade dos membros da equipe, que encaram a tarefa com sofreguidão
- Falhas para identificar problemas no projetos em tempo hábil para consertá-lo.

A pesquisa foi realizada com mais de 800 gerentes de projetos e 150 horas de observação de atividades em projetos. Um dos resultados é que:

* 80% destes gerentes dizem enfrentar com freqüência prazos e recursos inadequados que não têm relação com a realidade.
* 18% afirmam sentir que foram capazes de enfrentar a situação.

Em números, o estudo mostra que, devido à falta de comunicação:

* 74% dos empresários gastam mais do que o previsto no orçamento,
* 82% ultrapassam os prazos,
* 79% não conseguem atender às especificações de qualidade e funcionalidades e
* 67% enfrentam problema de auto-estima da equipe.

Por isso, o analista alerta que é preciso criar o hábito de conversar sobre assuntos críticos e estabelecer uma métrica que avalie e indique se
o processo está sendo bem-sucedido ou não.

(Enviado por Rubens)

11 julho 2006

Direito e o mais fraco

O jornal Valor Econômico, do dia 10/07, divulga uma pesquisa sobre a justiça e o mais fraco. É um estudo muito questionável pois escolher ao "acaso" um conjunto de decisões não garante sua conclusão. Talvez uma amostragem estratificada fosse mais interessante pois afinal uma causa de milhões é diferente de uma causa de alguns reais. E, pelo que deixa a entender a reportagem, isto não foi feito.

Além disto, as percentagens e a suposição de que a decisão deva ser neutra (50% de chance para cada lado) é também muito questionável. Com base em qual fundamento isto foi feito? Na verdade a reportagem não informa que estudo foi realizado (uma tese não seria, pois são dois autores do trabalho) e como ter acesso ao trabalho.

De qualquer forma, eis a reportagem:

Justiça não favorece os mais fracos

Felipe Frisch

Um estudo com base em quase 200 acórdãos do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) contraria o que tem se tornado cada vez mais um senso comum - a afirmação de que a incerteza jurídica e o rompimento dos contratos pela Justiça justificam, em parte, as altas taxas de juros dos financiamentos dos bancos. Segundo testes realizados pelos pesquisadores Ivan César Ribeiro e Brisa Ferrão, quando o contrato favorece a parte mais forte - casos dos contratos de leasing (alienação fiduciária), fornecimento, representação, crédito rotativo e duplicatas -, há 45,41% a mais de chances de ele ser mantido no processo.

Essa vantagem da instituição financeira cai em apenas um terço quando a legislação intervém em favor do mais fraco, pela análise das decisões. O ideal, diz Ribeiro, seria essa relação ser neutra. Teóricos usuais do assunto tendem a dizer que os mais fracos são favorecidos pelos juízes, sendo os contratos rompidos em boa parte dos casos.

Em outro teste, os pesquisadores chegaram à conclusão de que, quanto maior a regulação - casos de relação de consumo, por exemplo, reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor -, menor é a chance, em 22,28%, de o contrato ser mantido. Na interpretação dos pesquisadores, isso significa que, quando há menos liberdade para contratar, menor a chance de o contrato conter algum dispositivo que contrarie a lei. Além das decisões judiciais propriamente, a pesquisa contou com questionários preenchidos pelos desembargadores do TJSP.

O estudo foi feito com base em 181 decisões escolhidas aleatoriamente de 1.019 acórdãos dos anos de 2004 e 2005 levantados. Segundo os pesquisadores, o favorecimento dos "economicamente privilegiados" acontece porque a suposta neutralidade do juiz ignora as maiores chances de defesa que o "litigante organizacional" - a instituição financeira - normalmente tem. Para assegurar a separação - de um lado devedores como a parte efetivamente mais fraca e, de outro, credores como a mais forte - a pesquisa eliminou da base analisada os casos em que os devedores eram grandes grupos, onde a definição de "mais forte" era dificultada. Com isso, restaram 129 casos em que esse contraste era claro.

O economista Armando Castelar Pinheiro, referência nas pesquisas que apontam o Judiciário como um dos responsáveis pelos juros altos dos bancos, reconhece o mérito da pesquisa em ir na fonte primária de informações - as decisões judiciais. Mas faz uma ressalva de que, para saber até que ponto o cumprimento ou não dos contratos pelos juízes não está associado a fazer justiça social, seria necessário avaliar as motivações dos magistrados por trás de cada decisão. "Quando um juiz revê um contrato para favorecer a parte mais fraca, não diz que está fazendo isso em nome da justiça social, mas procura a lei para justificar", diz Castelar. Na pesquisa dele, feita em 12 Estados, 25% dos juízes disseram que era muito freqüente uma sentença ser justificada pela ideologia do julgador.

A tese de Ivan Ribeiro e Brisa Ferrão, no entanto, encontra eco entre especialistas em direito bancário. O advogado Rodrigo Guedes acha ainda pequeno o percentual de favorecimento da parte mais forte. Ele avalia que mesmo inovações na legislação, como a nova Lei de Falências, que facilitam a cobrança de créditos pelo banco, as taxas de juros não caíram. Para o advogado João Antonio Motta, a incerteza jurídica é irrelevante para a definição das taxas de juros, já que os níveis de inadimplência são baixos e apenas uma pequena parte dos devedores - segundo ele, menos da metade dos que não pagam - chega ao Judiciário. De fato, segundo dados de maio do Banco Central, os últimos disponíveis, os atrasos de pagamento superiores a 90 dias são apenas 4,9% e as taxas do cheque especial são de 145,36% ao ano, em média, e as do crédito pessoal, empréstimo direto, de 62,29%.

Em dívida com o Mercado

A CVM divulgou uma lista com as empresas abertas que estão em dívida com o usuário da informação contábil. Em outras palavras, são empresas em atraso há mais de seis meses com as informações obrigatórias ao mercado.

A CVM informa que o "objetivo é que considerem essa informação nas suas relações com as citadas companhias abertas, ou nas suas decisões de investimento." Bastante sutil o recado da CVM. O comunicado (sem o CNPJ e observações) encontra-se a seguir:

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS
SUPERINTENDÊNCIA DE RELAÇÕES COM EMPRESAS
EDITAL DE NOTIFICAÇÃO

(Publicado no DOU de 05.07.06)

A COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM, de acordo com a Deliberação CVM nº 178, de 13.02.95, vem a público divulgar a relação das companhias abertas que estão inadimplentes há mais de 06 (seis) meses quanto à divulgação de informações obrigatórias ao mercado, nos termos da Lei nº 6.385, de 07.12.76, e da Instrução CVM nº 202, de 12.06.93.

O objetivo desse comunicado é alertar aos investidores e ao público em geral que considerem essa informação nas suas relações com as citadas companhias abertas, ou nas suas decisões de investimento.

Na relação estão incluídas 17 (dezessete) companhias abertas que estão em atraso superior a 06 (seis) meses com pelo menos um dos formulários ITR, DFP e IAN, até a emissão de relação (03.07.2006), valendo ressaltar que não fazem parte dessa lista as companhias que estejam, segundo o cadastro da CVM, em situação de falência, liquidação ou liquidação extrajudicial.

1 - AMERICEL S.A.
2 - BERGAMO CIA INDUSTRIAL
3 - CACHOEIRA VELONORTE S.A. - CONCORDATÁRIA
4 - CENTRO HOSPITALAR ALBERT SABIN S.A.
5 - CTM CITRUS S.A.
6 - DIJON S.A.
7 - FERRAGENS DEMELLOT S.A.
8 - MAORI S.A.
9 - MINASFER S.A.
10 - PROCID PARTICIPAÇÕES E NEGÓCIOS S.A.
11 - RIMET EMPREENDIMENTOS IND. E COMERCIAIS S.A.
12 - SOLE DO BRASIL S.A. TELECOMUNICAÇÕES E COMÉRCIO EXTERIOR
13 - TORCEDOR S.A.
14 - TRORION S.A.
15 - USINA COSTA PINTO S.A. ACUC ALC
16 - VERPAR CENTROS COMERCIAIS S.A.
17 - VIAÇÃO AÉREA SÃO PAULO S.A. – VASP

Rio de Janeiro, 03 de julho de 2006


FERNANDO SOARES VIEIRA
Gerente de Acompanhamentos de Empresas



ELIZABETH LOPEZ RIOS MACHADO
Superintendente de Relações com Empresas

Os investimentos do Presidente

A semana passada trouxe notícias sobre a riqueza do nosso presidente. (É bem verdade que os jornais também anunciaram que a fortuna de Quércia ultrapassava a R$100 milhões!)

Um comentário interessante apareceu no jornal Estado de S. Paulo de 7/7/2006, p. A5, com o título "Presidente pode ter ferido código de ética", de Lisandra Paraguassú. Conforme lembra a reporter:

"O detalhamento do patrimônio do presidente (...) inclui aplicações em ações de três empresas: Banco do Brasil, Petrobrás e Vale do Rio Doce. As aplicações somam R$3.473,23 e poderiam passar desapercebidas frente ao patrimônio do presidente, de cerca de R$839 mil, não fosse um detalhe que chama a atenção de quem conhece as normas que regem o comportamento dos funcionários públicos."

"O Código de Conduta da Alta Administração Federal veta o investimento de servidores de primeiro e segundo escalões em bens que possam ter seu valor alterado em conseqüência de decisões governamentais."


A reportagem esclarece que o Código não faz nenhuma referência explícita sobre o cargo de Presidente, mas deixa a entender que é razoável que o mesmo também seja contemplado.

Num pequeno quadro o repórter Sérgio Gobetti, foi mais feliz ainda:

"As declarações apresentadas pelo presidente Lula ao TSE mostram que ele precisaria ter economizado ao menos 76% de sua renda mensal desde 2003 para dobrar seu patrimônio. Lula tem duas fontes de renda: salário de presidente (R$8.885,48) e aposentadoria de anistiado político, de R$4.509 desde maio.

Nos últimos três anos e cinco meses, Lula ganhou R$565,3 mil - R$448,9 mil líquido. Despesas pessoais do presidente são pagas pelos cofres públicos. Simulando qual seria o ganho se economizasse por mês 76% do que ganha e investisse em fundos de renda fixa e poupança, há rendimento líquido com juros de R$76,8 mil. Mais o valor original da poupança, fora CPMF, são R$416 mil, valor da expansão dos bens desde 2002."

Grafismo

O estudo do comportamento de preços através dos gráficos tem defensores que acreditam realmente que é possível antever o que ocorre com o mercado através do comportamento histórico dos preços. Mas existe uma grande parcela de pessoas que não acreditam no grafismo e consideram algo próximo a astrologia.

A reportagem a seguir é da revista Isto é Dinheiro número 460, desta semana, e explica o que é o grafismo, com uma dose de ironia.

Desvendando o Código Da Vinci
nos mercados
Como uma corrente de analistas financeiros lê o futuro em gráficos de ações


Por Alexandre Teixeira

Eles não são místicos, mas pertencem a uma corrente de pensamento que, para os leigos, parece uma seita esotérica. Dizem-se capazes de ler o futuro em gráficos, onde enxergam figuras como a de um Buda meditando ou um homem enforcado. Parte importante de suas teorias é elaborada a partir da Seqüência de Fibonacci, imortalizada em uma das pistas para o “simbologista” Robert Langdon no best seller O Código Da Vinci. Os personagens. personagens em questão são analistas de mercado, trabalham em bancos ou corretoras e dedicam-se a recomendar compras e vendas de ações. Chamam-se analistas gráficos ou técnicos e, na turbulência que sacudiu os mercados nos últimos dois meses, provocaram seus colegas ortodoxos, gabando-se de ter antecipado a virada do mercado, a partir de 9 de maio. Com a ajuda de Fernando Góes, analista gráfico da corretora Ágora Senior, DINHEIRO desvenda a seguir os mistérios dessa versão financista de O Código Da Vinci.

A REVELAÇÃO
O ponto de partida para o desenvolvimento desta trama está em um mercado de arroz na cidade de Sakata, no Japão do século 18. Foi ali que um negociante conhecido como Homma criou os fundamentos da análise gráfica. Fez isso desenhando durante anos os preços de abertura e fechamento do mercado até detectar padrões de comportamento cíclicos que lhe permitiam antecipar movimentos. Um dos gráficos assim criado lembrava o formato de um Buda meditando. Rebatizado de “figura ombro-cabeça-ombro” ao ser adaptado à teoria ocidental, tornou-se um clássico da análise técnica, muito usado até hoje.

A TEORIA DE DOW
Mais de um século depois, em Nova York, Charles H. Dow, fundador da agência de notícias Dow Jones, formulou a primeira teoria ocidental para o estudo do movimento dos preços por meio de gráficos, que norteia a análise técnica até os dias de hoje. Mas os padrões encontrados em Sakata, reunidos na chamada “Teoria de Candlestick (castiçal, já que os gráficos de Homma eram em forma de vela)” ainda são muito usados atualmente.

AS ONDAS DE ELLIOT
Há uma série de vertentes alternativas da análise gráfica, como a “Teoria das Ondas de Elliot”, de 1939, que defende que o mercado de ações segue um padrão de cinco ondas de subida e três ondas de descida para completar um ciclo. Cada grafista tem suas preferências e vários deles usam um pouco de cada uma. “O mais importante”, diz Góes, “é que a análise gráfica está sempre refletindo a psicologia das massas, oscilando entre otimismo e pessimismo, em ciclos que tendem a se repetir”.

SEQÜÊNCIA DE FIBONACCI
Dentro de toda essa discussão sobre ciclos é que entra a Seqüência de Fibonacci – que se forma somando um número ao anterior infinitamente, como em “1,1,2,3,5,8,13”. Criado pelo matemático italiano Leonardo de Pisa (Fibonacci é uma corruptela de Filho de Bonaccio), no século 12, este padrão é encontrado em constelações, nos ciclos das marés e até nas proporções do corpo humano. Da Vinci a chamava de Divina Proporção e a usou em muitos de seus trabalhos. “Como a natureza, o mercado também segue o padrão”, diz Góes. “Após configurar um gráfico, apontando alta ou baixa da bolsa, podemos projetar para onde o mercado vai usando Fibonacci”, ensina.

PROFECIA REALIZADA
Mesmo os mais céticos surpreendem-se com a capacidade da análise gráfica em antecipar o movimento dos mercados. “Antes do atentado de 11 de setembro, tínhamos gráficos totalmente configurados para quedas, com grandes figuras apontando nessa direção”, lembra Góes. Pode ser coincidência. E há até quem diga que insiders da Al Qaeda se posicionaram no mercado antecipando a grande baixa. “O importante é que estava tudo estampado nos gráficos, e a queda realmente veio”, pontifica o analista.

NÃO PERGUNTE POR QUÊ
A bola de cristal dos grafistas teria funcionado, também, na reversão de expectativas na bolsa no último mês de maio. O mercado subia de vento em popa, até que uma súbita reviravolta mudou a direção das cotações das ações, que despencaram. “Isso também foi antecipado por uma figura de queda, a chamada ombro-cabeça-ombro”, afirma Góes. Segundo ele, o analista gráfico não está interessado nas razões do mercado, mas sim no seu modus operandi. Em outras palavras, se quiser decifrar este código, não pergunte por que os preços sobem e descem, mas como e quando isso acontece.

29 junho 2006

Cilada Emocional

Reportagem enviada por Ricardo Viana, publicada no Jornal Valor Econômico:

Cilada emocional

Por Catherine Vieira
20/06/2006

O empresário Hélio do Amaral começou a investir em ações há cerca de três anos, como forma de turbinar a renda de sua futura aposentadoria. Até maio, com a animadora seqüência de altas no mercado local, ele nunca precisou rever a estratégia. Com as turbulências iniciadas em maio, porém, o temor de colocar o futuro em risco assustou Amaral. Assim como milhares de investidores individuais, que passaram a abarrotar os chats na internet e as centrais telefônicas das corretoras, ele se viu diante da necessidade de tomar uma decisão: é hora de vender ou devo manter minhas posições?

É justamente nestes momentos, de maior pressão, quando o assunto envolve decisões estratégicas, que os especialistas do comportamento humano alertam: cuidado com as armadilhas internas.

Quando o mercado passa por momentos de virada e os investidores precisam decidir o que fazer em relação ao novo cenário, ficam mais evidentes os fatores que mostram que os aplicadores não se comportam de forma puramente racional, lembra o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em finanças comportamentais Jurandir Sell Macedo. Eles são também influenciados pelas emoções e as chamadas "ilusões cognitivas". "Quem só conhece mercado em alta pode ter essa ilusão, mas a queda também faz parte da dinâmica e quem não convive bem com isso não deve investir em ações", diz.

Um artigo dos especialistas John Hammond, Ralph Keeney e Howard Raiffa na revista Harvard Busines Review enumerou as sete ciladas psicológicas que costumam atrapalhar gestores de negócios e carteiras na hora da decisão. A primeira das chamadas "armadilhas ocultas" é a que eles chamaram de efeito-âncora, que leva o investidor a dar um peso desproporcional à primeira informação recebida sobre determinado assunto. Já a armadilha do status quo mostra a tendência a manter a carteira ou posição como está, ainda que possam haver alternativas melhores, enquanto o problema do custo irrecuperável leva o investidor a perpetuar erros cometidos no passado por evitar realizar algum prejuízo. Outro vício é aquele que faz com que as pessoas tentem sempre buscar dados que confirmem suas teses e recusar dados que as refutam.

Há ainda a questão do excesso de confiança, que leva a superestimar a exatidão das próprias projeções ou de terceiros ou, ao contrário, a armadilha da prudência exagerada, que traz demasiada cautela na hora de prever eventos incertos. Por fim, há o efeito lembrança, que é uma espécie de trauma no qual o indivíduo acaba atribuindo um peso desmedido a eventos recentes e dramáticos.

Ao contrário do que ocorreu em outros momentos de volatilidade do passado, os investidores individuais revelam uma paciência maior com o sobe-e-desce. Isso também é explicado pela fase prolongada de altas do Índice Bovespa, que chegou a valer 8.500 pontos em 2002 e este ano, antes dos solavancos, foi perto dos 42.000 pontos. "Não vou dizer que não dá medo olhar o mercado em queda, o mercado está perigoso", diz o empresário Hélio Amaral. Cliente da Corretora Ativa, ele prefere continuar acompanhando de perto antes de tomar a decisão de vender. "Mas estou mais cauteloso, não dá para entrar em qualquer lançamento de ações, por exemplo."

O diretor de varejo da corretora Ágora Senior, Marcelo Smarrito, conta que os clientes aumentaram muito o volume de consultas e freqüência aos chats. "Mas em geral eles têm mantido as posições", conta o executivo.

Se as decisões tomadas hoje são acertadas é difícil saber, diz Macedo, da UFSC. Mas, pelo menos num ponto, o especialista acredita que a atitude atual dos investidores pode estar sendo mais positiva do que em outros momentos. "Não ser movido pelo pânico e não tentar vencer o mercado a todo momento já é um bom caminho, demonstra um maturidade maior do investidor brasileiro", diz. "O que os estudos de finanças comportamentais mostram é que bater o mercado, ou seja, os índices básicos, com consistência, é praticamente impossível", acrescenta.

O especialista americano Meir Statman, que esteve no Brasil no mês passado, lembrou que justamente dessa conclusão nasceram os chamados fundos de ações passivos, ou fundos de índice, que só reproduzem as carteiras teóricas dos índices.

De acordo com o especialista catarinense, muitos investidores tendem a acreditar que podem conseguir sempre superar o mercado, a começar por ele próprio, que também é consultor. " Eu tenho um perfil muito especulador e um dos clientes que eu assessoro é superconservador, quase não gira a carteira e gosta de bons dividendos ", conta Macedo. "Sempre achei que eu ganhava muito mais que ele e, um dia, coloquei na ponta do lápis e descobri que, num período de oito anos, minha carteira perdia em 3% para a dele".

Para se livrar das ciladas, os especialistas recomendam comprar devagar, vender devagar, não ficar suscetível a momentos de pânico e manter-se fiel aos objetivos. "Quem quer juntar dinheiro para comprar um apartamento por exemplo, quando a quantia já for suficiente, deve vender as ações e comprar o imóvel", diz Macedo. "Não se pode ceder à tentação de acreditar que a bolsa só sobe e ficar sempre tentando ganhar mais, assim como não se deve resistir a realizar um ganho menor porque surgiu uma queda", conclui.

Valor Econômico

24 junho 2006

A arte de escrever difícil

Um belo texto publicado hoje (24/06) no Estado de S Paulo sobre a arte de escrever difícil:

O hábito de escrever e falar difícil

De onde vem o gosto pela incomunicabilidade? Vem de longe, mas hoje pelo menos os jornais primam pela expressão enxuta

Aluízio Falcão

A exposição sobre o nosso idioma e sua merecida repercussão trouxe para as salas de aulas e páginas de jornais um debate enriquecedor sobre o tema. Houve, na abertura do evento, reparos a imprecisões históricas em alguns de seus painéis, mas feitas num tom não construtivo que denunciava, antes do zelo, uma certa inveja dos formuladores. A exposição não sofreu com isso e despertou grande interesse da população.

Passado o impacto sobre a beleza da lusofonia, é preciso retomar a batalha por sua clareza. Até acho que todos os dicionários deviam ter na capa aquele aviso da propaganda de cerveja: use com moderação. A Língua Portuguesa precisa de um regime para emagrecer. Deve urgentemente perder celulites que agridem a decantada formosura do seu corpo. Perdão leitora, mas não há outro termo, somente celulite corresponde ao tenebroso vocábulo aleivosia, por exemplo, tão presente na oratória política e em alguns escritos que leio de vez em quando. Na tribuna, Suas Excelências querem afirmar que não admitem injúrias e acabam por dizer que não admitem aleivosias. Há outros recursos, talvez mais feios. Dizem "condutas deste jaez", quando poderiam dizer simplesmente "condutas desse tipo". Jaez, ínterim, encômio, vitupério, entrementes... a lista daria um dicionário. Um dicionário de sinônimos, provando que a cada palavra rebarbativa corresponde outra mais bonita e mais simples, de igual significado, que todo mundo entende. O problema é que falar difícil ainda confere status perante certas platéias. Ainda ontem, no restaurante, escutei um vizinho de mesa explicando qualquer coisa: "Esforço hercúleo..." A julgar pelo franzido nas testas de sua mulher e dos filhos, ninguém entendeu o hercúleo.

De onde vem esse gosto pela incomunicabilidade? Vem de longe, dos primeiros bacharéis. Não satisfeitos com os excessos em português, decoravam um latinório para rechear de sabedoria suas petições e recursos. Um amigo advogado, Núncio Nastari, divertiu-me com páginas e páginas dessas invocações. Pesquei algumas: est modus in rebus (cada caso é um caso); ad argumentandum tantum (apenas para argumentar); data venia (com o devido respeito); res nulius (coisa de ninguém); dura lex, sed lex (a lei é dura, mas é lei); pacta sunt servanda (os contratos devem ser respeitados); ad impossibilia nemo tenetur (ninguém é obrigado ao impossível); mutatis, mutandis (mudando o que deve ser mudado) e vai por aí a listagem do Núncio.

Ainda hoje tais preciosismos adornam os papéis jurídicos. Rui Barbosa foi um precursor. Profissionais de outras áreas também criaram jargões próprios, dificultando a compreensão de seus textos pelos outros mortais. Daí o "economês", o "sociologuês" e outros idiomas dentro do idioma.

Houve uma literatura de linguagem complicada, que parte da crítica endeusou exatamente pelos exageros formais, e não por seu conteúdo superior. Foi o caso de Os Sertões, do grande Euclides da Cunha, repleto de afetações que mais escondiam do que mostravam a genialidade do autor. Joaquim Nabuco, em seus Diários, registra que não agüentou ler os adjetivos de Euclides: (...) "Aqui a floresta impede também de ver as árvores. É um imenso cipoal; a pena do escritor parece-me mesmo um cipó dos mais rijos e dos mais enroscados. Tudo isso precisa ser arranjado por outro, ou de outra forma." E houve um excelente poeta brasileiro, Augusto dos Anjos, que se tornou famoso pelos seus piores versos, aqueles de linguajar rebarbativo: "Cosmopolitismo das moneras / pólipo de recônditas reentrâncias..."

Os jornais, que no passado imitavam a literatura pedante, hoje primam pela expressão enxuta, e com isso prestam importante serviço ao idioma. Inclusive quando incorporam uma linguagem que, pelo uso corrente na oralidade, adquirem o direito de ingressar na linguagem escrita. Machado de Assis defendia esse valor da espontaneidade. Escreveu, a propósito de vocábulos que pulam das ruas para o papel: (...) "Eles nascem como as plantas da terra. Não são flores artificiais de academias, pétalas de papelão recortadas em gabinetes nas quais o povo não pega. Ao contrário, as geradas naturalmente é que acabam entrando nas academias."

Os parnasianos contribuíram fartamente para difundir os palavrões. O termo é aqui usado para definir palavras solenes, cobertas de lantejoulas, que passeiam a sua pose nos sonetos. Mesmo aquele de Olavo Bilac sobre a Língua Portuguesa e que começa com "Última flor do Lácio, inculta e bela", merece reparos. Primeiro, porque o poeta imaginou que todos os seus leitores tinham a obrigação de saber que o Lácio era uma antiga região da Itália, onde primitivamente se falava o latim. Segundo, porque já no quarteto seguinte ele chama sua musa de "Tuba de alto clangor", parecendo insultá-la. Ainda bem que se redime dos excessos iniciais nos dois belos tercetos aqui transcritos em homenagem ao autor e ao nosso idioma:

"Amo o teu viço agreste e o teu aroma / De virgens selvas e de oceano largo! / Amo-te, ó rude e doloroso idioma, / Em que da voz materna ouvi: 'Meu filho!', / E em que Camões chorou, no exílio amargo, / O gênio sem ventura e o amor sem brilho!"

Sonetos, discursos e papéis jurídicos não foram os únicos a prejudicar a clareza do texto em português. É preciso lembrar as dissertações acadêmicas, especialmente aquelas da área de humanidades. Claro está que várias teses desta área contribuíram decisivamente para o avanço do conhecimento e a compreensão do Brasil. Mas houve outras, e também muitas, que vieram mais para complicar do que para explicar. Ainda bem que não saíram em livros. Esconderam-se, xerocadas, no escurinho das bibliotecas. Talvez com algum acanhamento de serem tão ininteligíveis e confusas.

Deixei para o fim, como nas estórias policiais, um culpado acima de qualquer suspeita. Ele goza de certa respeitabilidade e provavelmente não tem exata noção do mal que faz, em nome do bem. Estou me referindo ao gramático obsessivo, um guardião fundamentalista do idioma, que também age como carrasco da boa prosa. Não falo de bons e anônimos professores de português empenhados em difundir as boas normas nas escolas secundárias. Palmas para estes heróis obscuros que nem sempre têm o reconhecimento dos alunos e dos patrões, sejam estes governos ou empresários do ensino. Mas o purista ortodoxo trava a fluência da escrita, inibe os predicados que a embelezam para receber a visita dos leitores. O purista não é mau sujeito, ele erra supondo combater o erro. Um pai antiquado, rigoroso além da conta, que proíbe a filha de se fazer bonita para os rapazes. E, sendo intolerante como um pai de outros tempos, adora palavras daquele repertório dos oradores e passadistas em geral.

Grandes criadores na literatura mundial já se queixaram amargamente das restrições desses fiscais do vernáculo, que não abrem um livro em busca de prazer estético, e sim de erros para denunciar ou criticar. Não são erros, mas carícias de quem adivinha, pelo trato constante e apaixonado, as mil possibilidades que as palavras oferecem aos seus verdadeiros amantes. Palavras, palavras. Poetas e escritores dormem com elas, decifram seus mistérios. Nessa intimidade o texto é concebido. Já os gramatiqueiros, brandindo regras inflexíveis, não cansam jamais em sua tarefa de patrulhar as aventuras das meninas com os seus artistas.

23 junho 2006

O custo de não fazer

Uma reportagem do Wall Street Journal de hoje mostra o custo de não fazer. No caso, refere-se ao filme do Superman, adiado várias vezes.

A reportagem completa a seguir:

O supercusto de não realizar um filme
June 23, 2006 4:05 a.m.

Por Kate Kelly
The Wall Street Journal

Alguns anos atrás, o então presidente de produção da Warner Bros. Entertainment, Bill Gerber, levou um pequeno grupo de pessoas de Hollywood para uma luxuosa casa de veraneio que o estúdio mantinha em Acapulco. Entre eles estava o agente Gerry Harrington, cujo cliente Nicolas Cage havia sido escolhido para o papel principal numa nova encarnação da série de filmes Superman.

Logo depois de chegarem lá, Gerber recebeu um desagradável telefonema informando-o que o estúdio estava descartando o projeto com Cage por questões de orçamento e roteiro. "Eu tinha a nada invejável tarefa de dizer a Gerry Harrington que estava tudo acabado", lembra Gerber. "Foi um desastre."

Oito anos depois, a Warner Bros., da Time Warner Inc., está pronta para apresentar sua nova versão do mais famoso super-herói. Superman – O Retorno — que estréia dia 28 de junho nos EUA e 14 de julho no Brasil — traz o pouco conhecido ator Brandon Routh e o diretor de X-Men, Bryan Singer. A Warner Bros. diz que o filme custou US$ 228 milhões mas que, com a isenção de impostos por ter sido feito na Austrália, o desembolso ficou perto dos US$ 209 milhões.

Nos últimos dez anos, a Warner Bros. experimentou cinco diretores, várias equipes administrativas no estúdio e pelo menos dez roteiros na tentativa de trazer o Super-Homem de volta à tela. A série estava dormente desde Superman IV – Em Busca da Paz, de 1987, o último e menos popular dos filmes com Christopher Reeve.

O esforço da Warner para relançar Superman é prova de que, em Hollywood, os filmes que não são feitos podem ser tão penosos e custosos quanto os que são. Estima-se que as versões fracassadas de Superman que precederam o filme de Singer custaram à Warner US$ 60 milhões em despesas de desenvolvimento, segundo entrevistas com mais de uma dúzia de atuais e ex-executivos, roteiristas, diretores e consultores que estiveram envolvidos no projeto em várias fases. Esse é o custo médio atualmente de uma produção hollywoodiana.

A Warner Bros. diz que esses custos já foram baixados de seu balanço. Mas a experiência mostra que mesmo a tarefa aparentemente simples de passar uma história popular de gibi para o celulóide às vezes pode virar uma peregrinação agonizante e custosa.

O projeto de Superman – O Retorno nasceu em 1993, quando a Warner Bros. adquiriu os direitos de fazer um novo filme do Homem de Aço. Jon Peters, o produtor ligado ao filme, trocou de roteirista pelo menos três vezes até 1997, passando por Jonathan Lemkin, um veterano roteirista de televisão, e Kevin Smith, do sucesso independente O Balconista. A Warner Bros. diz que 11 roteiristas custaram-lhe em média US$ 850.000 cada.

Mas foi tudo jogado fora em 1997, quando Tim Burton, diretor de Batman, entrou no projeto acompanhado por Cage e um novo roteirista de sua escolha, Wesley Strick. Mas o projeto, que seria baseado no quadrinho A Morte do Super-Homem, acabou engavetado no ano seguinte, por dúvidas quanto aos custos e ao roteiro, segundo pessoas à época envolvidas. O estúdio diz que gastou aí US$ 30 milhões.

Dali em diante, a Warner cogitou um filme de Batman contra Super-Homem, que seria dirigido por Wolfgang Petersen, de Na Linha de Fogo, mas voltou a arquivá-lo, antes de contratar Brett Ratner, que fez a comédia A Hora do Rush, para um novo filme só do Super-Homem.

Em seis meses de preparação, Ratner trabalhou com artistas de efeitos visuais e designers numa produção estimada em mais de US$ 200 milhões, gastando cerca de US$ 10 milhões. No começo de 2003, ele foi demitido.

A Warner Bros. finalmente acertou com Singer em 2004.

21 junho 2006

Conselhos de um Econometrista

Com o crescimento dos trabalhos empíricos, a facilidade de acesso a programas estatísticos e a pressão para publicar, estão surgindo cada vez mais trabalhos quantitativos de pesquisa em contabilidade. Em alguns desses trabalhos é perceptível a existência de falta de conhecimento na área quantitativa; em outros, a falta de reflexão sobre o tema pesquisado.

Talvez por esse motivo, o paper de Peter Kennedy, publicado no Journal of Economic Surveys, vol 16 , n. 4, em 2002, seja útil. Kennedy apresenta algumas recomendações interessantes e num determinado ponto o autor diz que:

"Um comentário de Ronald Coase que ´se você torturar um dado o suficiente, ele irá confessar´"

Ou seja, a ferramenta econométrica pode ser utilizada para provar o improvável. Nesse sentido, o autor chama a atenção para a necessidade de produzir a resposta correta para a pergunta errada.

Além disso, Kennedy enfatiza a necessidade de conhecer o que está sendo pesquisado. Isso inclui conhecer os dados: como foram gerados, como foram selecionadas as amostras, o que são as variáveis, como foram tratadas, etc. "Dados são números com um contexto. Conheça o contexto" afirma Kennedy. Isso inclui inspecionar as informações, fazer estatísticas descritivas, plotar gráficos, estudar o sentido da significância estatística dos resultados, relatar uma analise de sensibilidade (publicando todas as regressões rodadas, relatando o efeito no resultado de uma redução no período de tempo da pesquisa, por exemplo) etc.

Futebol 10

Do Jornal Valor Econômico de 21/06/06:


Opções de Brasil caem 17% desde a estréia

Por Adriana Cotias
Investidores dos quatro cantos do planeta não perdoaram a tímida atuação da seleção brasileira nos dois primeiros jogos da Copa do Mundo e as opções de Brasil campeão perderam mais de 17% da cotação que tinham às vésperas do início do campeonato. Ontem, eram negociadas com um intervalo de US$ 21,3 e US$ 21,8 para compra e venda, respectivamente, ante os US$ 26,2 e US$ 26,3 de 5 de junho, segundo o site Tradesports.com. O valor máximo pode chegar a US$ 100, o que representa a escala de probabilidade que vai até 100% para um time vencer o torneio.

Mesmo assim, o pelotão repleto de celebridades comandado por Carlos Alberto Parreira ainda se mantém no topo dos favoritos. A seleção da Argentina, por sua vez, foi a que mais se valorizou de lá para cá, refletindo a boa estréia na partida contra a Costa do Marfim e, principalmente, a goleada de 6 a 0 no embate com o time da Sérvia e Montenegro. As opções mais do que dobraram de valor e ontem eram negociadas a US$ 19,4 e US$ 19,8 para compra e venda, respectivamente, em comparação aos US$ 9,6 e US$ 9,8 do período que antecedeu o início do torneio mundial.

Com o atual nível de preços, a seleção argentina passou a ocupar a segunda posição entre as mais cotadas para erguer a tão almejada taça na final de 9 de julho, desbancando Alemanha e Inglaterra, que passaram ao terceiro e quarto postos - trocando também as posições entre si, já que a Inglaterra abriu o campeonato como a segunda favorita. A Espanha, que estreou bem, com quatro gols contra a Ucrânia e depois bateu a Tunísia por 3 a 1, teve valorização de 81%, cotada a US$ 9,4 e US$ 9,6, ante os US$ 5,2 e US$ 5,3 de 5 de junho.

Perdas significativas tiveram ainda os contratos sobre opções da Itália, com desvalorização de 10,8%, cotados a US$ 7,1 e US$ 7,4, e, os da França, com perda de quase 44%, negociados a US$ 3,6 e US$ 3,9, após dois empates, um contra a Suíça e outro em que teve a Coréia do Sul como rival. Já viraram pó e não dão mais jogo as seleções desclassificadas antes mesmo do fim da primeira fase do mundial: Costa do Marfim, Sérvia e Montenegro, Polônia, Irã e Togo.

Já nos bastidores do mercado local, quem vendeu opções de Brasil e comprou as da Argentina - a melhor arbitragem dada a distorção de preços - já embolsa lucros. Antes de o campeonato iniciar, a seleção brasileira era negociada nas mesas de operações nacionais num intervalo de R$ 31 e R$ 33 (para cada R$ 100), ante os R$ 12 e R$ 13 da Argentina. As opções da seleção argentina agora saem a R$ 19 e R$ 20. Já as de Brasil campeão ficam entre R$ 29 e R$ 30.

As transações com opções de Copa do Mundo replicam aquelas pactuadas entre dois investidores no mercado real, mas a diferença é que não há um ativo para entregar no final como ocorreria com opções sobre ações. Se, por exemplo, uma das partes paga R$ 30 pelo Brasil, ela terá direito a R$ 100 se a seleção for campeã, embolsando um lucro de R$ 70 por contrato. Caso contrário, a ponta "vendida" (que apostou na derrota) em Brasil ganha o prêmio de R$ 30 e o outro fica com as mãos abanando.

No Brasil, as apostas são informais, realizadas na base da confiança, e não há um mercado organizado ou legal que centralize cotações ou ordens de compra e venda. A possibilidade de inadimplência é grande, mas, em geral, os operadores levam a sério os compromissos assumidos porque continuarão negociando ativos entre si depois do fim do torneio. Após os pregões da Bovespa e da BM&F, eles negociam de tudo: de candidatos a vencer o Big Brother Brasil a eleições.

Nas bolsas de apostas internacionais, as transações são formais e há até a possibilidade de se pagar os prêmios usando cartões de crédito. A variedade de opções de Copa é grande e chega a detalhes como o número de gols de cada time nas partidas, o total em todo o torneio, candidatos a artilheiros e, no caso brasileiro, há até contratos que embutem a possibilidade de Ronaldo, o fenômeno, começar a partida contra o Japão jogando ou não. Por enquanto, as cotações apontam como hipótese mais provável que ele fique no banco de reservas quando soar o apito que dará início ao jogo contra a seleção capitaneada por Zico amanhã.

E pelo andar das apostas no site inglês Ladbrokes.com, Adriano é o mais bem cotado para ser o goleador brasileiro, seguido por Kaká, Fred e Ronaldinho. Ronaldo ocupa apenas a quinta posição entre os favoritos a balançar as redes para o Brasil. Na comparação com outros times para o posto de artilheiro da Copa, Adriano tem o quarto lugar, atrás do espanhol Fernando Torres, de Miroslav Klose, da Alemanha, e de David Villa, também da Espanha. A previsão é que a seleção brasileira faça mais de dez gols ao longo do campeonato.

20 junho 2006

Como utilizar uma figura

























Quando estamos produzindo qualquer material, um dos princípios fundamentais é ser claro com o leitor. Um exemplo interessante sobre como fazer e como não fazer pode ser encontrado no sítio Creating Passionate Users

O que a segunda figura diz? Sugestões: "cada ser humano não pode ter mais de dois cães sob seu controle"; ou "você pode ter um cachorro alemão, um Sheepdog, mas não um Spaniels".

No caso da figura, considerando que a resposta seja a primeira alternativa. Nesse caso, o que se deve fazer? O sítio propõe uma figura alternativa (a primeira mostrada aqui) e explica as razões da mudança:

=> Utilizar somente um tipo de cachorro. O melhor seria usar uma representação de um cachorro, sem preocupação com a raça. Nesse caso, diferença na imagem pode ser representada como uma informação significativa.

=> Incluir uma pessoa na figura, preferencialmente uma representação. O sítio coloca uma representação feminina, mas acho que a solução ainda assim não é adequada. Parece que está informando que "somente mulheres podem ter até dois cachorros", levando a pensar que para o sexo masculino isso não seria válido.

=> Fazer um "x" na figura onde existem três cachorros.

Como o risco de um país afeta a estrutura financeira

A empresas multinacionais adotam estratégias diferenciadas de acordo com o risco do país onde estão investindo. Segundo um trabalho divulgado por Desai, Foley e Hines Jr, denominado Capital Structure with Risky Foreign Investment, as empresas multinacionais administram sua estrutura de capital diante do risco do ambiente externo.

Os autores utilizaram mais de vinte mil observações para concluir que a estrutura financeira dessas empresas varia de acordo com o risco do país onde é feito o investimento. Isso é feito de duas formas. A primeira, através da redução do volume de recursos de capital próprio em ambientes mais arriscados. Nesse caso, as filiais são mais alavancadas (mais endividadas) do que a matriz.

Além disso, essas empresas também dividem as operações no estrangeiro com investidores locais. Entretanto particularmente tenho dúvidas se o uso de parceiros locais decorre da redução do risco ou se não seria uma forma de entrar no mercado.

Uma outra estratégia dessas empresas é utilizar a exportação para os países com risco como uma forma de reduzir a produção local, e consequentemente os investimentos.

O texto indica existir uma relação entre o risco do negócio e a estrutura de capital.

19 junho 2006

Auditoria do FMI e a crise da Argentina

Uma reportagem do Jornal do Comércio sobre a auditoria do FMI e a crise da Argentina.

Auditoria - Relatório aponta erros cometidos pelo FMI na Argentina

Da redação, com agências

Um estudo de um trio de especialistas independentes contratados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliou que o órgão manipulou e sonegou informações para proteger o próprio staff, esconder seus erros e acentuar a responsabilidade dos governantes da Argentina pelo colapso econômico ocorrido em 2001. O relatório divulgado na semana passada é mais uma sessão de análise da atuação do Fundo durante crise do país vizinho, que acabou levando a própria instituição para o divã. O FMI passa por uma crise sem precedentes em suas mais de seis décadas de existência, tanto financeira quanto de identidade.

O informe é uma espécie de "auditoria da auditoria" e põe em xeque os mecanismos internos do organismo multilateral. Os especialistas revisaram o trabalho da Oficina de Avaliação Independente OEI, na tradução do ingês) do FMI em dez países, incluindo a Argentina, para concluir que, no caso do país vizinho, o Fundo sonegou informações a seus auditores e os induziu a erros de análise.

"O staff manteve reservada informações do caso argentino. Não lhes informou (aos auditores da OEI) sobre as bases de um entendimento com Domingo Cavallo", diz o texto. Cavallo era então o ministro da Economia argentino, responsável pela política de conversibilidade (um dólar equivalente a um peso), arrastada até o fim de 2001.

Segundo o relatório, naquele ano houve discussões com Cavallo sobre a possibilidade de fazer mudanças estruturais na política econômica se as reservas chegassem a um nível muito baixo. Essas conversas não foram divulgadas suficientemente nem a própria OIE as apontou, segundo o informe.

O estudo é categórico ao dizer que o relatório da OEI sobre a crise argentina "acomodou" suas conclusões para proteger os diretores do FMI. "O rascunho sobre as razões que levaram ao colapso argentino se foca nos erros de análise por parte do staff e dos diretores do FMI: a versão final do parágrafo, porém, se centra nos erros de avaliação das autoridades argentinas", diz o grupo de especialistas liderado pela ex-diretora do FMI, Karin Lissakers. O governo argentino, que mantém tensa relação com o Fundo, não comentou o relatório, que ataca a gestão da "dama de ferro" Anne Krueger.

Para o presidente argentino, Néstor Kirchner, as receitas econômicas do FMI foram responsáveis pela crise argentina. Em janeiro deste ano, o país pagou toda sua dívida com o Fundo. Antes, Kirchner fez um duro discurso contra o órgão e pregou independência da política econômica do país.

O Fundo continua realizando missões de rotina no país. A última, na semana passada, elogiou a recuperação da economia argentina, mas deixou mais recomendações: afirmou que a inflação, a maior ameaça à economia que cresceu 8,6% no 1º trimestre, e as políticas do governo Kirchner para combatê-la "geram tensões que precisam ser resolvidas".

16 junho 2006

Não é notícia de Contabilidade Financeira


Eu sei. Não é notícia de Contabilidade Financeira. Mas não resisti pois trata da importância da informação que é evidenciada. É do sítio Terra:

Dono de carro roubado faz placa de "Frorianópolis"

Um veículo Toyota/Corolla preto roubado foi recuperado esta manhã por policiais rodoviários no km 439 da rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo. O carro trazia grafado em suas placas o número MHM 0058, com localidade "Frorianópolis", e não Florianópolis. O condutor do veículo foi preso.
A Polícia Rodoviária Federal descobriu, por meio da numeração do motor e do chassi, que as placas originais do veículo eram na verdade de São Bernardo do Campo (SP) e que o Toyota havia sido roubado em maio do ano passado.

O condutor confessou que comprou o carro, avaliado em R$ 50 mil, por R$ 5 mil, e o entregaria em um shopping em Florianópolis para uma pessoa desconhecida.

Ele foi preso e autuado em flagrante por uso de documento falso e receptação de carro roubado.

15 junho 2006

Futebol 9

A revista The Economist explica a razão pela qual a Copa do Mundo é melhor que as Olimpíadas:

"... A Copa do Mundo, ao contrário das Olimpíadas, é mais difícil de manipular para propósitos políticos (...)"

PAra a revista, as Olimpíadas tem sido uma medida acurada do poder político mundial. Os alemães nazistas ganharam as de 1936, os Estados Unidos e União Soviética disputaram o primeiro lugar durante a guerra fria e provavelmente os chineses tentarão ficar em primeiro lugar em 2008, em Beijing.

Para a revista, na copa do Mundo

"existe somente uma superpotência - Brasil. Os italianos e franceses (...) permanecem formidáveis competidores no campo do futebol"

Apesar do prestígio do jogo em termos mundiais, a revista observa que é muito difícil - senão impossível - um governo criar um time vencedor. Novamente a comparação com as Olimpíadas é desfavorável. A revista lembra dos robôs da Alemanha Oriental, dos ginastas romenos e dos nadadores chineses, programados pelo estado. No futebol um time necessita não somente de atletas mas também de criatividade e estilo, que não pode ser fabricado pelos planejadores do estado. Mesmo tomar drogas parece não ajudar muito no futebol.

Por essa razão a revista conclui que numa competição entre as Olimpíadas e a Copa do Mundo, esta leva o título de maior evento do esporte.

Proteção ao Minoritário

Reportagem do Valor Econômico de 14/06 sobre a necessidade de proteção ao minoritário:

Pouca proteção ao minoritário também reduz interesse


Um complicador para os mercados emergentes é que, em muitos, a lei oferece pouca proteção aos acionistas minoritários. Brechas em um contrato de dívida são fáceis de serem detectadas e policiadas, mas uma reivindicação de um acionista pode ser derrubada de uma hora para outra. O presidente do Conselho de Administração da Hyundai da Coréia do Sul, por exemplo, está sendo julgado sob acusação de ter desviado US$ 110 milhões de sua companhia.

Mas as coisas estão melhorando, segundo Simeon Djankov, do International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial (Bird). Em 28 de julho, uma nova lei de valores mobiliários entrará em vigor no México, endurecendo as penalidades. Os mercados de ações da Índia, certa vez descritos como um "ninho de cobras", se tornaram menos venenosos nos últimos anos, na medida em que a Comissão de Valores Mobiliários do país ficou mais agressiva. O Egito, sob comando de um ministro dos Investimentos durão, finalmente está aperfeiçoando as leis corporativas, algumas das quais vinham sendo deixadas de lado há 25 anos. Djankov teme que a onda de vendas indiscriminadas das últimas semanas possa desencorajar as reformas. Se é assim que os mercados recompensam seus esforços, por que eles deveriam se preocupar?

Se os investidores carecem de discernimento, também falta liquidez nos mercados. Os investidores institucionais americanos poderiam comprar quatro vezes todas as ações espalhadas pelos mercados emergentes. Na maior parte dessas bolsas de valores, diz o Bird, o volume de negócios é relativamente pequeno, girando menos de 40% do mercado em um ano, comparado a 250% na Nasdaq. Os negócios são muito mais intensos na Turquia, Tailândia e Índia, onde o giro supera 100%. No México, oito ações responderam por quase dois terços de todos os negócios em 2004.

Como resultado, a comoção nas bolsas nas últimas semanas pode não servir como uma medida confiável das perspectivas para cada uma dessas economias. É mais provável que elas sejam um simples sinal do peso do dinheiro que entra e sai de mercados que ainda são muito fracos para suportar esse fluxo confortavelmente. Isso torna o capital estrangeiro "irrelevante, na melhor das hipóteses, e extremamente perigoso, na pior", segundo um gestor de fundos.

Mas Michael Klein, presidente do IFC, está otimista. No curto prazo, as firmas de "private equity" podem apostar contra a manada. E, no longo prazo, à medida que o mundo rico envelhece, ele ficará ainda mais ansioso para dividir os frutos e as vantagens oferecidos pela mão-de-obra mais jovem do mundo em desenvolvimento.

13 junho 2006

Concentração bancária

Esse ano tive o prazer de ter um artigo aprovado no Congresso USP de Contabilidade em parceria com um ex-orientando (hoje mestre), Marcos Moraes. O artigo, e o tema da dissertação do Marcos, explora a questão da concentração bancária. O tema é atual e geralmente as medidas de concentração são através de dados da contabilidade financeira.

A reportagem a seguir, enviada pelo Marcos, mostra outro estudo conduzindo a conclusão pelo aumento da concentração bancária no País. É da Folha de 22 de maio.

Cresce a concentração bancária no país
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FABRICIO VIEIRA
da Folha de S.Paulo

O número de bancos que operam no país não pára de cair. Na outra ponta, nunca houve tantos correntistas. Com os últimos dois negócios realizados no setor bancário -- com a compra do BankBoston pelo Itaú e do Pactual pelo UBS --, analistas voltaram a discutir mais acaloradamente o tema da concentração bancária.

Dados do Banco Central mostram que o total de bancos recuou de 191 em 2000 para 159 no fim de 2005 -- o que representa queda de 16,8%. Foram considerados os bancos múltiplos e comerciais.

Enquanto a variedade de instituições bancárias oferecidas ao público caiu ano a ano, o número de contas correntes deu um salto considerável, como reflexo da chamada bancarização -- ou seja, mais pessoas têm hoje acesso a serviços bancários. Em 2000, eram 63,7 milhões de contas correntes. No ano passado, essa cifra já havia alcançado 95,1 milhões (crescimento de 49%).

"Nos últimos dez anos tem havido um processo de encolhimento na quantidade de bancos, o que sem dúvida representa maior concentração. No longo prazo, se esse processo continuar no ritmo atual, poderemos começar a nos deparar com seus potenciais efeitos negativos", afirma Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).

Carminatti explica que sempre é arriscado um setor da economia ficar nas mãos de poucos. As opções de escolha se restringem, e os efeitos positivos da concorrência -- como preços menores e benefícios para atrair clientes- acabam por desaparecer. "Quando a concorrência encolhe muito, o cliente é quem acaba por sofrer mais. Para o consumidor, a concentração bancária é sempre perigosa", afirma.

Procurada pela Folha, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) preferiu não se manifestar sobre o tema.

Mais postos

Ao menos a queda no número de bancos não se refletiu em encolhimento na rede de atendimento. Pelo contrário. Considerando o total de dependências -- agências, postos de atendimento e eletrônicos, entre outros-, a cifra chegou no fim de 2005 a 123,9 mil unidades. Em 2000 eram 54,1 mil.

Bruno Pereira, analista de bancos do UBS, diz que "há tendência clara de consolidação no setor, como mostram os números. O setor público tem diminuído sua participação no setor bancário nos últimos anos". Ele afirma que "alguma consolidação não é negativa". "Não vejo pontos negativos nesse processo até o momento. Ainda há competição nesse mercado."

Em tese, a venda de um banco para outro poderia ser um complicador para uma empresa. Se ela tivesse um crédito pré-aprovado em um banco e este fosse vendido para outro, poderia acontecer de perder essa operação, vendo-a ser recusada pelo novo proprietário da instituição. Ao menos, com a farta oferta de crédito que existe no país atualmente, é difícil que algo assim ocorra.

Analistas afirmam que, se o atual processo de diminuição no número de bancos fosse decorrência de uma quebradeira no setor, o movimento seria preocupante. Mas, se for resultado de compras e fusões sadias, o atual cenário representa menos perigo e menos riscos.

Estudo de Caso: Caixa da Enel

Eis uma reportagem interessante publicada no Wall Street Journal de hoje:

Energética italiana Enel vê-se com poucas opções para seu gordo caixa
June 13, 2006 4:05 a.m.

Por Stacy Meichtry
The Wall Street Journal

ROMA — A Enel SpA, segunda maior empresa de serviços públicos da Europa em valor de mercado, tem um problema: está com sobra de dinheiro e não consegue achar onde gastá-lo.

Desde que foi privatizada, em 1999, a empresa tem tirado o máximo de sua posição dominante no lucrativo mercado italiano, gerando receitas de 35 bilhões de euros (US$ 44,2 bilhões) no ano passado e elevando seu valor de mercado para 42 bilhões de euros.

A empresa juntou um caixa de 15 bilhões de euros. Mas não pode investir muito mais em casa porque está limitada por regulamentações. Por outro lado, seus investimentos no exterior representam 5% da receita total. "Nós queremos e devemos crescer no exterior", disse o presidente do conselho da empresa, Piero Gnudi, no mês passado.

Isso não é fácil. No começo do ano, a Enel pôs os olhos na empresa francesa de serviços públicos Suez SA, que controla a belga Electrabel. Mas enquanto a Enel trabalhava numa possível oferta, o governo francês entrou na questão e, agindo em nome do patriotismo econômico, fundiu a Suez com a estatal Gaz de France SA.
[enel]

A Enel não desistiu de fazer oferta pela Suez até a fusão francesa ser completada no fim deste ano. A italiana ainda mantém uma linha de crédito de 50 bilhões de euros que separou para usar numa grande aquisição, e consultores da companhia ainda trabalham no projeto.

Mas a opção preferida da empresa seria negociar com a Suez para comprar alguns ativos da Electrabel, dizem pessoas familiarizadas com a questão. É possível que isso seja discutido hoje, em Paris, entre o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, e representantes do governo francês.

A Electrabel interessa à Enel porque permitiria que a empresa italiana começasse uma rede européia de usinas de geração e redes de distribuição de energia elétrica. Isso lhe daria a combinação ideal de ativos de energia nuclear, a carvão e renovável.

"A Enel tem de ter uma presença européia" para continuar competitiva, disse recentemente ao Wall Street Journal o diretor-presidente Fulvio Conti. "Escala é um fator muito importante para se poder negociar com outros países que têm matérias-primas e fontes de energia como petróleo, gás e urânio." A Enel não quis comentar sobre uma possível oferta pela Suez ou compra de ativos da Electrabel.

Se a Enel não conseguir botar as mãos na Suez ou na Electrabel, não há muitos outros ativos na Europa que ela poderia comprar. Outros continentes não são uma opção porque a força de uma empresa de energia vem da criação de redes ao redor de seu mercado doméstico. "Não vejo oportunidades para grandes aquisições", diz Pia Saraceno, um economista do centro de estudos REF, de Milão, especializado em questões de energia.

O dilema da Enel é um indício dos problemas cada vez maiores que as empresas de energia da Europa enfrentam ao tentar se expandir para além das fronteiras nacionais.

Muitas dessas empresas — como a E.On AG da Alemanha, energética européia com maior valor de mercado, e a Gaz de France — são ex-estatais que agora têm grandes reservas de caixa e aspiram a tornar-se forças regionais.

Mas quando buscam ativos em outros países, as energéticas esbarram em protecionismo.


1) O que significa contabilmente o "caixa" da Enel?
2) Como é possível dizer que a empresa possui um "caixa gordo"?
3) Cite um motivo para a empresa ter um "caixa gordo"?

Futebol 8

Mais sobre Futebol. Segundo Edmans, Garcia e Norli, do MIT, da Tuck e da Norwegian School, existe uma relação entre o sentimento em esportes e o retorno das ações.

Num artigo a ser publicado no prestigioso Journal of Finance, denominado Sports Sentiments and Stock Returns esses pesquisadores mostram uma extensa pesquisa realizada em 39 países do mundo sobre os resultados do futebol (soccer).

Os autores utilizaram os maiores torneios de futebol, em especial as eliminatórias da Copa do Mundo e a própria Copa do Mundo, e fizeram uma associação com o retorno do mercado acionário do dia seguinte ao jogo.

Além do futebol, os autores também utilizaram outros esportes (basquete, criquete, rugby e hockey no gelo), mas os efeitos encontrados são menores.

O estudo dos autores é parte de uma literatura recente que investiga como os preços dos ativos são influenciados por viés no comportamento. Pesquisa nessa área tem-se expandido nos últimos anos, como é o caso do estudo de Hirshleifer sobre o impacto do dia de sol no preço das ações. Anteriormente pesquisadores já tinham demonstrado um aumento no número de ataques cardíacos perto do jogo Inglaterra e Argentina pela Copa do Mundo. Outra pesquisa mostrou um aumento no número de suícidios entre os canadenses após a eliminação na Copa Stanley.

Utilizando uma amostra de mais de 2.600 observações, entre 1974 até 2004, os autores confirmaram uma ligação entre o comportamento do investidor e o resultado de eventos esportivos. O uso do futebol é justificável uma vez que é um evento que acontece em intervalos regulares e que afeta um grande número de países. Desse modo, as conclusões do trabalho são importantes para entender o efeito dos "sentimentos" nos preços.

Como era previsivel, os efeitos são maiores onde o futebol é mais importante. Ou seja, Brasil, Argentina, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha.

São diversos resultados para comprovar a hipótese da pesquisa. Mas para se ter uma idéia, em 138 jogos de eliminatórias, as derrotas implicam num recuo do mercado em 0,384% em média.

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11 junho 2006

Futebol 7

Os efeitos econômicos da Copa na imprensa. Agora o Estado de S Paulo de 11/06/06, p. E6:

Europa já ganhou o Mundial, nos negócios

Estudo prevê lucros nos países do Velho Mundo na Copa e prejuízo para os sul-americanos

Antero Greco, Eduardo Maluf e Jamil Chade

Nenhum país da América do Sul vencerá a Copa do Mundo da Alemanha. Isso é o que prevê, pelo menos em termos econômicos, um estudo do Centro de Pesquisas e de Negócios, uma das principais entidades de estudos da Inglaterra.

Segundo a pesquisa, o Mundial deverá render US$ 24 bilhões para os países que participam do evento. Desse total, porém, US$ 20 bilhões ficarão na Europa, enquanto as economias sul-americanas terão um prejuízo de US$ 550 milhões.

Segundo o modelo usado para calcular ganhos e prejuízos, a Copa traz dois efeitos a uma economia. De um lado, impulsiona o comércio e o consumo. De outro, afeta a produtividade das empresas diante da falta e das pausas dos trabalhadores durante as partidas.

A Alemanha seria a campeã econômica da Copa, com uma injeção de US$ 13,6 bilhões ao seu mercado que há anos não cresce. A Câmara de Comércio Alemã estima que 60 mil empregos foram criados para o evento e que o turismo terá um impulso nos próximos anos, por conta da imagem que o país transmitirá a todo o mundo.

Neste mês, cerca de 1 milhão de pessoas devem visitar a Alemanha e deixarão na economia local quase US$ 1 bilhão. A vice-campeã seria o Reino Unido, com benefícios de US$ 2,2 bilhões, ante uma injeção de US$ 1,2 bilhão na economia italiana, que também não é das mais aquecidas ultimamente.

Já os perdedores - Argentina, Brasil, Paraguai e Equador - sofrerão com os horários dos jogos. Isso porque 17 das 24 partidas envolvendo times da região ocorrerão durante o horário de trabalho, afetando a produtividade dos funcionários e dando prejuízo às economias.

O local onde a Copa é realizada é determinante para o cálculo dos ganhos econômicos de um Mundial. Na Copa de 2002, na Ásia, 15 países europeus sofreram perdas de US$ 11 bilhões, por causa das faltas dos trabalhadores. Pela diferença de fuso horário, os jogos foram transmitidos durante o horário comercial a Europa.

PRODUTIVIDADE

A consultoria Business Link, da Inglaterra, contraria o estudo e o senso comum, e aponta que a Copa não vai reduzir a produtividade dos trabalhadores, mas incrementá-la. O entusiasmo com uma vitória, segundo a pesquisa, pode levar a um melhor ambiente de trabalho.

Das mais de 2.300 companhias entrevistadas na Europa, 60% disseram que vão mudar os horários de trabalho para que os funcionários possam acompanhar a Copa. E só uma minoria acredita que isso terá influencia negativa sobre o resultado anual das companhias.

Diante da disparidade nos resultados das duas pesquisas, ambas de entidades respeitadas, tudo indica que a previsão de economistas e analistas de futebol sobre quem sairá campeão só poderá ser conferida após o Mundial.

10 junho 2006

Futebol 6

Reportagem da Folha de S. Paulo de 09/06/06

Começa o maior espetáculo de marketing

Copa do Mundo tem a maior audiência global e ainda o nacionalismo para torná-la oportunidade única para propaganda

Fifa arrecadou US$ 800 mi só com patrocinadores oficiais; empresas investem bilhões de dólares para promover produtos globalmente

MARK LANDLER
DO "NEW YORK TIMES"
Com uma audiência televisiva de mais de 5 bilhões de espectadores prevista para as próximas quatro semanas (boa parte, admita-se, composta por telespectadores repetidos) e uma expectativa de audiência de cerca de 300 milhões para a final, a Copa do Mundo é um colosso do marketing, eclipsando com facilidade o Super Bowl e as Olimpíadas.
"A Copa do Mundo conta com duas vantagens de que nenhum outro esporte desfruta", disse Shawn Bradley, vice-presidente de operações do Bonham Group, empresa de marketing esportivo dos EUA. "É o esporte mais popular do mundo, e não podemos esquecer do fator nacionalismo." Em países cujas seleções disputarão o torneio, disse Bradley, é comum que 95% das TVs estejam sintonizadas nos jogos das equipes nacionais. Os legisladores de Portugal recentemente votaram por adiar um debate parlamentar importante, quando descobriram que coincidiria com a partida de sua seleção contra o México.
Poucos eventos de qualquer espécie geram essa espécie de paixão. E isso constitui uma oportunidade única de promover produtos de massa, como calçados esportivos (Adidas), cartões de crédito (MasterCard), cerveja (Anheuser-Busch), fast food (McDonald's) ou internet (Yahoo).
Essas empresas estão investindo mais de US$ 1 bilhão em campanhas de publicidade e marketing vinculadas à Copa do Mundo de 2006. A Fifa arrecadou mais de US$ 800 milhões junto a 21 parceiros e fornecedores oficiais.
Diferentemente das Olimpíadas, que continuam a proibir a publicidade em estádios, como homenagem às raízes amadoras do evento, a Copa do Mundo é escancaradamente comercial. A Anheuser-Busch escolhe o "jogador da partida" depois de cada jogo. A McDonald's patrocina as crianças de entre 6 e 12 anos que acompanham os jogadores quando os times entram em campo.
"As Olimpíadas são uma mina de ouro, mas é preciso efetivamente minerar o metal", disse Nick Marrone, ex-dirigente olímpico canadense e diretor de marketing esportivo mundial na McDonald's. "Com a Copa do Mundo, o ouro pode ser encontrado um pouco mais perto da superfície."
Os EUA continuam teimosamente imunes à febre da Copa do Mundo, embora as empresas patrocinadoras insistam em que a popularidade do futebol vem crescendo a cada ano no país. Os hispânicos, eles apontam, são torcedores fiéis, especialmente dada a presença do México na competição e o favoritismo do Brasil.
Para os sete patrocinadores americanos, porém, a escassez de interesse nos EUA não é muito importante, dadas as audiências que eles serão capazes de atingir virtualmente em todos os demais países. Formam um grupo de corporações multinacionais, que auferem boa parte de seu faturamento fora de seus mercados de origem.
O Super Bowl, final do campeonato de futebol americano e principal evento de massa do esporte nos EUA, atraiu 95 milhões de telespectadores em todo o mundo, em fevereiro, de acordo com a Initiative Media, agência londrina de compra de mídia. Isso representa menos de um terço da audiência potencial da final da Copa.
"O que é atraente quanto à Copa do Mundo é o fato de que ela seja tão popular fora dos EUA", disse Tony Ponturo, vice-presidente mundial de marketing esportivo e mídia na Anheuser-Busch. "Nós vendemos a marca Budweiser em cerca de 70 países. E o evento realmente nos ajuda a promover a marca fora dos EUA." A Anheuser-Bush é um dos 15 parceiros oficiais da Copa do Mundo de 2006, na companhia de Coca-Cola, Gillette, da linha aérea Emirates, Hyundai, Fuji e algumas outras companhias.
Cada um dos parceiros está pagando entre US$ 45 milhões e US$ 50 milhões por direitos exclusivos pelo uso do nome "Copa do Mundo" em suas categorias de produto e por placas de publicidade nos estádios.
A próxima Copa do Mundo, na África do Sul, será ainda mais dispendiosa, com cotas de patrocínio estimadas em US$ 100 milhões, de acordo com especialistas em marketing esportivo. E mesmo assim a demanda é forte. A MasterCard, um patrocinador tradicional do evento, foi recentemente sobrepujada pela Visa, que assinou um acordo com a Fifa para as Copas de 2010 e 2014.
A MasterCard abriu processo contra a Fifa em Nova York, alegando que o acordo assinado entre a organização e a Visa violava o contrato vigente entre com a MasterCard. O McDonald's encara a Copa principalmente como oportunidade de promover sua marca fora dos EUA. A empresa está alardeando pesadamente o seu patrocínio da Copa em seus restaurantes na Europa e na América Latina, e também nas unidades americanas que atendem a uma clientela hispânica.

Marketing de emboscada
A atmosfera comercial da Copa também oferece muitas oportunidades às empresas que não são patrocinadoras oficiais. O marketing de emboscada, nome aplicado a esse tipo de tática, está florescendo de novo neste ano, ainda que os patrocinadores oficiais digam que a Fifa vem se esforçando ao máximo para impedi-lo.
Em fevereiro, a Fifa conseguiu um mandado judicial que impedia o Burger King de usar imagens do troféu da Copa do Mundo em sua publicidade em Israel. A empresa também foi forçada a suspender um concurso que prometia passagens para assistir à Copa na Alemanha, privilégio reservado aos patrocinadores.
Mas alguns dos recursos de marketing utilizados são impossíveis de reprimir. A linha aérea alemã Lufthansa pintou os narizes de seus aviões de branco e preto, como se fossem bolas de futebol, embora a Emirates, de Dubai, seja a patrocinadora oficial do transporte aéreo no certame.
Já a maior parte das federações nacionais de futebol têm patrocinadores próprios, e isso dá a essas empresas extra-oficiais uma chance de vincular suas marcas ao torneio. A Nike, por exemplo, patrocina oito das equipes no torneio, entre as quais Brasil e Estados Unidos. A Adidas, a despeito de seu status oficial, só patrocina seis, entre as quais a Alemanha.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Futebol 5

Do Jornal Folha de S Paulo:

Clubes de futebol faturam mais em 2005

Graças à parceria com a marca Kyocera, o Atlético-PR foi o que registrou o maior aumento percentual em suas receitas. Venda de Robinho coloca o Santos no topo do ranking; resultado das 20 maiores agremiações teve alta de 28% em relação a 2004

MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os 20 maiores clubes brasileiros conquistaram a receita conjunta mais expressiva da história do futebol nacional. Essa é uma constatação da Casual Auditores, que publicou, pelo segundo ano consecutivo, o ranking das maiores receitas do futebol no Brasil. A lista se baseia nos balanços publicados no ano anterior.
De acordo com a a análise da Casual Auditores, os 20 clubes com maior faturamento geraram R$ 1,05 bilhão em receitas em 2005. Esse resultado representa uma evolução de 28% em relação ao exercício de 2004, que foi de R$ 825,7 milhões.
Embora ainda pequena, a representatividade desse montante em relação ao PIB brasileiro também aumentou. Se em 2004 as receitas acumuladas dos clubes correspondiam a 0,047% do PIB nacional, em 2005 o faturamento das agremiações passaram a corresponder a 0,055% do PIB brasileiro, que foi de R$ 1,9 trilhão.
Esse resultado deveu-se principalmente às receitas geradas pela negociação de atletas, que superaram os R$ 300 milhões em 2005. Três jogadores contribuíram muito para o aumento desse valor, que em 2004 era de cerca de R$ 210 milhões: Robinho, que foi negociado pelo Santos por R$ 30 milhões com o Real Madrid; Cicinho, que saiu do São Paulo e também foi para o time merengue, e Fred, que se transferiu do Cruzeiro para o Lyon.
Não é à toa que o Santos figura no topo da lista da Casual. O clube do litoral paulista foi o que mais faturou com negociação de seus jogadores, com um volume de R$ 93,5 milhões, 204% superior a 2004.
Entretanto, na opinião de um dos analistas da auditoria, os números que mais chamam a atenção são os do São Paulo. O clube do Morumbi foi o que mais gerou receitas com os direitos de transmissão no ano. Aproveitando-se do sucesso na Libertadores e no Mundial de Clubes, o São Paulo arrematou R$ 93,5 milhões com a TV.
"O clube conseguiu crescer no faturamento, mas não foi devido à venda de jogadores. Embora seja um dos maiores vendedores de atletas, esse aspecto corresponde a apenas 23% de seu faturamento. O restante das receitas o clube conquistou com seu desempenho esportivo, com premiações na Libertadores e no Mundial", disse Amir Somoggi, analista da Casual Auditores.
Outros clubes que chamam a atenção são dois do Paraná. Curiosamente, Coritiba e Atlético-PR registraram os maiores crescimentos percentuais de suas receitas em um ano.
"O Coritiba e Atlético-PR cresceram pelo mesmo motivo: venda de jogador. Entretanto, o Atlético tem um diferencial. O salto de R$ 40 milhões em suas receitas é fantástico para o porte que tem o clube. E isto se deve ao contrato com a Kyocera", conta Somoggi. Em 2004, a Arena da Baixada tinha gerado receitas de R$ 1,6 milhão. Já em 2005, após o clube ter firmado parceria com o patrocinador, as receitas do estádio pularam para R$ 13,3 milhões.
Nas receitas de patrocínio, os dois clubes de maior torcida lideram. O Corinthians foi o que clube que conquistou o maior montante: R$ 42,7 milhões. Com os contratos com a Samsung, o clube do Parque São Jorge aumentou em 234% sua receitas com patrocínio em relação a 2004.
Além disso, o Corinthians também se beneficiou do faturamento de bilheterias. Somente no Campeonato Brasileiro, em que se sagrou campeão, o Corinthians faturou com bilheteria R$ 7,2 milhões.
Já o vice brasileiro, Internacional, parece não ter se beneficiado tanto do sucesso de sua campanha no último Nacional. O clube registrou uma queda de 23,3% em suas receitas e caiu para a nono no ranking. "Isso se deve ao fato de que o Inter é muito dependente da venda de atletas para equilibrar as suas contas. Em 2004, o clube vendeu Nilmar e Daniel Carvalho e foi líder na transferência. Já neste ano não negociou muitos", concluiu Somoggi.

07 junho 2006

Futebol 4

Segundo o Goldman Sachs, o Brasil é o grande favorito da Copa do Mundo. Conforme um relatório divulgado, são de 12,4% as chances do Brasil. Inglaterra, França e Espanha seguem na ordem.

O mesmo relatório aponta também existir uma correlação inversa entre o Ranking da FIFA e o PIB per capita de cada país. Ou seja, os países com melhor ranking na FIFA são aqueles que possuem maior PIB per capita (correlação de -0,41).

O documento também utiliza dados dos bookmakers, onde o Brasil aparece com 11/4 nas apostas, seguido da Inglaterra (6/1), Argentina (7/1), Alemanha (7/1) e Itália (8/1).

Isso não quer dizer muita coisa pois na copa anterior o Goldman Sachs não apontava o Brasil como um dos favoritos. De qualquer forma, vale também o registro de qual será a seleção da Copa:

Buffon (Italia)
Cafu (Brasil)
Terry (Inglaterra)
Nesta (Italia)
Carlos (Brasil)
Beckham (Inglaterra)
Ronaldino (Brasil)
Ballack (Alemanha)
Henry (França)
Rooney (Inglaterra)
Ronaldo (Brasil)

Só o futuro dirá.