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21 junho 2006

Futebol 10

Do Jornal Valor Econômico de 21/06/06:


Opções de Brasil caem 17% desde a estréia

Por Adriana Cotias
Investidores dos quatro cantos do planeta não perdoaram a tímida atuação da seleção brasileira nos dois primeiros jogos da Copa do Mundo e as opções de Brasil campeão perderam mais de 17% da cotação que tinham às vésperas do início do campeonato. Ontem, eram negociadas com um intervalo de US$ 21,3 e US$ 21,8 para compra e venda, respectivamente, ante os US$ 26,2 e US$ 26,3 de 5 de junho, segundo o site Tradesports.com. O valor máximo pode chegar a US$ 100, o que representa a escala de probabilidade que vai até 100% para um time vencer o torneio.

Mesmo assim, o pelotão repleto de celebridades comandado por Carlos Alberto Parreira ainda se mantém no topo dos favoritos. A seleção da Argentina, por sua vez, foi a que mais se valorizou de lá para cá, refletindo a boa estréia na partida contra a Costa do Marfim e, principalmente, a goleada de 6 a 0 no embate com o time da Sérvia e Montenegro. As opções mais do que dobraram de valor e ontem eram negociadas a US$ 19,4 e US$ 19,8 para compra e venda, respectivamente, em comparação aos US$ 9,6 e US$ 9,8 do período que antecedeu o início do torneio mundial.

Com o atual nível de preços, a seleção argentina passou a ocupar a segunda posição entre as mais cotadas para erguer a tão almejada taça na final de 9 de julho, desbancando Alemanha e Inglaterra, que passaram ao terceiro e quarto postos - trocando também as posições entre si, já que a Inglaterra abriu o campeonato como a segunda favorita. A Espanha, que estreou bem, com quatro gols contra a Ucrânia e depois bateu a Tunísia por 3 a 1, teve valorização de 81%, cotada a US$ 9,4 e US$ 9,6, ante os US$ 5,2 e US$ 5,3 de 5 de junho.

Perdas significativas tiveram ainda os contratos sobre opções da Itália, com desvalorização de 10,8%, cotados a US$ 7,1 e US$ 7,4, e, os da França, com perda de quase 44%, negociados a US$ 3,6 e US$ 3,9, após dois empates, um contra a Suíça e outro em que teve a Coréia do Sul como rival. Já viraram pó e não dão mais jogo as seleções desclassificadas antes mesmo do fim da primeira fase do mundial: Costa do Marfim, Sérvia e Montenegro, Polônia, Irã e Togo.

Já nos bastidores do mercado local, quem vendeu opções de Brasil e comprou as da Argentina - a melhor arbitragem dada a distorção de preços - já embolsa lucros. Antes de o campeonato iniciar, a seleção brasileira era negociada nas mesas de operações nacionais num intervalo de R$ 31 e R$ 33 (para cada R$ 100), ante os R$ 12 e R$ 13 da Argentina. As opções da seleção argentina agora saem a R$ 19 e R$ 20. Já as de Brasil campeão ficam entre R$ 29 e R$ 30.

As transações com opções de Copa do Mundo replicam aquelas pactuadas entre dois investidores no mercado real, mas a diferença é que não há um ativo para entregar no final como ocorreria com opções sobre ações. Se, por exemplo, uma das partes paga R$ 30 pelo Brasil, ela terá direito a R$ 100 se a seleção for campeã, embolsando um lucro de R$ 70 por contrato. Caso contrário, a ponta "vendida" (que apostou na derrota) em Brasil ganha o prêmio de R$ 30 e o outro fica com as mãos abanando.

No Brasil, as apostas são informais, realizadas na base da confiança, e não há um mercado organizado ou legal que centralize cotações ou ordens de compra e venda. A possibilidade de inadimplência é grande, mas, em geral, os operadores levam a sério os compromissos assumidos porque continuarão negociando ativos entre si depois do fim do torneio. Após os pregões da Bovespa e da BM&F, eles negociam de tudo: de candidatos a vencer o Big Brother Brasil a eleições.

Nas bolsas de apostas internacionais, as transações são formais e há até a possibilidade de se pagar os prêmios usando cartões de crédito. A variedade de opções de Copa é grande e chega a detalhes como o número de gols de cada time nas partidas, o total em todo o torneio, candidatos a artilheiros e, no caso brasileiro, há até contratos que embutem a possibilidade de Ronaldo, o fenômeno, começar a partida contra o Japão jogando ou não. Por enquanto, as cotações apontam como hipótese mais provável que ele fique no banco de reservas quando soar o apito que dará início ao jogo contra a seleção capitaneada por Zico amanhã.

E pelo andar das apostas no site inglês Ladbrokes.com, Adriano é o mais bem cotado para ser o goleador brasileiro, seguido por Kaká, Fred e Ronaldinho. Ronaldo ocupa apenas a quinta posição entre os favoritos a balançar as redes para o Brasil. Na comparação com outros times para o posto de artilheiro da Copa, Adriano tem o quarto lugar, atrás do espanhol Fernando Torres, de Miroslav Klose, da Alemanha, e de David Villa, também da Espanha. A previsão é que a seleção brasileira faça mais de dez gols ao longo do campeonato.

20 junho 2006

Como utilizar uma figura

























Quando estamos produzindo qualquer material, um dos princípios fundamentais é ser claro com o leitor. Um exemplo interessante sobre como fazer e como não fazer pode ser encontrado no sítio Creating Passionate Users

O que a segunda figura diz? Sugestões: "cada ser humano não pode ter mais de dois cães sob seu controle"; ou "você pode ter um cachorro alemão, um Sheepdog, mas não um Spaniels".

No caso da figura, considerando que a resposta seja a primeira alternativa. Nesse caso, o que se deve fazer? O sítio propõe uma figura alternativa (a primeira mostrada aqui) e explica as razões da mudança:

=> Utilizar somente um tipo de cachorro. O melhor seria usar uma representação de um cachorro, sem preocupação com a raça. Nesse caso, diferença na imagem pode ser representada como uma informação significativa.

=> Incluir uma pessoa na figura, preferencialmente uma representação. O sítio coloca uma representação feminina, mas acho que a solução ainda assim não é adequada. Parece que está informando que "somente mulheres podem ter até dois cachorros", levando a pensar que para o sexo masculino isso não seria válido.

=> Fazer um "x" na figura onde existem três cachorros.

Como o risco de um país afeta a estrutura financeira

A empresas multinacionais adotam estratégias diferenciadas de acordo com o risco do país onde estão investindo. Segundo um trabalho divulgado por Desai, Foley e Hines Jr, denominado Capital Structure with Risky Foreign Investment, as empresas multinacionais administram sua estrutura de capital diante do risco do ambiente externo.

Os autores utilizaram mais de vinte mil observações para concluir que a estrutura financeira dessas empresas varia de acordo com o risco do país onde é feito o investimento. Isso é feito de duas formas. A primeira, através da redução do volume de recursos de capital próprio em ambientes mais arriscados. Nesse caso, as filiais são mais alavancadas (mais endividadas) do que a matriz.

Além disso, essas empresas também dividem as operações no estrangeiro com investidores locais. Entretanto particularmente tenho dúvidas se o uso de parceiros locais decorre da redução do risco ou se não seria uma forma de entrar no mercado.

Uma outra estratégia dessas empresas é utilizar a exportação para os países com risco como uma forma de reduzir a produção local, e consequentemente os investimentos.

O texto indica existir uma relação entre o risco do negócio e a estrutura de capital.

19 junho 2006

Auditoria do FMI e a crise da Argentina

Uma reportagem do Jornal do Comércio sobre a auditoria do FMI e a crise da Argentina.

Auditoria - Relatório aponta erros cometidos pelo FMI na Argentina

Da redação, com agências

Um estudo de um trio de especialistas independentes contratados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliou que o órgão manipulou e sonegou informações para proteger o próprio staff, esconder seus erros e acentuar a responsabilidade dos governantes da Argentina pelo colapso econômico ocorrido em 2001. O relatório divulgado na semana passada é mais uma sessão de análise da atuação do Fundo durante crise do país vizinho, que acabou levando a própria instituição para o divã. O FMI passa por uma crise sem precedentes em suas mais de seis décadas de existência, tanto financeira quanto de identidade.

O informe é uma espécie de "auditoria da auditoria" e põe em xeque os mecanismos internos do organismo multilateral. Os especialistas revisaram o trabalho da Oficina de Avaliação Independente OEI, na tradução do ingês) do FMI em dez países, incluindo a Argentina, para concluir que, no caso do país vizinho, o Fundo sonegou informações a seus auditores e os induziu a erros de análise.

"O staff manteve reservada informações do caso argentino. Não lhes informou (aos auditores da OEI) sobre as bases de um entendimento com Domingo Cavallo", diz o texto. Cavallo era então o ministro da Economia argentino, responsável pela política de conversibilidade (um dólar equivalente a um peso), arrastada até o fim de 2001.

Segundo o relatório, naquele ano houve discussões com Cavallo sobre a possibilidade de fazer mudanças estruturais na política econômica se as reservas chegassem a um nível muito baixo. Essas conversas não foram divulgadas suficientemente nem a própria OIE as apontou, segundo o informe.

O estudo é categórico ao dizer que o relatório da OEI sobre a crise argentina "acomodou" suas conclusões para proteger os diretores do FMI. "O rascunho sobre as razões que levaram ao colapso argentino se foca nos erros de análise por parte do staff e dos diretores do FMI: a versão final do parágrafo, porém, se centra nos erros de avaliação das autoridades argentinas", diz o grupo de especialistas liderado pela ex-diretora do FMI, Karin Lissakers. O governo argentino, que mantém tensa relação com o Fundo, não comentou o relatório, que ataca a gestão da "dama de ferro" Anne Krueger.

Para o presidente argentino, Néstor Kirchner, as receitas econômicas do FMI foram responsáveis pela crise argentina. Em janeiro deste ano, o país pagou toda sua dívida com o Fundo. Antes, Kirchner fez um duro discurso contra o órgão e pregou independência da política econômica do país.

O Fundo continua realizando missões de rotina no país. A última, na semana passada, elogiou a recuperação da economia argentina, mas deixou mais recomendações: afirmou que a inflação, a maior ameaça à economia que cresceu 8,6% no 1º trimestre, e as políticas do governo Kirchner para combatê-la "geram tensões que precisam ser resolvidas".

16 junho 2006

Não é notícia de Contabilidade Financeira


Eu sei. Não é notícia de Contabilidade Financeira. Mas não resisti pois trata da importância da informação que é evidenciada. É do sítio Terra:

Dono de carro roubado faz placa de "Frorianópolis"

Um veículo Toyota/Corolla preto roubado foi recuperado esta manhã por policiais rodoviários no km 439 da rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo. O carro trazia grafado em suas placas o número MHM 0058, com localidade "Frorianópolis", e não Florianópolis. O condutor do veículo foi preso.
A Polícia Rodoviária Federal descobriu, por meio da numeração do motor e do chassi, que as placas originais do veículo eram na verdade de São Bernardo do Campo (SP) e que o Toyota havia sido roubado em maio do ano passado.

O condutor confessou que comprou o carro, avaliado em R$ 50 mil, por R$ 5 mil, e o entregaria em um shopping em Florianópolis para uma pessoa desconhecida.

Ele foi preso e autuado em flagrante por uso de documento falso e receptação de carro roubado.

15 junho 2006

Futebol 9

A revista The Economist explica a razão pela qual a Copa do Mundo é melhor que as Olimpíadas:

"... A Copa do Mundo, ao contrário das Olimpíadas, é mais difícil de manipular para propósitos políticos (...)"

PAra a revista, as Olimpíadas tem sido uma medida acurada do poder político mundial. Os alemães nazistas ganharam as de 1936, os Estados Unidos e União Soviética disputaram o primeiro lugar durante a guerra fria e provavelmente os chineses tentarão ficar em primeiro lugar em 2008, em Beijing.

Para a revista, na copa do Mundo

"existe somente uma superpotência - Brasil. Os italianos e franceses (...) permanecem formidáveis competidores no campo do futebol"

Apesar do prestígio do jogo em termos mundiais, a revista observa que é muito difícil - senão impossível - um governo criar um time vencedor. Novamente a comparação com as Olimpíadas é desfavorável. A revista lembra dos robôs da Alemanha Oriental, dos ginastas romenos e dos nadadores chineses, programados pelo estado. No futebol um time necessita não somente de atletas mas também de criatividade e estilo, que não pode ser fabricado pelos planejadores do estado. Mesmo tomar drogas parece não ajudar muito no futebol.

Por essa razão a revista conclui que numa competição entre as Olimpíadas e a Copa do Mundo, esta leva o título de maior evento do esporte.

Proteção ao Minoritário

Reportagem do Valor Econômico de 14/06 sobre a necessidade de proteção ao minoritário:

Pouca proteção ao minoritário também reduz interesse


Um complicador para os mercados emergentes é que, em muitos, a lei oferece pouca proteção aos acionistas minoritários. Brechas em um contrato de dívida são fáceis de serem detectadas e policiadas, mas uma reivindicação de um acionista pode ser derrubada de uma hora para outra. O presidente do Conselho de Administração da Hyundai da Coréia do Sul, por exemplo, está sendo julgado sob acusação de ter desviado US$ 110 milhões de sua companhia.

Mas as coisas estão melhorando, segundo Simeon Djankov, do International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial (Bird). Em 28 de julho, uma nova lei de valores mobiliários entrará em vigor no México, endurecendo as penalidades. Os mercados de ações da Índia, certa vez descritos como um "ninho de cobras", se tornaram menos venenosos nos últimos anos, na medida em que a Comissão de Valores Mobiliários do país ficou mais agressiva. O Egito, sob comando de um ministro dos Investimentos durão, finalmente está aperfeiçoando as leis corporativas, algumas das quais vinham sendo deixadas de lado há 25 anos. Djankov teme que a onda de vendas indiscriminadas das últimas semanas possa desencorajar as reformas. Se é assim que os mercados recompensam seus esforços, por que eles deveriam se preocupar?

Se os investidores carecem de discernimento, também falta liquidez nos mercados. Os investidores institucionais americanos poderiam comprar quatro vezes todas as ações espalhadas pelos mercados emergentes. Na maior parte dessas bolsas de valores, diz o Bird, o volume de negócios é relativamente pequeno, girando menos de 40% do mercado em um ano, comparado a 250% na Nasdaq. Os negócios são muito mais intensos na Turquia, Tailândia e Índia, onde o giro supera 100%. No México, oito ações responderam por quase dois terços de todos os negócios em 2004.

Como resultado, a comoção nas bolsas nas últimas semanas pode não servir como uma medida confiável das perspectivas para cada uma dessas economias. É mais provável que elas sejam um simples sinal do peso do dinheiro que entra e sai de mercados que ainda são muito fracos para suportar esse fluxo confortavelmente. Isso torna o capital estrangeiro "irrelevante, na melhor das hipóteses, e extremamente perigoso, na pior", segundo um gestor de fundos.

Mas Michael Klein, presidente do IFC, está otimista. No curto prazo, as firmas de "private equity" podem apostar contra a manada. E, no longo prazo, à medida que o mundo rico envelhece, ele ficará ainda mais ansioso para dividir os frutos e as vantagens oferecidos pela mão-de-obra mais jovem do mundo em desenvolvimento.

13 junho 2006

Concentração bancária

Esse ano tive o prazer de ter um artigo aprovado no Congresso USP de Contabilidade em parceria com um ex-orientando (hoje mestre), Marcos Moraes. O artigo, e o tema da dissertação do Marcos, explora a questão da concentração bancária. O tema é atual e geralmente as medidas de concentração são através de dados da contabilidade financeira.

A reportagem a seguir, enviada pelo Marcos, mostra outro estudo conduzindo a conclusão pelo aumento da concentração bancária no País. É da Folha de 22 de maio.

Cresce a concentração bancária no país
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FABRICIO VIEIRA
da Folha de S.Paulo

O número de bancos que operam no país não pára de cair. Na outra ponta, nunca houve tantos correntistas. Com os últimos dois negócios realizados no setor bancário -- com a compra do BankBoston pelo Itaú e do Pactual pelo UBS --, analistas voltaram a discutir mais acaloradamente o tema da concentração bancária.

Dados do Banco Central mostram que o total de bancos recuou de 191 em 2000 para 159 no fim de 2005 -- o que representa queda de 16,8%. Foram considerados os bancos múltiplos e comerciais.

Enquanto a variedade de instituições bancárias oferecidas ao público caiu ano a ano, o número de contas correntes deu um salto considerável, como reflexo da chamada bancarização -- ou seja, mais pessoas têm hoje acesso a serviços bancários. Em 2000, eram 63,7 milhões de contas correntes. No ano passado, essa cifra já havia alcançado 95,1 milhões (crescimento de 49%).

"Nos últimos dez anos tem havido um processo de encolhimento na quantidade de bancos, o que sem dúvida representa maior concentração. No longo prazo, se esse processo continuar no ritmo atual, poderemos começar a nos deparar com seus potenciais efeitos negativos", afirma Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).

Carminatti explica que sempre é arriscado um setor da economia ficar nas mãos de poucos. As opções de escolha se restringem, e os efeitos positivos da concorrência -- como preços menores e benefícios para atrair clientes- acabam por desaparecer. "Quando a concorrência encolhe muito, o cliente é quem acaba por sofrer mais. Para o consumidor, a concentração bancária é sempre perigosa", afirma.

Procurada pela Folha, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) preferiu não se manifestar sobre o tema.

Mais postos

Ao menos a queda no número de bancos não se refletiu em encolhimento na rede de atendimento. Pelo contrário. Considerando o total de dependências -- agências, postos de atendimento e eletrônicos, entre outros-, a cifra chegou no fim de 2005 a 123,9 mil unidades. Em 2000 eram 54,1 mil.

Bruno Pereira, analista de bancos do UBS, diz que "há tendência clara de consolidação no setor, como mostram os números. O setor público tem diminuído sua participação no setor bancário nos últimos anos". Ele afirma que "alguma consolidação não é negativa". "Não vejo pontos negativos nesse processo até o momento. Ainda há competição nesse mercado."

Em tese, a venda de um banco para outro poderia ser um complicador para uma empresa. Se ela tivesse um crédito pré-aprovado em um banco e este fosse vendido para outro, poderia acontecer de perder essa operação, vendo-a ser recusada pelo novo proprietário da instituição. Ao menos, com a farta oferta de crédito que existe no país atualmente, é difícil que algo assim ocorra.

Analistas afirmam que, se o atual processo de diminuição no número de bancos fosse decorrência de uma quebradeira no setor, o movimento seria preocupante. Mas, se for resultado de compras e fusões sadias, o atual cenário representa menos perigo e menos riscos.

Estudo de Caso: Caixa da Enel

Eis uma reportagem interessante publicada no Wall Street Journal de hoje:

Energética italiana Enel vê-se com poucas opções para seu gordo caixa
June 13, 2006 4:05 a.m.

Por Stacy Meichtry
The Wall Street Journal

ROMA — A Enel SpA, segunda maior empresa de serviços públicos da Europa em valor de mercado, tem um problema: está com sobra de dinheiro e não consegue achar onde gastá-lo.

Desde que foi privatizada, em 1999, a empresa tem tirado o máximo de sua posição dominante no lucrativo mercado italiano, gerando receitas de 35 bilhões de euros (US$ 44,2 bilhões) no ano passado e elevando seu valor de mercado para 42 bilhões de euros.

A empresa juntou um caixa de 15 bilhões de euros. Mas não pode investir muito mais em casa porque está limitada por regulamentações. Por outro lado, seus investimentos no exterior representam 5% da receita total. "Nós queremos e devemos crescer no exterior", disse o presidente do conselho da empresa, Piero Gnudi, no mês passado.

Isso não é fácil. No começo do ano, a Enel pôs os olhos na empresa francesa de serviços públicos Suez SA, que controla a belga Electrabel. Mas enquanto a Enel trabalhava numa possível oferta, o governo francês entrou na questão e, agindo em nome do patriotismo econômico, fundiu a Suez com a estatal Gaz de France SA.
[enel]

A Enel não desistiu de fazer oferta pela Suez até a fusão francesa ser completada no fim deste ano. A italiana ainda mantém uma linha de crédito de 50 bilhões de euros que separou para usar numa grande aquisição, e consultores da companhia ainda trabalham no projeto.

Mas a opção preferida da empresa seria negociar com a Suez para comprar alguns ativos da Electrabel, dizem pessoas familiarizadas com a questão. É possível que isso seja discutido hoje, em Paris, entre o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, e representantes do governo francês.

A Electrabel interessa à Enel porque permitiria que a empresa italiana começasse uma rede européia de usinas de geração e redes de distribuição de energia elétrica. Isso lhe daria a combinação ideal de ativos de energia nuclear, a carvão e renovável.

"A Enel tem de ter uma presença européia" para continuar competitiva, disse recentemente ao Wall Street Journal o diretor-presidente Fulvio Conti. "Escala é um fator muito importante para se poder negociar com outros países que têm matérias-primas e fontes de energia como petróleo, gás e urânio." A Enel não quis comentar sobre uma possível oferta pela Suez ou compra de ativos da Electrabel.

Se a Enel não conseguir botar as mãos na Suez ou na Electrabel, não há muitos outros ativos na Europa que ela poderia comprar. Outros continentes não são uma opção porque a força de uma empresa de energia vem da criação de redes ao redor de seu mercado doméstico. "Não vejo oportunidades para grandes aquisições", diz Pia Saraceno, um economista do centro de estudos REF, de Milão, especializado em questões de energia.

O dilema da Enel é um indício dos problemas cada vez maiores que as empresas de energia da Europa enfrentam ao tentar se expandir para além das fronteiras nacionais.

Muitas dessas empresas — como a E.On AG da Alemanha, energética européia com maior valor de mercado, e a Gaz de France — são ex-estatais que agora têm grandes reservas de caixa e aspiram a tornar-se forças regionais.

Mas quando buscam ativos em outros países, as energéticas esbarram em protecionismo.


1) O que significa contabilmente o "caixa" da Enel?
2) Como é possível dizer que a empresa possui um "caixa gordo"?
3) Cite um motivo para a empresa ter um "caixa gordo"?

Futebol 8

Mais sobre Futebol. Segundo Edmans, Garcia e Norli, do MIT, da Tuck e da Norwegian School, existe uma relação entre o sentimento em esportes e o retorno das ações.

Num artigo a ser publicado no prestigioso Journal of Finance, denominado Sports Sentiments and Stock Returns esses pesquisadores mostram uma extensa pesquisa realizada em 39 países do mundo sobre os resultados do futebol (soccer).

Os autores utilizaram os maiores torneios de futebol, em especial as eliminatórias da Copa do Mundo e a própria Copa do Mundo, e fizeram uma associação com o retorno do mercado acionário do dia seguinte ao jogo.

Além do futebol, os autores também utilizaram outros esportes (basquete, criquete, rugby e hockey no gelo), mas os efeitos encontrados são menores.

O estudo dos autores é parte de uma literatura recente que investiga como os preços dos ativos são influenciados por viés no comportamento. Pesquisa nessa área tem-se expandido nos últimos anos, como é o caso do estudo de Hirshleifer sobre o impacto do dia de sol no preço das ações. Anteriormente pesquisadores já tinham demonstrado um aumento no número de ataques cardíacos perto do jogo Inglaterra e Argentina pela Copa do Mundo. Outra pesquisa mostrou um aumento no número de suícidios entre os canadenses após a eliminação na Copa Stanley.

Utilizando uma amostra de mais de 2.600 observações, entre 1974 até 2004, os autores confirmaram uma ligação entre o comportamento do investidor e o resultado de eventos esportivos. O uso do futebol é justificável uma vez que é um evento que acontece em intervalos regulares e que afeta um grande número de países. Desse modo, as conclusões do trabalho são importantes para entender o efeito dos "sentimentos" nos preços.

Como era previsivel, os efeitos são maiores onde o futebol é mais importante. Ou seja, Brasil, Argentina, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha.

São diversos resultados para comprovar a hipótese da pesquisa. Mas para se ter uma idéia, em 138 jogos de eliminatórias, as derrotas implicam num recuo do mercado em 0,384% em média.

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11 junho 2006

Futebol 7

Os efeitos econômicos da Copa na imprensa. Agora o Estado de S Paulo de 11/06/06, p. E6:

Europa já ganhou o Mundial, nos negócios

Estudo prevê lucros nos países do Velho Mundo na Copa e prejuízo para os sul-americanos

Antero Greco, Eduardo Maluf e Jamil Chade

Nenhum país da América do Sul vencerá a Copa do Mundo da Alemanha. Isso é o que prevê, pelo menos em termos econômicos, um estudo do Centro de Pesquisas e de Negócios, uma das principais entidades de estudos da Inglaterra.

Segundo a pesquisa, o Mundial deverá render US$ 24 bilhões para os países que participam do evento. Desse total, porém, US$ 20 bilhões ficarão na Europa, enquanto as economias sul-americanas terão um prejuízo de US$ 550 milhões.

Segundo o modelo usado para calcular ganhos e prejuízos, a Copa traz dois efeitos a uma economia. De um lado, impulsiona o comércio e o consumo. De outro, afeta a produtividade das empresas diante da falta e das pausas dos trabalhadores durante as partidas.

A Alemanha seria a campeã econômica da Copa, com uma injeção de US$ 13,6 bilhões ao seu mercado que há anos não cresce. A Câmara de Comércio Alemã estima que 60 mil empregos foram criados para o evento e que o turismo terá um impulso nos próximos anos, por conta da imagem que o país transmitirá a todo o mundo.

Neste mês, cerca de 1 milhão de pessoas devem visitar a Alemanha e deixarão na economia local quase US$ 1 bilhão. A vice-campeã seria o Reino Unido, com benefícios de US$ 2,2 bilhões, ante uma injeção de US$ 1,2 bilhão na economia italiana, que também não é das mais aquecidas ultimamente.

Já os perdedores - Argentina, Brasil, Paraguai e Equador - sofrerão com os horários dos jogos. Isso porque 17 das 24 partidas envolvendo times da região ocorrerão durante o horário de trabalho, afetando a produtividade dos funcionários e dando prejuízo às economias.

O local onde a Copa é realizada é determinante para o cálculo dos ganhos econômicos de um Mundial. Na Copa de 2002, na Ásia, 15 países europeus sofreram perdas de US$ 11 bilhões, por causa das faltas dos trabalhadores. Pela diferença de fuso horário, os jogos foram transmitidos durante o horário comercial a Europa.

PRODUTIVIDADE

A consultoria Business Link, da Inglaterra, contraria o estudo e o senso comum, e aponta que a Copa não vai reduzir a produtividade dos trabalhadores, mas incrementá-la. O entusiasmo com uma vitória, segundo a pesquisa, pode levar a um melhor ambiente de trabalho.

Das mais de 2.300 companhias entrevistadas na Europa, 60% disseram que vão mudar os horários de trabalho para que os funcionários possam acompanhar a Copa. E só uma minoria acredita que isso terá influencia negativa sobre o resultado anual das companhias.

Diante da disparidade nos resultados das duas pesquisas, ambas de entidades respeitadas, tudo indica que a previsão de economistas e analistas de futebol sobre quem sairá campeão só poderá ser conferida após o Mundial.

10 junho 2006

Futebol 6

Reportagem da Folha de S. Paulo de 09/06/06

Começa o maior espetáculo de marketing

Copa do Mundo tem a maior audiência global e ainda o nacionalismo para torná-la oportunidade única para propaganda

Fifa arrecadou US$ 800 mi só com patrocinadores oficiais; empresas investem bilhões de dólares para promover produtos globalmente

MARK LANDLER
DO "NEW YORK TIMES"
Com uma audiência televisiva de mais de 5 bilhões de espectadores prevista para as próximas quatro semanas (boa parte, admita-se, composta por telespectadores repetidos) e uma expectativa de audiência de cerca de 300 milhões para a final, a Copa do Mundo é um colosso do marketing, eclipsando com facilidade o Super Bowl e as Olimpíadas.
"A Copa do Mundo conta com duas vantagens de que nenhum outro esporte desfruta", disse Shawn Bradley, vice-presidente de operações do Bonham Group, empresa de marketing esportivo dos EUA. "É o esporte mais popular do mundo, e não podemos esquecer do fator nacionalismo." Em países cujas seleções disputarão o torneio, disse Bradley, é comum que 95% das TVs estejam sintonizadas nos jogos das equipes nacionais. Os legisladores de Portugal recentemente votaram por adiar um debate parlamentar importante, quando descobriram que coincidiria com a partida de sua seleção contra o México.
Poucos eventos de qualquer espécie geram essa espécie de paixão. E isso constitui uma oportunidade única de promover produtos de massa, como calçados esportivos (Adidas), cartões de crédito (MasterCard), cerveja (Anheuser-Busch), fast food (McDonald's) ou internet (Yahoo).
Essas empresas estão investindo mais de US$ 1 bilhão em campanhas de publicidade e marketing vinculadas à Copa do Mundo de 2006. A Fifa arrecadou mais de US$ 800 milhões junto a 21 parceiros e fornecedores oficiais.
Diferentemente das Olimpíadas, que continuam a proibir a publicidade em estádios, como homenagem às raízes amadoras do evento, a Copa do Mundo é escancaradamente comercial. A Anheuser-Busch escolhe o "jogador da partida" depois de cada jogo. A McDonald's patrocina as crianças de entre 6 e 12 anos que acompanham os jogadores quando os times entram em campo.
"As Olimpíadas são uma mina de ouro, mas é preciso efetivamente minerar o metal", disse Nick Marrone, ex-dirigente olímpico canadense e diretor de marketing esportivo mundial na McDonald's. "Com a Copa do Mundo, o ouro pode ser encontrado um pouco mais perto da superfície."
Os EUA continuam teimosamente imunes à febre da Copa do Mundo, embora as empresas patrocinadoras insistam em que a popularidade do futebol vem crescendo a cada ano no país. Os hispânicos, eles apontam, são torcedores fiéis, especialmente dada a presença do México na competição e o favoritismo do Brasil.
Para os sete patrocinadores americanos, porém, a escassez de interesse nos EUA não é muito importante, dadas as audiências que eles serão capazes de atingir virtualmente em todos os demais países. Formam um grupo de corporações multinacionais, que auferem boa parte de seu faturamento fora de seus mercados de origem.
O Super Bowl, final do campeonato de futebol americano e principal evento de massa do esporte nos EUA, atraiu 95 milhões de telespectadores em todo o mundo, em fevereiro, de acordo com a Initiative Media, agência londrina de compra de mídia. Isso representa menos de um terço da audiência potencial da final da Copa.
"O que é atraente quanto à Copa do Mundo é o fato de que ela seja tão popular fora dos EUA", disse Tony Ponturo, vice-presidente mundial de marketing esportivo e mídia na Anheuser-Busch. "Nós vendemos a marca Budweiser em cerca de 70 países. E o evento realmente nos ajuda a promover a marca fora dos EUA." A Anheuser-Bush é um dos 15 parceiros oficiais da Copa do Mundo de 2006, na companhia de Coca-Cola, Gillette, da linha aérea Emirates, Hyundai, Fuji e algumas outras companhias.
Cada um dos parceiros está pagando entre US$ 45 milhões e US$ 50 milhões por direitos exclusivos pelo uso do nome "Copa do Mundo" em suas categorias de produto e por placas de publicidade nos estádios.
A próxima Copa do Mundo, na África do Sul, será ainda mais dispendiosa, com cotas de patrocínio estimadas em US$ 100 milhões, de acordo com especialistas em marketing esportivo. E mesmo assim a demanda é forte. A MasterCard, um patrocinador tradicional do evento, foi recentemente sobrepujada pela Visa, que assinou um acordo com a Fifa para as Copas de 2010 e 2014.
A MasterCard abriu processo contra a Fifa em Nova York, alegando que o acordo assinado entre a organização e a Visa violava o contrato vigente entre com a MasterCard. O McDonald's encara a Copa principalmente como oportunidade de promover sua marca fora dos EUA. A empresa está alardeando pesadamente o seu patrocínio da Copa em seus restaurantes na Europa e na América Latina, e também nas unidades americanas que atendem a uma clientela hispânica.

Marketing de emboscada
A atmosfera comercial da Copa também oferece muitas oportunidades às empresas que não são patrocinadoras oficiais. O marketing de emboscada, nome aplicado a esse tipo de tática, está florescendo de novo neste ano, ainda que os patrocinadores oficiais digam que a Fifa vem se esforçando ao máximo para impedi-lo.
Em fevereiro, a Fifa conseguiu um mandado judicial que impedia o Burger King de usar imagens do troféu da Copa do Mundo em sua publicidade em Israel. A empresa também foi forçada a suspender um concurso que prometia passagens para assistir à Copa na Alemanha, privilégio reservado aos patrocinadores.
Mas alguns dos recursos de marketing utilizados são impossíveis de reprimir. A linha aérea alemã Lufthansa pintou os narizes de seus aviões de branco e preto, como se fossem bolas de futebol, embora a Emirates, de Dubai, seja a patrocinadora oficial do transporte aéreo no certame.
Já a maior parte das federações nacionais de futebol têm patrocinadores próprios, e isso dá a essas empresas extra-oficiais uma chance de vincular suas marcas ao torneio. A Nike, por exemplo, patrocina oito das equipes no torneio, entre as quais Brasil e Estados Unidos. A Adidas, a despeito de seu status oficial, só patrocina seis, entre as quais a Alemanha.

Tradução de PAULO MIGLIACCI