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Mostrando postagens classificadas por data para a consulta doutorado. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
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07 abril 2024

Mito das Dez Mil horas

Gladwell popularizou a ideia de que seriam necessárias dez mil horas para produzir um especialista em qualquer área. O autor utilizou um artigo de 1993, de Anders Ericsson, que estudou músicos que alcançavam ou não fama mundial. A simplificação de Gladwell era bastante atraente, assim como todos os temas do autor. No entanto, era uma enorme simplificação.

Na verdade, Anders falava no número de horas, mas insistia na prática deliberada. O pesquisador esclarece isso de forma bem consistente no livro "Direto ao Ponto", que faz uma boa leitura. Mas encontrei um artigo de Scott Young onde se questiona o fato de Anders ter subestimado a habilidade ou o talento. Naturalmente, isso varia conforme o campo de conhecimento. Mas Young chama a atenção para o fato de que o processo é comparativo. Um cantor de elevada qualidade significa uma comparação com milhões de outros cantores. Aqui, a exigência de um grande número de horas dedicadas à prática deliberada pode ser necessária. Mas pessoas que tocam Glass Armonica, um instrumento que usa uma série de tigelas de vidro de tamanhos graduados onde o músico toca as bordas umedecidas com os dedos para produzir sons, são raras e exigirão menos devoção para ser um artista de elite.


A discussão é importante e afeta o campo do ensino. Considere um programa de doutorado. Uma das habilidades importantes para a futura doutora é a capacidade de fazer pesquisa e escrever relatórios. Assim, a prática focada na pesquisa pode ser uma exigência interessante para a aluna de pós-graduação, mais do que fazer provas sem consulta ou decorar deduções matemáticas.

Leia: Young, Scott. The 10,000-Hour Rule is a Myth. 23 de jan 2024.  Imagem criada pelo ChatGPT

05 abril 2024

Faleceu Michael Jensen


Michael Jensen, um dos mais influentes economistas dos últimos anos, faleceu no dia 3 de abril. Ele ficou muito conhecido por suas contribuições para a teoria das finanças corporativas. Talvez sua principal obra seja um artigo escrito em conjunto com William Meckling, denominado "Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure" em 1976. 

No texto, os pesquisadores exploram os conflitos de agência. A base é que os interesses do principal podem não ser o mesmo do agente. Em uma empresa, um exemplo seria o interesse do gestor - o agente aqui - que não coincide com o interesse do acionista, o principal nessa relação. Há diversas maneiras de resolver o problema de agência, como a remuneração. 

Jensen era americano e fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago, tendo por orientador Merton Miller. Ele foi fundados do Social Science Research Network ou SSRN. Particularmente, nunca consegui entender as razões do não reconhecido do Nobel de Economia. 

17 fevereiro 2024

Um método estranho de imputação de dados no Excel

Este é um daqueles casos em que você não acredita no que está lendo. Um estudo com 27 países, já publicado, empregou um método pouco usual para lidar com os dados faltantes. O primeiro autor é um professor de uma universidade da Suécia, e o caso foi descoberto por um aluno de doutorado.

O estudante estava trabalhando com algo semelhante e sabia que existiam informações ausentes. Na linguagem mais técnica, seriam os "missing". Há diversas formas de tratar essa situação: você pode substituir pela média, fazer uma correlação entre duas variáveis, entre outras maneiras. Um livro básico, como "Análise Multivariada", de Hair et al., tem uma explicação sobre isso. Alguns softwares ajudam no tratamento desse problema, como o SPSS.

O que o estudante descobriu não se encaixava em nenhum dos casos. Ele ficou curioso, pois o artigo afirmava que tinha tratado os dados como se não existissem lacunas, e por isso entrou em contato com Almas Heshmati (foto), o professor de economia da Universidade Jönköping, na Suécia, perguntando como ele lidou com os dados ausentes.


O professor respondeu que tinha usado a função de preenchimento automático do Excel para corrigir os dados. Mas se o espaço tivesse sido preenchido com números negativos, Heshmati usava o último valor positivo. Detalhe, do Excel. (Nada contra a planilha) O processo de imputação é comum em pesquisa, mas o uso do preenchimento automático do Excel como técnica é algo inusitado.

Mas o aluno descobriu também que, em vários casos, quando não havia observações para o preenchimento, os autores usaram os dados de um país adjacente. E com esse método, o professor preencheu milhares de células do seu banco de dados. A proporção de intervenção dos pesquisadores é maior que 10% do total.

16 janeiro 2024

Assédio na pesquisa

Uma pesquisa da Academia Brasileira de Ciências mostra que 47% das pesquisadoras já sofreram assédio sexual no Brasil. Quando o gênero é masculino, a percentagem é de 10%. A pesquisa foi realizada em 2022 e incluiu tanto cientistas no início quanto no meio de carreira. A amostra foi de quatro mil cientistas com doutorado, entre 2006 e 2021. A pesquisa também destacou os desafios de cientistas em início de carreira, com dificuldade em obter financiamento e falta de tempo para pesquisa devido a responsabilidades administrativas.


O governo brasileiro está em processo de ratificação da Convenção sobre Violência e Assédio no Trabalho, visando proteger as mulheres no ambiente de trabalho, incluindo nas universidades. 

06 dezembro 2023

Mentiras profissionais

 Sobre mentiras no currículo:


O estudo da ResumeLab entrevistou quase 2 mil profissionais e descobriu que os trabalhadores mentem muito durante todo o processo seletivo de emprego. A quantidade de mentiras proferidas aumenta nas cartas de apresentação e atinge o pico durante as entrevistas.

As respostas de quando questionados “Você já mentiu em um currículo? foram:

70% dos trabalhadores confessam que mentiram nos seus currículos e 37% deles admitem que mentem com frequência. Outros 33% disseram que já mentiram uma ou duas vezes, 15% que não, mas já pensou em mentir e 5% que não e nunca pensou em mentir;

76% dos trabalhadores admitem ter mentido nas suas cartas de apresentação, com 50% deles admitindo mentir frequentemente;

80% dos trabalhadores afirmam ter mentido durante uma entrevista de emprego, com 44% daqueles que admitem mentir frequentemente.

Aqueles com mestrado ou doutorado relataram maior incidência de mentiras em seus currículos – 58% mentem com frequência e 27% mentiram uma ou duas vezes – em comparação com pessoas sem diploma universitário – 29% mentem com frequência e 42% mentiram uma ou duas vezes. Já aqueles com graduação completa foram os que menos disseram mentir: 30% mentem frequentemente e 33% mentiram uma ou duas vezes.

As principais mentiras contadas nos currículos estavam relacionadas a tornar os cargos anteriores e as responsabilidades já assumidas me mais atrativas (52%), exagerar o número de pessoas que já liderou (45%) e aumentar o tempo de emprego em determinada organização (37%). Confira outras principais mentiras que os candidatos a emprego contam em seus currículos:

atribuir a si responsabilidades que não tiveram na realidade – 52%;

fazer o cargo anterior ficar mais atrativo do que realmente é – 52%;

inventar quantas pessoas eu realmente liderei – 45%;

aumentar o tempo que estive empregado em uma organização – 37%;

mentir o nome da empresa que me contratou – 31%;

inflar métricas ou resultados que alcançou – 17%;

mentir sobre minhas habilidades – 15%;

inventar prêmios ou elogios que recebeu – 13%;

fingir ter feito trabalho voluntário – 11%;

colocar lugares onde não realmente se formou academicamente – 11%;

inventar uma experiência para preencher uma lacuna de tempo desempregado – 9%;

inventar ter conhecimentos técnicos, como saber mexer em ferramentas como Trello, Adobe, pacote Office, etc. – 5%.

Fonte: Forbes. Foto: Político cassado por mentir no seu currículo. 

01 novembro 2023

Importância dos influenciadores


A maioria das pessoas confia na opinião de seu círculo social ao tomar decisões de compra. Segundo os dados de Insights do Consumidor da Statista, muitos também depositam confiança em pessoas amigáveis que compartilham suas vidas conosco nas mídias sociais, sentindo-se como nossos conhecidos, ou seja, os influenciadores.

No cenário atual, os influenciadores exercem um poder considerável sobre as decisões de compra no Brasil, China e Índia, de acordo com uma pesquisa que representa as populações online desses países. Embora o domínio dos influenciadores tenha crescido significativamente no Brasil e na Índia, houve uma diminuição recente na China, embora ainda se mantenha em patamares elevados.

Em muitos outros países, a tendência de seguir a liderança dos influenciadores ao tomar decisões de compra tem ganhado força. Dinamarca e Japão, por exemplo, eram nações que anteriormente davam pouca importância aos influenciadores, embora o número de seus seguidores também tenha aumentado.

Dentre os países europeus, os italianos se destacaram por sua influência significativa, com 24% dos entrevistados afirmando que realizaram uma compra motivada por uma celebridade ou influenciador que anunciou o produto em 2023.

(Adaptado daqui). Para aqueles que ainda não perceberam a relação entre influenciador e contabilidade, a tese de doutorado da Lyss Paula de Oliveira pode ajudar.

01 outubro 2023

Beleza e notas durante a pandemia

O economista por trás de um estudo controverso que mostrou que estudantes universitárias atraentes obtiveram notas mais baixas após a mudança para aulas online durante a pandemia foi absolvido de má conduta em pesquisa, de acordo com um relatório de sua antiga instituição.


No entanto, o pesquisador, Adrian Mehic, não saiu ileso: mesmo que o trabalho tenha seguido à risca a lei, ainda pode ter tido "consequências antiéticas", escreveu Erik Renström, vice-reitor da Universidade de Lund, na Suécia, no relatório de 8 de junho.


No estudo, um júri composto principalmente de estudantes do último ano do ensino médio avaliou a aparência de estudantes universitários com base em fotos tiradas de suas contas de mídia social. As avaliações foram então vinculadas a outros dados publicamente disponíveis sobre os alunos, incluindo o desempenho acadêmico. As descobertas, publicadas na revista Economics Letters em agosto de 2022, repercutiram globalmente.


No entanto, os estudantes não deram consentimento para a pesquisa, nem foram informados sobre ela. A revelação desencadeou "uma onda de críticas na universidade", de acordo com a mídia local.

Alguns participantes do estudo expressaram choque e desconforto por terem tido sua atratividade avaliada sem o conhecimento deles. Outros reclamaram que os dados brutos não foram devidamente anonimizados, alegando que conseguiram se identificar em apenas três minutos, dando-lhes acesso às suas classificações de beleza.


Em outubro, Mehic, na época um estudante de doutorado na Universidade de Lund, foi denunciado ao comitê de ética da escola por "suspeita de desvio das boas práticas de pesquisa", de acordo com o relatório. As acusações se concentraram em como Mehic coletou e manipulou dados pessoais e se ele deveria ter obtido aprovação ética para seu estudo e consentimento dos participantes.

A Universidade de Lund pediu à Junta de Recurso de Revisão de Ética Nacional que decidisse se o estudo teria necessidade de aprovação ética rigorosa. Em fevereiro, a junta concluiu que os dados pessoais coletados no estudo não eram de natureza tão sensível a ponto de requerer tal revisão.

A escola também solicitou que uma especialista externa, Jane Reichel, da Universidade de Estocolmo, revisasse o caso. Ela concluiu em março que o estudo não havia desviado das boas práticas de pesquisa, estava de acordo com as regras de proteção de dados europeias e havia seguido os padrões éticos da revista que publicou as descobertas.

O relatório concluiu que Adrian Mehic e seus supervisores não eram culpados de desviar das boas práticas de pesquisa. No entanto, o documento também criticou o pesquisador, observando que ele poderia facilmente ter notificado os participantes de que estava conduzindo o estudo.

Além disso, o relatório observou que o estudo poderia ser considerado uma invasão da integridade pessoal, mesmo se estivesse dentro da lei. Essa execução do estudo merece críticas por esse motivo.

Quanto a essa questão, Mehic afirmou que há muitas pesquisas que podem deixar as pessoas desconfortáveis, como estudos com animais. Ele também mencionou que os países escandinavos permitem que os pesquisadores usem dados administrativos detalhados sobre renda, dívida, saúde mental, uso de medicamentos, entre outros. No final do dia, é uma questão de equilíbrio entre a integridade e o progresso científico.

Anders Ahlberg, diretor de estudos de pós-graduação na faculdade de engenharia da Universidade de Lund, foi uma das pessoas que denunciaram o estudo ao comitê de ética da escola. Ele afirmou que achou interessante que o estudo tenha sido absolvido e criticado ao mesmo tempo. Ele também mencionou a importância de se considerar o equilíbrio entre o que é formalmente considerado antiético e o que pode ser permitido, mas ainda considerado inadequado.

Ele acrescentou que achou "estranho" que fotos e classificações armazenadas da atratividade dos participantes do estudo não tenham sido consideradas informações pessoais sensíveis ou prejudiciais psicologicamente. Ele argumentou que os alunos deveriam ter sido solicitados a dar consentimento antes do estudo.

De acordo com um comunicado de imprensa de 14 de junho da Universidade de Lund, a Junta Nacional Sueca de Avaliação de Má Conduta na Pesquisa também absolveu o estudo de "todas as acusações anteriores". Um especialista da junta concluiu que não foram cometidos erros em relação ao consentimento, divulgação de informações, respeito pelos sujeitos da pesquisa e manipulação de dados. Isso significa que o estudo de Adrian Mehic foi realizado de maneira completamente correta.

Adaptado daqui

Eu vi a publicação no periódico e não há divulgação de fotografias. O relatório de investigação pareceu um texto que tenta responder a uma indagação, mas não encontra elementos para recriminar o pesquisador. Talvez o único problema tenha sido o fato de não ter deixado claro que se trata de uma pesquisa acadêmica. 

O efeito beleza tem sido objeto de estudo há tempos. Ignorar a sua existência parece muito estranho. 

11 setembro 2023

Palestra: Convite especial

 

Na próxima terça-feira, dia 12, a minha universidade terá a honra de receber a ilustre Ilse Beuren para uma palestra enriquecedora. Todos os detalhes sobre o evento estão disponíveis na imagem acima e podem servir como guia para aqueles que desejarem participar deste momento especial.

Gostaria de ressaltar a extraordinária importância que Ilse Beuren representa para a contabilidade brasileira. Além de ser autora prolífica de inúmeros artigos em diversas áreas do conhecimento, Ilse também é uma mentora excepcional. Talvez não exista outra autora - independentemente do gênero - em nosso país que seja tão amplamente citada em nossa área de atuação. Ela é, sem dúvida, a maior influência na pesquisa contábil brasileira desde a época de Iudícibus-Martins. Ilse Beuren ocupa um lugar de destaque, seja pela sua incansável dedicação ao trabalho ou pelo comprometimento absoluto.

Eu tive o privilégio de conhecer Ilse como colega durante o meu doutorado, e desde então, sua luz e suas notáveis qualidades eram evidentes. Trabalhei ao seu lado na comissão de especialistas do MEC e sempre me impressionei com sua competência inigualável. Parece que, quando nos esforçamos ao máximo para alcançar uma conquista, dedicando inúmeras horas de nossa vida em busca de nossos objetivos, percebemos que Ilse já havia alcançado essas conquistas há muito tempo, e com uma qualidade inigualável.

05 janeiro 2023

As pesquisas inovadoras estão diminuíndo?

O número de artigos de pesquisa científica e tecnológica publicados disparou nas últimas décadas - mas a "disruptividade" desses artigos caiu, de acordo com uma análise de quão radicalmente os artigos se afastam da literatura anterior.

Dados de milhões de manuscritos mostram que, em comparação com meados do século XX, as pesquisas feitas nos anos 2000 foram muito mais propensas a empurrar a ciência para frente do que a desviá-la em uma nova direção e tornar o trabalho anterior obsoleto. A análise das patentes de 1976 a 2010 mostrou a mesma tendência.

"Os dados sugerem que algo está mudando", diz Russell Funk, sociólogo da Universidade de Minnesota em Minneapolis e co-autor da análise, que foi publicada em 4 de janeiro na Natureza "Você não tem a mesma intensidade de descobertas inovadoras que já teve".

Os autores argumentaram que se um estudo fosse altamente perturbador, as pesquisas subseqüentes teriam menos probabilidade de citar as referências do estudo e, em vez disso, citar o próprio estudo. Usando os dados de citação de 45 milhões de manuscritos e 3,9 milhões de patentes, os pesquisadores calcularam uma medida de disruptividade, chamada "índice CD", na qual os valores variavam de -1 para o trabalho menos disruptivo a 1 para o mais disruptivo.

O índice médio de CD caiu mais de 90% entre 1945 e 2010 para manuscritos de pesquisa (ver 'A ciência disruptiva diminui'), e mais de 78% entre 1980 e 2010 para patentes. A disruptividade diminuiu em todos os campos de pesquisa e tipos de patentes analisados, mesmo quando se levou em conta as diferenças potenciais em fatores como as práticas de citação.


Os autores também analisaram os verbos mais comuns usados nos manuscritos e descobriram que, enquanto as pesquisas dos anos 50 eram mais propensas a usar palavras que evocavam criação ou descoberta, tais como, "produzir" ou "determinar", o que era feito nos anos 2010 era mais provável que se referisse ao progresso incremental, usando termos como "melhorar" ou "melhorar".

"É ótimo ver este [fenômeno] documentado de maneira tão meticulosa", diz Dashun Wang, um cientista social computacional da Northwestern University em Evanston, Illinois, que estuda a disruptividade na ciência. "Eles olham para isto de 100 maneiras diferentes, e eu acho isto muito convincente no geral".

A perturbação não é inerentemente boa, e a ciência incremental não é necessariamente má, diz Wang. A primeira observação direta de ondas gravitacionais, por exemplo, foi tanto revolucionária quanto o produto da ciência incremental, diz ele.

O ideal é uma mistura saudável de pesquisa incremental e disruptiva, diz John Walsh, especialista em política científica e tecnológica do Georgia Institute of Technology em Atlanta. "Em um mundo em que nos preocupamos com a validade das descobertas, talvez seja bom ter mais replicação e reprodução", diz ele.

Por que isto?

É importante entender as razões para as mudanças drásticas, diz Walsh. A tendência pode resultar, em parte, de mudanças no empreendimento científico. Por exemplo, agora há muito mais pesquisadores do que nos anos 40, o que criou um ambiente mais competitivo e elevou o risco de publicar pesquisas e buscar patentes. Isso, por sua vez, mudou os incentivos para a forma como os pesquisadores realizam seu trabalho. Grandes equipes de pesquisa, por exemplo, tornaram-se mais comuns, e Wang e seus colegas descobriram é mais provável que grandes equipamentos de produção de ciência incremental do que perturbadora.

Encontrar uma explicação para o declínio não vai ser fácil, diz Walsh. Embora a proporção de pesquisas perturbadoras tenha caído significativamente entre 1945 e 2010, o número de estudos altamente perturbadores tem permanecido praticamente o mesmo. A taxa de declínio também é intrigante: Os índices de CD caíram acentuadamente de 1945 para 1970, depois mais gradualmente do final dos anos 90 para 2010. "Qualquer que seja a explicação que você tenha para a queda da disruptividade, você também precisa fazer sentido para nivelá-la" nos anos 2000, diz ele.

(Traduzido via Deepl)

Fonte> Nature

Quando estava lendo este artigo lembrei de uma "definição" antiga do que seria uma "tese". Existia uma percepção que uma tese de doutorado deveria ser necessariamente disruptiva, revolucionária, inovadora e marcante. Pelo visto, não é mais. 

19 dezembro 2022

Avaliação Capes dos Programas de Pós

Saiu hoje o resultado da avaliação quadrienal da pós-graduação brasileira. Os programas que possuem no seu nome o termo "contabilidade" ou derivados apresentaram o seguinte resultado:

Nota 6 

Fucape - Administração e Ciências Contábeis - ME/DO

Universidade de São Paulo - Controladoria e Contabilidade - ME/DO 

Nota 5

FURB - Ciências Contábeis - ME/DO

Universidade Federal de Minas Gerais - Controladoria e Contabilidade - ME/DO 

Universidade Federal da Paraíba - João Pessoa - Ciências Contábeis - ME/DO 

Universidade Federal do Paraná - Contabilidade - ME/DO 

Universidade Federal do Rio de Janeiro - Ciências Contábeis - ME/DO 

Universidade Federal de Santa Catarina - Contabilidade - ME/DO

Universidade de Brasília - Ciências Contábeis - ME/DO

Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto - Controladoria e Contabilidade - ME/DO 

Fucape - Ciências Contábeis e Administração - MP/DP 

UP Mackenzie - Controladoria e Finanças Empresariais - MP/DP

Nota 4

Universidade Federal da Bahia - Contabilidade - ME

Universidade Federal do Ceará - Administração e Controladoria - ME/DO 

Universidade Federal do Espírito Santo - Ciências Contábeis - ME/DO

Universidade Federal de Goiás - Ciências Contábeis - ME

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Controladoria e Contabilidade - ME

Universidade Federal Rural de Pernambuco - Controladoria - ME 

Universidade Federal de Uberlândia - Ciências Contábeis - ME/DO

Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Contabilidade - ME 

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Ciências Contábeis - ME/DO 

Universidade  Comunitária da Região de Chapecó - Ciências Contabeis e Administração  - ME 

Universidade de São Paulo - Controladoria e Contabilidade - ME/DO 

Faculdade Fipecafi - Controladoria e Finanças - MP 

Fucape RJ - Ciências Contábeis e Administração - MP 

PUC São Paulo - Ciências Contabeis, Controladoria e Finanças - MP 

Universidade Federal do Ceará - Administração e Controladoria - MP 

Nota 3

Fucape-MA - Contabilidade e Administração - ME

Furg - Contabilidade

Universidade Estadual de Maringá - Ciências Contábeis - ME

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Ciências Contábeis - ME

Universidade Federal de Pernambuco - Ciências Contábeis - ME/DO 

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Ciências Contábeis - ME 

Universidade Federal de Santa Maria - Ciências Contábeis - ME 

Centro Universitário Fecap - CiÊncias Contábeis - ME

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Ciências Contábeis - ME

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Controladoria e Gestão Pública - MP

Nota 2

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Ciências Contábeis - ME

Meus comentários:

1. Os programas de mestrados com nota 4 serão sérios candidatos a pleitear a abertura de curso de doutorado. Ou seja, a médio prazo poderemos ter mais 9 cursos de doutorado no país. Muito? Provavelmente sim. 

2. Os programas de mestrado/doutorado com nota 3 estão sob observação. Isto inclui o programa da UFPE.

3. A grande surpresa foi a confirmação de um boato de que a USP da capital tinha levado uma nota baixa. O programa da USP, que já foi 6, teve uma nota 4 agora na avaliação. O interessante é que a USP Ribeirão, sua co-irmã, recebeu nota 5. Mas a USP entrou com recurso e a nota final ficou 6. 

4. A UERJ de Contábeis, que já contribuiu substancialmente para evolução da área no Brasil, recebeu nota 2. A crise financeira deve ter sido um dos motivos para esta nota reduzida. Mas com o recurso, o curso subiu para 3

5. No total, 35 programas de pós na nossa área. Nada mal. 

6. Na primeira postagem cometi dois enganos. Grato Sandro pela correção. 

25 outubro 2022

Concentração nos conselhos editoriais dos periódicos


Para pensar:

Um dos principais problemas que preocupa um grande número de economistas é a distribuição desigual de recursos econômicos, riqueza e poder (veja as entradas anteriores Rodríguez 2022, Ferreira 2018; Domènech e Sánchez-Cuenca 2022) e, como diz o ditado, "na casa do ferreiro, espeto de pau". Mais de duas décadas atrás Hodgson e Rothman (1999), diante da crescente importância das revistas Top 5 em Economia, se perguntavam se a organização da disciplina econômica era dominada por um pequeno grupo de departamentos. Seus dados, baseados em 30 publicações de revistas consolidadas em economia em 1995, mostraram que membros de conselhos editoriais vieram predominantemente de universidades americanas: 60% de todos os editores obtiveram doutorado em nove instituições americanas, enquanto 40% trabalhavam em 12 instituições americanas. Com uma concentração tão alta de poder em um pequeno grupo de instituições, sua principal preocupação estava na ameaça de que essa situação representasse "o potencial de inovação e mudança": com um pequeno conjunto de instituições dominando a profissão, a variedade de idéias e abordagens necessárias para inovação e mudança estaria em risco.

Fonte: aqui. Foto: Artur Shamsutdinov

Este é um tema que poderia ser pesquisado para o Brasil, nos nossos periódicos de contabilidade. (Quem fizer, a partir desta dica, ou saiba que já foi feito, peço encaminhar a pesquisa para o blog). 

Será que temos esta concentração? Bom, a história da pós-graduação no Brasil pode ajudar um pouco. O tronco de todos os programas brasileiros foi a pós da Universidade de São Paulo. Isto pode forçar a concentração. Mas vários programas usaram de profissionais formados em outras áreas (administração, educação, métodos quantitativos e outros) para formar o seu corpo docente. Isto pode, por outro lado, dar uma pluralidade maior na nossa área, no Brasil. 

24 outubro 2022

Formação docente em contabilidade e programas de doutorado

No presente trabalho problematizamos a formação docente em Contabilidade no Brasil, por meio da análise dos componentes curriculares voltados para o ensino e pesquisa dos cursos de doutorado da área de Ciências Contábeis. A coleta de dados foi realizada na plataforma Sucupira, considerando as seguintes informações da coleta CAPES de 2019 dos 15 cursos de doutorado existentes no país: objetivos do doutorado; linhas de pesquisa; projetos de pesquisa; disciplinas (formação para o ensino); disciplinas (formação para a pesquisa); e estágio docência. No tocante à formação voltada para o ensino, o cenário atual é preocupante, pois apresenta poucas mudanças em relação aos estudos anteriores, demonstrando poucas iniciativas para a formação pedagógica inicial, fazendo com que os docentes se autorresponsabilizem por seu desenvolvimento didático-pedagógico. Acerca da formação para a pesquisa, os resultados indicam uma formação pautada por disciplinas de caráter metodológico e métodos quantitativos, demonstrando uma formação voltada para o mainstream. A partir desses resultados, esperamos contribuir para a reflexão sobre a (re)formação docente nos programas de doutorado em Contabilidade no Brasil, em um momento de expansão e consolidação da área.

(Re)Formação docente em Contabilidade: uma reflexão sobre os programas de doutorado no Brasil - Camilla Soueneta Nascimento Ngangaa, Silvia Pereira de Castro Casa Nova e João Paulo Resende de Lima - RCO 

Como a análise foi a partir das informações inseridas para a Capes, pode existir uma distância entre o informado e o praticado pelos programas. Esta distância pode ser para mais - os programas informam que fazem formação docente, quando isto não ocorre - ou para menos - o que é informado é menos do que é praticado. Em muito casos, os alunos já são docentes e o programa de doutorado é a possibilidade de melhorar seu status como docente ou aumentar a remuneração. Assim, os programas de doutorado no Brasil talvez não sejam a porta de entrada para docência na área contábil neste momento. Isto é interessante, já que em outras áreas, mais consolidadas, dificilmente um docente chega neste estágio sem ter concluído o doutorado. 

Nas considerações finais do trabalho, os autores consideram a possibilidade de expandir a pesquisa através de entrevistas com os alunos. Talvez seja interessante. 

Eis os programas analisados:



18 outubro 2022

Processo seletivo USP

 

É com satisfação que informamos que já estão abertas as inscrições para o Processo Seletivo do Mestrado e Doutorado em Controladoria e Contabilidade da FEAUSP - Ingresso 2023.

 

O Processo Seletivo consiste em (1) realização de teste de conhecimentos gerais, (2) realização de exame de proficiência no idioma inglês, (3) preenchimento da ficha de inscrição e, para os candidatos ao doutorado, (4) projeto de pesquisa para a tese. Os aprovados na primeira etapa serão convocados para entrevistas e, para os candidatos ao doutorado, arguição do projeto de pesquisa.

 

As linhas de pesquisa são:

- Controladoria e Contabilidade Gerencial

- Contabilidade para Usuários Externos

- Finanças e Atuária

- Educação e Pesquisa em Contabilidade

 

As inscrições para o Teste ANPAD vão até 08/11/2022 (https://testeanpad.org.br/

 

As inscrições para o Processo Seletivo do PPGCC vão até 02/01/2023

 

Favor consultar os editais para informações detalhadas em: http://fea.usp.br/contabilidade/pos-graduacao/processo-seletivo/

29 agosto 2022

Blogs acadêmicos morreram?


O leitor deve ter percebido que nos últimos meses as postagens do Contabilidade Financeira ficaram inconstantes. E este texto, publicado no LSE questiona se os blogs acadêmicos morreram. Eis alguns trechos (usando DeepL para a versão em português)

O blog pessoal era uma característica definidora da Internet inicial e ainda existem vários blogs acadêmicos de alto nível, mantidos estudiosamente por acadêmicos solitários. No entanto, para pesquisadores novos em blogs acadêmicos, ainda vale a pena criar seu próprio blog? Refletindo sobre sua própria trajetória de blog Mark Carrigan, sugere que talvez seja hora de colocar o blog acadêmico pessoal para descansar.

O que é blog acadêmico? (...) estabeleci um. blog pessoal, que mantive nos últimos 12 anos, abrangendo 4593 postagens em uma ampla gama de tópicos, desde comentários rápidos sobre links e vídeos até ensaios longos. Olhando para trás em minhas postagens, posso ver meu doutorado e duas monografias tomando forma, mas também vejo uma série de outros tópicos, que nunca se tornam parte do meu trabalho "formal".

O blog foi o meio central pelo qual desenvolvi uma perspectiva distinta como pesquisador, fornecendo-me um convite aberto para refletir sobre o que tenho lido, analisado, organizado e ensinado. Faço isso há tanto tempo que acho difícil imaginar o que gostaria de ser um acadêmico sem um blog. Eu sempre me identifiquei Descrição de Cory Doctorow de seu blog como, um cérebro externo que dá sua “direção e recompensa de pastoreio de conhecimento”, permitindo que ele arquive as coisas que despertam sua curiosidade enquanto vagueia pela Internet. Blogar nesse estilo tem sido frequentemente comparado a um livro comum em que os leitores registram material relacionado a um tópico comum.

Se você blogar dessa maneira, sua capacidade de recuperar postagens se tornará tão importante quanto compartilhá-las. Costumo me recuperar de postagens em conversas com colaboradores, lembrando fragmentos relacionados ao que estamos fazendo, mesmo que eu não tenha percebido nenhuma conexão no momento da redação. (...)

De fato, blogs acadêmicos pessoais parecem estar em declínio.

Algumas das razões para isso são óbvias. É percebida como uma atividade demorada (corretamente, se você espera atrair um público), o que o torna indesejável dentro de uma academia definida por pressa crônica. Existe um medo compreensível de que compartilhar tão abertamente possa facilitar o roubo de idéias e deixar alguém aberto a abusos pessoais. A maneira pela qual as mídias sociais consumiram atenção on-line também significa que ficou mais difícil criar um público apenas através de blogs. (...) Isso contribui para um senso de blogs pessoais como relíquias antiquadas de uma era anterior da web, lutando para ganhar atenção no cenário da mídia cacofônica de 2022. O rápido crescimento de plataformas de boletins como TinyLetter e Substack ilustra ainda como ainda há uma audiência para conteúdo escrito de forma longa, mas o modelo mais antigo de blogs a seguir está sendo espremido pela entrega privatizada por e-mail.

O fato de eu estar escrevendo isso na forma de uma postagem no blog é, no entanto, o melhor indicador de que os blogs acadêmicos estão longe de estar mortos.

Beneficiou minha carreira de blogueiro, tanto em termos de apoio à produtividade da minha pesquisa, como alguém que raramente foi empregado como pesquisador, quanto no sentido mais nebuloso de aumentar minha visibilidade entre as comunidades acadêmicas. (...)

O grifo é meu e expressa muito o que penso. O Blog tem funcionado desta forma. Também tem ajudado a escrever e aperfeiçoar minhas possíveis explicações em sala de aula. E, finalmente, é parte do processo de publicar e pesquisar. Muitas pesquisas (quase todas) que sugeri para meus orientandos vieram de postagens. Creio que eles não perceberam isto. 

Viva o Contabilidade Financeira !!! Vida longa para os blogueiros !!!

05 agosto 2022

Fim do Doutorado da Unisinos

 A Unisinos comunicou que estaria fechando diversos cursos de doutorado da entidade

Entre os 26 PPGs oferecidos pela Unisinos, foram extintos os de história, arquitetura, biologia, ciências contábeis, ciências sociais, comunicação, economia, enfermagem, engenharia mecânica, geologia, linguística aplicada e psicologia. Os alunos que já faziam esses cursos manterão as bolsas de estudos e continuarão com as atividades acadêmicas até defenderem suas teses ou dissertações. O Conselho Superior Universitário (Consun) ainda precisa ratificar os fechamentos, o que deve acontecer no final de agosto, quando o órgão deliberativo da Unisinos se reunirá.

Os professores poderão ser absorvidos nos programas que persistirem. No caso de contábeis, há a possibilidade de alguns deles continuarem suas atividades na pós de administração. 

É uma notícia triste, já que o curso de mestrado da entidade foi o sexto do país e seu doutorado também era bastante tradicional. Sem dúvida nenhuma, o programa da Unisinos, em Ciências Contábeis, é um dos mais tradicionais. Ernani Ott foi um dos fundadores da Anpcont. 

Mas há uma impressão generalizada de uma crise de demanda na pós de contabilidade. Vários programas postergaram novas entradas. Diversas são as explicações para esta crise: questão econômica, redução de bolsas, demanda reprimida já atendida, falta de perspectiva de contratação após o curso e surgimento de áreas emergentes mais atrativas. 

01 agosto 2022

Relevância do TCU nos anos recentes


Esta pesquisa teve por objetivo investigar a transformação no Tribunal de Contas da União (TCU), um órgão que, após mais de 100 anos exercendo um papel secundário, tornou-se determinante para as políticas públicas no século XXI. A pergunta central da pesquisa é: que mecanismos causais explicam os processos de mudança institucional observados no TCU – e, subsidiariamente, no subsistema da política de controle – entre 1988 e 2018? (...) A principal fonte de dados empíricos foram os Relatórios e Pareceres Prévios do TCU sobre as contas do presidente da República, documentos virtualmente inexplorados em trabalhos de ciência política. Foram usados também os Relatórios Anuais de Atividades do TCU. Juntos, esses documentos somam mais de 14 mil páginas. (...) Os resultados do primeiro e do segundo ensaios apontaram indícios relevantes da incidência dos mecanismos de aprendizado político, consequência funcional, dependência da trajetória e feedback positivo. Quanto a mudanças graduais, houve fortes indícios da presença dos mecanismos de conversão e de sobreposição. Outros dois fenômenos detectados foram isomorfismo e viés de accountability. y. Já o terceiro ensaio sugere que os determinantes da explosão de auditoria propostos na teoria estavam presentes no Brasil, porém em formas, tempos e intensidades bem diferentes do Reino Unido e dos Estados Unidos. Sugere ainda um importante ponto de divergência: a centralidade da corrupção, no caso brasileiro, para o processo de expansão do controle – algo que não está presente na teoria. Mais do que investigar os tipos de mecanismos por trás da transformação no TCU e no subsistema da política de controle, o estudo da mudança institucional empreendido nesta tese ajuda a desvendar processos políticos (de disputa por poder e autoridade) envolvendo agentes (individuais e coletivos) e estruturas. (...)
 

Da tese de doutorado de Patrícia Vieira . Acho que os aspectos mais relevantes estão no final do trabalho: 

Com o passar do tempo há indícios de aumento das capacidades do TCU, que passou a produzir Relatórios e Pareceres Prévios mais críticos no período FHC (1995-2002). O Tribunal começou a trazer recomendações de outras fiscalizações para dentro dos Relatórios e Pareceres Prévios, e a levar recomendações desses últimos para outras fiscalizações, entrelaçando seus instrumentos e tornando todos mais impositivos. Além e fazer recomendações com status de determinações, o TCU começou a fazer recomendações em auditorias de desempenho, e a ampliar seu rol de controlados – tudo isso viabilizado por mecanismos graduais de conversão (nos primeiros dois casos) e sobreposição (no terceiro caso).

Na era Lula (2003-2010), o TCU demonstrou maior nível de maturidade e organização na apreciação das contas residenciais, com posturas ainda mais críticas. Aumentou o entrelaçamento entre os instrumentos do Tribunal. Foram ampliadas a quantidade de auditorias operacionais, e as áreas de políticas públicas cobertas. Foi nesse período que o TCU deu início à edição de instruções normativas que ampliavam o alcance de seu controle, via mecanismo de sobreposição. Os mecanismos graduais do estágio anterior se mantiveram funcionando.

No governo Dilma (2011-2016), os mecanismos de mudança gradual presentes nos estágios anteriores também se fizeram presentes. Naquele momento, o TCU parecia sentir-se à vontade na ativação desses mecanismos. E também apresentava muito mais desenvoltura nos seus Relatórios e Pareceres Prévios sobre as contas presidenciais. Ao rejeitar as contas de 2014, mostrou destreza no uso de regras, práticas e narrativas para justificar sua decisão.

No governo Temer (2017-2018), a despeito de aparentemente continuarem incidindo todos os mecanismos de conversão e de sobreposição dos estágios anteriores, o TCU sofreu alguns revezes. Viu falhar (em parte) sua tentativa de criar atribuições para si mesmo nos acordos de leniência por sobreposição. A CGU acionou o STF contra a instrução normativa que o Tribunal havia sobreposto à Lei Anticorrupção para ter mais poderes sobre os acordos de leniência. E o Supremo concedeu liminar favorável à AGU.

Esse episódio realça algumas das disfunções do subsistema, como a competição exagerada entre controladores e, principalmente, a sobreposição de atribuições entre os órgãos de controle. Para completar, apesar da oposição do TCU, foi aprovada a nova LINDB, que retirou algumas das amarras impostas pelos controladores à atuação dos gestores públicos.

O mais interessante vem agora:

Ao longo de todos os cinco estágios descritos acima, o TCU difundiu narrativas sobre a importância do combate à corrupção e do bom uso dos recursos públicos, colocando o Tribunal como a organização capaz de garantir ambos (e o Poder Executivo muitas vezes como, no mínimo, incompetente). Com o passar do tempo, essas narrativas foram complementadas por outras sobre a eficiência do próprio TCU, e sobre seu papel no aprimoramento das políticas públicas, inclusive em processos decisórios. Tais narrativas apareceram nos documentos analisados não só em forma de texto, mas também de imagens que destacam a organização, a eficiência e o status do TCU e de seus membros.

Uma das maiores curiosidades do primeiro ensaio foi mostrar o TCU se comportou tanto como agente oportunista quanto como agente subversivo

29 junho 2022

Artur Avila , o gênio brasileiro

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A conquista de uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês), em 1995, chamou a atenção dos pesquisadores do IMPA, que convidaram o então estudante a cursar algumas disciplinas de mestrado, como a aula de introdução à topologia de Elon Lages Lima, ex-diretor e pesquisador emérito do instituto. Apesar de discreto, o desempenho do aluno nas aulas mostrou que ele poderia ir além. Em 1996, Artur conciliou o último ano do ensino médio com o mestrado no IMPA, antes mesmo de iniciar a graduação na área.

Apesar de muito jovem, conta que não se sentiu intimidado de circular no ambiente que reunia grandes cânones da pesquisa matemática brasileira. “Já tinha contato com muitos professores que eram ligados à olimpíada, como o Gugu (Carlos Gustavo Moreira). Conversava muito com o Elon, que tinha uma preocupação enorme com a transmissão e educação matemática. Ele tinha muita paciência comigo e me chamava para conversar por bastante tempo, estabelecendo um contato individualizado que aproveitei bastante neste momento.”

A partir dali, o carioca viveu uma trajetória-relâmpago nos estudos. Em 2001, aos 21 anos, terminou o doutorado, também no IMPA, e, de quebra, a graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante o doutorado na área de sistemas dinâmicos, orientado por Wellington de Melo, colaborou com autores como Mikhail Lyubich, vencedor do Prêmio Jeffery–Williams de 2010, e o francês Jean-Christophe Yoccoz (1957-2016), medalha Fields e pesquisador honorário do IMPA.

[...]

O ápice deste reconhecimento veio com a conquista da medalha Fields, entregue a Artur durante o Congresso Internacional de Matemáticos (ICM, na sigla em inglês) de 2014, em Seul, na Coreia do Sul. Mais prestigiosa distinção da área, a medalha é comparada ao “Nobel da matemática”, e concedida de quatro em quatro anos para matemáticos de até 40 anos que contribuíram significativamente para o avanço da disciplina. Ele foi o primeiro (e ainda único) latino-americano a receber o prêmio. Uma vitória também do IMPA, já que nenhum outro ganhador recebeu seu doutorado numa instituição do Hemisfério Sul.







Fonte: aqui


10 junho 2022

Finanças Comportamentais

Em 2006 eu criei o blog Finanças Comportamentais. Minha primeira postagem, veja que ironia, era sobre o comportamento de um macaco. Foram mais de 600 postagens, sobre vários temas. De 2006 para cá a área, que também recebe a denominação de Economia Comportamental e Psicologia Econômica, popularizou alguns termos usados e ganhou prestígio na academia. Os periódicos mais tradicionais já aceitam pesquisas na área e a resistência aos experimentos reduziu.

Em 2020, eu tive a oportunidade de ministrar, pela primeira vez, esta disciplina. Naquele momento tive um grande desafio: como transmitir o conhecimento em uma área que não existia uma estrutura claramente delimitada. Uma olhada no verbete de uma enciclopédia ajuda a ter uma visão abrangente. Vejamos como está estruturado o verbete na Wikipedia, com o título de Behavioral economics (1).

Temos dez itens, complementados por mais três, com pessoas notáveis, um “veja também” e as referências usadas. O verbete começa com uma breve conceituação. O item inicial é sobre a história, o que inclui alguns economistas clássicos, entre eles Adam Smith. Há também a lembrança dos laureados com o Nobel: Herbert Simon (1978), Kahneman e Vernon Smith (2002), Shiller (2013) e Thaler (2017). A questão da racionalidade do ser humano é apresentada logo após. Destaque em separado para dois “ramos” da economia comportamental: teoria do prospecto e o empurrão (2). É interessante notar que um subtópico com as críticas ao empurrão consta do verbete, mas não há nada relativo ao prospecto (3). O quinto item do verbete apresenta alguns conceitos da área. Isto inclui contabilidade mental, manada, falácia do jogador e outros. A seguir é detalhado o campo de finanças comportamentais. O sétimo item do verbete trata de aplicações em animais, seguido de aspectos práticos da área. O verbete tem uma seção de críticas e encerra com áreas relacionadas.

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Outra forma de pensar as finanças comportamentais (4) é através dos seus métodos. Talvez isto seja pouco prático para dividir o campo de estudo. Os assuntos seriam então classificados em pesquisas oriundas de laboratórios, questionários e experimentos naturais.

Os experimentos naturais são aqueles que acontecem na vida prática, sem a necessidade da intervenção de um cientista. Um experimento natural famoso na área é a discussão polêmica sobre a existência ou não da “mão quente” no basquete. Alguns acreditam que quando um jogador começa a acertar seus lances, neste dia ele estaria com a mão quente. Algumas pesquisas chegaram à conclusão de que isto é uma lenda, mas há controvérsias.

As pesquisas oriundas de laboratorios é quando a pesquisa tenta reproduzir, de forma simplificada, algo que ocorre no mundo real. Quando Dan Ariely dividiu seus alunos e cobrou um trabalho escrito, com diferentes prazos para entrega, ele estava fazendo um experimento natural (5). O pesquisador descobriu que o prazo de entrega não afeta a qualidade do trabalho.

Os questionários são usados há tempos na área. Algumas das pesquisas mais conhecidas de Kahneman e Tversky, os dois maiores nomes da área comportamental, usaram este método (6).

Como o método é um meio, é realmente estranho pensar nas finanças comportamentais a partir desta classificação (7).

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Dois conceitos são relevantes em finanças comportamentais: heurística e viés. A heurística é um procedimento mental simples que procura responder questões que são difíceis. O viés é a distorção do julgamento, que irá ocorrer em certas situações, provocando efeitos sobre o julgamento das pessoas.

Quando tratamos das finanças comportamentais é comum olhar para as heurísticas e os vieses. O problema é que existe uma grande quantidade de heurísticas e vieses catalogados. Em alguns casos, há uma confusão sobre onde começa um e onde termina outro. Recentemente algumas das conclusões dos trabalhos pioneiros sobre aversão à perda foram questionadas, mas ainda há discussão sobre isto e talvez não seja capaz de abalar as estruturas da área (8).

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A relação de finanças comportamentais com a biologia evolucionária, a ciência cognitiva, a psicologia, a sociologia e até mesmo a medicina envolve a discussão da racionalidade humana. Esta “ausência” de racionalidade pode ser explorada pelas instituições financeiras, os influenciadores digitais, os líderes políticos, entre outros, com efeitos nas finanças pessoais.

Neste sentido, as finanças comportamentais têm apresentado uma contínua evolução. A biologia trouxe a questão da adaptação, estudada na hipótese dos mercados adaptativos, de Lo (9). A medicina permitiu o estudo do cérebro diante das situações envolvendo a área comportamental. A sociologia permite entender o papel do grupo nas decisões (10). As novas tecnologias podem afetar o comportamento das pessoas (11). Além da replicação das pesquisas anteriores (12).

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Uma consequência natural do sucesso das finanças comportamentais é que algumas das descobertas e avanços estão sendo questionados. Em outros casos, há uma junção entre os conhecimentos tradicionais com os conceitos da área comportamental. De qualquer forma, isto é bastante positivo, já que mostra a relevância da área para o entendimento do ser humano.

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(1) uso aqui a Wikipedia, que é a enciclopédia mais popular e na língua inglesa, onde os verbetes são mais elaborados. Vide https://en.wikipedia.org/wiki/Behavioral_economics

(2) usei o termo em língua portuguesa, apesar de existir resistência neste sentido.

(3) isto naturalmente não significa que inexista críticas à teoria do prospecto. Talvez sejam menos contundentes.

(4) Usarei o termo finanças comportamentais a partir de agora, embora boa parte dos comentários sejam válidos para Economia comportamental, Psicologia Econômica ou outro termo similar.

(5) Recentemente Ariely foi envolvido em polêmica relacionado com uma das suas pesquisas. Esta pesquisa não foi questionada e eu cito aqui.

(6) O método do questionário não é totalmente aceito, embora suas descobertas geralmente sejam confirmadas posteriormente pelos outros métodos.

(7) Embora tenha usado na prática. Quando um aluno indica que deseja fazer um trabalho na área comportamental, gosto de apresentar os três métodos possíveis e perguntar sua preferência. O experimento natural é realmente o mais difícil dos três, pois além da coleta dos dados ser uma tarefa complicada, é necessário pensar em uma situação que se enquadre. O questionário é o mais fácil e a reprodução de uma pesquisa realizada anteriormente, com ou sem variações, termina sendo uma forma fácil de trabalhar na área comportamental.

(8) Fico devendo a citação, uma vez que estou escrevendo este texto de memória.

(9) Veja a tese de doutorado: Souza, P. V. S. D. (2020). Mercados adaptativos, cultura, variáveis econômicas e contábeis.

(10) Vide, por exemplo, Bonfim, M. P., & Silva, C. A. T. (2021). COLLECTIVE DISHONESTY: AN ANALYSIS OF THE GROUP'S INFLUENCE IN THE DISHONESTY BEHAVIOR. Revista de Administração Unimep, 19(5), 194-219. A tese de Bonfim merece ser lembrada. Além disto cito a tese de Ivone Pereira sobre a questão fiscal: Pereira, I. V. (2017). Fatores que influenciam o comportamento desonesto das pessoas na prática da evasão fiscal no Brasil.

(11) Por exemplo, a dissertação de mestrado de Soares, J. M. M. V. (2019). Efeito Tela na tomada de decisão: uma abordagem experimental em contabilidade (Master's thesis, Brasil). E a tese de doutorado de Souza, I. G. D. M. (2018). Uso de mídias sociais para divulgação voluntária: sentimento na UGC do Facebook e geração de valor para empresas de capital aberto.

(12) a replicação de pesquisa é muito desvalorizada na ciência, mas pode ser relevante para solidificar as descobertas. Um exemplo é a famosa pesquisa sobre aversão à perda, reproduzida de diversas formas, em diferentes culturas.