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28 janeiro 2015

Comunicado da Petrobras

A empresa divulgou uma nota sobre os resultados, que transcrevo em itálico. Os comentários em letra normal


Petrobras divulga seus resultados consolidados não revisados pelos auditores independentes, expressos em milhões de reais, de acordo com o IAS 34 exceto pela existência de erros nos valores de determinados ativos imobilizados.

Em outras palavras, decidiu não fazer a amortização esperada por alguns. Além disto, não traz o relatório dos auditores independentes. Ao afirmar que os resultados estão "de acordo com o IAS 34, exceto" a empresa quis passar uma mensagem de maior adequação as normas internacionais. Certamente não irá conseguir.

A divulgação das demonstrações contábeis não revisadas pelos auditores independentes do terceiro trimestre de 2014 tem o objetivo de atender obrigações da Companhia (covenants) em contratos de dívida e facultar o acesso às informações aos seus públicos de interesse, cumprindo com o dever de informar ao mercado e agindo com transparência com relação aos eventos recentes que vieram a público no âmbito da “Operação Lava Jato”.

Novamente um parágrafo positivo, indicando que a empresa atendeu aos contratos de dívida e permitiu que as pessoas tivessem acesso às informações. Talvez a empresa evite os problemas com os contratos, ao publicar estes números, mas certamente a empresa não agiu com "transparência". Pelo contrário, na página principal da empresa neste momento (seis horas da manhã) não consta nada sobre este fato. Além disto, o comunicado somente saiu bem tarde da noite, impedindo ou dificultando que o mesmo fosse notícia nos jornais.


A Companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da “Operação Lava Jato”.

Aqui a empresa reconhece a necessidade de ajustes e indica que os atos foram realizados por fornecedores, políticos, funcionários e outras pessoas. E que seriam necessários ajustes, mas não diz que é amortização, já que o termo ajuste é mais neutro.


No entanto, em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta, completa e definitiva tais valores que foram capitalizados em seu ativo imobilizado, a Companhia considerou a adoção de abordagens alternativas para correção desses valores: i) uso de um percentual médio de pagamentos indevidos, citados em depoimentos; ii) avaliação a valor justo dos ativos cuja constituição se deu por meio de contratos de fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na “Operação Lava Jato”.

A Petrobras lançou mão da dificuldade de fazer a mensuração para justificar a ausência dos ajustes. Tecnicamente isto é bastante razoável e é a mesma justificativa que usamos para não fazer o lançamento do goodwill. A empresa informa que foram consideradas duas possibilidades: o pagamento indevidos citados em depoimentos e o valor justo. A primeira possibilidade seria ruim para a empresa, já que não tem notícia dos depoimentos na sua integra e o valor seria um pouco de especulação. Já o uso do valor justo dos ativos tecnicamente seria muito mais defensável. Seria feito um levantamento do valor dos empreendimentos onde claramente ocorreram as propinas já reveladas e indicado o tamanho do valor indevido. Tenho uma hipótese que a empresa (e o conselho diretor) tinha estes números, mas não usou. Afinal um valor foi noticiado na imprensa, número este que provavelmente foi calculado pela área técnica e vazado, como uma forma de pressionar o conselho a fazer a amortização. Então, qual a razão de não se ter usado? A empresa justifica logo a seguir:


Essas alternativas se mostraram inapropriadas para substituir a impraticável determinação do sobrepreço relacionado a esses pagamentos indevidos.

Justifica? Não existe justificativa nenhuma na frase. Afirma que seria impraticável determinar os pagamentos indevidos. A empresa tem razão, já que nunca saberá com precisão este valor. Mas seria preferível uma estimativa a nenhum valor, correto? Para finalizar, o comunicado diz que a "novela" ainda não acabou:

Com objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a Companhia está avaliando outras metodologias que atendam às exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC).


Rir é o melhor remédio


Fonte: Aqui

27 janeiro 2015

Encruzilhada

Estamos numa grande expectativa para as demonstrações contábeis da Petrobras do terceiro trimestre de 2014. No momento em que escrevo esta postagem a empresa não tinha divulgado seu resultado, apesar da expectativa do mercado. Enquanto se especula sobre o valor da baixa contábil, a empresa permanece em silêncio, não divulgando nenhuma informação no seu endereço.

A empresa tem duas alternativas bem claras. Ou faz uma amortização grande, como R$52 bilhões especulados por alguns e limpa o balanço ou então procura reduzir ao máximo o prejuízo. É bem verdade que pode procurar um meio termo, mas a opção será considerada ruim para todos.

As vantagens de fazer uma grande amortização já foram amplamente divulgadas. Em primeiro lugar, tenta restabelecer a confiança do mercado nas demonstrações. Sabemos que nos diversos mercados em que a empresa atua, e não estamos falando somente no mercado acionário, a confiança é um ativo de valor enorme. Em segundo lugar, isto poderá permitir que a PwC assine o balanço. A empresa de auditoria, depois de ter assinado o que não devia nos períodos anteriores, está sob ameaça de um processo e punição dos reguladores. A PwC não irá aceitar baixas reduzidas. O terceiro ponto é que uma grande amortização limpa o balanço e este tipo de atitude têm sido adotados quando se quer marcar uma nova gestão. A quarta vantagem é o fato dos gestores (presidência, diretoria, conselhos, contadores etc) possuem um nome para se resguardar. Uma demonstração com uma pequena amortização pode ser uma nódoa no currículo de alguns deles.

Mas a opção por uma pequena amortização também possui suas vantagens. É bom lembrar que os funcionários desejam participação no lucro e uma grande amortização significa uma perda de 5 a 10% da renda anual. Os acionistas ordinários também são interessados nos dividendos, que serão poucos, mas que podem compensar o preço baixo das ações. A segunda vantagem são os compromissos de alguns empréstimos que irão obrigar a empresa a arcar com certas obrigações diante do aumento no endividamento. Terceiro, é bom lembrar que as agências de ratings usam índices de endividamento nas suas classificações de risco e que uma elevada amortização irá comprometer as notas. (É bem verdade que as agências de ratings poderão rebaixar a nota exatamente por não fazer o ajuste) Em quarto lugar, uma grande amortização terá sérias implicações políticas; a partir do montante divulgado, surgirão especulações sobre o valor da propina que a empresa pagou. Em quinto lugar, sobre a amortização incidirão imposto de renda, que aumentará a saída de caixa nos próximos meses. Finalmente, os gestores foram indicações políticas; sua sustentação decorre de acordos partidários e eles sabem disto. Eles já estão comprometidos com os problemas que ocorreram na empresa nos últimos meses e a reputação já está manchada.

A Petrobras é antes de tudo governo. Será que o governo irá permitir que algo de ruim aconteça? Uma alternativa poderá ser uma estratégia mista, reconhecendo o prejuízo e ao mesmo tempo fazendo uma operação para salvar a empresa. Especulações...

Sigilo...

Na expectativa do resultado da Petrobras, o Globo traz um texto sobre o assunto. Num determinado ponto:

Um deles [analista de mercado], que pediu para não ser identificado, afirmou que a expectativa é de prejuízo significativo, caso os dados incluam a baixa contável e a redução do patrimônio líquido.

Qual a razão de um analista pedir para não ser identificado a partir desta informação? É uma opinião dele e um certo consenso do mercado. Estamos numa democracia. O que ele teme?

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

O poder do gráfico

As empresas, quando divulgam seus resultados, apresentam uma grande quantidade de informações gráficas e ilustrações. Os alunos, quando estão submetendo seus trabalhos de final de curso, gostam de mostrar suas habilidades numa planilha e transformam os dados em pizzas e barras. Numa apresentação de negócios, o gestor coloca uma linha de tendência para justificar seu ponto de vista. O investidor acha tão relevante a visualização do preço da ação que se construiu uma teoria de decisão de compra e venda baseado nos gráficos. Em todos estes casos temos uma mostra do poder do gráfico no convencimento das pessoas.

Dois pesquisadores da Cornell, uma universidade dos Estados Unidos, fizeram um experimento interessante. Tomaram uma informação e submeteram em dois grupos de pessoas. Num dos grupos, os pesquisadores apresentaram informação sobre um novo medicamento sob a forma de texto. Para outro grupo, além desta informação foi apresentado um gráfico, com duas barras, que não continha nenhuma nova informação além daquela existente no texto. Depois da leitura, perguntou-se para os participantes do grau de efetividade do novo remédio, numa escala de nove pontos. Os respondentes com a informação com o texto deram uma nota de 6,12 em média; já aqueles que receberam o texto e juntamente o gráfico pontuaram a efetividade em 6,83. A diferença de pontuação permite afirmar, estatisticamente, que o gráfico provocou um efeito na resposta.

Segundo os autores, a premissa é que os gráficos sinalizam a existência de uma base científica. Como o gráfico possui uma informação pode-se concluir que a informação teria base científica. Como a ciência é indicaria uma verdade, tem-se que a informação é verdadeira para os participantes.

Mas atenção: o estudo foi conduzido em estudantes, mas que não são necessariamente especialistas na área. Não se sabe se a apresentação gráfica para especialistas teria o mesmo efeito. Não custa tentar, não é? Assim, caso o leitor queira convencer uma plateia, pense, a partir de agora, em usar um gráfico.

TAL, Aner; WANSINK, Brian. Blinded with Science. Public Understanding of Science, 2014

Inovação

A Educação é o grande problema do Brasil na inovação:

26 janeiro 2015

Especulação...

O conselho de administração da Petrobras — presidido ainda pelo ex-Ministro da Fazenda, Guido Mantega — vai apreciar amanhã o balanço do terceiro trimestre da estatal, ainda sem a chancela dos auditores da empresa.

Pessoas próximas à Petrobras esperam que a empresa reconheça uma baixa contábil que pode chegar a 20 bilhões de dólares (cerca de 52 bilhões de reais), ou o equivalente a 42% do valor de mercado atual da empresa.

A baixa contábil, conhecida também como impairment ou writeoff, é um reconhecimento por parte de uma empresa da desvalorização dos ativos que ela carrega em seu balanço, seja por superfaturamento em contratos, estouros legítimos em seus orçamentos de obras, ou outros fatores.

Os investidores estão ansiosos para ver se a empresa publicará, também, uma nota explicativa discriminando quanto do writeoff se originou de propinas, bem como um compromisso da empresa de que vai tentar recuperar o valor na Justiça. É possível também que o writeoff seja influenciado por uma nova projeção de longo prazo para o preço do petróleo. Esta estimativa é discricionária, e não sabe se a Petrobras vai inclui-la no writeoff, e, se o fizer, se dará transparência às estimativas.

A Petrobras contratou a Deloitte para ajudá-la a decidir o tamanho e os parâmetros do writeoff. O auditor da Petrobras, que terá que concordar com tudo antes de dar um parecer sem ressalvas, é a PWC. Um parecer com ressalvas neste momento seria muito ruim para a Petrobras, e poderia levá-la a ter que alterar seu balanço de novo. Portanto, as perdas apresentadas agora deveriam ser suficientes para satisfazer o auditor.

Com o País inteiro olhando o balanço com lupa, seria interessante que a Petrobras mudasse sua rotina e publicasse os votos individuais dos conselheiros sobre o assunto. (Neste caso, o mercado vai prestar atenção nos votos dos conselheiros independentes, José Monforte e Mauro Cunha.) “Depois que tudo que já aconteceu, qualquer conselheiro vai ter muito medo de aprovar algo que ele não tenha convicção de que está redondinho,” diz um analista.


Geraldo Samor - Veja

Rir é o melhor remédio



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