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29 julho 2010

Nova BP

Depois de anunciar um prejuízo de US$ 17,15 bilhões no segundo trimestre, por causa do vazamento de petróleo no Golfo do México, a BP PLC iniciou ontem uma sacudida radical, com planos de vender cerca de US$ 30 bilhões em ativos, nomear um novo presidente executivo e alterar a forma como faz negócios.

As mudanças vão deixar a petrolífera britânica menor e mais concentrada na recuperação de sua combalida reputação, embora a BP pretenda continuar buscando oportunidades em águas profundas e planeje manter uma forte presença nos Estados Unidos, disseram executivos de alto escalão da petrolífera.

O diretor-presidente da BP, Tony Hayward, que será sucedido por Robert Dudley em 1o de outubro, disse que a planejada venda de ativos faria com que a empresa passasse de uma petrolífera de 4 milhões de barris diários para “talvez uma empresa de 3,5 milhões de barris por dia que tem ativos de melhor qualidade [e] um portfólio mais focado”. A empresa ainda assim produziria mais petróleo e gás natural que a rival anglo-holandesa Royal Dutch Shell PLC.

Alguns analistas disseram que as vendas são uma chance para a BP se reinventar. “Em um período de 18 meses, eles poderão acabar se tornando uma máquina mais afinada, enxuta e focada”, disse Jason Kenney, analista do setor de petróleo do ING Bank. Ele falou que a virada dá à empresa uma “chance única” de passar à frente dos concorrentes concentrando- se mais firmemente nos ativos de melhor desempenho do seu portfólio.

A BP informou que Hayward sairá do cargo em “acordo mútuo” com o conselho da empresa. Hayward disse que, ao liderar a resposta de emergência da BP ao desastre da Deepwater Horizon, tornou-se a face pública da empresa e, consequemente, foi “demonizado e vilificado” nos EUA. “O fato é que a BP não pode ir adiante como uma empresa nos EUA tendo-me como seu líder”, disse Hayward.

Em um comunicado, o presidente do conselho da BP, Carl-Henric Svanberg, disse que o derramamento de petróleo foi um divisor de águas para a petrolífera, e que ela será “uma empresa diferente no futuro, exigindo uma nova liderança, sustentada por uma governança robusta e um conselho muito engajado”.

“A estratégia de três pontas, de elevar as provisões, as vendas de ativos e um novo presidente, deve ser uma mistura poderosa na formação de uma base futura sólida”, disse Richard Hunter, diretor de ações britânicas da corretora Hargreaves Landsdown Stockbrokers.

A BP apresentou um prejuízo de US$ 17,15 bilhões no segundo trimestre, reflexo de uma despesa extraordinária de US$ 32,2 bilhões antes dos impostos para cobrir custos correntes e futuros com a contenção, limpeza, indenizações e multas relacionadas ao vazamento no Golfo do México. A BP espera receber um crédito fiscal de US$ 9,98 bilhões relativo à despesa extraordinária, o que reduziria o custo do vazamento a US$ 21,95 bilhões.

As sócias da BP no poço rompido de Macondo — Anadarko Corp. e Mitsui & Co., que têm uma participação combinada de 35% — recusaram-se até o momento a pagar a parte delas nos custos do vazamento, sob a alegação de que a BP foi negligente. A BP vai recorrer a todos os meios legais para fazer com que as empresa cubram a parte delas no vazamento, disse Hayward.

Embora a BP tenha lançado a perda no balanço agora, os pagamentos relacionados ao vazamento, especialmente ao fundo de compensação de US$ 20 bilhões, serão diluídos ao longo de vários anos.

Ainda assim, nem todos os analistas estão convencidos de que a BP cobriu integralmente os custos potenciais. O Credit Suisse informou que se o fluxo tiver sido maior do que a empresa estimou e ela for considerada negligente, a BP poderá se deparar com despesas extraordinárias adicionais de US$ 12,6 bilhões. “Na medida em que as várias investigações sobre as causas do acidente progridam, nós vemos riscos de que a BP precise fazer mais provisões nos próximos trimestres”, informou o Credit Suisse em nota de análise.

Para preparar seu balanço, a BP informou que vai vender US$ 30 bilhões — cerca um décimo da empresa, de acordo com algumas estimativas — em ativos de exploração e produção nos próximos 18 meses. A petrolífera também vai reduzir o atual nível de endividamento para algo entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões. A dívida líquida era de US$ 23 bilhões no fim de junho.

A BP já fechou um acordo para vender um pacote de ativos na América do Norte e Egito no valor de US$ 7 bilhões para a Apache Corp. A empresa também está negociando a venda uma parte da unidade argentina Pan American Energy para a Bridas Corp. por cerca de US$ 9 bilhões, de acordo com uma pessoa a par do assunto.

Alguns dos substanciais ativos da BP no Alasca também estão sendo oferecidos a um grupo de potenciais compradores, disse uma outra pessoa. A BP confirmou que venderá ativos de gás natural no Vietnã e no Paquistão.

“O valor dos ativos da empresa é substancialmente superior à cotação atual da ação”, então as vendas são uma maneira lógica de levantar recursos, disse Colin Morton, um gestor de recursos da Rensburg Fund Management, que tem uma participação na BP. “Este pode ser um bom catalisador para eles.”

Dependendo de que ativos venda, a BP pode se tornar uma proposta de investimento muito diferente no fim do processo. “Você pode começar a ver a

Fora o vazamento, a BP afirmou que está se saindo bem. O ganho com custo de reposição, um dado acompanhado com muita atenção e que retira ganhos e perdas dos estoques e itens excepcionais como o vazamento, subiu quase 70% no segundo trimestre, para US$ 4,98 bilhões, ante 2,94 bilhões um ano antes. O fluxo de caixa operacional no segundo trimestre foi de US$ 8,9 bilhões, ante quase US$ 3 bilhões que gastou com o vazamento no trimestre.

“A empresa está em boa forma para cumprir com suas responsabilidades”, disse Hayward. A BP vai estudar se deve voltar a pagar dividendos em fevereiro do ano que vem, disse Svanberg.


Com prejuízo de US$ 17 bi, BP planeja reforma radical
James Herron e Guy Chazan, The Wall Street Journal, de Londres
28 Jul 2010 - The Wall Street Journal Americas

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