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13 abril 2009

Dia do Beijo



Hoje é o dia mundial do beijo. Aproveite!
Gazeta Mercantil - 13/4/2009

(...) beijar, um verbo tão gostoso de conjugar que ganhou um dia só para ele, comemorado no mundo inteiro. E é hoje, 13 de abril! Então, não perca tempo, pois efeméride não tem esse nome à toa. Ela é efêmera.

(...) A questão remete, de início, à pré-história, quando uma necessidade alimentar gerou tal hábito. Afinal, no tempo das cavernas, as mães desmamavam os filhos, mastigavam a comida bem trituradinha e depois passavam a pasta resultante diretamente para a boca da prole, a exemplo do que ocorre com várias espécies do reino animal. Nada romântico ou erótico, hein?

Mais tarde, na Grécia Antiga, o ósculo funcionou como diferenciador de hierarquias: os subordinados tocavam com os lábios os superiores no peito, nas mãos, nos joelhos ou nos pés, de acordo com o nível social a que pertenciam. Na Idade Média, a prática era vista como uma forma de selar acordos entre os homens, e a Igreja Católica condenava os atos que não tivessem essa intenção.

No Brasil, a chegada da família real portuguesa, em 1808, importou uma modalidade de subserviência até então desconhecida pelos nativos: o beija-mão. Uma vez por dia, D. João VI abria as portas de seu palácio para receber a plebe, ouvir queixas e conceder benefícios. Cada súdito devia se ajoelhar diante do monarca e beijar-lhe as costas da mão direita - a mesma com que ele segurava suas indefectíveis coxinhas de frango sob o abrasador sol tropical. Ao fim da cerimônia, o monarca lusitano livrava-se da baba alheia impregnada na pele lavando-se numa bacia de água.

Na Rússia, desde a época mais sisuda da ditadura comunista, é comum que o cerimonial diplomático exija dos homens um cumprimento efusivo, coroado com um beijo na boca. Em decorrência desse costume arraigado, não foram poucos os líderes globais em visita ao país que tiveram de trocar saliva com Nikita Krushev e Leonid Brejnev.

Bicocas eleitoreiras

Por aqui, políticos em campanha adoram distribuir bicocas entre as criancinhas. Pense no trauma de ser agarrado por Paulo Maluf ou Luiza Erundina... não há terapia que dê conta! Outra figura pública que merece destaque nesse quesito (sem intenções eleitoreiras, porém) é o português José Alves de Moura, o Beijoqueiro, preso mais de 60 vezes por estalar a bochecha, à revelia, de personalidades como o cantor Frank Sinatra, o papa João Paulo II e o ator Stephan Nercessian.

Na literatura, por sua vez, o beijo adquire função mágica nos contos de fadas: serve para despertar personagens moribundos ou transformar sapos em príncipes. E, no cinema, rende cenas inesquecíveis. "A Um Passo da Eternidade", por exemplo, causou escândalo na sociedade conservadora americana de 1953 ao exibir o desentupidor-de-pia molhado, estalado e salgado que Burt Lancaster e Débora Kerr protagonizam numa praia deserta. Já no desenho animado "A Dama e o Vagabundo, dos Estúdios Disney, a cocker Lady e o Vira-Lata encostam os focinhos num beco sob o luar, embalados por espaguete e música italiana. A moçada das novas gerações, no entanto, deve ter como referência o malho que a bela Mary Jane Watson (Kirsten Dunst) sapeca no Homem-Aranha (Tobey Maguire), no primeiro longa-metragem da trilogia do personagem Marvel. Ou, para não sair da mitologia super-heroica, o grude voado entre o Superman e a Mulher-Maravilha em "O cavaleiro das Trevas 2", de Frank Miller. Dessa - e de outra - troca de fluidos corporais nasce a filha do casal, Lara.

Rodin na berlinda

Muitos orientais consideram o beijo um gesto tão detestável que, certa vez, a célebre escultura de Rodin que retrata dois amantes com as bocas e os corpos colados foi escondida atrás de um biombo durante uma exposição em Tóquio. Mas há casos ainda mais radicais. O beijo de Judas em Jesus, extraído de um episódio bíblico, ganhou conotação de punhalada nas costas. E o beijo da morte, da tradição mafiosa, prenuncia uma execução sumária.

Ah, só mais um tiquinho de cultura inútil: o beijo mais longo registrado pelo "Livro dos Recordes" durou 419 horas. E Madonna adora beijar outras cantoras para alavancar carreiras decadentes.

Obviamente, o dia internacional do beijo não celebra essas tolices, meras curiosidades. A data é dedicada ao carinho e ao tesão embutidos no gesto. Portanto, escove bem os dentes, chupe uma bala de hortelã e aproveite!

(Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 4)(marcelo alencar)

Desenho, Fonte aqui

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