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04 novembro 2025
382 bilhões de dólares em caixa
Na sexta-feira (postado aqui), escrevemos sobre o chamado “Indicador Buffett”, uma medida muito simples do valor do mercado de ações em relação ao PIB.
Mas há outro sinal relacionado a Buffett que está chamando a atenção dos investidores: o crescimento da reserva de caixa da Berkshire Hathaway, que atingiu 382 bilhões de dólares no terceiro trimestre, impulsionada pelo aumento do lucro de suas operações de seguro.
Embora não possamos presumir o que Buffett e sua equipe de investimentos — conhecida por ser extremamente discreta — estão pensando, é difícil não especular o óbvio: que a alta cúpula da Berkshire simplesmente não vê investimentos atraentes no momento.
Em teoria, a Berkshire Hathaway tem várias opções: investir em suas diversas empresas controladas, como ferrovias e seguradoras; comprar ações para seu portfólio; ou até recomprar suas próprias ações.
Na prática, porém, 382 bilhões de dólares é uma quantia tão gigantesca que a lista de investimentos capazes de realmente impactar esse montante é muito pequena.
Uma das opções seria realizar uma grande aquisição, financiada pelo caixa acumulado da Berkshire — que agora vale mais do que várias empresas icônicas americanas.
Então, será que a Berkshire realmente poderia comprar uma dessas gigantes? Em teoria, sim. Na prática, quase certamente não.
Para começar, a Berkshire provavelmente teria que pagar um alto prêmio — geralmente entre 20% e 40% — para convencer os acionistas a vender, sem contar o fato de que qualquer acordo desse porte seria altamente complexo e levantaria preocupações regulatórias.
Mais importante, porém, é que se a Berkshire já tem dificuldade em encontrar oportunidades atraentes para aplicar 5 ou 10 bilhões de dólares, parece extremamente improvável que Buffett, aos 95 anos, decida se aventurar em uma megafusão — e ainda mais improvável que Greg Abel, que assumirá como CEO da Berkshire a partir de janeiro de 2026, resolva fazer uma aposta tão arriscada como seu primeiro grande ato no comando.
Fonte: aqui
IOSCO, IVSC e IFRS
A Organização Internacional de Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO) emitiu uma declaração destacando a importância de informações de avaliação consistentes e de alta qualidade em demonstrações financeiras para apoiar a confiança dos investidores e a integridade do mercado.
A declaração observa que as demonstrações financeiras podem muitas vezes conter elementos que representam ou são derivados de informações de avaliação. Como resultado, a declaração enfatiza, é importante que os emissores tenham práticas sólidas e sólidas para apoiar o desenvolvimento de informações de avaliação de alta qualidade para relatórios financeiros, e auditores externos aplicam procedimentos suficientes para avaliar as informações de avaliação de um emissor em seu relatório financeiro como parte da auditoria de demonstração financeira.
A IOSCO faz expressamente referência às Normas Internacionais de Avaliação (IVS) emitidas pelo Conselho Internacional de Normas de Avaliação (IVSC):
Melhorar a conexão entre os IVS e as normas contábeis, como as Normas de Contabilidade da IFRS, poderia apoiar os relatórios de demonstrações financeiras de maneira eficiente e eficaz e fornecer maior confiança aos investidores que confiam nessas informações ao tomar decisões de investimento.
Fonte: traduzido do Iasplus . O documento original está aqui
03 novembro 2025
Ambipar
A Ambipar é uma empresa brasileira com atuação internacional. Nos últimos dias, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial em razão de uma desconfiança generalizada do mercado. Existiria indícios de irregularidades em operações financeiras. O preço da ação caiu de R$10 para R$0,58.
E na crise há problemas de governança, falta de transparência, liquidez, decisões inadequadas, entre outros aspectos. Eis um resumo da situação atual:
Capitaneada pelo executivo Tercio Borlenghi Junior, a empresa aponta o ex-diretor financeiro João Arruda como o grande causador da crise que se abateu sobre a companhia a partir de setembro de 2025.
Na versão da Ambipar, Arruda firmou contratos desvantajosos com a instituição financeira alemã Deutsche Bank sem as aprovações do Conselho de Administração. E esses contratos teriam levado a multinacional de gestão ambiental, com mais de R$ 4,7 bilhões de caixa até junho deste ano, a um rápido colapso.
Entretanto, o E-Investidor teve acesso a um documento que contradiz essa argumentação.
No dia 27 de fevereiro deste ano, o Conselho de Administração da Ambipar se reuniu e aprovou um contrato firmado com o Deutsche Bank no valor de US$ 493 milhões, como mostra uma ata assinada por Borlenghi Junior, diretor-presidente e conselheiro da companhia.
O mesmo contrato, agora, é classificado pela Ambipar como feito à revelia dos conselheiros e um dos estompins da crise. Procurados, Ambipar e Tércio Borlenghi não se posicionaram até a publicação do texto.
O Deutsche Bank reafirmou a regularidade dos contratos firmados com a Ambipar (leia abaixo). A assinatura de João Arruda, acusado de negociar o contrato individualmente, não consta na ata.
Procurada, a defesa técnica do ex-CFO da Ambipar apontou que “as falsas acusações feitas pela empresa (Ambipar) e seus representantes contra João Daniel Piran de Arruda acabaram de desmoronar” frente à descoberta desse documento. O corpo jurídico, coordenado pelo David Rechulski Advogados, aponta que a ata evidencia a ciência “plena e inequívoca” da alta direção da empresa do aval do Conselho de Administração da Ambipar em relação às operações com Deutsche Bank.
“O que estava em curso era um arremedo de tentativa de transformar João Arruda em ‘bode expiatório’ de uma crise que, comprovadamente, não deu causa. Felizmente, contra fatos e documentos que provam a verdade, não há campanha de fake news que resista. O bode expiatório saiu da sala”, afirmou a defesa de Arruda, que é taxativa em apontar a própria administração da Ambipar pela condução dos contratos com o Deutsche Bank.
O contrato da Ambipar com o Deutsche Bank
O contrato com o Deutsche Bank era um “swap cambial”. Esse é o nome técnico para operações que visam diminuir os efeitos da variação do câmbio sobre as dívidas que uma empresa tem em moeda estrangeira.
No caso da Ambipar, o Deutsche Bank seria responsável por garantir que um salto do dólar não encarecesse demais as dívidas da companhia no exterior. Como? Em uma troca de “riscos”: se o dólar subir, o Deutsche Bank paga a Ambipar. Se o dólar cair, é a empresa que deve desembolsa valores.
Nesse tipo de contrato é comum que garantias sejam pedidas ou que ocorram “chamadas de margem“, quando um dos lados precisa depositar mais dinheiro para cobrir as garantias.
Segundo a Ambipar, tais swaps foram negociados pelo ex-diretor financeiro Arruda sem o aval necessário da administração e com a inserção de cláusulas que abriram caminho para que o Deutsche Bank exigisse mais dinheiro da empresa como garantia das operações. Uma dessas cláusulas desvantajosas, diz a companhia, permitiu incluir nos cálculos o preço dos greenbonds, os títulos de dívida da Ambipar no exterior.
A última parcela exigida, e não paga pela Ambipar no prazo, foi de R$ 60 milhões. Antes, a empresa diz ter pago R$ 200 milhões em chamadas de margem.
“Ocorre que as chamadas de margem passaram a se basear numa interpretação indevida do aditivo e em cálculos unilaterais elaborados pelo próprio Deutsche Bank, com sobrecustos embutidos no preço e curvas de precificação totalmente dissociadas da realidade de mercado”, argumenta a Ambipar, no processo de recuperação judicial.
Sem pagar o débito com o Deutsche Bank, a Ambipar ficou submetida ao vencimento cruzado de praticamente todas as outras dívidas que a empresa tinha – cerca de R$ 10 bilhões. Por isso, a companhia recorreu à recuperação judicial. O diretor Arruda renunciou em 19 de setembro.
Já de acordo com o Deutsche, todas as operações seguiram os padrões de mercado e foram aprovados pela administração da Ambipar. “Os swaps foram firmados a pedido da empresa e o aditivo foi celebrado para ajudar a reduzir os custos de hedge (proteção cambial) da empresa”, disse o banco alemão, em nota à reportagem. “As chamadas de margem solicitadas pelo Deutsche Bank foram motivadas principalmente pela variação cambial e de taxas de juros.”
Uma pergunta no ar
Independentemente da discussão técnica sobre os contratos com o Deutsche Bank, os investidores ainda se perguntam como uma empresa que havia registrado um caixa de R$ 4,7 bilhões em junho de 2025 entra em uma recuperação judicial três meses depois. E tendo como estopim uma dívida de R$ 60 milhões com operações de câmbio.
O Estadão apurou que os credores da Ambipar também buscam responder a essa pergunta e procuram desde o fim de setembro onde está o caixa bilionário da empresa.
Na semana passada, o Bradesco (BBDC3; BBDC4), que tem R$ 390 milhões de créditos a receber da companhia, ingressou com um processo para responsabilizar pessoalmente os executivos da empresa por suposta fraude contábil. A suspeita é de que o caixa da Ambipar tenha sido esvaziado ou fraudado – veja aqui.
Fluxo de decisão do Comitê de Interpretação
A figura abaixo é de um documento emitido pela Fundação IFRS
É o fluxo de decisão do Comitê de Interpretação. Conforme o nome diz, trata de um comitê que faz a interpretação sobre assuntos que trazem dúvidas dos regulados. Uma questão é encaminhada para ser analisada. Esse é o início do processo, onde é feita uma análise para verificar se a questão tenham um efeito significativo. Havendo esse efeito, o Comitê analisa se é necessário mudar o pronunciamento. Depois de analisar tais fatos, o Comitê pode propor uma emenda, uma interpretação, que é discutida e aprovada pelo Iasb.
02 novembro 2025
História da Contabilidade: Entre o Discurso e a Escravidão
Em 1831, o Brasil assumiu o compromisso de tornar livres todos os escravos vindos de fora do Império e de impor penas aos importadores. A medida ficou conhecida como Lei Feijó, pois foi promulgada durante a regência de Feijó. Já existia um acordo com a Inglaterra nesse sentido, mas seu cumprimento esteve longe de ser pleno — tanto que a norma ficou conhecida como “lei para inglês ver”.
Nos primeiros anos, alguns poucos navios chegaram a ser barrados. No entanto, a “carga” não era devolvida à África, dada a dificuldade de fazê-lo. O governo, então, distribuía os escravos entre seus aliados políticos. Esse é o pano de fundo.
Matias Molina, em História dos Jornais no Brasil: 1840-1930, narra a trajetória de alguns dos periódicos mais relevantes do país. Logo no início, trata de um dos maiores jornalistas do período, Justiniano José da Rocha. Ele provavelmente nasceu no Recife, em 1811. Apesar de mestiço, formou-se em Direito em São Paulo. Em 1836, lançou o jornal O Chronista, inicialmente de periodicidade semanal. Após a queda de Feijó, passou a apoiar o gabinete conservador. Era contrário ao tratado comercial com Portugal e também à escravidão.
Segundo Molina, Justiniano afirmava que “o tráfico de escravos, esse crime que (...) resume toda a barbaridade do assassino, toda a perfídia do ladrão (...) é a nódoa da civilização moderna”. Contudo, sobre a práti
ca do governo de distribuir os escravos apreendidos em águas brasileiras, o jornal assumia uma postura bastante interessada. Eis um trecho que sintetiza bem as contradições humanas:
“O próprio Justiniano pediria a um ministro que lhe fosse entregue um dos africanos apreendidos e outro a cada um de seus companheiros de jornal. (...) Ele também chegou a queixar-se da ingratidão do governo, pois pedira dois africanos como paga de seu apoio e não os recebera, enquanto um jornalista da oposição levou quatro.”
Imagem da Wikipedia, verbete Justiniano, "A primeira caricatura feita no Brasil, por Araújo Porto-Alegre, em 1837, retrata a cooptação da imprensa pelo governo na pessoa de Justiniano, retratado de joelhos a receber dinheiro."
Resenha: No Limite
No Limite é a segunda obra de Nate Silver. Como gostei bastante de O Sinal e o Ruído, tinha grandes expectativas para um livro cujo subtítulo é “a arte de arriscar tudo”. Apesar de ter ficado desanimado em muitos trechos, percorri as mais de 400 páginas do texto — contando com citações, índices e glossário, o livro chega a cerca de 560 páginas.
Eu recomendaria esse livro a um amigo? Provavelmente não, afinal são muitas páginas de leitura e nem todo mundo gosta de jogos. Eu, particularmente, conheço algumas noções de pôquer e só fui até o final por teimosia — ou pela expectativa de que o livro melhorasse em algum momento. Se você gosta de pôquer, talvez possa ser uma leitura interessante. E olha que não faltou material para o autor: há os torneios dos quais ele participou, as entrevistas que fez com SBF — responsável por uma das maiores fraudes corporativas dos últimos anos —, além do conhecimento adquirido em sua experiência de predição de resultados esportivos, entre outros elementos.
Apesar da extensa pesquisa feita por Silver, o estilo parece muito menos didático que o de seu primeiro livro, o que torna a leitura menos agradável. Arrisquei meu tempo na leitura — e não foi uma boa ideia.




