Para acompanhar a evolução deste e de outros termos, vamos investigar como três dicionários históricos os registraram. O primeiro é o Moraes, em sua edição de 1789. A versão que utilizei possui dois tomos: o primeiro com quase 800 páginas (da letra A à letra K) e o segundo com mais de 500 páginas, totalizando cerca de 1.300 páginas. Essa edição tem o título Diccionario da Lingua Portugueza composto pelo padre D. Rafael Bluteau, reformado e accrescentado por Antonio de Moraes Silva, natural do Rio de Janeiro. Na capa, constam ainda os dizeres: “na officina de Simão Thaddeo Ferreira”.
O segundo dicionário é o Caldas Aulete, intitulado Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza, de 1881. Com pouco mais de mil páginas, a obra é bastante conhecida do público. O terceiro é o Novo Diccionario da Língua Portuguesa, de 1913, 10ª edição, o maior deles e talvez o menos conhecido, com 2.100 páginas.
Em resumo: o Diccionario da Lingua Portugueza, de Antonio de Moraes Silva, publicado originalmente em 1789, é considerado o primeiro grande dicionário da língua no Brasil e em Portugal, trazendo definições detalhadas e etimologias. O Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza, de Caldas Aulete, lançado em 1881, inovou ao incorporar vocabulário técnico e estrangeirismos. Já o Novo Diccionario da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, publicado em 1913, destacou-se por seu caráter normativo e pela atualização ortográfica, tornando-se referência no início do século XX.
Entre os vários termos associados à profissão e à contabilidade, provavelmente o “amanuense” seja o menos conhecido. Moraes (Tomo I, p. 71) é lacônico e o define como “o que escreve o que o outro dita; escrevente”. Caldas Aulete (p. 77) segue a mesma linha, mas acrescenta: escrevente, copista. Empregado que ocupa o grau inferior no quadro de uma secretaria e é ordinariamente encarregado de copiar e registrar papéis. Já Figueiredo (p. 101) define amanuense como: “Escrevente. Secretário. Copista. Empregado de repartição pública, encarregado geralmente de fazer cópias e registar diplomas e correspondência oficial.”
Eis o que Machado de Assis escreveu:
A reputação de vadio, preguiçoso, relaxado, foi o primeiro fruto desse método de vida; o segundo foi não andar para diante. Havia já oito anos que era amanuense; alguns chamavam-lhe o marca-passo. Acrescente-se que, além de falhar muitas vezes, saía cedo da repartição ou com licença ou sem ela, às escondidas.
O caso Barreto — Texto Fonte: Relíquias de Casa Velha, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson, 1938. Publicado originalmente em A Estação, 15 de março de 1892.
Ou seja, tratava-se de uma função com pouco prestígio social.
Referências
Aulete, F. J. C. (1881). Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa: Imprensa Nacional.
Figueiredo, C. de. (1913). Novo diccionario da língua portugueza (10ª ed.). Lisboa: Livraria Editora.
Moraes Silva, A. de. (1789). Diccionario da lingua portugueza (2ª ed.). Lisboa: Typographia Lacerdina.
(Para fins da postagem, adaptei a ortografia da época, para facilitar ao leitor o entendimento)
