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15 outubro 2025

Contabilidade Ambiental e os Desafios do BECCS nas Estratégias Corporativas


A pressão sobre as empresas em relação à questão ambiental nos últimos anos tem trazido desafios interessantes para a contabilidade, especialmente no que diz respeito às demonstrações financeiras.

Muitas organizações precisam justificar que não são “inimigas” do meio ambiente. Politicamente, isso as coloca em uma posição menos vulnerável diante de reguladores e investidores. No caso das empresas de tecnologia, com pesados investimentos em computação e energia, o dilema é evidente: possuem produtos desejados pelo público, mas precisam demonstrar que sua atividade não causa danos ambientais.

Uma estratégia encontrada tem sido o uso da técnica conhecida como BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) para compensar emissões. Nesse modelo, o saldo climático se torna mais favorável, já que as companhias “adquirem” desempenho ambiental positivo. Funciona assim: diversas indústrias, como fábricas de celulose e usinas de biomassa, geram resíduos ricos em carbono que, ao invés de serem queimados, podem passar por sistemas de captura que impedem a liberação de CO₂ na atmosfera.

Assim, os investimentos das empresas de tecnologia nesses projetos aparecem como ações ambientais positivas: ajudam a reduzir emissões por meio dessa decisão.

No entanto, alguns desses resíduos já possuem usos alternativos e a captura pode estimular práticas nocivas, como o corte excessivo de florestas. Embora o BECCS possa oferecer benefícios climáticos, também levanta questões sérias sobre incentivos perversos, a integridade das alegações corporativas e os impactos ambientais associados ao aumento da demanda por biomassa — aspectos que muitas vezes não se refletem na contabilidade ambiental.

14 outubro 2025

Uma gafe histórica usando planilha

Para quem é fã de uma planilha, eis uma história interessante (via newsletter AFR)

Uma pequena mudança de ritmo nesta semana com um olhar para um erro real do Microsoft Excel, o famoso #REF!, que continua a assombrar a cantora Kelly Rowland.

O erro em questão é a cena do videoclipe Dilemma, de 2002, em que Rowland aparece “mandando mensagem” para o rapper Nelly usando o Excel. Fãs atentos de planilhas nunca deixaram de se fixar nessa gafe.

Rowland, que leva tudo com muito bom humor, disse à revista Elle em um novo post no Instagram: “Eu não sei de quem foi a brilhante ideia de mandar mensagem no Microsoft Excel, mas isso me persegue em todos os lugares para onde vou.”

A cantora contou que recebeu o celular-cenário momentos antes da filmagem e simplesmente seguiu com a cena. “Me entregaram o aparelho. Ele estava com o [Excel], e então, no vídeo, disseram ‘ah, precisamos de uma tomada com isso’ e eu pensei ‘acho que é assim mesmo’.”

Esse momento se tornou uma peça duradoura da história das planilhas. “E aqui estamos, 25 anos depois. [As pessoas me perguntam] ‘por que você estava mandando mensagem para ele?’ Cara, eu não sei. Eu não sei. Me perguntam isso literalmente toda semana.”

 A fotografia a seguir mostra a cena:

Eis o que consta do verbete da Wikipedia:

Em um momento do videoclipe, Rowland é vista tentando mandar uma mensagem para Nelly em um aplicativo de planilhas[a] usando seu Nokia 9210 Communicator. Nelly defendeu o uso do aplicativo em uma entrevista ao talk show australiano The Project, em novembro de 2016, explicando que ele era utilizado na época, apesar de ter se tornado obsoleto depois. Em entrevistas posteriores, Rowland admitiu não saber o que era o Microsoft Excel, o que gerou uma resposta da conta oficial do aplicativo no Twitter.

Metade dos textos produzidos hoje foram escritos por IA


A pesquisa Graphite com 65 mil URLs publicadas entre 2020 e 2025 para estimar a proporção de artigos gerados por IA versus artigos escritos por humanos concluiu que, atualmente, cerca de metade foi escrita por IA. É verdade que muitos textos resultaram de uma colaboração entre humanos e máquinas, mas acredito que seja muito próximo da realidade. 

Este próprio texto é um exemplo do processo: encontrei a citação na newsletter da Bloomberg, fui para o link, pedi ao GPT para fazer um resumo de que não gostei. Solicitei que a IA indicasse o trecho exato — que, de fato, não existia no link indicado. Só depois, sem ajuda da IA, localizei o trecho correto e o reproduzo aqui:

The percentage of AI-generated articles in this data set briefly surpassed human-written articles in November 2024, but the two have stayed roughly equal since. 

Depois de pronto, pedi à IA para fazer uma revisão ortográfica e gramatical. E fica a pergunta: a postagem foi feita por uma IA ou por um ser humano ou algo híbrido?

Progressividade de imposto de renda em diferentes países

O artigo é um estudo sobre a progressividade tributária, onde o Brasil participa da base de dados. O GPT fez um resumo do resultado:

  • Baixa progressividade efetiva: Embora o sistema estatutário brasileiro de imposto de renda tenha sido desenhado para ser progressivo, os resultados mostram que, na prática, a tributação efetiva é quase plana. Isso significa que, proporcionalmente, famílias em diferentes faixas de renda acabam pagando taxas médias semelhantes

    Alíquotas médias reduzidas: Os dados de alíquota média efetiva no Brasil permanecem baixos em comparação internacional. Em ondas analisadas, a taxa média foi de cerca de 5,26% em 1985, subindo gradualmente até 9,03% em 2010, valores bem abaixo da média de países europeus e mesmo de outras economias da América Latina

    Desconexão entre sistema legal e prática tributária: O contraste entre o sistema estatutário progressivo e a baixa progressividade efetiva indica problemas de execução, possivelmente ligados à base estreita do IRPF no Brasil e à dependência de tributos indiretos.

    Em resumo, o estudo mostra que o Brasil aparece como um caso em que a tributação formalmente progressiva não se traduz em progressividade efetiva, e as taxas médias efetivas permanecem baixas. Isso ajuda a explicar porque o sistema tributário brasileiro tem eficácia limitada em redistribuir renda. 


Ainda Mokyr

Encontrei essa passagem no Marginal Revolution

Ainda assim, a mensagem central deste livro não é inequivocamente otimista. A história nos oferece relativamente poucos exemplos de sociedades que foram tecnologicamente progressistas. Nosso mundo é excepcional, embora não único, nesse aspecto. Em geral, as forças que se opõem ao progresso tecnológico têm sido mais fortes do que aquelas que buscam mudanças. O estudo do progresso tecnológico é, portanto, um estudo do excepcionalismo, de casos em que, como resultado de circunstâncias raras, a tendência normal das sociedades a deslizar em direção à estase e ao equilíbrio foi rompida. A prosperidade sem precedentes de que goza hoje uma parcela significativa da humanidade decorre de fatores acidentais em grau maior do que se supõe. Além disso, o progresso tecnológico é como uma planta frágil e vulnerável, cuja nutrição depende não apenas do ambiente e do clima apropriados, mas cuja vida é quase sempre curta. Ele é altamente sensível ao ambiente social e econômico e pode ser facilmente interrompido por mudanças externas relativamente pequenas.

13 outubro 2025

A Contabilidade na revolução industrial, segundo Mokyr


Um dos temas mais interessantes na história da firma é a evolução das práticas contábeis. A escrituração por partidas dobradas vinha sendo praticada por mercadores desde a Idade Média. As práticas contábeis em uso às vésperas da Revolução Industrial tinham evoluído na gestão de propriedades rurais (estate management), bem como no comércio ultramarino e nas correspondentes operações de crédito, e no sistema de “putting-out” (manufatura domiciliar). A maioria dos procedimentos contábeis eram dispositivos de registro comercial e não se prestavam facilmente a avaliações da lucratividade global de uma empresa industrial, muito menos de suas partes constituintes. No tipo de negócio típico da Grã-Bretanha por volta de 1760, a maior parte da atividade econômica ainda era realizada em empresas administradas por seu proprietário, cujo padrão de vida era regulado mais pelo fluxo de caixa do que pelo lucro em si. As sociedades (parcerias), a forma mais popular de negócios maiores, muitas vezes tinham fórmulas simples para a retirada de dinheiro e mercadorias, embora, quando a sociedade era dissolvida ou ampliada, mais informações precisassem ser extraídas dos livros.

As fábricas da Revolução Industrial, contudo, introduziram muitos novos problemas contábeis com os quais ninguém tinha muita experiência. As plantas precisavam se preocupar com capital indireto (overhead), depreciação de equipamentos, controle de estoques e as receitas e custos de diferentes divisões. A contabilidade do capital era especialmente deficiente, e a ampla variedade de práticas indica a incerteza da época quanto aos procedimentos corretos. Além disso — e talvez mais danoso —, os métodos contábeis da época tornavam quase impossível a um empresário ou gerente avaliar a lucratividade líquida de uma inovação. Na firma, de resto bem administrada, de Boulton e Watt, ninguém tinha ideia de quais departamentos davam lucro ou prejuízo, e na siderúrgica escocesa Carron um gerente estimou um lucro de £10.500 quando, na verdade, havia um prejuízo de £10.000. Na década de 1770, Josiah Wedgwood reformou os procedimentos contábeis de sua empresa, aplicando técnicas de custeio que computavam “toda a despesa de fazer vasos o mais precisamente possível desde os materiais brutos” — embora seja improvável que sua técnica de contabilidade de custos tenha se difundido rapidamente por todo o setor manufatureiro. A superprodução e outros erros de julgamento ocorriam tão frequentemente que um historiador econômico ponderado suspira que eles “mal deixam de diminuir quaisquer estimativas do tino comercial dos empresários do algodão” (Payne, 1978, p. 189). Em certo sentido, esse juízo parece um pouco severo: os problemas gerenciais das novas fábricas eram um subproduto do surgimento do sistema fabril, concebido sobretudo para lidar com problemas tecnológicos e informacionais. No lado da engenharia, os primeiros gestores podiam contar com especialistas técnicos; para as questões de gestão, estavam geralmente por conta própria. Empresas vizinhas do mesmo setor, que observavam de perto umas às outras em busca de avanços técnicos, podiam estar separadas por décadas em termos de práticas contábeis. A imensa maioria das firmas esperava que seus escriturários e contadores pagassem seus trabalhadores e fornecedores e cobrassem de seus clientes, evitassem desfalques e mantivessem o controle de estoques. Não se esperava, porém, que fornecessem um quadro completo da lucratividade das várias atividades da empresa, nem teriam sido capazes de fazê-lo caso lhes fosse solicitado.

Factories and Firms in an Age of Technological Progress - JOEL MOKYR - The Enlightened Economy 

 

12 outubro 2025

Candidatos usam IA para manipular os sistemas de contratação


Com o uso crescente da inteligência artificial no recrutamento — cerca de 90% dos empregadores já utilizam softwares para filtrar currículos — candidatos começaram a embutir comandos ocultos em seus currículos para manipular os sistemas. Esses “prompts escondidos” orientam a IA a classificá-los como altamente qualificados, em uma estratégia que se popularizou no TikTok e no Reddit. Algumas empresas, como Greenhouse e ManpowerGroup, já identificam milhares de currículos com truques desse tipo, enquanto recrutadores rejeitam candidatos quando descobrem a fraude. Apesar dos riscos, há relatos de pessoas que conseguiram mais entrevistas após usar tais artifícios, expondo o embate entre humanos e máquinas no mercado de trabalho.

Mollick, no livro Cointeligência, conta que na sua página da sua universidade, com o seu currículo, ele inseriu comandos para que a IA fosse simpática ao seu trabalho.