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20 setembro 2025

Consensus: Valor justo ou custo histórico?

 A postagem do conservadorismo mostrou que essa qualidade da informação, que é negada pelos reguladores indiretamente, tem um apoio na pesquisa acadêmica. Agora questionei se o valor justo é preferido ao custo histórico. Novamente, os reguladores estão forçando a adoção do valor justo e a pergunta é no sentido se a opção é adequada. Eis o resultado:

Um resultado muito dividido, que impede uma generalização, o que questiona a preferência pelo valor justo. Eis o resumo das pesquisas:

Valor Justo: Vantagens e Limitações

  • A contabilidade a valor justo é geralmente considerada superior para refletir as condições atuais de mercado, fornecendo informação mais relevante e tempestiva aos usuários das demonstrações financeiras. Ela aumenta a transparência e a comparabilidade e ajuda as partes interessadas a avaliar o valor presente de ativos e passivos.

  • O valor justo é especialmente valioso quando existem preços de mercado confiáveis, como para instrumentos financeiros com negociação ativa, aumentando a relevância para o valor dos números reportados.

  • Contudo, o valor justo pode introduzir volatilidade e subjetividade, particularmente para ativos ilíquidos ou únicos sem preços de mercado disponíveis, levando a erros de estimativa e menor confiabilidade. Durante crises financeiras, o valor justo pode amplificar oscilações de mercado e o risco sistêmico.

Custo Histórico: Vantagens e Limitações

  • A contabilidade ao custo histórico oferece estabilidade, objetividade e verificabilidade, pois registra ativos e passivos pelos valores originais de transação. Isso reduz o risco de manipulação e fornece uma base consistente para comparações de longo prazo.

  • Entretanto, o custo histórico pode tornar-se menos relevante ao longo do tempo, deixando de refletir as realidades econômicas atuais, especialmente em períodos de inflação ou rápidas mudanças de mercado.

Abordagens Híbridas e Contextuais

  • Muitos estudos e normas recomendam uma abordagem mista/híbrida, usando valor justo onde for confiável e custo histórico onde os mercados são ilíquidos ou as estimativas altamente subjetivas.

  • As evidências empíricas mostram que empresas e reguladores frequentemente combinam ambos os métodos para equilibrar relevância e confiabilidade, com a escolha dependendo do tipo de ativo, das condições de mercado e dos objetivos de reporte.

Consensus: Conservadorismo é vantajoso?

Minha pergunta foi: o conservadorismo/prudência é vantajoso na contabilidade? E a surpresa é que das 14 pesquisas, doze responderam que sim, uma ficou no muro e uma deu a resposta negativa. Novamente, temos que desconfiar da amostra reduzida, mas...

Eis o texto do app:
 

Principais Vantagens do Conservadorismo/Prudência

  • Melhor qualidade e persistência dos lucros: A contabilidade conservadora gera resultados mais estáveis e previsíveis, tornando as demonstrações financeiras mais confiáveis para previsão e tomada de decisão.

  • Menor risco de quedas acentuadas no preço das ações e de falência: Ao promover o reconhecimento tempestivo de perdas e reduzir a manipulação de resultados, o conservadorismo diminui o risco de “crashes” no preço das ações e de falências, protegendo investidores e credores.

  • Maior eficiência e transparência de mercado: O conservadorismo ajuda a contrabalançar a sobreavaliação, especialmente em mercados com restrições a vendas a descoberto ou alto desacordo entre investidores, melhorando a eficiência do mercado e reduzindo o otimismo infundado.

  • Mitigação de problemas de agência: Reduz custos de agência ao limitar o oportunismo gerencial e o gerenciamento de resultados, sendo valorizado por partes interessadas como fornecedores, clientes e credores por reduzir a assimetria de informação.

  • Valor em ambientes incertos: A prudência é particularmente útil em períodos de incerteza econômica ou política, servindo como salvaguarda contra a superavaliação de ativos e receitas.

Limitações e Considerações

  • Potencial de reduzir a relevância: Conservadorismo excessivo pode tornar a informação financeira menos relevante para decisões, especialmente se levar a subavaliação sistemática de ativos ou receitas.

  • O contexto importa: Os benefícios do conservadorismo são mais pronunciados quando aplicado de forma criteriosa e em ambientes com alta incerteza ou governança fraca.

Consensus: Big Four entregam qualidade?

Minha pergunta foi: As grandes firmas de auditoria entregam serviços de qualidade superior em comparação às firmas menores?

Eis a resposta do consenso da pesquisa científica, segundo o APP Consensus:

Achei o número de estudos reduzidos e as respostas indicariam um sim com alguma dúvida. Eis o texto do app:

  • Evidências empíricas consistentes mostram que grandes firmas de auditoria (especialmente as Big 4) fornecem auditorias de maior qualidade — medida por menores accruals discricionários, menos erros de reporte e maior acurácia em opiniões de continuidade operacional — do que firmas menores, tanto em mercados desenvolvidos quanto emergentes.

  • Meta-análises e estudos multicountry confirmam uma associação positiva entre tamanho da firma e qualidade da auditoria, com firmas maiores se beneficiando de mais recursos, procedimentos padronizados, tecnologia avançada e incentivos reputacionais para manter a qualidade.

  • Grandes escritórios locais dentro das firmas de grande porte também tendem a entregar auditorias de qualidade superior, devido a economias de escala, melhor treinamento e compartilhamento de conhecimento.

Nuances e exceções

  • Alguns estudos em contextos específicos (por exemplo, certos países em desenvolvimento ou segmentos de empresas privadas) não encontram diferença significativa ou até maior qualidade em firmas menores, especialmente fora do grupo Big 4.

  • Mudanças de mercado e regulatórias podem afetar a relação: por exemplo, evidências recentes da China sugerem que o vínculo tamanho–qualidade enfraqueceu após a convergência às IFRS 15.

  • A qualidade da auditoria também é influenciada por fatores como especialização do auditor, tempo de relacionamento (tenure) e lucratividade, não apenas pelo tamanho.

Consensus: Regime de competência é vantajoso no setor público?

A minha pergunta para o Consensus é: o regime de competência no setor público é vantajoso? O número de estudos indicado no app é relativamente pequeno: apenas 13. E não há um consenso claro, já que 6 respondem que sim, 3 que depende e 4 que não. 

 



Eis o relatório do Consensus:

Transparência e accountability aprimoradas: A contabilidade por competência oferece um retrato mais abrangente e confiável das finanças públicas do que a contabilidade de caixa, apoiando melhor gestão financeira, transparência e prevenção de fraudes.

Melhor tomada de decisão: Ao reconhecer ativos, passivos, receitas e despesas quando ocorrem (e não apenas quando há movimentação de caixa), a contabilidade por competência permite alocação de recursos e avaliação de desempenho mais informadas.

Maior valor preditivo: Superávits e demonstrações baseados no regime de competência melhoram a capacidade de projetar fluxos de caixa e superávits futuros, tornando a informação mais relevante e confiável para o planejamento.

Governança e controle da corrupção: Países que adotam contabilidade por competência e normas internacionais frequentemente observam melhorias na qualidade da governança e reduções na corrupção.

Limitações e Desafios

Complexidade e custo: A implementação pode ser complexa e cara, por vezes superando benefícios de curto prazo, especialmente se não vier acompanhada de reformas mais amplas de finanças públicas ou capacitação adequada.

Evidência empírica mista: Alguns estudos encontram benefícios limitados ou dependentes do contexto, com vantagens mais nítidas onde as reformas são bem apoiadas e integradas a outras melhorias de governança.

Risco de adoção simbólica: Em certos casos, a contabilidade por competência pode ser adotada mais por conformidade ou razões políticas do que por uma busca genuína de melhoria do interesse público ou bem-estar.

Consensus: relatórios de sustentabilidade melhoram o valor da empresa?

Minha pergunta foi: os relatórios de sustentabilidade melhoram o valor da empresa?  A resposta geral foi: 

Relatórios de sustentabilidade geralmente tem um efeito positivo sobre o valor da empresa, mas o impacto varia condorme o contexto, a qualidade do relatório e o horizonte de tempo. 

A maioria dos estudos encontra uma associação positiva entre relato de sustentabilidade e valor da empresa em diversos mercados, incluindo Singapura, Arábia Saudita, Indonésia, EUA, Europa e amostras internacionais. Transparência ampliada, capital reputacional e confiança das partes interessadas são mecanismos-chave que impulsionam esse efeito.

Relatórios de sustentabilidade de alta qualidade e abrangentes — especialmente os que seguem padrões globais ou têm asseguração externa — tendem a gerar impactos positivos mais fortes no valor da empresa.

Diversidade no conselho e diretores independentes podem fortalecer ainda mais a relação positiva entre relato de sustentabilidade e valor da empresa.

Efeitos negativos ou neutros iniciais às vezes são observados, particularmente quando o relato de sustentabilidade é novo, voluntário ou percebido como um sinal custoso. Com o tempo, à medida que empresas e investidores se tornam mais experientes, a relação frequentemente se torna positiva.

Divulgações obrigatórias de sustentabilidade nem sempre levam a aumentos significativos no valor da empresa em nível agregado, embora possam existir efeitos setoriais. 

O impacto pode variar por tipo de divulgação: divulgações sociais frequentemente têm efeito positivo mais forte do que as ambientais ou de governança em alguns mercados emergentes. 

Consensus: o efeito do comitê de auditoria independente na qualidade da informação contábil

Eu perguntei: qual o efeito do comitê de auditoria independente na qualidade do relatório financeiro? 

O comitê de auditoria independente geralmente tem um efeito positivo na qualidade do relatório financeiro, mas a força e consistência dessa relação varia conforme o contexto e a mensuração. 

Muitos estudos constatam que maior independência do comitê de auditoria está associada a maior qualidade do relato financeiro, incluindo redução do gerenciamento de resultados, melhora da transparência e demonstrações financeiras mais confiáveis. Esse efeito é observado em contextos diversos, como Quênia, Filipinas e entre empresas com "lead independent directors" nos comitês de auditoria.

Meta-análises e revisões indicam que a independência do comitê de auditoria é mais eficaz para "elevar a qualidade da auditoria" (por exemplo, prevenindo renúncias de auditores ou problemas de continuidade operacional) do que para melhorar diretamente a qualidade das demonstrações financeiras, embora ambos sejam complementares.

A qualidade do relato integrado também se beneficia da independência do comitê de auditoria, conforme mostrado em amostras europeias e internacionais.

Alguns estudos não encontram efeito significativo da independência do comitê de auditoria sobre a qualidade do relato financeiro, especialmente em ambientes onde a independência já é alta ou onde outros fatores (como expertise ou contexto regulatório) têm papel maior.

A efetividade da independência pode ser enfraquecida por fatores como participação acionária dos diretores (que pode reduzir a independência real), influência do CEO ou sobrecarga dos membros do comitê (acúmulo de múltiplos cargos).

A expertise e a atividade do comitê de auditoria frequentemente interagem com a independência e, em alguns casos, a expertise é um preditor mais forte da qualidade do relato do que a independência isoladamente.

Consensus: Adotar IFRS melhora a qualidade da contabilidade?

Eu perguntei: a adoção de normas contábeis IFRS melhora a qualidade da contabilidade do país que adota? O app Consensus apresentou a seguinte resposta: 

O impacto da adoção das IFRS na qualidade da contabilidade é misto e altamente dependente do contexto, com melhorias observadas em alguns cenários, mas não de forma universal.

Dos 15 estudos, 60% tiveram resposta Sim. Veja que uma das críticas do app, o limitado número de pesquisa, está aqui presente. Continuando o resultado:

Melhorias na Qualidade da Contabilidade - Reduções no gerenciamento de resultados e aumento da relevância para o valor foram observados em vários países após a adoção das IFRS, incluindo Austrália, Reino Unido, China, Coreia do Sul e partes da UE, especialmente onde a fiscalização é forte e os ambientes institucionais são favoráveis. 

As adotantes voluntárias de IFRS — empresas que escolhem adotar as IFRS por razões estratégicas — frequentemente apresentam maiores melhorias na qualidade da contabilidade do que aquelas que adotam por imposição legal.  

Em alguns países, a adoção obrigatória das IFRS não levou a melhorias e às vezes resultou até em aumento do gerenciamento de resultados ou redução na tempestividade do reconhecimento de perdas, particularmente onde a fiscalização é fraca ou os incentivos estão desalinhados 

Declínios iniciais na qualidade da contabilidade foram documentados na Índia e na Nigéria, com alguma recuperação ao longo do tempo à medida que a familiaridade e a fiscalização melhoram.

A qualidade da fiscalização, os sistemas jurídicos e os incentivos gerenciais são frequentemente mais importantes do que as próprias normas para determinar os resultados de qualidade da contabilidade 

Países com ambientes de governança e divulgação mais robustos se beneficiam mais da adoção das IFRS, enquanto aqueles com instituições mais fracas podem não observar melhorias significativas.

Conclusão

A adoção das IFRS pode melhorar a qualidade da contabilidade, mas os benefícios dependem fortemente da fiscalização, do contexto institucional e dos incentivos no nível da empresa. A simples adoção das IFRS não é suficiente; a implementação eficaz e ambientes regulatórios sólidos são cruciais para alcançar melhorias na qualidade.