O emprego dos sonhos existe?
18 junho 2021
17 junho 2021
Imposto para gigantes da tecnologia
Depois de anos de impasse, o acordo histórico do G-7 (grupo das sete maiores economias) para tributar as empresas multinacionais com alíquota mínima de 15% pode forçar uma mudança no cenário da guerra fiscal entres os países e garantir ao Brasil um ganho de arrecadação de 900 milhões de euros (R$ 5,58 bilhões) ao ano.
O cálculo foi divulgado em simulações feitas por pesquisadores do Observatório da Tributação da União Europeia, um laboratório de investigação independente na área tributária com sede na Escola de Economia de Paris.
O estudo considera vários cenários para a implementação do imposto global. Pelas simulações, os Estados Unidos teriam uma arrecadação extra de 40,7 bilhões de euros e a União Europeia mais 48,3 bilhões de euros.
Se a alíquota subisse de 15% para 25%, a receita para a União Europeia seria de 168 bilhões de euros e os americanos ficariam com 166 bilhões de euros. Já o ganho para o Brasil subiria para 7,4 bilhões de euros (quase R$ 56 bilhões).
O governo brasileiro não fez ainda uma manifestação oficial sobre o acordo, referendado ontem pelos líderes dos países do G-7 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido).
A posição oficial do Brasil deverá ser conhecida na próxima reunião do grupo de países do G-20 (reúne as 20 maiores economias do mundo), quando o acordo será discutido.
Na última semana, representantes da Receita Federal participaram de reunião técnica na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), que trabalha em conjunto com o G-20 para buscar solução para o que é conhecido como "erosão da base tributável" dos países com a migração do lucro das empresas para paraísos fiscais e também para a tributação da chamada economia digital.
A erosão ocorre porque as grandes multinacionais migram o "lucro" para países fiscais de baixa tributação. Essa operação é apenas contábil.
O movimento das empresas é feito no papel, sem aumento da capacidade produtiva, levando artificialmente os lucros para serem tributados com uma alíquota muito baixa.
Na prática, as multinacionais montam uma subsidiária no paraíso fiscal e fazem uma série de operações contábeis para apurar todo o lucro fiscal por lá. Durante o governo de Donald Trump, os EUA estavam na contramão do debate.
Mas, com a entrada de Joe Biden, os americanos passaram a adotar uma posição conciliatória para buscar a implementação do acordo. O acordo tem dois pilares. O primeiro, de maior interesse dos EUA, é fixar alíquota mínima para a tributação global das multinacionais de pelo menos 15%.
O segundo, de interesse dos europeus, trata da chamada economia digital e da forma de tributação dos serviços intangíveis de grandes empresas de tecnologia (Google, Amazon, Facebook e Apple), incluindo, por exemplo, algoritmos do tratamento de dados personalizados e outros serviços digitais.
"Essas características fazem com que seja mais fácil mover os lucros de um lugar para o outro e no limite não pagar imposto em nenhum", explica o economista do Ipea, Rodrigo Orair. Os EUA, onde estão as "big techs", aceitou tributar parte do lucro dessas empresas no destino (onde o serviço é consumido), e não apenas na origem.
Essa era uma demanda dos países europeus e alguns deles já estão cobrando um imposto temporário até que o acordo no G20 seja fechado - a Índia é um dos países que resistem à ideia.
Ele [Rodrigo Orair] explicou que o imposto global mínimo de 15% se aplica às empresas multinacionais. Por exemplo, caso adote o imposto, o Brasil poderá tributar suas multinacionais. As alíquotas domésticas continuarão sendo definidas localmente.
"No caso de multinacionais, se a empresa for tributada por uma alíquota inferior no país onde o lucro foi apurado (como um paraíso fiscal), o país de origem poderá cobrar a diferença para alcançar a alíquota mínima", diz Pires.
Ou seja, se uma multinacional brasileira é tributada em 2% em um paraíso fiscal, o País poderá cobrar a diferença até alcançar os 15%. Segundo ele, como no Brasil a alíquota do Imposto de Renda das empresas é alta (34%), é provável que as multinacionais continuem com o incentivo para fazer esse tipo de operação.
Já no caso dos serviços digitais de grandes empresas de tecnologia, Orair afirma que é preciso ter cuidado com a análise do impacto, porque o Brasil tributa as importações de serviços e remessas. Isso fez com que grande parte dessas empresas abrissem filiais no Brasil.
[...]
A negociação não inclui só países da entidade, mas vários outros, como o Brasil. A resistência parte não só dos países de tributação baixa, mas dos que não são sede de muitas multinacionais, aqueles em desenvolvimento. Cozendey destaca a importância do precedente ao estabelecer discussão para uma taxação mínima, que nunca foi aceita. "Isso avançou bastante.
Nunca se tinha aceitado discutir um nível de taxação", afirma. Ele chama atenção para o fato de que, apesar de se falar num porcentual mínimo, os países não são obrigados a adotar a medida.
Esse precedente é importante porque gera consequências indiretas, já que diminuiu o estímulo para que as empresas direcionarem suas sedes, seus "lucros" para países de tributação baixa.
"Todo mundo vinha demonstrando interesse em fazer essa negociação avançar, mas agora que se tem uma proposta clara, com números, os países conseguem avaliar quanto ganham e quanto perdem. Entramos numa fase de negociação digamos quantitativa de países", prevê.
Alguns países dentro do G-20 são resistentes até mesmo na questão do grau em que deveriam ter acesso na distribuição desses recursos. No Brasil, o nível de imposto das empresas é bem mais elevado, de 34% no IRPJ.
A ideia do governo na etapa da reforma tributária no Congresso, que trata do Imposto de Renda, é reduzir a taxação das corporações com a volta da cobrança dos lucros e dividendos na pessoa física. Para o ex-secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, o acordo ainda é incipiente.
Para ele, o impacto para o Brasil não será tão grande porque a tributação local é mais elevada. "Nossa tributação é maior. Impacta para países com tributação menor, como a Irlanda", diz. Na prática, significa que, se a Irlanda não subir para 15%, os países poderão cobrar a diferença.
Como ganhamos uma vida extra
Parece que a vida está bem ruim agora. Talvez seja o momento de ler Factfulness, de Hans Rosling, para aumentar nosso otimismo. Ou então ler um texto de Steven Johnson para o New York Times. Johnson escreveu um livro chamado Extra Life: a Short History of Living Longer e o artigo é um resumo, creio, do seu livro. Johnson, por sinal, é autor do excelente O Mapa Fantasma, sobre a descoberta de como tratar da cólera.
Como o título informa, nossa geração ganhou uma vida a mais. O motivo? A expectativa de vida em 1918 era de 41 anos. Hoje, mesmo com a pandemia, nossa expectativa de vida é de 80 anos. Estes dados são para os países ocidentais, mas o mesmo é válido para as nações como China, Índia e até mesmo o Brasil. Um habitante de Bombaim há cem anos deveria viver um pouco mais de 20 anos. Hoje vive 70 anos.
Com efeito, durante o século desde o fim do surto da Grande Influenza, a expectativa de vida humana média dobrou. Existem poucas medidas de progresso humano mais surpreendentes do que isso. Se você fosse publicar um jornal que saiu apenas uma vez por século, a manchete do banner certamente seria - ou deveria - ser a declaração desse feito incrível. Mas é claro que a história de nossa vida extra quase nunca aparece na primeira página de nossos jornais diários reais, porque o drama e o heroísmo que nos deram esses anos adicionais são muito mais evidentes em retrospectiva do que no momento. Ou seja, a história de nossa vida extra é uma história de progresso em sua forma usual: ideias brilhantes e colaborações desdobrando-se longe dos holofotes da atenção do público,
Outra razão pela qual temos dificuldade em reconhecer esse tipo de progresso é que ele tende a ser medido não em eventos, mas em não eventos: a infecção de varíola que não matou você aos 2 anos; o arranhão acidental que não causou uma infecção bacteriana letal; a água potável que não te envenenou com cólera. Em certo sentido, os seres humanos têm sido cada vez mais protegidos por um escudo invisível, que foi construído, peça por peça, ao longo dos últimos séculos, mantendo-nos cada vez mais seguros e longe da morte. Ele nos protege por meio de inúmeras intervenções, grandes e pequenas: o cloro em nossa água potável, as vacinações em anel que livram o mundo da varíola, os centros de dados que mapeiam novos surtos em todo o planeta. Uma crise como a pandemia global de 2020-21 nos dá uma nova perspectiva sobre todo esse progresso. As pandemias têm uma tendência interessante de tornar esse escudo invisível repentina e brevemente visível. Pela primeira vez, somos lembrados de como a vida cotidiana é dependente da ciência médica, hospitais, autoridades de saúde pública, cadeias de suprimento de medicamentos e muito mais. E um evento como a crise da Covid-19 também faz outra coisa: ajuda-nos a perceber os buracos naquele escudo, as vulnerabilidades, os lugares onde precisamos de novos avanços científicos, novos sistemas, novas maneiras de nos proteger de ameaças emergentes.
Como essa grande duplicação da expectativa de vida humana aconteceu? Quando os livros de história tocam no assunto da melhoria da saúde, muitas vezes apontam para três descobertas críticas, todas apresentadas como triunfos do método científico: vacinas, teoria dos germes e antibióticos. Mas a história real é muito mais complicada. Essas descobertas podem ter sido iniciadas por cientistas, mas foi necessário o trabalho de ativistas, intelectuais públicos e reformadores jurídicos para levar seus benefícios às pessoas comuns. Nessa perspectiva, a duplicação da expectativa de vida humana é uma conquista que se aproxima de algo como o sufrágio universal ou a abolição da escravidão: um progresso que exigiu novos movimentos sociais, novas formas de persuasão e novos tipos de instituições públicas para criar raízes. E exigiu mudanças de estilo de vida que ocorreram em todos os escalões da sociedade:
Nem sempre é fácil perceber o impacto cumulativo de todo esse trabalho, toda essa transformação cultural. O resultado final não é um daqueles ícones visíveis da modernidade: um arranha-céu, um pouso na lua, um caça a jato, um smartphone. Em vez disso, ela se manifesta em inúmeras conquistas, muitas vezes rapidamente esquecidas, às vezes literalmente invisíveis: a água potável livre de microorganismos ou a vacina recebida na primeira infância e na qual nunca mais pensamos. O fato de essas conquistas serem tão miríades e sutis - e, portanto, sub-representadas nas histórias que contamos a nós mesmos sobre o progresso moderno - não deve ser uma desculpa para manter nosso foco nos astronautas e pilotos de caça. Em vez disso, deve nos inspirar a corrigir nossa visão. (...)
Imagem: aqui
Contabilidade? Fico imaginando o atuário e seus cálculos. E as estimativas das aposentadorias.
Escopo 3 da emissão precisa ser regulado
Muitas empresas estão procurando vender como sendo enquadradas dentro dos melhores critérios ambientais, sociais e de governança. Mas são efetivamente?
Um relatório do BofA mostra um problema nesta classificação. O setor de tecnologia (leia-se Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet e Tesla) é considerado um bom investimento para quem deseja buscar alocar seus recursos em "empresas saudáveis". Mas segundo o BofA (via aqui), o setor de tecnologia é um dos setores com maiores emissões indiretas entre as indústrias de serviços. A palavra relevante é "indireta".
Veja o gráfico a seguir:
Em cada setor temos a intensidade de emissão no Escopo 1, 2 e 3. O que seria o escopo 3? São os resultados de atividades de ativos que não pertencem à entidade que está apresentando o relato ambiental, mas que faz parte da cadeia de valor da empresa. O escopo 1 e 2 são apresentados nos relatórios ambientais e provavelmente serão objeto dos reguladores que estão querendo impor divulgação ambiental. A questão é que o escopo 3 escapa e provavelmente não será regulado.Mesmo que a entidade não tenha controle sobre a emissão, sua presença e pressão pode afetar a emissão. Ou seja, o escopo 3 pode ser evitado quando uma empresa terceiriza suas atividades.
Links
Bilionários ricos de energia verde - veículo elétrico é classificado aqui
10 dicas para gestão de stress de estudantes de doutorado
Memes históricos explicados (inclui o meme acima)
Charles Keeling, que mediu a emissão de CO2
Mudança climática explicaria milagres de santos italianos na idade média
Lavagem de dinheiro da Ucrânia: fábricas falidas, impostos não pagos, demissões
Falso Consenso
Se você já teve certeza do resultado de uma eleição, apenas para se sentir roubado, ou ficado surpreso quando seu parceiro adormecia durante seu filme favorito, então provavelmente você já experimentou o efeito de falso consenso (FCE) .
O FCE é um viés cognitivo que faz com que as pessoas pensem que seus valores, crenças, ações, conhecimento ou preferências pessoais estão mais difundidos na população em geral ou em outros indivíduos do que realmente ocorre. O fenômeno foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo Lee Ross e seus colegas na década de 70.
Em um dos primeiros estudos abrangentes sobre o efeito, Ross perguntou a estudantes universitários se eles estariam dispostos a fazer uma caminhada de 30 minutos pelo campus para uma lanchonete que dizia "Comer no Joe's" - um restaurante fictício (mas os alunos não sabiam disso). Disseram-lhes que, se aceitassem, aprenderiam algo interessante como incentivo. Mas eles também eram livres para recusar a oferta. Depois de tomarem sua decisão, os alunos tiveram que adivinhar a porcentagem de outras pessoas que eles achavam que fariam a mesma escolha.
Quase metade dos alunos estava disposta a aceitar, com a outra metade recusando. Aqueles que aceitaram acharam que, em média, 62% das outras pessoas fariam o mesmo. Os que se recusaram achavam que apenas 33% dos outros estariam dispostos a aceitar. Em cada grupo, os alunos presumiram que outras pessoas tomariam decisões semelhantes às suas, a uma taxa muito mais alta do que realmente acontecia.
O estudo também pediu aos alunos que fizessem suposições sobre os traços de personalidade do tipo de pessoa que faria a escolha oposta. Ambos os grupos provavelmente rotularam o outro como “inaceitável” ou “defeituoso” de alguma forma.
Nos anos anteriores à pesquisa de Ross e seus colegas, vários estudos investigaram o FCE em uma variedade de contextos diferentes.
Um conhecido estudo testou o grau em que as pessoas pensavam que outras compartilhavam seus conhecimentos. Os pesquisadores usaram dados de um jogo chamado Play The Percentages. Os jogadores poderiam ganhar milhares de dólares em prêmios em dinheiro se fossem capazes de adivinhar a porcentagem de pessoas na audiência do estúdio que poderiam responder certas perguntas triviais corretamente. Eles descobriram que os competidores sempre superestimariam o número de pessoas que poderiam responder às perguntas corretamente quando o próprio competidor sabia a resposta.
Os pesquisadores também descobriram que o efeito é mais pronunciado quando se trata de coisas que acreditamos verdadeiras. Se você se preocupa com o meio ambiente e considera o aquecimento global um fato, provavelmente vai exagerar a porcentagem de pessoas que compartilham de suas crenças. O efeito também é mais pronunciado se suas crenças fizerem parte de uma minoria estatística. (...)
O efeito também é ampliado quando tentamos especular sobre as crenças e opiniões das pessoas no futuro . Os psicólogos pensam que isso ocorre porque não temos acesso a informações sobre as opiniões das pessoas no futuro, também presumimos que estamos corretos e que outros futuros terão tempo para “descobrir a verdade” e mudar suas crenças de acordo.
Então, o que os psicólogos acham que são as causas do FCE? Um dos motivos mais citados é a exposição seletiva.
As pessoas geralmente passam a maior parte do tempo com seus amigos e familiares e provavelmente compartilham crenças e opiniões sobre o mundo com esses grupos. Isso nos dá uma amostra tendenciosa da esfera social de opinião e é provável que façamos suposições sobre a população em geral com base em nossas interações com as pessoas.
Wandi Bruine de Bruin, professora de políticas públicas, psicologia e ciências comportamentais da University of Southern California, conduziu recentemente um estudo investigando as suposições das pessoas sobre os comportamentos de vacinação na população em geral. Ela descobriu que as pessoas baseavam suas suposições de como a população em geral se comportava em como as pessoas dentro dos próprios círculos sociais dos sujeitos se comportavam.
Ambientes online amplificam a exposição seletiva e, portanto, o FCE, porque compartilhamos espaços com pessoas que têm pontos de vista semelhantes e nos envolvemos com materiais que confirmam nossas crenças pré-existentes. Martin Coleman, psicólogo e professor de prática na North Dakota State University, é autor de vários artigos que investigaram o FCE. Ele explica:
“Acho que os ambientes online quase certamente ampliam o FCE. Uma das causas do FCE é a 'exposição seletiva' (apenas estar por perto e ouvir indivíduos com pensamentos semelhantes / atos semelhantes). Esse 'efeito de câmara de eco', em que as pessoas apenas ouvem / veem suas próprias opiniões / ações repetidas ou refletidas de volta para elas, é comum na Internet. Fóruns de jogadores, fóruns de usuários de maconha, fóruns de caçadores, para não mencionar todos os fóruns de grupos políticos extremos quase certamente acentuam o FCE e levam a outros fenômenos, como 'polarização do grupo', onde as opiniões dos membros do grupo se tornam mais extremas como um resultado da discussão em grupo. ”
A exposição seletiva é semelhante a algo chamado de heurística de disponibilidade, que também desempenha um papel significativo no FCE. Quando as pessoas são solicitadas a lembrar características sobre outras pessoas, elas são melhores em lembrar semelhanças do que diferenças. Portanto, se somos questionados sobre as características dos outros, é provável que as alinhemos com as nossas.
Outro elemento de explicação para o FCE é o foco causal de um indivíduo . Se um indivíduo tem maior probabilidade de pensar que suas crenças e ações são determinadas por poderosas forças situacionais externas a ele, então faz sentido pensar que outros indivíduos estão sujeitos a forças semelhantes. Se as pessoas estão sujeitas a forças externas semelhantes, isso deve levar a uma convergência de experiências e crenças, o que deve intensificar o FCE.
É importante que as pessoas conheçam o FCE?
Em alguns contextos, o FCE pode ser inofensivo, como quando você, por engano, permite que seus amigos façam um pedido para você em um restaurante. Mas também pode ser perigoso. Como Coleman mencionou, ambientes como a mídia social podem exacerbar esse viés cognitivo já presente, e quando tomamos medidas para nos cercar de pessoas que confirmam o que pensamos que já sabemos, inadvertidamente nos separamos da diversidade de perspectivas que existem dentro de um sociedade saudável.
16 junho 2021
Regulando a estimativa Bayesiana
A Comunidade Europeia, visando regular a Inteligência Artificial, definiu
'sistema de inteligência artificial' (sistema de IA) significa software que é desenvolvido com uma ou mais das técnicas e abordagens listadas no Anexo I e pode, para um determinado conjunto de objetivos definidos pelo homem, gerar resultados, como conteúdo, previsões, recomendações, ou decisões que influenciam os ambientes com os quais interagem
Carga Tributária: Legal e Efetiva
Eis um mapa feito por Damodaran com a alíquota legal de imposto de renda de cada país:
Quanto mais escura for o vermelho, maior a alíquota. Veja que o nosso país se destaca no mapa. Afinal, uma alíquota de 34% do imposto de renda (e "contribuição social") é elevada nos dias atuais. Mas uma coisa é a alíquota definida em lei e outra é a alíquota efetivamente paga. Eis o mapa com esses valores:Links
O impacto duradouro da Teoria de Stigler (e como o status quo ajuda a explicar a resistência
Reuniões virtuais vieram para ficar
Alex Rodriguez e o uso da fama para aprender finanças pessoais
Europa amplia o número de empresas que devem evidenciar a sustentabilidade
Passou um pouco desapercebido, mas a Europa está ampliando o número de empresas que serão obrigadas a apresentar os relatórios de sustentabilidade corporativa, conhecido como CSRD. A estimativa é que este número aumente de 11.600 para 49 mil. Isto inclui empresas na bolsa e grandes empresas não listadas.
A definição de "grande" empresa seria aquela com ativo acima de 20 milhões de euros, receita acima de 40 milhões de euros e número de empregados acima de 250
A evidenciação abrange as metas de sustentabilidade e o progresso feito para alcançá-las, a função dos órgãos de administração, gestão e governança em relação aos fatores de sustentabilidade, os impactos negativos mais significativos da empresa, entre outras informações.
Rir é o melhor remédio
15 junho 2021
Ronaldo, Coca-Cola e Água
O gesto de Cristiano Ronaldo durante uma coletiva de imprensa pode ter custado cifras milionárias à Coca-Cola. Em uma entrevista na segunda-feira, dia 14, antes da partida entre Portugal e Hungria, pela Eurocopa, o atacante removeu duas garrafas do refrigerante da sua frente da mesa de conferência e trouxe uma de água mais para perto dele, fazendo uma referência para que as pessoas bebessem mais água.
Segundo o jornal espanhol Marca, pouco antes do gesto do atacante português, as ações da Coca-Cola estavam custando US$ 56,10. Cerca de meia hora depois, quando Cristiano Ronaldo deixou a sala de entrevista, o preço de uma ação tinha atingido um valor mínimo de US$ 55,22, provocando uma desvalorização muito grande das ações da marca. O jogador costuma enaltecer alimentação saudável. Seu gesto pode ter desencadeado uma queda de 1,6% das ações da Coca-Cola na Bolsa de Valores.
Segundo o periódico espanhol, em termos econômicos, a empresa perdeu US$ 4 bilhões com isso, saindo de um valor de US$ 242 bilhões para US$ 238 bilhões. A Coca-Cola é parceira de longa data da Uefa e patrocina a Eurocopa desde 1988. São nove edições seguidas, incluindo a atual, e é comum ela colocar sua bebida ao lado dos microfones durante as entrevistas coletivas de técnicos e jogadores.
Procurada, a empresa disse que não iria se manifestar. Já a Uefa avisou que não prevê qualquer tipo de punição ao jogador, mas reforçou que a empresa Coca-Cola oferece uma variedade de bebidas para atender a diferentes gostos e necessidades, que estão disponíveis para os jogadores durante todo o torneio. "Isso inclui águas, bebidas isotônicas e sucos, café e chá, bem como Coca-Cola. Os jogadores recebem água, ao lado da Coca-Cola e da Coca-Cola Zero, na chegada às nossas coletivas de imprensa. Todos têm direito às suas preferências de bebida", disse.
Fonte: aqui
Dica: Jomar Miranda e Sérgio Nazaré, grato.
Regulação e Stigler
Este ano estaremos comemorando os 50 anos da publicação de um artigo de Stigler sobre regulação. O texto Teoria da Regulação Econômica teve uma grande influência no debate acadêmico e é importante para o entendimento do processo de produção de normas contábeis.
Uma série de artigos já foram publicados para mostrar a relevância do artigo de Stigler. Até o artigo, a regulação por parte do governo era considerada como uma necessidade para corrigir as falhas do mercado. Esta regulação começa no final do século XIX; nos dias atuais, a regulação é uma presença em quase todos os mercados mundiais. Somente nos Estados Unidos, o número de agências era, em 2019, 117, com 1,4 milhão de funcionários.
Stigler mostrou que a regulação pode servir para defender o interesse próprio dos atores que estão sob seu guarda-chuva. Esta ideia foi a principal contribuição de Stigler. A questão da captura regulatória, onde os atores dominam o órgão regulador, tem como exemplo recente o caso do Facebook. Seu executivo pediu para ser regulado durante o depoimento no Congresso dos Estados Unidos. Na contabilidade, os reguladores são dominados pelas empresas de auditoria e pelos executivos financeiros. É rara a presença de usuário nessas entidades.
Há um artigo que chamou minha atenção. Ele critica Stigler e sua teoria, afirmando que é difícil de acreditar que a captura é uma regra. Ou seja, é falsa a afirmação de que a regulação é adquirida pela indústria e operada em seu benefício. Eis um trecho:
Suponha que um regulador ambiental tome medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa das usinas de energia ou para controlar os níveis de partículas no ar ambiente. Devemos dizer que a regulação da poluição do ar foi adquirida pela indústria e opera em seu benefício? Sempre? A maior parte do tempo? De vez em quando? Para começar a entender qualquer afirmação desse tipo, podemos querer distinguir entre as condições necessárias e suficientes. É uma condição necessária que “a indústria” queira a regulamentação? Essa condição é suficiente?
(...) Essa proposição é falsa. Como regra, a regulação não é adquirida pela indústria e não é projetada e operada em seu benefício.
Imagem: aqui
A atração por Delaware
O estado Delaware é o segundo menor estados dos Estados Unidos e o sexto com menor população. Mesmo sendo tão pequeno, o Delaware é uma potência capitalista: mais de 200 mil empresas possuem sede no estado do Delaware. Como o estado possui perto de 1 milhão de habitantes, isto corresponde a uma empresa por cada 5 habitantes.
A estimativa da Wikipedia parece ser conservadora. Segundo a Zachary Crockett (em The Hustle) são quase 1,5 milhão de empresas incorporadas no Delaware, o que inclui 68% entre as 500 maiores empresas da Fortune. Qual seria a razão para o sucesso capitalista do Delaware?
Um dos motivos é a legislação tributária. Os impostos são reduzidos, a tal ponto que o estado também é conhecido como sendo The Land of Free-Tax Shopping. Em 1891, o estado adotou uma lei tributária muito generosa. Ao estabelecer por lá, a empresa poderia economizar muitos tributos e ter vantagens na sua expansão. Um exemplo: os intangíveis não pagam impostos. Como consequência, é muito comum uma empresa transfere estes ativos para Delaware. Como o estado financia suas atividades? Através de um valor de franquia e algumas taxas.
O segundo motivo é a norma para as entidades. Em 1899, o estado aprovou a Lei Geral das Sociedades de Delaware, que reduziu ao mínimo as restrições às ações corporativas e fez do local um ambiente muito hospitaleiro para as corporações, com poucos impostos, pouca burocracia e pouco litígio. Em Delaware, um processo de incorporação pode levar menos de uma hora para ser concluído e o estado não exige a divulgação dos diretores e conselheiros.
O terceiro motivo é a facilidade com que os litígios são resolvidos. Os juízes estaduais são, muitos deles, especializados em direito empresarial. E as pendências são resolvidas pelos juízes, não pelo júri. Um julgamento em Delaware pode durar 4 dias e os tribunais são extremamente favoráveis aos negócios.
Qual a razão de comentar isto em um blog de Contabilidade Financeira? Sabe aonde fica a sede do Iasb? Errou se você respondeu Londres. A resposta correta é Delaware.
Sem precedente
Veja que gráfico interessante. O número de vezes que a palavra unprecedent (sem precedente) foi utilizada nas apresentações da empresas. Não é difícil descobrir a razão.
Mudança de nome
A entidade que emite normas de contabilidade para o setor público dos Estados Unidos, o Gasb, anunciou a mudança de nome do relatório.
De Comprehensive annual financial report para Annual comprehensive financial report. Aparentemente não é uma mudança substancial. O curioso é o motivo. Segundo a entidade, o primeiro termo forma um acrônimo - CAFR - que seria ofensivo em termos raciais para os negros da África do Sul.
A explicação está melhor detalhada aqui. CFAR, quando falado em voz alta, soa próximo a Kaffir. Na sua origem, Kafir é um descrente do Islã ou infiel. Mas na África do Sul é usado como calúnia racial, sendo uma injúria.
É importante notar que a mudança no nome não irá alterar o relatório.
14 junho 2021
Novo momento para as Big Techs
Unir democratas e republicanos não é tão simples, mas o poder das grandes empresas de tecnologia consegue.
Um grupo bipartidário de legisladores da Câmara aprovou 5 projetos de lei antitruste para as BIG TECHs. A ideia é frear o crescimento de algumas empresas do setor ou, em outras palavras, colocar alguns “radares” nessa rodovia a caminho do monopólio.
Não precisamos nem dizer o tamanho e o poder que empresas como Amazon, Facebook, Google e Apple têm. Esses projetos de lei, no entanto, fariam com que vários modelos de negócio dessas companhias precisassem ser reestruturados. [...]
Algumas das possíveis mudanças para as BIG TECHs…
- Elas não poderão criar jornadas que favoreçam seus próprios produtos em detrimento dos concorrentes. Apple Music x Spotify, que tem que pagar taxa na App Store;
- Não se poderá mais promover produtos próprios nos resultados de pesquisa em prejuízo de um concorrente. Google 👀
- As plataformas terão que facilitar a portabilidade de dados de um serviço para outro;
- Por último, a ideia é dificultar a compra de concorrentes menores por parte das gigantes. It's a long road...
Até que tudo isso seja concretizado, os projetos precisam passar 1) pelo Comitê Judiciário da Câmara, 2) pela Câmara, 3) voltar para o Senado e, por fim, 4) ser sancionado por Biden. De qualquer maneira, é um momento marcante do setor.
Fonte: Aqui