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04 novembro 2025

NewJeans e os eventos invisíveis

Min Hee Jin, ou MHJ, foi contratada pela gravadora ADOR, pertencente ao conglomerado Hybe, para criar o primeiro girl group coreano da empresa. MHJ recrutou e formou o grupo NewJeans. Com o tempo, mesmo sendo executiva da gravadora, ela tentou sair da ADOR e levar consigo o grupo para uma nova empresa, buscando novos investidores.

Um potencial investidor com quem MHJ conversou revelou seus planos à Hybe, que então iniciou uma auditoria na ADOR. O trabalho confirmou a tentativa de ruptura por parte de MHJ, que foi removida do cargo de CEO, mas mantida como uma espécie de diretora criativa. No entanto, MHJ recusou a nova função e deixou a gravadora.

Com a crise, as integrantes do NewJeans declararam quebra de confiança e consideraram o contrato inválido, passando a atuar fora da ADOR. A gravadora entrou na Justiça, e um tribunal rejeitou as alegações do NewJeans, atribuiu a responsabilidade a MHJ e sentenciou que os contratos permaneciam válidos. Há uma multa de 250 milhões de dólares em caso de quebra contratual.

O grupo agora pode recorrer da decisão — o caminho que parece ter escolhido —, voltar a trabalhar para a ADOR ou pagar a multa.

No Brasil, no passado, houve um caso semelhante: Chico Buarque assinou contrato com uma gravadora comprometendo-se a entregar determinada quantidade de trabalhos, mas não conseguiu cumpri-lo, e a empresa passou a pressioná-lo. Da crise entre o artista e a gravadora nasceu a música Dono da Voz.

E a contabilidade? Pelo lado da ADOR, provavelmente as artistas não estão registradas no ativo, e como a chance de vitória judicial é significativa, também não deve haver registro de um potencial passivo — caso fosse necessário pagar alguma indenização. Tampouco deve haver um ativo referente à multa a receber, pois o valor é tão elevado que as artistas dificilmente teriam condições de desembolsar um quarto de bilhão. No entanto, todo esse atrito pode reduzir o apelo do grupo, e o “intangível” não registrado não poderá ser amortizado. Ou seja, tudo isso não deve ser registrado na contabilidade da empresa. Faz sentido? 

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