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02 novembro 2025

História da Contabilidade: Entre o Discurso e a Escravidão

Em 1831, o Brasil assumiu o compromisso de tornar livres todos os escravos vindos de fora do Império e de impor penas aos importadores. A medida ficou conhecida como Lei Feijó, pois foi promulgada durante a regência de Feijó. Já existia um acordo com a Inglaterra nesse sentido, mas seu cumprimento esteve longe de ser pleno — tanto que a norma ficou conhecida como “lei para inglês ver”.

Nos primeiros anos, alguns poucos navios chegaram a ser barrados. No entanto, a “carga” não era devolvida à África, dada a dificuldade de fazê-lo. O governo, então, distribuía os escravos entre seus aliados políticos. Esse é o pano de fundo.

Matias Molina, em História dos Jornais no Brasil: 1840-1930, narra a trajetória de alguns dos periódicos mais relevantes do país. Logo no início, trata de um dos maiores jornalistas do período, Justiniano José da Rocha. Ele provavelmente nasceu no Recife, em 1811. Apesar de mestiço, formou-se em Direito em São Paulo. Em 1836, lançou o jornal O Chronista, inicialmente de periodicidade semanal. Após a queda de Feijó, passou a apoiar o gabinete conservador. Era contrário ao tratado comercial com Portugal e também à escravidão.

Segundo Molina, Justiniano afirmava que “o tráfico de escravos, esse crime que (...) resume toda a barbaridade do assassino, toda a perfídia do ladrão (...) é a nódoa da civilização moderna”. Contudo, sobre a práti


ca do governo de distribuir os escravos apreendidos em águas brasileiras, o jornal assumia uma postura bastante interessada. Eis um trecho que sintetiza bem as contradições humanas:

“O próprio Justiniano pediria a um ministro que lhe fosse entregue um dos africanos apreendidos e outro a cada um de seus companheiros de jornal. (...) Ele também chegou a queixar-se da ingratidão do governo, pois pedira dois africanos como paga de seu apoio e não os recebera, enquanto um jornalista da oposição levou quatro.”

Imagem da Wikipedia, verbete Justiniano, "A primeira caricatura feita no Brasil, por Araújo Porto-Alegre, em 1837, retrata a cooptação da imprensa pelo governo na pessoa de Justiniano, retratado de joelhos a receber dinheiro." 

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