No início do milênio, a torcida e os dirigentes do Corinthians estavam incomodados com o fato de o clube disputar seus jogos principalmente no Pacaembu. Sendo um estádio do município, e alguns dos adversários do clube tendo seu estádio, parecia que incomodava. Afinal, o Corinthians tinha a maior torcida da maior cidade do Brasil e não tinha um local próprio onde pudesse realizar suas partidas.
Entre 2007 e 2009, começam as discussões para a construção de um estádio próprio. O assunto foi impulsionado pelo fato de o presidente da época ser um confesso torcedor do clube. Além disso, existia a perspectiva da Copa do Mundo. Juntando tudo isso — uma grande torcida, mais o apoio político, mais o orgulho do dirigente —, em 2010 há o anúncio da construção do estádio próprio. A construção começa no ano seguinte, sob a responsabilidade da construtora Odebrecht. É feito um acordo que envolvia o clube, a construtora e o governo, por meio da Caixa Econômica Federal e do BNDES. Assim, havia dinheiro e motivação política. O estádio fica pronto em 2014, sendo usado na Copa do Mundo, deixando um custo de quase 1 bilhão de reais, tudo sob a forma de financiamento. Na estrutura de financiamento da obra, existia a previsão de que a dívida seria paga com receita de bilheteria e uso da arena. Como a receita ficou abaixo do previsto, foi insuficiente para cobrir as parcelas da dívida.
Em 2019, diante da clara impossibilidade de pagar o estádio com a geração de receita, o Conselho Deliberativo do Corinthians cria uma comissão para avaliar os custos da obra. A comissão aponta R$ 1,03 bilhão em dívidas com a Odebrecht. O clube contesta a legitimidade de parte da dívida e busca alternativas. Para os representantes do clube, não parecia razoável nem correto que a construtora mantivesse em seu balanço os créditos nesse valor, já que não havia perspectiva de quitação — a única fonte de recursos eram as receitas da arena, muito abaixo do esperado. Na Odebrecht, pela prudência contábil, não havia certeza do recebimento e, por esse motivo, não registrava passivo no Corinthians.
Mesmo um acordo de venda do nome, com validade de vinte anos, não foi suficiente para mudar a viabilidade do estádio. Há uma negociação, entre 2021 e 2022, com a Caixa.
Uma campanha de arrecadação entre a torcida conseguiu levantar, inicialmente, um valor razoável, mas ainda bem distante da dívida com o banco federal. Mesmo com a volta ao poder do presidente torcedor, que agora parece menos interessado nas coisas do futebol, a dívida permanece. O estádio é um ativo do clube e seu principal patrimônio. Mas o passivo é grande, e a desorganização administrativa do clube, com denúncias, não ajuda. Regularmente, surge a possibilidade de suspender os pagamentos para pressionar uma renegociação com termos mais favoráveis.
O caso mostra uma situação interessante sobre ativar ou não um determinado recurso econômico - no caso do time de futebol. E também sobre o reconhecimento, por parte do financiador, da dívida e como, ao eventualmente não lançar no balanço, o fato pode dar margem para um eventual calote da parte do time.

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