Um dos temas mais interessantes na história da firma é a evolução das práticas contábeis. A escrituração por partidas dobradas vinha sendo praticada por mercadores desde a Idade Média. As práticas contábeis em uso às vésperas da Revolução Industrial tinham evoluído na gestão de propriedades rurais (estate management), bem como no comércio ultramarino e nas correspondentes operações de crédito, e no sistema de “putting-out” (manufatura domiciliar). A maioria dos procedimentos contábeis eram dispositivos de registro comercial e não se prestavam facilmente a avaliações da lucratividade global de uma empresa industrial, muito menos de suas partes constituintes. No tipo de negócio típico da Grã-Bretanha por volta de 1760, a maior parte da atividade econômica ainda era realizada em empresas administradas por seu proprietário, cujo padrão de vida era regulado mais pelo fluxo de caixa do que pelo lucro em si. As sociedades (parcerias), a forma mais popular de negócios maiores, muitas vezes tinham fórmulas simples para a retirada de dinheiro e mercadorias, embora, quando a sociedade era dissolvida ou ampliada, mais informações precisassem ser extraídas dos livros.
As fábricas da Revolução Industrial, contudo, introduziram muitos novos problemas contábeis com os quais ninguém tinha muita experiência. As plantas precisavam se preocupar com capital indireto (overhead), depreciação de equipamentos, controle de estoques e as receitas e custos de diferentes divisões. A contabilidade do capital era especialmente deficiente, e a ampla variedade de práticas indica a incerteza da época quanto aos procedimentos corretos. Além disso — e talvez mais danoso —, os métodos contábeis da época tornavam quase impossível a um empresário ou gerente avaliar a lucratividade líquida de uma inovação. Na firma, de resto bem administrada, de Boulton e Watt, ninguém tinha ideia de quais departamentos davam lucro ou prejuízo, e na siderúrgica escocesa Carron um gerente estimou um lucro de £10.500 quando, na verdade, havia um prejuízo de £10.000. Na década de 1770, Josiah Wedgwood reformou os procedimentos contábeis de sua empresa, aplicando técnicas de custeio que computavam “toda a despesa de fazer vasos o mais precisamente possível desde os materiais brutos” — embora seja improvável que sua técnica de contabilidade de custos tenha se difundido rapidamente por todo o setor manufatureiro. A superprodução e outros erros de julgamento ocorriam tão frequentemente que um historiador econômico ponderado suspira que eles “mal deixam de diminuir quaisquer estimativas do tino comercial dos empresários do algodão” (Payne, 1978, p. 189). Em certo sentido, esse juízo parece um pouco severo: os problemas gerenciais das novas fábricas eram um subproduto do surgimento do sistema fabril, concebido sobretudo para lidar com problemas tecnológicos e informacionais. No lado da engenharia, os primeiros gestores podiam contar com especialistas técnicos; para as questões de gestão, estavam geralmente por conta própria. Empresas vizinhas do mesmo setor, que observavam de perto umas às outras em busca de avanços técnicos, podiam estar separadas por décadas em termos de práticas contábeis. A imensa maioria das firmas esperava que seus escriturários e contadores pagassem seus trabalhadores e fornecedores e cobrassem de seus clientes, evitassem desfalques e mantivessem o controle de estoques. Não se esperava, porém, que fornecessem um quadro completo da lucratividade das várias atividades da empresa, nem teriam sido capazes de fazê-lo caso lhes fosse solicitado.
Factories and Firms in an Age of Technological Progress - JOEL MOKYR - The Enlightened Economy

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