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06 outubro 2025

Leão XIV começa a mudar a gestão financeira do Vaticano


Uma das reformas do Papa Francisco, que concedia autoridade exclusiva ao banco do Vaticano para investimentos mantidos pela cidade-Estado, foi cancelado pelo novo papa.  Apesar da medida, Leão XIV disse que os departamentos deveriam priorizar o banco do Vaticano. 

Existia uma reclamação que o Banco tinha obtido poder demais com a mudança implementada pelo argentino. As outras reformas continuam válidas, informou a Forbes

Como a contabilidade é vista na pesquisa anual de reputação nos EUA

É uma pesquisa anual sobre amor e ódio realizada nos Estados Unidos (o America do título da figura). As avaliações em azul representam opiniões positivas e as em vermelho, negativas. Os agricultores estão entre os mais bem avaliados, assim como a indústria de computação. Em seguida aparecem restaurantes, automóveis e a contabilidade, que recebeu avaliação positiva de 41% dos respondentes e apresentou o menor índice de avaliação negativa, apenas 10%. Já a produção de conteúdo — televisão, filmes, livros e publicidade — aparece na parte inferior do ranking. Na última posição está o governo federal, com 61% de avaliação negativa.

Fonte Chartr 

05 outubro 2025

Código de Processo Criminal de 1832


Um pouco maior que o Código Criminal, o Código de Processo Criminal regula a justiça civil no Brasil do século XIX. Apareceu dois anos depois do primeiro, já durante a Regência. Se o primeiro falava quais atos eram crimes e suas penas, o segundo mostrava como os crimes deveriam ser investigados, julgados e punidos.

Entre as provas do processo, admitia os documentos, o que incluía os livros contábeis.

Um crítica de 1896

Em 1896 aparecia a Revista do Gremio dos Guarda-Livros na cidade de São Paulo. Apesar de não ter sido o primeiro periódico da nossa área, os exemplares transmitem uma ideia da profissão no final do século XIX. Os poucos números de sobreviveram ao tempo, somente quatro estão disponíveis na Biblioteca Nacional: 1, 2, 3 e 8. 

Lendo os artigos das oito páginas de cada número, encontrei uma crítica a uma prática contábil dos balanços bancários. Logo na primeira página, o autor questiona o uso de terminologia pouco clara. No texto:

Que quer dizer, por exemplo, no ativo de um balanço, a verba Diversos ou Saldo diversos

E a crítica é que o valor é considerável. O balanço é então apresentado, parte na página 1 e parte na página 2. Eis o print do jornal:


 
Realmente, a crítica ao trabalho de Francisco de Paula Pires parece válida. O texto diz:

Nestas condições, a publicação dos balanços é perfeitamente dispensável, porque é feita unicamente para cumprir preceito de lei; torna-se uma burla para todos os que necessitam de estudar as condições financeiras de um estabelecimento, a segurança de seus capitais e o critério de seus diretores.”
 

 

 

Nestas condições, a publicação dos balanços é perfeitamente dispensável, porque é feita unicamente para cumprir preceito de lei; torna-se uma burla para todos os que necessitam de estudar as condições financeiras de um estabelecimento, a segurança de seus capitais e o critério de seus diretores.” 

Código Criminal de 1830


O Código Criminal do Império foi criado em 1830 e foi o primeiro código penal do Brasil. Ele surgiu pouco antes da abdicação de D. Pedro I e permaneceu em vigor por cerca de sessenta anos, até ser substituído pelo Código Penal de 1890.

Antes disso, o país seguia as Ordenações Filipinas, um conjunto de leis editado em 1603, durante o reinado de Filipe II de Portugal. Essas ordenações tiveram grande influência sobre o sistema jurídico brasileiro e continuaram a impactar o país mesmo depois do surgimento do Código Criminal.

O Código Criminal dividia os crimes em três grupos:

  1. Crimes públicos, cometidos contra o Império e a administração pública — incluindo o tesouro. Entre eles estavam os crimes de falsificação de documentos, escrituras, papéis ou assinaturas, e até mesmo o ato de riscar livros oficiais.

  2. Crimes privados, que envolviam ofensas à liberdade, à segurança individual e à propriedade particular, como homicídio, ameaças e rapto.

  3. Crimes policiais, que eram infrações contra as normas e regras de ordem pública.

Dentro dos crimes contra a propriedade (Título III, Capítulo II), aparecem três que se relacionam de forma indireta com a contabilidade: bancarrota, estelionato e falsidade ou desvio de bens.

O termo bancarrota era usado para se referir ao que hoje chamamos de falência fraudulenta, ou seja, quando o comerciante escondia ou falsificava informações para enganar credores. A pena prevista era de um a oito anos de prisão com trabalho. Esse crime estava diretamente ligado à escrituração contábil, pois as fraudes costumavam ocorrer por meio da manipulação dos livros de contabilidade.

O estelionato também foi tipificado e abrangia práticas como vender bens que não eram seus, hipotecar o mesmo bem mais de uma vez ou enganar credores. A pena era de prisão com trabalho de seis meses a seis anos, além de multa de até 25% do valor do bem.

Por fim, havia o crime de falsidade e desvio de bens, que se referia a casos em que alguém usava documentos falsos ou desviava valores confiados a ele. Embora o Código não mencionasse diretamente a profissão contábil, esses artigos mostram como a contabilidade era essencial para fiscalizar, provar e registrar as operações comerciais.

Um ponto importante é que, mesmo que a Constituição de 1824 não reconhecesse os escravizados como cidadãos — já que não eram considerados pessoas no sentido jurídico e político —, o Código Criminal de 1830 determinava que os escravos eram punidos pelos crimes que cometessem, o que revela as contradições da sociedade brasileira daquela época.

Uso do termo intangível na contabilidade

 

O uso do termo Intangível na contabilidade brasileira é bastante antigo. O trecho acima, do Estado de S Paulo de 24 de agosto de 1905, p. 2 mostra que o saldo de uma associação foi transferido para o fundo intangível. Não foi o primeiro exemplo, em termos históricos, que encontrei. Mas veja que o termo intangível não significa o que entendemos como ativo intangível, mas como algo intocável ou inviolável. 

Ou seja, os recursos não poderia ser usados livremente. Seria próximo ao que conhecemos como reserva. 

04 outubro 2025

Sobre o efeito limitado da IA no crescimento econômico

Tim Harford reflete sobre o impacto da IA na taxa de crescimento econômico. Há empresas de investimento que estão trabalhando com um valor de 7% de crescimento do PIB por conta da inteligência artificial. Mas provavelmente a taxa será muito, muito menor. 

Boa parte da conclusão de Harford está baseado na história recente. E há obstáculos que provavelmente a IA não irá conseguir resolver. Sobre o passado, Harford volta para os anos sessenta, quando começa a aparecer uma revolução tecnológica com o computador, que reduziu o custo do cálculo. Mesmo com esse instrumento tão poderoso, a economia dos países desenvolvidos desacelerou. Harford não lembra, mas nos anos oitenta um economista chegou a afirmar que não conseguia enxergar a melhoria de produtividade do computador nas estatísticas de contas nacionais. Parte da resposta estava na forma de medição dos economistas, mas realmente não houve um crescimento absurdo. 

Eis a parte interessante do texto de Harford: 

Um ensaio recente do economista Luis Garicano aponta algum


as razões para isso. Uma é o efeito “O-ring”, ideia batizada em referência à falha de um componente simples que destruiu a nave espacial Challenger, matando os sete tripulantes. Em economia, o O-ring representa a ideia de que, às vezes, um sistema sofisticado e altamente produtivo é tão bom quanto seu elo mais fraco.

Imagine o robô massagista que só ocasionalmente quebra seu pescoço; o carro autônomo que raramente confunde você com um pedaço de lixo voando pela estrada; o sistema de IA generativa que consegue escrever textos para você e pode passar dias, até semanas, antes de produzir um erro capaz de arruinar sua carreira. Em alguns casos, é fácil contornar uma fraqueza no sistema de IA. Em outros, essas fraquezas — como o frágil O-ring — podem ser a única coisa que realmente importa.

Um desafio relacionado é o Efeito Baumol, batizado em homenagem ao economista William Baumol. Baumol e seu colega William Bowen descreveram originalmente a economia de um quarteto de cordas, mas produziram um insight de relevância muito mais ampla. Qualquer parte da economia que seja valorizada, mas que não possa ser facilmente tornada mais produtiva, tende a consumir uma fatia crescente dos gastos.

Isso já aconteceu muitas vezes. Primeiro, a agricultura tornou-se vastamente mais produtiva. Depois, as máquinas a vapor; depois, a manufatura; o cálculo; a comunicação, e assim por diante. Apesar desses milagres de produtividade — na verdade, por causa deles —, cada vez mais gastos são destinados a setores como saúde, educação e refeições em restaurantes. Se a produtividade agrícola dobrasse novamente amanhã, isso mal apareceria nas estatísticas do PIB. A produtividade computacional está dobrando o tempo todo, mas o crescimento do PIB teimosamente permanece abaixo do que se via nos anos 1960.

Há razões para especular que desta vez seja diferente, mas criar inteligência de silício não é o único problema a ser resolvido se quisermos ver os padrões de vida crescerem 20% ao ano. Uma lição a tirar de tudo isso pode ser: uma taxa de crescimento de 1% pode ser modesta pelos padrões do século XX, mas ainda assim é crescimento exponencial — e crescimento exponencial pode ser mais difícil de sustentar do que supomos.

Imagem: GPT