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05 agosto 2022

Criptomoedas e a contabilidade

Enquanto os dois principais reguladores não trabalham em uma norma específica, as criptomoedas estão aparecendo de forma dúbia nos balanços das empresas. No momento da aquisição, a empresa deve usar o valor da transação e assim permanecer, independente da valorização do ativo. Mas caso ocorra uma desvalorização da moeda, a diferença entre o valor de compra e o valor de mercado deve ser considerada uma perda. Em outras palavras, as boas notícias não aparecem na contabilidade, mas as notícias ruins estarão no resultado. 

Tudo parecia ir bem com a valorização contínua por parte do mercado. Até a KPMG do Canadá anunciou, no início do ano, que teria adquirindo Bitcoin. Naquele momento, o preço era de 232.243 reais por 1 Bitcoin. Neste momento, em quatro de agosto, o preço é de 117.359 reais por 1 bitcoin. O preço caiu substancialmente desde a decisão da Big Four, do Canadá, em ser "moderna". 

Além da KPMG, seria importante comentar aqui três outras empresas. A primeira é a fabricante de automóveis Tesla, que em fevereiro de 2021 tinham anunciado a compra de criptografia, no total de 1,5 bilhão, e que aceitaria o Bitcoin como forma de pagamento. Logo a seguir, a empresa vende parte do seu estoque de criptomoeda e obteve um lucro de 100 milhões. 


A empresa de Musk anunciou, há dias, que teria vendido a maior parte das moedas. Pelo comunicado, a empresa informou que trocou a moeda para ter mais liquidez. Em outras palavras, caixa. O texto da empresa não era claro sobre o valor de venda e o resultado obtido com as transações, mas o ativo de 218 milhões em Bitcoin e o item de depreciação, amortização e redução ao valor recuperável de 922 milhões parece indicar um resultado negativo. 

O que aconteceu com a Tesla parece indicar a necessidade de que as normas contábeis sejam mais explícitas sobre a evidenciação de informação em notas explicativas. Atualmente há uma orientação do AICPA, mas alguns consideram que o Fasb deveria trabalhar no assunto. 


A segunda empresa é a Coinbase. É uma empresa com ações negociadas em bolsa, que opera a troca de criptomoedas. Os funcionários da empresa trabalham de maneira remota e a empresa sequer tem sede física. É a maior bolsa de criptomoedas em volume de negociação. Recentemente a SEC começou a investigar a questão da informação privilegiada em mercados de moedas digitais contra a empresa. 

Os gestores da Coinbase reagiram de divulgaram um comunicado em que afirmam que a empresa não negocia valores mobiliários. A SEC parece não entender assim e caso realmente prevaleça sua posição, a Coinbase estaria dentro das normas do regulador. Parece ser o início de uma guerra entre a Coinbase e os reguladores. 


Chegamos na terceira empresa, a Robinhood Markets. É uma empresa de serviços financeiros, com mais de 15 milhões de usuários e uma carteira de criptomoedas de 2 milhões de usuários. Em agosto de 2021 a empresa abriu seu capital, com um preço de 38 dólares por ação, o que significa um valor de mercado de 32 bilhões. A ação chegou a valer 80 dólares, mas desde então sofreu um grande queda, conforme o gráfico.

A contabilidade da empresa apontou uma receita de 1,8 bilhão e um prejuízo de 3,7 bilhões. 

Futebol e contabilidade: Barcelona


Aqueles que gostam de futebol e estudam contabilidade sabem que esta época do ano também é o momento em que os clubes fazem as grandes transações com seus atletas. Os clubes europeus estão voltando de férias e o anúncio de reforços mantém as colunas esportivas. Um caso chama a atenção neste momento: o clube Barcelona. 

No ano passado, o clube tinha anunciado que não conseguia cumprir o Fair Play Financeiro, com uma dívida de 1,35 bilhão e uma folha de pagamento que representava 103% da receita. Isto terminou por provocar a saída do seu maior ídolo, Lionel Messi. 

Mas eis que um ano depois o clube começa a fazer contratações de forma surpreendente. Como conseguiu superar isto em menos de um ano? O Barcelona está usando uma forma alternativa de financiamento. Para obter 540 milhões, o clube vendeu  25% dos direitos de televisão. Os direitos, para os próximos 25 anos, foram vendidos para fundos, CVC e Sixth Street. 

En concreto, Sixth Street se ha llevado el 10% de los derechos de televisión del Barça por 207,5 millones de euros durante 25 años. Un préstamo que se ha calculado sobre la base de ingresos actual en este concepto que es de 166 millones. Es decir, 16,6 millones anuales de pago de intereses, que en 25 años serán 414 millones. El doble del dinero del préstamo. Un acuerdo nefasto.

Laporta  [presidente do clube] ha fiado todo al mundo especulador, y ha vendido lo mejor que tiene un club de esta categoría: sus derechos. Eso es algo que crece siempre y siempre va a dar rentabilidad. Todo para poder pagar salarios, deudas y fichar estrellas.

KPMG faz 125 anos de história

A empresa de auditoria KPMG comemorou, na terça passada, o seu 125o. aniversário. Não é para qualquer um.  Em comunicado (via aqui), a empresa anunciou que irá investir 12 milhões nos próximos cinco anos para ajudar a grupos sub-representados. Talvez seja uma boa ideia, já que a empresa foi multada, pelo Departamento de Justiça, por discriminar, no processo seletivo de trabalho, pessoas fora dos Estados Unidos. Isto depois de pagar outra multa por discriminar idosos e mulheres

Os últimos dias estão sendo movimentados para a Big Four. Estas empresas de auditoria tiveram um aumento nas receitas globais, segundo alguns números parciais. Há um grande fluxo de trabalho, o que pode deixar o gestor feliz, mas que leva a um grande número de horas trabalhadas

No final de julho, mais uma marca na história da empresa: multa, pelo regulador britânico, de 14,3 milhões de libras, por conta do trabalho feito na empresa Carillion. A multa não foi maior por conta da cooperação com o regulador, mesmo após a empresa ter fornecido informações e documentos falsos. 

Em abril deste ano o PCAOB aplicou a maior multa em uma pessoa jurídica: Scott Marcello deve pagar 100 mil dólares por ter recrutado ex-funcionários do próprio PCAOB, que passaram informações relevantes sobre a inspeção que seria realizada na KPMG.  

Fim do Doutorado da Unisinos

 A Unisinos comunicou que estaria fechando diversos cursos de doutorado da entidade

Entre os 26 PPGs oferecidos pela Unisinos, foram extintos os de história, arquitetura, biologia, ciências contábeis, ciências sociais, comunicação, economia, enfermagem, engenharia mecânica, geologia, linguística aplicada e psicologia. Os alunos que já faziam esses cursos manterão as bolsas de estudos e continuarão com as atividades acadêmicas até defenderem suas teses ou dissertações. O Conselho Superior Universitário (Consun) ainda precisa ratificar os fechamentos, o que deve acontecer no final de agosto, quando o órgão deliberativo da Unisinos se reunirá.

Os professores poderão ser absorvidos nos programas que persistirem. No caso de contábeis, há a possibilidade de alguns deles continuarem suas atividades na pós de administração. 

É uma notícia triste, já que o curso de mestrado da entidade foi o sexto do país e seu doutorado também era bastante tradicional. Sem dúvida nenhuma, o programa da Unisinos, em Ciências Contábeis, é um dos mais tradicionais. Ernani Ott foi um dos fundadores da Anpcont. 

Mas há uma impressão generalizada de uma crise de demanda na pós de contabilidade. Vários programas postergaram novas entradas. Diversas são as explicações para esta crise: questão econômica, redução de bolsas, demanda reprimida já atendida, falta de perspectiva de contratação após o curso e surgimento de áreas emergentes mais atrativas. 

Rir é o melhor remédio

 

Infra-estrutura moderna digital e o Excel

04 agosto 2022

Valor do Coliseu


A empresa de auditoria Deloitte, através da sua filial italiana, atribuiu um valor para o Coliseu. Segundo um estudo (via aqui), divulgado no site da empresa de auditoria, o monumento icônico da cidade de Roma tem um valor de 77 bilhões de euros. Somente sua contribuição com a economia italiana é de 1,4 bilhão por ano, segundo a Deloitte. 

A contribuição para o PIB é o parâmetro mais fácil de ser calculado. Em 2019, mais de 7 milhões de pessoas visitaram o Coliseu. Mas além do valor material, representado pelos benefícios econômicos que traz, o Coliseu tem um valor hedônico, representado, segundo a Deloitte, pelo prazer da proximidade e da vista. 

Mas o principal é o valor do Coliseu como ativo social, que no relatório da Deloitte recebeu a denominação de Valor do Ativo Social. 

na avaliação de um ativo icônico tão importante do patrimônio cultural do mundo, não se pode limitar a considerar apenas os benefícios financeiros que isso pode produzir, mas também o valor relacionado à importância que a sociedade reconhece na existência do bem, por todos os benefícios emocionais gerados por suas características únicas de ativos "icônicos", com mais de 2000 anos de história, o chamado valor da existência. Este valor de existência foi estimado, conforme sugerido pela literatura, referindo-se a quanto a comunidade estaria disposta a pagar (o chamado "Desejo de pagar") para preservar o bem, através do uso de técnicas de avaliação reconhecidas para a avaliação de ativos culturais e com base em uma pesquisa dedicada. 

A partir da pesquisa realizada para estimar o valor social do Coliseu, surgiu claramente a importância reconhecida pela sociedade. 97% dos entrevistados acreditam que a existência do Coliseu é muito importante ou importante. 87% dos entrevistados acreditam que o Coliseu representa a atração cultural mais importante em nosso país; 92% concordam que o Coliseu deve ser preservado em todas as circunstâncias. Além disso, mais da metade (52%) considera o Coliseu o principal fator na decisão de visitar Roma, apesar da imensidão do patrimônio histórico e cultural de nossa cidade. Finalmente, cerca de 30% dos entrevistados acreditam que apenas os italianos devem pagar pela conservação do Coliseu, enquanto que pelos 70% restantes, visitantes e em todo o mundo devem contribuir para a preservação do Coliseu, confirmando o valor reconhecido globalmente em nosso icônico ativo. 

Através do método do Método de Avaliação Continente, que se baseia na Disposição a Pagar detectada pela pesquisa realizada, foi estimado um valor de existência de 75,7 bilhões de euros, que foi adicionado ao valor relacionado às receitas geradas por ele (o chamado. valor da transação econômica) de 1,1 bilhão de euros, leva a um valor geral do Coliseu como ativo social de 76,8 bilhões de euros.

"Parei de ler notícias"


Um artigo de opinião de Amanda Ripley para o The Washington Post: Parei de ler as notícias. 

Então, um dia, uma amiga jornalista confidenciou que também estava evitando as notícias. Então eu ouvi de outro jornalista. E outro. (A maioria era mulher, notei, embora não todas.) Esta notícia sobre não gostar de notícias sempre foi sussurrada, um pequeno segredo sujo. Isso me lembrou a cena em "O dilema social" quando todos os executivos de tecnologia admitiram que não deixaram seus filhos usarem os produtos que haviam criado.

E isso chega ao cerne do problema aqui: se muitos de nós se sentirem envenenados por nossos produtos, pode haver algo errado com eles?

Mês passado, novos dados do Instituto Reuters mostrou que os Estados Unidos têm uma das maiores taxas de evasão de notícias do mundo. Cerca de 4 em cada 10 americanos às vezes ou frequentemente evitam o contato com as notícias - uma taxa mais alta do que pelo menos 30 outros países [vide gráfico a seguir]. E de forma consistente, em todos os países, as mulheres têm uma probabilidade significativamente maior de evitar notícias do que os homens. Afinal, não éramos apenas eu e meus amigos jornalistas hipócritas.

Por que as pessoas estão evitando as notícias?? É repetitivo e desanimador, geralmente de credibilidade duvidosa, e deixa as pessoas se sentindo impotentes, de acordo com a pesquisa. A evidência apóia sua decisão de recuar. Acontece que quanto mais notícias consumimos sobre eventos de vítimas em massa, como tiroteios, mais sofremos. Quanto mais notícias políticas ingerimos, mais erros nós fazemos sobre quem somos. Se o objetivo do jornalismo é informar as pessoas, onde está a evidência de que está funcionando?

Então, talvez haja algo errado com as notícias. Mas o que? Muitas pessoas dizem que o problema é viés. Jornalistas dizem que o problema é o modelo de negócios: a negatividade é click. Mas comecei a pensar que ambas as teorias estão perdendo a peça mais importante do quebra-cabeça: o fator humano.

As notícias de hoje, mesmo as de alta qualidade, não foram projetadas para seres humanos. Como Krista Tippett, jornalista e apresentadora do programa de rádio e podcast "On Being", coloca: "Na verdade, não acho que estamos equipados, fisiologicamente ou mentalmente, para receber notícias e fotos catastróficas e confusas. Somos criaturas analógicas em um mundo digital."

(...) Quando destilei tudo o que eles me disseram, descobri que há três ingredientes simples que estão faltando nas notícias como a conhecemos.

Primeiro, precisamos de esperança para acordar de manhã. Pesquisadores têm encontrado essa esperança está associada a níveis mais baixos de depressão, dor crônica, insônia e câncer, entre muitas outras coisas. Desesperança, por outro lado, está ligado à ansiedade, depressão transtorno de estresse pós-traumático e ... morte.

(...) Segundo, os humanos precisam de um senso de ação. (...) sentir que você e seus companheiros humanos podem fazer algo - mesmo algo pequeno - é como convertemos a raiva em ação, frustração em invenção. (...)

Finalmente, precisamos de dignidade. Isso também não é algo em que a maioria dos repórteres pensa, na minha experiência. O que é estranho, porque é essencial para entender por que as pessoas fazem o que fazem.(...)

P.S. Depoimento pessoal: parei de assistir notícias na televisão. E tenho evitado ler algumas notícias nos jornais. E minha decisão de parar o "rir é o melhor remédio" foi postergada. 

"Precisamos de mais estudos"


Eis a frase típica das conclusões de um artigo acadêmico. Faz sentido? Vamos para o Ciência Picareta, livro de Ben Goldacre:

um fato pouco conhecido é que essa frase ["há necessidade de mais pesquisas"] foi banida do British Medical Journal por muitos anos, pois não acrescenta nada; você pode dizer qual pesquisa falta ser feita, com quem, como, medindo o que e por que você deseja fazê-la, mas a afirmação superficial e aberta da necessidade de mais pesquisas é inútil e sem significado

Foto: Janko Ferlič

Londres e a lavagem de dinheiro


A revista Época publicou um texto sobre a lavagem de dinheiro em Londres. O texto completo pode ser encontrado aqui, mas destaco alguns pontos:

Todos os anos, US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,3 bilhões) é roubado das nações em desenvolvimento, e uma parcela significativa deste valor passa por Londres ou seus paraísos fiscais satélites — a "lavagem offshore".

O Banco Midland era um dos bancos da City de Londres. Era pequeno e queria crescer, mas as regras impediam que os bancos concorressem entre si em busca de clientes. Precisava de mais dinheiro.

Em 1955, o Midland teve uma ideia brilhante, mas dependia de outro banco, não muito distante, que tinha o problema oposto. O Narodny de Moscou tinha sede na City, mas era de propriedade da União Soviética. E seu cofre estava abarrotado de dólares.

"Eles temiam que os fundos fossem expropriados e confiscados se fossem colocados nos Estados Unidos, dado o crescente antagonismo da Guerra Fria. Por isso, o dinheiro acabou em Londres", explica Ogle.

Havia então um banco que tinha muito pouco dinheiro, e outro que tinha dinheiro demais... só o que faltava era encontrar uma forma de "driblar" as regulamentações.

Foi quando alguém dentro do Midland percebeu que o banco não precisaria comprar os dólares. Bastava apenas pedi-los emprestados, evitando as restrições britânicas à compra de moeda estrangeira.

Com estes dólares, o banco inglês poderia comprar libras esterlinas e emprestar em troca de juros. Já o Narodny não apenas deixaria seu dinheiro fora do alcance dos Estados Unidos, como ainda teria lucro.

Os detalhes da operação são inacreditavelmente complexos, mas sua essência era muito simples. O acordo permitiu que o Banco Narodny ganhasse dinheiro se esquivando das restrições americanas, e que o Banco Midland ganhasse dinheiro se esquivando das restrições britânicas.

(...) Se os financistas britânicos realmente quisessem ajudar seus clientes, precisariam de mais do que uma brecha legal; precisariam de lugares onde este dinheiro ficasse a salvo. Para a sorte deles, não foi preciso procurar muito para encontrá-los.

Perto de Londres, no Canal da Mancha, fica a ilha de Jersey — que, por quase mil anos, foi mais ou menos britânica: é governada pela monarquia britânica, mas não faz parte do Reino Unido; e usa a libra esterlina, mas estabelece seus próprios impostos. Esta combinação era potencialmente bastante rentável.

"Até o final da década de 1950, havia uma cláusula na constituição restringindo os pagamentos de juros, o que, de forma geral, limitava o uso da ilha como paraíso fiscal às pessoas que realmente viviam ali", afirma John Christensen, que ocupou altos cargos administrativos em Jersey e depois se tornou um ativista de destaque contra os paraísos fiscais.

Os lucros poderiam ser enormes, se a ilha se dispusesse a ser um pouco menos exigente. E foi o que aconteceu. Os políticos da ilha de Jersey eliminaram os incômodos obstáculos.

(...)Não existem muitos dados, especialmente de antes da década de 1980, sobre o que os ultrarricos de todos os tipos ocultavam nos paraísos fiscais.

Mas, de vez em quando, uma porta se abre — e é possível observar o que há por trás dela.

"Em duas ocasiões, nas décadas de 1960 e 1970, depois de grandes crises, foram revelados vínculos com o crime organizado, particularmente com a lavagem de dinheiro", conta Ogle.

"Mas são casos raros e, depois do fato, é feita uma investigação, e fica claro que isso sempre foi parte do que levou à expansão das jurisdições offshore."

"É extremamente difícil saber com precisão porque o segredo e o anonimato são o principal ativo vendido por essas jurisdições."

(...) Mas por que exatamente os britânicos são tão úteis para a lavagem de dinheiro?

"O Reino Unido é considerado, quase universalmente, uma jurisdição de baixo risco em termos de criminalidade", explica Barrow.

Se forem estabelecidas muitas empresas e muitas contas bancárias para estas empresas em diferentes jurisdições com normas flexíveis, é possível mover o dinheiro por meio delas.

E, se forem empresas britânicas, com diretores britânicos, tudo parece ser legítimo para o próximo país de destino.

"Estas empresas são criadas com facilidade", diz Barrow.

"Você pode pagar 12 libras (cerca de R$ 77) a partir de um computador em qualquer parte do mundo, dizendo que você se chama Darth Vader e mora na Lua, e criar uma empresa com estas informações."

(...)Falsificar deliberadamente as informações de uma empresa é ilegal, mas é um delito de baixo risco.

Aqueles que querem esconder seu dinheiro e movimentá-lo como quiser não enfrentaram obstáculos ao usar as estruturas corporativas do Reino Unido para ocultar sua identidade.

"Você se assustaria com a quantidade de casos na Companies House [o órgão governamental responsável pelo registro de companhias no Reino Unido], em que a empresa A é propriedade da empresa B, que é propriedade da empresa A... você pode ficar louco pesquisando isso!", exclama Barrow.

A Companies House enfrenta diariamente uma avalanche de fundações de novas empresas — e não tem poder nem recursos para verificar todas as informações fornecidas.

"Em um dia comum, cerca de 3,5 mil empresas se apresentam para registro. Cada uma fornece cerca de 15-20 pontos de dados separados. Assim, diariamente, isso representa cerca de 100 mil dados", diz Barrow.

"Como se pode monitorar tudo isso com recursos limitados e tecnologia antiquada? É impossível, e os criminosos sabem disso."(...)

50 anos de uma reportagem fundamental para pesquisa científica

 São poucas as vezes que uma reportagem pode alterar os rumos da ciências. Aconteceu há cinquenta anos com Jean Heller, da AP (foto abaixo).

A repórter recebeu de um colega uma dica sobre um experimento realizado pelo governo dos Estados Unidos desde 1932 em uma comunidade pobre do Alabama. O governo recrutava homens negros e indicaram que eles seriam tratados de doenças como anemia, fadiga e sífilis. Em troca da participação, homens receberiam exames médicos gratuitos, refeições gratuitas e seguro funerário. Mas o governo poderia fazer uma autopsia em caso de falecimento. 

Mais de 600 homens participaram (foto), mas um terço nunca receberam tratamento, mesmo existindo a penicilina desde os anos 40 para o tratamento de sífilis. O absurdo é que o experimento só parou após a publicação da reportagem, em 1972, ou décadas depois do início. 

A história ganhou diversos prêmios jornalísticos e ainda hoje tem seus efeitos. Recentemente, durante a pandemia, muitos negros recusaram a vacinação, lembrando a triste história de Tuskegee. 

Rir é o melhor remédio

 

Subida e queda

03 agosto 2022

Roupa e reunião no Zoom


Da revista Forbes:

A pesquisa da McKinsey demonstrou também que a roupa que vestimos afeta a forma como as outras pessoas nos percebem. E a surpresa é que elas também podem afetar o nosso desempenho.

Um experimento com dois grupos que usavam jalecos mostrou uma diferença de desempenho de acordo com o nome dado à peça. O primeiro grupo, em que o nome dado foi “jaleco”, teve uma performance notável. No outro grupo, em que a roupa era chamada de “avental de pintura”, não foi observado efeito algum. Os autores do experimento chamaram esse fenômeno de “cognição incorporada”. Uma tentativa recente de repetição da experiência não produziu os mesmos resultados, mas os autores concluíram que o conceito permanece válido.

É preciso tomar um certo cuidado, pois a pesquisa foi realizada por uma entidade não científica - a empresa de consultoria McKinsey - e o próprio texto afirma que a repetição não produziu os mesmos resultados. Finalmente, a pesquisa não foi validada através da publicação em um periódico científico.

Mas sabemos que a roupa é uma forma de sinalização e isto talvez possa ocorrer nas reuniões online. 

Foto: Anthony Tran

Celebridades e Emissão

Um site rastreou algumas celebridades e montou um ranking das pessoas que mais "emitiram" carbono a partir das viagens com seus jatos particulares:


Swift esclareceu que muitas viagens rastreada não tinha sua presença.

Imposto de solteiro


Entre as muitas curiosidades tributárias, recentemente encontrei sobre o imposto de solteiro (bachelor tax), que é um tributo punitivo para os homens com este estado civil. 

Historicamente o casamento foi uma parte importante das sociedades, seja por questões nacionalistas ou por ser também uma questão de raça ou uma forma de inibição do homossexualismo. No antigo Pacto de Varsóvia, o imposto era uma forma de incentivar a geração de filhos nos países comunistas. 

Talvez o caso mais interessante seja o da Argentina:

Um imposto de solteiro existia na Argentina por volta de 1900. Homens que pudessem provar que haviam pedido a uma mulher que se casasse com eles e haviam sido rejeitados estavam isentos do imposto. Isso deu origem ao fenômeno das "rejeitadoras profissionais", mulheres que por uma taxa jurariam às autoridades que um homem havia proposto a elas e elas haviam recusado.

Título e missão de um periódico

Sabemos que o nome de uma pessoa está vinculada ao sucesso ou fracasso de sua vida pessoal. Mas isto é válido para um periódico? Aparentemente sim. Julián D. Cortés explora como o nome e a missão de um periódico pode trazer informações sobre um periódico. Usando uma amostra de 1500 periódicos da área de negócios, administração e contabilidade, Cortés fez algumas descobertas interessantes. 

Em primeiro lugar, o número médio de caracteres dos títulos dos periódicos foi de 35. A missão do periódico é reveladora. Separando os periódicos em dois grupos, os 10% melhores e os 10% piores, foi encontrado para o piso inferior o seguinte:

Para os periódicos de mais prestígio, a missa lidava com outro tipo de termo:
A própria legibilidade da missão também é esclarecedora:
Os países ibero-americanos não tiveram um bom desempenho. 


Cinco maneiras de lutar contra a desinformação


Segundo Tim Harford:

1. Muita desinformação é simples demais - basta parar um pouco para saber que fruta cítrica não combate o covid. 

2. Devemos desacelerar e prestar atenção na nossa reação - não caímos no conto por sermos estúpidos, mas por sermos emotivos. 

3. Temos aliados - há verificadores de boatos e céticos que verificam a desinformação

4. A descrença também pode ser ruim e termina por reduzir o impacto de uma realidade triste

5. Não devemos perder de vista o que importa

Todo artigo de jornal que você leu, todo debate político que assistiu, toda conversa que teve e todas as postagens de mídia social que você já pensou em compartilhar - todos eles o prepararam para a tarefa desafiadora e essencial de assumir a responsabilidade pelo que você lê, compartilha, acredita e não acredita.

Imagem: Markus Winkler

Rir é o melhor remédio

 

Servimos auditores fiscais

02 agosto 2022

Primeiro experimento da história


Talvez não seja o primeiro experimento, mas um dos mais antigos narrados. Do livro de Daniel, da Bíblia, no reinado de Nabucodonosor. Este rei que deu ordem ao chefe dos eunucos cuidar da alimentação dos judeus, com uma dieta e vinho:

Daniel tomou a resolução de não se contaminar com os alimentos do rei com seu vinho. Pediu ao chefe dos eunucos para dês se abster [de animais impuros e de vinho]. Este, graças a Deus, tomado de benevolência para com Daniel, atendeu-o de boa vontade, mas disse-lhe: 

"Temo que o rei, meu senhor, que estabeleceu vossa alimentação e vossa bebida, venha a notar vossas fisionomias mais abatidas do que as dos outros jovens de vossa idade, e que por vossa causa eu me exponha a uma repreensão da parte do rei". 

Mas Daniel disse ao dispenseiro a quem o chefe dos eunucos havia confiado o cuidado de Daniel, Ananias, Misael e Azarias: 

"Rogo-te, faze uma experiência de dez dias com teus servos: que só nos sejam dados legumes a comer e água a beber.  Depois então compararás nossos semblantes com os dos jovens que se alimentam com as iguarias da mesa real e farás com teus servos segundo o que terás observado". 

O dispenseiro concordou com esta proposta e os submeteu a prova durante dez dias. No final deste prazo, averiguou-se que tinham melhor aparência e estavam mais gordos do que todos os jovens que comiam das iguarias da mesa real. 

O experimento é uma técnica bastante usada na ciência. No exemplo, temos um típico experimento, onde um grupo recebe um tratamento e outro mantém com a melhor alternativa considerada então disponível. Se o resultado for favorável ao grupo submetido ao experimento, a nova técnica deve ser adotada. Há algumas nuances que consideramos no dias atuais, como a randomização da amostra. Mas isto é um pequeno detalhe da história.

O texto foi citado no excelente livro Ciência Picareta, de Ben Goldacre, na página 55. Imagem: aqui

Empresas Chinesas na bolsa dos EUA: impasse ainda persiste


O presidente da Comissão de Valores Mobiliários, a SEC, Gary Gensler, afirmou na quarta-feira passada que ainda é necessário um acordo, entre os EUA e a China, para que as empresas chinesas, com ações na bolsa dos EUA, não sejam expulsas. O acordo envolve o acesso aos documentos de trabalho da firma de auditoria. A eventual expulsão envolve 200 empresas chinesas, incluindo o grupo Alibaba

Com 20 anos de idade, completados no domingo, a lei Sarbox criou uma série de quesitos para as empresas, inclusive o acesso do fiscalizador das auditorias, o então recém-criado PCAOB. Entretanto, a China sempre travou este acesso. Em 2020 o impasse ficou pior com uma lei que poderia forçar a saída da Nasdaq e da Bolsa de Nova York, em 2024, se o PCAOB não tivesse acesso aos documentos de trabalho.

O PCAOB já inspecionou 4.300 empresas de 58 países, com revisão de mais de 15 mil auditorias.

As muitas maneiras de avaliar o meio-ambiente

 


Existem mais de 50 maneiras de valorizar o meio ambiente, mas a maioria das pesquisas e políticas se concentra em apenas alguns métodos. Isso inclui contar espécies e avaliar o custo da substituição de um serviço prestado por natureza. No entanto, avaliar a natureza em termos puramente monetários também pode ser prejudicial às pessoas e ao meio ambiente (1), de acordo com a maior avaliação mundial da avaliação ambiental.

“A formulação de políticas desconsidera amplamente as múltiplas maneiras pelas quais a natureza é importante para as pessoas”, especialmente os indígenas e as comunidades de baixa renda, diz o relatório do Painel Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES).

Por exemplo, em propostas de barragens hidrelétricas, as necessidades das comunidades afetadas são frequentemente vistas como secundárias (2) às dos consumidores urbanos - especialmente se as comunidades precisam ser deslocadas, resultando em pessoas perdendo meios de subsistência e sendo obrigadas a mudar seu modo de vida, o relatório encontra.

A falha mundial em avaliar adequadamente a biodiversidade causou um declínio a longo prazo em uma variedade de serviços que o meio ambiente fornece, disse Anne Larigauderie, ecologista que lidera o secretariado do IPBES em Bonn, Alemanha, no lançamento do relatório em 11 de julho. "A capacidade de polinizar as culturas ou regular a água está em declínio há 50 anos", disse ela.

Há fortes evidências de que avaliar a natureza com base nos preços de mercado está contribuindo para a atual crise da biodiversidade, disse Unai Pascual, economista do Centro Basco de Mudanças Climáticas em Leioa, Espanha, no lançamento em Bonn. "Muitos outros valores são ignorados em favor do lucro e do crescimento econômico a curto prazo", acrescentou Pascual, que co-presidiu a avaliação.

Um resumo para os formuladores de políticas foi aprovado por 139 governos em 8 de julho. Espera-se que o relatório completo de avaliação seja divulgado antes da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, que ocorre em Montreal, Canadá, em dezembro. Espera-se que os delegados desta reunião cheguem a acordo sobre um novo conjunto de metas e indicadores para a conservação da biodiversidade.

Estudos da natureza

Oitenta e dois pesquisadores de todo o mundo, com áreas de especialização em ciências, ciências sociais e humanas, identificaram 79.000 estudos em avaliação ambiental e descobriram que seu número vem aumentando 10% ao ano há 4 décadas. Mas poucos desses estudos são adotados pelos formuladores de políticas. Os pesquisadores selecionaram 1.163 dos estudos para uma revisão aprofundada e descobriram que apenas 5% desses casos eram recomendações adotadas pelos tomadores de decisão.

Metade dos estudos selecionados para uma revisão aprofundada utilizou indicadores biofísicos, como número de espécies ou quantidade de biomassa florestal. Outros 26% usavam indicadores monetários, como quanto custaria se a polinização precisasse ser realizada por seres humanos ou os valores que os governos pagam aos agricultores para conservar a biodiversidade em terras agrícolas.

Apenas um quinto dos estudos valorizou a biodiversidade de acordo com critérios socioculturais. Aqueles que incluíram estudos sobre a importância para as pessoas de um local sagrado e pesquisas sobre o valor que alguém atribui ao local onde cresceram. Os valores socioculturais não têm necessariamente uma quantidade numérica ou preço. O valor dos locais sagrados não precisa ser transformado em dólares, ou euros, disse o co-autor do IPBES, Sander Jacobs, ecologista do Instituto de Pesquisa da Natureza e Florestas de Bruxelas, no lançamento do relatório.

Os autores do relatório descobriram que a maioria dos estudos não considera vários valores, mesmo quando as evidências mostram que isso leva a melhores resultados para o meio ambiente. A equipe descobriu que poucos cientistas consultam ou envolvem as pessoas que vivem e trabalham em regiões de alta biodiversidade. Apenas 2% dos estudos revisados em profundidade relataram ter feito isso. E apenas 1% envolveu pessoas em todas as etapas, desde a criação de um estudo até a publicação. "O envolvimento das partes interessadas é principalmente básico, incluindo as partes interessadas como provedores de dados e informações", diz o relatório.

“Precisamos construir coalizões de cientistas de diferentes disciplinas. Mas a ciência também precisa de aliados ”, diz Pascual. “Os cientistas precisam ser humildes e convidar aqueles que representam outras maneiras de conhecer. Essa coalizão poderia fornecer uma abordagem orientada a soluções para a biodiversidade e as crises climáticas."

Fonte: Nature

(1) grifo do blog. Parece importante e contradiz o senso comum que devemos mensurar para gerenciar.

(2) aqui parece que o problema não está no método, mas na forma como é empregado. O negrito a seguir é do blog

Twitter e Musk

 O gráfico da Statista conta a história recente do processo de aquisição do Twitter por parte de Elon Musk

Desde que o principal acionista da Tesla anunciou que pretendia comprar e fechar o capital do Twitter, as ações da Tesla e do Twitter sofreram variações com as notícias. Quando o bilionário fez uma pausa na aquisição, as ações caíram. Isto foi em maio. A aprovação do processo não fez recuperar o preço. 

Sobre este assunto, recomendo fortemente o artigo de Matt Levine que tem um subtítulo bem interessante: Musk perdeu o interesse em fingir comprar o Twitter. O texto é bem longo e Levine destrói os argumentos de Musk. 

Meta longe do valor máximo

 

Eis a evolução das ações da empresa Meta (ou Facebook). De um valor de 380 por ação, em 2021, a ação chegou a 160, o mesmo valor de 2020. Em termos de valor de mercado total, a empresa viu desaparecer 650 bilhões de valor em dez meses. 

Na sexta a empresa deixou de estar entre as dez maiores por valor de mercado dos Estados Unidos:

Há várias explicações para o comportamento do mercado: redução da receita, aumento das despesas, restrição de rastreamento nos iPhones da Apple (e efeito sobre receita) e processos legais. E parece que o consumidor está cansado da empresa. 

DRE de forma visual

Como a Apple tem lucro? Eis um gráfico

E o Google:

A Microsoft
Amazon

Desonestos, seleção e persistência da corrupção


A questão da desonestidade é cara no setor público. Diversos estudos mostraram que isto também pode estar vinculado a chance de ser funcionário público. Em países como a Dinamarca, ser funcionário público é destinado as pessoas honestas. Eis a ideia:

La noción de que se pueden generar círculos viciosos o virtuosos es consistente con evidencia empírica que muestra que hay una relación inversa entre el nivel de corrupción en el sector público de un país y la integridad de quienes se interesan por la función pública. En India, donde existe la percepción de que la corrupción es un fenómeno extendido, estudiantes universitarios más deshonestos muestran mayor interés en ser funcionarios públicos (Hanna y Wang, 2017). En Dinamarca, país caracterizado por la baja percepción de corrupción, son los individuos más íntegros los que manifiestan una mayor preferencia por un empleo en el sector público (Barfort, Harmon, Hjorth y Olsen, 2019).

La idea de que las rentas de la corrupción pueden atraer a la función pública a individuos más proclives a incurrir en actos corruptos no es nueva (Besley, 2005), pero la evidencia empírica escasea por la dificultad de hacer una estimación causal de esta relación. Esta estimación requiere i) tener una medida de integridad a nivel individual y ii) contar con una variación exógena en la disponibilidad de puestos de trabajo con y sin oportunidades de extracción de rentas.

A grande questão é que o processo seletivo dever levar em consideração a luta contra a corrupção. A melhoria da contratação passa por levar em consideração o passado de honestidade de uma pessoa:

Los resultados también son relevantes para las políticas de lucha contra la corrupción, pues sugieren que i) es importante tener en cuenta los posibles efectos sobre la selección a la hora de diseñar normas e incentivos en una organización (como se advierte aquí), y ii) la mejora de las prácticas de contratación del sector público (como las analizadas aquí y aquí) debería ser un foco central de la reforma en los lugares donde se percibe que la corrupción es frecuente.

Rir é o melhor remédio


 

Congresso de História em Portugal

Irá realizar-se em Coimbra (26 Novembro, 2022 - Sábado) em regime híbrido uma jornada de história da contabilidade organizada pela Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade (APOTEC) e pelo ISCAC-Coimbra Business School. Este congresso ocorre no âmbito das comemorações do 45.º aniversário da APOTEC.

A submissão de trabalhos está aberta, conforme o seguinte documento: https://www.apotec.pt/fotos/editor2/45_anos/programa_pt.pdf 

 Miguel Gonçalves, ISCAC | Coimbra Business School.

01 agosto 2022

Shakira e o fisco


Shakira, a cantora colombiana, está sendo processada por conta de uma dívida de 14,5 milhões. Este valor refere-se a imposto no período entre 2012 e 2014. A cantora recusou um acordo e por isto a dívida aumentou, de 14,5 para 24 milhões. Ela nega a irregularidade e seus representantes dizem que a cantora está tendo seus "direitos violados" (sic). 

O problema é que a justiça espanhola afirma que no período Shakira morou na Espanha e deve impostos. Mas a cantora nega, mesmo diante da evidência que comprou uma casa em Barcelona. Sua fortuna é estimada em 300 milhões, então o valor da multa não é tão elevada assim. (Foto: aqui)

Educação Financeira no Brasil

 O resumo é bem confuso:

Em 2011, foi realizada a análise de impacto de um programa de educação financeira abrangente para o ensino médio por meio de um RCT (randomized control trial) com 892 escolas em seis estados brasileiros. Usando dados administrativos, este artigo acompanha aproximadamente 16,000 [16 mil] estudantes ao longo dos nove anos seguintes ao programa. Os resultados de curto prazo indicavam que os alunos o [do] grupo tratamento utilizavam crédito caro e atrasavam pagamentos. Entretanto, nos resultados de longo prazo, esses alunos tiveram menor probabilidade que os alunos do grupo de controle de tomar créditos com juros altos e de apresentarem atrasos. Os alunos do grupo tratamento também tiveram maior probabilidade de serem microempreendedores individuais e menor probabilidade de estarem formalmente empregados.

Vejo que o estudo tem dois aspectos interessantes: acompanha a influência da educação financeira com um número relativamente grande de estudantes no longo prazo e encontrou que os programas possuem influência neste longo prazo. As conclusões estão melhores:

Este documento mede os efeitos a longo prazo de um programa de educação financeira de ensino médio no Brasil sobre o comportamento financeiro e os resultados do emprego, utilizando um ensaio de controle aleatório com 892 pessoas escolas secundárias e dados administrativos sobre cerca de 16.000 ex-alunos. Ao contrário da literatura anterior que se concentra em efeitos de curto prazo durante um a dois anos, seguimos os estudantes por até nove anos depois de deixar o ensino médio.
Enquanto algumas literaturas têm colocado a hipótese de que os efeitos a longo prazo do ensino médio estar em declínio ou zero à medida que os estudantes esquecem o que aprenderam, encontramos efeitos duradouros. Na verdade, o o efeito sobre o uso de fontes de crédito caras vai de ser positivo a curto prazo a ser negativo a longo prazo. Isto é, a longo prazo, é menos provável que os estudantes de tratamento usem fontes de crédito que controlam os estudantes, mesmo que o contrário fosse verdade a curto prazo. Da mesma forma, no curto prazo, os estudantes relataram mais empréstimos com atrasos de reembolso do que estudantes de controle, mas encontramos o resultado oposto a longo prazo: os estudantes de tratamento são menos prováveis ter empréstimos com atrasos de reembolso do que controlar os estudantes. Também observamos efeitos de longo prazo nos resultados do mercado de trabalho. Os estudantes são mais propensos a ter microempresas formais e menos propensos a trabalhar como funcionários formais. Estes efeitos podem ser atribuído ao fato de que o programa de educação financeira era abrangente e incluía módulos sobre empreendedorismo. Além disso, o empreendedorismo pode ser uma opção mais desejável do que um emprego formal, em termos de renda, independência ou flexibilidade (Maloney 2004). 

Pareceu forçado a última frase. Chama atenção o fato do gênero ser uma variável relevante (Tabela 1), quando o grupo de controle não seria razoável esperar isto. Idem para o fato de renda do estudante (mesma tabela). 


Relevância do TCU nos anos recentes


Esta pesquisa teve por objetivo investigar a transformação no Tribunal de Contas da União (TCU), um órgão que, após mais de 100 anos exercendo um papel secundário, tornou-se determinante para as políticas públicas no século XXI. A pergunta central da pesquisa é: que mecanismos causais explicam os processos de mudança institucional observados no TCU – e, subsidiariamente, no subsistema da política de controle – entre 1988 e 2018? (...) A principal fonte de dados empíricos foram os Relatórios e Pareceres Prévios do TCU sobre as contas do presidente da República, documentos virtualmente inexplorados em trabalhos de ciência política. Foram usados também os Relatórios Anuais de Atividades do TCU. Juntos, esses documentos somam mais de 14 mil páginas. (...) Os resultados do primeiro e do segundo ensaios apontaram indícios relevantes da incidência dos mecanismos de aprendizado político, consequência funcional, dependência da trajetória e feedback positivo. Quanto a mudanças graduais, houve fortes indícios da presença dos mecanismos de conversão e de sobreposição. Outros dois fenômenos detectados foram isomorfismo e viés de accountability. y. Já o terceiro ensaio sugere que os determinantes da explosão de auditoria propostos na teoria estavam presentes no Brasil, porém em formas, tempos e intensidades bem diferentes do Reino Unido e dos Estados Unidos. Sugere ainda um importante ponto de divergência: a centralidade da corrupção, no caso brasileiro, para o processo de expansão do controle – algo que não está presente na teoria. Mais do que investigar os tipos de mecanismos por trás da transformação no TCU e no subsistema da política de controle, o estudo da mudança institucional empreendido nesta tese ajuda a desvendar processos políticos (de disputa por poder e autoridade) envolvendo agentes (individuais e coletivos) e estruturas. (...)
 

Da tese de doutorado de Patrícia Vieira . Acho que os aspectos mais relevantes estão no final do trabalho: 

Com o passar do tempo há indícios de aumento das capacidades do TCU, que passou a produzir Relatórios e Pareceres Prévios mais críticos no período FHC (1995-2002). O Tribunal começou a trazer recomendações de outras fiscalizações para dentro dos Relatórios e Pareceres Prévios, e a levar recomendações desses últimos para outras fiscalizações, entrelaçando seus instrumentos e tornando todos mais impositivos. Além e fazer recomendações com status de determinações, o TCU começou a fazer recomendações em auditorias de desempenho, e a ampliar seu rol de controlados – tudo isso viabilizado por mecanismos graduais de conversão (nos primeiros dois casos) e sobreposição (no terceiro caso).

Na era Lula (2003-2010), o TCU demonstrou maior nível de maturidade e organização na apreciação das contas residenciais, com posturas ainda mais críticas. Aumentou o entrelaçamento entre os instrumentos do Tribunal. Foram ampliadas a quantidade de auditorias operacionais, e as áreas de políticas públicas cobertas. Foi nesse período que o TCU deu início à edição de instruções normativas que ampliavam o alcance de seu controle, via mecanismo de sobreposição. Os mecanismos graduais do estágio anterior se mantiveram funcionando.

No governo Dilma (2011-2016), os mecanismos de mudança gradual presentes nos estágios anteriores também se fizeram presentes. Naquele momento, o TCU parecia sentir-se à vontade na ativação desses mecanismos. E também apresentava muito mais desenvoltura nos seus Relatórios e Pareceres Prévios sobre as contas presidenciais. Ao rejeitar as contas de 2014, mostrou destreza no uso de regras, práticas e narrativas para justificar sua decisão.

No governo Temer (2017-2018), a despeito de aparentemente continuarem incidindo todos os mecanismos de conversão e de sobreposição dos estágios anteriores, o TCU sofreu alguns revezes. Viu falhar (em parte) sua tentativa de criar atribuições para si mesmo nos acordos de leniência por sobreposição. A CGU acionou o STF contra a instrução normativa que o Tribunal havia sobreposto à Lei Anticorrupção para ter mais poderes sobre os acordos de leniência. E o Supremo concedeu liminar favorável à AGU.

Esse episódio realça algumas das disfunções do subsistema, como a competição exagerada entre controladores e, principalmente, a sobreposição de atribuições entre os órgãos de controle. Para completar, apesar da oposição do TCU, foi aprovada a nova LINDB, que retirou algumas das amarras impostas pelos controladores à atuação dos gestores públicos.

O mais interessante vem agora:

Ao longo de todos os cinco estágios descritos acima, o TCU difundiu narrativas sobre a importância do combate à corrupção e do bom uso dos recursos públicos, colocando o Tribunal como a organização capaz de garantir ambos (e o Poder Executivo muitas vezes como, no mínimo, incompetente). Com o passar do tempo, essas narrativas foram complementadas por outras sobre a eficiência do próprio TCU, e sobre seu papel no aprimoramento das políticas públicas, inclusive em processos decisórios. Tais narrativas apareceram nos documentos analisados não só em forma de texto, mas também de imagens que destacam a organização, a eficiência e o status do TCU e de seus membros.

Uma das maiores curiosidades do primeiro ensaio foi mostrar o TCU se comportou tanto como agente oportunista quanto como agente subversivo

Política e Mídia Social

 O trabalho foi realizado no Brasil e focou na expansão da mídia social. O abstract:

We study the relationship between the spread of social media platforms and the communication and responsiveness of politicians towards voters, in the context of the expansion of Facebook in Brazil. We use self-collected data on the universe of Facebook activities by federal legislators and the variation in access induced by the spread of the 3G mobile phone network to establish three sets of findings: (i) Politicians use social media extensively to communicate with constituents, finely targeting localities while addressing policy-relevant topics; (ii) They increase their online engagement, especially with places where they have a large pre-existing vote share; but (iii) They shift their offline engagement (measured by speeches and earmarked transfers) away from connected municipalities within their base of support. Our results suggest that, rather than increasing responsiveness, social media may enable politicians to solidify their position with core supporters using communication strategies, while shifting resources away towards localities that lag in social media presence.

O último parágrafo da conclusão é desanimador:

With those caveats in mind, our evidence provides additional reasons to be skeptical of positive effects of social media on political accountability, even leaving aside concerns with “fake news” or misinformation that have become widespread in recent years. Social media can empower politicians relative to voters, and make them overall less responsive as a result.

Risco de Default

 

A Bloomberg classificou o Brasil como o 11o. em termos de risco de default. A figura acima é um extrato, mostrando que estamos melhor que Ucrânia, Argentina, El Salvador (maior risco e que adotou Bitcoin no passado). Mas pior do que Costa Rica, Equador, Turquia entre outros.

Mas é estranho, pois a taxa de juros interna não é alta, o seguro da dívida está abaixo de 300 pontos (a média dos países com melhor classificação que o Brasil é de 757 pontos). O que pesa contra: despesa financeira em relação ao PIB e a dívida do governo. 

Escrita científica piorou?


A linguagem científica deveria ter pouco adjetivo e advérbio. Mas parece que isto não aconteceu, entre 1969 a 2019. 

Writing in a clear and simple language is critical for scientific communications. Previous studies argued that the use of adjectives and adverbs cluttered writing and made scientific text less readable. The present study aims to investigate if the articles in life sciences have become more cluttered and less readable across the past 50 years in terms of the use of adjectives and adverbs. The data that were used in the study were a large dataset of 775,456 scientific texts published between 1969 and 2019 in 123 scientific journals. Results showed that an increasing number of adjectives and adverbs were used and the readability of scientific texts have decreased in the examined years. More importantly, the use of emotion adjectives and adverbs also demonstrated an upward trend while that of nonemotion adjectives and adverbs did not increase. To our knowledge, this is probably the first large scale diachronic study on the use of adjectives and adverbs in scientific writing. Possible explanations to these findings were discussed.

(via aqui)

Poderia argumentar que é a língua inglesa, mas hoje quase todas as ciências produzem nesta língua. 

Foto: aqui

Transformação digital

 


The increasing digitalization of economies has highlighted the importance of digital transformation and how it can help businesses stay competitive in the market. However, disruptive changes not only occur at the company level; they also have environmental, societal, and institutional implications. This is the reason why during the past two decades the research on digital transformation has received growing attention, with a wide range of topics investigated in the literature. The following aims to provide insight regarding the current state of the literature on digital transformation (DT) by conducting a systematic literature review. An analysis of co-occurrence using the software VOSviewer was conducted to graphically visualize the literature’s node network. Approached this way, the systematic literature review displays major research avenues of digital transformation that consider technology as the main driver of these changes. This paper qualitatively classifies the literature on digital business transformation into three different clusters based on technological, business, and societal impacts. Several research gaps identified in the literature on DT are proposed as futures lines of research which could provide useful insights to the government and private sectors in order to adapt to the disruptive changes found in business as a result of this phenomenon, as well as to reduce its negative impacts on society and the environment.
 

Via aqui

Religiosidade e Gerenciamento de Resultado

eis uma pesquisa muito interessante: religiosidade e gerenciamento de resultado. 

 A literatura internacional aponta evidências da relação entre religiosidade e os tipos de gerenciamento de resultados em países não adotantes das International Financial Reporting Standards. Diante disso, o objetivo do estudo é investigar a associação entre a religiosidade e o gerenciamento de resultados, em um país adotante das normas internacionais. O gerenciamento de resultados foi estimado por meio dos accruals e das atividades reais para uma amostra de 122 companhias listadas na Brasil, Bolsa, Balcão no período de 2010 a 2017. A religiosidade correspondeu ao percentual de pessoas que declararam possuir religião no município da sede da empresa. Por meio de regressão pelo método Ordinary Least Squares, com dados em painel, verificou se que a religiosidade está negativamente associada ao gerenciamento de resultados por meio dos accruals e positivamente associada ao gerenciamento de resultados por meio das atividades reais. Esse resultado pode ser explicado pela aversão ao risco, norma social utilizada na literatura para caracterizar os religiosos. Em ambientes religiosos, portanto com maior aversão ao risco segundo essa literatura, o gestor tenderia a utilizar mais o gerenciamento de resultados por meio das atividades reais e menos gerenciamento de resultados por meio dos accruals em função do risco de detecção por auditores e órgãos reguladores. A pesquisa contribui com a expansão do entendimento dos aspectos delineadores da qualidade da informação contábil, sob a vertente do gerenciamento de resultados, bem como incrementa as pesquisas sobre gerenciamento de resultados, ao indicar a religiosidade como variável adicional nos modelos. A medida de religiosidade é uma limitação do estudo, pois a declaração dos respondentes pode diferir da prática e a medida também está sujeita a variações por bairro ou regiões, em empresas localizadas em municípios maiores.

Santos, S. M., Lemes, S., & Almeida, N. S. (2022). Evidências do impacto da religiosidade no gerenciamento de resultados no Brasil. Revista de Contabilidade e Organizações, 16:e186587. DOI: http://dx.doi. org/10.11606/issn.1982-6486.rco.2022.186587

Trecho da tabela 4, com os principais resultados, estão a seguir: