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14 julho 2022

Grupos versus indivíduos

Eis um trecho de uma discussão sobre a moralidade individual versus grupo:

El 13 de marzo de 1964, Kitty Genovese fue apuñalada frente a su casa en Queens, Nueva York. Las autoridades estimaron que al menos 38 personas presenciaron el ataque desde sus ventanas y, sin embargo, ninguno de ellos llamó a la policía ni a una ambulancia (ver aquí otra versión de la historia). Kitty murió a causa de las heridas una hora más tarde. Mientras que los medios explicaban la falta de ayuda utilizando conceptos como “apatía”, “alienación” o incluso “indiferencia”, los psicólogos Darley y Latané argumentaron que probablemente nadie ayudó porque todos esperaban que otra persona lo hiciera. Utilizando dos experimentos, demostraron que la gente tiende a ayudar menos cuando creen que otra gente está presente. Definieron este fenómeno como el Bystander Effect (o efecto espectador).

Desde entonces, centenares de experimentos han replicado estos resultados, efectivamente demostrando que, en la mayoría de las situaciones, la gente es menos propensa a ayudar cuando hay otra gente presente que cuando están solos (aquí y aquí). Sin embargo, el hecho de que las personas ayuden menos cuando están en un grupo no significa que sea más probable recibir ayuda de una persona sola que de un grupo. Por ejemplo: si la gente ayuda con un 50% de probabilidad cuando están solos y con un 40% de probabilidad cuando están junto a otra persona, la probabilidad de que alguien te ayude es de un 50% cuando una sola persona puede ayudarte, pero de un 64% cuando dos personas te pueden ayudar (pues cada una de las personas ayuda con un 40% de probabilidad). Así pues, si necesitas ayuda, ¿deberías preferir que una persona te pueda ayudar, o que un grupo de personas pueda ayudarte? ¿Habría Kitty recibido ayuda si en vez de 38 espectadores hubiera habido solo uno?

Empíricamente los resultados no están claros. En el último metaanálisis sobre el Bystander Effect, el 40% de los estudios encuentra que las “víctimas” reciben más ayuda cuando solo hay una persona que cuando hay un grupo, y el 60% de los estudios encuentra lo contrario.

O caso de Genovese tornou-se um parâmetro da discussão. Rutger Bregman, em Humanidade, mostra que há diversas incoerências na narrativa. Bregman é otimista com o ser humano.

13 julho 2022

Viés da Confirmação



Um aspecto bom das finanças comportamentais é que vários dos seus conceitos são explicativos. O viés da confirmação é um deles. Como o nome diz, o viés refere-se a tendência a considerarmos a informação que confirma algo que acreditamos anteriormente. Isto inclui interpretar de maneira tendenciosa algo vago, desde que apoie àquilo que consideramos como correto. 


A figura a seguir resume o viés. Eu tenho uma crença prévia, que pode ser sobre religião, saúde, finanças ou qualquer outro assunto. Aparece uma informação sobre o tema. Se esta informação confirmar minha crença prévia, eu valorizo esta informação (é a nota dez da figura, na parte de cima). Se a informação não confirma ou contradiz o que acredito, eu coloco dúvidas na informação ou desconsidero. Isto é feito, em muitas situações, de forma sutil, sem que o processo da confirmação seja fruto de algo racional e claro. 


Outra forma de entender o viés da confirmação está na próxima figura. Quando os fatos encontram com sua crença sobre um determinado assunto, temos a tendência a superestimar tais fatos. Quando isto não ocorre, subestimamos a relevância dos fatos, por não satisfazer nossas crenças. 


 

Ao contrário do que podemos pensar, nossas opiniões não são resultantes de anos de análise racional e objetiva (1). Mas sim resultado de anos em que você voltou sua atenção para as informações que confirmavam aquilo que você acreditava, enquanto deixava de lado todas as coisas que desafiavam suas noções previamente definidas. 

***

Um experimento interessante foi realizado para mostrar como o viés da confirmação atua (2). Um grupo de pessoas assistiu um vídeo de uma garota respondendo a um teste. As pessoas também assistiram esta garota na aula. Após isto, as pessoas são convidadas a dar uma nota para o provável desempenho da menina em ciências, artes e matemática. O resultado obtido será necessário para fazer a comparação com as notas que foram dadas no segundo experimento. 


Novamente, as pessoas são convidadas a assistir um vídeo. Desta vez, para metade das pessoas, a garota está brincando em um bairro de classe alta; para outra metade, a garota está brincando em um bairro de classe baixa. As pessoas não assistem mais nada, mas são convidadas a dar uma nota para o que seria o desempenho da garota em ciências, artes e matemática. A menina é a mesma do primeiro experimento e a mudança que ocorreu é que o vídeo dela em sala de aula foi trocado por um vídeo brincando. As pessoas que assistiram o vídeo da garota brincando em um bairro de classe alta atribuíram uma nota mais alta em ciências, artes e matemática do que o primeiro experimento. Mas o grupo de pessoas que viu a garota brincando no bairro de classe baixa achava que seu desempenho seria pior do que aquele obtido no primeiro experimento e, naturalmente, bem pior quando a garota estava brincando no bairro de classe alta. 


Os pesquisadores prosseguiram com o experimento, agora juntando o primeiro experimento com o segundo. Para um grupo, foi mostrado um vídeo da garota brincando em um bairro de classe alta; depois, a menina responde a um teste e em sala de aula e finalmente atribuem uma nota para seu provável desempenho. A outra metade das pessoas fazem a mesma tarefa, só que a garota aparece brincando em um bairro de classe baixa. O desempenho termina sendo influenciado pelo primeiro vídeo. 


Há diversas pesquisas similares a esta. Em uma delas é solicitado a executivos expressar sua opinião sobre a aquisição de uma empresa (3). O pagamento é baseado no desempenho e informa aos participantes da pesquisa que seria possível acessar páginas da internet com detalhes da transação. Em algumas páginas, o artigo é claramente favorável; em outras páginas, o texto é contrário à transação. Depois de visitar as páginas, o executivo deve tomar a decisão, se favorável ou não ao processo de aquisição. O experimento registra a navegação do executivo, indicando as páginas visitadas e o tempo em cada uma delas. O resultado do experimento mostrou que o tempo usado por cada executivo era maior para olhar as páginas com uma posição favorável.  


Talvez o estudo mais conhecido seja um sobre pena de morte, publicado em 1979 (4). Neste estudo, as pessoas foram previamente separadas em dois grupos, em relação a sua posição sobre a pena de morte para os criminosos: favoráveis e contrários. Após esta separação, foram entregues artigos com argumentos dos dois lados, pró e contra. Depois da leitura, foi investigado a posição das pessoas sobre o assunto. Os pesquisadores notaram que aqueles que apoiavam a pena de morte, aumentaram seu índice de apoio; os que eram contrário, também aumentaram sua posição. Em outras palavras, as novas informações, com bons argumentos de ambos os lados, serviram para aumentar o radicalismo de cada grupo. Os argumentos que apoiavam a crença prévia eram valorizados; os argumentos no sentido oposto, eram minimizados. Examente o nosso conceito de viés da confirmação. 

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O viés da confirmação é algo muito prático. O ciúme usualmente envolve situações com viés da confirmação. Imagine um casal, em que uma das partes começa a considerar a possibilidade de estar sendo traído. O sentimento não é comunicado, mas a cada gesto ou ação da outra parte é interpretada como uma confirmação de que realmente há uma traição na relação. 


Durante minha pesquisa sobre o viés da confirmação encontrei a seguinte frase do escritor francês Marcel Proust:  


 "É surpreendente como o ciúme, que passa seu tempo inventando tantas suposições mesquinhas mas falsas, carece de imaginação quando se trata de descobrir a verdade“ 


O amante ciumente teria uma atitude típica do viés de confirmação. O que Proust chamou de “inventar suposições” é a mesma atitude de valorizar o que seria um sinal claro de traição, esquecendo os sinais que não confirmam esta situação. 


A confirmação também está presente nas mídias sociais dos dias atuais. Participo de um grupo de muitas pessoas, que gostam de discutir política. Alguns são defensores do atual presidente; outros, contrários. Para os defensores, somente os argumentos favoráveis são importantes; para os opositores, os erros e problemas do atual governo são tão grandes que nenhum fato positivo deve ser considerado. 


O viés da confirmação está tão presente nos dias atuais que é possível prever a posição política de uma pessoa a partir de alguns poucos parâmetros (5). Provavelmente você gosta de um comentarista não pelas palavras que saem de sua boca, mas por que ele confirma suas crenças. 


Você decide comprar um livro sobre investimento no mercado acionário. Se você acredita que investir em ações é uma opção inteligente, sua escolha será no sentido de livros favoráveis ao mercado acionário. Mas se você acredita que o mercado é composto por um grande número de espertalhões, talvez você adquira um livro que fale dos escândalos que ocorrem no mercado.  Uma pesquisa mostrou que a compra de livros na Amazon em 2008, durante as eleições, mostrou que os que apoiaram Obama escolhiam livros que enfatizavam o lado positivo do presidente. Os que eram contrários, compravam livros críticos ao então futuro presidente (6).


***

Em geral lemos mais os artigos e livros que estão alinhados com nossa opinião. O viés da confirmação também ocorre quando começamos a prestar atenção em algo anterior, como uma decisão de compra ou uma música que escutamos. Se você decide comprar um celular novo, começa a ficar atento no que as pessoas dizem sobre aparelhos de telefone. Se ouvir uma música de manhã, uma referência no local de trabalho à música parecerá uma coincidência. 


Da mesma forma, o viés da confirmação parecerá preocupante quando você for fazer uma consulta a um médico, este pedir um exame e, ao olhar o laudo, informar que o resultado era aquilo que ele esperava. O viés da confirmação ajuda a explicar o racismo, o sexismo, as razões das pessoas jogarem e muitas situações práticas. 


Malcolm Gladwell escreveu um livro que mostra o viés da confirmação sob uma outra visão. Em Blink, Gladwell ressalta o poder da primeira impressão e como o sentimento que algumas pessoas possuem em acertar o caráter de uma pessoa em alguns poucos segundos. No livro, o autor destaca a relevância dos primeiros instantes de uma entrevista de emprego no seu resultado final. As informações posteriores, coletadas ao longo de toda a entrevista, teriam o carater confirmatório. Caso estas informações sejam contrárias à primeira impressão, as mesmas são descartadas ou reduzidas a uma menor importância. O livro de Gladwell fez muito sucesso e chamou a atenção para o viés da confirmação. 


***

Na área financeira, o viés da confirmação está presente em investimentos errados, mas que continuam sendo conduzidos. Neste caso, a gestão descarta as notícias ruins e enfatiza as notícias boas, para justificar a continuidade de um projeto. 


O problema do viés da confirmação também ocorre quando uma empresa decide adquirir um concorrente. O grande número de informações é filtrado de maneira seletiva. As que reforçam a decisão inicial de aquisição são enfatizadas. 


Este exemplo do parágrafo anterior é interessante por mostrar que “mais informação” não resolve o problema do viés da confirmação. Há alguns anos o site Edge fez uma pergunta para diversas pessoas sobre um conceito considerado importante. Uma resposta me chamou a atenção. O músico Brian Eno comentou o seguinte:

 

A grande promessa da Internet era que mais informações produziriam automaticamente melhores decisões. O grande desapontamento é que mais informações de fato rendem mais possibilidades de confirmar o que você já  acreditava de qualquer forma. 


Assim, não adianta ter mais informação. O problema do viés da confirmação é como usamos as informações disponíveis. A melhor maneira de evitar o problema é olhar o “outro lado” de forma criteriosa, sem descartar os argumentos e os dados. As evidências devem ser ponderadas honestamente. E sempre que possível, fazer o exercício de olhar as informações que contradizem nossa crença. 


Há um exercício interessante chamado Teste Ideológico de Turing. O teste de Turing foi criado há tempos para verificar se um computador ou um software consegue aproximar-se do raciocínio humano. Este é um teste similar, onde a ideia é olhar o lado oposto. Depois disto, solicita-se escrever um ensaio apresentando os argumentos que contradizem sua posição. Juízes neutros julgam se o texto expressa corretamente o lado oposto. Um exemplo: se tenho uma posição política de ser contrário ao presidente, tenho que construir um ensaio onde faço defesa dele, com argumentos favoráveis aos seus posicionamentos. O texto deve expressar os principais pontos que um defensor do presidente usaria. Somente após o teste ideológico de Turing é que seria possível você assumir uma posição - contra ou favor do presidente, por exemplo - sem ter um viés. 


Eu posso usar um similar quando pensar no time de futebol adversário que não gosto, na defesa de um investimento que é contrário ao meu perfil, nos argumentos favoráveis a uma política pública que condeno, entre outras situações. Procure fazer uma redação com os pontos de defesa da posição contrária a minha. Para isto será necessário mais informação e você irá valorizar substancialmente a informação que contradiz sua crença. 


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1 - McRaney, David. Você não é tão esperto quanto pensa. São Paulo: Leya, 2013, capítulo 3. 

2 - Da pesquisa de John Darley e Paget Gross citado em Just, David. Introduction to Behavioral Economics, Wiley, 2014. 

3 - Vicki Bogan e David Just, também citado por Just, David, p. 97.

4 - A pesquisa foi conduzida por Leeper et al. Citada, por exemplo, em Montier, James. Behavioural Investing, 2007. 

5 - Uma pesquisa mostrou ser possível prever que uma pessoa apoiava o secretário de Estado dos Estados Unidos a partir de três pontos: se eram republicanos, se gostavam do exército e se gostavam de grupos de direitos humanos. Com estas três variáveis era possível prever, em 84% das vezes, o apoio ou não ao secretário de estado. A pesquisa é de Westen et al (2004) e foi citada por Angner, Erik. A Course in Behavioral Economics. Palgrave, 2012.

 

12 julho 2022

Nome e sucesso


Eis um trecho do El Blog Salmon:

Sí, así lo han probado en una investigación en Estados Unidos, la cual señala que si tienes un nombre difícil de pronunciar lo vas a tener más difícil para acceder a este mundo. Vamos, que el profesor Garaikoetxea (por poner un ejemplo, no se me ofendan); lo tendría complicado para ser doctor en economía.

Los candidatos con nombres difíciles de pronunciar tienen menos opciones a estos puestos. Es un hecho. Y parece que no solo sucede con académicos, como indica este estudio, también para puestos de un rango más bajo. Vaya, que los apellidos poco comunes lo van a tener algo complicado.

Y, ¿por qué pasa esto? Pues no está muy claro cuál es el principal motivo para esta discriminación, pero los autores del estudio, que han analizado 1.500 candidaturas entre los años 2016-2018, intentan dar algunas claves.

As explicações não são razoáveis. Neste momento, relendo Todo Mundo Mente, de Seth Stephens-Davidowitz, no capítulo 1, o autor comenta que nomes estranhos estão associados a classe mais baixa. Assim, o efeito do nome talvez seja, nada mais nada menos, que o efeito da classe social.

Rir é o melhor remédio

 

Teoria e prática

11 julho 2022

Aposta no Bitcoin de El Salvador

Com o desabamento do preço das criptomoedas, algumas pessoas perderam muito dinheiro. Mas um país sentiu bastante a movimentação do mercado: El Salvador. O país tinha adotado a criptomoeda, uma atitude considerada inovadora. Uma reportagem do New York Times descreve a situação:


As reservas do governo em bitcoin perderam aproximadamente 60% de seu valor presumido durante a recente queda no mercado. O uso de bitcoin entre os salvadorenhos despencou, e o país está ficando sem dinheiro vivo, depois de Bukele fracassar em captar novos fundos com investidores do ramo de criptomoedas.

No ano passado, o governo de Bukele alocou o equivalente a 15% de seu orçamento anual de investimento na tentativa de incorporar o bitcoin à economia nacional.

O governo ofereceu US$ 30, cerca de 1% do que um trabalhador salvadorenho médio ganha em um ano, para todos os cidadãos que baixassem um aplicativo de pagamentos com criptomoedas apoiado pelo governo chamado Chivo Wallet; chivo significa “legal” na gíria local.

Bukele afirma que aproximadamente 3 milhões de salvadorenhos, ou 60% da população adulta, atenderam ao seu chamado.

Ainda assim, após um impulso inicial, o uso da criptomoeda despencou.

Somente 10% dos usuários do Chivo continuaram a fazer transações com bitcoin no aplicativo depois de gastar os US$ 30 que lhes correspondiam, de acordo com um estudo realizado por três economistas com base nos Estados Unidos em fevereiro, publicado pela ONG National Bureau of Economic Research. Quase nenhum usuário novo baixou o aplicativo este ano, constataram os pesquisadores.

“O governo deu a esse projeto tanto estímulo quanto pôde — e mesmo assim fracassou”, afirmou Fernando Alvarez, economista da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo.

Uma outra sondagem, da Câmara do Comércio de El Salvador, realizada em março, constatou que apenas 14% das empresas do país fizeram transações em bitcoin desde que a criptomoeda foi introduzida no país, em setembro, e apenas 3% afirmaram perceber algum valor comercial nela.

Os salvadorenhos radicados nos EUA também ignoraram o chamado de Bukele para que usassem bitcoin no envio de dinheiro para seus parentes no país centro-americano. Aplicativos de pagamentos digitais, como o Chivo, foram responsáveis por menos de 2% desses envios nos primeiros cinco meses de 2022, de acordo com o Banco Central de El Salvador.(...)

Clima e evidenciação


Em um artigo para o The Conversation, a professora Lily Hsueh discute se o projeto da SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, para a questão do clima tem chance de sucesso. O ponto questionado por Hsueh é se evidenciação realmente influencia o comportamento das empresas. E esta tem sido a chave dos reguladores neste momento. 

De certa forma, é novamente a ideia de que somente podemos gerenciar o que é mensurado. A posição da professora é que somente isto não é suficiente para resolver o problema. E que as empresas podem atrapalhar, com a manipulação de informações, conhecida como lavagem verde. Para ela, a SEC tem uma oportunidade de reagir aos problemas que já foram detectados. 

Algumas pesquisas (por exemplo aqui) já mostraram que a divulgação pode ajudar na redução da emissão. Usando dados do Carbon Disclosure Project, Hsueh observou cerca de seiscentas empresas com ações na bolsa, entre 2011 e 2016. Ela encontrou que as emissões de carbono por funcionários diminuiu para as empresas de divulgam as informações. Mas os dados são mais sutis, pois o comportamento não foi igualitário. As empresas sem um pressão regulatória, como os setores financeiros, de saúde e voltados para o cliente, não tiveram o mesmo comportamento. Isto tem sido também confirmado em outros estudos, com setores específicos. Além disto, informar não significa praticar. Uma empresa citada pela pesquisadora que exemplifica isto é a WalMart, que vendia produtos descritos como feitos de bambu e ecologicamente corretos, na verdade eram feitos de rayon, que usa produtos químicos tóxicos. 

Para impedir os problemas, seria necessário diretrizes claras sobre o significado de "iniciativa de baixo carbono", a comparação de metas com as emissões históricas, todas auditadas, e a definição clara das métricas, para uma comparação entre as empresas. 

Quatro gráficos

 

Desde a pandemia, os escritórios ficaram vazios. E ainda estão, segundo dado de ocupação. 

A pandemia fez despencar o número de horas trabalhadas. No início. Hoje o valor agregado cresceu substancialmente.

Estamos em um mês onde 99% da população do mundo terá, em uma determinada hora, a luz do sol. O gráfico abaixo é a representação do dia 8, as 11 horas UTC
Para finalizar, da Nature. A principal causa da emissão é o transporte de alimentos. A carne, além de emitir na produção (lado direito), mas vegetais e frutas são os maiores responsáveis pela emissão por distância. 



Grande demais para auditar

 A confusão entre empresa de auditoria e os negócios de consultoria é uma fonte permanente de dor de cabeça para os reguladores. Em "Grande Demais para Auditar", o Dealbook, uma coluna do New York Times, trata do assunto, especialmente o caso da Perrigo.

A Perrigo é uma empresa de produtos farmacêuticos, fundada no final do século XIX, com receita de US$3,5 bilhões.

A questão envolve a empresa EY, que elaborou um "planejamento tributário" para a Perrigo, em 2008. Na época, a EY era a consultoria tributária e a empresa que fazia a auditoria era a BDO. Os auditores da BDO questionaram o esquema, que possibilitava uma economia de milhões em tributos (O texto fala em 100 milhões, sem especificar se são valores anuais, mas tudo leva a crer que são os valores ao longo do tempo). Quando a auditoria da BDO questionou o esquema, foram substituídos por outros auditores, da própria EY. A nova equipe de auditoria não encontrou nenhuma razão para questionar o planejamento tributário.

Agora a entidade que trata de tributos, a Secretaria da Receita Federal dos Estados Unidos, está questionando a manobra, cobrando os impostos atrasados e as multas. A EY possui receita anual de 40 bilhões, sendo a terceira maior empresa de contabilidade do mundo e emprega mais funcionários que a Apple, Exxon e Pfizer, somadas.

Conflito de interesse entre auditoria e consultoria, dentro da mesma empresa, não é algo novo. Mas a questão é mais combatida conforme o governo. Recentemente, o problema tem sido considerado neste momento nos Estados Unidos, a tal ponto que algumas empresas estão pensando em separar o braço de auditoria da área de consultoria.


Como era o esquema elaborado pela EY para Perrigo? A empresa, sediada nos Estados Unidos, evitou a carga tributária do país, criando uma subsidiária em Israel, sem funcionários e sequer escritórios, para comprar os medicamentos de um fabricante. Logo a seguir, o medicamento era vendido para a Perrigo dos EUA, com lucro, que deveria ser tributado em Israel. Mas no país asiático, o lucro, neste tipo de operação, não é tributado.

Leia mais aqui

08 julho 2022

iPhone e a produção mundial

 

O novo iPhone 13 Pro da Apple é um feito notável da cooperação internacional. Com sua bateria desenvolvida pela empresa chinesa Sunwoda Electronic, a tela da Samsung e LG da Coréia do Sul e a caixa de vidro da Corning dos EUA, o iPhone une o trabalho de empresas de todo o mundo. Em uma análise mais aprofundada, você descobrirá que os microchips são projetados por fabricantes terceirizados, a memória flash é desenvolvida pela Kioxa do Japão e a interface é da NXP Semiconductors na Holanda.

O iPhone é a vaca leiteira da Apple, com cerca de metade do faturamento da empresa sendo trazido pelo produto de assinatura. Mas, assim como qualquer outro gigante da tecnologia, para permanecer competitivo a Apple está constantemente à procura de maneiras de diversificar. Em 2021, a divisão de entretenimento da empresa, iTunes e Apple TV, representou uma participação de 19% nas vendas. Seus alto-falantes e fones inteligentes - como o Apple Watch - também tiveram crescimento nos últimos anos. Enquanto isso, as ações trazidas por seus Macs e iPads permaneceram relativamente consistentes, em torno de 10%.

Fonte: aqui

Rir é o melhor remédio

 

Facebook e sua grande função: lembrar os aniversários

07 julho 2022

Fraude

In the bad old days of fraud – corruption, non-disclosure of information, self-dealing, cover-ups, lying, insider trading, and embezzlement were rife. They still are, but they have been given a digital edge by modern technology. This has made crime easier for many more people, but conversely, technology has also provided new tools for detection and prevention.

Research published in the International Journal of Accounting, Auditing and Performance Evaluation looks at the world of fraud in the online realm and shows that it remains a multidimensional and complex world of crime driven, commonly, by greed, sometimes by necessity, but also by a failure of morality that exploits its victims heartlessly. The study author Parvati T. Soneji of the Department of Commerce at Banasthali Vidyapeeth in Jaipur, Rajasthan, India, hopes to unravel some of the complexities of modern fraud.

In the world of business, says Soneji, “The desire for achievements, fear of losing one’s job, challenges meeting financial targets for bonuses, unhealthy competition, and criminal collaborations” might all lead a person into instigating or participating in financial fraud. There are many factors that might lead someone in management to take this route, personality traits, beliefs and attitudes, social customs, institutional rules and regulations, ethical values, and even the organisational culture within which they work.

Soneji addresses fraud theory through the simple triangle of opportunity, pressure, and rationalization. In this theory, a putative white-collar fraudster spots a loophole or opening that gives them the opportunity, the factors that influence them in deciding whether or not to exploit the opportunity apply the pressure, and post-fact they might then explain away their decision and actions to alleviate their guilt.

This simplistic triangle is expanded to a four-cornered diamond that adds capability, whether or not the would-be fraudster has the knowledge and skills to carry out the fraud. Finally, a fraud pentagon adds the very personal notion of the potential criminal’s character in terms of their level of arrogance. With all five factors in place in the fraud pentagon, the committing of the crime is almost inevitable.

Such theories of fraud can give context to the after-effects of the fraud and the evidence left behind. This might allow investigators to trace back the end result to its beginnings in order to identify the perpetrator. It might also give those who would endeavour to prevent fraud an insight into the psychological and other factors that might be exposed and addressed before a crime is committed.

Soneji, P.T. (2022) ‘The Fraud theories: Triangle, Diamond, Pentagon’, Int. J. Accounting, Auditing and Performance Evaluation, Vol. 18, No. 1, pp.49–60.

Via aqui

Rir é o melhor remédio

 

Seleção: bebe café? Não. Reprovado. 

06 julho 2022

Eleição de mulheres e violência

Defesa da eleição de mulheres para cargos políticos:  

This paper studies the effect of female political representation on violence against women. Using a Regression Discontinuity design for close mayoral elections between female and male candidates in Brazil, we find that electing female mayors leads to a reduction in episodes of gender violence. The effect is particularly strong when focusing on incidents of domestic violence, when the aggressor is the ex-husband/boyfriend, and when victims experienced sexual violence. The evidence suggests that female mayors might implement different policies from male mayors and therefore contribute to reduce gender violence

Os autores do estudo são chilenos. Eis um dos resultados:


Questão ambiental, segundo o príncipe Charles

A questão ambiental não é fácil. Há muita celebridade que prega jargões ambientalistas, mas com certas atitudes que não são condizentes com o discurso. Isto já tinha sido notado com um ex-vice-presidente, Al Gore, que viajava de jatinhos. Mais um que foi confrontado é o príncipe Charles:

As empresas também serão cobradas nesta questão. 


Rir é o melhor remédio

 

Genial Quino, sempre atual. Hierarquia é tudo no mundo corporativo

05 julho 2022

Desagregando o Resultado

Nas discussões que antecederam a aprovação da reforma da Lei 6404, que resultou na Lei 11638, existia a possibilidade da empresa desagregar a conta do custo do produto e serviço vendido. Isto terminou não passando, já que há alguns problemas na relação custo-benefício da informação, incluindo o fato de revelar dados estratégicos da empresa. 


Neste momento, os Estados Unidos discutem algo no mesmo sentido. O Fasb, a entidade do terceiro setor responsável por emitir normas contábeis, que posteriormente são adotadas pelo governo, está tratando do assunto. Isto inclui o custo de serviços, as despesas administrativas e operacionais e o custo dos produtos tangíveis vendidos. 

A última decisão ocorreu em fevereiro de 2022. Mas existem dúvidas, o que pode refletir a dificuldade em conduzir o projeto. A grande questão envolvida é o critério para evidenciação. Há a possibilidade de um limite mais quantitativo, mas uma norma mais voltada para algo mais flexível, baseada em princípio, também pode ser o resultado final da discussão. 

Por que os investidores estão preocupados com o ambiente?

Por que os investidores de repente se preocupam em salvar o meio ambiente

A perda de biodiversidade pode achatar os lucros corporativos. Os investidores estão se esforçando para descobrir quais empresas detêm mais riscos.

De Benji Jones

Aqui está um grande número: US $ 44 trilhões.

É o quanto da produção econômica mundial total depende de animais e ecossistemas de acordo com Fórum Econômico Mundial (WEF). Os insetos polinizam culturas comerciais, recifes de coral, protege as costas, zonas úmidas purificam a água e todos esses serviços - e mais - ajudam o crescimento econômico.

Se a economia está embutida na natureza, então o declínio global dos ecossistemas e da vida selvagem é um risco para as empresas e investores. Se insetos somem da fazenda, fazendeiros devem pagar para importar polinizadores ou produzir menos, que afeta seus resultados. Isso é uma razão pela qual o ranqueamento do WEF onde a perda de biodiversidade é o terceiro risco mais grave para a economia na próxima década, após o fracasso em agir sobre as mudanças climáticas e temperatura extrema.

"O risco de perda contínua de biodiversidade é profundo" Sarah Kapnick, um cientista e estrategista do gigante bancário JP Morgan, que escreveu em maio, “não apenas pela natureza, mas pela estabilidade financeira."

Nos últimos anos, o setor financeiro vem assumindo esses riscos. Juntamente com os bancos e seguradoras, grandes investidores começaram a pressionar as empresas a divulgar riscos relacionados ao ambiente natural - conhecido como riscos relacionados à natureza - isso pode fazer seus investimentos perderem valor ao longo do tempo. E em março, um grupo, a Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza lançou um rascunho de uma estrutura que espera ser o padrão-ouro para relatar e gerenciar os riscos ambientais. (Já existe um padrão semelhante por relatar riscos relacionados às mudanças climáticas.)

Esse movimento em torno da divulgação de riscos pode parecer obscuro, mas tem um grande potencial para transformar a economia global. A divulgação de riscos relacionados à natureza pode redirecionar grandes fluxos de dinheiro de empresas que dependem - muitas vezes prejudicam - a natureza para aquelas com uma pegada muito menor, disse Lucian Peppelenbos, estrategista climático da empresa de investimentos Robeco. Essa é a teoria, de qualquer maneira.

Hoje, porém, os esforços para quantificar o que as empresas têm a perder à medida que o ambiente se deteriora são uma bagunça. Existem dezenas de métricas, ferramentas, estruturas eletrônicas, cada uma com seu próprio acrônimo esquecível. Ferramentas para medir como as empresas afetam a natureza também são confusas - assim como a variedade de padrões diferentes para a divulgação de riscos, mesmo para especialistas em finanças sustentáveis.

Isso não quer dizer que essa fronteira de investimento sustentável não seja inovadora ou pelo menos melhor do que o que já existe. Mas há muito trabalho a ser feito, tanto na unificação dos padrões de relatórios, quanto na medição do risco. Começa com a resposta a uma pergunta aparentemente básica: como os ecossistemas funcionam?

Considerar o risco ambiental em decisões de investimento parece inteligente, mas fazê-lo é um pouco complicado - até porque existem vários tipos diferentes de risco e cada um é difícil de medir.

Primeiro, considere algo chamado risco físico. Descreve o quão dependente uma determinada empresa e seus investidores são dos serviços prestados pela natureza, como polinizadores e de água limpa. Uma empresa que vende chocolate, por exemplo, quase certamente confiaria em insetos selvagens para polinização em sua cadeia de suprimentos (as plantas de cacau são totalmente dependentes delas). Também dependeria de ferramentas e de água doce para gerenciar pragas - todos esses são riscos físicos.

Este não é apenas um cenário hipotético. Três quartos das culturas alimentares do mundo (e um terço da produção agrícola global) dependem, em certa medida, da polinização de pássaros, abelhas e muitos outros insetos e animais pequenos. E alguns insetor tiveram sua população reduzida em mais de 70% em apenas algumas décadas. De fato, já existem agricultores na Califórnia pagando para importar abelhas, porque não há polinizadores locais suficientes. Isso poderia afetar os retornos dos investidores.


Também existem riscos enraizados nos impactos que as empresas têm sobre a natureza - essencialmente, o oposto do que estamos falando. Obviamente, prejudicar o meio ambiente pode prejudicar a reputação de uma corporação, que está intimamente ligada ao preço de suas ações. Os bancos e investidores podem ter menos chances de apoiar uma empresa que vende óleo de palma, por exemplo, por medo de que o público descubra e derrubem as ações da empresa.

Há também uma preocupação relacionada chamada risco de transição - o potencial atingido por uma empresa e seus investidores podem sofrer devido a uma mudança futura na política ou no comportamento do consumidor. Considere um negócio que explora lítio em uma região com flamingos ameaçados Se, dentro de alguns meses, o governo decidir proteger essa área específica, a empresa poderá ser forçada a mudar suas operações para outro lugar. E irá perder dinheiro como resultado.

Esses riscos são difíceis de calcular. Isso ocorre em parte porque os sentimentos políticos e culturais estão constantemente em movimento, e porque os cientistas ainda não entendem exatamente como os ecossistemas funcionam ou como prever quando eles mudarão.

Ferramentas para medir e relatar riscos abundam. Eles trabalham?

As instituições financeiras que desejam sinceramente calcular os riscos de biodiversidade têm uma variedade de opções de siglas para escolher. Existem ferramentas, por exemplo, que medem riscos físicos, como ENCORE (Exploring Natural Capital Opportunities, Risks, and Exposure), ou que acessa o impacto da empresa na natureza, inclusive CBF (Corporate Biodiversity Footprint) e BFFI (Biodiversity Footprint for Financial Institutions). Outros fornecem às empresas uma estrutura - e vocabulário — para relatar riscos e impactos, tais como o GRI (Iniciativa Global de Relatórios), SBT (Science Based Targets), e o recentemente lançado TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosure).

Pode ser difícil distinguir um do outro, mas, em geral, essas ferramentas são projetadas para medir riscos relacionados à natureza ou fornecer uma maneira de divulgá-los. Eles se enquadram na categoria de definição frouxa de ESG, um conjunto de critérios para rastrear investimentos em riscos relacionados ao meio Ambiente, questões sociais ou corporativas de governança (daí a sigla ESG), mas eles se concentram mais estreitamente na natureza. E embora o ESG seja relevante para investidores de varejo, como funcionários que selecionam fundos para uma conta de aposentadoria, essas ferramentas de risco são mais para empresas, os investidores institucionais e outros pesos pesados da indústria financeira. (Ao contrário de muitos fundos ESG, eles também levam em consideração como as empresas estão impactando o meio ambiente, não apenas como o meio ambiente afeta as empresas.)

Se você não consegue se lembrar de todas as siglas, lembre-se disso: essas ferramentas estão longe de serem perfeitas, principalmente pela simples razão de que os ecossistemas são complicados, disse Partha Dasgupta, economista da Universidade de Cambridge, que escreveu um conhecido relatório em 2021 sobre a economia da biodiversidade. Ainda não entendemos, por exemplo, por que exatamente os polinizadores de insetos estão em declínio ou como diferentes espécies contribuem para os serviços ecossistêmicos que as empresas usam.

Pense em como os trabalhos de um ecossistema se comparam à tecnologia de um carro, disse Dasgupta. Os fabricantes de automóveis querem engenheiros que entendam como transformar matérias-primas em um automóvel: "Eles poderão dizer todas as etapas necessárias para assumir os riscos envolvidos", disse ele, desde a modelagem de chapas de metal até a pintura do exterior. “Eles mantêm peças de reposição porque, se algo quebrar, podem substituí-lo imediatamente. Eles entendem a tecnologia. O problema é que não entendemos a tecnologia da natureza."

Medir o impacto de uma empresa na natureza e nos riscos financeiros relacionados não é muito mais fácil. Não é como a mudança climática, onde você pode empilhar as empresas com suas emissões anuais de carbono. "Dentro das mudanças climáticas, existe uma metodologia contábil definida para obter suas emissões de gases de efeito estufa", disse Julie Nash, diretora sênior de programas de alimentos e florestas da organização sem fins lucrativos Ceres. "É muito mais difícil com a biodiversidade ter essa única métrica."

De fato, a biodiversidade é um termo amplo que inclui todos os ecossistemas, em terra e no mar, desde florestas boreais até recifes de coral. Cada um tem seu próprio conjunto de organismos. E cada organismo tem uma função diferente. Então, quando você mede a biodiversidade - como um meio de entender o risco financeiro - o que exatamente você mede e como? O número de espécies em uma determinada área? Que papéis específicos eles desempenham em seu ambiente? Os cientistas debatem essas questões há anos.

Ainda mais perguntas fundamentais carecem de respostas, como quantas espécies existem na Terra. Sem essa informação, não sabemos exatamente o que há a perder.

Todo esse trabalho será tedioso. Mas poderia ajudar a fazer uma economia mais verde

Então, onde isso nos deixa? As instituições financeiras têm muito trabalho - elas precisam criar melhores métricas e consolidar as inúmeras ferramentas de relatórios já disponíveis. Mas especialistas estão otimistas.

"Acho que vai ficar uma bagunça por um tempo", disse Aled Jones, professor de finanças sustentáveis da Universidade Anglia Ruskin, à Vox. “Mas faremos progressos na divulgação."

Vale lembrar que, há apenas 10 anos, quase ninguém estava comparando as empresas com suas pegadas de gases de efeito estufa, mas agora essas informações estão prontamente disponíveis.

"Não devemos esquecer que, há 10 a 15 anos, ninguém nos negócios estava falando sobre o escopo 1, 2 e 3” disse Tony Goldner, o diretor executivo da TNFD, referindo-se a três maneiras de categorizar as emissões climáticas das empresas (o escritor David Roberts faz um bom trabalho ao explicar as emissões do escopo aqui). "Existe todo um processo pelo qual o mercado passou para se livrar do clima, o que agora precisamos fazer sobre a natureza."

Para esse fim, Dasgupta e outros veem uma demanda crescente pelos tipos de pensadores que podem ajudar a resolver problemas de avaliação de riscos. "Os ministérios e as empresas do Tesouro precisam contratar ecologistas", disse Dasgupta, acrescentando que seria imprudente não fazê-lo. "Seria como um fabricante de automóveis que não tem engenheiros. É um absurdo."

Embora todo esse cálculo de risco pareça muito tedioso — para alguns, pode parecer ridículo colocar ecossistemas e animais selvagens em termos financeiros — é importante voltar ao objetivo principal: "Em última análise, nosso objetivo é mudar o fluxo de capital," diz Goldner, para empresas menos prejudiciais ao meio ambiente.

E é divertido pensar em como isso pode realmente ser. Imagine que o governo dos EUA exige que todas as empresas públicas divulguem seus riscos ambientais. Portanto, nossa hipotética empresa de chocolate teria que indicar como, por exemplo, mudanças nas populações de insetos selvagens afetariam seus produtos e como seus produtos, por sua vez, impactariam os insetos.

Os investidores e credores podem esperar um retorno maior, de acordo com o risco adicional que estão assumindo. À medida que a empresa enfrenta custos mais altos de capital, eles podem responder dessa maneira reduzir riscos relacionados à natureza para atrair investimentos, como a mudança para pesticidas menos prejudiciais. Se a seca também for um problema para a empresa, talvez faça lobby por ações climáticas para proteger seus próprios ativos.

Ok, talvez haja um pouco de ilusão nesse cenário - não é fácil reformar a economia, apenas revelar riscos não significa que empresas ou investidores farão algo diferente. Mas esforços como os TNFD são um bom ponto de partida. E se nada mais, eles nos ajudarão a aprender mais sobre o mundo em que vivemos, e como ecossistemas e animais aparentemente distantes estão sustentando uma grande parte da economia mundial. Por enquanto.

Relatório do IFAC

Olhando o relatório do IFAC é perceptível a grande ênfase no aspecto textual/desenho. É interessante que o relatório apresenta uma entrevista com o presidente do IFAC. Acho que não faz muito sentido; bastava ele escrever uma carta e pronto. 

Na página 31 tem a tabela acima. Mas logo depois:

Na lista dos voluntários é possível encontrar os nomes que receberam 2,6 milhões. O documento não apresenta as demonstrações financeiras - somente um extrato - nem o parecer do auditor. Na verdade, eu confesso que não achei sequer a unidade monetária usada - não sei se libra, euro ou dólar. As demonstrações estão aqui

As demonstrações foram preparadas pelas "International Public Sector Accounting Standards" (faz sentido?), auditadas por uma empresa suíça. 

04 julho 2022

Contabilidade é um profissão de relatório?


 A pergunta surge após a leitura do texto de Robin Hanson:

Neste post, quero explorar uma quarta história complementar, destinada a aplicar-se ao subconjunto de profissões que chamo de “profissões de relatório”, em que os trabalhadores produzem relatórios destinados a persuadir o público. Por exemplo, os investidores contam com auditorias de contadores para julgar a saúde financeira das empresas. Engenheiros e planejadores criam projetos e planos sugerindo aos possíveis patrocinadores para que as coisas possam ser feitas ou construídas com métodos específicos e dentro de determinados orçamentos de tempo e custo. Os diagnósticos dos médicos convencem as seguradoras a cobrir os tratamentos para doenças reivindicadas. E as notas que os professores atribuem aos alunos podem convencer os empregadores a contratá-los. Além disso, esses relatórios não são incidentais; induzi-los é frequentemente a principal razão pela qual os clientes contratam esses profissionais.

Em todos esses casos, o ideal são os públicos persuadidos por relatórios que eles acreditam ter sido produzidos de acordo com normas profissionais, com trabalhadores resistindo às pressões de chefes ou clientes para fornecer relatórios mais favoráveis. Ou seja, o público precisa acreditar que o contador não obedecerá a um chefe que os instrua a dizer que sua empresa falida está cheia de dinheiro e a acreditar que um professor não dará um A + a um aluno ruim, mas financeiramente generoso. Mas essa é realmente uma situação não trivial para produzir. Por que exatamente um contador não obedeceria a um chefe que tentava fazer sua empresa parecer o melhor possível? E por que um professor não daria a um aluno uma nota tão alta quanto ele ou ela pode pagar?

Manter esses contadores, professores, etc. na linha, ajuda se eles se identificarem com os altos ideais de sua profissão. Mas pode ajudar ainda mais a mostrar uma ameaça credível de que algum outro profissional do gênero possa revisar rapidamente seu relatório e declará-lo violar normas profissionais, levando à expulsão da profissão. E para tornar esse cenário crível, ajuda se essa profissão se coordena para treinar seus membros de capacidade semelhante da mesma forma, a usar procedimentos de geração de relatórios relativamente padrão, estáveis, mecânicos e sem contexto. Sem esses procedimentos, é difícil ver como uma revisão rápida pode mostrar violações. Além disso, ajuda se existem maneiras de induzir profissionais independentes a verificar relatórios suspeitos e depois punir os infratores encontrados.

Ou seja, os profissionais do relatório precisam coordenar para criar e aplicar uma “marca” distinta de suporte a relatórios. Sem essa coordenação, seu produto é inútil. É por isso que eles pressionam para organizar e obter poderes regulatórios e por que o resto de nós concede seus pedidos.

(Grifo meu). Parece que a resposta é um sim. Foto: Bernd Klutsch

ONU e Sustentabilidade


Algumas organizações subordinadas à ONU soltaram um comunicado sobre os esforços do ISSB relacionados com a evidenciação convergida sobre a sustentabilidade. O comunicado expressa uma preocupação com o futuro do assunto e uma possível "perdade de oportunidade" pelo escopo escolhido por parte dos padrões que serão emitidos pelo ISSB:

(i) a narrow interpretation of enterprise value (and the factors that affect it) would mean that ISSB standards could leave out important sustainability risks and opportunities; and

(ii) the ISSB standards could result in selective disclosure by reporting companies.

O texto usa o termo "holístico", o que me gera uma certa desconfiança. (Não gosto da forma como se usa o termo, e o documento parece estar na mesma direção. Mas isto é um opinião pessoal): 

 While the financial materiality of some sustainability issues might not be immediately visible, multiple recent events have shown how quickly and unpredictably things can shift and how interlinked our societies and economies are (e.g., covid-19, ‘me too’ movement, war in Ukraine, climate-related disasters).

Ou seja, juntaram guerra na Ucrânia com covid-19 e movimento "Me too". O documento também alerta para a evidenciação seletiva, incluindo o fato de que empresas do mesmo setor podem relatar diferentes tópicos se a materialidade for diferente. Realmente esta crítica parece ser estranha e confesso que não consigo entender.

Foto: marianne bos

Onde ficar no desastre climático global?


Parece realmente estranho falar sobre o assunto, mas onde ficar em caso da mudança do clima: 

Segundo pesquisadores, a Nova Zelândia, especificamente, é o melhor local para se viver, à medida que as ameaças das mudanças climáticas aumentarem. É uma escolha surpreendente, mas o país possui muitas alternativas para os sobreviventes: é uma ilha remota com paisagens vastas e praticamente intocadas que, em um cenário de sobrevivência, representam recursos inexplorados. E parece que há algum acordo sobre os méritos da Nova Zelândia quando se trata de um potencial colapso social global. 

A seguir, Tâsmania, Irlanda, Islândia e Reino Unido.

A pesquisa no qual basearam o artigo parece limitar o número de países. Outro ranking, mais completo, da Universidade de Notre Dame, coloca o Brasil em 92o. E é possível notar um claro viés favorável aos países desenvolvidos. 

ISSB e GRI


Do site IASplus, da Deloitte: 

Em março de 2022, o International Sustainability Standards Board (ISSB) e a Global Reporting Initiative (GRI) anunciaram um Memorando de Entendimento que visa coordenar os programas de trabalho e as atividades de definição de padrões das duas organizações. Ideias mais detalhadas de como isso poderia ser alcançado foram publicadas.

Essas ideias são o resultado de uma primeira reunião de representantes técnicos de ambas as organizações, onde foram discutidas atividades que poderiam fornecer os esclarecimentos e o alinhamento necessários. Entre as iniciativas discutidas estavam: Um cronograma acordado de reuniões e roteiro para promover aspectos técnicos da colaboração; um exercício de mapeamento para estabelecer esses requisitos na literatura de ambas as organizações equivalentes; o desenvolvimento de uma metodologia para fazer referência cruzada entre as respectivas orientações; um exame de prioridades futuras; e o desenvolvimento de uma articulação completa das maneiras pelas quais os respectivos padrões são complementares ou divergem.

Foto: Clay Banks

Auditoria de ativos digitais


O AICPA publicou um documento sobre a questão de auditoria de ativos digitais. O documento trata das informações, quantitativas e qualitativas, dentro ou fora das demonstrações contábeis, relacionadas com as salvaguardas dos criptoativos. Há uma definição de criptoativo, questões relacionadas com os riscos envolvidos, a questão do "controle" dos ativos - o que inclui reconhecimento no balanço, e outras questões específicas. 

A discussão pode ser útil para tratar do mesmo problema em outros países. Mais sobre o assunto aqui. Foto Ayadi Ghaith

Contabilidade e Tecnologia

O IFAC está publicando um guia resumo com diversos artigos sobre a tecnologia e a contabilidade. É bastante interessante e para quem está pesquisando na área, eu recomendo dar uma olhada. Os assuntos estão divididos em ABCs:

A = (inteligência) artificial

B = Blockchain

C = Segurança (Cyber-security)

D = (governança dos) Dados (e avaliação)

E = Ética

O = outros conteúdos 


O guia é atualizado periodicamente e basicamente possui os links com acesso aos assuntos, que também estão classificados em pequenas e médias empresas, auditoria, governo, etc. 

03 julho 2022

Dia Bobby Bonilla (um bom problema de contabilidade)

Dia 1o. de julho foi comemorado do "Dia Bobby Bonilla". É uma história interessante sobre decisão financeira, Taxa Interna de Retorno, passivo de longo prazo, etc.


A história é a seguinte: Durante os anos 80 e 90 Bonilla tornou-se um dos grandes jogadores de beisebol. No final dos anos 90, o atleta foi contratado pelo Mets. Mas seu rendimento foi abaixo do esperado e em 1999 o clube devia US$5,9 milhões. Bonilla e seu representante propuseram um acordo para o clube. Ele adiaria o recebimento da dívida por uma década, mas o Mets pagaria um salário anual de US$1,19 milhão, começando em 2011 e terminando em 2035.

Ou seja, trocaria US$5,9 milhões em 1999 por recebimentos de 1,19 milhão, entre 2011 a 2015. Em uma planilha eletrônica seria:

Ou seja, uma TIR de 7,6%, sem correção pela inflação. A taxa de juros nos EUA na época estava entre 5 a 6% . Como o Mets estava investindo no fundo de Bernie Madoff, que oferecia 10% de retorno, anualmente, o acordo parecia vantajoso. O dinheiro, aplicado a 10%, seria suficiente para o pagamento futuro e sobraria algum dinheiro. Só que o investimento de Madoff foi uma furada. 

Agora vamos para a questão contábil. 

a) Como seria a contabilização do acordo nos livros da equipe de beisebol em 1999? A resposta deste item inclui uma discussão sobre a taxa de juros a ser usada. 
b) Como estaria o acordo hoje? Aqui você pode imaginar uma situação onde a taxa de 5,5% seria razoável para descontar o fluxo. Pode também supor uma taxa mais elevada, já que a equipe tem um risco maior. 
c) E na contabilidade de Bonilla? 

(Confesso que quando li os números eu achava que o acordo era bem pior do que parecia depois dos cálculos. Exceto, naturalmente, pelo investimento na pirâmide de Madoff.)

Recessão

 

Eis que a palavra "recessão" voltou, segundo a Bloomberg. 

01 julho 2022

Economia Matemática no Brasil

 Resumo:

O objetivo do artigo é contribuir para o entendimento histórico da internacionalização e disseminação da economia matemática no Brasil. Em foco, o papel central do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) para o desenvolvimento da economia matemática. Avalia-se o porquê da economia tornar-se a disciplina representante da matemática aplicada em um instituto influenciado pelo purismo matemático do grupo Bourbaki. O artigo também explora a prática da teoria econômica dentro de um departamento de matemática, analisando a relação entre estas duas disciplinas.  


Fonte: Applying pure mathematics: IMPA and the dissemination of mathematical economics in Brazil
Matheus Assaf- FEA - Universidade de São Paulo





Receita em Atraso de uma entidade sem fins lucrativos

 

As Nações Unidas talvez seja uma das entidades sem fins lucrativos mais relevantes do mundo. Todo ano os membros devem efetuar uma contribuição até o final de fevereiro. Muitos países quitam a obrigação no prazo. No mapa, em verde, é possível notar que são países respeitados no mundo: Canadá, Escandinávia, Irlanda e Austrália, por exemplo. Há os que pagam com atraso (caso da Bolívia e Colômbia, entre outros países na cor laranja) e os que ainda não pagaram (em vermelho, que inclui EUA, Rússia, China e Brasil). O fluxo de pagamento por mês está abaixo:



Rir é o melhor remédio

 

Quem nunca...?