Translate

03 novembro 2020

Quando alguém contrata IA para camera man

 

Em uma partida pelo campeonato escocês de futebol, o clube Caledonian resolveu substituir o operador de câmera humano pela Inteligência Artificial. O resultado está no vídeo acima. O software estava programado para seguir a bola nas transmissões. Mas no jogo contra o Ayr a IA manteve a transmissão longe da bola, focando na careca do bandeirinha. Era a única forma dos torcedores assistirem a partida. Fonte: Aqui

Contabilidade? Alguém acha que a IA irá substituir o profissional no futuro próximo?

Quem é o chefe?

 

Propaganda "engraçadinha" da Sage, software de Contabilidade. Via aqui

Rir é o melhor remédio

 

Um problema só é um problema quando sabemos de sua existência. 

02 novembro 2020

Contabilidade Conectada - episódio #14

Já está no ar o Episódio #14 – As IFRS e a Comunicação Contábil – da Série Ciência Aberta!

Amigo Secreto 2020


Nesse fim de semana demos início à nossa brincadeira anual de amigo secreto entre os blogueiros de contabilidade. Este ano somos onze participantes, divididos em nove blogs:

Alexandre Alcantara: Alcantara
César Tibúrcio: Contabilidade Financeira
Claudia Cruz: Ideias Contábeis
Orleans Martins: Informação Contábil
Pedro Correia: Contabilidade Financeira
Polyana Silva: Histórias Contábeis
Roberto Sousa Lima: Panorama Público
Roberto Ushisima: Alfa Valoro
Sandro Vieira Soares: Acervo Contábil
Vladmir Ferreira Almeida: Vladmir F Almeida

Este é o nosso 5º ano nos reunimos virtualmente para brindar à nossa amizade e celebrar esta comunidade. Para tanto realizamos a brincadeira por meio da plataforma Amigo Secreto, que organiza a comunicação anônima entre os participantes e promove o sorteio. O presente vai por correspondência, já que temos a sorte de ter blogueiros em cada canto desse país enorme e maravilhoso.

Estamos com duas novidades este ano. Ao invés da revelação dos presentes em cada blog a medida em que os recebemos, a faremos ao vivo em nossa primeira reunião virtual liderada pelo Alexandre

Também há um movimento, liderado pela Polyana, para que além do presente façamos uma doação para uma instituição de caridade em homenagem aos nossos amigos. Assim, como sugestão do Sandro, estamos apoiando o Centro de Ações Solidárias da Universidade Federal de Santa Catarina, que pede uma doação de R$ 70 para cestas básicas (clique aqui para mais informações). Há também o Centro de Valorização da Vida, que recebe doações de qualquer valor: aqui. Convidamos os nossos amigos e leitores a reforçarem este movimento de caridade.


31 outubro 2020

Contabilidade e Livros

O Ngram é uma função criada pelo Google que determina a frequência de um ou mais termos encontrados em livros. Você pode determinar quantas vezes uma palavra ou frase apareceu e isto é plotado em um gráfico temporal. Veja uma pesquisa que fiz com o termo "accounting":
A pesquisa abrangeu o período entre 1809 a 2019. Há uma clara tendência do termo ficar mais popular no século XX, tendo atingido seu ponto máximo antes dos anos 1980. A partir do novo século, o termo começa a perder relevância. Os dados são normalizados, em termos percentuais, pelo número de livros publicados em cada ano. 

Veja agora os dados para a palavra "cost":

O termo atinge um ponto alto nos anos 20. Na década de 1980, em Relevance Lost, Kaplan e Johnson criticaram a prevalência da contabilidade financeira sobre as informações gerenciais. A proposta do custeamento por atividades é decorrente deste fato e faz com que o termo fique popular. Depois disto, uma queda acentuada. Custos estaria fora de moda?

Veja agora a comparação entre os termos Ifrs e Fasb, com uma série histórica entre 1973 e os anos atuais:
De vermelho, o termo Fasb; em azul, Ifrs, que aparece somente após os anos 2000. É bom lembrar que o Iasb foi criado no dia 1o. de abril de 2001. O processo de harmonização fez com que o termo IFRS ganhasse relevância, enquanto Fasb deixa de ser tão popular. Mas o fim do processo faz com que o Fasb recupere sua importância. 

Mas os dados são confiáveis? É importante destacar que pode existir inconsistência, já que a pesquisa do Google é feita em OCR. Além disto, a popularização de uma literatura em uma área - por exemplo, computação - pode ter impacto sobre o número de vezes que um termo aparece. Isto pode ajudar a explicar o primeiro gráfico. Outro ponto é que um termo pode aparecer fora de um contexto originário (é o caso do termo "contador", que pode estar associado a um "contador" de história). 

Leia como usar Ngram aqui

30 outubro 2020

Separando os efeitos da pandemia nos resultados: caso do United

 


As demonstrações financeiras do Manchester United, time de futebol da Inglaterra, mostra o que devemos considerar e o que não devemos considerar ao analisar o efeito da Covid em uma empresa. É importante esclarecer que o United é um clube e, ao mesmo tempo, uma empresa. Assim, sua gestão é “profissional”, o que inclui demonstrações contábeis de melhor qualidade do que aquelas preparadas por um time de futebol tradicional. O exercício social do United, encerrado em 30 de junho, incluiu uma grande parte das atividades normais de um clube e um breve período onde os efeitos da pandemia. Uma reportagem da BBC traz alguns elementos interessantes, mas gostaria de destacar dois pontos. 

A primeira situação importante é a da receita. A receita do clube teve uma redução de 627 milhões de libras para 509 milhões e teve o efeito da pandemia. A redução de 118 milhões decorreu da sua não classificação para Liga dos Campeões também. Existia uma expectativa de receita de 580 milhões. 

Todas as áreas de receita da United foram afetadas, mas as receitas de transmissão foram especialmente afetadas, reduzindo 41,9% de £ 240,2 milhões para £ 141,2 milhões. Parte da redução da despesa ocorreu pela realização dos jogos com portões fechados, redução das vendas de camisas e produtos do clube e descontos concedidos para as emissoras. Estima-se que estes três itens corresponda a 40 milhões de libras. 

Mas algumas das receitas do clube, como aquelas decorrentes dos jogos, somente foram postergadas. Um jogo que seria transmitido no exercício ficou postergado para alguns meses depois. Mas os portões fechados representam realmente uma perda de receita que não será recuperada. A redução no fluxo de caixa originário dos patrocinadores, que também estão com dificuldade de caixa, poderá ocorrer em futuro próximo. Mas isto cria um descasamento entre caixa e competência. 

O segundo aspecto é a questão do endividamento. Sendo um clube-empresa, seus gestores optaram por trabalhar com um elevado endividamento. Um resultado desta opção é que a dívida líquida duplicou, para 474 milhões de libras. As despesas financeiras aumentaram para 26 milhões, com redução do caixa. Como dívida líquida corresponde a dívida bruta menos caixa, o que ocorreu no clube foi que a dívida bruta manteve constante. Veja que este fato decorre de uma decisão de financiamento, que ocorreu antes da pandemia. Assim, não se pode colocar este fato na conta da Covid. 

O caso do United mostra que é importante separar os efeitos da pandemia das outras decisões. Este clube de futebol teria resultados ruins, mesmo com a paralisação das atividades do futebol na Inglaterra. A pandemia somente agravou a situação. (Fonte da foto aqui)

29 outubro 2020

Normas são negócios e ESG é um bom exemplo


Um texto da Accounting Today, chamado PwC working with SASB on XBRL taxonomy while developing ESG app (de Michael Cohn, 19 de outubro de 2020) me pareceu bastante revelador de como funciona o mecanismo de pressão para criação de normas para as empresas e como isto interessa de perto não ao usuário, mas algumas empresas com fins lucrativos. É bom lembrar que normas são negócios antes de qualquer coisa

Talvez o leitor tenha notado como surgiram, nos últimos dias, uma grande quantidade de textos defendendo a criação de normas relacionadas com a sustentabilidade, a questão social e a governança. O tema ficou tão popular que ganhou uma sigla: ESG. Chegamos a postar aqui no blog que dezenas de entidades estão em uma competição para criar um padrão de norma que abranja este campo. Isto pode ser interessante, mas se muitas entidades criarem suas normas, não haverá uma “padronização” mínima, que permita vender projetos de consultoria. É de interesse que exista somente alguns poucos reguladores, o suficiente para que as empresas que prestam serviço na área possam vender suas “soluções”. 

Neste ponto entra a Fundação IFRS. Sendo patrocinado em um terço do seu orçamento pelas Big Four, a entidade que padroniza as normas internacionais de contabilidade abriu uma consulta sobre o assunto: será importante ter uma norma internacional sobre o tema? Isto é estranho por dois motivos: há uma agenda, onde a Fundação define estas prioridades; e existem diversos temas pendentes para serem resolvidos pela Fundação, como o término da Estrutura Conceitual. 

O texto citado no início da postagem afirma que a PwC, uma das Big Four, estaria trabalhando em desenvolver um app sobre o assunto. O porta-voz da empresa de auditoria é nada menos que  Wes Bricker. Bricker trabalhou na PwC entre 2011 a 2015, quando foi ser contador-chefe da SEC. Recentemente, Bricker saiu da SEC e voltou para a PwC, no movimento de porta giratória contábil, uma tradição da SEC

Mesmo com o interesse de Bricker, o texto da Accounting Today afirma que a SEC, em anos recentes, era cética com respeito a materialidade da informação ambiental, social e de governança. Existiria um sentimento de que este tipo de informação seria muito mais um propaganda falsa na promoção da empresa para investidores. Mas Bricker, mesmo já não sendo mais da SEC, opina que como a entidade que regula o mercado de capitais dos Estados Unidos tem interesse na qualidade da informação, a informação relacionada com a sigla ESG teria que ser divulgada. 

Para as Big Four, a ESG representa, antes de qualquer coisa, um negócio de venda de soluções. Não importa se o padrão seja originário dos Estados Unidos ou da Fundação IFRS. Quanto maior o número de empresas que forem obrigadas a fazer esta evidenciação, melhor será. O grande obstáculo são as empresas: as novas informações possuem um custo. Quem sabe as empresas poderão se opor a este movimento? 

O texto da Accounting Today dá a clara sensação que estão construindo uma necessidade de uma informação ambiental, social e de governança de forma artificial. Negócios. (Foto aqui)

Segredo de uma boa apresentação

 De uma resposta do Quora

Aprenda com o mestre, Steve Jobs... 

Uma palavra: SIMPLICIDADE

Poucas palavras
Fatos simples


Grandes gráficos com pouco texto


Letras pequenas para esclarecer os dados

O apresentador dá os detalhes, não o gráfico 
Poucas cores


Mais uma coisa: se você fornece muita informação na sua apresentação, as pessoas irão distrair tentando ler ou entender seu conteúdo. Eles irão perder o interesse em você e no que você está dizendo. Como apresentador, você deveria ser o foco da audiência. A missão do seu power point deveria ser apoiar sua apresentação, não roubar o centro das atenções. 

E a Contabilidade? - Os contadores tendem a valorizar demais a apresentação dos números. Possuem uma grande fixação pela precisão, com o número exato ou com muitas casas depois da vírgula. Em lugar de colocar no gráfico R$12.345.678,99 é bem mais didático colocar R$12 milhões. A não ser que você queira que sua plateia caia no sono... 

28 outubro 2020

Sindrome do Impostor


Dinâmica social reforça a síndrome do impostor, explica especialista 

Estereótipos e vieses de gênero fazem mulher ter mais sentimento de ‘fraude’ no mercado de trabalho e pode prejudicar as chances de sucesso na vida profissional

Entrevista com Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade

Ludimila Honorato, O Estado de S.Paulo - 23 de outubro de 2020 | 05h00

“Eu não sou boa o suficiente para estar neste corpo docente. Algum equívoco foi feito no processo seletivo”, “Obviamente, eu estou nessa posição porque minhas habilidades foram superestimadas”. Essas frases e outras similares foram ditas por mulheres bem-sucedidas, em altos cargos de liderança, com grandes conquistas pessoais e acadêmicas. O motivo de elas considerarem que são uma fraude e que chegaram aonde estão por sorte é um só: a síndrome do impostor.

O fenômeno foi estudado, especificamente no público feminino, pelas psicólogas norte-americanas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, que em 1978 publicaram um estudo sobre o tema. Queriam entender o que levava mulheres com perfil superior a acreditarem que não eram brilhantes o suficiente e estavam enganando a todos apesar de suas conquistas.

As especialistas identificaram que as “impostoras” não se enquadram em uma categoria de diagnóstico, mas os sintomas clínicos frequentemente reportados são ansiedade generalizada, ausência de autoconfiança, depressão e frustração relacionada à incapacidade de atender aos padrões impostos por elas mesmas. Embora todos estejam suscetíveis a isso, estudos anteriores já mostravam que o fenômeno é mais prevalente nas mulheres.

“Isso tem muito a ver com a cultura de viver em um ambiente totalmente cheio de barreiras, estereótipos e vieses de gênero”, explica Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade. A especialista em diversidade e inclusão tem experiência em projetos relacionados a gênero, além de ministrar cursos sobre liderança feminina, nos quais a síndrome do impostor aparece com bastante frequência, independentemente do nível hierárquico.

Em conversa com o Estadão, Letícia falou sobre as características do fenômeno, como ele pode prejudicar as chances de sucesso na vida profissional e como interromper esse ciclo. Confira a seguir.

Como podemos definir a síndrome do impostor? 
Ao contrário do que muita gente pensa quando se fala em síndrome, não é uma doença. Alguns preferem chamar de fenômeno do impostor. É um conjunto de fatores, atitudes e sentimentos que as pessoas têm, com base em crenças sociais, que trazem insegurança, sentimento de fraude, de não pertencimento. As pessoas acham que, quando atingem um determinado sucesso, não deveriam estar ali, que aquilo foi devido a fatores externos como sorte ou o famoso “estar no lugar certo na hora certa”, mas que não tem a ver com competência e conquistas pessoais.

Por que as pessoas desenvolvem esse sentimento? 
Não é unânime, mas a maioria dos pesquisadores acha que tem a ver com a dinâmica familiar desde a infância. No estudo que Clance e Imes fizeram, elas conseguiram classificar um grupo de mulheres em duas dinâmicas e, a partir daí, conseguiram descrever a síndrome. Mas existem outros fatores que têm a ver com a cultura na qual a gente está inserido, o fato de a gente viver em ambientes que são discriminatórios, cheios de estereótipos. E aí tem a questão do estereótipo de gênero, que é muito forte na sociedade, sendo um dos motivos para que as mulheres tragam mais a síndrome do impostor do que os homens.

Mesmo com grandes avanços sociais, movimentos de empoderamento feminino, você percebe que isso ainda é real? Por quê? 
Os estudiosos ainda acreditam que a síndrome do impostor acontece mais nas mulheres e isso tem muito a ver mesmo com a cultura, de viver em um ambiente cheio de barreiras, estereótipos e vieses de gênero que acabam trazendo aspectos para a vida das mulheres, questões de insegurança.

Mas um dos fatores que já foram levantados é que os homens têm a síndrome, mas aparecem menos do que o porcentual real, e é por causa da cultura de novo. É esperado socialmente do homem que ele não demonstre fraqueza, insegurança, então muitas vezes eles se esforçam muito mais e conseguem disfarçar os aspectos relacionados à síndrome do impostor. Os psicólogos também dizem que, mesmo em consultório, os homens trazem o assunto muito menos. Então, é mais difícil descobrir e ter certeza de que os homens têm.

Isso é curioso, porque no artigo de Clance e Imes, elas descrevem que uma das dinâmicas familiares é da menina que é incentivada a acreditar em si, que ela pode tudo o que quiser. Parece que os meninos acreditam mais e levam para a vida futura. Acho que não é só uma questão de que essa autoconfiança perpetua mais nos homens. Tem isso que você está falando, perpetua sim, mas a nossa cultura os obriga a mostrarem que são autoconfiantes, que não têm fraqueza nenhuma, não podem chorar, têm de ser o provedor, forte, o “macho alfa”. Então, muitas vezes, o homem está representando um papel social. Parece que eles carregam isso mais, mas é fruto da dinâmica social. Muitas vezes, a gente pensa que a nossa cultura limita as mulheres, mas limita demais o homem, que tem de ter papel de forte.

E como a síndrome do impostor afeta a vida profissional? 
A pessoa que traz essa síndrome acha que é uma fraude e está enganando todo mundo, então ela gasta muita energia pensando sobre isso em vez de estar produzindo, com medo de ser “descoberta”. A pessoa acredita que não tem o talento e as habilidades que são necessários para estar naquele local, então carrega a falta de confiança. Nesse ponto, ela nem se candidata a uma vaga porque tem receio de ser descoberta. Ela atribui suas conquistas à sorte e acaba indo menos em busca de novos desafios.

Tem algumas características que as pessoas trazem de forma bem forte: ou ela vai para o perfeccionismo, afinal ela não deveria estar ali, então tem de fazer de uma forma bem perfeita, trabalha em excesso, fica revisando muito e adia a entrega porque sabe que será julgada; ou, quando alguém faz um elogio, ela diminui esse elogio em vez de se satisfazer e ratificar a conquista. Mas a carreira é feita disso: alguém tem de reconhecer o que você atingiu para poder te impulsionar para cima. Se ela diminui, a pessoa que fez o elogio fica com o pé atrás também. E ela está sempre enfraquecendo as próprias conquistas, apontando primeiro o que está errado.

No ciclo do impostor, primeiro, a pessoa recebe uma tarefa e aquilo gera ansiedade, insegurança e preocupação. Com isso, ela vai ter dois caminhos: ou procrastinar, mas fazer, ficar aliviada quando entregar, mas atribuir à sorte quando receber feedback positivo; ou vai trazer uma preparação exagerada e vai atribuir ao esforço. Com essa percepção de esforço e sorte, vai ter aumento de insegurança e ansiedade. (1)

É possível que a síndrome se manifeste apenas na vida pessoal ou na profissional? 
Normalmente, as duas coisas estão interligadas, mas ela acaba aparecendo mais na vida profissional e acadêmica, que são ambientes com mais competitividade, onde a pessoa está lidando com outros indivíduos, com os limites dela.

Clance e Imes fizeram a pesquisa com mulheres de altos níveis profissional e acadêmico. Existe relação entre nível hierárquico e grau da síndrome? Desconheço qualquer estudo que fale sobre isso. Mas temos exemplos até mesmo de pessoas famosas que foram a público e falaram que têm a síndrome do impostor. Kate Winslet, Michelle Obama (que fala do tema no documentário Becoming, da Netflix). O fato de a gente saber que outras pessoas têm a síndrome do impostor ajuda demais, porque durante muito tempo a gente acredita que somos os únicos.

O ambiente de trabalho pode contribuir para que alguém desenvolva essa síndrome, mesmo que não tivesse antes? Sim, a gente pode ter alguns momentos da vida em que está enfrentando essa questão. Tem vários gatilhos e o ambiente profissional é um deles. Mas é importante a gente saber que não é só porque a pessoa chegou ao ambiente corporativo que isso ocorre, é todo um contexto. A gente está falando da dinâmica familiar, da cultura da sociedade. Tudo isso já está ali dentro, a pessoa já teve essas vivências e, no ambiente corporativo e de maior pressão, ela vai vivenciar as características da síndrome.

Quais são os caminhos para se “curar” da síndrome? 
Para mim, a forma principal é buscar evidências. Se buscar, a gente tem evidência de que somos capazes, inteligentes, temos conquistas e diversas habilidades que às vezes a gente acha que não tem. É importante buscar o autoconhecimento, saber quais são nossos pontos mais fortes e quais ainda têm para desenvolver. Pensar que qualquer experiência que a gente passa na vida é uma oportunidade de aprender. Comemorar as conquistas, até para ficar mais evidente para nós mesmos como aquilo foi importante, difícil e conseguimos. Ocupar espaços e aproveitar as oportunidades, se expor mais. E entender que cada um de nós tem valores únicos.

(1) Tenho dúvidas sobre esta análise. Veja Robert H. Frank, Sucesso & Sorte, o Mito da Meritocracia, Alpha, 2017, para uma posição diferente. Imagem, aqui

Falha do Sistema

 Uma postagem da Polyana, que estava guardada há meses, sobre falhas do sistema, é bem educativa:

Falhas em sistemas (e registros) contábeis infelizmente são mais comuns do que pensamos. 

Em 2016, a CEF de um município paulista gerou avisos de cobranças indevidas a servidores municipais, admitindo um erro em seus sistemas computacionais. 

Em 2017, o TCE-PR multou o ex-prefeito de Londrina por falha em registro contábil nas contas de 2014. 

No início de 2019, uma falha nos sistemas da STN fez com que o salário dos servidores federais ficasse temporariamente indisponível. 

Mais recentemente (ontem, 29/out/19), um hacker invadiu o sistema contábil da prefeitura de um município de SP, causando atraso no pagamento dos servidores municipais. Aqui cabem muitas discussões, desde programação, inteligência artificial, aprendizado de máquina, profissionalização dos programadores, dos contadores, segurança de sistemas, auditoria governamental, etc. 

E onde a contabilidade entra nessa discussão? Se você não aprendeu a programar, ou pelo menos a entender os relatórios que os sistemas entregam, como vai saber se está certo ou errado o que você entrega aos seus clientes? Não podemos esquecer que a Contabilidade vem, cada vez mais, se adaptando a novas tecnologias, e o contador que preferir ficar à margem destas disrupções, estará comprometendo sua profissionalização.

27 outubro 2020

Rir é o melhor remédio

 Afinal, qual a sua pesquisa?


Resenha: Sucesso e Sorte


Robert Frank é colunista do New York Times e professor da Cornell University. É também autor de bons livros, entre os quais destaco O naturalista da Economia (muito bom) e Microeconomia e Comportamento (idem). Neste livro, Frank defende o papel da sorte na vida das pessoas. As pessoas bem sucedidas tendem a minimizar o papel da sorte: o mérito é individual e o sucesso só foi possível graças ao trabalho árduo. Frank não discorda disto, mas entende que pequenos eventos podem ser decisivos neste sucesso. 

Eis um exemplo pessoal: quando era estudante, era obrigado a fazer um estágio. Minha universidade indicou um órgão público que precisava de estagiário. Com a documentação, cheguei ao órgão. A funcionário no entanto disse que havia um engano, que eles não estavam precisando de estagiário. Mas havia uma unidade deste órgão público que sempre contratava estagiário. Terminei fazendo estágio em uma divisão de estatística, onde aprendi valiosas lições e conheci o meu futuro orientador de mestrado e doutorado, o professor Assaf Neto. Tudo começou com um engano. 

Gosto muito da premissa de Frank para este assunto. Muitas coisas boas que vivenciei aconteceram graças a sorte, talvez menos ao mérito. O livro possui oito capítulos e tirando os apêndices isto está distribuído em menos de 150 páginas. Ou seja, é uma obra rápida e fácil de ler. 

Vale a pena? Reconhecer o papel do acaso é importante. Mas confesso que esperava mais de Frank, depois de ler O naturalista e consultar os vários capítulos do livro Microeconomia. Não que o livro seja ruim, mas poderia ser mais interessante. 

50 anos da Pós-graduação em contabilidade na USP


O Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade da FEA/USP foi criado em 13 de outubro de 1970, data da autorização de abertura do curso de Mestrado. Em 1978 foi criado o curso de doutorado, sendo o único doutorado no país até 2008.

Nos seus 50 anos de existência, o PPGCC/FEA/USP contribuiu decisivamente para o desenvolvimento das Ciências Contábeis no Brasil, formando quase mil mestres e doutores e criando e disseminando o conhecimento contábil. Seu pioneirismo e excelência são marcas que permanecem até hoje.

Os docentes, discentes, egressos e colaboradores do programa abriram caminhos, fomentaram o desenvolvimento de centros de pesquisa, difundiram conhecimento fundamental e avançado e influenciaram a prática contábil por todo o país.

A celebração dessa trajetória de liderança e pioneirismo, construída por tantas pessoas, se inicia agora e seguirá ao longo de 2021, com diferentes atividades e eventos sociais. Nosso primeiro encontro ocorrerá na Live 50 Anos do PPGCC/FEA/USP, no dia 11 de dezembro de 2020 às 16:00. Em breve enviaremos os detalhes deste evento da maior relevância. Reserve em sua agenda!

Gostaríamos também de contar com sua inestimável colaboração na construção de um site comemorativo, coração de nossa celebração. Pedimos que nos envie um depoimento sucinto, por vídeo ou por escrito. Se você é egresso(a) ou colaborador(a) do programa, por favor nos conte como o PPGCC influenciou sua trajetória acadêmica, profissional e/ou pessoal. Se você é membro da comunidade de partes interessadas (stakeholders) do programa, por favor compartilhe conosco sua visão sobre a importância do PPGCC/FEA/USP para a profissão contábil e para a sociedade.

Se optar pelo vídeo, sugerimos que tenha duração menor do que 5 minutos. Uma opção prática e fácil é fazer o upload do vídeo no Youtube e nos enviar o link. Estamos à disposição para ajudar na gravação caso precise: para isso, por favor entre em contato pelo email ppgcc@usp.br. Sugerimos que os depoimentos por escrito não ultrapassem dois parágrafos. Pedimos também que se identifique, informando nome, atividade profissional e relação com o programa (por exemplo, egresso(a) formado(a) no ano XYZ ou membro da comunidade de stakeholders do programa, incluindo contabilistas, acadêmicos e gestores do setor público e do setor privado).

Todos os depoimentos, dos mais sucintos aos mais detalhados, serão muito bem-vindos e muito importantes para nós. Também ficaremos felizes se quiser compartilhar fotos e documentos alusivos ao seu relacionamento com o programa. Marque sua presença na história do PPGCC/FEA/USP e das Ciências Contábeis do Brasil!

Por gentileza, envie seu depoimento, o link do seu vídeo e/ou outros materiais que queira compartilhar até o dia 1 de novembro de 2020 para o e-mail ppgcc@usp.br, com o assunto “50 anos do PPGCC”.

Comissão 50 Anos do PPGCC/FEA/USP

26 outubro 2020

Rir é o melhor remédio

 Como funciona o mercado...


Fonte: aqui

Live Dia dos Professores

 

Link aqui

Punindo o executivo, não a entidade


O Goldman Sachs admitiu ser culpado, pela primeira na sua história de 151 anos, pelo que aconteceu com sua subsidiária na Malásia, no escândalo do 1MDB. O Goldman foi uma das instituições que participou do gerenciamento inadequado do fundo soberano do país asiático. A multa deverá ser de mais de 5 bilhões de dólares. Este valor já tinha sido contabilizado no balanço do banco. 

O Goldman deverá recuperar 174 milhões dos salários que foram pagos para os executivos. Isto é algo bastante interessante. Na época do escândalo, os executivos Lloyd Blankfein (CEO), Gary Cohn (COO) e David Viniar (CFO) receberam remuneração de desempenho. O atual presidente, David Solomon, e outros executivos, também deverão devolver parte do salário recebido. 

“O ponto importante é que tirar dinheiro do bolso de um humano é mais eficaz do que tirar dinheiro da conta corrente de uma empresa”, afirmou Joseph Grundfest, professor de direito de Stanford e ex-S.E.C., para o New York Times. Além disto, se o pagamento é feito pela executivo, o acionista não seria punido. É bem verdade que o valor a ser pago é bem reduzido em relação a remuneração recebida pelos executivos. Um CEO deste nível recebe mais de 20 milhões por ano.

Julgamento é importante para a contabilidade


Uma regra deveria ser sempre simples e fácil de aplicar. Este seria o exemplo da regra que impõe um limite de velocidade em uma estrada ou que proíbe você de dar comida aos animais de um zoológico ou que determina que devo fazer o registro contábil de uma operação de venda. 

As regras devem possui outra característica: são gerais, não específicas. Apesar de ser claras, de fácil aplicação e generalizadas, há sempre algumas exceções para as situações apresentadas. Este é  o caso do limite de velocidade: uma ambulância deveria respeitar esta regra em uma situação de emergência? O bom senso nos diz que não. E o funcionário do zoológico também está proibido de alimentar os animais? E uma empresa que faz operações de venda de baixo valor deve fazer o lançamento contábil de cada uma delas? 

Na prática, as regras são redigidas de maneira geral, mas haverá situações onde existem exceções. É possível criar estas exceções nas regras. Assim, o limite de velocidade é válido para os automóveis, exceto as ambulâncias e autoridades policiais em situação de serviço. Ou, é proibido dar comida aos animais do zoológico, exceto se for um funcionário. Uma operação de venda deve ser registrada quando for materialmente importante. Mas ao começar a impor as exceções, as regras deixam de serem simples. Entre uma regra que diz que é “proibido trafegar acima da velocidade permitida, exceto se for uma ambulância ou autoridade policial” e outra que afirma “proibido trafegar acima da velocidade permitida”, a segunda é bem melhor. 

Mas como resolver as exceções? Uma forma é confiar no julgamento do individuo responsável pela aplicação. O guarda que está fiscalizando a velocidade dos automóveis deve julgar se aquela situação é pertinente ou não de aplicar a lei. Seu bom senso irá dizer que não faz sentido parar uma ambulância que está indo para um hospital com um paciente. Mas seu julgamento irá permitir que multe um automóvel comum que ultrapassou a velocidade, não importa o modelo do automóvel, o tipo físico do motorista ou a quantidade de passageiros. 

O termo importante é julgamento. Diante de uma regra existente, uma pessoa irá apreciar e decidir sobre uma situação. No caso da velocidade na estrada esta pessoa é o guarda de trânsito. Para o zoológico, um funcionário da administração do zoológico. Em na situação contábil, o profissional que irá fazer o registro. Deverá existir uma pessoa que vai decidir a aplicabilidade de uma regra. Isto ocorre em inúmeras situações diárias. 

Isto traz um problema na aplicação deste julgamento. Uma operação de venda de dois reais pode ser pouco material para uma pessoa, mas não para outra. É possível imaginar diversas situações onde seria necessário o julgamento. Mas cada situação tem suas particularidades. Mesmo quando uma regra é simples e clara, haverá situações onde sua aplicação exigirá julgamento. Um guarda de trânsito que não para uma ambulância que excedeu a velocidade em uma estrada está fazendo um julgamento. Mesmo que a regra diga que uma ambulância pode exceder a velocidade, este mesmo guarda pode parar a ambulância se perceber que existe algo de errado com o veículo.

O profissional contábil pode não registrar vendas de pequeno valor. Mas se perceber algo errado acontecendo, sua atenção pode ir além da materialidade. Mas este julgamento é realmente difícil. Envolve determinar quando aplicar a regra e verificar se é pertinente ou não.  Mesmo a mais direta e simples das regras exige este julgamento. A nossa sociedade impõe algumas camadas para aperfeiçoar este julgamento. Uma multa de trânsito por excesso de velocidade pode ser contestada. A expulsão de alguém do zoológico por ter alimentado os animais pode ser discutida com uma autoridade maior da entidade. O não registro da venda de baixo valor pode ser objeto de análise por parte auditor, dos conselhos da entidade e das entidades de fiscalização externas à empresa. A palavra do guarda de trânsito não será a última. 

O julgamento não significa ignorar uma regra, mas aplicar a regra em situações específicas e não previstas. Envolve bom senso. Muitas vezes somos orientados a seguir as regras já que isto seria socialmente desejável. Entretanto, seguir as regras, pura e simplesmente, pode não ser adequado. O contador que perceber algo errado com as vendas de baixo valor, pode argumentar usar em sua defesa as regras de materialidade. Mas ele deve abandonar a regra quando percebe que esta não é adequada para sua situação específica. Em suma, julgar é uma parte importante da aplicação da regra, mesmo que esta regra seja a mais simples e direta possível

Muitas das reflexões deste texto surgiram após a leitura do texto When to break a rule, Steven Nadler. Imagem aqui