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02 dezembro 2013

Farsa das privatizações: subsídios públicos para grupos privados

Sob a ótica do governo, os recentes leilões de concessão têm mostrado, ao contrário do que dizem os críticos, um imenso interesse do capital privado em projetos públicos. Os aeroportos do Galeão e de Confins, por exemplo, não somente atraíram vários grupos, como o ágio pago pela concessão teria, em tese, superado todas as expectativas.
Mas a verdade é outra. Novamente, para atrair capital privado, o governo se vale de maciços subsídios e capital público. No caso dos aeroportos, o BNDES deverá financiar cerca de 70% dos investimentos do grupo vencedor do leilão. A estatal Infraero, sócia minoritária com 49% do capital, também deve participar dos investimentos, bancada por aportes do Tesouro Nacional.
O curioso é que o próprio ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, havia alertado que a entrada da Infraero nos consórcios seria um “sacrifício” de recursos. Moreira Franco foi prontamente corrigido por Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil, que insistiu na presença da Infraero para que a estatal aprenda com os parceiros privados como melhor gerir aeroportos.
Moreira Franco estava certo. Já com dificuldade de fechar as suas contas e enfrentando protestos por melhores serviços, o governo deveria colocar foco em atividades de alto impacto social e com menor interesse pelo setor privado. Mas um aeroporto de grande porte não só tende a atender populações de mais alta renda, como também é, por si só, um ótimo negócio – um monopólio local, com receitas mais ou menos estáveis, incluindo aquelas advindas de atividades acessórias como lojas e restaurantes. Por que, então, subsidiar grupos privados se o projeto, em si, é naturalmente lucrativo?
Em vez de querer que a Infraero aprenda como gerir aeroportos, é o próprio governo que deveria aprender como melhor gerir os nossos recursos
A resposta a essa pergunta reside numa prática muito recorrente em concessões e privatizações no Brasil: o uso de subsídios pela porta dos fundos para inflar o resultado dos leilões. No atual governo, com uma inclinação até mais forte de microgerenciar preços, a prática tem tomado proporções ainda maiores. Empresários têm dito que os subsídios são necessários para compensar a pressão do governo de limitar os lucros dos concessionários privados.
Mas isso é apenas trocar seis por meia dúzia, com a agravante de tornar o processo pouco transparente para a população. Além disso, chegamos a uma situação surreal em que o governo tem de compensar investidores privados pelos riscos de intervenção que ele próprio cria. Isso é ainda mais crítico no caso de projetos naturalmente mais arriscados que os aeroportos. No último leilão de transmissão elétrica, de 13 lotes leiloados, só 10 atraíram interesse, sendo 6 com forte participação de estatais.
Defensores desse modelo dizem que a presença estatal é uma forma de evitar a tão demonizada “privatização” dos serviços públicos. Mas, na prática, o que está sendo feito é simplesmente passar o controle da atividade para grupos privados à custa de subsídio e capital público coadjuvante. Como minoritária, a Infraero terá capacidade limitada de influenciar as operações. No fundo, não deixará de ser uma privatização irrigada por subsídios para quem não precisa.
A estratégia deveria ser outra. No caso de projetos naturalmente lucrativos, como os aeroportos, o governo deveria eliminar o financiamento público e criar um marco para monitorar os investimentos contratados, os preços cobrados e a qualidade dos serviços. Com isso, sobrariam mais recursos para apoiar projetos de maior impacto social e mais difíceis de serem financiados somente no âmbito do setor privado. Transporte urbano barato, saneamento básico, prisões e rodovias em áreas remotas são exemplos.
Em vez de querer que a Infraero aprenda como gerir aeroportos, é o próprio governo que deveria aprender como melhor gerir os nossos recursos, cada vez mais escassos.
Fonte: Sérgio Lazzarini - O Estado de S. Paulo, 28/11/2013

Estrela e Contabilista

Numa crônica sobre o escritor alemão Arno Schmidt (imagem), Otto Maria Carpeaux, crítico literário, tem um comentário "interessante" sobre a contabilidade:

Ele [Arno Schmidt] mesmo diz, em uma das frases inesquecíveis que de vez em quando lhe escapam: "Noite. Escuridão. É difícil saber se aquela luz no horizonte remoto é a janela iluminada de um contabilista ou uma estrela que se levanta". Responderíamos que também em escritórios de contabilidade podem levantar-se estrela. A estrela de Arno Schmidt também se levantou num ambiente medíocre e cinzento. (Estado de S Paulo, 17 de outubro de 1959, p. 42, ed. 25910, Leviatã, grifo do blog)

Carpeaux talvez esqueça que o grande Machado de Assis trabalhou com contabilidade (na época não existia, rigorosamente, a profissão de contabilista). 

Grant Thornton compra divisão da KPMG no Brasil

A consultoria Grant Thornton Brasil comprou a área de terceirização de serviços contábeis da rival KPMG. Com o negócio, a empresa espera elevar sua receita - que foi de R$ 120 milhões no último ano fiscal - em 25%. Além da clientela, a Grant Thorton ficará também com os cerca de cem funcionários que trabalhavam no segmento na KPMG.

De acordo com Denis Satolo, sócio da área de terceirização de serviços da Grant Thornton, a empresa já alugou um andar novo em um de seus escritórios em São Paulo para abrigar o "reforço" na equipe.

A transferência faria sentido para a KPMG porque ele representa uma fatia relativamente pequena do negócio da empresa. Enquanto isso, a terceirização de serviços contáveis - especialmente os referentes à adaptação a padrões internacionais de contabilidade - ainda responde 70% do total da receita da Grant Thornton no Brasil.

Para o próximo ano fiscal, a meta da Grant Thornton é aumentar seu faturamento em 45%, para R$ 175 milhões - só os clientes herdados no acordo com a KPMG deverão responder por mais da metade deste crescimento. O restante virá principalmente da expansão da área de auditoria da companhia, que cresce atualmente cerca de 30% ao ano.

A versão atual da Grant Thornton começou a se desenhar em 2010, quando a Terco - que tinha uma parceria com a consultoria americana desde 2004 - anunciou uma fusão com a Ernst & Young. Foi então que a Grant Thornton passou a buscar outro associado. Fechou com a Pryor em novembro de 2010.

A companhia, que adotou o nome Grant Thornton Brasil, vem tentando se aproximar mais do DNA da parceira britânica. A meta é que, dentro de cinco anos, os serviços de auditoria passem a representar a maior parte do faturamento do negócio. A empresa, que já tem oito escritórios no Brasil, pretende abrir mais dois no primeiro bimestre de 2014, em Curitiba e no Recife. Em todo o País, são mil funcionários.


Estado de S Paulo, 30 de novembro de 2013

Custo da espionagem

As revelações sobre a espionagem no exterior poderão custar às companhias americanas US$ 35 bilhões em faturamento perdido até o final de 2016, por causa das dúvidas sobre a segurança da informação dos seus sistemas, segundo o grupo de pesquisas Information Technology & Innovation Foundation.

(...) A revelação da espionagem levou alguns governos a repensar “propostas que limitariam o livre fluxo das informações”, disse Richard Salgado, diretor para assuntos legais e de segurança da informação do Google, num depoimento ao Senado americano em 13 de novembro. “Isto poderá ter graves consequências, como a redução da segurança dos dados, aumento dos custos, queda da competitividade e prejuízo para consumidores”.

Posições como as defendidas pela China e Rússia, que tentam impor mais controles nacionais à internet, estão ganhando terreno. Potências econômicas emergentes, como Índia, México e Coreia do Sul, estão considerando a adoção de novas restrições.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que foi monitorada pelos EUA, pediu nova discussão sobre a governança da internet com o apoio da Alemanha, cuja chanceler, Angela Merkel, também foi alvo da NSA. O Brasil estuda a possibilidade de uma lei exigindo que empresas como o Google utilizem centros de dados ou equipamentos desenvolvidos pelo governo. (...)


Fonte: Aqui

Bilionário ao contrário

Quatro meses atrás, Eike Batista, que sonhava em ser a pessoa mais rica da planeta, deixou de ser um homem de US$ 1 bilhão. Agora o empresário volta a ostentar o título de bilionário --às avessas. Levantamento da agência americana Bloomberg (a mesma que em março de 2012 o apontava como o oitavo mais rico do planeta) mostra que o patrimônio de Eike é negativo: em US$ 1,1 bilhão. O cálculo leva em conta os ativos de Eike (desde participação acionária em empresas até bens como casas). Porém, esses ativos estão cada vez mais diminutos, já que ele teve de reduzir sua fatia em várias de suas empresas e o valor delas não para de cair.

Fonte: Aqui

Por que o nosso universo pode existir de modo tão instável

Sabemos que nem todas as palestras que postamos podem ser ligadas a negócios, contabilidade, trabalho, ou algo claramente interessante ao típico leitor leitor do blog. Toda segunda-feira insistimos em postar palestras TED porque as achamos fenomenais, nos ajudam a abrir a mente, entender um pouquinho de outras áreas, da vida de outros pesquisadores, diferentes culturas, programas que se destacam. Vale a pena. Mantenham-se atentos. Mantenham-se curiosos. *.*

Qual foi a maior surpresa na descoberta do bóson de Higgs? A de que não havia surpresas. Gian Giudice nos guia por um problema da física teórica: e se o campo de Higgs existir em um estado ultradenso que pudesse culminar no colapso de toda a matéria atômica? Cheio de humor e charme, Giudice delineia um destino sombrio -- e explica porque ainda não precisamos nos preocupar com isso.

01 dezembro 2013

Frases


Eu acho essa mensagem perfeita. Foi a que utilizei como epígrafe na minha monografia de graduação e de especialização. Quando leciono tento passar isso para os meus alunos porque há uma ideia errada de que o professor deve ensinar todo o necessário para que o aluno entenda o que se passa ali, em aula. Mas algDoze dicas para maximizar o seu potencialo que aprendi com o professor David Albrecht é que na faculdade o papel do docente é especialmente o de ajudar a fixar o conteúdo, que é bem diferente de ser o total responsável pelo aprendizado do aluno. O estudante tem que mostrar interesse, ir atrás, ler outras bibliografias, reforçar o conteúdo.

"A função do professor é apresentar o conteúdo do curso e explicá-lo. Não é responsabilidade dele que você aprenda o material, mas sim que o conteúdo seja apresentado de uma forma que possibilite o aprendizado. Aceite a responsabilidade e seja seu próprio professor."

Doze dicas para maximizar o seu potencial

Sales e Cruz: Recíproca Verdadeira

E aí, em um belo dia, a princesa que orgulhosamente organizou o torneio no reino resolveu contemplar um embrulho no hall de entrada de seu castelo e descobriu que, na verdade, ela foi a primeira a ser premiada.

Ilusões de grandeza à parte, isso realmente aconteceu. Como comentei em post anterior, a semana que passou foi a da formatura da minha irmã caçula então eu andei um bocado voltada para outras coisas. O que me fez abrir os olhos e passear pela casa procurando possíveis encomendas foi um comentário "fiquem de olho nas caixas de correio". (Aqui em casa é assim mesmo. Chega pacote, pode estar escrito "urgente", "questão de vida ou morte", que ele esperará pacientemente por você em alguma bancada).

Antes deu entrar na revelação, vou contar uma história. Exemplos de bondade: parece que é sobre isto que será meu fim de ano. Eu estava pesquisando alguns aspectos da contabilidade no setor de energia elétrica quando me deparei com um material interessante e caro. Caro sendo a palavra-chave. Comentei com o meu amigo secreto esse fato, pois fiquei impressionada com o valor e imaginei se ele sabia que isso acontecia. E não, ele não sabia. Mas sejamos justos: o material foi montado com o foco nas próprias elétricas, por isso o valor. Enfim... o meu amigo secreto foi atrás e conseguiu a doação de dois exemplares dos livros de ouro! Olha que mágico! Claro os exemplares estão em processo* de encaminhamento para a Biblioteca Central da Universidade de Brasília (que é de livre acesso e qualquer um poderá consultá-lo) pois não faz sentido ficar na minha casa, né!? Isso tudo aconteceu virtualmente. Não "nos conhecíamos"

Eu acredito que um dos motivos da nossa existência é mudar a vida de alguém. O meu amigo secreto já mudou várias, em um jeito humilde, que é raríssimo hoje em dia. Ainda mais para alguém que: é ...

...

...

Blogueira de um dos maiores blogs de contabilidade do Brasil (MARTINS, ORLEANS, 2013), professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutoranda da Universidade de São Paulo...
Mesmo cheia de compromissos, essa peça rara participou ativamente da Jornada Mundial da Juventude, corre maratonas (enquanto eu ainda estou no 5k), é linda, estilosa, inteligente e bem sucedida. Se um dia fizerem uma Barbie Contadora, espero que se espelhem nela. Aliás, se existem meninas lendo este texto e que desejam se inspirar em alguém, é ela que indico. Não é exagero. Já contei aqui duas Histórias-Claudia-Cruz para vocês, ocorridas antes de nos conhecermos, e vocês viram como ela foi fantástica. Ela não só ajudou a mim e ao meu orientador, como afetará vários estudantes e pesquisadores quando os livros que ela doou chegarem à BCE. O mundo precisa de mais Claudinhas.

Então essa é a revelação: a recíproca é verdadeira. Sou amiga da Claudinha e ela é minha. Foi marmelada!? Não. Se eu tivesse tentado burlar o sistema eu teria feito algo catastroficamente diferente disso. Foi mesmo um presente de Natal.

O Felipe comentou que tinha pena do meu amigo caso ele não me enviasse um bilhete e eu tenho o orgulho de dizer que ganhei um lindo, brilhante e emocionante cartão, com palavras sábias, cheias de carinho e cuidado. Harmoniosamente veio uma coruja, que já se chama Hedwig e guardará as chaves de um mundo mágico: a minha biblioteca. E que com a energia desse presente eu consiga canalizar a serenidade de quem me presenteou.

Por hoje é só! :) Mas acredito que amanhã tenhamos mais novidades. Chá de Camomila para a Polyana do Histórias Contábeis até lá! *.*


Rir é o melhor remédio


Conselho Técnico-Científico da Capes se reúne para deliberar resultados da Avaliação Trienal

Entre os dias 18 e 29 de novembro, o Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) está reunido em Brasília para deliberar sobre a avaliação e os resultados atribuídos durante a Avaliação Trienal dos cursos de pós-graduação stricto sensu, ocorrido no mês de outubro, em 48 comissões de área.

A divulgação dos resultados da Avaliação Trienal está prevista a partir do dia 2 de dezembro e serão oficiados às Pró-Reitorias das respectivas IES, acompanhados das fichas individualizadas de cada PPGs. Os pedidos de reconsideração poderão ser feitos até 30 dias após o recebimento dos ofícios.

Avaliação Trienal 2013
A avaliação da pós-graduação stricto sensu é realizada pela Capes desde o ano de 1976. Ao longo de quase 40 anos, se consolidou como instrumento de grande importância para o Sistema Nacional de Pós-Graduação e para o fomento, tanto por parte das agências brasileiras, vários setores governamentais e não governamentais, bem como dos organismos internacionais.

As atividades contaram com 1.200 consultores vindos de todas as regiões do país, distribuídos nas comissões das 48 áreas de avaliação durante quatro semanas. No total, foram avaliados 5.700 cursos de mestrado e doutorado. O processo levou em consideração as atividades dos anos de 2010, 2011 e 2012 e foram consideradas todas as informações prestadas pelos cursos neste período.

A avaliação cumpre o papel de analisar detalhadamente o panorama e atividades dos programas de pós-graduação no Brasil e, assim, atestar a qualidade dos cursos e acompanhar a qualificação dos mesmos. A avaliação resulta em elementos e indicadores que permitem induzir e fomentar ações governamentais de apoio à pós-graduação. Como decorrência, é possível impulsionar o avanço científico, tecnológico e de inovação e oferecer uma agenda de políticas acadêmico-científicas para diminuir as assimetrias entre regiões do Brasil e áreas do conhecimento.

Acesse os boletins publicados durante a Avaliação Trienal

por Coordenação de Comunicação Social da Capes

15 anúncios absurdos

Na dúvida, é melhor perguntar como se escreve. Caso contrário…

Denunciantes científicos

O que acontece quando os cientistas mentem sobre os resultados de seu trabalho? Muitas vezes, nada.

Felizmente, nos últimos tempos, uma nova leva de “denunciantes científicos” está tentando manter os seus colegas honestos, tentando provar que seus dados foram falsificados.

Retrações de trabalhos científicos têm aumentado cerca de dez vezes na última década, geralmente por simples má conduta do pesquisador, que varia de plágio a manipulação de imagem para fabricação de dados.

Agora, no que parece ser uma tendência crescente, colegas e anônimos estão compartilhando mais e mais suas preocupações através de e-mail e fóruns públicos. A revista científica Nature, por exemplo, publicou recentemente três histórias marcadamente diferentes de indivíduos que agiram sobre suas suspeitas. Bem sucedidos ou não, cada caso oferece um grande debate para futuras denúncias.

O analítico
Uri Simonsohn vê a si mesmo como um cuidadoso analisador de dados mais do que como um delator. Seu trabalho como cientista social na Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia (EUA), envolve vasculhar dados de arquivo – de preços de casas a leilão a registros de admissões da faculdade – como parte de sua pesquisa sobre julgamento e tomada de decisão.

Ele suspeita que este olhar o levou a estranhar padrões incomuns em outros resultados de pesquisas psicológicas, como a de Dirk Smeesters, da Universidade Erasmus em Rotterdam, na Holanda, e Lawrence Sanna, na Universidade de Michigan em Ann Arbor (EUA), no verão de 2011.

Em ambos os casos, os dados pareciam bons demais para ser verdade, contendo um excesso de grandes efeitos e resultados estatisticamente significativos. Em um dos artigos de Sanna, Simonsohn notou que uma experiência – em que os voluntários foram supostamente divididos em diferentes grupos – produziu resultados com desvios estranhamente similares. Nos resultados de Smeesters, ele viu uma desconfiada baixa frequência de números redondos e uma semelhança incomum entre muitas das médias. “Se há muito pouco ruído, e os dados são muito confiáveis, podem não ser reais”, diz ele. “Dados reais devem ter erros”.

Simonsohn verificou suas suspeitas através da simulação de experimentos para mostrar o quão improvável os resultados relatados eram. Ele replicou suas análises em outros trabalhos dos mesmos autores e encontrou os mesmos padrões. Além disso, realizou controles, observando que não havia padrões suspeitos na obra de outros psicólogos que usaram os mesmos métodos.

Simonsohn contatou ambos os autores buscando sistematicamente explicações alternativas para as discrepâncias que encontrou. Eventualmente, só uma restou: a de que eles tinham manipulado os dados. Ele ainda se absteve de acusar alguém, pedindo aos pesquisadores dados brutos, delineando suas preocupações e perguntando se outras partes, como um estudante ou assistente de pesquisa, poderiam ter adulterado os dados.

No fim de 2011, Simonsohn soube que a Universidade de Erasmus tinha começado uma investigação. Ele também descobriu que, por causa dos seus inquéritos, a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, onde Sanna tinha realizado o seu trabalho, também tinha começado a investigá-la. No verão de 2012, tanto Smeesters quanto Sanna se demitiram de seus cargos, e vários de seus trabalhos foram retratados.

Quando perguntado sobre as duas carreiras que foram arruinadas por suas investigações, Simonsohn pausa. “Eu não me sinto mal com isso”, conclui. “Se estou indo para as mesmas conferências que estas pessoas e publicando nas mesmas revistas, eu não posso simplesmente olhar para o outro lado”.

Simonsohn espera que suas ações estimulem psicólogos a instigar reformas para conter fraudes – uma opção seria exigir que pesquisadores postassem dados brutos, tornando-os mais abertos a verificações por colegas. Ele também quer que os pesquisadores divulguem mais detalhes sobre o seu trabalho, como as variáveis ou tamanhos de amostra planejadas. Isso desestimularia formas mais sutis de adulteração de dados, como experiências contínuas até que os resultados encontrados sejam significativos – o que, em sua opinião, inundam a literatura psicológica com falsos positivos.

A quixotesca
Em 1999, perto de sua aposentadoria, Helene Hill decidiu dar uma olhada nas placas de cultura de um companheiro de laboratório. Bióloga de radiação na Universidade de Medicina e Odontologia de Nova Jersey, em Newark (EUA), Hill colaborava com um colega júnior em um projeto para estudar o ” efeito espectador”, um fenômeno pelo qual células expostas a um agente – neste caso, a radiação – influenciam o comportamento dos vizinhos não expostos.

Hill havia treinado o pós-doutorando, Anupam Bishayee, na técnica, e queria ver como ele se saía. As placas, segundo ela, estavam vazias, ainda que Bishayee tivesse relatado mais tarde contagem de células a partir delas.

Hill passou os próximos 14 anos tentando expor o que ela acredita ser um caso de má conduta científica. Painéis da Universidade, do Escritório de Integridade de Pesquisa dos EUA (ORI, na sigla em inglês) e dois tribunais de justiça têm avaliado e rejeitado suas preocupações. Sua convicção lhe custou milhares de dólares em taxas legais e incontáveis horas de leitura através de mais de 30.000 documentos. Também pode acabar lhe custando seu emprego. No entanto, Hill, agora com 84 anos, não tem intenção de recuar. “Uma pessoa tem a obrigação de fazer a coisa certa, se puder”, diz.

Após a primeira observação, Hill e outro pós-doutorando decidiram acompanhar secretamente os experimentos de Bishayee, tirando fotos de suas culturas na incubadora. Quando Bishayee relatou dados de um experimento que eles achavam que estava contaminado com mofo, Hill e seu colega o acusaram de fabricar os resultados, levando suas preocupações à comissão da universidade sobre integridade da pesquisa.

Sob interrogatório, seu colega reconheceu que havia mudado tubos de cultura de Bishayee antes de tirar fotos, o que a comissão viu como potencialmente adulteração de provas. E Hill explicou que tinha usado um microscópio com o qual ela não estava familiarizada ao verificar as culturas de Bishayee, de maneira que o comitê determinou que Hill não tinha evidências suficientes para provar o seu caso.

Hill não descansou. Bishayee havia publicado seus resultados em um artigo que a listava como coautora, e seu assessor, Roger Howell, havia usado os dados de Bishayee para apoiar um pedido de ajuda financeira junto aos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) em 1999. Hill levou o caso para os investigadores federais na ORI, que conduziram uma pequena análise estatística dos dados de Bishayee. ORI, apesar de achar que o caso tinha mérito, determinou que não havia provas suficientes para confirmar má conduta.

Hill chegou até a entrar com duas ações contra Bishayee. Além de ambas não terem sucesso, lhe deixaram US$ 200.000 (cerca de R$ 400 mil) mais pobre em taxas legais. O juiz Dennis Cavanaugh referiu-se a batalha de Hill como “uma missão de proporções quixotescas, que em última análise deveria ser colocada para descansar”. Hill perdeu seu apelo final em outubro de 2011. Ainda assim, ela diz que seu investimento valeu a pena: a fase de descoberta da ação permitiu-lhe acesso a dez anos de notas do laboratório de Howell.

Com esses dados em mãos, ela se juntou com o estatístico Joel Pitt da Universidade Georgian Court em Lakewood Township, Nova Jersey (EUA), e se debruçou sobre os dados que Bishayee tinha registrado à mão a partir de uma máquina que conta células. A dupla também reuniu conjuntos de dados de outras pessoas que usaram a mesma máquina. Pitt olhou para a frequência dos números que apareceram como o dígito menos significativo de cada contagem gravada. Estes deveriam ter uma distribuição aleatória, mas os dados de Bishayee pareciam favorecer determinados números. Pitt calculou as chances de essas frequências resultantes serem ao acaso: menos de 1 em 100 bilhões. Na visão de Hill, a implicação é clara: Bishayee manipulou os números.

Junto com Pitt, Hill tem tentado, até agora sem sucesso, publicar estas análises estatísticas e divulgar suas alegações, ações que Robert Johnson, o reitor de sua instituição – agora parte da Universidade de Rutgers (EUA) – advertiu que poderia lhe levar a “ação disciplinar adicional, até e incluindo rescisão”. Howell, em uma declaração à Nature, expressou frustração com o tempo que Hill gastou revisitando essa questão, apesar da não constatação de irregularidade.

Muitos cientistas admiram Hill pela coragem de suas convicções, mas também não consideram prudente que ela leve o caso adiante por tanto tempo e com tal despesa. Hill, por sua vez, permanece irredutível. “Eu quero ir até o fim”, diz ela. “Tornou-se quase uma obsessão”.

O anônimo
Dicas anônimas não são novidade. O pseudônimo “Clare Francis” que o diga. Ela ou ele (ou eles, muitos suspeitam que seja um grupo de pessoas) enviou centenas de e-mails a editores de revistas científicas sinalizando casos de suspeita de plágio ou manipulação de dados. Suas queixas concisas, às vezes enigmáticas, resultaram em um punhado de retrações e correções. Por outro lado, muitos dos seus avisos também não levaram a nada.

Francis estima que já enviou “cerca de 100″ e-mails para editores diferentes. Diane Sullenberger, editora-executiva da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, afirma que até 80% das denúncias que ela recebe vêm de Francis. E o editor científico Wiley diz que em 2011 o nome de Francis estava em mais da metade de seus pedidos de investigação.

No entanto, apesar de úteis, as dicas de Francis foram sendo cada vez menos usadas porque – independentemente de seu anonimato – muitas de suas reivindicações não podem ser conferidas. Diversas queixas de Francis são oblíquas e difícil de seguir. “É útil saber detalhes específicos sobre as preocupações do ponto de vista científico, não apenas ‘as bandas nos 10 e 60 minutos são geométricas e sobreponíveis’”, diz Sullenberger, referindo-se a alguns dos e-mails de Francis.

Alguns editores de revistas têm alertado Francis que são menos propensos a acompanhar seus pedidos do que outras queixas. Francis tornou esse fato público, o que provocou debate sobre como tais alegações anônimas devem ser tratadas. Por fim, o Comitê de Ética em Publicações americano emitiu suas diretrizes em relação ao caso, dizendo que não importa de onde vêm, “todas as alegações (…) que têm provas específicas e detalhadas para apoiá-las devem ser investigadas”.

Muitos editores não tem tanto um problema com a falta de identidade, mas sim com o suposto “tom” de Francis. Eles creem que, para compensar a inevitável perda de confiança que vem do anonimato, denúncias ganham credibilidade se forem precisas, detalhadas e educadas – o que não seria o perfil de Francis.

Uma coisa que tanto editores quanto Francis podem concordar é que a denúncia anônima deve aumentar nos próximos anos, dado o maior acesso a documentos científicos por pessoas de todo o mundo e a disponibilidade de ferramentas on-line para detectar plágio e manipulação de imagens. Um site, chamado PubPeer, já está se tornando um espaço para comentários anônimos – incluindo postagens em uma veia similar ao estilo de Francis.

Esse crescimento do anonimato é um sinal de que os denunciantes não se sentem protegidos o suficiente dentro do ambiente acadêmico. E, para o bem de toda a categoria, cientistas deveriam se sentir confortáveis em levantar questões sem temer represálias ou danos à sua própria carreira. O que você pensa sobre o assunto?

Fonte: texto e imagem