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09 maio 2013

Senhor Norma Culta

Evanildo Bechara defende que o aluno deva ser poliglota em sua própria língua. “Ninguém vai à praia de fraque ou de chinelo ao Municipal”, diz.


Há coisas nas quais é difícil ser original: a primeira palavra que Evanildo Bechara falou foi mãe.“O registro mais antigo do vocábulo está no indo-europeu, antes disso não temos conhecimento”, ele explicou, durante um almoço na Academia Brasileira de Letras. “A palavra veio do latim matrem. No francês temos mère; mother, no inglês; mutter, no alemão. Em quase todas as línguas, a palavra começa com a bilabial m, que nos obriga a juntar e abrir os lábios para pronunciá-la. Quando os bebês falam mamãe, talvez o que queiram mesmo é mamar.”

Quando fala sobre a vírgula facultativa – aquela que não é exigida pela gramática, obedecendo apenas à entoação da frase –, faz um parêntese para citar um estudo de estilística mostrando que autores míopes pontuam mais. “Isto ocorre porque eles leem mais pausadamente”, explicou. “Nosso Machado e nosso Rui Barbosa eram míopes que pontuavam muito.”

Com 65 anos de magistério, o professor Evanildo Bechara ainda dá aulas, de análise sintática, na especialização em língua portuguesa do Liceu Literário Português, no Rio. Seu curso, carro-chefe da casa, é disputadíssimo por pós-graduandos no vernáculo – querem estar perto daquele que é tido pelos pares como um dos grandes filólogos, linguistas e gramáticos do idioma em que Camões chorou no exílio amargo.

“Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser”, declamou Bechara de cor, numa aula recente. A frase, tirada do conto “Um apólogo (A agulha e a linha)”, de Machado de Assis, servia para ilustrar o posvérbio – a preposição que, posposta a um verbo, altera o seu sentido. A função não é sintática, mas semântica. Pegar uma linha indicaria nada mais do que segurá-la. Mas pegar da linha implica que ela será utilizada. “É impressionante como os bons autores aproveitam todas as faculdades da língua”, comentou.

No inglês, o fenômeno, conhecido como two-word verbs, é largamente utilizado. Look é “olhar”. Acrescido da preposição for, quer dizer “procurar”, look for. Bechara explicou então que “cumprir o dever” é diferente de “cumprir com o dever”, que exige sacrifício.

Todos os anos, ele recebe dezenas de convites para ser paraninfo Brasil afora e periferia adentro. Para surpresa de quem o convida, espanto dos colegas e às vezes contragosto da família, ele costuma aceitá-los. Já foi ao Acre e a São Gonçalo, Mato Grosso e Nova Iguaçu, cumprir com o dever de prestigiar os jovens que militarão no magistério da última flor do Lácio. Constantemente, começa os discursos com a frase: “Bem-vindos à nau dos insensatos: só louco para ser professor de português no Brasil hoje.”

Evanildo Cavalcante Bechara nasceu no Recife, a 26 de fevereiro de 1928. Filho primogênito do comerciante libanês João Bechara e da dona de casa maranhense Maria Izabel Cavalcante, foi criado para seguir a profissão do pai. Os estudos não eram valorizados em casa: a nota que desse para passar de ano bastava. Pequeno, acompanhava o pai em viagens para comprar tecidos, roupas femininas, brinquedos e outras mercadorias. Nessas expedições, usavam uma língua própria: “bom”, “barato”, “caro” e “não presta” eram falados em árabe para não ofender os interlocutores.

Evanildo tinha 11 anos, andava de bicicleta com seu irmão Everaldo, quando Tatá, a empregada da casa, os chamou e avisou que o pai deles havia falecido. Maria Izabel, viúva aos 25 anos, não teve condições de ficar com todos os cinco filhos, e distribuiu os dois mais velhos. Numa manhã de abril de 1940, Bechara subiu a bordo do Itaité, rumo ao Rio. Seguia para a casa do tio-avô, Benedito Cavalcante, um capitão do Exército.

O capitão Benedito recebera um telegrama de Maria Izabel pedindo que tutelasse o menino até completar os estudos. O tio-avô, que havia perdido o filho para a febre espanhola, atendeu ao pedido. Sua casa ficava no Méier, na Zona Norte. Poucas horas depois de ter desembarcado e pousado a matalotagem, a campainha tocou. O menino atendeu à porta e quem tocava lhe disse que era o tintureiro. Bechara avisou ao tio: “É o homem do carro de presos.”

No Recife, tintureiro queria dizer isso mesmo: carro que conduz presos. Era a segunda variação regional que aprendia em menos de uma semana. Na escala em Salvador, Bechara optara por um vatapá “bem quentinho”, achando que o garçom se referia à temperatura do quitute. Aprendeu, no paladar, que quente era sinônimo de apimentado na Bahia.

Nos anos que se seguiram, o menino passou por outras tantas desavenças lexicais. Na escola, seu sotaque nordestino era motivo de chacota. “No Rio, o chiamento da pronúncia vem da influência dos portugueses quando a cidade era capital”, disse. “Como em Pernambuco nós não chiamos, eu era o diferente da turma.”

Bechara não disse, contudo, que sofreu bullying. Por quê? Para o lexicógrafo, à diferença de “mangar”, “caçoar”, “zoar” e “bulir”, o traço distintivo de bullying – nuance que não permite que uma palavra seja sinônimo de outras do mesmo campo semântico – está no teor mais agressivo que o termo em inglês implica. “A palavra entrou na moda porque é nova, a sociedade é novidadeira, e a novidade faz parecer que o sentido da palavra é mais forte, fica mais apelativa”, explicou o gramático entre uma garfada e outra de picadinho com ovo e farofa, no restaurante da Academia Brasileira de Letras. Pediu feijão, mas não havia.

Aos 83 anos, Bechara tem excelentes apetite e memória. Decora até os nomes dos filhos das garçonetes dos restaurantes dos quais é freguês, e é sempre recebido com beijinhos e abraços. Não vi ninguém que o cumprimentasse sem lhe tocar o ombro ou passar as mãos em volta da cintura. Bechara mantém os ombros largos e o peito aberto da sua infância de nadador, quando foi campeão de natação pelo Náutico, no Recife. A idade e a vaidade só se notam nos ralos cabelos que lhe restam, devidamente tingidos. Sua fala eloquente, sempre acompanhada de gestos com as mãos, ainda guarda um sotaque quase imperceptível, desbastado da exuberância regional.

Ele integra a Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL, que, entre outras missões, faz um dicionário ortoépico. Bechara explicou: “A ortoépia ensina a articular bem os fonemas – sese fala obéso ou obêso. Toda língua tem variações, em primeiro lugar no tempo e depois diferenças regionais, sociais e de estilo, conforme o uso mais ou menos culto. Quando fazemos um trabalho normativo desse tipo, levantamos os fatos da língua exemplar. Não é correção.”

Bechara senta-se na sala da Comissão com outros seis lexicógrafos sem nenhuma distinção hierárquica. Sua mesa só se destaca por ser a única em que não há um computador. Seus trabalhos são todos manuscritos, e posteriormente digitados. A sala é decorada com fotos de Aurélio Buarque de Holanda, Antônio Houaiss e Afrânio Coutinho, as estantes são abarrotadas de dicionários e enciclopédias em diversas línguas. Naquela tarde, estavam todos aliviados: finalmente poderiam dicionarizar a palavra “azul-barateia”, tom de cor usado nos uniformes da Aeronáutica.

Para descobrir qual matiz de azul traduziria o termo “barateia”, tiveram que pesquisar junto a oficiais da Aeronáutica. Foi difícil encontrar alguém na FAB que soubesse explicar a origem do termo – a maioria adiantava apenas que era a mesma nuança do “azul-marinho”. Mas um oficial aviador formado em letras explicou que o termo “marinho” alude ao mar, e, portanto, sugeriria o azul da farda usada pela Força Naval. A Força Aérea precisava de nome à altura de seus pundonores e melindres.

Depois de semanas às voltas com o vocábulo, Débora Garcia Restom, uma das lexicógrafas, encontrou a palavra barathea em um dicionário de inglês. Oprimeiro registro que se tem da palavra é de 1812, indicando um tecido. A origem é desconhecida, mas é provável que venha do sânscrito, pois a Inglaterra importava tecidos da Índia. “O léxico é a janela da língua que se abre para o mundo”, disse-me Bechara. “Enquanto a gramática é você consigo, o vocábulo é você com o externo.”

Lexicógrafos são capazes de passar um dia inteiro discutindo as acepções da palavra “charada”, que pode significar tanto a motivação quanto a solução. Ou se a palavra panturrilha, que vem do espanhol pantorrilla, não deveria também ser escrita com o, pois a fonética e a etimologia são os dois critérios utilizados na ortografia.

“Antigamente, colocavam-se vários dicionários na mesa e as pessoas copiavam como se lhes conviesse, mas hoje fazemos um levantamento de milhões de ocorrências e vemos as variações semânticas dentro do contexto de uso”, explicou. “No Brasil, ainda engatinhamos na lexicografia. O dicionário Houaiss conta com 250 mil vocábulos. Já o Oxford, com 600 mil palavras, é excelente: só para a letra chá um volume inteiro. A letra c, na maioria das línguas, é a que tem o maior número de palavras.”

Bechara ficou felicíssimo com a recente conclusão do levantamento do léxico de Machado de Assis. “Os Lusíadas foram escritos com 5 mil palavras, a Bíblia com 7 mil”, disse. “Nós imaginávamos que iríamos encontrar não mais de 4 mil palavras nas obras completas de Machado. Quando você o lê, dificilmente tem que abrir o dicionário, ele usa um vocabulário comum. É diferente de um Euclides da Cunha, um Coelho Neto ou de um Rui Barbosa, que escreveram em um momento da estilística nacional em que se expressar bem era usar palavras difíceis”, contou. O resultado do levantamento mostrou, no entanto, que Machado utilizou 16 mil palavras diferentes. “Que surpresa boa, menina”, disse, orgulhoso da riqueza do seu escritor dileto.

Bechara aprendeu português no Colégio Leverger, instituto educacional modesto no Méier, cujo dono era um coronel amigo do tio-avô capitão. Teve como ferramenta de aprendizado a gramática de Eduardo Carlos Pereira, que, vinte anos mais tarde, seria convidado a atualizar. “Trabalhávamos a gramática de Pereira de cabo a rabo, sabíamos passagens de cabeça”, contou. Mas a disciplina que mais gostava era a matemática, pois queria seguir carreira militar como engenheiro aeronáutico. Um de seus programas prediletos era visitar o aeroclube do Campo dos Afonsos. Não foram penas perdidas. “Estudando matemática disciplinei meu pensamento”, avaliou.

Como precisava mandar dinheiro para a mãe e os irmãos que ficaram no Recife, passou a dar aulas particulares. Oferecia lições de matemática, mas só lhe apareciam alunos de português e latim, as disciplinas que mais reprovavam. Não podia se dar ao luxo de recusá-los, e então se dedicou aos estudos daquela que é esplendor e sepultura.

Certo dia, ao ajudar o tio-avô na faxina da garagem topou com Lexicologia do Português Histórico, de Manuel Said Ali, um dos maiores sintaxistas da língua portuguesa. Terminada a limpeza, o menino correu para o quarto e começou a leitura. “Quando li a primeira frase do prefácio, soube que, como dizia Dante, Said seria Il mio autore”, contou Bechara. O prefácio começava com: “Não estudo a língua separada do homem que a fala.”

Bechara recita o adágio com o arrebatamento de um adolescente a quem um mundo rútilo se descortina. O novel erudito já pressentia que não se devia decompor a língua como um legista faz com um cadáver. Mas era essa a atitude dominante. “A língua era estudada como produto natural”, lembrou. “Nascia, crescia e vivia independentemente do social. Se você plantar semente de laranja, nascerá uma laranjeira. Acontece que a língua depende do uso, e é perfeitamente possível plantar uma laranjeira e nascer uma macieira. Essa era a novidade de Said Ali.”

Como decorrência da afirmação de Said Ali, Bechara tem um axioma que sempre repete: a língua é produto de tradições, e não da lógica. “Se a língua fosse lógica, não poderíamos dizer ‘mais de um saiu’, teríamos que dizer ‘mais de um saíram’, porque mais de um tem de ser no mínimo dois; e dois leva o verbo ao plural”, explicou. “Os gramáticos não procuram a lógica da língua, apenas sistematizam os fatos produzidos pelos usuários. Quem quiser mostrar como a língua deve ser usada tem de conhecê-la, ler tudo o que cair debaixo dos olhos, do século XVI aos nossos dias.”

Bechara mantém sempre o mesmo padrão uniforme elocucional, não há flutuação tonal em sua voz. Seus amigos nunca o viram perder a paciência, nem mesmo quando teria razões para tanto. Em 1999, quando o deputado federal Aldo Rebelo quis restringir os estrangeirismos, para proteger a língua portuguesa, Bechara julgou o projeto absurdo.

“Essa ideia só pode ter vindo de alguém que não sabe o que é e como funciona uma língua”, constatou. “Por exemplo, os romanos eram muito pobres em cores. Posteriormente, os franceses e ingleses desenvolveram mais nomes para designá-las em decorrência da expansão do comércio e do aprimoramento da manufatura. Hoje, as palavras mais ligadas à tecnologia vêm do inglês, língua do país que a divulga. Os estrangeirismos são registros linguísticos do contato entre povos. Era o que Said Ali dizia no início do século passado: a língua é um produto social.”

No dia seguinte à leitura do Lexicologia do Português Histórico, Bechara foi à Livraria Central e comprou outras obras do autor: Dificuldades da Língua Portuguesa, Meios de Expressão e Alterações Semânticas e a Gramática Histórica da Língua Portuguesa.

Leu-as todas. Mas “um belo dia eu tive dificuldade no entendimento de um texto e precisei falar com o autor”. No viço da mocidade, e cheio de iniciativa, procurou Said Ali no catálogo de telefones. Ligou, apresentou-se como admirador de seus livros e pediu um encontro para sanar dúvidas.

No dia combinado, pôs a melhor farda colegial, pegou um trem do Méier até a Central do Brasil e de lá seguiu a pé até a rua da Glória. “Apareceu um homem que parecia um sultão com barbas longas, tendo ao lado uma cachorrinha preta com quem só falava em alemão”, lembrou-se. Bechara e Said Ali conversaram longamente, tarde adentro. O menino contou que desejava ser professor de português. O mestre lhe indagou se tinha alguma coisa escrita. Bechara contou que escrevia um trabalhinho, em rascunho, inspirado na leitura do próprio Said Ali.

O trabalho era sobre entonação, sobre significados na língua que são expressos por meio da modulação do falante. Fazia um levantamento do fenômeno em várias línguas. Em árabe, disse, xabat quer dizer bater, mas se pronunciado xaaaaabat, com gradação intensiva, significa bater fortemente.

A musa que cativou o jovem e continua a enfeitiçar Bechara é a sintaxe. “Você não fala com palavras isoladas ou com fonemas”, defendeu. “Você fala com a frase. O estudo da frase é a sintaxe. Sintaxe quer dizer ‘combinação’. Os gregos foram buscar a palavra na nomenclatura militar: sintaxe era a arrumação dos soldados na tropa, e a reunião da tropa no exército. Na língua, o processo é o mesmo: a análise sintática mostra as relações de dependência e independência que as palavras, expressões e orações mantêm entre si.”

Passado algum tempo, numa sexta-feira, dia de encerar a casa, Bechara estava com a enceradeira para lá e para cá, quando o telefone tocou. Era da casa de Said Ali, pedindo que ele fosse lá, no dia seguinte. No sábado, o pupilo recebeu um elogio austero: “Para sua idade, achei bom o trabalho que o senhor fez.” Veio então o presente: “Está vendo aquela pilha de livros ali? São seus. À medida que o senhor for lendo, vá levando-os.” A pilha media mais de 1 metro e incluía Diogo do Couto, João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda e outros de jaez excelso. Eça e Machado eram o que a torre tinha de mais recente.

Durante doze anos, até a morte de Said Ali, aos 91, Bechara frequentou a casa do professor. Trabalhavam em traduções do alemão, ou estudavam os antigos. Said Ali lia em voz alta, e frequentemente se interrompia para fazer comentários filológicos do texto, elucidando a história de palavras. Foi apenas depois de dar uma sólida base literária ao aprendiz que Said Ali o apresentou aos textos teóricos. O primeiro deles, escolhido a dedo, foi o Cours de Linguistique Générale, de Ferdinand de Saussure. Ao lembrar-se de sua formação, em homenagem ao grande mestre, Bechara pediu de sobremesa uma torta alemã.

Concluído o ginásio, começou o curso clássico no Instituto La-Fayette, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro. “Fiquei sabendo através de um amigo que eu poderia apresentar um trabalho em vez de cursar os dois anos de clássico que faltavam”, contou. “Se o trabalho fosse julgado de valor, notório saber, não precisaria concluir o curso para me candidatar ao vestibular. Eu tinha o trabalho dos fenômenos de entonação, elogiado por Said Ali. Apresentei e passei.” Entrou para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Instituto La-Fayette. No curso de neolatinas, o colega de turma mais novo depois de Bechara tinha 28 anos, dez a mais que ele.

Horácio Rolim de Freitas é um filólogo de 79 anos, amigo de Bechara há cinquenta. Apesar de mais jovem, não se vexa em dizer que inveja a memória do amigo: “É de admirar! Bechara sabe o aniversário de todos os filólogos de cor, lembra-se de livros que leu há cinquenta anos.”

Perguntado sobre quantas línguas fala, Bechara respondeu: “Só português, mal e parcamente.” Modéstia à parte, disse que para uso pessoal tem o português, o inglês, o francês e o alemão. Consegue ler em todas as línguas românicas, que são dez. “Do ocidente para o oriente, excluindo os dialetos, temos o português, o galego, o espanhol, o catalão, o francês, o provençal, o italiano, o dalmático, o reto-românico e o romeno”, explicou, apontando no ar, como se estivesse mostrando as regiões em um mapa. O bom conhecimento de grego e latim, disse, facilitou o aprendizado. “Em árabe, não leio, mas sei xingar muito porque era o que as avós mais faziam”, brincou.

Em 1946, quando começou a dar aulas, não havia concurso público para escolas, os cargos eram todos preenchidos por indicação. “Como não tinha ninguém que me indicasse, sabia que teria de estudar o dobro”, contou. Chegou a dar treze aulas por dia, quatro de manhã, quatro à tarde e cinco à noite. Chegava em casa, jantava, tomava banho e estudava até as três da madrugada: “O professor nada mais é do que um estudante mais velho”, disse o gramático, que ainda hoje não dorme antes da uma da manhã. “A consciência permanente da responsabilidade que colegas competentes e alunos me atribuem não me deixa parar de estudar.”

Quando vieram os concursos públicos, entrou de cabeça: participou de dez deles. Aproveitava posições, cátedras e titularidades que se lhe iam apresentando. A carreira poderia ter sido catapultada se tivesse aceitado o convite, recebido ainda no 3º ano de faculdade, para tornar-se catedrático de latim. “Eu declinei o convite em homenagem ao professor Said Ali”, contou. “Aos meus 16 anos ele se debruçara sobre mim, e me orientara para ser professor de língua portuguesa.”

Para o primeiro concurso que prestou – para a cátedra de língua portuguesa no Colégio Pedro II, em 1954 –, escreveu a tese “Evolução do pensamento concessivo no português”.Boatos se espalharam que Bechara teria plagiado um trabalho de Said Ali. Os vinte e poucos anos do rapaz não condiziam com a bibliografia fora de órbita que apresentara. Quando veio o exame escrito, tirou dez com todos os arguidores. O boato então mudou: o espírito de Said Ali havia feito a prova.

A única preocupação de Bechara foi com a palavra boato. O termo, indicando notícia que anda publicamente, sem procedência, não é herança romana. Ao contrário, seu aparecimento é recente no português. Não encontrou a palavra em Barros, Couto e Camões. Nos Sermões de Vieira colheu um exemplo em que significava som forte. “Os escritores do passado recorriam às palavras fama ou rumor quando pretendiam expressar o boato de nossos dias”, esclareceu.

Na defesa da tese de livre-docência, “O futuro românico: considerações em torno de sua origem”, Bechara emocionou-se com o comentário da banca: “Não podemos dar menos de dez em títulos para o autor da Moderna Gramática Portuguesa.” A gramática de Bechara é seu principal motivo de notoriedade. Além de ser usada em escolas, universidades, e bibliografia obrigatória em concursos públicos, é uma das obras mais citadas em teses e dissertações sobre língua portuguesa.

Em 1961, a Companhia Editora Nacional propôs a Bechara que escrevesse um capítulo para atualizar a Gramática Expositiva de Eduardo Carlos Pereira, publicada em 1910. As ideias estruturalistas chegavam ao Brasil, abalando a linguística, e era necessário ajustar o texto de Pereira. “Quando eu apresentei o capítulo, que também incluía os estudos americanos adiantados sobre fonêmica e fonologia, viram que eu tinha feito um novo livro, já não era mais o Pereira”, contou. “Pediram então que eu escrevesse a minha própria gramática.”

Para escrevê-la, releu todos os grandes autores e começou a anotar os fatos da língua. Na bibliografia, mais de 150 obras são citadas. Bechara também faz frasespara a esposa, Marlit, três filhos, sete netos, dois bisnetos, colegas e o barbeiro. A frase “Eu dancei com Marlit” serve para exemplificar o sentido de companhia da preposição “com”.

A Moderna Gramática, dedicada a Said Ali, está na 37ª edição. Só a edição de 1999 teve mais de vinte reimpressões. Na década de 80, o editor da Nacional disse a Bechara que a gramática já havia vendido mais de 2 milhões de exemplares. “Só sei que eu não fiquei rico”, brincou o autor.

Evanildo Bechara relutou em se candidatar a uma vaga de imortal. “A Academia sempre foi madrasta dos filólogos”, justificou. “Como todos os fundadores eram literatos, direta ou indiretamente, o amor à língua era cultivado, mas não o estudo dela. Basta dizer que Antônio de Moraes Silva, autor do primeiro dicionário monolíngue em língua portuguesa – até então todos os dicionários eram de português-latim –, não foi escolhido como um dos patronos. A Academia também foi muito injusta com o velho Antenor Nascentes, que lhe escreveu um dicionário em quatro volumes e foi rejeitado.”

Amigos, contudo, o persuadiram a se candidatar. Mas alertou que concorreria uma única vez. Em 2000, foi eleito para a cadeira 33. Brincou: “Virei imortal, mas não imorrível.”

Bechara lembrou-se então da polêmica levantada quando o ex-ministro Antônio Rogério Magri, do governo de Fernando Collor, declarou que era “imexível” no cargo. “Fizeram o maior alarde porque não encontraram a palavra no dicionário”, recordou. “Esqueceram a potencialidade da língua, que nada mais é do que um reflexo sociocultural das comunidades. Se pegarmos a morfologia de impagável, imutável, o ‘imexível’ do Magri foi e sempre será perfeitamente possível.” E citou a definição de Fernão de Oliveira, que em 1536 escreveu a primeira gramática de português: “A língua é o que os falantes fazem dela.”

A única competência legal da Academia Brasileira de Letras é publicar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que os imortais chamam de Volp. Em 2008, a quarta edição do Vocabulário estava esgotada e acadêmicos trabalhavam na quinta edição, quando foram surpreendidos pelo novo acordo ortográfico, que desde 1990 estava no limbo. Esqueceram-se do projeto desde o falecimento de Antônio Houaiss, o mentor da reforma que unificaria a ortografia dos oito países de língua portuguesa. Em setembro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto, fazendo valer as novas regras de escrita, que entrariam em vigor a partir de janeiro de 2009.

Os seis lexicógrafos que integram a comissão do Vocabulário resolveram aplicar as novas regras nas 350 mil palavras do vocabulário da nova edição. Naquele ano, ninguém tirou férias. “Mergulhamos no texto do acordo e muitas vezes demos com a cabeça na pedra”, contou Bechara. “O textoé muito lacunoso e, o que não sabíamos, interpretamos, imbuídos do espírito do acordo.” Ele estava preparado para a catadupa de críticas que viriam. “Primeiro as palmas, depois as palmadas”, brincou.

O acordo desagradou boa parte dos linguistas, abrindo uma série de discussões na imprensa. Houve desde manifestações românticas, do tipo “o voo da gaivota perdeu a poesia sem o circunflexo”, até a lástima narcísica dos que sabiam explicar a diferença entre à-toa e à toa. Agora, ambos não têm hífen.

Mário Perini, linguista da Universidade Federal de Minas Gerais, é um forte opositor do novo acordo ortográfico. Segundo ele, o cunho da reforma é político e comercial. Acredita que a Guiné-Bissau deve ter necessidades maiores do que destinar seus poucos recursos a reimprimir livros escolares para remover tremas e acentos. E acrescenta que se fosse para de fato simplificar a língua, a reforma teria de ter maior alcance, permitindo que se escreva “xuva”, “jente”, “sidade” e “caza”. Perini não vê nada de simples em escrever “ideia” igual a “feia”, quando a pronúncia é diferente. Disse ainda que a reforma só contribui para o complexo de inferioridade do brasileiro, que acha que não sabe a própria língua.

“Se essa parede não tem infiltração, por que vou quebrá-la?”, perguntou Claudio Cezar Henriques, professor de língua portuguesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, apontando para a parede da sala de seu apartamento na Tijuca. O professor explicou que não existe ortografia ideal simplesmente porque ela nunca poderá ser um espelho da fonética. É por isso que certas partes do acordo são incoerentes. O único acento diferencial mantido foi em “pôr”, explicou, para diferenciar o verbo da preposição por. Entretanto, o acento de “pára”, que também tem preposição e verbo homônimos, caiu. “O jornais nunca mais poderão dar a manchete ‘Justiça para o Brasil’, pois a frase fica ambígua”, constatou.

Segundo o acordo, o prefixo “co” diante de uma palavra iniciada com h tem hífen. Acontece que o Volp grafou “coerdeiro” sem hífen e sem h. Isto porque há outra regra que diz: “O h inicial suprime-se quando, ‘por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente’, como em desarmonia, biebdomadário e lobisomem.”

A lista de incoerências encontradas por Henriques é longa: água-de-colônia tem hífen, mas água de cheiro não. O acordo diz que algumas palavras, consagradas pela tradição, mantêm o hífen. “Mas eles não estão justamente mudando a tradição? E quem decide quais usos são consagrados e quais não são?”, indagou o professor. Ele mesmo respondeu: “Seguimos o que está no Vocabulário Ortográfico, ele tem força de lei. Pela legislação é lá que se encontra a ortografia correta.”

Quer tirar um professor de português do sério? Peça que lhe explique o uso do hífen. Bechara reconhece que o hífen ainda está “capenga”. Explicou a origem da confusão. Antigamente, quase não havia hifens, mas no século XIX a nomenclatura técnica criou muitos compostos na física, na química, na botânica, na economia e na filosofia. Esses compostos começaram a atrair o hífen. Os espanhóis adotaram uma solução mais econômica para o seu emprego, e os aboliram em grande parte. Já os franceses, que exerciam uma influência na Europa, se excederam no acento. Portugal, em vez de adotar o sistema espanhol, seguiu as pegadas da França.

Cada notação ortográfica só tem uma função: o acento agudo mostra uma vogal aberta; o circunflexo, uma vogal fechada em sílaba tônica. Já o hífen tem cinco funções: fonética, morfológica, sintática, semântica e estilística. Daí a dificuldade em estabelecer regras que atendam e harmonizem todos os critérios. Dia-a-dia, quando significava cotidiano, era uma locução substantiva, então se usava hífen, como na frase: “O meu dia-a-dia é muito agradável.” Mas dia a dia também pode ser uma locução adverbial. Não havia hífen em “A criança cresce dia a dia”.

Até o século XIX, as gramáticas eram mais normativas do que descritivas. No século seguinte, com Ferdinand de Saussure, a linguística adquiriu proeminência, e a ênfase foi para o estudo interno e a descrição das línguas, feitas com base na oposição de diferenças e semelhanças, de sintagmas e paradigmas, de significados e significantes – foi o primado do método estrutural.

A língua falada, supostamente espontânea e livre, passou cada vez mais a ser objeto de estudo científico, enquanto a gramática era tida como dogmática e conservadora. Baseada num corpus literário de escolha subjetiva – o cânone dos grandes autores, sem fundamento científico –, dizia-se que a gramática impunha uma língua artificial e elitista, fora do uso comum.

Consolidaram-se, assim, estereótipos. Enquanto o linguista era vinculado à ideia de liberdade, o gramático simbolizava a opressão. Todo o falar seria legítimo, não existiria certo ou errado, desde que o falante se faça entender. A correção seria uma violência a jeitos diferentes de falar do aluno.

Esses estereótipos voltaram à tona no mês passado, numa polêmica em que o governo federal foi acusado pelas classes conservadoras de querer abolir a norma culta. O pretexto foi um livro recomendado pelo Ministério da Educação que, justamente, discutia os estereótipos.

A posição de Bechara é a de que os grandes escritores depuram e aperfeiçoama língua, não aceitam qualquer influência popular ou aderem a modas. Eles desbastam os excessos e os caprichos, e é neles que se encontra o “deve ser” da língua.

Ele defende que o aluno deva ser poliglota em sua própria língua. “Ninguém vai à praia de fraque ou de chinelo ao Municipal”, disse. “As pessoas têm de saber adequar o registro linguístico à situação, de modo que aprender a norma culta seria somar e não substituir uma variedade da língua.” Para não haver confusão, no entanto, acha que nas escolas se deva ensinar tão somente a norma culta, sem relativismos que venham a deixar crianças e adolescentes em dúvida.

Numa tarde quente, em seu apartamento no Flamengo, o professor Ricardo Cavaliere disse ser um discípulo de Bechara. Os dois se conheceram na Universidade Federal Fluminense, em 1992, onde dividiam a sala 452. Cavaliere organizou Entrelaço entre Textos: Miscelânea em Homenagem a Evanildo Bechara, publicado em deferência aos 80 anos do professor.

Ao fazer o levantamento bibliográfico dos mais de 25 livros, 26 capítulos de livros, cinco teses, centenas de artigos, resenhas e prefácios, introduções e apresentações, além de verbetes e traduções, Cavaliere se perguntou: tendo lido tanto, como Bechara teve tempo para escrever? E tendo escrito tanto, como teve tempo para ler?

“A biblioteca do Bechara é de causar inveja”, disse Cavaliere. “Ele deveria publicar um guia internacional de sebos. Conhece todas as livrarias e sebos da Rússia a Portugal. Tem um faro invejável para encontrar livros raros.”

Dona Marlit, casada com Bechara há trinta anos, contou que a busca de livros é uma obsessão do marido. “Uma vez, estávamos em Copenhague e o livreiro o levou para um porão onde havia obras raras”, contou. “Passou mais de uma hora e ele não voltava. Fiquei preocupada. Quando desci ao porão, lá estava ele muito interessado na leitura, sentado num banquinho com livros a sua volta.”

O gramático lembrou quando foi trancado numa livraria, em Estocolmo. Ele lia quietinho em um canto e fecharam a loja com ele dentro. “A sorte foi que consegui abrir uma janela e pedir ajuda a uma senhora que passava”, disse. A sua biblioteca tem mais de 35 mil volumes. Está espalhada por uma casa, no Méier, e dois apartamentos, em Botafogo, onde mora num terceiro.

Evanildo Chauvet Bechara, o seu filho mais velho, foi um dos idealizadores da coletânea organizada por Cavaliere. Mas não chegou a ver sua ideia concretizada: morreu de infarto fulminante, em 2007, num quarto de um hotel em Manaus. “No dia seguinte ao velório, o professor Bechara tinha uma viagem marcada para representar a Academia em Brasília”, contou o professor Domício Proença Filho, também acadêmico. “E me prontifiquei a substituí-lo, mas ele foi mesmo assim. Me comoveu a sua aceitação dos desígnios divinos.”

O latinista Rosalvo do Valle, de 84 anos, conhece Bechara há 65. Ele me contou que um neto de Bechara, um menino de 12 anos, teve um acidente de skate e morreu alguns meses depois que o gramático perdera o filho. “Pensei: agora o Bechara desmonta”, disse Do Valle. “Fui à missa de sétimo dia, encontrei-o caído, mas seguro. Na semana seguinte, já tinha voltado a dar aulas.”

Como conseguiu lidar com perdas difíceis? Bechara respondeu: “É como acontece na gramática, um verbo que só pedia objeto direto agora pede objeto indireto. Era transitivo, passou a intransitivo. É você saber receber a vida como ela é e não arquitetar uma vida diferente da realidade. Isso sim causa sofrimento. A morte é uma coisa natural na vida.”

Ele aproveitou e disse que não está errada a expressão “correr risco de vida”, como se acredita hoje, argumentando-se que o perigo que se corre é de morte. A expressão tem respaldo na tradição, explicou. O próprio Machado escreveu, em Quincas Borba: “Salvar uma criança com o risco da própria vida.”

Efeitos da Internet



Do livro de Nicholas Carr

Lucro em excesso

As empresas dos Estados Unidos aumentaram em 15% o lucro obtido no exterior: 1,9 trilhão de dólar. E estão mantendo o resultado no exterior, evitando a tributação. O resultado do exterior aumento 70% nos últimos cinco anos.

Como as empresas só pagam imposto do resultado quando o dinheiro entra nos Estados Unidos e as regras de contabilidade permite que a despesa de imposto não seja considerada se a empresa mantiver o dinheiro reinvestido no exterior, dificilmente todo valor será repatriado.

Mas as empresas estão pressionando o Congresso para aprovar uma lei para trazer os lucros em o pagamento de imposto. No passado pequenos períodos de tempo foram concedidos para que as empresas repatriassem seus lucros, mas o dinheiro não foi usado em investimento de capital ou contratação de pessoas.

Em alguns casos, empresas estão captando empréstimo mesmo tendo dinheiro, evitando a taxação. É o caso da Apple, que contratou 17 bilhões de dólares no mercado de títulos, mesmo tendo "dinheiro" no balanço. O mesmo ocorreu com a Microsoft.

Leia mais aqui

Frase

Alguém diga para ela que Yourporn é grátis ! (Adrianne Gonzalez, GoingConcern)

Referindo ao pedido de Mary Jo White, feito ao Congresso dos Estados Unidos, de aumentar o orçamento da SEC em 26%. Recentemente descobriu que alguns computadores da SEC estavam sendo usados para visitar endereços na internet para adultos.

Ex-primeiro ministro e prisão

O ex-primeiro ministro da Itália foi condenado por um tribunal de apelação. O motivo: fraude fiscal. A pena: quatro anos de prisão e impossibilidade de exercer cargo público por cinco anos. Mas assim como no Brasil, somente após todos recursos julgados é que ele poderá experimentar a comida da prisão. E os advogados devem apelar.

O próprio Berlusconi já esperava a decisão e já declarou sua inocência. A acusação diz respeito a declaração de um preço na compra de direitos televisivos acima do mercado para reduzir o pagamento de impostos.

Ex-executivo da Enron e a prisão

O ex-executivo da Enron, Jeff Skilling, fechou um acordo com o Ministério Público Federal dos Estados Unidos dez anos antes de cumprir seus 24 anos de prisão. O executivo foi condenado pela fraude na Enron e deveria deixar a prisão em 2017. Para isto, Skilling abriu mão de 40 milhões de dólares e desistir da apelação da condenação.

O escândalo da Enron mostrou uma empresa que manipulava sua contabilidade e iniciou uma série de divulgação de outras fraudes contábeis. A consequência foi a promulgação da Sarbox, uma lei que aumentava o rigor com executivos envolvidos em crime do colarinho branco.

Sobre déficits e superávits


Sobre déficits e superávits
JOÃO LUIZ MAUAD*
Comentário do Dia, Instituto Liberal, 6/05/2013
Saiu na semana passada o resultado da balança comercial do mês de abril.  O resultado foi um “déficit” de US$ 994 milhões que, acrescido ao acumulado nos três primeiros meses, forma um “déficit” total de US$ 6,4 bilhões no ano.  Como esperado, os meios de comunicação deram grande destaque à notícia, e todos eles, sem exceção, o fizeram em tom de lamento.   O site do “Bom dia Brasil” (Portal Globo.com), por exemplo, estampou a seguinte manchete: “Rombo da balança comercial em abril é o pior da história para o mês”.
O uso da palavra “rombo” denota algo imoral, como se o fato de a sociedade brasileira haver importado mais do que exportou fosse algo pecaminoso, digno de vergonha.  Será mesmo?
O leitor deve ter reparado que usei aspas na palavra “déficit”, e isso tem um motivo.  Por alguma razão que já vem de longe, na equação algébrica que resume as contas de comércio internacional de qualquer país, convencionou-se aplicar às exportações o sinal positivo, enquanto às importações está reservado o sinal negativo.  Dessa forma, quando as exportações superam as importações, diz-se que a balança comercial é superavitária, e vice-versa. Como esse padrão foi estabelecido de forma arbitrária, nada impediria que ele fosse o contrário, como deveria.
Saindo da lógica mercantilista, que enxerga o dinheiro como o objetivo e as mercadorias e serviços como meios de obtê-lo, veremos facilmente que são as importações que contribuem efetivamente para o bem estar de uma nação, não as exportações.  Um país é rico na proporção da abundância de produtos e serviços postos à disposição dos cidadãos. A saída de produtos é um custo, enquanto a entrada é o verdadeiro benefício, assim como o trabalho é o meio e o consumo é o fim.  Sobre isso, vale lembrar os ensinamentos oportunos de Milton Friedman:
"Outra falácia raras vezes posta em questão é a de que as exportações são boas e as importações são ruins. A verdade se revela muito diferente disto. Não podemos comer, vestir ou gozar dos bens que enviamos ao exterior... Nosso ganho com o comércio exterior está no que importamos. As exportações constituem o preço que pagamos para obter as importações.

Inflação

Crianças brincam com dinheiro, na Alemanha em 1923: hiperinflação

08 maio 2013

Rir é o melhor remédio

O mundo é plano

Currículo Racial


Na plataforma Lattes, o poeta e diplomata Vinícius de Moraes seria preto:

"Eu, por exemplo, o capitão do mato

Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil"



Currículo racial
Editorial O Estado de S.Paulo, 5 de maio de 2013

Parece não haver desvão da sociedade brasileira que esteja livre do germe do racialismo patrocinado pelo Estado. A mais recente investida se deu na Plataforma Lattes, sistema que agrega informações sobre o universo acadêmico, organizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na Plataforma, os pesquisadores devem manter seu perfil acadêmico e atualizá-lo regularmente com sua produção, para que as instituições de fomento possam medir seus méritos antes de conceder financiamentos. É o chamado Currículo Lattes, sem o qual praticamente nenhum pesquisador hoje no País é reconhecido. Pois agora o CNPq solicita dos acadêmicos uma informação que nada tem de científica ou meritória: a "raça" ou a "cor".

Os pesquisadores que tiveram de atualizar seu Currículo Lattes nos últimos dias depararam-se com essa exigência esdrúxula: "O campo 'Cor ou Raça' é de preenchimento obrigatório para a publicação do Currículo Lattes. Essa informação é solicitada para atender à Lei n.º 12.288, de 20 de julho de 2010". Trata-se da lei que institui o chamado Estatuto da Igualdade Racial, um projeto que, prenhe de boas intenções, oficializou a desigualdade racial no Brasil.

Ao estabelecer uma série de mecanismos que visam a "combater a discriminação de cidadãos afro-brasileiros", o estatuto parte do princípio de que os cidadãos brancos são invariavelmente favorecidos nos concursos e no trabalho graças somente à cor de sua pele, e não a seus méritos pessoais. Portanto, para combater essa suposta discriminação, criou-se outra, que nada tem de hipotética. Pretendeu-se resgatar uma "dívida histórica", referente à escravidão, à custa do artigo constitucional segundo o qual "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza".
Essa aberração jurídica foi corroborada pelo Supremo Tribunal Federal em 2012, ao avalizar a adoção de cotas para negros e pardos nas universidades públicas. "A pobreza tem cor no Brasil", justificou a ministra Rosa Weber, como se a pobreza fosse uma característica inerente aos negros. Poucas vezes a consolidação de um estereótipo social negativo como esse contou com o apoio de tão doutos jurisconsultos.

O resultado é que a sociedade está agora legalmente dividida em negros e pardos de um lado e brancos de outro. Por esse motivo, pareceu natural ao governo exigir uma declaração racial formal dos pesquisadores e acadêmicos - como parte de seu currículo pessoal. A Secretaria da Promoção da Igualdade Racial informa que esse dado agora é necessário para "orientar os órgãos públicos federais na adoção de ações de promoção da igualdade racial" e que isso "atende a uma das mais antigas reivindicações do movimento negro brasileiro". A julgar pela explicação da secretária de Políticas de Ações Afirmativas, Angela Nascimento, isso significa que o Estado poderá discriminar pesquisadores em razão de sua raça ou de sua cor na hora de decidir se deve ou não financiá-los, pois o "quesito raça/cor" é "instrumento fundamental da ação governamental no planejamento, avaliação e alcance de tais políticas públicas".

Sofisticou-se, assim, o racialismo. Até aqui, as políticas de ação afirmativa tinham como base apenas levantamentos demográficos genéricos, feitos pelo IBGE, nos quais se preservava o anonimato. Agora, no caso dos pesquisadores, seus nomes estarão vinculados a rótulos como "negro", "branco" ou "amarelo", como se essas definições fizessem parte de suas qualificações. Em artigo no jornal O Globo (18/4), sob o apropriado título O ovo da serpente, a antropóloga Yvonne Maggie se disse "chocada" com a exigência do CNPq, expressando dúvidas pertinentes: "Como essa informação será utilizada? Será sigilosa?".

Há a opção "não desejo responder à pergunta", mas quem garante que o pesquisador que se recusar a informar sua raça não será discriminado por isso? O fato é que a pergunta nem sequer deveria ter sido feita, pois que mérito acadêmico há em ser "branco", "negro" ou "amarelo"?


Erro em planilha

Após o erro grosseiro cometido por dois economistas de Harvard (que Mankiw defendeu, afinal ele também é de Harvard), novas histórias sobre o uso errôneo da planilha Excel em ambientes de trabalho.

Segundo Baseline Scenario uma investigação do JP Morgan descobriu que a instituição financeira implantou um novo modelo de Value-at-Risk (VaR). O modelo era operado por uma série de planilhas do Excel, feitas manualmente, através do Control C Control V. O modelo foi aprovado, mas num determinado ponto dos cálculos a planilha usava a soma em lugar da média. O resultado final foi um VaR menor. O prejuízo ultrapassou a 1 bilhão de dólar.

Mas não são os únicos casos. Segundo a revista Fortune, quando o Barclays resolveu comprar o Lehman Brothers, durante a crise financeira, os analistas detalharam os ativos que gostariam de comprar, mas em lugar de excluir 200 células, ocultaram-nas. Quando o arquivo foi convertido para PDF as células apareceram e o Barclays foi forçado a comprar ativos tóxicos que não queria.

Na área pública, o estado de Utah subestimou o número de alunos que seriam matriculados nas escolas públicas, reduzindo o orçamento de educação. Aparentemente foi um erro de “referência”.

Receitas

As receitas das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune se aproximaram do recorde e o Wal-Mart desbancou a ExxonMobil como a varejista de maior receita, disse a revista nesta segunda-feira.

A Apple ficou entre as 10 maiores empresas, pela primeira vez, saltando do 17º lugar no ano passado para o 6º.

As receitas combinadas da lista Fortune 500 foram de U$820 bilhões em 2012, um pouco menor que o recorde de 2011 de U$824,5 bilhões em 2011.

As receitas subiram para 6,8% das vendas, bem acima da média histórica de 5,5%, informou a revista.

"Para o futuro, a questão primordial para as 500 empresas é se a era do lucro abundante vai continuar", disse o editor sênior da Fortune, Shawn Tully.

Tully previu que as empresas seriam forçadas a aumentar seus quadros e pagar salários mais altos se a economia continuar melhorando.

O Wal-Mart ficou no primeiro lugar da lista, com receita de U$469,2 bilhões, U$19,3 bilhões a mais que a Exxon. Contudo, o lucro da Exxon, de U$44,9 bilhões, superou a do varejista, de U$17 bilhões.

Exxon e Wal-Mart têm ocupado as duas primeiras posições nos últimos anos. Este é o nono ano que o Wal-Mart lidera a lista.

As empresas de energia continuam tendo um papel de destaque no grupo, com a Chevron em terceiro lugar e a refinaria Phillips 66 no quarto posto.

Entre as top 10 também estão a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, a Apple, General Motors, General Electric e Ford Motor.

A revista destacou a recuperação dos serviços financeiros, que liderou os setores, com U$200 bilhões em lucros totais, à frente do setor de tecnologia.

O JPMorgan Chase ficou na 18º posição, o Bank of America na 21º, Wells Fargo, 25º e Citigroup ficou em 26º.


Wal-Mart supera ExxonMobil em lista da Fortune - Por AFP

Imposto na Nota Fiscal

Empresas de grande porte já emitem o cupom fiscal discriminando o valor do imposto pago pelo consumidor quando este compra algum produto. Esta informação terá de constar dos cupons fiscais emitidos por todas as empresas a partir do dia 8 de junho, como previsto pela Lei 12.741, sancionada pela presidente Dilma Rousseff no final do ano passado. As companhias que já informam ao contribuinte o valor do imposto – em fase experimental – são as Lojas Renner, a Riachuelo e a Telhanorte.

(...) Juliano Montroni, coordenador de sistemas da Riachuelo, também destaca a simplicidade para a implantação do sistema. Na opinião dele, "empresas menores, com menos volume de emissões de nota, terão ainda mais facilidade". Montroni falou também sobre a importância da nova informação que passou a constar nos seus cupons fiscais. "É uma forma de reeducar o brasileiro. Tendo o imposto impresso na nota, o consumidor terá algo tangível nas mãos para cobrar retornos do governo por aquilo que contribuí", afirmou o representante da Riachuelo.

O texto da Lei 12.741 nasceu dentro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), sendo que seus preceitos foram antecipados pelo movimento de Olho no Imposto, que percorreu diversos municípios para divulgar o peso dos impostos sobre o preço dos produtos e serviços consumidos no dia a dia. O movimento, liderado pela Associação Comercial, teve a participação do IBPT, Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis no Estado de São Paulo (Sescon-SP) e outras 102 entidades que lutaram pela regulamentação da discriminação dos tributos nas notas ou cupons fiscais. O movimento coletou 1,5 milhão de assinaturas pedindo a aprovação da lei, o que foi conseguido ao final de 2012.

Sobre o imposto na nota fiscal, Gilberto Luiz do Amaral, presidente do Conselho Superior do IBPT destacou o caráter educacional da medida. "Com o tempo, as pessoas deixarão de dilapidar o patrimônio público, passarão a valorizar o bem comum e a defendê-lo. Entenderão que os impostos são necessários e conseguirão associar os valores que pagam com uma boa ou má aplicação dos recursos", afirmou.


Fonte: Diário do Comércio, via Alexandre Alcantara

07 maio 2013

Rir é o melhor remédio




Salami Science

Estava atualizando o livro de Teoria Contábil. Ao final de cada capítulo existe um tópico que tenta condensar as pesquisas mais atuais daquele tema. Para fazer atualização desta parte, selecionei um conjunto de artigos publicado recentemente na nossa literatura. Num determinado tema surpreendi com dois artigos de três autores sobre o mesmo tema. Ao olhar com mais atenção, percebi que os autores praticaram o Salami Science.

O que é Salami Science? Segundo Fernando Reinach (aqui)

"Salami Science" é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo.

Algumas consequências indiretas do Salami Science é o aumento no número de artigos submetido aos periódicos, a dificuldade de citar uma pesquisa através de único artigo, o aumento nos textos que precisamos ler para compreender um determinado assunto e a redução na qualidade geral dos textos. Com respeito aos artigos onde percebi o Salami Science, resolvi não citar nenhum dos dois no livro. (Eu percebi a existência de trechos idênticos em ambos os artigos).

Mas é importante observar que a Salami Science é consequência do ambiente acadêmico que vivemos. Somos avaliados pelo número de artigos que conseguimos publicar. Quando um pesquisador faz o Salami Science ele está reagindo a este sistema. É uma reação explicada por Darwin:

Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar "Salami Science". É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu...

Eu costumo dizer que Einstein não seria professor no Brasil, já que as suas principais descobertas foram publicadas assim que foram surgindo na sua mente. E ele passou uma grande parte da sua vida tentando criar uma teoria unificada, que não conseguiu. Não seria produtivo. Não faria pontos no Qualis da Capes.

Santiago Bernabéu

Eis um exemplo como aproveitar bem um ativo, no caso o estádio Santiago Bernabéu, do Real Madrid:

Para o clube, já se foi o tempo em que estádio era apenas para os domingos de futebol. Nos últimos anos, o Santiago Bernabéu se transformou numa máquina de fazer dinheiro sete dias por semana, todo o ano.

Com aluguéis de salas para reuniões, tours diários para visitantes de todo o mundo, restaurantes de diferentes países e uma verdadeira estrutura de centro de negócios, o estádio do Real Madrid atingiu no ano passado uma situação inédita: já recebe mais gente em dias sem jogo que em dias de rodada do campeonato espanhol.

Um verdadeiro oásis de dinheiro numa Espanha quebrada, o Santiago Bernabéu se transformou numa das empresas mais rentáveis do país. Por ano, chega a faturar 120 milhões - valor suficiente para comprar a cada ano um novo Cristiano Ronaldo ou acima de toda a renda de Corinthians, São Paulo ou Flamengo. Esse valor nem sequer inclui o próprio time do Real Madrid e seus patrocinadores. Há 15 anos, a renda do estádio quase dependia exclusivamente do futebol, acumulando 33 milhões em 1998.

O projeto de transformar o estádio criado em 1947 numa empresa tem cerca de 15 anos, e os resultados logo apareceram. Por ano, são mais de 700 mil pessoas que compram seus ingressos (a 16 cada) para passear pelo estádio. Em 2012, isso garantiu ao clube 29 milhões, praticamente sem esforço.

Além de visitar os vestiários, caminhar pelo gramado, sentar no banco de reservas e conhecer os túneis, o visitante ainda pode tirar uma foto com Cristiano Ronaldo, com a taça da Liga dos Campeões ou mesmo abraçado com José Mourinho. Tudo graças a computadores. E, claro, com o desembolso de mais 20 por foto.

Estrategicamente, o tour termina dentro da maior loja de artigos de um clube já construída. O visitante pode sair com a camisa do time com seu nome nas costas por mais 100.

Mas não são os turistas que mais deixam dinheiro no estádio. Com 252 salas, o Real oferece a empresas a possibilidade de alugar as dependências para eventos que podem ir de 10 a 80 mil pessoas - ou seja, o estádio lotado. Uma das empresas que abandonaram o formato tradicional de reunião para ir ao estádio foi a Cisco Systems.

"Aqui não trabalhamos para os jogos de futebol dos domingos. Aqui, há jogos todos os dias", comenta Marta Santamaria, uma das responsáveis pela gestão do local. Na temporada 2010-2011, foram 447 eventos, mais de um por dia. Jogos, apenas 27. O restante são atos comerciais de empresas, reuniões de grupos e promoções.(...)

06 maio 2013

Rir é o melhor remédio

Organograma

Gazeta do Rio de Janeiro e a Contabilidade anterior a independência

As primeiras notícias sobre a contabilidade num jornal impresso brasileiro ocorreu logo após a chegada da Família Real. Isto não foi uma coincidência, já que a imprensa no nosso País começou após a vinda do rei de Portugal. O primeiro registro que encontrei nas minhas pesquisas ocorreu no jornal Gazeta do Rio de Janeiro, em 1809. E trazia o seguinte anúncio:

O Superintendente da Decima das Freguezias de Santa Rita, e Candellaria procura hum sujeito, que bem escreva, e conte para a escripturação da Decima: quem se achar nestas circumstancias, dirija-se ao dito Superintendente.
(Gazeta do Rio de Janeiro, n. 77, p. 4, 1809. Itálico no original)

O Superintendente estava procurando alguém que tinha uma boa caligrafia, um dos requisitos relevantes para ser um profissional de contabilidade até o século XX, quando se popularizou as máquinas de datilografia. O anúncio não é claro sobre que tipo de escrituração o Superintendente desejava. Isto era relevante já que na época era comum o uso das partidas simples.

Um ano depois um anúncio na mesma Gazeta do Rio de Janeiro, apresentava um profissional que sabia as partidas dobradas e estava oferecendo seus serviços:

Huma pessoa de consumada experiencia, e talentos mercantís; e que fala, e escreve perfeitamente todas as línguas da Europa, e que possue extensas correspondencias em todas as Praças de commercio, se offerece para conduzir a correspondencia, e escripturação em partidas dobradas, e singelas de qualquer casa bem acreditada que se quiser servir de seu prestimo. Na Loja da Gazeta se receberao ulteriores informações.
(Gazeta do Rio de Janeiro, 1810, n. 35, p. 4, itálico no original)

Este profissional parece bem capacitado, já que falava e escrevia em todas as línguas existentes na Europa (sabemos, hoje, que isto é um exagero, já que o número é substancialmente grande). Além disto, ele conhecia não somente as partidas simples, que no texto parece com o nome de “singela”, como também as dobradas. O termo “partida singela” parece ser comum naquele período: em outra edição da Gazeta do Rio de Janeiro, já em 1819, outra pessoa se oferece para fazer a escrituração mercantil por partida singela (número 42, p. 4).

É interessante notar que somente em 1818 iremos encontrar outro anúncio deste tipo, onde uma pessoa que um emprego de Caixeiro ou Guarda-livros e que tinha acabado de chegar de Lisboa (Gazeta do Rio de Janeiro, 1818, n. 52, p. 4).

Um aspecto relevante: o termo “contabilidade” ou “contador” não aparece nestes quatros anúncios citados e publicados na Gazeta do Rio de Janeiro. Mas o termo guarda livros aparece. Inclusive está presente num anúncio de 1816 (número 30, p. 4), quando o jornal anuncia a disponibilidade da obra “Guarda livro moderno, ou Curso completo de Instrucções elementares sobre as Operações do Commercio, tanto em Mercadorias, como em Banco, contendo o methodo de escripturar livros por partidas dobradas, conforme o estilo dos principaes Escriptorios Mercantis da Europa”.

Entretanto, entre os números do mesmo jornal, encontrei este classificado que é bastante interessante (clique na imagem para ver melhor):

O profissional que se oferecia como Guarda Livros apresentava referências e passaporte. Detalha que seu trabalho inclui o uso das partidas dobradas, prometendo fechar a escrituração após findar o ano, com um retrato adequado da situação da empresa. Um profissional que toda empresa deseja, mesmo nos dias de hoje. 

Wingham Rowan: Um novo mercado de trabalho

Um infinidade de pessoas precisa de trabalhos com horários flexíveis -- mas é difícil para essas pessoas conectarem-se com os empregadores que precisam delas. Wingham Rowan está trabalhando nisto. Ele explica como a mesma tecnologia que move os mercados financeiros modernos pode ajudar empregadores a contratar trabalhadores por fatias de tempo.

População

Dois gráficos interessantes mostrando a distribuição da população por longitude e latitude:


04 maio 2013

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

Fato da Semana

Fato: A denúncia, à justiça, da KPMG e Ernst Young

Qual a relevância disto? – O banco Cruzeiro do Sul foi liquidado pelo Banco Central em setembro de 2012, com um patrimônio líquido negativo de 2 bilhões de reais. Anterior a isto, a KPMG auditou os balanços entre 2007 a 2011 e emitiu parecer sem ressalva. No início de 2012 a KPMG foi substituída pela EY. Durante a fase de intervenção, o Banco Central afirmou que as empresas não cumpriram as regras de auditoria de maneira adequada.

A denúncia à Justiça para empresas de auditoria ocorre pela primeira vez no Brasil. A Promotoria pede a penhora de bens das duas empresas, com intuito de ressarcir os dados causados pelo Cruzeiro do Sul. Isto pode abrir um precedente importante no negócio de auditoria no Brasil.

Positivo ou Negativo? – Para as empresas de auditoria isto pode afetar a reputação. Para os clientes, a possibilidade de ter penhora de bens pode significar no médio e longo prazo um aumento no custo de auditoria. Entretanto, sob a ótica do mercado, a punição pode funcionar como um incentivo para melhoria da qualidade do trabalho das empresas.

Desdobramentos – Em se tratando de denúncias, sabemos a dificuldade que o Ministério Público tem em concluir seus processos, seja perdendo prazos ou fazendo denúncias sem a comprovação. Acredito que a experiência das empresas neste tipo de situação deverá reduzir o impacto da medida no médio e longo prazo.

Outros candidatos a fato da semana: O apetite voraz do imposto de renda:  questão do lucro presumido,  escrituração digital e imposto de renda da pessoa física. A palestra do contador da SEC também foi esclarecedora sobre a prioridade atual da entidade. 

Teste da Semana

Este é um teste para verificar se você acompanhou de perto os principais eventos do mundo contábil. As respostas estão ao final.

1 – As companhias aéreas estão buscando várias formas de reduzir seus custos operacionais. A Gol informou que está estudando uma mudança que poderá reduzir estes custos:
Cobrança por mala
Operação das aeronaves somente com o piloto
Redução no tempo de embarque dos passageiros

2 – A Comissão do Parlamento Europeu para Assuntos Jurídicos da Comunidade Europeia tomou uma decisão preliminar sobre um assunto que interessa aos contadores
Discussão sobre a representação no ASAF
Implantação da norma do Iasb sobre instrumentos financeiros
Rodizio das empresas de auditoria a cada 14 anos

3 – Os leitores do blog descobriram que alguns artistas da Era do Rádio trabalhavam com a contabilidade. Dos três nomes abaixo, um deles não trabalhou/estudou contabilidade
Ângela Maria
Celly Campello
Erasmo Carlos

4 – Uma pesquisa notou que as pessoas com poucos conhecimentos financeiros tende a realizar empréstimos com juros
Mais altos
Mais baixos
Não existe relação entre as variáveis

5 – A explosão num prédio no Paquistão revelou uma fabricante terceirizado para uma conhecida empresa europeia cujo nome é
Benetton
Nokia
Zara

6 – Numa semana de grandes jogos de futebol, este time europeu, o primeiro com ações negociadas na bolsa de valores, revelou um aumento nas receitas e um bom desempenho do seu resultado:
Basel
Juventus
Manchester United

7 – A escrituração digital foi objeto de uma regulamentação por parte
Conselho Federal de Contabilidade
Receita Federal
Secretaria do Tesouro Nacional

8 – O Contador da SEC, Paul Beswick, afirmou que a convergência às normas do Iasb será realizada
Após a aprovação do Congresso dos EUA
Até 2015
Somente no longo prazo

9 – O presidente do Bayern de Munique pode ser preso na Alemanha por:
Evasão de tributos
Não pagar a pensão alimentícia
Um escândalo sexual

10 – A cerimônia, com um custo total estimado de 5,6 milhões de dólares, contou com 4 mil policiais e mais de dois mil convites impressos, ocorreu em Londres. Trata-se
A maratona de Londres
Da coroação da nova princesa
Do funeral de Thatcher

Respostas: (1) Cobrança por mala; (2) Rodizio das empresas de auditoria a cada 14 anos; (3) Celly Campello, cujo marido trabalhava na contabilidade da Petrobrás; (4) Mais altos; (5) Benetton; (6) Manchester United; (7) Receita Federal; (8) Somente no longo prazo; (9) Evasão de tributos; (10) Do funeral de Thatcher

Acertando 9 a 10 questões = medalha de ouro; 8 ou 7 = prata; 6 ou 5 = bronze

O fim dos Pequenos Bancos



Novos regulamentos, as vantagens da diversidade e da economia de escala e o aumento dos custos indiretos estão eliminando lentamente os menores bancos nos Estados Unidos. 

Fonte: Aqui

Peregrinação

A empresa Cheapflights está vendendo um roteiro para conhecer os locais que marcaram a vida de Steven Jobs. A foto acima faz parte da propaganda e é possível observar a aureola na foto de Jobs. Entre os locais, a residência, o restaurante favorito, entre outros. Mais informação aqui.

03 maio 2013

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

Cartola do Bayern pode ser preso

Uli Hoeness, ex-jogador de futebol alemão e presidente do Bayern de Munique, que recentemente fez 7 gols em dois jogos contra o Barcelona, pode ir para cadeia. Hoeness está sendo investigado por manter uma conta na Suíça e por não ter informado certos resultados realizados no mercado financeiro para as autoridades fiscais da Alemanha. Recentemente Hoeness pagou 3,2 milhões de euros em impostos atrasados. Junto com o presidente do Bayern estão a Adidas, que esteve envolvida nos investimentos de Hoeness, a Volkswagen, que possui parte do clube, patrocinadores e até políticos alemães, que se aproveitaram do bom futebol do clube para promoção pessoal.

Convergência



Numa palestra realizada no Baruch College, Nova Iorque, o contador da SEC, Paul Beswick, deixou claro que o movimento de convergência dos Estados Unidos será um processo de longo prazo. Beswick afirmou que o novo presidente da SEC, Mary Jo White, tem outras prioridades, mas que a convergência é importante. Entretanto, existe uma "fadiga de mudança" nas demonstrações contábeis, que inclui novas normas emitidas pelo Fasb.

Para Beswick, a mudança deverá ser suave, apesar do aumento dos negócios globais. Atualmente cerca de 500 empresas estrangeiras que possuem ações no mercado de capitais dos Estados Unidos fazem relatórios contábeis em IFRS. Além dos Estados Unidos, países como Índia e Japão estão resistindo a ideia da convergência. Segundo Beswick existe um risco real se a abordagem for do tipo "Big Bang", por isto a opção por não adotar as IFRS no curto prazo.

Escrituração Digital

Atelmo Ferreira  notou a instrução normativa da Receita 1353 (30 de abril, publicada no DOU de ontem) em que o leão institui a escrituração fiscal digital do Imposto de Renda Pessoa Jurídica e da Contribuição Social. Isto inclui as empresas que usam o Lucro Real, Lucro Presumido ou Lucro Arbitrado, além das isentas e imunes.

Manchester

Além de vencer o campeonato inglês pela 20a vez, o Manchester United apresentou um aumento na sua receita de 30%, informa a Forbes. Apesar de não ser o clube mais valioso do mundo, as ações do clube aumentaram 50% nos últimos seis meses. É bom lembrar que o Manchester foi o primeiro time de futebol com ações na bolsa, sendo controlado pelo bilionário Malcolm Glazer.

Das receitas trimestrais de 145 milhões de dólares, 56 milhões são de receitas comerciais, que inclui um novo acordo com a seguradora Aon. Receita de transmissão representa 24% do total. Mas os custos operacionais cresceram em razão do aumento salarial para os jogadores.

Custo da placa

Para limitar o uso de automóvel, algumas cidades chinesas adotaram um sistema de cotas. Segundo Bloomberg Businessweek.com (via Freakonomics) uma licença em Xangai pode chegar a 14 mil dólares, valor maior que muitos automóveis. Isto naturalmente prejudica a pessoa que possui poucos recursos para adquirir um veículo. No Brasil temos uma experiência próxima a isto, com o rodízio de placas na cidade de São Paulo.

02 maio 2013

Rir é o melhor remédio

Adaptado daqui

Governo espião

O mapa mostra, em vermelho e laranja, os países que compraram um software espião vendido pela empresa Gamma International. São 36 países. O produto é vendido exclusivamente a governos e infecta os computadores e celulares, sendo usado para perseguir o crime organizados e os adversários do governo. O uso do software é considerado legal em muitos países.

Auditorias e Cruzeiro do Sul

A KPMG e a Ernst & Young, contratadas pelo Cruzeiro do Sul, foram denunciadas à Justiça pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por supostas irregularidades na auditoria das contas do banco entre 2007 e 2012.

É a primeira vez que companhias desse ramo são denunciadas à Justiça no país.

Em 2011, a Delloite --que fez a auditoria do PanAmericano-- foi punida administrativamente pelo Banco Central por falhas na auditoria das contas do banco que pertencia a Silvio Santos e foi interditado após o BC descobrir um rombo de R$ 2,5 bilhões. Na investigação, não houve evidências para incluir a auditoria na denúncia à Justiça.

O Cruzeiro do Sul foi liquidado pelo BC, em setembro do ano passado, com um rombo de R$ 2,23 bilhões.

No relatório final do BC, os interventores atestam que a KPMG "descumpriu normas relevantes de auditoria". Diz ainda que essas falhas levaram a empresa a não identificar "operações insubsistentes, emitindo parecer sem ressalva e induzindo a erro".

A KPMG auditou os balanços do banco entre junho de 2007 e dezembro de 2011. Em março de 2012, ela foi substituída pela Ernst Young, que, ainda segundo o BC, também não cumpriu com "etapas obrigatórias do procedimento de auditoria".

Segundo o BC, uma das diversas falhas cometidas pela KMPG foi não ter feito procedimentos adicionais para "atestar a existência das operações de crédito". Mesmo com uma amostra acima de 88% de divergência, a empresa optou por emitir parecer, sem ressalvas no balanço.

Na ação apresentada ontem à 2ª Vara de Falências de São Paulo, a Promotoria pede a penhora de bens das duas empresas incluídas na lista de responsáveis pelo rombo na instituição.

Procuradas, KPMG e Ernst Young preferiram não se pronunciar porque não foram notificadas.

COBRANÇA

A denúncia feita pelo Ministério Público tem o objetivo de ressarcir os cofres públicos pelos danos causados na esfera cível pelos ex-controladores do Cruzeiro do Sul Luís Felipe e Luís Octavio Indio da Costa. Na esfera criminal, os acusados respondem à Justiça Federal após denúncia feita pelo Ministério Público Federal, em São Paulo.

No total, foram 17 os denunciados pelo Ministério Público Estadual. Entre eles, está a Cruzeiro do Sul Holding Financeira -que pertence aos ex-controladores-, cujos bens não tinham sido bloqueados pela Justiça Federal. Também estão na lista 12 ex-diretores do banco.


KPMG e Ernst & Young são denunciadas por irregularidades no Cruzeiro do Sul - JULIO WIZIACK e TONI SCIARRETTA - Folha de S Paulo - 1 de maio

01 maio 2013

Rir é o melhor remédio



Fonte: Aqui

Financial Intelligence


É sempre adquirir livros que estão na fronteira do conhecimento, mas também ler obras que se propõe ensinar o leigo. Para este segundo caso, a obra pode ser útil em situações de docências. Geralmente procuro nas obras de divulgação de conhecimento técnicas alternativas para ensinar os conhecimentos.

O livro Financial Intelligence foi feito para o público leigo que deseja usar a informação produzida pela contabilidade. Seu interesse é ensinar a arte de usar dados limitados para ter uma descrição do desempenho de uma empresa. O que representa uma filosofia interessante quando desejamos transmitir conhecimento para o usuário da informação contábil, sem preocupação com o didatismo das partidas dobradas.

A obra possui trinta e um capítulos, dividido em oito partes. Em nenhuma parte do texto comenta-se sobre o débito e crédito, mas os autores trabalham com indicadores, capital de giro, demonstrações contábeis e outros assuntos. O grande problema do livro é que seu escopo talvez seja amplo demais e a pretensão de ser didático prejudica o rigor necessário para o leigo. O capítulo de capital de giro é muito pouco profundo e apresenta somente alguns poucos conceitos, sem uma explicação adequada.

Em geral gosto de riscar meus livros, destacando as passagens mais relevantes. Sendo um livro para leigos, estes riscos seriam ideias que poderia usar em sala de aula. Infelizmente, ao final da minha leitura, fiz somente três anotações, sendo uma delas questionando uma afirmação dos autores.

Vale a pena? Mesmo para o leigo, a obra deixa a desejar.
BERMAN, Karen; KNIGHT, Joe; CASE, John. Financial Intelligence. Boston: Harvard, 2006. 

Benetton



A Benetton sempre foi conhecida por ser uma empresa moderna, ligada aos movimentos sociais e culturais de nossa época. Mas o acidente no Paquistão, onde morreram mais de trezentas pessoas, mostrou que a realidade pode ser diferente. Fotos realizadas no local mostraram vestígios de roupas da marca Benetton. A empresa negou a existência de vínculo com qualquer empresa.

Os trabalhadores ganhavam 38 dólares por mês, trabalhando sob condições inseguras.

Educação Financeira e Custo do Financiamento

Este artigo mostra que um cidadão norte-americano com pouco conhecimento de finanças elementares está mais propenso a realizar financiamentos mais caros, como: cheque especial, antecipação da restituição do IR, agiotagem.

In this paper, we examine high-cost methods of borrowing in the United States, such as payday loans, pawn shops, auto title loans, refund anticipation loans, and rent-to-own shops, and offer a portrait of borrowers who use these methods. Considering a representative sample of more than 26,000 respondents, we find that about one in four Americans has used one of these methods in the past five years. Moreover, many young adults engage in high-cost borrowing: 34 percent of young respondents (aged 18–34) and 43 percent of young respondents with a high school degree have used one of these methods. Using well-tested questions to measure financial literacy, we document that most high-cost borrowers display very low levels of financial literacy, i.e., they lack numeracy and do not possess knowledge of basic financial concepts. Most importantly, we find that those who are more financially literate are much less likely to have engaged in high-cost borrowing. Our empirical work shows that it is not only the shocks inflicted by the financial crisis or the structure of the financial system but that the level of financial literacy also plays a role in explaining why so many individuals have made use of high-cost borrowing methods.

Fonte: Financial Literacy and High-Cost Borrowing in the United States.