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19 fevereiro 2010

Rir é o melhor remédio


Fonte: aqui

Teste #233

"O dr. José Maria Bourroul, juiz de direito da 2a. vara commercial, nesta comarca, etc. Faz saber aos que o presente edital virem, ou delle noticias tiverem que, no dia quartorze do corrente mez, ao meio dia, na sala das audiencias do Forum, terá jugar a reunião de _______ da massa fallida de Antonio Soares Ferreira de Lima, afim de, procedendo-se a verificação de ______, tomarem os credores conhecimento da boa ou má fé, culpa ou dólo com que procedeu o fallido, bem como de _____, exame de livros e causas que determinaram a fallencia e procederem a respeito." (Diário Official de 13 de maio de 1902)

Veja como era interessante: no passado existia falência de pessoa física. Mas o teste de hoje é o seguinte: você seria capaz de completar o espaço que falta com as palavras "balanço", "créditos" e "credores"?

Resposta do Anterior: Telebrás. Neste período, a Telebrás não produziu nada. A valorização deve-se aos boatos de que a estatal seria utilizada para melhorar a banda larga no Brasil. Fonte: Ações da Telebrás sobem 35.000% no governo Lula. Folha de S Paulo, 18/2/2010.

Sexo e Cidades

Para arrumar um parceiro existe uma regra que é válida para diversos países, inclusive no Brasil. Se você for um homem, mude para uma cidade grande. Se você for uma mulher, vá morar numa cidade pequena. Isto aumentará de forma significativa a chance de você arrumar um parceiro.

Segundo os dados do IBGE existiam no Brasil 169,8 milhões de habitantes, sendo 83,6 milhões de homens e 86,2 milhões de mulheres. A diferença de 2,6 milhões de mulheres é relativamente pequena quando se compara com a população total: 1,56%.

Entretanto existe um padrão oculto nestas estatísticas: a diferença entre os gêneros é maior nas grandes cidades. E nas pequenas cidades existem mais homens que mulheres.

O gráfico foi construído somando a população das cidades, das mais populosas às menores. Assim, a cidade mais populosa, São Paulo, possuía 4,972 milhões de homens para uma população de 10,434 milhões, numa relação de homem para população total de 0,4766. Este valor corresponde ao primeiro ponto do gráfico. Depois disto, somaram-se os valores da segunda maior cidade, Rio de Janeiro, onde existiam 2,748 milhões mulheres para 5,857 milhões. O valor desta soma conduz a uma relação de 0,4739 entre homens e população total. Acrescentando a terceira maior cidade do Brasil, Salvador, o que faz com que a relação seja de 0,4735. O processo continua até chegarmos a menor cidade do Brasil, Borá, com 795 habitantes, sendo 407 homens. Neste momento, a relação entre homens e a população total ficou em 0,4922. O gráfico mostra que na medida em que são somadas as cidades menores, a relação entre o número de homens sobre a população total cresce, indicando que nas menores cidades existem mais homens.

Outra forma de ver isto é pegar a proporção das cem maiores cidades e as cem menores cidades. A proporção média das maiores cidades foi de 0,4840, indicando que nas grandes cidades existem mais mulheres do que homens. Já a média das cem menores cidades do Brasil é de 0,5182, existindo mais homens que mulheres nestas cidades.

Um teste estatístico básico de média mostra que existe diferença entre estes dois grupos de cidades, o que significa dizer que podemos afirmar que na cidade grande encontraremos mais mulheres do que homens, e o inverso ocorre nas cidades menores.

Esta situação produz diversas conseqüências no mundo real. Tim Harford, no livro A Lógica da Vida, discute esta diferença através de uma simplificação que ele chamou de Supermercado do Casamento, que será usado a seguir. Admita que exista um local com vinte homens e vinte mulheres. Existem diversas simplificações no exemplo, entre elas que não existe casamento homossexual.

Quando um par decide pelo casamento, passa-se no caixa e recolhe cem reais. Este valor representa os benefícios psicológicos e monetários do casamento. Neste modelo, ninguém é pressionado a fazer sua escolha, mas provavelmente os ganhos do casamento seriam repartidos igualmente entre o homem e a mulher.

Numa segunda fase, admita que existam 19 homens e 20 mulheres no supermercado do casamento. Uma das mulheres não irá receber seus benefícios. Mas outras dezenove conseguirão. Se os casais concordaram antecipadamente em dividir os ganhos – os cem reais – igualmente, a mulher que ficou desacompanhada poderá interferir neste pacto, propondo receber quarenta reais, em lugar de cinqüenta. Esta disputa, por conta de um leve desequilíbrio, poderá beneficiar os homens, que estarão em vantagem na negociação do supermercado do casamento.

Mudança no Iasb 3

Padrão único seria 'tomada universal' para investidor

Financial Times, de Londres
As tomadas elétricas, que vêm em 12 diferentes formas, tamanhos e voltagens, são uma fonte perene de irritação. Da mesma forma que uma única tomada mundial amenizaria o desconforto de um viajante, um único conjunto mundial de normas contábeis tornaria mais fácil a vida dos investidores.

E não seriam apenas os acionistas os beneficiados. Regras contábeis uniformes facilitariam a implementação de regulamentos, como a proposta taxação mundial sobre bancos ou seu índice de capitalização exigido. Por isso, é preocupante que a Iasb tenha modificado uma cláusula fundamental em seu regulamento. A convergência entre as normas mundiais não é agora "um objetivo em si mesmo".

Essa mudança deverá confundir alguns países grandes, em meio a seus esforços de suposta negociação de um acordo comum. Afinal, todos ainda parecem estar trabalhando com a certeza, ao menos exteriormente, de que o limite de prazo de meados de 2011, estabelecido pelo Grupo dos 20 para uma norma única, será cumprido.

Mas esse verniz de confiança oculta problemas profundos. Grandes atores, como a China e o Japão, comprometeram-se a modificar seus padrões, mas não está claro até que ponto. No Ocidente, um acordo com os EUA ainda é o principal obstáculo. A comissão de valores mobiliários americana (SEC), que em última instância controla as regras no país, adiou sua declaração sobre a convergência. Muitas vezes, brigas por questões técnicas, como provisões contra prejuízos com empréstimos, são um disfarce para preocupações sobre soberania contábil.

De uma perspectiva mais ampla, o drama parece cômico, dado que os padrões contábeis raramente influenciam o dia a dia das empresas. Mas, para David Tweedie, presidente do Iasb, os atrasos são causa de frustração pessoal. Sua saída, prevista para 2011, coincide com o limite de prazo para convergência no G-20. A conclusão do projeto garantiria um legado. Neste momento, o cumprimento do prazo parece incerto.


Publicado no Valor Econômico - 18/2/2010. Veja mais sobre este assunto, aqui

Mudança no Iasb 2

Contabilidade: Convergência de normas globais fica mais distante

Rachel Sanderson, Financial Times, de Londres
O Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb, na sigla em inglês) não vai mais perseguir a convergência com seu congênere americano como "um objetivo em si só", segundo afirmou seu órgão supervisor, no mais recente sinal de um desgaste do consenso sobre as normas contábeis.

O Iasb, que estabelece os padrões contábeis para a maior parte do mundo fora dos Estados Unidos, foi nomeado pelo G-20 para supervisionar o desenvolvimento de um único padrão contábil de alta qualidade até meados de 2011.

Ficou implícito que isso incluiria a convergência dos padrões americanos com os internacionais, visando a adoção pelos Estados Unidos das Normas Internacionais de Demonstrações Financeiras (IFRS, em inglês), que já são usadas, ou deverão ser usadas, por mais de 110 países. (No Brasil, os trabalhos começaram em 2008, com previsão de adoção completa das normas no próximo ano.)

No entanto, a crescente politização do processo de contabilidade e as tensões envolvendo soberania vêm dificultando a obtenção de um acordo, segundo autoridades reguladoras e contadores.

Numa análise de sua constituição publicada ontem, o conselho supervisor do Iasb abordou essa preocupação com o projeto de convergência e disse que vai "enfatizar que a convergência é uma estratégia voltada para a promoção e facilitação da adoção das normas internacionais, mas não é uma estratégia por si só".

Algumas autoridades reguladoras e investidores desses países andavam frustrados com a percepção de que o conselho do Iasb estaria dando prioridade máxima à convergência com os EUA, deixando em segundo plano os interesses das partes que já adotaram o padrão IFRS.

Atsushi Saito, executivo-chefe da Bolsa de Valores de Tóquio, disse ao "Financial Times" que as companhias japonesas não querem que as normas internacionais, que são baseadas em princípios, se aproximem mais dos padrões americanos, que são baseados em regras.

A comissão de valores mobiliários americana (Securities and Exchange Commission, SEC), que supervisiona o Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Financial Accounting Standards Board, Fasb), órgão que estabelece os padrões contábeis nos Estados Unidos, deverá apresentar neste ano sua posição sobre a convergência, depois de já ter adiado um comunicado por duas vezes no ano passado.

A perda da soberania contábil pelos Estados Unidos, que viria com uma mudança para as normas internacionais, é uma grande preocupação, afirmam especialistas. Os princípios contábeis comumente aceitos no país (conhecidos como US Gaap) são obrigatoriamente adotados por todas as empresas que acessam o mercado de capitais americano, o maior do mundo.

Em outros países, dentro dessa reorganização, o Iasb vai introduzir uma consulta pública trianual em sua agenda técnica. Ele também já admitiu, pela primeira vez, que os investidores estão entre seu público-alvo.

As mudanças, que são a segunda parte de uma revisão realizada cinco vezes por ano pela Fundação do Comitê das Normas Internacionais de Contabilidade, ou Iasc Foundation, o órgão supervisor do Iasb (do qual o ex-ministro Pedro Malan é um dos curadores), também vai incluir a criação dos cargos de vice-presidente do Iasb e de seu conselho supervisor. Essa estrutura deverá ser estabelecida quando Sir David Tweedie, o presidente do Iasb, se aposentar no ano que vem.

Pauline Wallace, diretora de políticas públicas e assuntos normativos da PricewaterhouseCoopers (PwC), disse: "Gostamos particularmente da decisão da consulta pública sobre a agenda técnica do Iasb e também da criação de dois postos de vice-presidentes, o que ajudará a amenizar a carga de trabalho do presidente".

O Iasb começou sua revisão constitutiva sobre pressão para justificar sua obrigação de prestar contas ao público.


Publicado no Valor Econômico - 18 fev 2010
Sobre este assunto, clique aqui para mais informação

Informação privilegiada

Sócios da Randon são processados por informação privilegiada - Fabiana Holtz - O Estado de São Paulo - 19/2/2010

A Justiça Federal de São Paulo abriu processo nesta semana contra seis executivos e sócios da Randon SA, de Caxias do Sul (RS), pelo suposto uso de informação privilegiada para lucrar no mercado de ações (insider trading). É a segunda ação judicial do gênero aberta no País. A primeira investiga as operações financeiras que antecederam a oferta hostil da Perdigão pela Sadia, em julho de 2006, e foi aberta contra um ex-diretor e um ex-conselheiro da Sadia e um ex-superintendente de empréstimos do ABN Amro Bank.

Procurada para comentar o processo, a Randon informou por meio do seu departamento de comunicação que, como ainda não foi notificada pela Justiça, não vai se pronunciar sobre o assunto.

A ação judicial foi proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) e é movida contra Raul Anselmo Randon, presidente do conselho de administração e presidente da companhia. Na época, a empresa era controlada pela Dramd Participações. A ação também envolve a esposa de Raul, Nilva Terezinha Randon (sócia da Dramd), e os dois filhos do casal, Alexandre Randon (vice-presidente do conselho de administração) e Daniel Raul Randon (sócio da Dramd), além do diretor de operações da empresa, Erino Tonon, e do diretor de relações com investidores, Astor Milton Schmitt.

Todos continuam nas respectivas posições, com exceção de Daniel Raul Randon, que atualmente é diretor superintendente e diretor de relações com investidores da Fras-Le.

De acordo com o processo, os seis são acusados de ter comprado 754 mil ações da Randon e da Fras-Le (outra empresa do grupo) entre 5 de junho e 19 de julho de 2002, quase dois meses antes do anúncio da entrada da norte-americana Arvin Meritor como sócia do grupo brasileiro, o que só foi informado oficialmente em 15 de agosto de 2002. Na ocasião da compra das ações, segundo afirma o Ministério Público, como diretores e sócios da empresa brasileira, os acusados já sabiam da sociedade.

Em processo administrativo aberto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apurar a aquisição das ações, concluído em 2004, os executivos foram multados em R$ 231,4 mil. As ações da companhia se valorizaram 120% nos 12 meses que se seguiram à entrada da Arvin Meritor no grupo, segundo o MFP.

A Justiça Federal de São Paulo expediu carta precatória à Justiça Federal de Caxias do Sul para que os seis acusados sejam citados e apresentem resposta à acusação, recebida no último dia 28 de janeiro. A ação foi proposta em maio de 2009 pelo MPF em Caxias do Sul e percorreu um longo caminho técnico e burocrático, até chegar ao MPF em São Paulo.

O procurador da República Rodrigo de Grandis ratificou a denúncia elaborada pelo MPF em Caxias do Sul. Para ele, a ação é mais um resultado do trabalho integrado entre o MPF e a CVM, que estão desenvolvendo uma atuação conjunta para “a prevenção e o combate a ilícitos no mercado de capitais”.

Marcas

País avança em ranking de marcas
O Estado de São Paulo - 19/2/2010

O número de marcas brasileiras presentes na lista das 500 mais valiosas do mundo saltou de apenas seis em 2009 para 15 neste ano. As três empresas brasileiras mais bem classificadas são o Bradesco, o Banco do Brasil e a Petrobrás. Mundialmente, Walmart, Google e Coca-Cola lideram o ranking.

O relatório da Brand Finance, consultoria independente especializada na avaliação de marcas, é produzido com base em um levantamento financeiro sobre as empresas e em questionários com clientes e especialistas em medir a força de marcas.

“A região sul-americana registrou o mais alto crescimento do valor de suas marcas, subindo 84% (desde o ano passado). Isso é um reflexo do desempenho sólido na região, particularmente do mercado bancário brasileiro”, diz a Brand Finance, em comunicado.

Em entrevista à BBC Brasil, Gilson Nunes, diretor da Brand Finance do Brasil, explica porque a presença de marcas brasileiras no ranking cresceu tanto. “A crise econômica afetou seriamente as marcas de empresas dos países desenvolvidos, abrindo espaço para o crescimento das marcas das demais nações. O Brasil, porém, quase não sentiu a crise, o que possibilitou às empresas nacionais ganhar valor de mercado”, disse.

Entre as 15 empresas brasileiras que entraram no ranking das 500 mais, oito são do setor bancário, três de telefonia e duas de extrativismo mineral. Gerdau e Bovespa completam a lista.

O Bradesco, que na lista de 2009 aparecia na 75ª posição, saltou para o 42º lugar geral, sendo a 9ª marca de banco mais valiosa do mundo. Segundo a Brand Finance, a instituição é avaliada em US$ 13,3 bilhões, quase o dobro da avaliação do ano passado.

Com 3,5 milhões de clientes, o banco brasileiro é também a marca mais importante da América Latina.

O Banco do Brasil, por sua vez, mais do que dobrou o valor de sua marca nos últimos doze meses, chegando a US$ 6,7 bilhões, enquanto a Petrobrás é avaliada em US$ 5,6 bilhões.

RECUPERAÇÃO

A Brand Finance destaca em sua análise a recuperação do setor bancário ao redor do mundo. “O valor agregado das 500 maiores marcas bancárias do mundo em 2010 é agora 4% maior do que em 2008, antes da crise”, informa o site da companhia.

Pelo terceiro ano consecutivo, o HSBC lidera a lista entre os bancos, com US$ 28,5 bilhões. O Bank of America e o Santander vêm na sequência.

O domínio dos bancos americanos está em queda na lista. Das 500 marcas bancárias mais valiosas do mundo, 85 são dos EUA, ante 95 no ano passado. Enquanto isso, a quantidade de bancos europeus cresceu na lista de 174 para 197. Só a Grã-Bretanha ficou de fora desse crescimento, vendo o número de bancos do país no ranking cair de 24 para 22. “Isso sugere que a recuperação do continente europeu, em particular na França, Espanha e Suíça, deixou os bancos britânicos de fora”, analisa a Brand Finance.

DOMÍNIO AMERICANO

Na lista mundial de marcas de todos os setores, as empresas dos EUA dominam: as seis marcas mais valiosas do mundo são americanas, sendo elas Walmart, Google, Coca-Cola, IBM, Microsoft e GE.

Esse é o segundo ano seguido que a rede de supermercados lidera a lista, enquanto que o Google saltou da 5ª para a 2ª posição desde o ano passado.

A montadora japonesa Toyota permaneceu na 10ª posição do ranking, possivelmente porque o levantamento foi produzido antes dos recentes problemas com os veículos da marca virem à tona.

Outra montadora japonesa, a Mitsubishi, foi uma das empresas que mais ganharam posições na lista. Em 2009, a marca era a 220ª mais valiosa do mundo. Neste ano ela saltou para a 25ª colocação.

RANKING

AS MARCAS MAIS VALIOSAS

1. Wal Mart: US$ 41,4 bilhões

2. Google: US$ 36,2 bilhões

3. Coca-Cola: US$ 34,8 bilhões

4. IBM: US$ 33,7 bilhões

5. Microsoft: US$ 33,6 bilhões

PRINCIPAIS BRASILEIRAS NA LISTA

42. Bradesco: US$ 13,3 bilhões

117. Banco do Brasil: US$ 6,7 bilhões

147. Petrobrás: US$ 5,6 bilhões

195. Oi: US$ 4,3 bilhões

425. Vivo: US$ 2,2 bilhões

18 fevereiro 2010

Mudanças no Iasb

Segundo a Reuters News (Accounting body shores up defences, investor focus, Huw Jones, 15/2/2010), o International Accounting Standards Board (IASB) anunciou algumas mudanças que representam uma resposta aos críticos da instituição.

Entre as alterações destaco a seguinte:

"Os investidores são identificados especificamente como objetivo da informação financeira."

Conforme destaca Jones, isto é uma resposta aos políticos que consideram que as regras contábeis devem ajudar na estabilidade financeira. Além disto, o Iasb aprovou que reformas urgentes somente com 75% de aprovação dos trustees.

Para Malcolm McKay, do blog Accounting Principles, é a primeira vez que o IASB reconhece que o investidor existe. O mesmo McKay, em Iasb backs off on Convergence, lembra que o Iasb parece ter abandonado a meta, anunciada anteriormente, de ter os EUA no processo de convergência. A convergência dos EUA deixou de ser um objetivo por si só.

Esta mudança foi percebida por Rachel Sanderson, do Financial Times, no texto Iasb softens stance on convergence, de 15 de fevereiro. Sanderson lembra as pressões políticas, o fato dos EUA terem atrasado a declaração de convergência por duas vezes e a preocupação com a perda da soberania nas normas contábeis como problemas. E que pela primeira vez o investidor é citado como público-alvo. (Mais sobre o assunto no Financial Times, aqui).

Numa correspondência ao Financial Times, o Iasb discorda da análise de Sanderson, afirmando que "nada poderia estar mais longe da verdade".

Mais sobre o assunto, aqui.

Rir é o melhor remédio


Fonte: aqui

Teste #232

Desde 2003 as ações desta empresa sofreram uma valorização de 35.000%. E a CVM investiga as operações com as ações desde 2008. Esta empresa é:

EGX
Telebrás
Vale do Rio Doce

Resposta do Anterior: Joseph Yam ganha 1,32 milhão por ano. Bernanke, o mais preparado intelectualmente, ganha 191 mil dólares. Fonte: Damn it Feels Good to Be a Banker…

Links

Adoção das normas internacionais em Moçambique

Os virais de 2009

ABInbev refinancia

Conforme o New York Times, a Inbev conseguiu o refinanciamento de 13 bilhões de dólares de sua dívida. Em 2008 a empresa obteve recursos para pagar a aquisição de 52 bilhões da empresa dos EUA Anheuser-Busch. A empresa é classificada como BBB+ pela S&P e Baa2 pela Moody´s. A taxa a ser paga pela ABInbev é de 175 pontos acima do Euribor, pior do que a Telecom Italia (BBB e Baa2) obteve, de 130 pontos.

Arredondamento

Um estudo mostrou que quando as empresas pretendem "manipular" seus resultados, o número quatro aparece muito menos do que o esperado no lucro por ação nas casas decimais. Assim, se uma empresa apurou um lucro por ação de $1,234, existe uma tendência a "empurrar" o lucro por ação para $1,235, o que arredondaria o lucro por ação para $1,24.

Fonte: Predicting the next Enron, Freakonomics, New York Times, 17 de fevereiro de 2010.

17 fevereiro 2010

Rir é o melhor remédio


Disfarce

Links

A fotografia do ano

A ira da Grécia contra o JP Morgan: bomba no escritório

Kanitz e o otimismo com cautela

Questões

Será que existe ligação entre o aumento da dívida dos brasileiros e o aumento da provisão? Será que o impacto da crise no Brasil foi reduzido em razão desta expansão do endividamento? Isto não mascara os problemas da economia brasileira?

Aumento na provisão

Bancos elevam valor de provisões anticalote

Fabio Graner – 15/2/2010 - O Estado de São Paulo

O aumento do risco e o crescimento dos índices de inadimplência nas operações de crédito, em decorrência da crise financeira, levou os bancos a aumentarem em 50% suas reservas para cobrir eventuais perdas com calote de clientes no ano passado. Segundo dados do Banco Central, as provisões encerraram 2009 com um volume de R$ 97,6 bilhões, o equivalente a 6,9% do total de crédito fornecido pelas instituições financeiras públicas e privadas. Em 2008, essa reserva era de R$ 65,2 bilhões e correspondia a 5,3% do total de crédito concedido.

De acordo com analistas consultados pela Agência Estado, as dificuldades financeiras enfrentadas por muitas empresas ao longo do ano - especialmente as indústrias e companhias exportadoras -, o aumento do desemprego no primeiro semestre e o impacto negativo na renda, fatores diretamente provocados pela crise, elevaram significativamente a chance de os clientes não honrarem seus compromissos com os bancos. E o volume de calotes efetivamente teve forte alta - de mais de 60% de 2008 para 2009. "A economia não estava favorável à qualidade creditícia", argumenta o analista de bancos da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu.

Essa situação forçou os bancos a separarem recursos para cobrir o risco de perdas, o que na prática diminui a lucratividade das instituições e também reduziu a capacidade de as instituições fazerem empréstimos.

Uma medida adotada pelo Banco Central ao fim de 2008 também criou um incentivo para os bancos aumentarem suas reservas anticalote em 2009. A iniciativa, de caráter prudencial, permitiu que as instituições financeiras fizessem provisões adicionais ao que normalmente seria necessário para os créditos concedidos a pessoas e empresas sem que isso alterasse sua capacidade de financiar clientes.

Com isso, as instituições buscaram ampliar suas reservas, mas não perderam tanta musculatura para ofertar crédito, embora tenham mantido um ritmo lento de concessões em 2009. "O BC induziu os bancos a ampliarem o excesso de provisionamento, porque o risco era muito grande. Foi um incentivo a se provisionar mais", avalia o economista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, lembrando que esse mecanismo acabará em abril deste ano, o que deve levar a uma relativa "desmontagem" do excesso de provisionamento realizado pelas instituições.

Na comparação entre bancos públicos e privados, o ritmo de alta das provisões foi bem maior no segundo grupo. As instituições financeiras privadas elevaram suas reservas contra perdas em 65,2%, para R$ 46,6 bilhões, e acima do ritmo da inadimplência dos seus créditos. Enquanto isso, os bancos públicos subiram as provisões em 39,8%, para R$ 32,5 bilhões e abaixo do ritmo de alta no seu índice de calotes.

Para o analista Luis Miguel Santacreu, esse comportamento se deveu ao fato de que os bancos públicos avançaram muito em créditos para pessoa física com boas garantias - como consignado e de veículos -, enquanto as instituições privadas, que têm um relacionamento mais estreito com as empresas, ficaram expostas a um risco maior e tiveram de reforçar seu provisionamento.

Para 2010, com o cenário de recuperação econômica e o fim do incentivo do BC ao provisionamento extra, a tendência é que o crescimento dessas reservas seja bem mais comedido. Segundo Salles, normalmente as provisões crescem em um ritmo próximo ao do estoque de crédito, que ele estima que subirá 20% este ano. Mas ele pondera que os bancos podem usar as reservas extras e transformá-las em provisões normais ao longo do ano, à medida que a carteira de crédito dessas instituições for crescendo.

Dívida do Brasileiro

Endividamento dos brasileiros bate recorde e chega a R$ 555 bilhões

Márcia De Chiara – 15/2/2010 - O Estado de São Paulo

Nunca o brasileiro deveu tanto. Entre cartões de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, empréstimos para compra de veículos, imóveis - incluindo os recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) -, a dívida das famílias atingiu no fim do ano passado R$ 555 bilhões. O valor é quase 40% da renda anual da população, que engloba a massa nacional de rendimentos do trabalho e os benefícios pagos pela Previdência Social.

"O endividamento do consumidor é recorde", afirma o economista chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Ele fez um estudo, a pedido do Estado, para medir o grau de endividamento das famílias. Constatou que, se os bancos resolvessem cobrar toda a dívida, levando em conta o empréstimo principal e os juros, de uma só vez, cada brasileiro teria de entregar quase cinco meses de rendimentos.

Em 2008, eram necessários 4,3 meses de rendimentos (salários, aposentadorias e pensões) para quitar os empréstimos. Em dezembro do ano passado o índice subiu para 4,8 meses, a maior relação entre dívida e rendimentos da série histórica iniciada em 2001, quando eram precisos dois meses de rendimentos para pagar os empréstimos. Borges explica que o estudo levou em conta a estimativa da massa de rendimentos nacional, não apenas nas seis regiões metropolitanas, e os benefícios pagos pela Previdência Social.

"Os benefícios pagos pela Previdência respondem por um quarto do total da massa de rendimentos de R$ 1,4 trilhão em 2009", observa o economista, ressaltando a importância da inclusão das pensões e aposentadorias.

RECORDE

Outro estudo, feito pelo consultor Humberto Veiga, da Universidade de Brasília, confirma que o endividamento do brasileiro é recorde, mas com números diferentes. Ele considerou apenas o saldo de empréstimos com recursos livres, isto é, excluiu os empréstimos do SFH e levou em consideração somente a massa de salários das seis regiões metropolitanas do País, deixando de fora os benefícios da Previdência.

Como a base de rendimentos considerada no estudo de Veiga é menor, ou seja, é a massa de salários nas seis regiões metropolitanas, o economista concluiu que o brasileiro encerrou 2009 devendo o equivalente a 10 meses e 20 dias de salário, a maior marca da série iniciada em 2004. Em 2008, a dívida, nessa fórmula de cálculo, era menor: correspondia a 10 meses e 2 dias de salário.

O aumento do endividamento das famílias é apontado também por outro tipo de pesquisa. De acordo com a diretora da Kantar Worldpanel (ex-Latin Panel), Christine Pereira, 65% dos dois mil lares visitados na Grande São Paulo e na Grande Rio pela consultoria tinham algum tipo de financiamento em 2009. No ano anterior, esse índice estava em 60%. Ela observa que, no ano passado, o porcentual de famílias com financiamento era superior a 50% em todos os estratos de renda.

RISCOS

Apesar do endividamento recorde do consumidor, o estudo da LCA mostra que o comprometimento da renda mensal com financiamentos diminuiu nos últimos 12 meses. Em 2008, o gasto com prestações consumia 5,9% da renda mensal e, no fim do ano passado, 15%. O pico do comprometimento da renda com empréstimos foi atingido em 2006, quando as prestações respondiam por 18,2% do orçamento. "De lá para cá houve um alívio", observa Borges.

O economista diz que a chave dessa aparente contradição entre endividamento recorde e menor comprometimento da renda mensal do consumidor é o alongamento dos prazos de pagamento dos financiamentos. De 2006 a 2009, os prazos médios quase que dobraram, passando de 17,3 meses para 31,1 meses. Dois anos e meio é maior prazo médio da série histórica do crédito.

Com mais prazo, ressalta Borges, o consumidor gasta mais com encargos financeiros. "O montante que as famílias estão pagando hoje aos bancos é maior, mesmo com a queda nas taxas de juros ao consumidor nos últimos meses." Um dado que ratifica esse raciocínio é o lucro robusto dos bancos auferido em 2009.

EMPREGO

Para Borges, enquanto o brasileiro continuar empregado - o que, na opinião dele, é o cenário mais provável -, o aumento do grau de endividamento das famílias não necessariamente vai representar elevação da taxa de inadimplência.

Segundo o economista, o risco de alta da inadimplência fica adiado para 2011, quando o emprego e o ritmo de atividade devem crescer mais lentamente.

Mas o indicador antecedente do calote, o Indicador Serasa Experian de Perspectiva de Inadimplência do Consumidor, que aponta a tendência para os próximos seis meses, mostra outra realidade. Pelo quarto mês consecutivo, o indicador subiu em dezembro.

"A inadimplência hoje está em queda, mas vai parar de cair em seis meses", afirma o gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi, com base nos resultados do indicador que leva em conta cerca de uma centena de variáveis.

Ele aponta três razões que sustentam essa previsão de reversão de tendência da inadimplência. A primeira delas é o crescimento acelerado da tomada de crédito por parte das famílias num ritmo superior ao aumento da renda. Outra razão é a corrosão do poder de compra da renda do consumidor, com repique inflacionário neste início de ano.

Por último, Rabi ressalta a elevação do custo dos financiamentos em várias modalidades de crédito. Esse movimento já é nítido em vários estudos que pesquisam as taxas de juros ao consumidor. "O cenário para o segundo semestre deste ano é muito diferente do quadro do segundo semestre de 2009", alerta o economista.

Matemática e Mercado

Gênios matemáticos erram as contas em Wall Street

Renato Cruz - O Estado de São Paulo – 14/2/2010

A crise financeira que o mercado mundial enfrentou desde 2007 foi causada por modelos matemáticos falhos adotados pelos fundos de investimento, que levaram a uma avaliação irrealista de risco, combinados a níveis insustentáveis de endividamento. Tudo isso não seria possível sem sistemas complexos de computação, que permitiram analisar volumes imensos de dados em tempo real, e fazer apostas automáticas em alta velocidade, baseadas em modelos pré-programados.

Pelo menos essa é a visão trazida pelo livro The quants: How a new breed of math whizzes conquered Wall Street and nearly destroyed it (Crown Business). Em português: Os quants: Como uma nova raça de gênios da matemática conquistou Wall Street e quase a destruiu. O livro escrito por Scott Patterson, jornalista do Wall Street Journal, foi lançado no começo do mês nos Estados Unidos.

Os "quants" são os gênios da matemática que tomaram conta de Wall Street nos últimos anos. Eles baseiam suas apostas em análises quantitativas (daí seu nome), no lugar de análises fundamentalistas, como as que são feitas, por exemplo, por Warren Buffett, segundo homem mais rico do mundo.

Buffett analisa os fundamentos das empresas em que investe, verificando itens como taxa de crescimento, vendas e lucratividade. Na análise quantitativa, as apostas são feitas com base em estatísticas, que alimentam modelos matemáticos complexos, independentes do que cada papel representa fora do mundo financeiro.

CULPADOS

Os fundos de hedge, liderados pelos "quants" do título do livro, perderam bilhões de dólares a partir de meados de 2007, quando a crise americana das hipotecas atingiu os mercados. Não seria exagero, no entanto, dizer que eles foram os responsáveis pela crise? "Quando bancos e fundos de hedge começaram a quebrar em 2007 e 2008, eles criaram uma contração maciça de crédito por toda a economia global", afirmou Patterson, em entrevista por correio eletrônico.

O livro conta a história de investidores como Kenneth Griffin, fundador do fundo de hedge Citadel, em Chicago, que, antes da crise, chegou a pagar US$ 80 milhões por uma pintura de Jasper Johns e fazer sua festa de casamento no Palácio de Versalhes, em Paris.

O talento para tecnologia e finanças se manifestou cedo. Quando estava no colegial, Griffin fez trabalhos de programação para a IBM. Antes de completar 18 anos, criou uma empresa de software educacional com um amigo. Logo depois de ingressar em Harvard, criou seu primeiro fundo de investimento, batizado de Convertible Hedge Fund #1, em seu quarto de estudante, depois de levantar US$ 265 mil de amigos e parentes, incluindo a mãe e a avó. Para ter cotações em tempo real, instalou uma antena de satélite no telhado do alojamento, e criou um software para identificar bônus com preços baixos.

A tacada de sucesso veio em 1990, quando Griffin, aos 22 anos, criou o fundo Citadel, com capital de US$ 4,6 milhões. No fim de 2007, administrava US$ 20 bilhões em ativos. Ele quase quebrou com a crise. Em um ano, esse montante havia caído para US$ 10,5 bilhões.

Segundo Patterson, a culpa dos "quants" na crise do subprime não se resumiu à contração de crédito. A engenharia financeira sofisticada desenvolvida por esses gênios matemáticos permitiu agrupar hipotecas de alto risco em papéis financeiros (derivativos) classificados como grau de investimento, com chances remotas de não serem honrados.

Simplificadamente, a ideia por trás disso era que, mesmo se o risco individual de calote de cada hipoteca fosse grande, quando um volume muito grande desses empréstimos era agrupado em um só papel, o risco acabava diluído pois a probabilidade de um grande número de hipotecas deixar de ser pago ao mesmo tempo era remoto.

Mas a probabilidade era pequena somente num ambiente econômico estável, em que as pessoas deixam de pagar os empréstimos por motivos pessoais, como perda de emprego ou doença. Num momento de crise, muitas pessoas se tornam inadimplentes ao mesmo tempo, elevando o risco de uma forma que os modelos matemáticos não conseguiam prever.

Essa análise de risco falha, que não prevê eventos extremos, foi aplicada a todo tipo de investimento pelos "quants", e a situação foi agravada pela alavancagem. Em linguagem corrente, eles fizeram seus investimentos com dinheiro dos outros. Alguns chegavam a empenhar 30 vezes mais capital do que tinham, por acreditar que o risco era praticamente nulo. Quando o crédito secou com a crise das hipotecas, esses investimentos viraram pó.

Como pessoas tão espertas, com doutorado nas melhores faculdades americanas, conseguiram errar tanto? "A resposta mais provável é que, apesar de os 'quants' operarem num nível racional, eles não eram invulneráveis a uma emoção humana essencial: a ganância", afirmou Patterson. "Ao colocarem de lado a possibilidade de movimentos abruptos do mercado, eles eram capazes de fazer apostas maiores e usar mais alavancagem. O que pode ser muito lucrativo por um tempo - até o mercado alcançá-los."

HISTÓRIA

A crise de liquidez que tomou os mercados financeiros a partir de agosto de 2007 foi somente o capítulo mais recente de uma história de como a inovação pode trazer efeitos inesperados. O livro mostra como o mercado acionário americano caiu 23% em um único dia, na chamada "segunda-feira negra", em outubro de 1987, por causa de um contrato quantitativo chamado seguro de carteira.

Em 1998, o fundo de hedge Long Term Capital Management (LTCM) quebrou, ameaçando todo o sistema financeiro global. A atuação do LTCM tinha como base a análise quantitativa. Seu conselho diretor incluía Myron Scholes e Robert Merton, ganhadores do prêmio Nobel de Economia de 1997.

Na opinião de Patterson, isso indica que crises como essas vão ocorrer de novo. "Isso totalmente pode e possivelmente acontecerá novamente", disse. "Acho que os reguladores precisariam tornar o sistema bem mais transparente. Ainda hoje não sabemos o que se esconde nos balanços de vários bancos."

Em inglês, "geek" é uma pessoa obcecada por tecnologia e áreas correlatas. Sobre o papel dos gênios matemáticos na crise, o livro traz um aviso de Warren Buffett: "Cuidado com os 'geeks' que criam fórmulas".

Friboi

BNDES aposta R$ 7,5 bi no Friboi

Concorrentes foram ao banco reclamar de privilégios

Alexandre Rodrigues – Estado de São Paulo

Há duas semanas, o frigorífico brasileiro JBS Friboi, maior empresa de carnes do mundo, colocou à venda um pacote de dois milhões de debêntures no valor de R$ 3,48 bilhões. Sem o aparente interesse do mercado financeiro, a BNDESPar, empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, comprou 99,9% dos papéis. Os outros acionistas, entre eles a família Batista, dona de 59% do grupo JBS, adquiriram 0,05% da emissão e ainda restou uma sobrinha de 523 papéis que ninguém se interessou em comprar.

A operação foi feita para viabilizar o pagamento da última aquisição da companhia nos Estados Unidos: a Pilgrim"s Pride Corporation, destaque no mercado americano de frangos, que enfrentava dificuldades financeiras. A entrada no mercado americano foi o passo mais ousado de uma trajetória internacional iniciada em 2005, com a compra da Swift argentina, e que contou o tempo todo com o apoio do BNDES.

Ávido por viabilizar multinacionais brasileiras, tarefa que ganhou da política industrial traçada no governo Lula, o BNDES já colocou pelo menos R$ 7,5 bilhões no Friboi - de quem também é acionista, com uma participação de 22,36%. O apoio ao frigorífico supera outras operações emblemáticas, como os R$ 2,6 bilhões para o casamento Oi/Brasil Telecom.

Dono de um faturamento na casa dos R$ 30 bilhões, o Friboi tira hoje quase 80% de sua receita de operações nos Estados Unidos, Austrália, Itália e Argentina. Em apenas dois anos, multiplicou a receita líquida por dez. O BNDES vê nesse desempenho um exemplo do arrojo empresarial que gostaria de ver em outros setores diante das oportunidades potencializadas pela crise de compras de empresas no exterior por grupos brasileiros.

A aparente predileção do BNDES pelo Friboi levou o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, a endereçar uma carta ao presidente do banco, Luciano Coutinho. Ele diz reconhecer os méritos do Friboi - que também incorporou o segundo maior frigorífico nacional, o Bertin, em 2009, com a bênção do BNDES -, mas critica a intervenção do banco.

"O grande pecado do BNDES é o excesso. O País tem outras prioridades, por que jogar tanto dinheiro numa só empresa? Não há somente ela no mercado", reclama Salazar. Segundo ele, a concentração está impondo a rendição dos pequenos e médios frigoríficos à incorporação do Friboi e limitando as opções de venda dos criadores. "O BNDES pôs um volume colossal de dinheiro para criar uma multinacional sem diagnosticar bem a cadeia produtiva. E criou uma empresa assim, que pode fazer o preço do boi e da carne. Impossível competir."

Entre especialistas, a trajetória acelerada do Friboi também é vista com reservas. Analistas ouvidos pelo Estado afirmam que o compromisso do BNDES com a subscrição total das debêntures da última operação pode ter viabilizado um prêmio menor do que atrairia o mercado, amenizando o impacto no endividamento da empresa. Os títulos comprados pelo BNDES deverão se converter em 20% a 25% de ações da JBS USA, subsidiária americana do grupo em preparação para a abertura de capital.

Há reservas no mercado sobre o endividamento da empresa e sua alta exposição nos Estados Unidos, ainda às voltas com a crise. Além disso, há dúvidas sobre a capacidade da família Batista de administrar tantos e tão diversificados ativos acumulados em pouco tempo.

"A internacionalização foi muito rápida e a empresa está muito alavancada. A gestão dos novos negócios ainda vai ser testada. É um desafio para o JBS colocar essas atividades internacionais em ordem, melhores do que antes da aquisição", opina Eduardo Roche, da Modal Asset. "A ótica do BNDES é mais a de apoio à multinacional. Sem o BNDES, com certeza não teriam esse fôlego e ainda teriam se complicado muito."

Para outro analista, o fato de o Friboi ter comprado empresas já em dificuldades financeiras em mercados afetados pela crise num setor de margem baixa também afasta os investidores. "Ainda há muita interferência da família", critica.

Os dois preferem os papéis do rival Marfrig, que apontam como mais sólido. O frigorífico, que fez aquisições recentes na Argentina e no Brasil, e outras empresas do setor também receberam apoio do BNDES por meio de capitalização, mas em proporção bem menor.

A área de mercado de capitais do BNDES recusa entrevistas sobre o Friboi, mas o diretor de Planejamento, João Carlos Ferraz, aceitou definir para o Estado o que atrai tanto o banco na empresa. Ao contrário dos estereótipos que a origem do grupo goiano alimenta, para Ferraz os irmãos José Jr., Wesley e Joesley Batista, o presidente do grupo, dirigem hoje uma empresa "extremamente sofisticada", cujo apetite casou com a expectativa do BNDES de formar empresas brasileiras de peso global, seja em que setor for.

"Eles têm um gás, uma disposição de crescimento impressionante. Conhecem o negócio profundamente. Soube que a mesa de operações dele é maior que a de um banco médio. Fecham posição de compra e venda em grandes volumes em alta velocidade e sabem, online, o que está acontecendo em cada unidade", conta. "Têm enorme propensão ao crescimento e se montam para isso. E nas operações de aquisição, parecem ter um respeito muito grande pelas idiossincrasias locais, mantendo os dirigentes das adquiridas para aprender com eles."

Ferraz refuta a crítica de que o banco usa dinheiro público para subsidiar empresas como o Friboi, lembrando que o BNDES usa mecanismos de mercado, como participações acionárias e debêntures, para incentivar aquisições. É também um investimento para o banco, que não entraria num negócio para perder, segundo ele.

A mesma lógica vale para os grandes conglomerados que o banco tenta promover. Por isso, embora reconheça ser mais desejável múltis de produtos de maior valor agregado, o diretor do BNDES diz que o País ganha ao começar esse processo pelos setores onde é mais competitivo, como o de carnes. Para ele, a modernização do Friboi profissionaliza os fornecedores no Brasil, onde permanecem o centro de decisão da empresa e os empregos mais qualificados.

"Claro que produzir carne não é a mesma coisa que avião. Mas, se olharmos a trajetória do JBS, principalmente com a diversificação dessa última aquisição, vemos que estão indo pela cadeia da proteína, agregando por unidade de produto. Há um movimento de sofisticação, dentro da indústria deles", argumenta Ferraz. "Não dá para colocar o Joesley para produzir chips."

Nenhum dirigente do Friboi aceitou conversar sobre o assunto, mas, em nota enviada por sua assessoria, Jerry O" Callaghan, diretor de Relações com Investidores, reconheceu que o BNDES é fundamental para a experiência internacional do grupo. "Sozinho, não teria sido possível (para o JBS). O apoio consistente do BNDES era fundamental para fazer a empresa chegar a ser hoje a maior companhia produtora de proteína do mundo e um orgulho para o País."