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08 junho 2009

Entrevista com Shiller

Cultura
Exuberância irracional
29 Maio 2009
Valor Econômico

Estatísticas divulgadas no início desta semana mostraram que os preços dos imóveis não param de cair nos Estados Unidos. É preocupante, porque ninguém acredita que a economia americana voltará a crescer com vigor se o mercado imobiliário permanecer tão deprimido. No mesmo dia em que os números vieram à luz, outra pesquisa indicou que a confiança dos consumidores americanos aumentou muito desde o início do ano. O otimismo contagiou as bolsas de valores e o pregão fechou em alta. No dia seguinte, os investidores voltaram a ter dúvidas sobre a capacidade de recuperação da economia e as ações se desvalorizaram.

O noticiário dos últimos meses está repleto de sinais desorientadores para quem tenta entender o que está acontecendo com a economia mundial. Para o economista americano Robert Shiller, professor da Universidade Yale, isso mostra duas coisas: as pessoas não se comportam como a teoria econômica convencional sugere, e ainda parece cedo demais para comemorar o fim da crise. "Desconfio que a melhora observada nos últimos meses não é sustentável e ainda teremos muitas notícias ruins pela frente", disse Shiller ao Valor na terça-feira, numa entrevista concedida em seu escritório no campus de Yale, em New Haven.

Valor: O que há de errado com a teoria econômica convencional?

Robert Shiller: A noção de que as decisões das pessoas são essencialmente guiadas por escolhas racionais e elas só decidem depois de avaliações quantitativas cuidadosas. Sempre achamos que havia algo errado com isso. Na nossa visão, traços psicológicos evidentes no comportamento humano são mais importantes, e o que faz eles se manifestarem nessa ou naquela direção são as histórias que circulam em cada época. Se as histórias dominantes num determinado período sugerem que a economia está entrando numa boa fase, as pessoas tendem a acreditar nisso e esse otimismo orienta suas decisões econômicas.

Valor: Como o próprio livro reconhece, é muito difícil isolar e medir esses traços psicológicos. Isso prejudica a utilidade prática dos conceitos que o livro desenvolve?

Shiller: É muito difícil quantificar essas coisas com o rigor e a exatidão que seriam necessários para construir novos modelos. Mas é possível fazer muita coisa. Existem vários índices que tentam medir a confiança dos consumidores. O principal, publicado pela Universidade de Michigan, foi criado por um professor de psicologia, George Katona. Os economistas veem esses índices com ceticismo, mas os empresários prestam muita atenção neles, porque sabem que a confiança é um fator importante nas decisões dos consumidores.

Valor: Que reações o livro tem despertado no meio acadêmico?

Shiller: Recebi convites para falar do livro em algumas universidades, mas não sei se ele está recebendo atenção nos círculos acadêmicos mais tradicionais. Na verdade, fizemos com este livro um esforço para alcançar uma audiência mais ampla do que a representada pela nossa profissão. A pesquisa em economia segue o modelo consagrado pelas ciências exatas e acreditamos que isso limita nossa capacidade de compreender o mundo. Os economistas precisam ser mais humildes. Deveríamos reconhecer nossos limites e prestar mais atenção no que outras ciências sociais fazem, incorporando métodos de pesquisa que são muito utilizados por sociólogos e psicólogos mas são desprezados pela maioria dos economistas.

Valor: Por que seus colegas resistem tanto a essa ideia?

Shiller: Milton Friedman escreveu um ensaio na década de 1950 argumentando que os economistas não deviam perguntar nada para ninguém. Ele acreditava que as pessoas jamais seriam capazes de explicar suas motivações sem mentir, ou sem omitir alguma coisa. Se você quisesse entender o comportamento de um jogador de sinuca profissional, por exemplo, Friedman achava inútil perguntar qualquer coisa a ele. O melhor a fazer seria contratar um físico capaz de entender a mecânica do jogo, analisar a movimentação das bolas e construir um modelo matemático que explicasse tudo. Você não precisaria falar com nenhum jogador para tentar aprender algo com ele. Os economistas adoram esse tipo de coisa. Eu acho absurdo.

Valor: O que precisa ser feito?

Shiller: Precisamos repensar os fundamentos da macroeconomia. Muitos dos meus colegas estão atentos para esse problema e fazem pesquisas importantes. Mas é um espanto o fato de que tão poucos economistas tenham previsto a crise atual, e as dificuldades que a profissão tem encontrado para oferecer soluções agora são um sinal claro do fracasso da teoria convencional. Muita gente na academia vai tentar manter os modelos tradicionais fazendo pequenos ajustes, mas não é disso que precisamos. Precisamos de uma revolução na macroeconomia.

Valor: De que maneira isso poderia contribuir para tornar mais eficiente a regulação do sistema financeiro?

Shiller: O comportamento das pessoas precisa ser levado em conta pelos reguladores. Os seres humanos são propensos a cometer erros o tempo inteiro e isso tem que ser considerado. Os engenheiros pensam nesse tipo de coisa quando projetam um avião. Não é à toa que todo avião tem um assento para o piloto e outro para o co-piloto. Um deles pode falhar durante o voo e você precisa de um substituto ali. A regulação do sistema financeiro precisa ser repensada com esse mesmo espírito.

Valor: Dê um exemplo.

Shiller: Uma coisa importante seria aumentar a transparência do sistema e mudar a maneira como as informações circulam. As empresas são obrigadas a publicar inúmeros relatórios, mas pouca gente lê esses documentos. Há alguns anos houve um movimento para forçar as empresas americanas a usar uma linguagem mais simples em seus relatórios, para facilitar sua compreensão. Mas é preciso ir mais longe se quisermos democratizar o acesso das pessoas às finanças e protegê-las contra os malfeitores que existem na praça. Devemos reconhecer os limites das pessoas e ajudá-las a tomar decisões com assessoria especializada.

Valor: Como assim?

Shiller: Hoje em dia, serviços de assessoria em assuntos financeiros são oferecidos apenas por pessoas interessadas em vender produtos financeiros específicos. Corretores de ações e corretores de imóveis são recompensados por fazer recomendações que nem sempre são adequadas para as pessoas, e não há incentivos no sistema atual para corrigir isso. Minha sugestão é que o governo subsidie esse tipo de serviço, para estimular o nascimento de uma indústria de assessores financeiros que sejam desinteressados e deem segurança às pessoas. Na hora de planejar investimentos significativos e tomar decisões importantes como a compra do primeiro imóvel, as pessoas poderiam ter ajuda de um assessor especializado, com quem teriam o mesmo tipo de conexão pessoal que qualquer um tem com seu médico particular.

Valor: De que maneira isso evitaria a formação de bolhas como a que surgiu no mercado imobiliário americano?

Shiller: A crise atual é essencialmente o resultado de falhas na maneira como as pessoas e as empresas administraram os riscos a que estavam expostas. Havia uma enorme bolha se formando e praticamente ninguém aconselhando as pessoas a tomar cuidado. Pelo contrário, todo mundo dizia que o melhor a fazer era comprar o que aparecesse pela frente e se alavancar. As pessoas passaram a acreditar que os preços dos imóveis continuariam subindo para sempre e fizeram suas apostas com base nessa crença, embora os imóveis tivessem se desvalorizado em outros momentos no passado. A teoria financeira convencional diz que as pessoas devem diversificar seus investimentos e buscar proteção contra os riscos que correm. Ninguém seguiu esse conselho enquanto a bolha estava se formando e o resultado foi desastroso, como vimos depois.

Valor: Mas muita gente sabia que estava correndo riscos, não?

Shiller: Faz parte da natureza humana cometer erros desse tipo. Não há o que fazer para evitar que as pessoas cometam loucuras e haverá outras bolhas no futuro. Mas é possível evitar que os problemas criados por erros desse tipo tenham a intensidade da crise atual. É possível desenhar instituições financeiras em que as pessoas tenham mais proteção.

Valor: É função do governo proteger as pessoas contra seus próprios erros?

Shiller: Em qualquer esporte há juízes. Eles são necessários. Se eles não existissem, não saberíamos quem ganhou o jogo, os times iam brigar e as pessoas iam se machucar. O resultado disso não seria aceitável para ninguém. Os jogadores precisam de um juiz e o público também quer. É a mesma coisa com a regulação da economia. Se o governo não estabelecer as regras do jogo, os bancos e as empresas farão isso. Foi essencialmente o que eles fizeram nos últimos anos. Não é que o governo precisa proteger as pessoas contra sua própria natureza. Somos nós que decidimos que queremos um jogo com regras claras e um juiz para arbitrar conflitos, porque é do nosso interesse.

Valor: O governo tem condições de atuar como um árbitro isento numa situação como a dos Estados Unidos, em que o Estado passou a controlar uma fatia tão significativa do sistema financeiro?

Shiller: Todo mundo espera que os juízes sejam imparciais, mas às vezes eles podem ser subornados, ou fazem apostas por baixo do pano. Você pode concluir que a natureza humana é tão definitivamente corrompível que não resta nada a fazer. Mas nem todo mundo é corrompível, e é por isso que as sociedades em geral funcionam. Uma noção importante para a teoria econômica convencional é a ideia de que as pessoas são inexoravelmente egoistas, capazes de desrespeitar as leis e fazer qualquer coisa para maximizar seus lucros. Tem algo errado aí.

Valor: A crise fez os americanos parar de consumir e eles estão economizando mais. É apenas uma estratégia para enfrentar a recessão ou um sinal de transformações mais profundas no comportamento das pessoas?

Shiller: Não sei ao certo. Acabamos de ver um salto nos índices de confiança dos consumidores e muitas pessoas parecem acreditar que o pior da crise ficou para trás. Muita gente acha que os preços dos imóveis vão se recuperar em breve, embora continuem caindo. Como argumentamos no livro, os espíritos animais têm vida própria. Mas desconfio que a melhora observada nos últimos meses não é sustentável e ainda teremos muitas notícias ruins pela frente. A questão é saber se esta crise será mesmo um evento transformador. Acho que a recessão vai se prolongar por mais tempo. Isso levará a um aumento nas taxas de poupança dos Estados Unidos e a uma atitude menos especulativa.

Valor: A maior aversão das pessoas a riscos vai enfraquecer as fundações do capitalismo americano?

Shiller: Não vamos exagerar. Tivemos depressões e pânicos no passado. Depois esquecemos tudo, voltamos a cometer os mesmos erros e o capitalismo sobreviveu. Apesar de tudo que ocorreu nos últimos meses, existe atualmente um crescente reconhecimento do valor do capitalismo como um sistema capaz de produzir e distribuir riqueza. Não acredito que a atual recessão vá acabar com isso.

Valor: As medidas adotadas pelo governo americano para combater a crise estão na direção certa?

Shiller: Temos que dar tempo ao governo. Tem muita gente boa lá dentro e eles sabem o que é preciso fazer. Defendemos no livro a ideia de que os bancos centrais precisam ter como meta manter a oferta de crédito em condições que garantam pleno emprego e estabilidade econômica. A preocupação com a inflação não pode ser o único objetivo. O atual presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, sabe bem disso, porque discutiu essa ideia nos seus estudos sobre a Grande Depressão. E o Fed já está trabalhando nessa direção.

Valor: O aumento dos investimentos do governo ajuda?

Shiller: A maioria dos economistas acredita hoje em dia que o aumento dos gastos públicos provocado pela Segunda Guerra Mundial foi o que acabou com a Grande Depressão. Mas não acredito que os gastos do governo tenham sido o fator determinante. O que a guerra fez foi mudar a maneira como as pessoas viam a economia e o momento que o país estava atravessando. Durante a Grande Depressão, elas foram tomadas por expectativas ruins que se autoalimentavam e davam a impressão de que aquilo ia durar para sempre. Com o esforço coletivo em torno da guerra e a reunião das famílias depois que o conflito acabou, as pessoas abandonaram esse estado mental e passaram a se comportar de outra maneira, dando impulso à recuperação da economia.

Valor: Uma empresa que o senhor ajudou a fundar, a MacroMarkets, está lançando um fundo que permitirá aos investidores fazer apostas na evolução dos preços dos imóveis. Por quê?

Shiller: A crise atual mostrou que faltam instrumentos para proteger as pessoas contra os riscos do mercado imobiliário. Isso é fundamental. Construtoras, corretoras e pessoas que adquiriram imóveis antes que a bolha estourasse agora encontram enorme dificuldade para se ajustar. Queremos criar um mercado para produtos financeiros que reflitam a evolução dos preços dos imóveis. Tentamos fazer isso no mercado de futuros antes da crise, mas não houve interesse. Acho que os investidores não entendem bem como o mercado imobiliário funciona e por isso não compraram nossa ideia. Desta vez vamos lançar um fundo com ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York. Tivemos dificuldade para obter aprovação dos órgãos reguladores. Vamos ver agora se as pessoas terão interesse em participar.

06 junho 2009

Rir é o melhor remédio





Sobre a GM, fonte aqui, aqui, aqui e aqui

Controle

O instituto do tag along e o espírito da lei
Leslie Amendolara
2 Junho 2009 - Valor Econômico

(...) Estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) revelou que apenas 37% das empresas listadas na BM&FBovespa não possuem a figura de um controlador definido. O estudo informa ainda "que se for observada a relevância dessas empresas para o mercado a participação é ainda menor". Essas empresas representam 5,2% da receita das companhias em 2008 e 6% do valor de mercado da Bovespa. O que significam esses números? Significam que 94% do valor de mercado está em poder dos controladores, demonstrando a pouca pulverização das ações e, em consequência, a fraqueza do acionista minoritário. Cabe, assim, aos controladores a responsabilidade pela conduta ética das empresas, porque existe uma disciplina do poder a ser observada por quem comanda, consistindo no dever de manter elevado o espírito público para dar exemplo àqueles que devem obedecer-lhes.

MP 449 é Lei

A MP 449/2008 agora é Lei

Foi publicada no DOU a Lei 11.941/2009, introduzindo alterações na Lei 6.404/76 (Lei das S/A) e instituindo o Regime Tributário de Transição - RTT

A Lei foi sancionada com vários vetos, nenhum deles relacionados à matéria contábil, apenas em relação ao RTT.

Conselho

Investimentos
Diversidade é insuficiente para mudar conselho
29 Maio 2009 - Valor Econômico

Helen Alexander recebeu duas salvas de aplausos espontâneos mesmo sem discursar no jantar da CBI nesta semana, tamanho é o entusiasmo com o fato de o sindicato patronal britânico ter sua primeira mulher presidente.

Alexander, cuja eleição deverá acontecer na próxima semana, apelou para uma maior diversidade nos conselhos de administração das empresas, dizendo que ela colocará um fim à "identidade de grupo" que contribuiu para os desastres financeiros recentes. "Está claro que as equipes que têm diversidade nas suas fileiras não resultam em conformismo. As pessoas chegam a resultados de formas diferentes e as organizações precisam levar isso em consideração", disse ela.

Considerando a desordem que a maioria esmagadora da elite branca masculina provocou, a noção de mudanças nos conselhos de administração parece tentadora. Alexander, uma ex-executiva-chefe do "The Economist", não é a única pessoa que pensa assim. O lorde Myners, ministro da City [cargo de representante do governo junto ao centro financeiro], disse à comissão do Tesouro da Câmara dos Comuns que um número demasiadamente elevado de conselheiros é composto "das mesmas pessoas que leem os mesmos jornais, frequentaram as mesmas universidades e escolas e compartilham os mesmos preconceitos".

Existe alguma evidência de que grupos heterogêneos tomam melhores decisões? Sim, segundo um excelente artigo de Lisa Fairfax, professor de direito na Universidade de Maryland.

Em escritos no "Wisconsin Law Review", a professora Fairfax menciona estudos que demonstram que grupos heterogêneos tomam decisões de maior qualidade devido às formações distintas. "Quando todos os membros de um grupo têm a mesma perspectiva, isso limita a amplitude da informação de que dispõem e os temas que discutem", ela escreve.

Colocar esse pensamento diversificado em prática no conselho de administração, porém, é outra coisa. O artigo da professora Fairfax trata da diversidade étnica, mas os mesmos princípios se aplicam a ter mais mulheres no conselho de administração.

Um problema é que os conselheiros contratados para tornar os conselhos mais heterogêneos são muitas vezes ocupados até o limite. As mesmas pessoas tendem a servir em muitos conselhos. Um estudo realizado nos EUA em 2002 revelou que cinco conselheiros de empresas listadas no índice S&P 500 das maiores empresas serviam em seis ou mais conselhos. Quatro deles eram afroamericanos.

Outro problema é que conselheiros mulheres e de minorias étnicas muitas vezes vêm da mesma formação educacional e de classe dos homens brancos.

Existem soluções. Se as companhias se empenhassem mais em nomear conselheiros mulheres e de minorias étnicas, o reservatório de candidatos seria mais profundo e haveria menos necessidade de as mesmas pessoas tomarem assento nos conselhos uns dos outros. A tentativa de enxergar para além do ramo de atividade, de atrair pessoas com experiência no governo, educação, saúde e sindicatos aumentaria a mistura social.

O verdadeiro problema é mais profundo: há enorme pressão para concordar com as pessoas que sentam com você ao redor da mesa. Alguns anos atrás fui representante sindical na comissão de segurança e saúde numa companhia. A cada reunião eu fazia uma queixa que o resto da comissão não queria ouvir: simulações de incêndio grosseiras, fichários transbordando. Eu tentava ignorar o impaciente arrastar de pés e a mal contida irritação. Eu estava fazendo o meu trabalho. Mas o cômodo compadrio dos demais membros parecia muito sedutor.

A maioria de nós sente uma necessidade de pertencer. Aqueles que para início de conversa são estranhos no conselho podem sentir isso de forma mais intensa. É incômodo ser o dissidente constante.

Discordar da direção da companhia já é duro o bastante. Fazê-lo quando um setor inteiro está indo na mesma direção é ainda mais difícil. Não são apenas os conselhos de administração os que sofrem de identidade de grupo: setores inteiros passaram por isso. O setor bancário também.

Qualquer executivo-chefe de banco de investimento que tivesse dado ouvidos a um diretor que alertasse que os complexos instrumentos financeiros prenunciavam problemas estaria ele mesmo encrencado. Conforme disse Peter Hahn, membro da Escola de Negócios Cass, à comissão do Tesouro: "Se um daqueles bancos em 2005 tivesse decidido ser mais conservador e tivesse colocado um freio nas suas atividades, muito provavelmente teriam destituído e substituído seu conselho de administração e seu executivo-chefe em 2006 por não terem tirado proveito das oportunidades".

Mesmo os mais experientes diretores de fora encontram dificuldades em entender o que realmente está acontecendo na companhia. Eles dependem dos diretores executivos para se inteirarem da situação. Formular as perguntas certas é apenas parte da função; o que conta é saber quando você recebeu uma resposta inadequada.

Nada disso tem a intenção de pleitear contra a ampliação do leque de conselheiros da companhia. Existem muitos motivos para fazê-lo, um dos quais é que, se uma instituição quiser manter sua legitimidade e aceitação, sua liderança precisa se parecer com a sociedade que representa. Isto vale tanto para o mundo dos negócios como para a polícia, o Judiciário ou o Legislativo.

Devemos, porém, evitar depositar esperanças exageradas no que membros de conselho de formações distintas podem conseguir fazer. Por si só, eles não conseguirão impedir que empresas tomem as decisões erradas. Esperar que fossem capazes disso é irreal e injusto (Tradução de Robert Bánvölgyi).

05 junho 2009

Teste #87

Um vírus passou no computador do aluno quando estava terminando o trabalho de contabilidade. Este vírus, denominado Ativus, é interessante, pois localiza somente termos do ativo e embaralha as letras da palavra. O estudante notou que o vírus alterou quatro termos do seu trabalho:

EENORRST
SONCBA
EEOQSST U
USQNMIAA

Quais são estes termos?

Resposta do Anterior: 3 computadores

Bancos

A vitória contábil dos bancos americanos
Susan Pulliam e Tom McGinty, The Wall Street Journal
4 June 2009 - The Wall Street Journal Americas - 2

Não muito tempo depois que o chão desapareceu no mercado americano de títulos hipotecários, no fim do ano passado, um grupo de empresas do setor financeiro decidiu combater uma regra contábil que as obrigava a registrar bilhões de dólares em perdas com esses papéis.

Com uma milionária campanha de lobby, elas persuadiram importantes membros do Congresso a pressionar a indústria da contabilidade a mudar a regra em abril. O retorno deve ser resultados bem melhores neste segundo trimestre.

A questão contábil está no cerne da crise financeira: será que os papéis mais difíceis de avaliar não valem mais do que o mercado está disposto a pagar, ou será que o mercado ficou tão bagunçado que não consegue atribuir valores adequadamente?

A mudança da regra enfureceu alguns defensores dos direitos dos investidores. "Isso é interferência política em uma questão importante, e suscita dúvidas de que a partir de agora os padrões de contabilidade tenham mesmo a qualidade e a integridade de que o mercado precisa", diz Patrick Finnegan, diretor de políticas de relatórios financeiros do CFA Institute Centre for Financial Market Integrity, uma associação de investidores.

Os que defendem a mudança dizem que ela era necessária porque as regras contábeis existentes nunca contemplaram uma turbulência no mercado como a do ano passado.

As regras exigiam que os bancos, corretoras e seguradoras usassem cotações de mercado para atribuir valores a títulos hipotecários e outros ativos não negociados em bolsas — ou seja, "marcar a mercado". Mas quando os mercados desabaram, as instituições financeiras se queixaram de que as regras as obrigavam a cortar o valor de muitos ativos com base em preços de liquidação. Isso contribuiu para grandes perdas que drenaram capital e ameaçaram quebrar algumas das maiores firmas dos EUA.

No início deste ano, o setor financeiro pôs seus lobistas no caso. Formou-se uma coalizão com 31 firmas financeiras e entidades de classe que gastou US$ 27,6 milhões no primeiro trimestre fazendo lobby em Washington acerca dessa norma e de outras questões, segundo análise feita pelo Wall Street Journal de informes públicos. A coalizão também deu contribuições de campanha, num total de US$ 286.000, para os legisladores de um importante comitê, muitos dos quais pressionaram pela mudança, segundo indicam os informes.

O deputado democrata Paul Kanjorski, chefe do subcomitê de Serviços Financeiros da Câmara, que pressionou pela mudança da regra, recebeu US$ 18.500 de membros da coalizão no primeiro trimestre, o segundo total mais alto entre os membros do comitê, conforme registros da Comissão Eleitoral Federal (FEC). Nos últimos dois anos, Kanjorski recebeu US$ 704.000 em contribuições de bancos e seguradoras, o terceiro total mais alto entre os congressistas, segundo a FEC e o Centro para Política Responsável.

Uma porta-voz diz que Kanjorski acredita que o órgão regulamentador do setor contábil americano, o Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Fasb) tomou a decisão certa, uma vez que nem os críticos da regra de marcar a mercado nem seus defensores ficaram "totalmente satisfeitos com o resultado". Ela diz que as contribuições de campanha não influenciaram as posições do parlamentar.

Sob pressão do comitê, a Fasb fez uma rápida revisão de suas regras. O presidente da entidade, Robert Herz, disse ao WSJ que a Fasb apenas acelerou a questão na agenda, procurando dar atenção aos pontos de vista tanto dos investidores como das empresas financeiras.

A mudança ajudou a reverter o sentimento dos investidores em relação aos bancos. As instituições financeiras tiveram a opção de seguir a mudança contábil em seus balanços do primeiro trimestre; elas serão obrigadas a segui-la no segundo trimestre. O Wells Fargo & Co. informou que a mudança aumentou seu patrimônio em US$ 4,4 bilhões no primeiro trimestre. O Citigroup Inc. divulgou que a mudança acrescentou US$ 413 milhões nos lucros do primeiro trimestre.

Robert Willens, um analista tributário e contábil, estima que as mudanças aumentarão os lucros bancários no segundo trimestre em uma média de 7%.

A Associação de Banqueiros Americanos reconhece que exerceu pressão para mudar as regras. A ABA foi a principal doadora para os fundos de campanha dos membros do comitê nas semanas anteriores a uma audiência em que os parlamentares pressionaram a Fasb pela mudança. A associação doou um total de US$ 74.500 para 33 membros do comitê no primeiro trimestre, segundo a análise dos informes feita pelo WSJ. Um porta-voz da ABA diz que esse nível de contribuição aos legisladores é normal, e que a iniciativa fez parte de um esforço mais amplo para mudar as normas contábeis.

A vitória do setor bancário contrasta com pelo menos uma derrota que enfrentou nas últimas semanas, sobre novas leis para cartões de crédito que restringem algumas fontes de receita.

Marcar a mercado é uma norma contábil que existe há décadas. Muitos bancos estavam satisfeitos com a regra quando os mercados estavam em alta. Mas a regra se tornou um grande problema no fim de 2007. Quando os mercados começaram a declinar, a Fasb clarificou as regras e estabeleceu como certos instrumentos financeiros, entre eles os títulos lastreados por hipotecas, deveriam ser avaliados.

As diretrizes definiam que as avaliações deveriam refletir informação "observável", como valores de mercado, sempre que possível. Elas exigiam que os bancos revelassem ampla informação sobre os ativos que não eram capazes de avaliar com base em cotações de mercado.

As instituições financeiras registraram prejuízos ou baixas contábeis num total de US$ 175 bilhões, segundo Michael Mayo, um analista da divisão CLSA do Crédit Agricole SA.

O plano para o esforço de lobby começou a tomar forma no ano passado. Os mercados acionário e de renda fixa estavam em queda livre. O Lehman Brothers Holdings Inc. quebrou em setembro. Alguns mercados congelaram, entre eles o de títulos hipotecários. Os investidores temiam que alguns bancos e outras empresas financeiras não sobreviveriam se não começassem a apresentar lucros em 2009.

O lobby ganhou força no começo deste ano, quando encontrou parlamentares mais preocupados com a possibilidade de disseminação dos problemas.

04 junho 2009

Rir é o melhor remédio

"O governo é visto não como um comitê de cidadãos escolhidos para tocar os negócios comuns a toda população, mas como uma corporação separada e autônoma, devotada em primeiro lugar a explorar a população em proveito de seus próprios membros."

1925, Mencken - Citado no artigo "Doce Acidez" - Gazeta Mercantil – 29/5/2009 - Leonardo Vils

Teste #86

O escritório de contabilidade terminou de adquirir um computador último tipo da Dell para fazer os serviços dos clientes. Um amigo do dono perguntou:
- Agora você possui quantos computadores?
O contador, que gosta de se gabar do seu sucesso e da sua esperteza, respondeu:
- Todos, menos dois, são Dell; todos, menos dois, são HP; e todos, menos dois, são de procedência desconhecida.

Resposta do Anterior: Ace = 30 mil; Set = 20 mil; Net = 10 mil e Match = 40 mil

03 junho 2009

Rir é o melhor remédio



Fonte: aqui e aqui

Teste #85

A empresa possui margem de contribuição total de R$100 mil para seus quatro produtos: Ace, Set, Net e Match. Ace possui R$10 mil a mais de margem que Set. Net possui a mesma receita de Match, mas um custo variável total de R$30 mil a mais. Match tem R$10 mil a mais de margem de contribuição que Ace. Set possui o mesmo custo variável que Net, mas uma receita R$10 mil a maior. Você saberia dizer a margem de contribuição de cada produto?

Resposta do Anterior: Estoques, Estoques, Terrenos, Bancos. Caixa = 4 mil; Bancos = 6 mil; Valores a Receber = 8 mil; Estoques = 7 mil e Terrenos = 15 mil. Ativo = 40 mil.

Links

O lado bom dos games

Livros de Marcos Cintra (economia) para baixar (dica do Alexandre Alcantara)

Uma prisão 5 estrelas (dica da Ludmila)

Gravatas estranhas (dica da Ludmila)

Cem anos de música (dica de Alexandre Alcântara). É bem verdade que faltou Beach Boys!

Custo Perdido

Um estudo de 6380 contas de investimentos de 1987 a 1993 por Odean para o livro Are Investors Reluctant to Realize their Losses? descobriu que os investidores tendem a vender ações que valorizaram do que as que perderam. O estudo constatou ainda que as ações vencedoras, que foram vendidas, superaram o mercado em uma média de 2,3% no ano seguinte, enquanto as que perderam e foram mantidas tiveram um desempenho abaixo do mercado de 1,1%.

Assim, se os investidores tivessem mantido os títulos vendidos e vendessem os títulos mantidos, isto teria aumentado seu desempenho anual de 3,4%, aponta Mangot. O autor chama isto de falácia do custo perdido. (...)

Investing logic - R. Sreeram - 28 Maio 2009 - Money Today

IFRS e investidor

IFRS: uma poderosa ferramenta para os investidores
Ricardo José de Almeida - 3/6/2009 - Valor Econômico

As razões mencionadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis para a integração das regras contábeis aos padrões internacionais têm sido centradas nas diferenças de critérios que levam a um custo extra e como uma dificuldade a mais para a indispensável troca de informações entre as empresas brasileiras e os investidores de outros países.

Os padrões internacionais de contabilidade (IFRS) desenvolvidos pelo International Accounting Standards Board (IASB) têm se mostrado estritamente dependentes de julgamentos e interpretações que as empresas têm de fazer a respeito das condições macroeconômicas e setoriais em que ela se encontra. Além disso, dependem de uma precisa definição de conceitos financeiros que até agora não eram tratados na elaboração dos demonstrativos financeiros brasileiros.

Aparentemente, para tecer interpretações e julgamentos, a delegação está sendo atribuída aos executivos da empresa. Questões ligadas à redução do valor dos ativos decorrente de mudanças nas expectativas de mercado, redução no valor dos ativos para refletir o valor de negociação desses ativos no mercado secundário e julgamento de algumas condições para o efetivo reconhecimento de despesas são alguns exemplos do que será parte do lucro a ser publicado pelas empresas a partir de agora.

A visão abrangente, que é necessária para tecer os julgamentos e interpretar o ambiente de negócios, é o avanço que propiciará que a controladoria das empresas esteja mais integrada no negócio - função esta que já deveria estar contemplada nos procedimentos para elaboração do orçamento e que não tinham incentivo por uma regulação. Veja que, historicamente, o incentivo dado por regulação vem de uma necessidade de apurar o imposto de renda, o que fez as regras serem desvinculadas de um pensamento estratégico.

Os investidores utilizam a medida de lucro para estabelecer os dividendos a serem pagos e também buscam informações a respeito do ambiente em que a empresa que investem se encontrará. Os executivos têm uma expectativa sobre os negócios da empresa que não necessariamente precisa ser passada aos atuais e potenciais investidores. Ao regulamentar a incorporação de expectativas sobre o futuro do negócio nos números a serem publicados, o conhecimento do IFRS se torna uma poderosa ferramenta para a pesquisa de informações por parte dos investidores para diminuir sua apreensão a respeito do retorno esperado de seus investimentos.

Os acionistas utilizam a medida de lucro para estabelecer o bônus a ser concedido aos executivos, visando alinhar os interesses destas duas importantes partes. Os executivos, ao definirem as expectativas sobre os negócios da empresa e de suas unidades de negócios, terão o poder de definir seu bônus. Esta definição pode levar a uma administração de resultados que deve ser monitorada pelos representantes dos acionistas e da comunidade.

Os credores utilizam variadas medidas contábeis para definir cláusulas de restrições a serem cumpridas em concessões de empréstimos. Assim como o efeito descrito para os acionistas e para os investidores, os resultados contábeis serão mais dependentes de julgamentos e interpretações que podem ser divergentes e trazer questionamentos.

Como as empresas irão lidar com este poder de definir os números de sua contabilidade será uma relevante questão a ser monitorada. O IFRS, antes de uma simples harmonização, propiciará informações importantes sobre a expectativa de retorno a ser obtido em aquisições de outras empresas, sobre o risco na carteira de clientes que a empresa carrega, sobre a política de remuneração variável para os executivos, entre outros aspectos que são muito procuradas pelos investidores. Propiciar informações é, sem dúvida, a razão principal para a qual ele foi criado na sua origem.

Este novo padrão contábil facilitará o monitoramento da relação entre executivos e investidores caso seja bem aplicado pelas empresas. A boa aplicação significa julgamentos com expectativas realistas e a confiabilidade de que isto esteja acontecendo só pode ser obtida com a divulgação das expectativas que as embasaram. Como exemplo, usar o ajuste de valor recuperável dos ativos sem a divulgação do que fez as expectativas mudarem. Outro exemplo é valorizar a carteira de recebíveis sem relação com o valor de realização da mesma é não possibilitar o uso do IFRS plenamente e, ainda por cima, possibilitar a administração dos resultados de uma maneira potencialmente perigosa.

02 junho 2009

Links

Links de contabilidade internacional

Cingapura irá adotar IFRS até 2012

Crise financeira no Futebol inglês

Depoimento do contador chefe da SECsobre marcação a mercado (grato Afonso Arinos)

Teste #84

“Já calculei o valor do ativo da sua empresa. Verifiquei que você possui basicamente cinco tipos de ativos: Caixa, Bancos, Valores a Receber, Estoques e Terrenos. Valores a Receber e _________, contas vinculadas ao ciclo operacional e denominadas de operacionais, somam R$15 mil. A conta bancária mais as duplicatas, que a empresa está pensando em descontar, representam R$14 mil. Os ativos não monetários, que são os ______ e ______, totalizam R$22 mil. A soma do caixa e ______ , que é igual ao disponível, é de R$10 mil. Além disto, a soma do Caixa, Valores a Receber e Terrenos é de R$27 mil.”

A ligação falhou nos trechos em que contador falava no telefone com a dona da Armarinhos Amanhã. Você seria capaz de completar os trechos faltantes e determinar o valor de cada conta?

Resposta do Anterior: Epsilon - Tau - Rho; Kapa - Chi - Upsilon; Omicron - Psi - Sigma

Problemas com a adoção da IFRS nos EUA

(...) Os proponentes da IFRS citam a comparabilidade das demonstrações financeiras entre as empresas abertas como um dos argumentos em favor da sua adoção.

As críticos são no sentido de que as IFRS baseadas em princípios pode produzir uma ampla variedade de resultados que os US GAAP baseados em regras. Isto diminui os benefícios da comparabilidade. No tempo, alguns acreditam que esta situação irá forçar a IFRS a torna-se mais baseada em regras.

Além disto, enquanto a melhoria na comparabilidade global irá beneficiar as empresas multinacionais, empresas com operações domésticas não irão ter o mesmo benefício.

As IFRS são menos volumosas que os US GAAP em parte porque elas contem pouco guia para indústria específica. Muitos analistas têm preocupações sobre como a IFRS teria influencia sobre setores específicos. (...)

Outras críticas são relacionadas com a incerteza no financiamento do Iasb. Muitos acreditam que o Iasb necessita de um método de financiamento mais consistente e confiável para ser indiferente a pressão política e de empresas. (...)

(…) Uma vez que a SEC só regula as empresas abertas, críticos também aponta a preocupação que a SEC não reconhece que muitas empresas dos EUA não são registradas na SEC. Existe uma preocupação em adotar a IFRS para empresas abertas e US GAAP para empresas fechadas, que irá confundir os estudantes que irão precisar apreender dois tipos diferentes de padrões.

Fonte: AICPA via IFRS Roadmap--AICPA Analysis of Comment Letters

Indice

Ferramenta em discussão
28 ABril 2009
Valor Econômico

Pela teoria econômica, se uma empresa tem um valor patrimonial - os bens que a empresa possui e aparecem no balanço - mais alto que o de mercado, suas ações representam uma oportunidade e tanto de investimento, certo? Não é bem assim. Usar um único indicador de desempenho para basear toda uma estratégia de investimento é perigoso e não traz muito resultado, por melhor que seja esse indicador. A conclusão é de um estudo coordenado pelo professor William Eid Júnior, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).

O estudo, patrocinado pela gestora independente Fama Investimentos, buscava analisar a eficiência da relação entre o preço da ação de uma empresa e seu o valor patrimonial (P/VPA), um dos indicadores preferidos usados pelo megainvestidor Warren Buffett, papa do investimento em valor ("value investment"), na hora de escolher um papel. O estudo da FGV buscava verificar a eficiência de um método fácil: olhar um indicador para ver se ele ajudaria na montagem de uma carteira. O estudo começou usando o "book to market", ou o valor de mercado das empresas comparado ao seu valor contábil, ou de livros.

"A conclusão é que não é tão fácil fazer essa avaliação", afirma Eid. "Mesmo um cara como Warren Buffett não se fixa em coisas tão simples, ele fala mais desses índices para consumo externo", diz Eid. Na hora de investir, afirma o professor, as análises devem ser mais profundas do que esses indicadores gerais. "Essa simplificação tem a ver com a onda de investimentos dos últimos anos, em que o mercado só subia e parecia muito fácil investir em ações, mas não é assim, não há uma receita de bolo."
Teoricamente, se uma empresa tem um valor patrimonial mais alto que o de mercado, R$ 100 milhões de patrimônio e todas suas ações representem R$ 10 milhões, por exemplo, isso significaria que ela tem um P/VPA de 0,10, e estaria sendo mal avaliada pelo mercado. Nessa visão, os investidores estariam comprando um patrimônio de R$ 100 milhões por R$ 10 milhões. E essa distorção teria de ser corrigida em algum momento, partindo do princípio que os mercados são racionais. Valeria a pena, portanto, correr atrás dessas companhias.

O contrário, de valores de mercado muito acima dos do valor patrimonial, significa que o mercado olha para elas com bons olhos e, por isso, a relação P/VPA é muito mais alta. No futuro, porém, a tendência seria haver maior concorrência, gente atacando seus mercados e o ganho diminuindo. "Em resumo, empresas malvistas pelo mercado deveriam se recuperar e as bem-vistas devem perder", afirma Eid.
Por esse critério, o mercado brasileiro estaria muito mais barato hoje. Pegando os papéis do Ibovespa, a relação P/VPA das principais ações da bolsa seria de 2,91, bem abaixo dos 4,48 do fim de 2007 e o menor desde os 2,88 de 2004. A ação preferencial (PN, sem voto), séria A da Vale, por exemplo, teria P/VPA de 1,65, menos da metade dos 4,30 de 2007. E Petrobras PN, de 1,86, para 3,41 de 2007, segundo dados do Valor Data.

O problema é que a crise atual bagunçou os parâmetros do mercado, houve fortes quedas de preços em algumas ações e as distorções se acentuaram. E a teoria, que seria aplicada em uma situação normal, foi deixada de lado. "Mas não é tão simples, há muitos fatores que influenciam na valorização da ação", afirma Eid.
No estudo, foram construídas duas carteiras de ações, uma com um valor patrimonial muito acima do de mercado e outra com baixo valor patrimonial. E foi analisado seu desempenho de 2004 a 2008. No total, foram consideradas 639 empresas, das quais 222 apresentam elevado valor patrimonial e 417, baixo. As empresas foram selecionadas também por seus indicadores financeiros, como geração de caixa, endividamento, liquidez, lucro líquido sobre ativos.

A lógica seria que a carteira com menor valor de mercado rendesse mais, mas não foi o que aconteceu. Os retornos foram muito próximos, segundo o levantamento. Ou seja, o indicador não é suficiente para identificar as melhores ações.

Ao mesmo tempo, ações de empresas com os melhores conjuntos de indicadores financeiros tiveram melhor desempenho, independentemente do valor patrimonial. "Isso mostra que é preciso estudar muito bem cada investimento, com várias ferramentas", diz Eid. Entre os fatores que levaram as empresas com baixo P/VPA a ter perdas estava a falta de liquidez dos papéis, que derrubou seus preços.
O único setor onde a relação Preço/Valor Patrimonial pode ser útil é no financeiro, afirma Marco Melo, analista chefe da corretora Ágora. "Por mais que tenham havido ajustes para compensar a hiperinflação dos anos 80 aos 90, os números de patrimônios das empresas ainda carregam grandes distorções", diz. Além disso, os prejuízos em controladas podem distorcer o patrimônio das controladoras, passando ao mercado uma imagem que não é a real. E há empresas que têm baixo valor patrimonial, por definição, pois já amortizaram grande parte de seus ativos, caso das elétricas.
Outro fator que pode distorcer o indicador é o aumento de capital. Melo lembra que, recentemente, durante a bolha das ofertas públicas de ações, muitas empresas "incharam" o patrimônio com captações, que entraram no caixa e davam a impressão que a empresa estava barata no mercado. "Há outras que deixaram de pagar dividendos e juntaram os valores ao patrimônio, coisa que só olhando a relação P/VPA não aparece", diz.

No caso do setor financeiro, os números de patrimônio são mais confiáveis, avalia Melo, uma vez que o setor é rigidamente regulado não só internamente como externamente. "O Acordo da Basileia determina controles muito detalhados da contabilidade das instituições de acordo com critérios internacionais", diz Melo. Além disso, há a fiscalização do Banco Central brasileiro.

Para ele, melhores indicadores são os relativos à geração de caixa projetada, como o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida). "Até a relação Preço/Lucro (PL) perdeu muito de seu apelo, mas ainda é bastante usada pelo mercado", diz.

Fiscalização nas auditorias

Segundo notícia do The Practical Accountant (PCAOB to Inspect Overseas Firms, 12, Vol.42, No.5) o PCAOB, entidade de fiscalização das empresas de auditorias, irá fazer uma fiscalização em países estrangeiros. O objetivo é verificar a conduta das empresas de auditoria. Entre os países, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hong Kong, Indonésia, Irlanda, Israel, Casaquistão, Coréia, México, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Filipinas, Portugal, Fedeeração Russa, Cingapura, Suécia, Suiça e Grã-Bretanha.

Falência e Direitos

Legislação & Tributos
STF veta sucessão trabalhista
28 Maio 2009
Valor Econômico

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem, por unanimidade, que não há sucessão de dívidas trabalhistas nos casos de compra de ativos de empresas em recuperação judicial ou em processo de falência. Apesar de o julgamento trazer maior segurança jurídica para os negócios realizados nessas condições, a decisão dos ministros não solucionou por completo os "problemas" gerados a partir da nova Lei de Falências, de 2005. Na avaliação de especialistas na área, é necessário que o Poder Judiciário defina o que são as chamadas "unidades produtivas isoladas" citadas no artigo 60 da legislação. O dispositivo, considerado constitucional pelo Supremo, estabelece que as filiais e as unidades isoladas alienadas durante a recuperação judicial estão livres de qualquer ônus e da sucessão de dívidas para o arrematante.

No entanto, como o conceito de unidade isolada estaria ainda em aberto, em diversas situações a sucessão poderia continuar a ser determinada em aquisições realizadas em processos de recuperação judicial. A hipótese é exemplificada, por alguns advogados, com o caso da Varig, adquirida pela Gol em março de 2007.

O caso da Varig foi citado por diversas vezes durante o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade (Adin) impetrada pelo PDT no Supremo, mas não foi levado em consideração pelos ministros. A advogada Eliasibe de Carvalho Simões, que representou o Sindicato Nacional dos Aeroviários, "amicus curiae" (parte interessada) na ação, afirma que os nove mil trabalhadores da antiga Varig, demitidos em decorrência da venda da empresa, jamais receberam seus direitos. No entanto, os ministros adotaram o argumento do advogado-geral da União, José Antônio Toffoli, de que não estava em questão a boa ou a má-aplicação da lei, o que deve se restringir às primeiras instâncias da Justiça, mas a lei em si.

Apesar de não discutirem o conceito de "unidade produtiva isolada", os ministros do Supremo foram unânimes em considerar que o valor pago pela venda de ativos de uma empresa em recuperação é destinado prioritariamente à quitação de créditos trabalhistas incluídos no processo de recuperação, otimizando a possibilidade de pagamento dos trabalhadores com direitos a receber. (...)

A decisão do Supremo foi recebida com entusiasmo por advogados que atuam na área de recuperação de empresas por solucionar parte das dúvidas geradas a partir da entrada em vigor da nova Lei de Falências. e por assegurar a principal inovação da norma, que seria o afastamento de qualquer tipo de responsabilização de terceiros.

(...) Para o caso Varig/Gol, o entendimento do mercado é o de que o julgamento do Supremo não solucionará a avalanche de processos judiciais movidos por ex-funcionários da Varig contra a Gol. Nesse caso, o que muitos advogados entendem é que o que vai pautar a questão será a comprovação de que a parte negociada da Varig seria uma unidade isolada.

Como fazer 40% num Maçante Título de Governo

Veja um artigo interessante (grifo no original):

Desde 1917, o governo dos EUA tem um “triplo A” de rating de crédito. Até a última semana, seus títulos eram considerados “livre de risco”.

Mas o governo dos EUA tem programas com elevados gastos que pode resultar na perda do seu rating, conforme o legendário investidor Bill Gross.

Bill conhece como ninguém no mundo o crédito do governo. Ele é um dos maiores investidores do mundo, controlando três quartos de um trilhão de dólares, muitos deles investidos em dívidas de governo. Em resumo, ele sabe o que está falando.

E a matemática é simples. O enorme déficit do governo nos próximos anos irá resultado numa dívida do governo em 100% do PIB. Como a dívida grande, você não pode chamar livre de risco.

Se você nunca investiu seu dinheiro for a dos EUA antes, agora pode ser o momento…

Pense sobre isto, por favor...

Qual país você poderia colocar seu dinheiro, nos Estados Unidos que paga 0% de juros ou no país X que paga 10%?

Não responda já…

Olhe a tabela abaixo e qual o país parece mais seguro para você conseguir uma taxa de juros decente para seu dinheiro nos próximos dois anos:



O status do País X parece bom, não é? Ou dizendo de outra forma, a finança dos EUA parece ruim, não parece? E com esses números podemos realmente escolher o País X... Sua dívida está prevista para cair a 20% do PIB, enquanto a dívida dos EUA deve aumentar para 100% do PIB.
Por alguma razão, nós americanos tem deixado todo nosso dinheiro nos Estados Unidos.
Eu sugiro que você coloque pelo menos algum dinheiro no país X pelo próximos anos.

Quem é o país X? É a Suíça? Não, taxa de juros não são elevadas ali. Mas espere. Vou deixar que você saiba quem é após eu contar uma história...

País X é uma oportunidade incrível agora...

Na grande crise dos EUA no final de 2008, as taxas de juros do país X subiram. Isso porque grandes investidores dos EUA tiveram que vender os investimentos no País X para saldar suas dívidas com os seus credores.

Isso aumentou a subida da taxa de juros no país X. Isto também fez com que o valor da moeda reduzisse. (...)

Moeda do País versus o Dólar


(...) Então você pode fazer retorno de dois dígitos de três formas diferentes: juros, ganhos de capital e moeda.

Adiciona juros de 12%, mais ganhos de dois dígitos nos títulos e a moeda … e você está olhando para um potencial de ganho de 40% ao ano. Num maçante título do governo.

País X, você irá surpreender em saber, é o Brasil. Eu sei, eu sei da velha piada sobre o Brasil entre os investidores: “Brasil é o próximo grande país... e sempre será.” Brasil é incrivelmente rico – terras cultiváveis, agua potável, ferro e petróleo. (...)

Brasil parece uma aposta mais segura que os EUA nos próximos anos. Como um americano, eu infelizmente tenho que dizer isso. Mas é verdade.

How to Make 40% a Year in Boring Government Bonds - Steve Sjuggerud é um articulista do DailyWealth

Espírito Animal

Uma crítica ao livro de Akerlof e Shiller:

(...) Já para Akerlof e Shiller, os espíritos animais são cinco: confiança e seus multiplicadores; senso de justiça; corrupção e má-fé; ilusão monetária; histórias. A leitura do livro, no entanto, deixa uma sensação de falta, como se os autores tivessem apenas tangenciado a essência do nosso funcionamento mental, sem se aprofundar em sua dinâmica. Não podemos condená-los, pois não são especialistas nisso. São economistas e já cumprem missão fundamental alertando para setores pouco conhecidos dos agentes econômicos, como sua mente e, em particular, as muitas mentes em ação coletiva. Este já é um grande mérito do livro: abordar fenômenos macroeconômicos do ponto de vista psicológico.


Os investimentos e o critério único em nossas decisões
27 Maio 2009 - Vera Rita de Mello Ferreira - Valor Econômico

Acho que o livro é mais do que isto.

Iasb e o Valor Justo

Iasb publica uma minuta sobre mensuração do valor justo. A proposta incorpora as mudanças recentes do Fasb assim como do relatório de outubro de 2008 do Iasb sobre valor justo em mercados sem liquidez. A proposta é coerente com a estratégia de unificar, a longo prazo, as normas internacionais (IFRS) e os princípios dos EUA. Além disto, atende as solicitações dos líderes do G20 – em especial da Europa – no alinhamento da mensuração do valor justo entre as duas normas.

Para isto, o ponto de partida, conforme o próprio comunicado do Iasb reconhece, foi o SFAS 157 alterado. Os comentários da minuta encerram em 28 de setembro e pode ser encontrado no sítio do Iasb.

XBRL

Vantagens da adoção da XBRL (eXtensible Business Reporting Language):

a) aumento na velocidade de apresentação da informação para os stakeholders (tempestividade)

b) aumento da acurácia da informação financeira

c) aumenta na usabilidade da evidenciação financeira

d) redução dos custos (eventualmente)

Fonte: Lela Davidson. SEC Brings XBRL Class to a Laptop Near You

Racionalidade


(...) Novos estudos mostram que somente 30% das decisões que são feitas pelas pessoas são realmente “racionais”, com 70% classificada como irracional ou emocional.


If behavioural economics worked for Obama, it could work for you too - Priyanka Sangani - 23 Maio 2009 - The Economic Times


Não conheço estes estudos. A conferir.

01 junho 2009

Rir é o melhor remédio

“Se a renda per capita fosse à única medida da felicidade humana, o nascimento de um animal em uma fazenda seria uma benção e o de uma criança, uma maldição”

Peter Bauer, citado por Steven Landsburg. Mais sexo é sexo mais seguro, p. 25

Teste #83

Três empresas, Épsilon, Kapa e Ômicron, produzem dois produtos diferentes cada uma que são: Psi, Chi, Upsilon, Tau, Sigma e Rho. Com as seis pistas a seguir, descubra quais produtos cada empresa produz:

a) Psi possui um ponto de equilíbrio maior que o produto Tau, do concorrente
b) A empresa Épsilon contratou uma empresa de consultoria para testar os dois produtos com maiores margens brutas de seus concorrentes Upsilon e Sigma
c) Apesar de serem produzidos por empresas diferentes, Psi e Upsilon ficam na mesma prateleira do supermercado
d) A empresa Kapa comprou de um espião os planos de fabricação de Sigma para aplicar o custo meta
e) Apesar de serem produzidos por empresas distintas, Tau e Chi são complementares para o consumidor
f) Ômicron é mais lucrativa que Kapa, mas menos que produtor de Tau

Resposta do Anterior: Figura 1 = Roma; evento c; Figura 2 = Jericó; evento a; Figura 3 = Florença; d; Figura 4 = Inglaterra; b. Adaptado

Links

Morreu Granger, ganhador do Nobel por suas contribuições em econometria

Morreu Corin Tellado, escritora de mais de 4 mil livros

Mapa interativo da influencia da GM

Kim Jong-il e o Photoshop

Corinthians 2

Sobre o Corinthians, o relatório pode encontrado aqui. Analisando a contabilidade percebe-se um aumento substancial no ativo decorrente especialmente de Contas a Receber de Longo Prazo (R$67 milhões ou 22% do ativo). Não existe notas explicativas, para detalhar este fato, e o parecer da BDO não ajuda pois está com ressalvas. Da parte do passivo, ocorreu um aumento significativo nos empréstimos e financiamentos, de curto e longo prazo, de R$39 milhões, de tributos parcelados (R$31 milhões).

O resultado foi positivo (em R$12 milhões) graças a redução de provisão para contingências (foi de R$40 milhões em 2007) .

O mais revelador está na DFC. O clube teve um caixa das operações negativo em R$16 milhões em 2008 (versus R$16 milhões positivo em 2007). As razões: aumento de contas a receber, as provisões para contingências e os acordos e decisões judiciais. Como o clube realizou investimentos de R$25 milhões, o buraco foi coberto pelos financiamentos: R$39 milhões de recursos novos.

O clube é sustentável a longo prazo?

Lei de Zipf

... A matemática das cidades foi lançada em 1949 quando George Zipf, um linguista trabalhando em Harvard notou que se você tabular as maiores cidades de um dado paíse e ranquear conforme sua população, a cidade maior é sempre cerca de duas vezes que a segunda maior e três vezes que a terceira maior e assim por diante. Em outras palavras, a população de uma cidade é, para uma boa aproximação, inversamente proporcional a sua classificação. Por que isto ocorre ninguém sabe.

(...) Em 2006 o cientistas começaram a descobrir novas leis matemáticas sobre cidades ... Por exemplo, cidades mais populosas tem mais postos de gasolina que cidades menores, mas não numa proporção direta do seu tamanho. O número de postos cresce somente numa potência de 0,77 da população. A coisa crucial é que 0,77 é menor que um. Isto implica que maiores cidades possuem economia de escala. (...)
O mesmo padrão surge em outras medidas de infraestrutura. Se você mede as ruas ou os cabos elétricos, você irá encontrar que todos ... mostram um expoente entre 0,7 e 0,9. Agora a parte assustadora. A mesma lei é verdadeira para coisas vivas. Isto é, se você mentalmente substitui cidades por organismo e tamanho de cidade por peso do corpo, o padrão matemática é o mesmo.

Por exemplo, suponha que você meça quantas calorias queima um rato por dia, comparado com um elefante. ... A lei relevante do metabolismo, chamada lei de Kleiber, afirma que as necessidades metabólicas de um mamífero crescer na proporção do seu peso corporal elevado à potência 0,74.
(...) Coincidência? Talvez, mas provavelmente não.


Math and the City, by Steven Strogatz via
Economists View


Para ver sobre a Lei, clique aqui. Para uma aplicação em auditoria no Brasil, aqui

Corrupção

EUA intensificam vigilância de corrupção em empresas
Dionne Searcey, The Wall Street Journal
27 Maio 2009 - The Wall Street Journal Americas - 1

O Departamento de Justiça americano tem ampliado a fiscalização de supostas propinas pagas no exterior por multinacionais com sede ou ações negociadas nos Estados Unidos, forçando-as a adotar medidas financeiramente onerosas para se defender das investigações.

A fiscalização é amparada pela Lei para Práticas Corruptas no Exterior, ou FCPA na sigla em inglês — um resquício dormente há décadas do escândalo Watergate, que derrubou o presidente Richard Nixon —, e agora se expande para os cinco continentes e investiga segmentos empresariais inteiros, como energia e aparelhos médicos. Entre as empresas que estão sob investigação do Departamento de Justiça estão a Sun Microsystems Inc. e a anglo-holandesa Royal Dutch Shell PLC, segundo informes das próprias multinacionais.

Pelo menos 120 empresas estão sob investigação, ante 100 no fim do ano passado, segundo Mark Mendelsohn, vice-diretor da divisão do Departamento de Justiça que está conduzindo o processo.

O esforço recente começou após uma série de escândalos no início da década, como o colapso da Enron, que motivaram um novo movimento de reforma nas práticas empresariais.

Hoje em dia, empresas do país inteiro estão analisando se correm risco de investigação. Em alguns casos, as próprias empresas confessaram ao Departamento de Justiça na esperança de conseguir tratamento leniente.

"Se entramos em contato antes de eles abrirem o jogo conosco, não é uma situação em que eles querem estar", disse Mendelsohn.

A lei proíbe que empresas americanas paguem propina a autoridades estrangeiras e empregados de estatais, ou se ofereçam para pagá-la, para fechar um contrato ou adquirir alguma vantagem nos negócios. Além de suborno em dinheiro, a lei cobre presentes ou outros tipos de ofertas e sua redação é tão ampla que vem motivando a contratação de verdadeiros exércitos de consultores para interpretar áreas ou acontecimentos ambíguos. Alguns desses consultores são ex-funcionários do Departamento de Justiça que participaram de processos de suborno.

"Quando existe uma lei que pode resultar em processos criminais e prisão, e que você pode infringir sem saber, é aterrorizante", disse Alexandra Wrage, presidente da Trace International Inc., uma ONG sediada em Washington e especializada em auditorias de corrupção.

As áreas ambíguas da lei às vezes se aplicam a atividades — como distribuir presentes durante as festas de fim de ano — consideradas banais em alguns países. Isso é motivo de preocupação para as empresas, temerosas de que outras práticas, como pagar refeições ou viagens para autoridades estrangeiras, possam estar incluídas na lei.

O Departamento de Justiça fechou um acordo em 2007 com a fabricante de equipamentos de comunicação Lucent Technologies Inc., que não contabilizou corretamente milhões de dólares gastos com viagens à Disney World, Las Vegas e outros destinos turísticos para cerca de 1.000 autoridades chinesas empregadas por telefônicas estatais. A empresa, que descreveu as viagens como visitas a suas fábricas, reconheceu o erro e pagou multa de US$ 2,5 milhões.

A FCPA virou lei em 1977 em meio às investigações sobre supostas contribuições para a campanha de reeleição do presidente Richard Nixon. Na época, uma investigação da comissão de valores mobiliários dos EUA, a SEC, revelou que algumas empresas mantinham um caixa dois no exterior para influenciar decisões de negócios. Depois da aprovação da Lei Sarbanes-Oxley, em 2002, criada para aumentar a responsabilidade dos executivos pelas atividades das empresas, o Departamento de Justiça tirou a FCPA da gaveta como parte de uma investigação mais ampla sobre irregularidades nas empresas.

A FCPA começou a recuperar a importância em 2004, quando uma investigação sobre pagamento de propinas no exterior na empresa de serviços de defesa Titan Corp. derrubou a ação da empresa e acabou afundando uma fusão avaliada em US$ 1,6 bilhão com a gigante aeroespacial Lockheed Martin Corp.

A Titan admitiu culpa e acabou pagando US$ 28,5 milhões para encerrar as acusações da SEC de que ela supostamente tinha subornado autoridades do Benin para fechar um contrato para um projeto de telecomunicações.

Mendelsohn conta com uma equipe de oito investigadores do FBI, a polícia federal americana, trabalhando em casos de suborno no exterior, ante cinco no ano passado.
Durante anos, oferecer jantares luxuosos, caros presentes de fim de ano e mesmo dinheiro vivo a autoridades e executivos era esperado e considerado normal em muitos países. Nigéria, Coréia do Sul e China são alguns deles, segundo especialistas jurídicos e empresas.

Várias multinacionais importantes já foram investigadas. O conglomerado industrial Siemens AG fechou acordo em dezembro para pagar US$ 800 milhões aos EUA para encerrar uma investigação sobre supostas propinas a autoridades em todo mundo para ganhar contratos de infra-estrutura.

Oficiais do Departamento de Justiça alegam que a corrupção na Siemens chegou ao alto escalão do conglomerado. No indiciamento apresentado a um tribunal federal no Distrito de Columbia, a Siemens é acusada de gastar mais de US$ 1 bilhão subornando autoridades governamentais nos últimos anos. Como parte do acordo, a Siemens, sediada em Munique, não confessou ter subornado autoridades, mas informou que contava com mecanismos de controle inadequados e contas impróprias. A lei americana pode ser aplicada a uma empresa alemã porque a Siemens é listada nos EUA. A multa paga pela Siemens foi a maior até agora por acusações de suborno.

Um porta-voz da Siemens disse que o custo da empresa para sanar os problemas internos relacionados à corrupção foram tão altos quanto a despesa total de 1,22 bilhão de euros (US$ 1,7 bilhão) com multas, incluindo pagamentos ao governo alemão. O conglomerado continua gastando com sistemas de auditoria e para manter um fiscal interno determinado pelo governo.

Corinthians

Corinthians aposta em sustentabilidade
26 Maio 2009
Gazeta Mercantil

O Sport Club Corinthians Paulista apresentou ontem o relatório de sustentabilidade referente aos resultados dos balanços de 31 de dezembro de 2007 e do ano de 2008. É a primeira vez, no mundo, que um clube mantenedor de um time profissional de futebol apresenta este documento. O objetivo, segundo o diretor de finanças do clube, Raul Corrêa da Silva, "é mostrar para os investidores, patrocinadores e parceiros que o clube é um bom negócio". O relatório segue as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), que é muito utilizado por empresas do Japão, Austrália, Estados Unidos e alguns países europeus.

Raul disse que o time está aberto a propostas de incentivos por parte de fundos de investimentos seed, venture capital e private equity. "O nosso objetivo principal é mostrar que o Corinthians é um clube com uma gestão profissional e transparente", pontua.

Mesmo sendo uma iniciativa nova no mercado esportivo, Silva disse que, até ontem, que os gestores do clube não falaram em criar um fundo de investimento para o time. Ele diz que não houve contato com empresas gestoras de fundos seed, venture capital e private equity, "mas isso pode acontecer a longo prazo".

O relatório sustentável tem como objetivo dar transparência aos projetos e estratégia financeiras, sociais e ambientais das empresas. Conforme a representante da GRI no Brasil, Gláucia Terreo, vários países já obrigam algumas empresas a emitir esse tipo de documento. "A Suécia obriga todas as estatais a produzirem o relatório. A Noruega, a Dinamarca e a China fazem o mesmo. Hoje, o Corinthians é exemplo no esporte", completa.

Foram produzidos 25 mil exemplares, em português, inglês e espanhol. "O documento foi produzido com material certificado [selo Forest Stewardship Council - FSC], mas o símbolo da árvore, que era verde, foi colocado em cinza. Não podemos colocar verde em um documento do Corinthians", brinca Silva.

O relatório foi baseado nos resultados entre 2007 e 2008, época em que o clube contratou uma equipe de gerentes para profissionalizar a gestão. Segundo o presidente do Corinthians, Andrés Navarro Sanchez, o primeiro passo foi a mudança da direção. "Primeiro, todos os diretores deveriam ser corintianos. Segundo, foi determinado que não haveria remuneração para nenhum gestor e os presidentes, eleitos por votação direta, atuam na função por dois anos e sem direito a reeleição. A partir daí, contratamos profissionais com grande experiência no mercado para a nova administração", explica.

Conforme o relatório, os resultados foram significativos após a mudança na gestão. A dívida total acumulada do clube, em 31 de dezembro de 2007, era de R$ 101, 55 milhões. Conforme Silva, mesmo com o investimento de mais de R$ 20 milhões na compra de jogadores, o clube reduziu a dívida acumulada em 4,25%, cerca de R$ 4,32 milhões, chegando a R$ 97,23 mi.

Silva demonstrou durante a apresentação do relatório que a rentabilidade do clube teve um reflexo da nova gestão, cujos desempenhos dos profissionais são acompanhados e todos trabalham com metas. "Enquanto em 2007 existia um déficit de R$ 23,264 milhões, no final de 2008 nós tivemos um superávit de R$ 10,871 milhões", diz.
(Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 6)(Pedro souza)

Remuneração com base no desempenho

As "stock options" e o interesse dos acionistas
Rodrigo Magela - Oceana Investimentos
26 Maio 2009
Valor Econômico

As recentes mudanças contábeis por conta da introdução da Lei 11.638 que, entre outras coisas, obrigou as empresas a contabilizar nas demonstrações de resultados o custo estimado das opções de ações concedidas aos administradores (as chamadas "stock options"), trazem à tona uma discussão bastante importante do ponto de vista de governança nas empresas, principalmente aquelas com controle pulverizado. Até que ponto essas "stock options" servem para alinhar os interesses entre acionistas e administradores? Seriam essas opções de fato um presente para administradores sem a devida contrapartida em retorno para os acionistas?

Apesar de acreditar que as "stock options" são um instrumento eficaz para disseminar a participação dos administradores no capital da empresa, entendo que tem havido certo equívoco em relação à sua utilização como forma de retenção e remuneração. Afinal, elas deveriam ser uma forma de incentivar resultados acima da média e não uma maneira de pagar os administradores por performances medianas. Mais do que isso, há casos em que o benefício parece fora de ordem em relação aos ganhos trazidos para os acionistas.

Dependendo do modelo do plano de opções adotado, situações bastante incômodas aos acionistas podem surgir. Imaginemos administradores que escolhem pagar somente o dividendo mínimo de 25% do lucro aos acionistas, reinvestindo o restante em projetos de baixo retorno. Nesse cenário, o pífio crescimento de lucros apresentado pela empresa poderia vir à custa de uma queda vertiginosa na rentabilidade sobre seu patrimônio, causando uma redução de retorno significativa ao acionista.

Vale notar que mesmo uma aplicação em uma caderneta, com o reinvestimento dos juros recebidos, quase dobra de valor em 10 anos. Da mesma forma, uma empresa que reinveste 75% do seu lucro com retorno equivalente ao da poupança dobra seu lucro após 13 anos. Qual o mérito da administração nesse caso?

Na verdade, não há mérito algum e ainda assim o retorno total entre dividendo mais valorização das ações para o acionista poderia acabar sendo relativamente menor do que o ganho do administrador resultante do exercício das opções. Isso significa para o investidor uma destruição de valor em duas frentes: administradores ineficientes e, simultaneamente, muito bem pagos, tomando decisões às vezes contrarias aos interesses de seus acionistas.

Outro aspecto igualmente importante é a diluição indevida de parte relevante do capital dos acionistas sem a criação de valor para esses. No caso de um programa típico de "stock options", no qual 5% do capital da empresa pode ser subscrita pelos administradores ao longo de um período de execício de 5 anos, uma empresa com rentabilidade acima da média, que cresça lucros digamos, 15% acima da inflação, em um negócio à prova de erros da administração, estaria "dando" 5% de seu capital aos administradores sem que estes tenham feito por merecer.

Um terceiro ponto é que, por conta das quedas significativas observadas nos preços de algumas ações no último ano, uma parte relevante destas opções está sendo concedida a preços muito baixos. Isso expõe os acionistas a conflitos potencialmente grandes entre o interesse dos minoritários de permanecer no negócio ou vendê-lo a um preço razoável versus o interesse da administração em exercer suas opções de uma vez em um evento de venda a um terceiro ou fechamento de capital da companhia. Esse é um risco especialmente grande nas corporações, aquelas em que o controle está diluído em mercado.

Obviamente, não sou contra os programas de "stock options", mas sugiro que os acionistas cobrem mais das empresas sobre seus programas de opções e aprovem somente aqueles que efetivamente zelem pelo maior alinhamento de interesses dos acionistas com os administradores. Talvez a melhor maneira de iniciar esse processo seja por meio da imposição de índices de reajustes mais ambiciosos nos preços de exercício das opções.

Por que a maioria dos fundos de ações de retorno absoluto cobra taxa de performance sobre o ganho excedente a IGP-M + 6% e os planos de opções da maioria das empresas são reajustadas somente pelo IGP-M? Se um diretor financeiro exige pelo menos o custo de capital como retorno para aprovar um investimento, por que ele receberia uma opção de ações a custo zero? Por que ele ganha uma opção de graça quando o custo oportunidade de seus acionistas ainda é o CDI? Essas são perguntas para as quais as respostas são importantes para investidores de todos os bolsos.

Psicologia do investidor

Psicologia do investidor
26 Maio 2009
Valor Econômico

Ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002, apesar de não ser economista de formação, o psicólogo israelense Daniel Kahneman chama a atenção por seu estilo extremamente atencioso para com seus interlocutores. Autor da chamada "Teoria da Perspectiva", juntamente com Amos Tversky, em 1979, o psicólogo mostrou que as decisões econômicas dos indivíduos nem sempre são racionais. A pesquisa econômica até então assumia que pessoas são motivadas por incentivos materiais e tomam decisões de modo a sempre maximizar os ganhos. Kahneman e Tversky mostraram que isso não é bem assim.

Aos 75 anos, o professor de psicologia na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, é uma das estrelas do 5º Congresso Anbid de Fundos de Investimento, que começa hoje. A participação de Kahneman será amanhã. Por telefone, ele falou ao Valor e disse que o atual otimismo dos mercados pode ser considerado irreal. Para Kahneman, as mudanças regulatórias adotadas pelo governo americano ajudam, mas não são capazes de evitar novos problemas.

Valor: Os investidores tendem a colocar muito peso na performance passada das aplicações. Como a atual turbulência afeta as expectativas das pessoas no que se refere a seus investimentos?
Daniel Kahneman: Não tenho certeza se haverá grandes impactos no comportamento do investidor. Os mercados estão atualmente otimistas, por diferentes razões, porque a situação não está tão ruim quanto se esperava. E quando as coisas não vão tão mal quanto se esperava, as ações tendem a subir. Você perguntou se haverá grandes mudanças na forma como as pessoas pensam o mercado acionário e eu acho que é ainda muito cedo para dizer.

Valor: Temos visto os mercados acionários se recuperando rapidamente. Isso pode ser uma bolha?
Kahneman: Você sabe que sou um psicólogo, e acho que, hoje, nem os economistas sabem responder essa pergunta. Houve uma queda grande dos mercados e agora há uma recuperação muito rápida, mas acho que nenhum economista seria capaz de responder a essa pergunta. Alguns economistas conhecidos estão muito pessimistas, mas eles já estavam pessimistas no passado...

Valor: O senhor trabalha na fronteira entre a psicologia e a economia. Quais dificuldades e desafios você enfrenta nesse trabalho?
Kahneman: As finanças comportamentais são uma abordagem da economia muito influenciada pela psicologia, mas não acredito que os mercados são perfeitos ou profundamente racionais. Algumas teorias sobre a percepção do mercado estão completamente erradas. Na minha opinião, um dos mais importantes momentos da crise é o que chamo de "a confissão de Alan Greenspan", quando o ex-presidente do banco central americano disse no Congresso que sua teoria, de que os bancos agem como agentes racionais, estava errada. O fato de essa teoria ter se provado errada levará a maiores precauções na economia por um bom tempo e, no momento, está aumentando a credibilidade das finanças comportamentais.

Valor: Por que esse momento foi o mais importantes da crise?
Kahneman: Não tenho certeza se foi um dos mais importantes momentos para a economia, mas foi importante para seu desenvolvimento intelectual. Alan Greenspan representa aqueles que não acreditam em regulação, que acreditam no mercado, na racionalidade das instituições. A atitude dele, portanto, foi particularmente surpreendente. Ele era claramente a figura mais importante na aplicação dessas teorias.

Valor: Na Teoria da Perspectiva, os investidores se mostram frequentemente irracionais em suas decisões. Na outra ponta, há economistas que acreditam que o mercado é eficiente. Como o senhor vê esses dois pontos de vista nesta crise?
Kahneman: Pelo menos nos Estados Unidos, está claro que houve irracionalidade das pessoas que especularam com imóveis. No que diz respeito à especulação feita pelo bancos, é difícil chamar de irracionalidade, porque os banqueiros já são ricos. A teoria de que bancos ou instituições financeiras podem ser agentes racionais caiu por terra. Não há conexão com o que aconteceu e a Teoria da Perspectiva, mas há a uma ligação direta com as ideias de que o mercado corrige os erros. Os bancos, ou seja, o mercado, amplificaram os erros.

Valor: A crise veio após alguns anos de exuberância. Isso levou os investidores a tomarem mais risco do que estavam preparados?
Kahneman: Não há dúvida disso. O maior desafio ao se tomar risco acontece não porque as pessoas tomam esse risco, mas porque elas não conhecem o risco que estão correndo. Até certo ponto, é o que pode ser ver nesse otimismo irreal. Há uma importante contribuição do livro "Cisne Negro", escrito por Nassim Taleb, antes da crise, mostrando que há sempre mais risco do que as pessoas conhecem. Ele diz que todo evento é maior do que as pessoas pensam, esperam.

Valor: Certa vez o senhor disse que as pessoas seriam melhores investidores se tomassem menos decisões. A atual turbulência mostrou que os indivíduos tendem a comprar na alta e entrar em pânico quando os mercados caem?
Kahneman: É absolutamente o caso. Em geral, quando se observa os fundos de investimento, por exemplo, e as pessoas que investem neles, vê-se que as pessoas compraram no pico. Há um grande número de indivíduos que negociam com o comportamento errado. Está muito claro que, na média, eles fazem isso de forma muito simplista. E quanto menos as pessoas fizerem isso, melhor.

Valor: Alguns dizem que a origem desta crise está no fato de os americanos gastarem mais do que podem e pouparem menos do que deveriam. O senhor concorda?
Kahneman: Isso é um fato. O grau de poupança nos Estados Unidos está historicamente baixa, até negativo nos últimos anos. Estava claro que essa era uma situação insustentável. Talvez não tenha precipitado a crise, mas com certeza foi um dos seus motivos, e não há sinais que isso deve voltar ao normal tão cedo.

Valor: Os reguladores estão ajudando a tornar o sistema financeiro mais frágil ao encorajarem a consolidação dos bancos? Isso pode ser perigoso para os investidores?
Kahneman: Aqui também vou voltar ao meu amigo Taleb. Para ele, a globalização tende a trazer um crescimento muito rápido para as instituições, mas também deixar sua situação mais frágil. Ele diz que nós temos um sistema que é naturalmente robusto, mas a consolidação das instituições contribui para sua fragilidade. Acho que é ingênuo não acreditar nisso.

Valor: As medidas dos governos serão capazes de prever futuros problemas de crédito?
Kahneman: Haverá um ambiente regulatório mais restrito nos EUA por causa da crise. Taleb diz que devem ser tomada as devidas precauções para evitar uma crise como esta. Mesmo assim, não será possível evitar os 'cisnes negros', os eventos imprevistos, mas provavelmente se reduzirá a incidência e amplitude. As medidas podem tornar o sistema mais eficiente. O meu palpite é que haverá uma forte onda regulatória nos EUA, mas se isso vai funcionar ou não está totalmente fora da minha expertise.

Valor: Depois dessa crise, as pessoas mudarão a forma como encaram suas finanças?
Kahneman: Aparentemente, houve um efeito de longo prazo depois da Grande Depressão. As pessoas que viveram nessa época são muito mais inseguras quanto ao futuro. O que estamos vendo agora não é tão severo quanto a Grande Depressão. Acho que as pessoas vão pelo menos pensar um pouco mais, pelo menos por um tempo. Elas terão menos confiança no futuro e provavelmente irão poupar um pouco mais, o que é bom. Claro que, no curto prazo, há um paradoxo, pois poupar agora não é bom para a economia.

Valor: O plano de resgate da economia americana mudará a visão sobre a teorias econômicas?
Kahneman: Haverá algumas mudanças nas teorias, principalmente nas que dizem respeito à estabilidade dos mercados, e isso vai influenciar os governos. Nos EUA, hoje, há uma situação interessante, em que as finanças comportamentais têm uma grande influência na administração de Barack Obama. Particularmente, uma das figuras principais nesse campo (Cass Sunstein) será responsável pelas regulações na Casa Branca. Ele não aceita a tese de que as pessoas são racionais ou o mercado é perfeito. A teoria que influencia o governo irá mudar. Ou melhor, já está mudando.

Justiça e Sadia

Justiça investigará informação privilegiada em oferta da Sadia
26 Maio 2009
Valor Econômico

A Justiça Federal recebeu a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra dois ex-executivos da Sadia e um do banco ABN Amro Real que são acusados de lucrar com o uso de informações privilegiadas. O caso envolve a oferta da Sadia pelo controle acionário da concorrente Perdigão, feita em julho de 2006.

A decisão foi tomada pelo juiz federal substituto Márcio Rached Millani, da 6ª Vara Federal Especializada em Crimes Financeiros e Lavagem de Dinheiro. Os três executivos foram citados no processo e terão dez dias para apresentar defesa.

Essa é a primeira denúncia oferecida no país visando à condenação de executivos por esse tipo de fraude no mercado de capitais. O crime de uso de informação privilegiada foi introduzido na legislação brasileira em 2001.

Para o juiz, a denúncia, oferecida pelo procurador da República Rodrigo de Grandis, "individualizou as condutas dos réus e indicou como a informação relevante teria sido obtida, a sua utilização, o desconhecimento do mercado e a aquisição dos papéis, ou seja, satisfez todos os requisitos legais".

O ex-diretor de finanças e relações com investidores da Sadia Luiz Gonzaga Murat Júnior, o ex-membro do conselho de administração da empresa Romano Ancelmo Fontana Filho e o ex-superintendente executivo de empréstimos estruturados do ABN Amro Real Alexandre Ponzio de Azevedo já foram punidos administrativamente pela Comissão de Valores de Mobiliários (CVM) e pela Securities and Exchange Commission (SEC, órgão regulador do mercado de capitais americano).

Caso condenados, os executivos estarão sujeitos a penas de um ano a cinco anos de reclusão e multa de até três vezes o valor da vantagem ilícita obtida em decorrência do crime.

Murat, Azevedo e Fontana Filho participaram das discussões e tratativas visando à elaboração da oferta da Sadia pela Perdigão e obtiveram informações privilegiadas, conforme o MPF.

No dia 7 de abril de 2006, quando a proposta foi aprovada pelo conselho da Sadia, Murat fez a primeira compra de ações da Perdigão na Bolsa de Nova York, comprando 15,3 mil recibos de ações (ADRs) de empresa brasileira, a US$ 23,07 cada. Em junho, conhecendo a proximidade do anúncio do negócio, o executivo comprou mais 30,6 mil ADRs a US$ 19,17 o papel.

De acordo com comunicado do Ministério Público, cada compra ocorreu mediante informações privilegiadas sobre os andamentos da oferta; portanto, Murat incorreu duas vezes no crime que no jargão do mercado financeiro é conhecido como "insider trading".

Em 21 de julho, com a recusa da Perdigão à proposta da Sadia e tendo ciência que os papéis não mais se valorizariam, Murat vendeu 15,3 mil ações, a US$ 23 cada uma, lucrando US$ 58,5 mil com a operação.

Ainda de acordo com o MPF, Fontana Filho incorreu quatro vezes no crime de "insider trading", pois realizou quatro operações de compra e venda de ações com o uso de informações privilegiadas às quais ele tinha acesso como executivo.

O executivo comprou três lotes de papéis da Perdigão, totalizando 18 mil ADRs, entre 5 e 12 de julho, na Bolsa de Nova York. Ele vendeu todas as ações em 21 de julho de 2006, mesmo dia da recusa da Perdigão, lucrando mais de US$ 139 mil.

Já Azevedo, assim que soube que a matriz do ABN Amro, na Holanda, avalizaria a oferta da Sadia pela Perdigão, adquiriu 14 mil ADRs da Perdigão em 20 de junho de 2006. Em 17 de julho daquele ano, dia da publicação do edital da oferta, o executivo do banco vendeu 10,5 mil ações, lucrando US$ 51,6 mil.

Nos Estados Unidos, Murat e Azevedo fizeram um acordo com a SEC para não serem processados criminalmente e receberam sanção administrativa em fevereiro de 2007.
Os dois executivos estão proibidos de atuar no mercado financeiro por três anos e receberam multas de US$ 364,4 mil e US$ 135,4 mil, respectivamente.



É de se lamentar que o processo de 2006 só agora é investigado. Situações como esta deveriam ser consideradas pela justiça de imediato.

Concordata na GM

GM deve anunciar concordata hoje
Da Agência Folhapress
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro - 1/6/2009

Um grupo de credores com pouco mais de 50% da dívida de US$ 27 bilhões da General Motors (GM), a maior montadora dos EUA, aceitou trocar o dinheiro devido pela montadora por uma participação de até 25% no novo negócio que surgirá após a re-estruturação da companhia. Hoje, o presidente da montadora, Fritz Henderson, dará uma entrevista em Nova York, onde deverá anunciar a concordata da GM. O presidente Barack Obama também deverá fazer um pronunciamento sobre a GM. De acordo com as fontes, Obama irá explicar as razões para a concordata e os motivos que o levam a crer que este é o melhor caminho.

Pela proposta, a montadora sugeriu dar 10% das ações da "nova GM" e garantia para aumentar a participação aos credores, entre os quais grupos como a Fidelity e a Franklin Templeton e 100 mil investidores individuais.

O conselho de diretores da GM (General Motors) se reuniu no sábado para tomar uma decisão final sobre a restruturação da companhia, em meio ao vencimento do prazo para a montadora apresentar ao governo seus planos.

Desde dezembro, a General Motors está funcionando graças aos US$ 19,4 bilhões que o governo emprestou à empresa. Além disso, o fabricante diz que precisará de mais US$ 7,6 bilhões de imediato para manter a produção. A empresa já anunciou o fechamento de fábricas, demissão de funcionários e venda de marcas. Caberá ao Departamento do Tesouro, que patrocinou o acordo e é o principal detentor da futura companhia, determinar se o número de credores que concordou com a troca foi suficiente.

Na sexta, a United Auto Workers aceitou a proposta de redução de custos. Além disso, o governo da Alemanha fechou acordo e a fabricante canadense de autopeças Magna vai assumir o controle da Opel, subsidiária alemã da GM.

Spread no Brasil

Spread bancário: uma contribuição para o debate
26 Maio 2009
Valor Econômico

O spread bruto é elevado no Brasil, mas disso não decorre necessariamente que o spread e o lucro líquido também o sejam

"Para problemas complexos, sempre existem soluções simples... e erradas". A frase parece ajustar-se como uma luva no debate sobre o spread bancário no Brasil, que vem aparecendo com frequência no noticiário econômico, mas quase sempre de forma superficial e limitada. Este artigo é uma tentativa de contribuir para esse debate, esclarecendo alguns aspectos, de natureza técnica, que podem ajudar a termos um melhor entendimento do assunto. Vamos a eles:

1) Dados parciais: os dados do Banco Central (BC) consideram apenas parte das operações bancárias, as do chamado mercado livre de crédito, que em geral são de prazo menor e que correspondem a cerca de 45% das operações do sistema. As restantes são, em geral, de spread mais baixo, como financiamento imobiliário, leasing e repasses do BNDES. Nossos cálculos indicam que a inclusão dessas operações reduziria em cerca de 7,4 pontos percentuais (pp) o spread bancário bruto referente a março.

2) Spread bruto: embora spread bruto e lucros do setor financeiro sejam com frequência tratados como sinônimos, são conceitos bastante distintos. O spread calculado pelo BC equivale à diferença entre as taxas de captação, pagas pelos bancos, e as taxas cobradas nas operações de empréstimo. Spreads elevados podem ou não implicar em lucros elevados, a depender de outros fatores, entre eles a taxa de inadimplência e a carga tributária. Para se chegar ao spread líquido, que seria uma melhor aproximação do lucro líquido, é necessário descontar os demais custos que incidem sobre as operações de crédito.

3.1) Inadimplência - cálculos do BC indicam que só a inadimplência responde por algo como 37% do spread bancário, certamente um dos mais elevados níveis do mundo. O custo é alto porque a qualidade da informação no Brasil é deficiente, elevando muito o risco para o emprestador. Assim, bons pagadores pagam pelos maus e é por isso que o setor bancário defende o cadastro positivo e todas as iniciativas que possam melhorar a qualidade da informação disponível aos agentes econômicos. Os custos associados à inadimplência também são elevadíssimos se incluirmos gastos com a cobrança judicial, a demora na recuperação de garantias etc. Destaque-se a evidência de que nas linhas com melhores garantias, como o crédito consignado e o financiamento de veículos, os spreads são bem menores.

3.2) Carga tributária: o Brasil é provavelmente o único país que tributa a intermediação financeira, onerando poupadores e tomadores de crédito. Sobre as operações de crédito incide uma alíquota de 3,65% referente a PIS/ Cofins e outra, de IOF, que pode atingir até 1,88% ao ano. Na tributação direta, além do IR os bancos recolhem a alíquota diferenciada de CSLL de 15%. Segundo o BC, os tributos diretos e indiretos respondem por cerca de 18,5% do spread bruto nas operações de crédito livre.

3.3) Compulsórios: é provável que o Brasil tenha os maiores níveis de depósitos compulsórios do mundo. Sobre depósitos à vista o percentual é de 47% comparativamente a, por exemplo, 10% nos EUA e 3% na zona do euro. Também há compulsórios sobre depósitos a prazo, o que é uma clara distorção em relação aos demais países. Esse nível de compulsório até ajudou o Banco Central a injetar liquidez rapidamente no sistema após o agravamento da atual crise externa, mas é inegável que se trata de mais um custo que infla o spread, onera os tomadores de crédito e eleva as despesas de captação dos bancos.

3.4) Custos administrativos/operacionais - no cálculo do BC, esses custos respondem por 13,5% do spread, mas avaliamos que este percentual pode estar subestimado. A metodologia do BC só considera os custos "alocáveis" a um número limitado de operações, os 45% citados no item 1. Ficam de fora outros custos, inclusive o das operações obrigatórias, como o crédito rural. Se os incluirmos de alguma forma, certamente teremos uma elevação deste percentual.

É importante mencionar que os percentuais aqui citados correspondem a um estudo do BC para o ano de 2007, feito para as operações do mercado livre de crédito. Mas, feita esta ressalva, achamos que essa metodologia pode nos ajudar a pelo menos chegar a um cálculo mais correto sobre o spread líquido do setor bancário no Brasil.

E qual seria este número? De acordo com os dados do BC para março de 2009, o spread bruto para as operações de crédito livre foi de 28,5%. Incluídas outras operações de crédito direcionado e de taxas controladas, de acordo com a metodologia da Febraban, este spread cairia para 21,1%

Ainda segundo o BC, o spread ou resíduo líquido corresponde a cerca de 27% do spread bruto (27% de 21,1%), o que daria, portanto, 5,7% ao ano. É provável que este número seja ainda mais baixo, já que em nossa avaliação os custos administrativos parecem subestimados na metodologia utilizada pelo BC. De todo modo, é o spread líquido (5,7% ao ano) e não o spread bruto, que deveria ser utilizado na comparação com o desempenho do setor financeiro em outros países (em tempos normais) e com a rentabilidade de outros setores da economia brasileira.

O spread bruto é elevado no Brasil, mas disso não decorre necessariamente que o spread e o lucro líquido também o sejam. Uma discussão séria para reduzir o spread bruto deveria ser centrada nos fatores estruturais listados acima. Análises apressadas e pouco técnicas podem até render boas manchetes, mas não contribuirão para que se encontrem as soluções corretas para este problema.

Rubens Sardenberg é economista-chefe da Febraban. Foi diretor de Finanças do Banco Nossa Caixa (2003/2007 ) e secretário-adjunto do Tesouro Nacional (2000/2002).

A importância da GM


Hoje está previsto a falência da GM. Acima (clique na imagem para ver melhor) um mapa interativo com as fábricas - em azul - da empresa e dos fornecedores - em verde.