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12 agosto 2006

Rating e Governança


Artigo na Gazeta de 11/08:

Governança Corporativa - Rating, governança sustentabilidade

11 de Agosto de 2006 - Em 1982, a Manville Corporation, empresa americana da área de materiais de construção, pede concordata na Corte de Falências de Nova York. O que poderia parecer muito comum para um mercado desenvolvido como o americano, onde a falência é um risco associado ao capitalismo, se tornaria um caso emblemático, já que a empresa tinha um rating A, considerado "investment grade", atribuído pela agência Moody’s, que foi subitamente rebaixado para um D (Default). O desastre financeiro ocorreu em consequência da ação de responsabilidade civil por danos sócio-ambientais causados pela fabricação e venda de produtos à base de amianto.

Mais tarde, em 2001, ocorreu o famoso caso de falência da Enron. Embora tivesse uma razoável governança corporativa no papel, a ausência de verificação e classificação de tal estrutura contribuiu para a utilização da contabilidade "criativa" e procedimentos financeiros heterodoxos que acabaram quebrando a empresa e causando prejuízo a milhares de investidores, a despeito da nota de risco investment grade dada pelas principais agências.

Estes dois casos literalmente sacudiram os mercados de capitais e, mais especificamente, a atividade de classificação de riscos das chamadas agências de rating. Contratadas para emitir uma opinião independente sobre o risco de default (não pagamento) de determinadas empresas, governos ou operações de financiamento, as agências trabalham com uma metodo-logia prospectiva, procurando antecipar riscos, em um horizonte geralmente de três a cinco anos. Como é que não conseguiram prever tais riscos e incorporá-los às notas?

Os riscos sócio-ambientais e de governança são mais intangíveis que riscos financeiros e, portanto, difíceis de ser medidos. São profundamente afetados pelo ambiente no qual a empresa opera, onde podemos destacar fatores como: estrutura legal, regulatória e normativa; níveis de aplicação das leis, fiscalização e corrupção; engajamento da imprensa e opinião pública; atuação das ONGs e demais ativistas das causas sócio-ambientais e da governança; setor de atuação da empresa; dentre outros.

Uma abordagem geral para a classificação de riscos consiste no cotejo de três aspectos da empresa classificanda: sua capacidade de geração de caixa operacional; a qualidade de seus ativos e outras fontes de liquidez; e o comprometimento de seu fluxo de caixa e ativos. São utilizados dados do passado e tenta-se projetar o futuro. Tal exercício perpassa pela análise da estratégia da empresa, sua capacidade de execução desta estratégia, o ambiente competitivo e regulatório, e também sua governança corporativa e desempenho sócio-ambiental, dentre outros, tudo inserido em cenários macroeconômicos e setoriais mais prováveis. Um exercício crucial, no entanto, é testar tal estrutura em cenários de estresse.

Uma das maiores dificuldades da classificação de riscos, principalmente no Brasil, é a sofrível carência de informações. As empresas brasileiras ainda são pouco transparentes, tanto por receio de que informações estratégicas sejam espalhadas ao mercado, mas também em função da ausência de sistemas de gestão que possibilitem monitorar indicadores de desempenho importantes, com destaque aqui para os sócio-ambientais. A abordagem da classificação de riscos nestes casos deve ser a de "no news, bad news", ou seja, toda informação inexistente deve ser encarada como fator negativo.

Contribui para essa falta de transparência a cobertura factual e pouco crítica da imprensa brasileira, no que tange a aspectos de responsabilidade sócio-ambiental das empresas. Tal argumento é conclusão de pesquisa do Instituto Ethos, que analisou a cobertura jornalística nacional sobre o tema responsabilidade social empresarial, trabalho apresentado durante sua última conferência nacional em junho.

A tendência é a atribuição de maior peso às questões sócio-ambientais e de governança nos ratings. Como as agências são fortemente dependentes de sua reputação, quem não se adequar corre o risco de ficar para trás e não aproveitar a onda de crescimento do mercado de capitais brasileiro.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Gustavo Pimentel - Analista de governança corporativa e sustentabilidade da SR Rating. E-mail: gustavo.pimentel@srrating.com.br )

Futebol e Direito de Imagem


Artigo sobre o assunto no Valor de 11/agosto:

Os clubes e o direito de imagem dos atletas

Por Fábio Gentile
Fim da Copa do Mundo da Alemanha e, por aqui, as atenções se voltam aos clubes nacionais. Comenta-se que a imagem dos jogadores brasileiros saiu bastante arranhada. Mais um motivo para falar desse tema, tão mal tratado fora dos gramados - a imagem dos jogadores. Para início de conversa, é preciso entender: Por que o tal direito de imagem dos atletas é, para os clubes, muito mais um problema jurídico do que uma fonte de receita? Há como equacionar a questão jurídica com a verdadeira utilidade da imagem esportiva?

Ao invés de aproveitar a imagem de seus jogadores como uma propriedade de marketing - que é -, há clubes que a utilizam apenas para reduzir encargos trabalhistas, em vão. Elaborando falsos contratos de cessão da imagem dos jogadores, o clube lhes paga parte da remuneração - por vezes, a maior parte - a título de direito de imagem, pretendendo com isso diminuir o valor do salário e das verbas que sobre ele incidem (férias, décimo-terceiro salário e FGTS, por exemplo).

Esse procedimento também alivia a carga tributária do atleta, que licencia sua imagem por meio de uma empresa que ele mesmo constitui, deixando, assim, de recolher, sobre a remuneração recebida como direito de imagem, a contribuição ao INSS (do empregado) e o imposto de renda de pessoa física (27,5%).

Acontece que, na prática, a imagem do jogador não é sequer utilizada pelo clube e, por isso mesmo, em uma reclamação trabalhista fica fácil provar que o valor mensal pago a título de direito de imagem nada mais é do que, propriamente, salário. Resultado: o clube desperdiça a licença de uso que detém e, pior, acaba se sujeitando a enormes condenações na Justiça do Trabalho. O que era direito de imagem passa a ser considerado salário e o clube acaba tendo que pagar ao jogador todas as verbas trabalhistas que queria economizar - com juros e correção monetária. Ou seja, no final da história, quem paga a conta é o clube.

Juridicamente, é possível que os clubes licenciem o uso da imagem de seus atletas, ajuste legítimo e que, em nossa opinião, não se confunde com a relação de emprego, mas desde que a remuneração paga pela licença não seja mera contrapartida do trabalho do atleta. Se não houver exploração da imagem e, ainda, se a remuneração for mensal, claro que se caracterizará como salário.

Há quem diga, entretanto, que a licença de uso da imagem está necessariamente inserida no contrato de trabalho, seja qual for a forma de estipulá-la ou utilizá-la. O juiz Sérgio Winnik, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, em São Paulo, considera que "a divulgação envolvendo o clube é inerente à atividade do atleta, jogador de futebol", concluindo que "qualquer contraprestação daí decorrente tem, pois, nítida conotação salarial" (Acórdão nº 20040338830).

Duas são as opções viáveis para os clubes. A primeira é comprar a briga jurídica, mas com credibilidade: inserir os atletas no planejamento de marketing do clube, atribuindo valor à imagem de cada um deles, conforme critérios esportivos e de mercado. Em um contrato autônomo de licença do uso de imagem, a remuneração não seria habitual, e sim atrelada a cada utilização da imagem dos jogadores, mostrando que não se trata de uma simulação. Além de reduzir o risco de alguma condenação trabalhista, o importante é que, dessa forma, o clube passaria a planejar o uso da imagem dos atletas.

A segunda opção é considerar salário tudo aquilo que se paga ao atleta, inclusive o direito de imagem. Por mais pesado que seja, o impacto econômico pode e deve ser objeto do planejamento financeiro e trabalhista do começo de temporada. E, com uma cláusula de licença, o próprio contrato de trabalho exigiria que o clube planejasse o uso da imagem de seus atletas, transformando um risco jurídico em uma fonte alternativa de receitas, bem capaz de compensar o acúmulo de encargos trabalhistas.

Não faltam jogadores, anunciantes, nem mídia. Faltam planejamentos profissionais que calculem riscos, recomendem provisões, desenvolvam o marketing dos clubes e façam da imagem dos jogadores uma das mais interessantes propriedades de marketing do clube, e não um foco de problemas.

Realmente, como bem disse o publicitário Eduardo Fischer (Valor, 6 de julho de 2006), com o fiasco dos brasileiros na Alemanha, é "muito difícil que algum anunciante faça um contrato novo com esses jogadores hoje". Porém, "depois de umas cinco partidas atuando bem e marcando gols, Ronaldinho Gaúcho recupera a imagem". Prova de que é mesmo uma excelente propriedade de marketing. Mas que não depende só do trabalho dentro de campo, depende de uma gestão profissional fora dele.

Fábio Gentile é advogado e sócio do escritório BGR Advogados

Juiz afasta Comitê de Credores do Banco Santos


Temos problemas sérios com a gestão de massa falida no BRasil. Notícia do Valor Econômico de 11/08 sobre o assunto:

Juiz da falência afasta comitê do Banco Santos

Josette Goulart
O juiz que conduz a falência do Banco Santos, Caio Mendes de Oliveira, decidiu nesta semana afastar o membro do Comitê de Credores, Jorge Queiroz, das dependências do Banco Santos. Em seu despacho, o juiz entendeu que Queiroz apresentou suas conclusões recentemente e que não se justifica mais essa situação, mas disse que o administrador poderá receber o representante do comitê periodicamente, até uma vez por semana, pelo número de horas que determinar e nos horários que fixar. "O que se mostra mais do que suficiente para os fins previstos na legislação vigente, nada justificando a sua permanência ali, utilizando-se das dependências e recursos da massa falida". O juiz ainda disse que todas as despesas realizadas pelo comitê e suportadas pela massa deverão ser ressarcidas.

A decisão caiu como um balde água fria para os advogados dos credores, que não só queriam uma fiscalização mais efetiva como chegaram a pedir a destituição de Vânio Aguiar do cargo de administrador judicial do banco. Um dos motivos teria sido justamente o fato de Aguiar ter dificultado acesso à informação. Para Aguiar, a notícia vem em boa hora na guerra travada entre credores e o administrador judicial.

Ontem, o fundo de pensão dos funcionários do Banco Central (Centrus) - que faz parte do grupo de 106 credores, liderados pelo escritório Lobo & Ibeas, que pediu a destituição de Aguiar - pediu formalmente ao escritório que retire a fundação da demanda contra Aguiar. A decisão vem em favor do administrador judicial, já que os credores, nos pedidos de impugnação, questionavam se ele teria a devida isenção caso fosse necessário abrir ações judiciais para responsabilizar o Banco Central por eventuais perdas. O problema seria porque Vânio Aguiar é funcionário de carreira do Banco Central.

Os pedidos de impugnação do administrador judicial ainda não foram apreciados pelo juiz da falência. Além do grupo de credores representados pelo Lobo & Ibeas, também pediram a impugnação a empresa Cenibra e a Associação Nóbrega de Educação.

Consignado aumenta o risco


Reportagem do Valor Econômico de 11/08 sobre o risco do consignado:

Consignado eleva risco de pessoa física

Tatiana Bautzer
A explosão do crédito consignado está contribuindo para aumentar a inadimplência da pessoa física em outros tipos de financiamento, afirmam executivos de bancos e financeiras. Com uma participação próxima de 50% da carteira total de crédito para pessoa física, o crédito consignado contribui para reduzir a renda disponível e deixa para operações de crédito sem garantia em folha um grupo de clientes com propensão maior à inadimplência.

"O efeito do crédito consignado sobre a inadimplência das outras carteiras é relevante, porque separa o pool de clientes entre os que têm risco menor por maior estabilidade na renda e os outros tipos de clientes", diz André Duarte, da área de crédito e risco de varejo do Unibanco. As perdas que já começam a aparecer nas carteiras dos bancos exigirão "um controle obsessivo do risco" nos próximos meses.

O crescimento do consignado coincidiu com o crescimento da inadimplência em outras carteiras também porque muitos clientes dos financiamentos com desconto em folha usam esse tipo de operação para pagar dívidas em linhas com juros mais altos - deixando os clientes com risco pior para recorrer às linhas mais caras.

A redução da renda disponível torna ainda mais urgente, segundo Duarte, do Unibanco, e Paulo Ísola, diretor executivo do Bradesco, o desenvolvimento do sistema de informações positivas sobre os clientes, o "bureau positivo" do qual vem se falando mas até agora não saiu do papel por falta de acordo entre os bancos, que relutam em compartilhar informações sobre o cadastro de seus clientes. "No caso da pessoa jurídica já existe um rating praticamente definido pelas classificações de risco da carteira de crédito exigidas pela resolução 2.682 do Banco Central. Precisamos vencer as barreiras para criar uma situação semelhante para a pessoa física", disse.

Num seminário sobre crédito promovido ontem pela Associação Comercial, o Bradesco anunciou que está fechando uma parceria com a Microsoft para financiamento de software à pessoa física. A parceria já existe em caráter experimental para pessoa jurídica, e o banco está ajudando a empresa americana a criar um canal direto de vendas para os seus consumidores. "Até agora a Microsoft não conhecia o seu cliente final, porque as vendas eram todas feitas via varejo", segundo Ísola. A empresa americana tentou uma parceria semelhante com bancos no México, mas não conseguiu os objetivos, e acabou criando o canal direto com o consumidor via crédito no Brasil. O modelo de parceria com a Ford Credit, iniciada depois da compra da carteira da instituição no país pelo Bradesco, deve ser exportado para outros países, reduzindo a necessidade de uso de recursos próprios da montadora para o financiamento na sua rede de concessionários.

Usando principalmente a marca Finasa, o Bradesco tem investido recentemente em parcerias com redes varejistas que atendem à população de baixa renda, adquirindo "know how" de análise de crédito para este público. Além de fazer o financiamento da Casas Bahia, uma das maiores carteiras de crédito popular, o banco já emitiu 1,7 milhão de cartões "private label" na rede de varejo Leader.

Bancos mudam, mas continuam lucrando


Segundo a Austin Rating, os bancos brasileiros estão mudando, com aumento da carteira de crédito, para compensar a redução na taxa de juros. Isto naturalmente tem provocado efeito nas suas provisões, que aumentaram no período. Veja a reportagem completa do Valor Econômico:

Lucros crescem apesar do calote

Maria Christina Carvalho
Os grandes bancos brasileiros estão se saindo bem frente ao desafio de aumentar a carteira de crédito para compensar a queda das taxas de juros. A conclusão é do presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, ao avaliar os balanços do primeiro semestre já divulgados.

Até ontem os três maiores bancos privados de varejo já haviam divulgado o balanço do primeiro semestre mostrando uma expansão dos resultados de 19,5% no caso do Bradesco e Itaú a 25,1% no do Unibanco. No total, dez bancos já divulgaram o balanço. A evolução média do resultado é de apenas 8,3%, acentuadamente inferior à dos três maiores privados, puxado pela queda de 53,2% do ganho do BMG e de 34% do Pine. O lucro líquido consolidado dos dez bancos atingiu R$ 7,942 bilhões.

A estratégia praticamente unânime dos grandes bancos de varejo foi emprestar mais para pessoa física. Essas operações trazem maior risco, disse Rodrigues. Por isso, a inadimplência aumentou, exigindo um forte reforço das provisões. Mas, trazem maior retorno. "Quem souber dar crédito nesse segmento, com as garantias adequadas, vai se dar bem", disse o especialista.

O aumento médio da carteira de crédito dos dez bancos foi de 25,6%, de R$ 191,467 bilhões para R$ 240,539 bilhões. Mas, a receita de crédito cresceu mais ainda, 35,4%, para R$ 27,968 bilhões. Essa conta não leva em consideração as despesas feitas para lastrear as operações de crédito, mas revelam a estratégia dos bancos de partir para operações de maior retorno, com pessoas físicas, mudando o mix das carteiras.

A outra face da moeda foi o aumento da inadimplência. A taxa média de inadimplência no balanço dos dez bancos - medida pela relação entre as operações com mais de 60 dias de atraso e a carteira total - subiu de 2,3% em junho de 2005 para 3,4% em junho passado. Mas isso não preocupou Rodrigues, porque os bancos reforçaram as provisões.

As despesas com provisões saltaram 83,9% no mesmo espaço de tempo, para R$ 6,887 bilhões. O saldo das provisões aumentou 44,1% para R$ 15,91 bilhões. E a relação entre saldo de provisões para devedores duvidosos e a carteira total de crédito passou de 5,8% para 6,6% entre junho de 2005 e junho passado, na média dos dez bancos que já divulgaram os balanços.

No entanto, levantamento feito pela Austin Rating a pedido do Valor com os três maiores bancos privados mostra que as provisões já foram maiores em relação à carteira total de crédito há três anos. O Itaú que, neste semestre, é o banco privado de varejo com maior volume de cobertura, com 8,3% de índice, já chegou a ter 9,7% em junho de 2002 e 8% em junho de 2003.

Em segundo lugar ficou o Bradesco, com um índice de 6,6%, dentro da média do mercado, que já exigiu índices de 7,78% em junho de 2003 e 7,2% em junho de 2004. De acordo com o presidente da Austin Ratings, "a maior parte dos bancos está com provisões adequadas e alguns, como o Itaú e o Unibanco, até desaceleraram algumas operações".

A intensidade do aumento das provisões variou conforme a instituição. Houve "um ou outro caso de conservadorismo exagerado", disse Rodrigues, mas a razão foi o aumento da inadimplência. O Itaú e o BicBanco, por exemplo, aumentaram o saldo de provisões em 73% e 72,3%, respectivamente. No caso do Itaú, o saldo das provisões atingiu R$ 5,6 bilhões, um terço do total dos dez bancos (outro terço é do Bradesco e o Unibanco, tem 14%).

O Itaú também se destacou por mais do que dobrar as despesas com provisões - o aumento foi de 133,5% do primeiro semestre de 2005 para os R$ 2,5 bilhões de igual período deste ano. Mas outro destaque importante dos resultados do banco nesse semestre foi o aumento da inadimplência de 2,2% para 3,3% da carteira em reflexo ao crescimento das operações de financiamento ao consumo.

Rodrigues também notou que a receita de serviços continua crescendo nos bancos. Com a queda da inflação e o fim das receitas de floating, os bancos passaram a cobrar pelos serviços prestados e também criaram novos produtos. Com isso, a participação da receita de serviços no total de receitas operacionais dos bancos passou de 3,5% na entrada do Plano Real para 20% atualmente, passando a ter um peso superior ao do próprio floating. "Hoje, a receita de serviços constitui uma importante fonte de ganho para os bancos", afirmou.

A previsão da Austin Rating é que o lucro dos bancos vai crescer cerca de 20% neste ano, em linha com o comportamento do primeiro semestre; com um retorno médio ao redor de 22%. A carteira de crédito promete aumentar em 20% a 25%

11 agosto 2006

Reduzindo a taxa de juros com informação

O problema da taxa de juros no Brasil também pode ser resolvido com a informação. Uma reportagem de hoje do jornal Valor Econômico informa que o Bacen quer aumentar o acesso a Central de Risco. Isto reduziria a assimetria da informação no momento do empréstimo, reduzindo o risco do banco e contribuindo para queda dos juros. A seguir a reportagem:

Pacote para baixar custo do dinheiro inclui acesso maior a central de risco

Claudia Safatle
Para acirrar a competição entre os bancos e, com isso, reduzir os custos do dinheiro e as tarifas bancárias, o governo prepara um conjunto de medidas cuja direção é dar ao cliente maior poder de barganha. Constam desse pacote as seguintes medidas: universalizar o alcance da Central de Risco do Banco Central, hoje restrita a quem tem financiamento bancário de R$ 5 mil para cima; estender a portabilidade do cadastro para todos que estiverem contemplados pelo sistema de informações da Central de Risco; tornar automática, através de um instrumento chamado "DOC reverso", a transferência do pagamento de salário para o banco que o trabalhador indicar; permitir, através de mudança na lei do crédito consignado, que o funcionário da empresa tenha capacidade de negociar seu crédito consignado com outros bancos.

Somam-se as essas iniciativas, algumas ainda em fase inicial de estudos, a decisão de reduzir mas não extinguir o Fundo garantidor de Crédito (FGC), que hoje é alimentado por contribuições mensais dos bancos, equivalentes a 0,025% dos saldos médios das obrigações garantidas (depósitos à vista, cadernetas de poupança, depósitos a prazo entre outras); e de viabilizar, por medida provisória, um sistema de crédito consignado mais barato as pequenas e médias empresas. Nesse caso, trata-se de coibir a cobrança de uma taxa pelos grandes compradores para conceder aos seus fornecedores, um aceite ou uma confirmação de antecipação de recebíveis. Do leque de providências faz parte ainda a criação do crédito consignado imobiliário.

Hoje, segundo fontes oficiais, se o funcionário de uma empresa tentar receber seu salário em um banco de sua escolha, encontrará toda a sorte de dificuldades burocráticas possíveis. Há alternativas para automatizar esse processo, mas ainda não está claro para o BC se precisará de uma resolução do Conselho Monetário Nacional ou de uma lei. O desenho do instrumento de DOC reverso não está definido, mas a idéia é que por computador, ou assinando uma autorização para o banco destinatário, essa transferência se realize.

Como, atualmente, é a empresa que negocia com o banco o credito consignado para seus funcionários e faz um contrato-mãe, é ela que recebe os benefícios que o banco está disposto a dar, como reciprocidade, como, por exemplo, acesso a linhas mais baratas de crédito. O que o BC está estudando é uma forma de permitir que o funcionário, e não a empresa, negocie com a instituição financeira. Para isso, será preciso mudança na lei do crédito consignado, já que a atual exige a assinatura da empresa para que o contrato exista. "Queremos dar condições para o próprio funcionário negociar e obter as vantagens", disse uma fonte, mas, para isso, avalia-se até que ponto a lei pode exigir que a empresa seja obrigada a debitar parte do salário daquele funcionário no banco onde ele encontrou melhores condições de crédito.

Também não está claro para o Banco Central se será possível ampliar para todos os clientes de bancos, de uma só vez, ou se terá que proceder uma redução gradual do limite dos R$ 5 mil para o alcance da Central de Risco. Isso implicará numa profunda mudança no sistema de informações que o BC coleta e disponibiliza para os bancos. O projeto está em fase de avaliação para ver se será preciso de novos softwares, máquinas, memórias, capacidade de transmissão de dados do sistema. O BC terá que negociar uma ampliação do seu orçamento com os ministérios do Planejamento, Fazenda e Casa Civil, e não se desconsidera a hipótese de, num primeiro momento, apenas reduzir de R$ 5 mil para uns R$ 3 mil o valor dos empréstimos de cada tomador junto ao banco para que possa constar dessa base de dados e, sendo bom cliente, possa negociar com qualquer banco.

Não consta do conjunto de medidas a redução dos depósitos compulsórios no BC. O custo de uma medida dessa natureza, agora, seria o de não reduzir mais a taxa Selic. Avalia-se, no governo, que não é hora de criar turbulências, pois a política monetária tem se mostrado bem sucedida.

Canhotos ganham mais


Notícia do Terra:

Funcionários canhotos ganham mais que destros, diz estudo
Sexta, 11 de Agosto de 2006, 12h01
Fonte: INVERTIA
Um estudo divulgado nesta sexta-feira por uma universidade dos Estados Unidos mostrou que os homens canhotos ganham mais dinheiro que os funcionários destros.

De acordo com o estudo da universidade norte-americana de Johns Hopkins, os canhotos com nível superior ganham 15% mais que os destros com o mesmo grau de instrução.

Segundo pesquisadores da universidade, o estudo obteve "resultados significativos e sugestivos sobre estatísticas econômicas que podem ajudar em futuras pesquisas" sobre a questão das habilidades motoras. Contudo, os estudiosos afirmaram que ainda não chegaram a uma teoria sobre as causas desses resultados.

A pesquisa não encontrou os mesmos resultados entre as mulheres. Os cientistas analisaram dados de um estudo iniciado em 1979 com funcionários de todo os Estados Unidos com faixa etária entre 14 e 21 anos.

A pesquisa foi publicada pelo National Bureau of Economic Research.

10 agosto 2006

Fraude. No Xadrez


Um das atividades humanas onde não esperamos fraudes é o xadrez.

Uma notícia do New York Times mostra que dois jogadores estão sob suspeita de ter recebido ajuda de computadores num torneio denominhado World Open in Philadelphia. A fraude aconteceu através de uma escuta. Um dos jogadores, Steve Rosenberg, foi expulso do torneio; outro, Eugene Varshavsky continuou a jogar, mas toda rodada era vigiado de perto. O esquema de fraude de Steve é mostrado na fotografia

Eugene era um dos jogadores com pior desempenho antes de começar o torneio, mas já nas primeiras rodadas ele ganhou de dois grandes mestres, com as peças pretas. Para quem não conhece o jogo, ganhar com as peças pretas é mais difícil. Num dos jogos, Eugene ganhou do mestre John Bartholomew, que possui um rating de 2452; no outro, ganhou do grande-mestre Ilia Smirin, com rating 2659, com as peças pretas. Para se ter uma idéia, um rating de 2659 coloca Smirin entre os duzentos melhores jogadores do mundo.

Um outro grande mestre, Larry Christiansen, que não estava jogando o torneio, colocou os movimentos realizados pelo jogador num programa de xadrez de primeira linha, denominado Shredder, e constatou que os movimentos de Eugene eram iguais.

Apesar das coincidências, o diretor do torneio, Bill Goichberg, não encontrou nenhuma evidência de fraude. Entretanto, depois que Eugene passou a ser acompanhado de perto, ele começou a perder.

Clique aqui para ver a notícia no sítio da empresa que fabrica o programa.

Valor de Mercado


O conceito de valor de mercado tem sido constantemente utilizado para determinar as maiores empresas de uma economial. Como nosso mercado não é tão abrangente, no Brasil este conceito não é muito utilizado. Afinal, qualquer ranking deixaria de fora algumas grandes filiais de multinacionais e mesmo algumas empresas fechadas.

Com a expansão da Bovespa e o aumento de empresas com ações negociadas na bolsa este conceito tende a ganhar importância.

A seguir uma reportagem do Jornal de Commercio de 09/ago:

As líderes em valor de mercado

BOVESPA - Petrobras, Vale, Bradesco, Itaú e Ambev são as cinco empresas mais capitalizadas

JULIANA ENNES
DO JORNAL DO COMMERCIO

A Petrobras lidera o ranking das empresas listadas no Ibovespa, em termos do valor de mercado de cada uma. A segunda colocada, Vale do Rio Doce, tem quase a metade do valor, ou R$ 122,69 bilhões, ante os R$ 214,64 bilhões da petrolífera. Os quatro principais bancos brasileiros - Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco - aparecem entre as dez maiores empresas, além da holding do Itaú, que está em oitavo lugar.

O valor de mercado das empresas é o ponto de partida de qualquer análise financeira, para a escolha dos investimentos. Trata-se da multiplicação do preço unitário das ações pelo número de papéis das companhias. Quando há valorização de uma ação, o valor de mercado também sobe. No entanto, não é possível dizer que as empresas com maior valor de mercado já tiveram forte valorização e, por isso, não teriam grande perspectiva de alta.

- Se o valor de mercado acompanhar o crescimento dos lucros de uma empresa, ela está somente bem precificada. O problema pode acontecer quando o valor de mercado aumenta, ou seja, quando há valorização do papel, sem que haja respectivo crescimento da lucratividade - disse a gestora da Mercatto Gestão de Recursos, Daniela Marques.

Em geral, as projeções de preço para uma ação são feitas com base no valor de mercado. É comum dizer-se que um papel está mal precificado quando o valor de mercado não reflete o resultado da empresa. Isso indicaria bom potencial de valorização. Tal fato, porém é olhado com cautela pelos analistas.

Bradesco e Itaú disputam o lugar de maior banco brasileiro. Atualmente, o valor de mercado do Bradesco é mais alto. O banco vale, na Bolsa de Valores de São Paulo, R$ 70,02 bilhões, enquanto o Itaú tem a capitalização bursátil de R$ 68,34 bilhões, de acordo com os dados mais atualizados na Bovespa, do último dia quatro.

Nesta semana, o Bradesco divulgou lucro recorde, de R$ 3,132 bilhões, no primeiro semestre, enquanto o Itaú teve um lucro de R$ 2,958 bilhões no mesmo período. A gestora disse que, apesar do crescimento dos ganhos, a alta na Bolsa de Valores de São Paulo foi bastante grande.

O valor de mercado das empresas é muito utilizado também para o que é chamado de comparação entre pares. Isto é, pode-se comparar o valor de uma empresa brasileira com outra do mesmo setor, no exterior. No entanto, a cotação do dólar pode criar distorções.

"Há alguns meses, no ponto alto das ações do Bradesco, o banco valia cerca de US$ 38 bilhões. Na época, o Itaú valia cerca de US$ 35 bilhões, enquanto o ABN Amro Bank valia, em Amsterdã, em torno de US$ 21 bilhões. Certamente não existia essa diferença, distorção causada pela cotação do dólar", disse o diretor da Corretora Indusval, José Costa Gonçalves. A distorção acontece pela diferença de preços.

O valor das ações das empresas brasileiras é calculado em reais e, para comparar, transformado em dólares pela cotação do dia. Como o real tem estado bastante valorizado em relação à moeda americana, a diferença acaba ficando grande.

- O valor de mercado deve sempre ser analisado em relação ao resultado gerado pela empresa e ao setor em que está inserido. Comparar entre pares no exterior é importante, contanto que se considere as possíveis distorções. Mas, a partir destes dados, é possível, por exemplo, dizer que a Petrobras está barata em relação as demais petrolíferas do mundo. O mercado acaba descontando o fato de ser uma estatal, que não acompanha o reajuste de combustíveis - disse Daniela, da Mercatto.

Mudanças no ibovespa são consideradas boas

As recentes mudanças na composição da carteira teórica do Ibovespa passam a refletir melhor a realidade da Bolsa de Valores de São Paulo

Há poucos anos, o setor de telecomunicações tinha quase 40% da carteira do índice, mas o valor de mercado das empresas não era compatível. Agora, as duas empresas com maior peso são Petrobras e Vale do Rio Doce, que têm também o maior valor de mercado. "O índice tem ficado cada vez mais qualitativo. Reflete mais o valor das empresas", disse a gestora da Mercatto.

As duas empresas formam cerca de 24% do total da carteira do Ibovespa, percentual considerado bom pelo mercado.


Valor de mercado das empresas do ibovespa
1 Petrobras = 214.649.155,69
2 Vale Rio Doce = 122.698.044,18
3 Bradesco = 70.027.946,40
4 Itaubanco = 68.342.977,65
5 Ambev = 55.449.512,98
6 Banco do Brasil = 40.811.752,67
7 Unibanco = 34.687.447,10
8 Itausa = 29.727.769,98
9 Eletrobras = 26.529.394,90
10 Arcelor Brasil = 24.412.241,25
11 Telesp = 22.790.301,52
12 Gerdau = 21.590.551,15
13 Siderúrgica Nacional = 18.884.236,13
14 Usiminas = 17.886.543,62
15 Telemar Norte Leste = 16.098.269,68
16 Telemar = 15.999.937,14
17 Cemig = 14.872.610,94
18 Tim Part = 14.822.220,45
19 Embraer = 13.665.935,33
20 Aracruz = 11.604.797,09
21 Souza Cruz = 10.576.877,46
22 Vivo = 9.737.296,98
23 Brasil Telec = 8.012.839,11
24 CCR Rodovias = 8.001.570,73
25 Gerdau Met = 7.652.984,07
26 Bradespar = 6.817.781,53
27 V CP = 6.810.294,11
28 Brasil Telecom Par = 6.709.942,97
29 Embratel Par = 6.683.646,48
30 Sabesp = 6.433.536,63
31 Copel = 5.717.983,98
32 Cesp = 5.626.140,53
33 Net = 4.922.117,55
34 Klabin = 4.640.316,20
35 Braskem = 4.276.568,27
36 Sadia = 4.243.750,00
37 Comgas = 4.025.370,55
38 Eletropaulo = 3.815.606,99
39 Transmissão Paulista = 3.504.695,92
40 Perdigão = 3.281.950,22
41 Acesita = 2.920.897,12
42 Ipiranga Pet = 2.165.513,57
43 Light = 2.011.272,51
44 Telemig Par = 1.886.174,77
45 Confab = 1.513.001,21
46 Celesc = 1.277.934,93
47 Contax = 841.941,54
Fonte: Bovespa

09 agosto 2006

Ética nas empresas


A moda da ética nas empresas:

Ética está em jogo nas empresas

Companhias adotam normas de boa conduta, mas nem sempre cumprem o que prometem

Andrea Vialli

As fraudes contábeis envolvendo empresas americanas como a Enron e a WorldCom trouxeram à tona discussões sobre ética e os prejuízos que as empresas têm com a corrupção. A cobrança de investidores, consumidores e ONGs também está levando as empresas a adotarem normas de boa conduta. Porém elas ainda encontram dificuldades para colocar o discurso em prática.

A falta de ética no ambiente corporativo traz prejuízos ainda difíceis de serem medidos. Um estudo de 2004 da consultoria KPMG realizado junto a mil empresas brasileiras dá algumas pistas: mostrou que 69% delas já haviam tido problemas com fraudes e corrupção. Na maior parte dos casos (83%), o prejuízo foi inferior a R$ 1 milhão - mas em 49% dos episódios a empresa não conseguiu reverter as perdas.

Para Roberto Heloani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Unicamp e especialista em ética no trabalho, ainda há uma distância entre o discurso das empresas e a prática. "Para muitas empresas, a ética ainda é muito usada como um instrumento de marketing interno e para o mercado. Mas já há progressos", diz.

Um dos avanços é o esforço das empresas em difundir seu código de conduta entre os funcionários, fornecedores e consumidores. "As pessoas precisam saber como a empresa vê a ética, e não pode ser um discurso vazio", diz o professor. O estudo da KPMG aponta que 60% das fraudes envolvendo as companhias são causadas por funcionários.

RECONHECIMENTO
Nos países desenvolvidos já existe a tendência de "premiar" empresas com atitudes éticas, que aos poucos começa a chegar no Brasil. Um exemplo pode ser visto no mercado financeiro, com a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo, carteira de ações de 28 empresas apresentam boas práticas no campo da responsabilidade social. "A tendência para o futuro é que os investidores privilegiem as empresas com uma postura ética clara, pois oferecem menores riscos", diz o professor.

A pesquisadora da FGV Carmen Weingrill, uma das responsáveis pela elaboração do questionário enviado às empresas interessadas em compor o ISE, afirma que a questão da ética está amadurecendo nas empresas brasileiras. "O mercado tende a valorizar não as empresas que tenham uma conduta impecável, mas aquela que souber reconhecer suas falhas e prestar contas com clareza", diz Carmen. O questionário enviado às empresas, com mais de 100 perguntas, trazia questões referentes ao combate à corrupção, suborno e propina.

O discurso de ética nas empresas já criou até um nicho de mercado. A consultoria Prosets Brasil, por exemplo, especializou-se em elaborar estratégias para as empresas aplicarem a ética no dia a dia dos negócios. A consultoria incentiva as empresas a criarem códigos de ética de acordo com seu ramo de atuação e fornece ainda serviços para identificar eventuais funcionários corruptos.

Uma das ferramentas da consultoria é aplicada no processo de seleção de empregados e permite à empresa identificar se o candidato à vaga de emprego tem inclinações a transgredir regras. A tecnologia foi desenvolvida em Israel com base no polígrafo, o popular detector de mentiras, e já é usada em 15 países.

"Nosso trabalho é traduzir o código de ética da empresa para cada empregado, de acordo com sua função dentro da companhia", explica Adriana Tschernev, gerente de marketing da Prosets Brasil. A empresa tem 20 clientes, de diferentes portes e setores, como o banco Santander, a rede varejista Casas Bahia e a fabricante de bebidas Schincariol. A consultoria também mapeia os departamentos da empresa que necessitam de segurança mais reforçada.

Juros: outra possível explicação


Para quem não gostou da explicação de que o custo operacional dos bancos era a justificativa dos elevados juros, uma reportagem interessante do Estadão de hoje informa que um dos possíveis culpado é o elevado compulsório. A seguir:

Brasil é o campeão mundial em depósitos compulsórios no BC

A alíquota no País chega a 53% sobre o volume depositado

nos bancos; em outras nações, taxa é inferior a 10%

Renée Pereira

O país das maiores taxas de juros do mundo também tem a maior alíquota de recolhimento compulsório sobre depósitos à vista (ver quadro). Segundo levantamento feito pela agência de classificação de risco de crédito Austin Rating, enquanto a maioria dos países tem taxa abaixo de 10%, o Brasil aparece no topo da lista, com uma alíquota exorbitante de 53% sobre o volume depositado nos bancos. Desse total, 45% ficam no Banco Central, sem rentabilidade, e 8% são remunerados pela taxa básica da economia (Selic).

O mecanismo diminui a oferta de crédito no mercado e, conseqüentemente, encarece os empréstimos aos consumidores. Isso porque retira dinheiro de circulação e o poder de crédito dos bancos diminui. "O compulsório é um instrumento de política monetária que pode estimular o crescimento econômico ou contê-lo para preservar a taxa de inflação em um nível moderado", explica o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

A redução dos compulsórios foi uma proposta dos bancos para diminuir o spread bancário (diferença entre o custo de captação e o de empréstimo), em resposta ao pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o corte dos juros ao consumidor. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já afirmou que há outras formas para reduzir o spread brasileiro - também o maior do mundo - sem mexer no compulsório.

Economistas também concordam que outras medidas precisam ser tomadas. Mas argumentam que, diante dos números da economia brasileira, não há motivo para manter a taxa tão elevada. "É possível reduzir o compulsório sem ônus para a economia", diz Agostini.

Além da liderança brasileira, o estudo da Austin Rating mostra que, quanto menor é o depósito obrigatório, maior é a relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, essa relação é de 32,4%. Já no Chile, onde o compulsório é de 9%, o volume de empréstimos representa 60% do PIB. Na zona do euro, a taxa é de 2%, e a relação crédito/PIB é de 105%.

Nos EUA, os financiamentos atingem 80% das riquezas do país e o compulsório varia de 0 a 10%, conforme o volume de cada banco.

Na avaliação do economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, o compulsório não tem razão de ser. Apenas encarece o crédito para quem precisa de dinheiro. Ele afirma que o compulsório recolhido é maior que o crédito para indústria, consumidores rurais e habitação, juntos. "Funciona como imposto disfarçado. Além disso, abafa o efeito da queda da Selic e enfraquece seu impacto nos preços."

O depósito obrigatório , segundo ele, é um contra-senso e não se aplica ao Brasil de hoje. "Como instrumento de política monetária, o compulsório perdeu significativa relevância nas economias que mantêm sistema de metas de inflação, como é o caso do País", completa Agostini.

O economista do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea) Armando Castelar concorda que a redução do nível de compulsório no Brasil é uma necessidade. Mas ele pondera que esse corte precisa ser gradual e acompanhado de medidas adicionais, como a redução de crédito direcionado (programas de empréstimos obrigatórios) e mudança da política fiscal expansionista. "É preciso parar de gastar. Essa é a solução para muitos males do Brasil."

As multinacionais latinas

Um artigo do Valor Econômico de hoje sobre as multinacionais latinas. Aconselho a leitura também do relatório do BCG.:

Opinião - Emergência de multinacionais latinas

Por Javier Santiso
O mapa do capitalismo mundial está mudando a toda velocidade. As multinacionais dos países emergentes se impõem daqui para frente no cenário internacional. Se já há algum tempo os nomes das sul-coreanas Samsung e LG eram conhecidos do grande público, agora outros atores surgem na cena internacional. Assim, em 2005, a gigante chinesa Lenovo conquistou um lugar ao sol entre as empresas multinacionais engolindo os PCs da americana IBM. No início de 2006, foi a vez da gigante Mittal, com sede em Amsterdã mas com capital de origem indiana, adquirir notoriedade internacional usando seu lucro na européia Arcelor.

Esses exemplos, no entanto, não são casos isolados. Eles são, na verdade, as partes imersas de um iceberg de dimensões imponentes. Uma miríade de empresas se acotovela nas cancelas de mercados até a presente data dominados por empresas dos países da OCDE. Além da Lenovo, a China já coloca em competição uma dezena de empresas que de Minmetals à Baosteel, passando por Huawei, multiplicam os acordos em outros países emergentes da África, Ásia ou da América latina. Quanto aos gigantes emergentes indianos, além da Tata ou ainda da Reliance, as empresas tecnológicas como Infosys ou farmacêuticas como Ranbaxy começam a ampliar seus mercados para além da península indiana. A Ásia não é, no entanto, a única região do mundo de onde emergem novos atores de um capitalismo internacional que está modificando seu centro de gravidade.

Em 2005, as empresas mexicanas e brasileiras multiplicaram de maneira espetacular suas incursões internacionais. Que se trate de grupos como o mexicano Telmex (que multiplica suas aquisições em todo o continente latino-americano) ou ainda o brasileiro CVRD, que ambicionou durante um certo tempo o francês Eramet (uma operação avaliada em mais de 2 bilhões de euros), essa efervescência confirma uma tendência de fundo: a emergência no tabuleiro internacional das multinacionais dos países emergentes, em particular das multinacionais latinas, as multilatinas. De fato, essa emergência se confirma pela simples observação da última classificação mundial da revista Forbes: na sua lista das 2 mil principais empresas mundiais agora aparecem mais de vinte empresas mexicanas e outro tanto de brasileiras.

Em menos de 10 anos, as companhias mexicanas terão, assim, multiplicado as fusões e aquisições: o valor total das operações chega a mais de US$ 25 bilhões, bem acima dos US$ 20 bilhões utilizados pelas empresas brasileiras que, por sua vez, também entram com entusiasmo no páreo da internacionalização. Em 2004, as empresas latino-americanas investiram mais de 22 bilhões de dólares fora de suas respectivas bases nacionais, ou seja, uma progressão de 500% com relação ao ano anterior.

Há uma década assistimos a emergência de multinacionais mexicanas, como por exemplo o fabricante de cimento Cemex, que hoje em dia segue de perto, e sem complexos, os passos dos dois líderes mundiais europeus, Lafarge e Holcim. Em 2005, apenas dez anos após seu ímpeto inicial, a Cemex dispõe de filiais não somente na América Latina, mas também nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Espanha e no Egito. Bem antes da gigante Mittal, a Cemex já havia feito aquisições maiores na Europa, em particular na Espanha e na Grã-Bretanha. Com mais de US$ 15 bilhões investidos no estrangeiro, a fabricante de cimento mexicano é, sem dúvida, a ponta-de-lança dessa internacionalização latino-americana.

Mas poderíamos multiplicar os exemplos, a começar pela gigante mexicana das telecomunicações, a Telmex, e o de sua homóloga na telefonia celular, América Móvil, que completaram franquias latino-americanas que se igualam agora às da gigante espanhola Telefónica. Da Embraer, líder mundial no setor de jatos regionais, ao lado da canadense Bombardier e da francesa Dassault, aos produtores de celulose como Aracruz, de aço como a Gerdau, de petróleo como Petrobras ou ainda do conglomerado Votorantim, as multinacionais brasileiras aguçam seus apetites internacionais. Só na Argentina elas obtiveram sucessivamente empresas como Quilmes (adquirida pela Brahma - que se tornou Ambev), Acindar (Belgo Mineira), Loma Negra (Camargo Corrêa) ou ainda Pecom (Petrobras), enquanto o grupo ítalo-argentino Techint se tornou comprador da gigante mexicana Hylsamex por mais de US$ 2 bilhões. Durante os últimos anos, os grupos brasileiros multiplicaram as aquisições não somente na América Latina, mas também algumas vezes em países desenvolvidos como os Estados Unidos, ou em outros mais exóticos como a China.

Como suas primas espanholas, as multinacionais latinas das Américas deverão ampliar sua presença para além das Américas se quiserem continuar sua consolidação. Elas têm que enfrentar inegavelmente grandes desafios. Suas capacidades tecnológicas são mais freqüentemente limitadas do que as de suas concorrentes dos países desenvolvidos, ainda que o exemplo da Cemex mostre que isto é possível mesmo em setores a priori de menor intensidade tecnológica. Poucas dispõem de sólidas marcas globais - as cervejas Corona, do grupo mexicano Modelo, agora vendidas em 150 países, correspondem mais a exceção do que regra. No entanto, sejam sozinhas ou com aliados algumas vezes europeus (como exemplo a colombiana Bavária, que fusionou com a belga Ambev), tornam-se por sua vez jogadores cada vez mais internacionais.

Elas devem enfrentar, no entanto, um custo de capital superior ao de seus homólogos dos países desenvolvidos, ao mesmo tempo que devem encarar a competição crescente das outras multinacionais emergentes, coreanas, chinesas ou ainda indianas. Daí essa busca agora desenfreada para se implantar não somente em outros países emergentes, com o objetivo de ampliar seus mercados, mas também de se apresentarem como compradores de ativos nos países desenvolvidos, com o objetivo de ter acesso a um custo de capital menor. Quando a Cemex se implantou na Península Ibérica e depois na Inglaterra, adquirindo operadoras locais, o objetivo era não exclusivamente o de adquirir partes de mercados suplementares, mas ter acesso a capitais com custos menores a partir dessas bases européias. Hoje em dia, a base financeira e estratégica do grupo está em Madri e Londres tanto quanto em Monterrey.

Essas multinacionais dispõem, no entanto, de trunfos sérios. O exemplo da Cemex mostra que, se necessário, é possível inovar em setores básicos, como o de cimento, e demonstrar audácia e visão. Algumas dessas multinacionais latinas podem se beneficiar no futuro de oportunidades de ouro, em particular as mexicanas, próximas do mercado em grande expansão dos hispânicos nos EUA, ou aquelas que de forma geral estão dos setores agro-industriais, onde aparecem em boa colocação a Argentina Arcor, a brasileira Sadia ou ainda a mexicana Bimbo. O exemplo de emergência de suas primas espanholas só podem incitar as multinacionais latinas a irem em frente.

Javier Santiso é economista-chefe e diretor adjunto do Centro de Desenvolvimento da OCDE. Antes foi economista-chefe para a América Latina e Mercados Emergentes do BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria).