16 outubro 2025
Bolsas de Produtividade do CNPq: inscrições abertas
As inscrições vão até 20/01/2026.
Leia mais: aqui
15 outubro 2025
Ainda blogando (e sonhando) depois de trinta mil
Queridos amigos e leitores, esta nova publicação vem com um entusiasmo especial: em quase vinte anos de blog, chegamos à postagem 30.000. Não tem como alcançar este número sem voltar ao passado e revisitar a estrada.
Ao pensar neste marco, algumas postagens se destacam. “Dois milhões”, sobre o marco de dois milhões de
acessos, conta um pouco do início do blog, em 2006, e quando dois alunos
entusiasmadíssimos, o Pedro e a Isabel,
foram convidados a participar. Quando a Isabel recebeu o convite, pulou de
alegria, literalmente. Ela sentiu que fazer parte de uma equipe com pessoas tão
inteligentes e criativas seria um ponto marcante em sua trajetória. O Pedro
precisou se afastar para focar outras questões, mas a memória e o lugar permanecem.
A continuação daquela postagem é a intitulada “Fazer (e continuar) um blog é um ato de amor”,
quando chegamos a três milhões de acessos. Algumas vezes acontecem coisas em
nossas vidas e não sabemos se serão ou não grandiosas. Eu sempre senti que o
blog seria importante pra mim, mas nunca imaginei que esses débitos e créditos
da vida real seriam a ocupação mais estável, o interesse mais genuíno.
Na postagem “blogs acadêmicos morreram?” o professor César,
ao falar sobre a motivação para blogar, destaca uma citação: “um [blog é]
cérebro externo que dá sua “direção e recompensa de pastoreio de conhecimento”,
permitindo que ele arquive as coisas que despertam sua curiosidade enquanto vagueia
pela Internet.” E acrescenta que estar aqui ajuda a aperfeiçoar
possíveis explicações em sala de aula, além de ser parte do processo de
publicar e pesquisar, já que muitas ideias surgem exatamente quando se escreve.
(Leia também: Por que os professores de contabilidade não blogam?)
Quanto à Isabel, escrever sempre foi o seu jeito de entender
o mundo e por aqui ela aprendeu a transferir isso para outras partes da vida,
em um mundo cheio de referências, ideias e variedade. Foi por aqui que ela se organizou
e deixou grande parte do mestrado. E espera também, em breve, fazer uma
simbiose com o doutorado. Porém os amigos que fizemos por aqui são, sem dúvida,
a parte mais doce da recompensa.
Aqui é possível descobrir lados curiosos da contabilidade,
que a vida profissional cotidiana não chega nem perto. Aqui também é possível
aprender a olhar reportagens com um senso crítico diferente, acompanhando os
textos com referências, provocações, críticas e observações. Aqui percebemos
que dá pra misturar bem jornalismo e contabilidade. E entendemos que dá pra
gostar de normas e de narrativas ao mesmo tempo. Foi seguindo dicas do blog que
alguns se aventuraram por Mr. Robot, Breaking Bad, Malcolm Gladwell, Daniel Kahneman e tantas outras vozes que nos
moldaram. Tanta coisa aconteceu por causa do blog...
Escrever é uma atividade tão viva, que começamos este texto
com o propósito de refletir novamente sobre o porquê de blogar, mas a emoção nos
levou por veredas imprevisíveis e chegamos aqui. Esse é, inclusive, um dos
motivos de gostarmos tanto de ler o que é aqui publicado: os nossos “eus
líricos”, perceber quando as nossas personalidades pulam das páginas. Como leitores,
sentimos que blogs nos trazem o privilégio de espiar dentro da cabeça de mentes
que admiramos.
Li em algum lugar, provavelmente aqui, que um blog é uma
conversa que nunca termina. Enquanto houver algo que nos intrigue, uma
história, uma dúvida, uma curiosidade, uma vontade de ensinar, continuaremos
parando os nossos dias por outras 30 mil vezes para aparecer por aqui. E se
você está por aqui lendo, é porque de alguma forma essa conversa é sua também.
E chegamos ao dia de hoje com a necessidade de reforçar o
vínculo com o leitor. No tempo de IA, quando ficou muito prático fazer uma
pergunta para o app no celular e obter uma resposta, ainda insistimos em
entregar um conteúdo diverso, com comentários pessoais, e ligações do que
ocorre no mundo com os débitos e créditos. Ainda queremos fazer planos e
sonhos, como já fizemos nesses dezenove anos de postagens, que incluíam ter uma
maior participação no Instagram, convidar outros amigos para ajudar na
postagem, fazer um livro de piadas de contabilidade, um canal no youtube,
repostagens do Rir é o Melhor Remédio no Instagram, entre outros tantos. Sim,
não fizemos nada disso, mas sonhos não envelhecem. O fato de estarmos aqui, na
trigésima milésima postagem, é prova que queremos mais.
Não procure uma razão racional para isso. O que gastamos de
tempo e dinheiro – o blog tem despesa de hospedagem e outras – compensa, pois
cada postagem contribui para que possamos atender a um apelo, que uma vez li em
um livro, de caminhar na beleza.
Aqui estamos, escrevendo esta trigésima milésima postagem, a
quatro mãos. E estaremos, quem sabe, escrevendo muitas outras.
Agradecemos imensamente a companhia.
Contabilidade Ambiental e os Desafios do BECCS nas Estratégias Corporativas
A pressão sobre as empresas em relação à questão ambiental nos últimos anos tem trazido desafios interessantes para a contabilidade, especialmente no que diz respeito às demonstrações financeiras.
Muitas organizações precisam justificar que não são “inimigas” do meio ambiente. Politicamente, isso as coloca em uma posição menos vulnerável diante de reguladores e investidores. No caso das empresas de tecnologia, com pesados investimentos em computação e energia, o dilema é evidente: possuem produtos desejados pelo público, mas precisam demonstrar que sua atividade não causa danos ambientais.
Uma estratégia encontrada tem sido o uso da técnica conhecida como BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) para compensar emissões. Nesse modelo, o saldo climático se torna mais favorável, já que as companhias “adquirem” desempenho ambiental positivo. Funciona assim: diversas indústrias, como fábricas de celulose e usinas de biomassa, geram resíduos ricos em carbono que, ao invés de serem queimados, podem passar por sistemas de captura que impedem a liberação de CO₂ na atmosfera.
Assim, os investimentos das empresas de tecnologia nesses projetos aparecem como ações ambientais positivas: ajudam a reduzir emissões por meio dessa decisão.
No entanto, alguns desses resíduos já possuem usos alternativos e a captura pode estimular práticas nocivas, como o corte excessivo de florestas. Embora o BECCS possa oferecer benefícios climáticos, também levanta questões sérias sobre incentivos perversos, a integridade das alegações corporativas e os impactos ambientais associados ao aumento da demanda por biomassa — aspectos que muitas vezes não se refletem na contabilidade ambiental.
14 outubro 2025
Uma gafe histórica usando planilha
Uma pequena mudança de ritmo nesta semana com um olhar para um erro real do Microsoft Excel, o famoso #REF!, que continua a assombrar a cantora Kelly Rowland.
O erro em questão é a cena do videoclipe Dilemma, de 2002, em que Rowland aparece “mandando mensagem” para o rapper Nelly usando o Excel. Fãs atentos de planilhas nunca deixaram de se fixar nessa gafe.
Rowland, que leva tudo com muito bom humor, disse à revista Elle em um novo post no Instagram: “Eu não sei de quem foi a brilhante ideia de mandar mensagem no Microsoft Excel, mas isso me persegue em todos os lugares para onde vou.”
A cantora contou que recebeu o celular-cenário momentos antes da filmagem e simplesmente seguiu com a cena. “Me entregaram o aparelho. Ele estava com o [Excel], e então, no vídeo, disseram ‘ah, precisamos de uma tomada com isso’ e eu pensei ‘acho que é assim mesmo’.”
Esse momento se tornou uma peça duradoura da história das planilhas. “E aqui estamos, 25 anos depois. [As pessoas me perguntam] ‘por que você estava mandando mensagem para ele?’ Cara, eu não sei. Eu não sei. Me perguntam isso literalmente toda semana.”
A fotografia a seguir mostra a cena:
Eis o que consta do verbete da Wikipedia:Em um momento do videoclipe, Rowland é vista tentando mandar uma mensagem para Nelly em um aplicativo de planilhas[a] usando seu Nokia 9210 Communicator. Nelly defendeu o uso do aplicativo em uma entrevista ao talk show australiano The Project, em novembro de 2016, explicando que ele era utilizado na época, apesar de ter se tornado obsoleto depois. Em entrevistas posteriores, Rowland admitiu não saber o que era o Microsoft Excel, o que gerou uma resposta da conta oficial do aplicativo no Twitter.
Metade dos textos produzidos hoje foram escritos por IA
A pesquisa Graphite com 65 mil URLs publicadas entre 2020 e 2025 para estimar a proporção de artigos gerados por IA versus artigos escritos por humanos concluiu que, atualmente, cerca de metade foi escrita por IA. É verdade que muitos textos resultaram de uma colaboração entre humanos e máquinas, mas acredito que seja muito próximo da realidade.
Este próprio texto é um exemplo do processo: encontrei a citação na newsletter da Bloomberg, fui para o link, pedi ao GPT para fazer um resumo de que não gostei. Solicitei que a IA indicasse o trecho exato — que, de fato, não existia no link indicado. Só depois, sem ajuda da IA, localizei o trecho correto e o reproduzo aqui:
The percentage of AI-generated articles in this data set briefly surpassed human-written articles in November 2024, but the two have stayed roughly equal since.
Depois de pronto, pedi à IA para fazer uma revisão ortográfica e gramatical. E fica a pergunta: a postagem foi feita por uma IA ou por um ser humano ou algo híbrido?
Progressividade de imposto de renda em diferentes países
O artigo é um estudo sobre a progressividade tributária, onde o Brasil participa da base de dados. O GPT fez um resumo do resultado:
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Baixa progressividade efetiva: Embora o sistema estatutário brasileiro de imposto de renda tenha sido desenhado para ser progressivo, os resultados mostram que, na prática, a tributação efetiva é quase plana. Isso significa que, proporcionalmente, famílias em diferentes faixas de renda acabam pagando taxas médias semelhantes
Alíquotas médias reduzidas: Os dados de alíquota média efetiva no Brasil permanecem baixos em comparação internacional. Em ondas analisadas, a taxa média foi de cerca de 5,26% em 1985, subindo gradualmente até 9,03% em 2010, valores bem abaixo da média de países europeus e mesmo de outras economias da América Latina
Desconexão entre sistema legal e prática tributária: O contraste entre o sistema estatutário progressivo e a baixa progressividade efetiva indica problemas de execução, possivelmente ligados à base estreita do IRPF no Brasil e à dependência de tributos indiretos.
Em resumo, o estudo mostra que o Brasil aparece como um caso em que a tributação formalmente progressiva não se traduz em progressividade efetiva, e as taxas médias efetivas permanecem baixas. Isso ajuda a explicar porque o sistema tributário brasileiro tem eficácia limitada em redistribuir renda.
Ainda Mokyr
Encontrei essa passagem no Marginal Revolution:
Ainda assim, a mensagem central deste livro não é inequivocamente otimista. A história nos oferece relativamente poucos exemplos de sociedades que foram tecnologicamente progressistas. Nosso mundo é excepcional, embora não único, nesse aspecto. Em geral, as forças que se opõem ao progresso tecnológico têm sido mais fortes do que aquelas que buscam mudanças. O estudo do progresso tecnológico é, portanto, um estudo do excepcionalismo, de casos em que, como resultado de circunstâncias raras, a tendência normal das sociedades a deslizar em direção à estase e ao equilíbrio foi rompida. A prosperidade sem precedentes de que goza hoje uma parcela significativa da humanidade decorre de fatores acidentais em grau maior do que se supõe. Além disso, o progresso tecnológico é como uma planta frágil e vulnerável, cuja nutrição depende não apenas do ambiente e do clima apropriados, mas cuja vida é quase sempre curta. Ele é altamente sensível ao ambiente social e econômico e pode ser facilmente interrompido por mudanças externas relativamente pequenas.



