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13 outubro 2025

A Contabilidade na revolução industrial, segundo Mokyr


Um dos temas mais interessantes na história da firma é a evolução das práticas contábeis. A escrituração por partidas dobradas vinha sendo praticada por mercadores desde a Idade Média. As práticas contábeis em uso às vésperas da Revolução Industrial tinham evoluído na gestão de propriedades rurais (estate management), bem como no comércio ultramarino e nas correspondentes operações de crédito, e no sistema de “putting-out” (manufatura domiciliar). A maioria dos procedimentos contábeis eram dispositivos de registro comercial e não se prestavam facilmente a avaliações da lucratividade global de uma empresa industrial, muito menos de suas partes constituintes. No tipo de negócio típico da Grã-Bretanha por volta de 1760, a maior parte da atividade econômica ainda era realizada em empresas administradas por seu proprietário, cujo padrão de vida era regulado mais pelo fluxo de caixa do que pelo lucro em si. As sociedades (parcerias), a forma mais popular de negócios maiores, muitas vezes tinham fórmulas simples para a retirada de dinheiro e mercadorias, embora, quando a sociedade era dissolvida ou ampliada, mais informações precisassem ser extraídas dos livros.

As fábricas da Revolução Industrial, contudo, introduziram muitos novos problemas contábeis com os quais ninguém tinha muita experiência. As plantas precisavam se preocupar com capital indireto (overhead), depreciação de equipamentos, controle de estoques e as receitas e custos de diferentes divisões. A contabilidade do capital era especialmente deficiente, e a ampla variedade de práticas indica a incerteza da época quanto aos procedimentos corretos. Além disso — e talvez mais danoso —, os métodos contábeis da época tornavam quase impossível a um empresário ou gerente avaliar a lucratividade líquida de uma inovação. Na firma, de resto bem administrada, de Boulton e Watt, ninguém tinha ideia de quais departamentos davam lucro ou prejuízo, e na siderúrgica escocesa Carron um gerente estimou um lucro de £10.500 quando, na verdade, havia um prejuízo de £10.000. Na década de 1770, Josiah Wedgwood reformou os procedimentos contábeis de sua empresa, aplicando técnicas de custeio que computavam “toda a despesa de fazer vasos o mais precisamente possível desde os materiais brutos” — embora seja improvável que sua técnica de contabilidade de custos tenha se difundido rapidamente por todo o setor manufatureiro. A superprodução e outros erros de julgamento ocorriam tão frequentemente que um historiador econômico ponderado suspira que eles “mal deixam de diminuir quaisquer estimativas do tino comercial dos empresários do algodão” (Payne, 1978, p. 189). Em certo sentido, esse juízo parece um pouco severo: os problemas gerenciais das novas fábricas eram um subproduto do surgimento do sistema fabril, concebido sobretudo para lidar com problemas tecnológicos e informacionais. No lado da engenharia, os primeiros gestores podiam contar com especialistas técnicos; para as questões de gestão, estavam geralmente por conta própria. Empresas vizinhas do mesmo setor, que observavam de perto umas às outras em busca de avanços técnicos, podiam estar separadas por décadas em termos de práticas contábeis. A imensa maioria das firmas esperava que seus escriturários e contadores pagassem seus trabalhadores e fornecedores e cobrassem de seus clientes, evitassem desfalques e mantivessem o controle de estoques. Não se esperava, porém, que fornecessem um quadro completo da lucratividade das várias atividades da empresa, nem teriam sido capazes de fazê-lo caso lhes fosse solicitado.

Factories and Firms in an Age of Technological Progress - JOEL MOKYR - The Enlightened Economy 

 

12 outubro 2025

Candidatos usam IA para manipular os sistemas de contratação


Com o uso crescente da inteligência artificial no recrutamento — cerca de 90% dos empregadores já utilizam softwares para filtrar currículos — candidatos começaram a embutir comandos ocultos em seus currículos para manipular os sistemas. Esses “prompts escondidos” orientam a IA a classificá-los como altamente qualificados, em uma estratégia que se popularizou no TikTok e no Reddit. Algumas empresas, como Greenhouse e ManpowerGroup, já identificam milhares de currículos com truques desse tipo, enquanto recrutadores rejeitam candidatos quando descobrem a fraude. Apesar dos riscos, há relatos de pessoas que conseguiram mais entrevistas após usar tais artifícios, expondo o embate entre humanos e máquinas no mercado de trabalho.

Mollick, no livro Cointeligência, conta que na sua página da sua universidade, com o seu currículo, ele inseriu comandos para que a IA fosse simpática ao seu trabalho. 

Nobel da Paz e o mercado de previsões

Nos últimos dias acompanhei o anúncio do Prêmio Nobel. Além do site oficial, também observei a dinâmica dos favoritos pelo Polymarket. É verdade que a plataforma trabalhou apenas com apostas para dois prêmios: o da Paz e o de Literatura. No segundo caso, listava Mircea Cărtărescu, Adonis, Can Xue, Murakami e László Krasznahorkai. O mais cotado não chegava a 20% das apostas, que variavam bastante ao longo do tempo. No fim, venceu o húngaro László.


Também acompanhei os favoritos ao Nobel da Paz. Durante muitos dias, o grande favorito — que chegou a mais de 30% das apostas — era uma organização que atuava no Sudão. Despontavam ainda Yulia Navalnaya, russa e opositora de Putin, Donald Trump, Médicos Sem Fronteiras e outros nomes. A vencedora, María Corina Machado, aparecia com apenas 3,75%, mas poucas horas antes do anúncio muitas apostas foram feitas em seu nome e o percentual subiu para 73%.

O aumento nas apostas imediatamente antes do anúncio sugere fortemente que houve um vazamento do resultado. O Comitê do Prêmio afirmou que irá investigar.

Sim, o favorito para vencer o brasileirão desse ano é o Palmeiras (55%). E a Espanha para ganhar a Copa do Mundo (18%, somente).  

(A fonte do vazamento é o jornal O Estado de S. Paulo, 11 de outubro de 2025)

IA ajudando em tarefas chatas: cancelamento de assinaturas


Uma das coisas mais chatas do mundo moderno agora pode ser feita pela Inteligência Artificial: cancelar assinaturas de serviços online. Quem já passou por essa experiência sabe como é difícil encontrar o local correto para realizar o cancelamento e, depois de enfrentar inúmeras etapas, conquistar a vitória de não pagar mais por serviços que não utiliza.

Recentemente, cancelei meu número de telefone e adquiri um novo número de uma pequena startup, atraído pela promessa de um atendimento descomplicado. No entanto, até hoje recebo cobranças da antiga operadora, informando que, por não ter atingido o limite de consumo, estou isento da conta do número anterior.

Agora, com o modo Agente do ChatGPT Plus, é possível inserir o comando “cancelar minha assinatura”, juntamente com nome e senha do serviço. O chat opera sozinho e, em poucos minutos, o cancelamento é realizado, garante Fowler.

Vale lembrar que algumas assinaturas não podem ser canceladas dessa forma. Isso ocorre porque empresas que já possuem tecnologia própria de IA podem estruturar seus sites para dificultar o cancelamento automático pelos usuários.

10 outubro 2025

IA e o sistema financeiro


As principais autoridades financeiras do mundo, por meio do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), divulgaram um relatório sobre a Inteligência Artificial e o sistema financeiro. Não é o primeiro documento sobre o tema, mas o fato de, apenas um ano após o relatório de 2024 sobre as Implicações da Inteligência Artificial para a Estabilidade Financeira, o assunto voltar à pauta pode ser um sinal de que ainda gera preocupação.

O novo relatório aponta que o monitoramento do uso da IA e de suas implicações no mercado financeiro permanece em estágio inicial. Nesse contexto, as instituições financeiras dependem de terceiros para desenvolver e implementar aplicações de IA. Observa-se também que há um número muito reduzido de soluções em IA generativa, o que envolve não apenas software, mas também hardware, como a infraestrutura de nuvem. Essa concentração, segundo o FSB, pode criar vulnerabilidades.

Esse é um ponto de atenção que deveria constar, inclusive, dos relatórios de auditoria, destacando o risco potencial associado ao uso de IA no sistema financeiro.

Imagem aqui 

O Twitter e a indenização


Quando Elon Musk adquiriu o Twitter em 2022, promoveu uma ampla demissão de funcionários. Parte deles contestou os termos de desligamento e ingressou na Justiça.

No início deste mês, foi anunciado um acordo entre a empresa e alguns ex-executivos, incluindo o ex-CEO, que põe fim a um dos processos judiciais mediante o pagamento de indenizações milionárias.

Originalmente, Musk havia acertado a compra do Twitter por 44 bilhões de dólares. Entretanto, diante da queda do valor das ações antes da conclusão do negócio, tentou desistir da operação. A empresa, porém, acionou a Justiça e conseguiu obrigá-lo a manter o contrato pelo preço inicial.

Além desse caso, ainda tramitam outras ações contra a companhia, inclusive relacionadas diretamente à aquisição.

Do ponto de vista contábil, esses episódios evidenciam a relevância dos contratos, das provisões e do reconhecimento de contingências. Questões como indenizações trabalhistas, benefícios rescisórios e disputas judiciais afetam diretamente a mensuração de passivos,

Papel da imigração na construção da ciência

Da newsletter da Nature 

 Dos 202 laureados que receberam prêmios Nobel em física, química e medicina neste século, cerca de 30% nasceram em um país diferente daquele em que foram premiados. Os Estados Unidos foram os que mais se beneficiaram desse movimento: por exemplo, um dos vencedores de química deste ano, Omar Yaghi — o primeiro laureado jordaniano em ciência — mudou-se para os EUA ainda adolescente. “A mobilidade beneficia a todos. Cada recém-chegado traz ideias frescas, novas técnicas e diferentes formas de olhar para problemas antigos”, afirma o vencedor do Nobel de física, Andre Geim, nascido na Rússia e atualmente baseado no Reino Unido. “Os países que acolhem essa mistura se mantêm afiados.”

Isso também ocorre/ocorreu na contabilidade. Há grandes nomes da nossa área que nasceram em um lugar e produziram muita ciência em outro país. Eis alguns deles: Dicksinson, Ijiri e Mattessich.