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08 outubro 2025

Estádio, passivo, reconhecimento e outros temas contábeis para o mesmo evento


No início do milênio, a torcida e os dirigentes do Corinthians estavam incomodados com o fato de o clube disputar seus jogos principalmente no Pacaembu. Sendo um estádio do município, e alguns dos adversários do clube tendo seu estádio, parecia que incomodava. Afinal, o Corinthians tinha a maior torcida da maior cidade do Brasil e não tinha um local próprio onde pudesse realizar suas partidas.

Entre 2007 e 2009, começam as discussões para a construção de um estádio próprio. O assunto foi impulsionado pelo fato de o presidente da época ser um confesso torcedor do clube. Além disso, existia a perspectiva da Copa do Mundo. Juntando tudo isso — uma grande torcida, mais o apoio político, mais o orgulho do dirigente —, em 2010 há o anúncio da construção do estádio próprio. A construção começa no ano seguinte, sob a responsabilidade da construtora Odebrecht. É feito um acordo que envolvia o clube, a construtora e o governo, por meio da Caixa Econômica Federal e do BNDES. Assim, havia dinheiro e motivação política. O estádio fica pronto em 2014, sendo usado na Copa do Mundo, deixando um custo de quase 1 bilhão de reais, tudo sob a forma de financiamento. Na estrutura de financiamento da obra, existia a previsão de que a dívida seria paga com receita de bilheteria e uso da arena. Como a receita ficou abaixo do previsto, foi insuficiente para cobrir as parcelas da dívida.

Em 2019, diante da clara impossibilidade de pagar o estádio com a geração de receita, o Conselho Deliberativo do Corinthians cria uma comissão para avaliar os custos da obra. A comissão aponta R$ 1,03 bilhão em dívidas com a Odebrecht. O clube contesta a legitimidade de parte da dívida e busca alternativas. Para os representantes do clube, não parecia razoável nem correto que a construtora mantivesse em seu balanço os créditos nesse valor, já que não havia perspectiva de quitação — a única fonte de recursos eram as receitas da arena, muito abaixo do esperado. Na Odebrecht, pela prudência contábil, não havia certeza do recebimento e, por esse motivo, não registrava passivo no Corinthians.

Mesmo um acordo de venda do nome, com validade de vinte anos, não foi suficiente para mudar a viabilidade do estádio. Há uma negociação, entre 2021 e 2022, com a Caixa.

Uma campanha de arrecadação entre a torcida conseguiu levantar, inicialmente, um valor razoável, mas ainda bem distante da dívida com o banco federal. Mesmo com a volta ao poder do presidente torcedor, que agora parece menos interessado nas coisas do futebol, a dívida permanece. O estádio é um ativo do clube e seu principal patrimônio. Mas o passivo é grande, e a desorganização administrativa do clube, com denúncias, não ajuda. Regularmente, surge a possibilidade de suspender os pagamentos para pressionar uma renegociação com termos mais favoráveis.

O caso mostra uma situação interessante sobre ativar ou não um determinado recurso econômico - no caso do time de futebol. E também sobre o reconhecimento, por parte do financiador, da dívida e como, ao eventualmente não lançar no balanço, o fato pode dar margem para um eventual calote da parte do time.  

Rir é o melhor remédio

 

Economia de tempo

07 outubro 2025

O que os humanos querem?

Lendo Robin Hanson, What do Humans Want?, o mundo terá que escolher objetivos para atribuir aos governos. Esses objetivo devem ser explícitos e mensuráveis, mas provavelmente não seria o PIB ou inflação. Hanson pesquisou entre as pessoas e encontrou cinco metas bastante diferentes que foram colocadas no topo: liberdade, felicidade, saúde, significado e vitalidade. Mas não respeito e prazer.

(Aqui uma pequena observação: há uma discussão sobre o foco de Hanson no novo livro de Nate Silver, No Limite, e o seu racionalismo)

O interessante é como a mensuração dos governos, por parte da contabilidade, estão afastados dessas metas. E não vejo nenhum movimento nesse sentido. Talvez o foco de Hanson esteja muito fora da realidade. Ou então, os reguladores estão simplesmente ignorando o que as pessoas querem.

06 outubro 2025

Poema com chave de fenda


Como toda IA de aprendizado profundo, ele vasculha a base disponível (aqui, textos “raspados” de fontes on-line) em busca de correlações e padrões. Se você pedir um soneto de amor, é provável que apareçam mais palavras como “para sempre”, “coração” e “abraço” do que “chave de fenda” (a menos que você peça um soneto sobre uma chave de fenda — e sim, admito que acabei de fazer isso; o resultado não foi bonito). O algoritmo não tem noção de que “amor” e “abraço” são semanticamente relacionados. O impressionante no ChatGPT é como ele consegue não apenas suavizar a sintaxe nessas associações de palavras, mas também criar contexto. Acho improvável que “Você é o parafuso que me mantém firme” já tenha aparecido em um soneto escrito por um humano (e por boas razões) — mas ainda assim me impressiona que se possa entender aonde ele quer chegar. (O ChatGPT também faz trocadilhos, embora eu assuma a culpa por esse.) (...)

Se o ChatGPT produz uma redação escolar crível, é porque estamos propondo aos alunos uma tarefa equivalente: entregar fatos geralmente aceitos, com alguma aparência de coerência. A redação estudantil já tende a ser formulaica a um grau quase algorítmico, codificada em siglas: PEE(L) — Ponto-Evidência-Explicação-(Ligação), ou PEEA(C) — Ponto-Evidência-Análise-(Contexto). Não só se diz aos alunos exatamente o que colocar e onde, como eles correm o risco de perder pontos se se afastarem do modelo. A educação atual recompensa a capacidade de argumentar por linhas previsíveis. Há alguma lógica nisso, assim como estudantes de arte vão a galerias para copiar grandes obras, aprendendo as habilidades sem a exigência pesada e irreal de ter que ser original.

Mas é só isso que queremos? Rowsell diz que é difícil para professores ou educadores encarar a questão, já que as engrenagens dos sistemas educacionais costumam continuar girando simplesmente porque “sempre fizemos assim”. Um mergulho no ensino da caligrafia cursiva, por exemplo, revela que não há justificativa clara além da tradição. Mas talvez agora seja a hora certa de fazer essa pergunta difícil.

(...) E, assim como calculadoras eletrônicas liberaram tempo e espaço mental antes monopolizados por aprender logaritmos para multiplicações complexas, grandes modelos de linguagem podem libertar alunos de ter que dominar minúcias de ortografia, sintaxe e pontuação, para que possam focar nas tarefas de construir um bom argumento ou desenvolver ritmo e variedade nas frases.

A ausência de imaginação, estilo e flair torna, por sua vez, os grandes modelos de linguagem nenhuma ameaça aos ficcionistas: “É a dimensão estética da escrita que é realmente difícil para uma IA emular”, diz Rowsell. Mas é justamente isso que pode torná-los uma nova ferramenta importante.

Por exemplo, suspeito que ajudaria os alunos a ver o que faz uma história ou um ensaio ganhar vida se eles tivessem que melhorar a produção chocha do ChatGPT. Talvez, de modo semelhante ao que alguns músicos fazem usando IA geradora de música como fonte de abundante matéria-prima, grandes modelos de linguagem possam fornecer germes de ideias que escritores podem peneirar, selecionar e lapidar.

Aqui, como em outros lugares, a IA nos serve de espelho, revelando em suas limitações o que não pode ser automatizado nem algoritmizado — em outras palavras, aquilo que constitui o núcleo da humanidade.

 

 

  

Emprego e IA: mais evidências


Uma nova pesquisa da Yale’s Budget Lab (via aqui) analisou dados dos últimos 33 meses desde o lançamento do ChatGPT e comparou grupos de trabalhadores com diferentes níveis de exposição à IA — alta, média e baixa — para verificar mudanças na composição do mercado de trabalho. Surpreendentemente, não encontraram diminuições nos grupos mais expostos: as proporções permaneceram estáveis. A velocidade de mudança no mercado de trabalho durante esse período se assemelha às transformações desencadeadas pela adoção de computadores nos anos 1980 e pela explosão da internet nos anos 1990, sugerindo que a IA ainda não provocou uma disrupção além dessas ondas anteriores. Ao comparar a composição ocupacional entre jovens recém-formados e adultos mais velhos, também não foi observada grande diferença, o que indica que a IA até agora não alterou significativamente trajetórias de carreira. Os pesquisadores concluem que o impacto da IA no emprego permanece especulativo e não demonstrou até agora efeitos substanciais em nível macro.  

Disputa judicial entre Ordem dos Contabilistas de Portugal e DigitalSign


O DIAP (Departamento de Investigação e Ação Penal) em Portugal abriu um inquérito-crime contra a Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC), o que correspondente ao CFC de lá, após uma queixa da empresa DigitalSign. A controvérsia gira em torno do software TOConline, ferramenta de contabilidade, faturação e gestão disponibilizada pela OCC. Segundo a DigitalSign, a OCC estaria a faturar diretamente para empresas — e não apenas aos contabilistas —, o que configuraria “desvio de clientela” e atuação comercial indevida por uma associação profissional pública. A queixante acusa ainda a OCC de emitir certificados digitais não qualificados atrelados ao software, sem credenciamento, e de ferir seus próprios estatutos ao comercializar serviços com fins lucrativos. Em resposta, a Bastonária da OCC rejeitou qualquer ilegalidade, sustentando que o TOConline é destinado aos contabilistas certificados, que depois o disponibilizam aos seus clientes.

Fluência Digital


Esse parece um daqueles termos surgidos de uma empresa de consultoria. Mas não deixa de ser interessante, já que usamos fluência para tratar de línguas, mas aqui, com a palavra digital, adquire a conotação de domínio de instrumentos tecnológicos. 

A fluência digital seria a capacidade de compreender, integrar e aplicar recursos digitais de forma estratégica, transformando processos e ampliando resultados. Nas organizações, significa alinhar liderança e equipes em uma linguagem comum sobre tecnologia, estimular uma mentalidade inovadora e criar uma cultura de aprendizado contínuo. Não é usar softwares ou inteligência artificial: é preciso entender suas possibilidades, riscos e limitações. 

Empresas digitalmente fluentes conseguem responder com agilidade às mudanças, gerar valor sustentável e aumentar sua competitividade em um mercado cada vez mais dinâmico e conectado. 

Na contabilidade inclui a automação de tarefas operacionais, como conciliações, mas também o uso de IA para previsões, por exemplo. 

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