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Mostrando postagens com marcador privatização. Mostrar todas as postagens
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02 setembro 2012

Produtividade para todos


Produtividade para todos
Autor: Raul Velloso, César Mattos, Marcos Mendes, Paulo Freitas
Valor Econômico - 21/05/2012

O governo tem buscado proteger a indústria. São isenções tributárias seletivas, barreiras à concorrência de importados, permissão legal para se pagar mais por produtos nacionais em licitações públicas, exigências de alto coeficiente de insumos nacionais em grandes empreendimentos, como o pré-sal e a telefonia móvel 4G, além de crédito subsidiado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Ao adotar essas políticas o governo está dizendo que vale a pena pagar mais caro por produtos nacionais de pior qualidade para preservar a indústria nacional. Os maiores beneficiários dessa política são parcelas específicas da população: empregados, proprietários e acionistas das empresas protegidas, sob a forma de salários e lucros mais altos. Temos, assim, claramente, benefícios privados e custos socializados.

Quando analisamos a política do governo federal em relação às concessões de infraestrutura o discurso governamental muda completamente. O argumento passa a ser o de que é preciso oferecer estradas, portos, aeroportos e ferrovias ao menor custo possível para toda a população. Nesses casos, não se está disposto a aceitar que a sociedade "pague mais caro", para ter expansão rápida e de qualidade na infraestrutura.

Vimos isso no caso das concessões rodoviárias de 2007, em que as regras de leilão geraram pedágios baratíssimos. O fenômeno se repetiu no leilão dos aeroportos ao final de 2011 quando, em nome de estimular o máximo possível de concorrência, o governo fixou normas muito brandas de qualificação técnica, o que resultou em forte concorrência e altos ágios pagos pelos vencedores.

A princípio, esses seriam resultados fantásticos. Os usuários seriam contemplados com pedágios rodoviários baratos e com maiores investimentos do governo nos aeroportos que continuam sob controle estatal, cujo financiamento se daria com o dinheiro dos ágios dos leilões dos aeroportos mais rentáveis.

Na prática, contudo, nas estradas de pedágio barato os investimentos realizados após cinco anos de concessão estão muito aquém do que fora inicialmente previsto, resultando em estradas ruins e acidentes em alta. As tarifas, que deveriam subir de acordo com a variação do IPCA, sofreram reajustes bem acima da inflação.

Nos leilões de aeroportos, os vencedores foram operadores aeroportuários sem experiência na gestão de grandes aeroportos e empresas com histórico não muito recomendável em outras concessões similares. Isso permite antever problemas futuros. O que teria dado errado?

A questão é que a regulação de serviços públicos concedidos enfrenta um conhecido dilema entre: 1) estimular o empenho do concessionário, permitindo-lhe internalizar parte dos ganhos decorrentes de seus esforços, ou 2) oferecer serviços a baixos custos aos usuários finais, por meio de tarifas baratas ou extração de renda dos concessionários via ágio.

A opção pela primeira hipótese é fácil de justificar. Se os potenciais concessionários se deparam com regras que remuneram adequadamente tanto a qualidade do serviço prestado como a ampliação da infraestrutura e os esforços de redução de custos, eles terão incentivos para serem mais produtivos e cumprirem as metas de investimento e qualidade. Se as regras da concessão não premiarem o esforço, o governo, que não tem como medir o grau de empenho empreendido pelos concessionários, pouco pode fazer, e os concessionários tendem a se tornar mais relaxados.

Ao optar por pedágios baratos (nas rodovias) e por altos ágios (nos aeroportos), o governo sinalizou que não estava disposto a remunerar adequadamente os investimentos na ampliação dos serviços, ou a busca de qualidade e produtividade pelo concessionário.

Esse tipo de sinalização costuma atrair consórcios que já entram no leilão pensando em renegociar os termos do contrato após vencê-lo. Oferecem lances muito competitivos, ganham o certame e, depois, começam a atrasar os investimentos programados, a reduzir a qualidade do serviço e a pedir reajustes tarifários acima da inflação.

O governo pode, a princípio, simplesmente cancelar o contrato e fazer outra licitação, buscando um melhor concessionário. Mas isso tem alto custo. Há um longo processo de preparação da nova licitação, demandas judiciais da empresa destituída por reparação de custos, e prejuízo eleitoral para o governante pela descontinuidade ou má qualidade do serviço prestado. Acaba sendo melhor para o governante - e não necessariamente para a população - renegociar os contratos e ceder às vantagens solicitadas pelo concessionário. O pedágio barato ou o ágio elevado acabam virando serviços de má qualidade, preços crescentes e insuficiente ampliação dos serviços.

Nossa infraestrutura é precária. Necessitamos urgentemente de gerar ganhos de produtividade, para acelerar o crescimento da economia, e o setor de infraestrutura é vital nesse esforço. Nossas agências reguladoras não são suficientemente independentes para impor a ferro e fogo o cumprimento dos contratos. Nosso judiciário não tem tradição de zelar pelo cumprimento de contratos.

Por isso, torna-se inevitável aceitar que os concessionários tenham uma margem de lucro maior. Forçar a mão em favor de tarifas mais baixas ou da geração de ágios para financiar outros investimentos públicos tende a afastar os concorrentes que se recusam a trabalhar com a hipótese de colocar a "faca no pescoço" do governo após o leilão, exigindo renegociações. Aqueles que aparentemente aceitam as regras do jogo o fazem por acreditar que terão cacife político para renegociar o contrato a posteriori e mudar as regras a seu favor.

Ao contrário da política de proteção da indústria nacional, em que os custos são socializados e os benefícios apropriados por poucos, no caso da concessão de infraestrutura vale a pena pagar mais caro. Ou melhor: é imperioso pagar mais caro, porque uma boa infraestrutura beneficiará a todos, mediante fortes externalidades, que aumentarão a produtividade de toda a economia, expandindo a renda e o crescimento. Entre os beneficiários da boa infraestrutura se inclui a própria indústria nacional, que ganhará competitividade de forma sustentável e não apenas artificial.

Autores: Raul Velloso é Ph.D. em economia e consultor econômico.
César Mattos, Marcos Mendes e Paulo Freitas são consultores legislativos e doutores em economia.

27 agosto 2012

O reforço dos aeroportos privatizados


O reforço dos aeroportos privatizados
Cristiano Romero
Valor Econômico - 22/08/2012

Os grupos que vão administrar os três aeroportos privatizados reforçaram suas estruturas com empresas de renome internacional e experiência na gestão de grandes aeroportos. As parcerias podem eliminar o temor de setores do governo quanto à capacidade e competência dos consórcios de gerir os terminais de Juscelino Kubitschek (Brasília), Viracopos (Campinas) e Cumbica (Guarulhos). Em tese, com as mudanças, não há por que duvidar da eficácia do modelo de concessão, que vem sendo atacado em Brasília pelas viúvas do estatismo.

Os consórcios que venceram os leilões de privatização, realizados em fevereiro, só divulgarão os nomes dos parceiros contratados no fim do mês, quando efetivamente começarão a administrar os aeroportos. As associações já foram reveladas ao governo, que vinha exigindo, desde o leilão, o reforço dos grupos. "Não se pode fazer um projeto de concessão e depois ir à praia", justifica um assessor com trânsito no Palácio do Planalto.

(...)O resultado dos leilões de concessão frustrou autoridades, entre elas, a presidente Dilma Rousseff, porque entre os grupos ganhadores da disputa não havia projetistas de grande porte nem operadores renomados. Havia, ainda, a desconfiança de que eles não teriam capacidade financeira para assumir os compromissos firmados - um investimento total, durante o prazo de concessão, de R$ 16,1 bilhões nos três aeroportos.

Logo se descobriu que não haveria restrição financeira porque os grupos depositaram as garantias exigidas e, portanto, estavam aptos a participar da empreitada. Como quaisquer empresas que atuam no país, elas têm acesso, a juros favorecidos, aos financiamentos do BNDES. Ademais, por decisão do próprio governo, a Infraero terá participação de 49% no capital das três unidades, sendo responsável, portanto, por quase metade dos recursos a serem investidos.

Boa parte das queixas contra os consórcios vencedores dos leilões foi alimentada por grandes empreiteiras, derrotadas na disputa. A reclamação não deveria repercutir, afinal, o ágio pago pelos ganhadores ficou bem salgado - 348% acima do preço mínimo. Uma crítica possível é a de que o edital não fixou cláusula de barreira que, na prática, impedisse a vitória dos pequenos operadores.

O problema é que a ideia de que o processo foi um fracasso alimentou, nos últimos meses, a fúria de setores importantes do governo contra privatizações e que tais. Desde então, eles vêm atuando nos bastidores para convencer a presidente Dilma a desistir de conceder ao setor privado aeroportos como os do Galeão, no Rio, e de Confins, em Belo Horizonte.

De forma legítima - os editais e leis existentes permitem isso -, entidades oficiais vinham pressionando os consórcios vencedores, desde o resultado dos leilões, a reforçarem suas estruturas de operação e engenharia. O governo cogitou obrigar os grupos, o que foi evitado para evitar contestação judicial. As empresas acabaram reagindo favoravelmente às reivindicações e, hoje, pode-se dizer que estão prontas para ampliar e administrar, com o apoio de firmas de renome mundial, os terminais de JK, Viracopos e Cumbica.

08 agosto 2012

Privatizem a Petrobrás

A Petrobras possui controle estatal, mas tem capital misto, com milhares de investidores brasileiros e estrangeiros. O uso político da estatal tem custado cada vez mais a esses investidores, cujos interesses são ignorados pelo governo. O prejuízo divulgado na sexta é mais uma prova disso.

O governo mantém o preço dos combustíveis defasado para segurar a inflação, afetando negativamente o lucro da empresa. Além disso, ele demanda grande participação de fornecedores nacionais nos bilionários investimentos da estatal, o que custa mais e atrasa o cronograma. É o uso da empresa para a política industrial de governo, que já arrecada bilhões em royalties e impostos.

Infelizmente, quando o assunto é Petrobras o debate fica tomado pela emoção, sem espaço para argumentos racionais. A esquerda estatizante e a direita nacionalista se unem ideologicamente, alimentadas por muitos interesses obscuros em jogo, e repetem em uníssono que o setor é "estratégico". A Embraer, a Telebrás e a Vale também eram "estratégicas".

Ora, justamente por ser estratégico o setor deveria ser retirado da gestão politizada, ineficiente e corrupta do governo. A exploração do petróleo começou pela iniciativa privada nos Estados Unidos. Desde a primeira prospecção de Edwin Drake em 1859, na Pensilvânia, o setor viu um crescimento incrível com base na competição de várias empresas privadas. O Canadá também conta com dezenas de empresas privadas atuando no setor.

Por outro lado, países como Venezuela, México, Irã, Arábia Saudita, Nigéria e Rússia possuem estatais controlando a exploração de petróleo. Ninguém ousaria dizer que isto fez bem para seus respectivos povos, vítimas de regimes autoritários.

O brasileiro paga uma das gasolinas mais caras do mundo, o país ainda precisa importar derivados de petróleo após décadas de sonho com a autossuficiência, a estatal é palco de diversos escândalos de corrupção, mas muitos ainda repetem, inflando o peito, que "o petróleo é nosso!" Nosso de quem, cara-pálida?

O crescimento da produção de óleo e gás da Petrobras desde que o PT assumiu o governo foi medíocre: somente 2,4% ao ano. Trata-se de um resultado lamentável após tantos bilhões investidos, inclusive com financiamento do BNDES.

A Petrobras, que tinha R$ 26,7 bilhões de dívida líquida em 2007, terminou o primeiro semestre de 2012 devendo mais de R$ 130 bilhões. O endividamento sobe em ritmo acelerado por conta de seu gigantesco programa de investimentos, mas nem os investidores nem os consumidores se beneficiam disso.

A rentabilidade da Petrobras é uma das menores do setor. Seu retorno sobre patrimônio líquido não chega a 10%, metade da média de seus pares internacionais. Os investidores acusam o golpe, e as ações da Petrobras apresentam um dos piores desempenhos no mundo.

Desde 2009, suas ações caíram 5%, enquanto o Ibovespa subiu mais de 40%, e a Vale, mais de 50%. É o governo destruindo o valor da poupança de milhares de pessoas, incluindo todos que utilizaram o FGTS como instrumento para apostar na empresa.

Por que não há maior revolta? Por que não há mobilização pela privatização da Petrossauro, como a chamava Roberto Campos? Parte da resposta é o fator ideológico já citado. Outra parte diz respeito à enorme quantidade de grupos de interesse que mamam nas tetas da estatal.

Seus 80 mil funcionários custaram para a empresa mais de R$ 18 bilhões em 2011, ou quase R$ 20 mil mensais por empregado. Claro que muitos merecem o que ganham, mas como negar o uso da estatal como cabide de emprego para os "amigos do rei"?

Fornecedores nacionais ineficientes ou corruptos também agradecem, pois não precisam competir abertamente no livre mercado. O caminho até a estatal muitas vezes é outro, como comprova o caso do Silvinho "Land Rover", o ex-secretário do PT que ganhou um carro importado de uma empresa fornecedora da estatal.

Artistas e cineastas engajados da "esquerda caviar" também aplaudem a estatal, que destinou mais de R$ 650 milhões para patrocínios culturais de 2008 a 2011. Isso sem falar de blogueiros "chapa-branca", que recebem gordas verbas da estatal. A lista é longa.

Os políticos, então, nem se fala. Quem esqueceu Severino Cavalcanti negociando à luz do dia, em nome da "governabilidade", aquela diretoria que "fura poço"? O ex-presidente Lula era outro que adorava usar a Petrobras para seus fins políticos em parceria com Hugo Chávez.

Só há uma maneira eficaz de acabar com esta pouca vergonha que tem custado tão caro aos investidores da empresa: sua privatização!


Privatizem a Petrobras! - 7 de Agosto de 2012 - O Globo - Rodrigo Constantino

28 maio 2011

Resumo das privatizações

No Brasil, as primeiras privatizações ocorreram a partir de 1987, quando o BNDES privatizou 16 empresas controladas e outrora inadimplentes com o Banco. Por delegação do governo federal, em 1990, o BNDES foi nomeado gestor do Fundo Nacional de Desestatização - FND, depositário legal das ações das empresas incluidas no PND.

As privatizações estaduais começaram a ocorrer a partir de 1996. Quando solicitado, o BNDES forneceu assistência técnica na condução dos processos de privatização estaduais.



Fonte: BNDES

19 maio 2011

Errata: Eletrobras

Errata: Eletrobras – por Isabel Sales

Essa deveria ser a continuação de uma postagem de ontem, porém não a intitularei “Eletrobrás 2” por que houve um erro. Desculpem-nos! Após tanto debate sobre acentuar ou não o nome da empresa, ainda assim erramos e, quem sabe, desmerecemos um tanto do dispêndio da publicidade a respeito da nova marca da Eletrobras.

Segue uma errata então: o correto é Eletrobras e não Eletrobrás. Sentiu a diferença? Marcante, não? Percebemos assim que muitos dos gastos com publicidade para lançar a nova Eletrobras, uma, quem sabe, futura tipo-Petrobrás, foram bem aplicados, não é mesmo? Na mensagem da administração do relatório anual de 2010 a primeira frase afirma: “mais do que uma modificação de forma e de cores, a nova marca da Eletrobras, lançada em 2010, após meses de trabalho integrado envolvendo dezenas de profissionais, simbolizou a reinvenção da empresa, cada vez mais preparada para os novos tempos”.

Vamos aproveitar essa “errata”, para acrescentarmos dados a outros pontos mencionados ontem. Comecemos pelo [1] em que afirmamos “É estranho isto, já que uma situação tão grave não surge de repente. E os anos anteriores?”. Esse comentário se referia à frase em que pela primeira vez os auditores foram taxativos em relação a um rombo entre passivos e ativos circulantes das empresas distribuidoras do sistema.

Mas graças ao Google (novo pai dos burros) descobrimos que não, não foi a primeira vez que perceberam que a Eletrobrás apresenta risco de continuidade. Vejam só:

- Há um “formulário de referência” publicado pela Eletrobrás em 30 de junho de 2010, disponível aqui, que na página 172, tratando sobre o exercício social de 2007, afirma: “foram apresentados [pelos auditores independentes] parágrafos de ênfase relatando sobre o risco de continuidade operacional das subsidiárias de nossas controladas Eletronorte, Manaus Energia e Boa Vista Energia, e também sobre a continuidade de nossa controlada Eletroacre. Sobre o tema, a Companhia garante a continuidade operacional de tais investidas por meio de aporte de recursos financeiros”.

Na página 174, sobre o exercício social de 2009 notem os parágrafos de ênfase emitidos pela auditoria independente: “(...) a Companhia mantém provisão para perdas em adiantamentos para futuro aumento de capital em determinadas empresas controladas do segmento de distribuição de energia no montante de R$ 1.858.603 mil, sendo apresentada ainda provisão para passivo a descoberto no montante de R$ 53.660 mil. As empresas vêm apurando prejuízos repetitivos em suas operações, sendo que as informações financeiras dessas controladas foram elaboradas de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil aplicáveis a companhias em regime normal de operações. Os planos da administração com relação ao equacionamento financeiro das referidas empresas incluem o processo de capitalização de dívidas e de adiantamentos para futuro aumento de capital ainda a ser efetivado, conforme mencionado na nota explicativa 42. As demonstrações financeiras não incluem quaisquer ajustes em virtude dessas incertezas”.

Na página 176 (ainda sobre o exercício social de 2009), a Eletrobrás, por sua vez, afirma que: “No que diz respeito ao risco de continuidade operacional de nossas empresas distribuidoras de energia, a Administração garante a continuidade dessas empresas em função de aporte de recursos financeiros e através de um plano de reestruturação dessas companhias”.

Legal. A auditoria vê risco de continuidade, mas a administração da Eletrobras garante a continuidade das empresas. Mas a que custo? E até quando? Vocês se lembram da postagem “energia cara tira indústrias do Brasil”? Pois é! E vocês se lembram da reportagem que saiu na The Economist, edição impressa de fevereiro, sobre o apagão brasileiro? Disponível em português aqui no sítio de notícias do UOL há referências sobre o Brasil ter que investir dinheiro da iniciativa pública e privada para conseguir suprir os problemas e a demanda por energia. E aqui no Estadão falando sobre a energia elétrica no Brasil já ser 2/3 mais cara que nos Estados Unidos, dentre outros fatos que complicam o sistema de distribuição de energia pelo Brasil.

Isso nos traz ao item [2] da postagem de ontem "Já é um avanço esta constatação. Mas será que resolve o problema?" que se refere ao seguinte trecho da reportagem do Valor Econômico: "Esse tipo de concessão não é para ser pública, a não ser que se crie uma cultura, que toma um longo prazo. Todos do setor sabem disso, o presidente da Eletrobras sabe, o governo sabe e os políticos estão começando a perceber.".

Acho que vou criar dissabores ao afirmar isso, mas a verdade é que eu sou a favor da privatização (acho que meu professor, o Dr. Carlos Alberto Ferreira Lima, tentará alterar a nota que recebi em sua matéria e me reprovar caso leia essa postagem). Mas para você, meu querido professor, e para todos os que pensarem em me bloquear no twitter, indico a postagem: Defesa da Privatização na qual se afirma - Não é função do governo fazer um pouco pior ou um pouco melhor o que os outros podem fazer, e sim fazer o que ninguém pode fazer, dentre outras coisas.

Além disso, tempos atrás tive a oportunidade de auxiliar os professores Pedro Oliveira e Paulo Lustosa em uma pesquisa sobre a privatização da Vale que mostrou melhoria na eficiência produtiva no período após a privatização. Na postagem “Brasil, Economia e Governo” destacamos um link para a resposta à pergunta “valeu à pena privatizar a Vale”? Na reportagem são levantados vários pontos contra e a favor, mas no fim do dia a conclusão é de que hoje temos sim uma empresa com mais valor.

A Eletrobras poderia ser uma ótima empresa, como ameaçaram transformar, mas acho que com a mentalidade estatal nos próximos anos pode até haver melhora, mas em uma quantidade sem importância. Pra você isso é o suficiente? Participe nos comentários.

03 novembro 2010

GM Privatizada

O governo americano vai reduzir sua participação na General Motors Co. para menos do simbolicamente importante patamar de 50% quando a montadora reabrir seu capital este mês, segundo dados divulgados pela companhia, mas vai ser difícil para os Estados Unidos saírem do investimento no azul.

A abertura de capital deve reduzir a fatia do governo para 35%. A GM prevê que seu valor de mercado ficará, a princípio, entre US$ 50 bilhões — mais ou menos igual ao da Ford Motor Co., que tem sido solidamente lucrativa — e US$ 60 bilhões, previram pessoas a par do assunto.

Os detalhes do plano ainda não haviam sido divulgado pela montadora até o fechamento desta edição. Também segundo pessoas a par do assunto, a GM tem cerca de US$ 50 bilhões em créditos fiscais derivados de prejuízos passados e que podem ser usados pela montadora para evitar pagar imposto de renda nos EUA, possivelmente por vários anos.

Esse tipo de crédito é muito usado por empresas.

Antes de a GM passar por uma recuperação judicial, ela acumulou os créditos porque estava contabilizando prejuízos enormes. Em geral, os créditos não sobrevivem a concordatas, mas as empresas que receberam dinheiro do governo americano na crise recente podem lançar mão deles.

Isso pode ser mais um atrativo para os investidores. E, para o governo americano, é bom que eles estejam bem animados quando a GM voltar a ser negociada em bolsa.

Para o governo sair do investimento sem perdas, a ação tem de subir mais de 60% em relação a seu nível inicial, para cerca de US$ 50 cada. O plano para a oferta pública inicial antevê que as ações sejam cotadas entre US$ 26 e US$ 29 cada, disseram pessoas familiarizadas com o plano.

Sob o plano, o Tesouro americano venderia US$ 7 bilhões das ações em seu poder, reduzindo sua fatia de 61% para 35% — uma redução maior do que vários observadores esperavam. O fundo do sindicato de metalúrgicos UAW, que paga pela assistência médica a aposentados, venderia US$ 2 bilhões de suas ações, enquanto Canadá e Ontário despejariam cerca de US$ 1 bilhão de suas ações.

O plano inclui um desmembramento que iria triplicar, para 1,5 bilhão, o número de ações ordinárias da GM disponíveis. "Warrants", ou derivativos que dão o direito de comprar ações a um preço e prazo específicos, elevam o total para 1,8 bilhão.

Detalhes da oferta estavam para ser entregues à SEC, a comissão de valores mobiliários americana, ontem no fim da tarde. Hoje, a GM deve lançar um "road show" para promover a operação a possíveis investidores.

Executivos da GM vão se dividir em dois grupos para vender a emissão. Um grupo vai passar dois dias em Nova York esta semana, enquanto o outro vai para Toronto, segundo pessoas a par do plano. No road show, a GM provavelmente terá de responder a questões difíceis sobre a inexperiência de sua diretoria, liderada por Dan Akerson, buracos em seus planos de produtos e o papel que o governo americano terá em suas operações — questões vistas como os principais riscos para o sucesso da GM no longo prazo.

O governo Barack Obama pretende recuperar os US$ 49,5 bilhões em verbas públicas que despejou na montadora. Críticos se referem à montadora como "Government Motors", e a participação estatal tem prejudicado a companhia aos olhos de compradores de carros.

Na semana passada, a GM retornou US$ 2,1 bilhões ao governo dos EUA, levando a US$ 9,5 bilhões o total que já devolveu, segundo o Tesouro.

O Tesouro está sob pressão para satisfazer as expectativas de que começaria a vender sua participação em 2010, embora as condições do mercado e da indústria automobilística sejam menos do que ideais para uma grande abertura de capital.


GM prepara volta à bolsa com redução da fatia do governo - 2 Nov 2010 - The Wall Street Journal Americas - Sharon Terlep e Randall Smith

19 outubro 2010

Defesa da Privatização

“Não é função do governo fazer um pouco pior ou um pouco melhor o que os outros podem fazer, e sim fazer o que ninguém pode fazer” (Lord Keynes)

(...) A ideia de um Estado-empresário vem de longe, mas não é difícil entender por que as estatais acabam mais ineficientes que as empresas privadas: faltam-lhes os mecanismos adequados de incentivo. As empresas privadas precisam oferecer bons produtos para sobreviver, e isso coloca o consumidor no topo das prioridades. O escrutínio dos sócios em busca de bons retornos garante a eterna busca por eficiência.

O mesmo não ocorre nas estatais. Seus recursos vêm da “viúva”, e as empresas acabam atendendo aos interesses dos políticos e seus aliados. Costumam virar palco de infindáveis casos de corrupção. Enquanto os acionistas privados focam no longo prazo, pois seu patrimônio depende da capacidade futura de lucro, os políticos pilham as estatais de olho nas próximas eleições. Como Erenice Guerra sabe, o loteamento das estatais é prática recorrente no país.

Quem lava um carro alugado? Cuidamos melhor daquilo que é nosso. É natural que as empresas privadas, portanto, sejam mais bem administradas que as estatais. O histórico delas oferece farta evidência disso: empresas paquidérmicas, ineficientes, deficitárias, verdadeiros cabides de emprego. As raras exceções comprovam a regra.

Os maiores gargalos da economia estão justamente nos setores dominados pelo Estado: portos, aeroportos, estradas. Coincidência? Claro que não. Para quem ainda não está convencido, o livro “A guerra das privatizações”, de Ney Carvalho, é leitura bastante recomendável. Mostra as origens do estatismo e como as privatizações a partir de 1990 foram essenciais para o avanço do país. Geraram mais empregos, riquezas e impostos. Só a Vale pagou quase R$5 bilhões de imposto de renda em 2009, o suficiente para meio Bolsa Família.

(...) O que explica, então, esta aversão à privatização? Usiminas, CSN, Embraer, Banespa, Telebrás, Vale, a lista de casos de sucesso é extensa, e ainda assim não são poucos os que sentem asco ao escutar a palavra. Ideologias demoram a morrer, e conquistam seguidores mais pelas emoções que pela razão. O tema assumiu um tom dogmático, alimentado por uma intensa propaganda enganosa digna de Goebbels. O PT explora isso.

O casamento entre o nacionalismo e o socialismo pariu esta idolatria ao atraso. O uso do termo “estratégico” alimenta a retórica dos que lutam contra o progresso. Todo setor passa a ser estratégico, só não se sabe para quem. Além disso, controle estratégico não é sinônimo de gerência governamental. Costuma ser o contrário.

(...) A recém-nascida OGX, de Eike Batista, já vale a quinta parte da Petrobras, que perdeu mais de 30% de seu valor este ano. É o custo político afetando milhares de investidores que apostaram na estatal por meio do FGTS, por exemplo. Enquanto isso, o presidente da empresa parece mais preocupado em fazer campanha eleitoral, deixando transparecer a apropriação partidária da estatal. Os petistas levaram a sério o slogan “o petróleo é nosso”. O povo, entrementes, paga um dos preços mais altos do mundo pelo combustível.

Privatizar não é pecado; ao contrário, é crucial para uma economia dinâmica e moderna, liberando o Estado para focar em suas funções precípuas. O mal do PSDB não é ser privatista, mas ser pouco privatista!


Em defesa da privatização - 19 Out 2010 - O Globo - RODRIGO CONSTANTINO (economista)

23 janeiro 2008

Externalidades, Reação a incentivos e outras questões

A privatização de rodovias é uma questão interessante de ser analisada. Uma das regras básicas da economia é que as pessoas reagem a incentivos. Quando se privatiza uma rodovia, os motoristas tendem a reagir ao pagamento de pedágio através da busca de uma alternativa disponível grátis. Como estas alternativas são de estradas em condições físicas ruins, a conseqüência não prevista (ou seja, externalidade) da privatização é a possibilidade de um aumento nas mortes no trânsito nas outras rodovias. Uma alternativa seria a cobrança para todas as rodovias; em outras palavras, privatizar tudo. Através de aparelhos GPS a cobrança seria relativamente fácil. Esta cobrança seria muito mais justa do que a situação atual, onde mesmo quem não usa as rodovias paga por sua manutenção.

13 fevereiro 2007

Onde você estava ...

Em entrevista do jornal Gaceta de los Negocios de hoje César Maia afirmou sobre sua passagem no Chile, no tempo de exílio:

Entonces trabajaba haciendo la contabilidad de empresas de materiales de construcción, y una parte consistía en poner las empresas en un punto más bajo del equilibrio y así facilitar la nacionalización. El Gobierno acababa presionando el mercado para promover la intervención. Así que cuando salí de Chile me sentía más keynesiano que marxista.

27 outubro 2006

Privatização

Os nossos candidatos fazem questão de afirmar que não favoráveis a privatização. Entretanto, o lance da Vale nesta semana mostrou que a agilidade de uma empresa privada é fundamental nos dias atuais. Ao mesmo tempo, a permanente pendência da Petrobrás na Bolívia - e todos sabemos que ela irá perder ainda mais do que já perdeu com a vitória de Lula no segundo turno - mostra como a política pode influir de forma significativa nas estatais.

O artigo a seguir, do Estado de hoje (27/10/2006, p. B3) mostra que as empresas que foram privatizadas geraram desemprego para os apadrinhados e geraram emprego para os trabalhadores.

Empresa privatizada criou mais empregos

Além de mais eficientes, elas têm mais empregados hoje, diz estudo

Cleide Silva

Grandes empresas brasileiras que foram privatizadas nos anos 90 melhoraram a rentabilidade e a eficiência operacional, sem que isso tenha provocado redução no número de empregados. Pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) envolvendo 13 companhias constata resultados financeiros e operacionais melhores do que quando eram estatais.

A privatização é um dos temas principais na reta final da campanha dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin à Presidência da República. Lula insiste no discurso contrário à venda das estatais e Alckmin, embora defenda o processo, também afirma que não promoveria privatizações. Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma autocrítica ao seu partido, o PSDB, que, em sua opinião, deveria ter sido mais veemente na defesa das privatizações realizadas pelo seu governo.

O estudo coordenado pela Escola de Administração de Empresas da FGV levou em conta três balanços das empresas anteriores e posteriores à privatização e comparou os resultados em relação aos setores em que atuam. Para William Eid Junior, um dos economistas responsáveis pelo trabalho, as discussões atuais estão muitos voltadas a 'achismos', mas os dados mostram que o País e a sociedade foram beneficiados.

Foram analisados dados como margem líquida, retorno sobre ativos e sobre o patrimônio líquido, receita operacional líquida por empregado, lucro líquido por empregado, investimento sobre vendas e sobre ativos, receita operacional líquida, porcentagem do número de empregados no setor correspondente, endividamento total e de longo prazo e pagamento de dividendos.

No caso da margem líquida - o quanto o lucro representa das vendas -, houve melhora para a maioria das empresas. A Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), por exemplo, apresentava margem negativa de 11,3% entre as empresas siderúrgicas. Depois da venda, passou a ser 15,5% positiva (ver quadro). 'As empresas passaram a ser melhor geridas', diz Eid.

O retorno sobre ativos mostra que os acionistas também passaram a receber mais. No caso da Acesita, passou de 2,75% negativos para 4,1% positivos. Na Fosfértil, saltou de 1,18% negativos para 6% positivos. Outro dado de destaque apontado por Eid é o porcentual de empregados por setor, que não apresentou queda na maioria dos casos.

Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - que fez um levantamento próprio sobre os resultados da privatização -, vê como retrocesso a paralisação do processo de desestatização. Ela acredita que falta esclarecimentos à população em geral sobre os benefícios do processo. Pesquisa divulgada ontem pelo Ipespe/Valor mostra que 70% em um total de mil pesquisados desaprovam a privatização de grandes empresas.

Ela também desmistifica o discurso de desemprego pós privatização e cita o exemplo da Companhia Vale do Rio Doce, que tinha 11 mil funcionários em 1997, ano de sua venda, e hoje tem tem 44 mil empregados diretos e 93 mil indiretos.

Além disso, os investimentos do grupo para o período de 2005 a 2010 devem criar mais 33 mil empregos diretos, além do mesmo número de empregos indiretos, num total de 66 mil postos. A executiva ressalta ainda que o setor de telecomunicações empregava 200 mil pessoas antes de 2000 e hoje os números ultrapassam os 300 mil funcionários.