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26 março 2009

Mercado, Racionalidade e Crise 2

O texto a seguir é uma tradução do Financial Times, comentado na postagem feita aqui.

Crise econômica derruba mitos da teoria financeira
Valor Econômico - 26/3/2009

A crise econômica criou várias subcrises no setor bancário, na área de governança e assim por diante. Mas existe outro queixume sob a superfície: uma crise da teoria financeira.

Vejamos três artigos publicados pelo "Financial Times" na semana passada. O primeiro diz que as autoridades dos Estados Unidos darão aos bancos mais liberdade para avaliar seus ativos financeiros. O segundo diz que a Shell vai gastar um extra de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões para tapar o rombo do fundo de previdência dos funcionários. O terceiro afirma que o ex-presidente da General Electric Jack Welch desistiu de pregar o valor para os acionistas, descrevendo-o agora - no curto prazo e de qualquer maneira - como "uma ideia estúpida".

Os três artigos podem ser remetidos ao mesmo fundamento: a ideia de que o preço de mercado de uma ação ou outro título é de certa forma adequado, ou de outra forma mais adequado do que qualquer outro preço que venham a conseguir.

Isso, por sua vez, repousa sobre a noção, entranhada na teoria financeira no último meio século, das expectativas racionais. Os mercados personificam o balanço das opiniões consideradas e informadas sobre resultados prováveis. Os indivíduos podem ser otimistas demais ou pessimistas demais, mas o mercado não é nenhum dos dois. Os dois se anulam.

Um momento de reflexão nos diz que isso é uma tolice. Tome um único exemplo simples, o dos títulos residenciais "prime" lastreados em hipotecas da Holanda. Eles estão sendo vendidos agora - se você conseguir encontrar um comprador - a cerca de 50 centavos por euro de valor de face. Isso aparentemente implica que 75% dos detentores de hipotecas vão dar calote, e que suas casas vão valer apenas 25% do valor da hipoteca. Como a Holanda perdeu a bolha imobiliária residencial dos últimos anos, ninguém na verdade acredita nisso.

Mas os investidores profissionais, queimados na queda dos mercados, não estão dispostos a apostar seus empregos de que isso é o fundo do poço. Esse medo pode não ser irracional, mas está longe de ser considerado uma opinião estudada.

Isso nos leva de volta às diretrizes emitidas na semana passada pelo Financial Accounting Standards Board dos Estados Unidos (FASB), sobre quando os títulos devem ser marcados a mercado. Em essência, se não há um mercado ativo e há evidências de vendas motivadas por pânico, os títulos podem, em vez disso, serem marcados de acordo com modelos.

A assimetria disso faz pensar. No "boom" pontocom, houve muita compra pressionada de ações da bolha. Assim como aconteceu com os títulos hipotecários holandeses, os investidores em nenhum momento acreditaram nas avaliações do mercado. Mas seus empregos estavam em jogo do mesmo jeito.

A diferença, é claro, é que num mercado em uma fase de alta irracional sempre há giro, enquanto que, numa fase irracional de baixa, não. Portanto, é quase uma ordem contabilizar lucros quando uma ação passa de US$ 10 para US$ 100, mas não perdas quando elas despencam para US$ 1 - como aconteceu com algumas ações do bolha pontocom.

A falta de lógica vai mais adiante quando comparamos o exemplo da Shell. Alguns bancos podem estar hoje de fato insolventes. Se o pior acontecer, seus ativos serão vendidos a preços de mercado, sendo isto justo ou não.

Mas a Shell não está insolvente e seu fundo de pensão terá décadas para se ajustar antes de pagar boa parte de seus benefícios. O número de déficit hoje pode ser uma informação interessante para os investidores. Por que isso deveria exigir um desvio do tão necessário fluxo de caixa da empresa neste momento, é uma questão diferente.

Isso vale para Welch. A administração baseada no valor criado para o acionista - ou baseada no valor, no retorno total para o acionista, ou o que quer que seja - se tornou popular na década de 1980.

Enquanto teoria, ela foi criada sob medida para uma fase de alta do mercado. O sucesso administrativo - e as recompensas - eram medidos pela soma dos ganhos de capital e dividendos. Em outras palavras, ela dizia respeito principalmente ao preço das ações.

A doutrina das expectativas racionais dizia, é claro, que se o preço das ações de uma companhia caía, aquilo somente podia estar acontecendo porque suas perspectivas haviam piorado. A dedução lógica - de que, num mercado em baixa sustentado, todos os administradores devem ser tolos juntos - não foi invocada.

Mais uma vez, essa falta de lógica pode ser levada um estágio adiante. Se o trabalho dos administradores era aumentar o preço das ações, seus objetivos eram os mesmos dos acionistas. Mas, embora os acionistas obviamente soubessem bem menos coisas sobre a companhia, eles ainda eram conclamados a exercer uma maior influência.

Agora, ao que parece, este não é mais o trabalho dos administradores. Portanto, os acionistas, cujos objetivos não mudaram, sabem ainda menos sobre o que a administração deveria estar fazendo. Mesmo assim, eles são exortados por várias partes - incluindo os governos - a enfrentarem a crise exercendo ainda mais influência. Vai entender!

Minha conclusão com tudo isso é a que eu já afirmei antes nesta coluna: é melhor não saber nade de alguma coisa, do que saber um pouco.

Nos anos de alta do mercado, era certo que os preços das ações carregavam informações únicas e objetivas. Essa noção, ao que parece agora, era uma mera confirmação agradável do que estava acontecendo.

Por trás disso tudo, estava um grupo de teorias sobre o comportamento racional do mercado que agora viraram poeira. Não está claro o que as vai substituir, mas estamos melhor sem elas do que com elas.

24 março 2009

Matem o mensageiro

Em We Need Honest Accounting, James S. Chanos, no The Wall Street Journal (24/3/2009, p. A17) discute o momento atual da contabilidade dos EUA. Por um lado, a contabilidade que usa a marcação a mercado (MTM), sob ataque dos bancos e outros lobistas. Mas a crise necessita de transparência. Segundo Chanos, já existe uma história contábil onde o setor financeiro influencia as mudanças. Mas não reconhecem a culpa dos executivos na crise (decisões relacionadas ao risco, estratégias de financiamento etc).

Eles agem com indiferença moral


afirma Chanos. No fundo, o texto de Chanos alerta para questão da responsabilidade do mensageiro (neste caso, o contador).

There is a connection between efforts over the past 12 years to reduce regulatory oversight, weaken capital requirements, and silence the financial detectives who uncovered such scandals as Lehman and Enron. The assault against MTM is just the latest chapter.


Para Chanos, a proposta de 16 de março do Fasb representa o reconhecimento da derrota.

Contabilidade e Crise

Uma entrevista publicada no Cinco Dias, da Espanha, sobre o valor justo, a crise e as incertezas na pesquisa contábil. (Grifo meu)

"El valor razonable no es la panacea de la contabilidad"
Arantxa Corella Madrid
Cinco Días - 24/3/2009 - Nacional - 016

El valor razonable se ha convertido en el gran protagonista de la contabilidad internacional. Sin embargo, los expertos aún analizan la conveniencia de su aplicación. "El valor razonable o de mercado va a estar en la agenda de los investigadores durante mucho tiempo", señala el profesor de contabilidad del IE Business School, Marco Trombetta. Este experto acaba de mantener en la IE University de Segovia un encuentro organizado por la European Accounting Review con otros miembros de la comunidad académica para abordar los cambios que supone la aplicación de las nuevas normas contables internacionales.

Pregunta. ¿A qué conclusiones han llegado durante la celebración del encuentro de la European Accounting Review en el que se han analizado las normas contables internacionales?

respuesta. El tema general de la reunión han sido los problemas de medición de la contabilidad. Hemos hablado de valor razonable, de los efectos de la introducción de las normas internacionales de contabilidad y de los que han tenido sobre los mercados. Se puede decir que se han puesto sobre la mesa algunas precisiones sobre los efectos del uso del valor razonable. Este ha sido, sin duda, el tema que más se ha debatido. En muchos ámbitos existe la idea de que el valor razonable no puede tener nada más que beneficios. Sin embargo, las investigaciones presentadas durante el congreso han evidenciado posibles problemas que puede crear su utilización. En resumen, han surgido en el mundo académico algunas dudas respecto a los beneficios sin cuestión de la aplicación del valor razonable. Y se ha puesto de manifiesto que no hay evidencia clara de que haya habido un efecto claro de su aplicación con la introducción de las normas contables internacionales.

P. ¿Puede ser que al haber coincidido la aplicación generalizada del valor razonable con la crisis sea difícil analizar si resulta beneficiosa o no su aplicación?

r. La crisis está tomando un curso tan excepcional que es verdad que es difícil aislar los efectos de la aplicación de la nueva contabilidad del resto de los problemas. A lo mejor esto es verdad.

P. ¿La foto fija que es la contabilidad habría sido más favorable para las empresas con otros modelos contables distintos al internacional con su valor de mercado?

r. Saber si las cosas podrían haber sido mejor o peor sin valor razonable es un tema muy interesante, tanto desde el punto de vista de los reguladores como de los académicos. No hay una conclusión clara. No podemos decir contundentemente si el valor razonable ha empeorado las cosas o no. Hay posibles argumentos teóricos para sostener la idea de que el valor razonable podría haber amplificado los problemas. Seguramente no causarlos, pero sí amplificarlos en términos de estabilidad del mercado, porque el valor razonable no es la panacea. Hay argumentos teóricos defendibles en este sentido, aunque aún no están testados científicamente porque no ha habido tiempo. La investigación académica siempre va más despacio, pero ya hay publicados estudios en ese sentido.

P. ¿La nueva contabilidad, que es más interpretativa, ha podido incentivar algunos fraudes contables?

r. No creo que exista relación entre la introducción de las normas internacionales y el surgimiento de algunos escándalos. El único problema es que los números contables se basan sobre estimaciones y siempre existe cierta subjetividad. Y si eso se utiliza con efectos perversos, será malo. Pero el problema no está entonces en la contabilidad, sino en la ética con la que se aplica. De hecho, y en hipótesis, dos empresas totalmente iguales podrían ofrecer cuentas diferentes eligiendo opciones distintas entre las que ofrecen las normas internacionales sin necesidad de cometer ningún fraude. La ecuación de que una norma más estricta es una norma mejor, no es cierta.

23 março 2009

Mudanças no Fasb

Decisão do Fasb abre portas para festa dos bancos
Valor Econômico - 23/3/2009

Os bancos pediram aos auditores mais liberdade de movimento na forma como divulgam seus prejuízos para os investidores. Os auditores responderam cedendo-lhes até a alma.

Nesta semana, o Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Fasb) dos Estados Unidos revelou o que pode ser a proposta mais tola e falha em seus 36 anos de história. Caso siga adiante, o Fasb deveria trocar seu nome para Conselho de Padrões de Contabilidade Fraudulenta. É ruim assim.

Aqui está o que o conselho apresentou: a partir deste trimestre, as companhias dos Estados Unidos terão permissão para registrar os números do resultado líquido ignorando declínios profundos e de longo prazo no preço dos valores mobiliários que possuam. Não apenas títulos de dívidas, preste atenção, mas até ações ordinárias (ON, papéis com direito a voto) e outros papéis de renda variável.

Tudo que uma empresa teria de fazer é informar que não pretende vendê-los e que provavelmente não precisaria fazê-lo. Na maioria dos casos, não importaria quanto o valor caiu ou por quanto tempo. De fato, uma companhia teria de admitir estar em seu leito de morte antes que as regras a obrigassem a ter os lucros atingidos.

Portanto, se essas normas tivessem vigorado em 2008, uma empresa com ações da American International Group (AIG) ou da Fannie Mae, por exemplo, poderia excluir inteiramente o declínio do valor dessas ações de seu lucro líquido. Não faria diferença alguma que as empresas tivessem sido arrebatadas pelo governo no ano passado ou que ambas as cotações valessem pouco. A perda ficaria enterrada fora da demonstração de resultados, em uma linha no balanço patrimonial chamada "outros lucros amplos acumulados".

Estes são os resultados que temos quando as pessoas que escrevem os padrões contábeis cedem ante executivos de banco desesperados. E não é mistério por que motivos os três integrantes do Fasb que votaram pela mudança - Leslie Seidman, Lawrence Smith e o presidente Robert Herz - o fizeram. Os dois que se opuseram foram Tom Linsmeier e Marc Siegel.

Desde o início da crise de crédito, os membros do conselho estão sob fogo cerrado do setor bancário e dos membros que este controla integramente no Congresso. A mostra mais recente veio na semana passada, na Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados, onde o deputado democrata Paul Kanjorski e outros parlamentares surraram Herz como a um cachorro. Herz declinou de meu pedido para ser entrevistado. Uma porta-voz do Fasb, Chandy Smith, confirmou a forma como compreendi que a mudança de regra funcionará.

Os bancos querem licença irrestrita para avaliar seus ativos da forma que entenderem adequada e manter as explosivas perdas fora de seus resultados e das exigências de capital. O Fasb vinha mantendo seu terreno, durante a maior parte do tempo. Agora, no entanto, o conselho colocou-se em posição fetal.

Pelas atuais regras, os valores mobiliários recebem diferentes tratamentos contábeis dependendo de como são classificados no balanço patrimonial. Quando rotulados como valores negociáveis, precisam ser registrados com marcação a mercado a cada trimestre, com todas as mudanças fluindo até o resultado líquido. Fora isso, as mudanças de valor não atingem a demonstração de resultados, a menos que os papéis tenham sofrido o que os auditores chamam de "deteriorações que não sejam temporárias".

Embora o termo possa ser incômodo, a ideia é que as empresas tenham de mostrar as perdas no resultado líquido quando não consigam mais fingir que o declínio no valor dos ativos é apenas passageiro. Imagine um homem que recebe pena de 20 anos de prisão. Não é uma sentença permanente. No entanto, definitivamente, não é temporária.

A proposta do conselho joga o antigo princípio de lado. Mesmo se um prejuízo não é considerado temporário, as companhias ainda terão permissão para mantê-lo fora do resultado líquido. Há uma exceção: se uma companhia com títulos de dívidas concluir que parte do declínio deve-se a perdas de crédito, esta porção terá de ser incluída na demonstração de resultados. De outra forma, as perdas ficam de fora.

Vocês sabem como isto vai acabar: os que tiverem dívidas dirão que suas perdas quase sempre decorrem de alguma outra coisa que não perdas de crédito, como risco de liquidez, por exemplo, porque é impossível provar se sua abordagem está certa ou não. Então, os golpes ao resultado líquido serão mínimos. E é exatamente isso o que o Fasb tenta conseguir.

Há algo que os investidores podem fazer para proteger-se: ignorar o resultado líquido e começar a centrar-se no verdadeiro resultado, um termo chamado de "resultado amplo" (comprehensive income, em inglês), que se encontra na conta do patrimônio líquido. A General Electric (GE), por exemplo, divulgou lucro líquido de US$ 17,4 bilhões em 2008 - e um prejuízo amplo de US$ 12,8 bilhões.

Por anos, o Fasb usou o resultado amplo como um aterro para perdas que considerava politicamente radioativas para incluir na demonstração de resultados. Entre estas perdas estavam mudanças no valor dos planos de pensão empresariais, moedas estrangeiras, certos instrumentos de derivativos e valores classificados como disponíveis para venda. É por isso que os investidores deixaram de confiar no lucro líquido.

Já o fizeram com o chamado "Tier One", principal medida do governo para a solvência dos bancos, que ignora montes de perdas e trata alguns tipos de dívidas como se fossem ativos.

Atualmente, os acionistas de bancos estão obcecados com um referencial de capital sem firulas, chamado "capital ordinário tangível" (TEC, na sigla em inglês). O dado deixa de fora ativos intangíveis, como ágio de aquisições passadas, e ações preferenciais, que funcionam como dívidas e precisam ser pagas antes que os acionistas ordinários possam reclamar qualquer participação nos ativos da companhia.

O que é bom para o balanço patrimonial também é bom para a demonstração de resultados. Chega de erros. O resultado líquido está morto.

O Fasb também pode estar, caso siga adiante com isso.

(Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News. As opiniões expressas neste artigo são pessoais.)

19 março 2009

Valor justo

As propostas dos Estados Unidos para relaxar as normas contábeis do valor justo dos ativos poderão alterar as práticas no mundo, depois que o órgão que define os padrões internacionais disse que também discutirá as mudanças.

A contabilidade pelo valor justo exige que as empresas divulguem a maior parte das posições financeiras pelos preços de mercado. Os críticos dizem que a queda dos preços reduziu o lucro dos bancos e minou as reservas de capital.

O Financial Accounting Standards Board dos EUA preparava anteontem a divulgação de um documento que dará a bancos e outras empresas mais liberdade na avaliação dos ativos financeiros.

Mais títulos serão avaliados por modelos de computador, em vez e por preços de mercado, e muitos deverão aumentar de valor. Uma mudança de regra poderá ser implementada já no mês que vem.

O International Accounting Standards Board (Iasb) concordou ontem em submeter os documentos aqueles que seguem suas regras - mais de cem países. Tanto o Iasb como seu congênere americano vinham resistindo às mudanças. Mas as pressões políticas nos EUA levaram às alterações, enquanto o Iasb foi forçado pela Comissão Europeia a amenizar as próprias regras no fim de 2008.

A mudança de regra iminente está atraindo críticas e elogios. "Vinha me perguntando há cerca de dois anos por que eles ainda não haviam feito isso", disse Ed Yardeni, da consultoria Yardeni Research. "A marcação a mercado implica que existe um mercado que fornece informações precisas, mas essa suposição foi por água abaixo."

Mas Shyam Sunder, professor da Universidade de Yale e crítico do valor justo, acha que a decisão foi mal avaliada. "Quando se olha o mercado para decidir as regras, é a mesma coisa que não ter regra nenhuma."

Lynn Turner, ex-diretora da comissão de valores mobiliários americana (SEC), disse: "Eles estão fazendo os padrões contábeis regredir quatro décadas".

Europa também avalia mudança no valor justo
Valor Econômico - 19/3/2009

Oposição a Marcação a Mercado

Segundo Tracy Alloway (A mark-to-market history lesson, 13/3/2009), os membros do partido Republicano dos EUA são contrários a marcação a mercado e afirmam que:

Marcação a mercado (valor justo) é a maior causa do desastre financeiro atual. Ele acelerou o declínio do valor do ativo. (...) Ironicamente, a marcação a mercado não é nova. Desde 1930, contadores e reguladores bancários reconheceram a fraqueza inerente da contabilidade marcada a mercado. Datando de 1938, o Federal Reserve recomendou que os princípios contábeis fossem revistos. Presidente Franklin Delano Roosevelt (FDR) usou este conselho e rapidamente repeliu a marcação a mercado.

(...) O Financial Accounting Standards Board (FASB) reintroduziu caprichosamente a marcação a Mercado em 2007 no esforço de crier mais transparencia.


Aqui um hiperlink sobre a marcação durante o governo FDR.

Fonte: aqui

12 março 2009

Marcação a mercado

A contabilidade marcada a mercado tem sido condenada como responsável pela crise financeira (veja, por exemplo, aqui). Uma informação importante sobre isto:

Dos US $ 8,46 trilhões em ativos detidos dos 12 maiores bancos do KBW Bank Index, apenas 29 por cento está marcado a mercado(...). A General Electric Co., entretanto, disse na semana passada que apenas 2 por cento dos seus ativos foram marcados a mercado na sua filial General Electric Capital Corp, que é semelhante em tamanho ao sexto maior banco dos EUA.


Fonte: Aqui

11 março 2009

GE

(...) No fim de 2008, a GE informou que havia contabilizado US$ 4 bilhões em perdas não reconhecidas de um total de US$ 37 bilhões investidos em prédios comerciais, ou cerca de 11%. AGoldman Sachs e a Blackstone fiveram, respectivamente, baixas contábeis de 25% e 30% em suas carteiras de investimentos imobiliários.

Se a GE fizesse a baixa de 25% na carteira de investimentos imobiliários, isso teria um impacto de US$ 9 bilhões nos lucros e no patrimônio, disseram analistas do UBS em relatório divulgado na terça-feira. No relatório, os analistas disseram que a GE pode precisar levantar capital adicional, em parte por causa de perdas pendentes da carteira imobiliária. A GE reduziu os investimentos imobiliários, mas aumentou os empréstimos para o setor. Por isso, os ativos imobiliários aumentaram US$ 6 bilhões, ou 8%, no ano passado.

A GE informou que não precisaria marcar a mercado seus ativos imobiliários porque eles são investimentos de longo prazo. Ela tradicionalmente compra propriedades, faz reformas e depois as vende.
(...)

Crise de confiança derruba ações da GE; empresa reage em comunicado
Serena Ng, Paul Glader e Lingling Wei, The Wall Street Journal
5/3/2009 - The Wall Street Journal Americas - 1


Observem a contradição do texto (grifo meu).

09 março 2009

Buffett e a Marcação a Mercado

Todd Sullivan, em Buffett Endorses 'Mark-to-Market' as a Producer of Ways to Profit, discute a posição do famoso investidor em relação a marcação a mercado. Na apresentação das demonstrações da sua empresa Buffett afirma que “nos endossamos a contabilidade marcada a mercado”. O mesmo Buffett afirma que melhorar a transparência, um remédio favorito dos políticos, comentaristas e reguladores financeiros - não resolve os problemas com derivativos. Para Buffett não existe mecanismo para descrever e mensurar os riscos dos complexos derivativos. Por isto, segundo Buffett, auditores não pode auditar estes contratos e reguladores não podem regulá-los.

Buffett, segundo conclui Sullivan, acredita que marcação a mercado produz ineficiências no mercado, dando exemplo de um mesmo título que produz diferentes resultados.

06 março 2009

Rir é o melhor remédio

A Fábula das Vacas

Você possui duas vacas.

Você registrou no seu balanço as vacas por $100 cada.

Você notou que as vacas estão definhando. Mas o balanço continua dizendo que elas valem $100.

Felizmente, não existe marcação a mercado, e você não registrou isto.

Suas vacas estão morrendo.

Ainda bem que não se usa valor justo para chamar atenção disto e para não aleardear demais o mercado.

Mas como você sabe que elas não estão produzindo como devia, você decide ajustar seu modelo e marcar as vacas a $98 cada.

Você sabe que o fluxo de caixa do leite irá reverter no futuro próximo.

Mas você precisa de recursos e vai ao mercado. Os investidores dizem que as vacas estão morrendo e já existe um passivo de $200 que corresponde a um empréstimo que você obteve para comprar as vacas.

Você mostra as demonstrações contábeis, onde as vacas estão registradas a $98 cada.

Você pergunta ao governo se ele não quer comprar as vacas por $98 cada.

O governo resiste e finalmente monta um plano, convoca a imprensa e injeta $45 na sua empresa. Em troca, o governo quer os direitos do leite gerado pelas vacas.

As vacas morrem. Sua dívida aumenta para 245. Você não irá comprar novas vacas.

Adaptado: Aqui
via Seeking Alpha

05 março 2009

Marcação a mercado

Marcação de ativos se adapta ao cenário volátil
27 February 2009
Valor Econômico

Agilidade para capturar as mudanças de mercado é o principal objetivo da nova versão das diretrizes de marcação de ativos em fundos de investimento, que acaba de ser divulgada pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), na visão de executivos. "A iniciativa do Conselho de Autorregulação da Anbid visa adequar a metodologia de marcação ao momento atual de mercado, mais volátil", afirma Alberto Elias, diretor da BNY Mellon Serviços Financeiros, uma dos principais administradoras de fundos do Brasil, com mais de R$ 50 bilhões em ativos.

Tanto é que esta é a primeira vez que o documento estabelece um prazo para o uso de cotação de ativos junto ao mercado, de no máximo 15 dias, para o caso de operações de renda fixa privada, acrescenta o superintendente de precificação da BNY Mellon, Sérgio Battaglia. "Todo dia é preciso fazer a atualização dos preços dos ativos, mas a nova versão diz que não se deve usar taxas coletadas há mais de 15 dias."
O documento recomenda ainda o uso como parâmetro para a marcação dos ativos, sempre que possível, de taxas e preços divulgados pela Associação Nacional das Instituições de Mercado Aberto (Andima) ou pelas bolsas. Todo o esforço, continua Battaglia, é para se chegar mais perto do valor justo do ativo diariamente e, com isso, evitar a transferência de riqueza entre os diversos cotistas de um mesmo fundo de investimento. (...)

07 janeiro 2009

Só para lembrar

É interessante ver que o Financial Accounting Standards Board (FASB) interesse em continuar com a contabilidade a valor justo, a despeito das críticas. Não digo que a contabilidade MDM [marcação a mercado] é perfeita – todo método contábil são aproximações e são imperfeitos (...)
Pode estas regras ao ser usadas distorcerem a contabilidade? Claro, no curto prazo. (...) No longo prazo, o fluxo de caixa determina o valor de um negócio.


Mark to Market Accounting: Used with Flexibility, It's a Good Thing
David Merkel - 30/12/2008

02 janeiro 2009

Marcação a Mercado Fortalecida

Segundo notícia da Associated Press, publica no NY Times (S.E.C. Elects to Keep Mark-to-Market Rules, The New York Times – 31/12/2008, Late Edition – Final – 2) os órgãos de regulação dos EUA não irão suspender as regras contábeis que obrigam os bancos a usar os preços correntes de mercado, mesmo que desejem manter os títulos por muitos anos. A notícia baseia-se num relatório da Securities and Exchange Commission que recomenda a marcação a mercado e sugere melhorias.

Mais sobre o assunto, aqui

30 dezembro 2008

Mudanças na Contabilidade dos Bancos

Os bancos irão fornecer detalhes dos lucros e perdas com instrumentos financeiros sob dois sistemas de mensuração, conforme proposta de mudança contábeis (...) . A proposta, tanto do International Accounting Standards Board e da contraparte dos EUA, irá exigir das empresas evidenciar os lucros e perdas que seria relatados se os ativos financeiros fossem avaliados pelos preços correntes de mercado e como se eles fossem reportados pelo “custo amortizado” - uma medida que ignora a volatilidade do mercado.(...)


IASB proposes P&L changes - Jennifer Hughes – 22/12/2008 - Financial Times - Asia Ed1 - 14

28 dezembro 2008

A Expansão da Contabilidade de Marcação a Mercado



Os reguladores contabeis lançou um esforço que podera conduzir na expansão da contabilidade de marcação a mercado, uma prática que muitos bancos dizem que piorou a crise financeira.

O Financial Accounting Standards Board na segunda-feira informou que sua assessoria começou a trabalhar num projeto, o primeiro passo para o processo de padronização, para reexaminar a contabilidade de instrumentos financeiros. Num cenário provável, o uso da contabilidade de marcação a mercado pode ser extendida para uma maior variedade de títulos, com o Fasb considerando um visão mais holística da contabilidade dos empréstimos, derivativos e ações.


Crisis on Wall Street: FASB Studies Expanding 'Mark' Rules
David Reilly – 16/12/2008 - The Wall Street Journal - C3

22 dezembro 2008

Frase

Mr Cox and the accounting profession just cannot admit they are wrong, perhaps because they are understandably reluctant to take responsibility for the consequences of their professional arrogance.

John Dizard, A sound case for moderation in marking to market, Financial Times, USA Ed1, 08

08 dezembro 2008

Futuro da Marcação a Mercado nos EUA

Segundo o Wall Street Journal (Crisis on Wall Street: Mark-to-Market Likely to Remain - SEC Is Expected to Keep Accounting Rule but Seek Ways to Refine Its Use , Kara Scannell, 8/12/2008, C2), apesar da pressão por parte dos lobistas dos bancos e de alguns políticos, a SEC não irá suspender a regra da marcação a mercado, mas aperfeiçoar sua aplicação. Um estudo recomendado pelo legislativo dos EUA ainda está sob a forma de minuta, mas traz como fundamento o “como” aplicar a regra contábil.

25 novembro 2008

Para resolver a crise

Segundo a revista Forbes, 12 passos são necessários para resolver a crise econômica (
12 Steps to Economic Recovery; Has a 12-step recovery program for the economy, Rich Karlgaard, 8/12/2008, Forbes, 29, Volume 182 Issue 12). Existem medidas imediatas, para o próximo ano e para um futuro próximo. A primeira medida imediata é, segundo a revista, admitir nossos erros, que inclui a marcação a mercado:

(...) Immediate Steps

1. Admit our mistakes. Retool mark-to-market accounting rules. Eliminate naked short-selling and reinstate the uptick rule. The damage from these three policy boners has mostly been done, but it would be good to admit our errors and fix them anyway. If our goal was to destroy the banking system as we know it, there was no surer way than to (a) insist on mark--to-market accounting valuations of thinly traded distressed assets during a panic, (b) allow any hedge fund to short bank stocks without borrowing the stock first and (c) let short-selling careen downhill without brakes. That's how a market gets violent short raids. Yet this is exactly what the U.S. government--the FASB, the SEC and the Treasury--allowed to happen throughout 2008. The victims--Bear Stearns, AIG and Lehman Brothers--were cash-flow-positive right up until the point they declared bankruptcy. Did you know that?

19 novembro 2008

Valor Justo e o G-20

Segundo David Katz (G-20 Verdict on Fair Value: Innocent, CFO, 17/11/2008) “os demonstrativos financeiros marcados a mercado não foram citados em nenhuma parte como uma das principais causas do colapso das instituições financeiras.” Os defensores da contabilidade a valor justo estão mais tranqüilos.

A oposição forte estava ameaçando seriamente o FAS 157 do Fasb, uma regra controversa sobre a mensuração contábil. Mas para Patrick Finnegan, “existiu um grande consenso em torno do fato de que a crise não tinha relação com as demonstrações financeiras”.