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30 junho 2014

Afinal, quem são os racistas?




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Alguns anos atrás, uma pessoa disse que, de acordo com as leis da aerodinâmica, um abelhão não pode voar.  Mas os abelhões, alheios às leis da aerodinâmica, vão em frente, contrariam os dizeres dos especialistas, e voam assim mesmo.


Algo semelhante ocorre entre as pessoas.  Enormes e tediosos estudos acadêmicos, bem como melancólicos e sombrios editoriais de determinados jornais, são produzidos às pencas lamentando o fato de que a maioria das pessoas pobres e negras não consegue ascender socialmente, e que isso seria uma fragorosa demonstração de discriminação. 

O curioso é que, em vários países ao redor do mundo, inclusive naqueles países chamados de terceiro mundo, vários imigrantes extremamente pobres, principalmente oriundos da Ásia, não apenas conseguem prosperar mesmo sendo de uma cultura totalmente distinta, como também conseguem enriquecer sem jamais recorrer a favores especiais e a políticas de ação afirmativa.

Normalmente, estes imigrantes asiáticos chegam a um novo país praticamente sem nenhum dinheiro, sem nenhum conhecimento do novo idioma e sem nenhuma afinidade cultural.  Eles frequentemente começam trabalhando em empregos de baixa remuneração.  Mas trabalham muito.  A norma é trabalharem em mais de um emprego.  Trabalham tanto que conseguem poupar e, após alguns anos, utilizam esta poupança para empreender.  Muitos abrem um pequeno comércio, no qual continuam trabalhando longas horas e ainda continuam poupando, de modo que se tornam capazes de mandar seus filhos para a escola e para a faculdade.  Seus filhos, por sua vez, sabem que seus pais não apenas esperam, como também exigem, que eles sejam igualmente disciplinados, bons alunos e trabalhadores.

Vários intelectuais já tentaram explicar por que os imigrantes asiáticos são tão bem-sucedidos tanto em termos educacionais quanto em termos econômicos.  Frequentemente chega-se à conclusão de que eles possuem algumas características especiais.  Isso pode ser verdade, mas seu sucesso também pode ser atribuído a algo que eles não têm: "líderes" e autoproclamados porta-vozes lhes dizendo diariamente que são incapazes de prosperar por conta própria, que o sistema está contra eles, que eles não têm chance de ascender socialmente caso não sigam os slogans repetidos mecanicamente por estes líderes e sociólogos, e que por isso devem se juntar sob o rótulo de "vítimas do sistema" e exigir políticas especiais e tratamento diferenciado.

Vá a qualquer país, seja ele rico ou em desenvolvimento, e pesquise sobre a existência de "líderes" e de grupos de interesse voltados para a promoção de políticas de ação afirmativa para os asiáticos.  Você não encontrará.  Você não encontrará sociólogos dizendo que os imigrantes asiáticos, por serem minoria e por estarem culturalmente deslocados, estão em desvantagem e que por isso o governo deve criar leis de cotas para ajudá-los a ascender socialmente.

Infelizmente, é exatamente esta linha de raciocínio, só que em relação aos negros, que vem sendo diariamente propagada por acadêmicos e sociólogos irresponsáveis.  Eles são a versão humana das leis da aerodinâmica, que dizem precipitadamente que determinadas pessoas não podem ascender e prosperar a menos que haja um empurrão do governo.

Aquelas alegações morais que foram feitas no passado por gerações de genuínos líderes negros — alegações que acabaram por tocar a consciência de várias nações e que viraram a maré em prol dos direitos civis para todos — hoje foram desvalorizadas e apequenadas por uma geração de intelectuais, sociólogos e autoproclamados "líderes" de movimentos raciais que tratam os negros como seres abertamente incapazes de prosperar sem a ajuda destes pretensos humanistas, os quais agem abertamente de acordo com uma agenda política de escusos interesses próprios.

O que é perfeitamente perceptível é que, ao longo das gerações, as pessoas que dizem falar em prol do "movimento negro" sofreram uma mutação de caráter: se antes possuíam uma alma nobre, hoje não passam de charlatães descarados.  Após a implantação definitiva de políticas de ação afirmativa nos EUA, esses charlatães perceberam que era muito fácil ganhar dinheiro, poder e fama ao redor do mundo ao simplesmente se dedicarem à promoção de ações e políticas raciais que são totalmente contraproducentes aos interesses das pessoas que eles próprios dizem liderar e defender.

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No passado, vários outros grupos de imigrantes também representavam minorias que tinham tudo para ser consideradas oprimidas e discriminadas, pois chegavam a outros países quase sem nenhum dinheiro, com pouquíssima educação e com total desconhecimento da cultura local, mas que não obstante ascenderam por conta própria, muito provavelmente porque não foram "privatizadas" por líderes raciais.  Imigrantes e outras minorias que nunca tiveram "porta-vozes" e "líderes" raramente dependeram de subsídios do governo e quase sempre apresentaram altos níveis educacionais obtidos com o esforço próprio.

Grupos que ascenderam da pobreza à prosperidade raramente o fizeram por meio de líderes étnicos ou raciais.  Ao passo que é fácil citar os nomes de vários líderes do "movimento negro" ao redor do mundo, tanto atuais quanto os do passado, quantos são os lideres étnicos que defendem os interesses dos asiáticos ou dos judeus em países em que eles são a minoria?

Ninguém pode negar que há anti-semitismo e que já houve discriminação aos asiáticos.  Sempre houve.  Mas eles nunca seguiram "líderes" cujas mensagens e atitudes serviram apenas para mantê-los presos à condição de bovinos.

Essa postura de dizer aos seus "seguidores" que eles são mais atrasados, tanto econômica quanto educacionalmente, por causa de outros grupos "opressores" — e que, portanto, eles devem odiar estas outras pessoas — tem paralelos na história recente.  Essa foi a mesma motivação utilizada pelos movimentos anti-semita no Leste Europeu no período entre-guerras, pelos movimentos anti-Ibo na Nigéria na década de 1960, e pelos movimentos anti-Tamil, que fizeram com que o Sri Lanka, outrora uma nação pacífica e famosa por sua harmonia intergrupal, se rebaixasse, por influência de intelectuais, à violência étnica e depois se degenerasse em uma guerra civil que durou décadas e produziu indescritíveis atrocidades.

Será tão difícil entender, mesmo com todos os exemplos históricos, que o progresso não pode ser alcançado por meio de líderes raciais ou étnicos?  Tais líderes possuem incentivos em demasia para promover atitudes e políticas polarizadoras que são contraproducentes para as minorias que eles juram defender e desastrosas para o país.  Eles se utilizam das minorias para proveito próprio, atribuindo a elas incapacidades crônicas que supostamente só podem ser resolvidas por políticas que eles irão criar.  Eles são os verdadeiros racistas.

15 junho 2014

Manual do mundo: Fotos e história

O pessoal do Manual do Mundo já falou sobre como a forma que estudamos História acaba introduzindo algumas falsas noções em nossas mentes e um dos reflexos dessa incompreensão nos leva a acreditar que estamos muito distantes dos acontecimentos.

Só que, como vimos, os fatos que determinaram o curso da linha do tempo da civilização talvez não estejam tão longe assim de nós, nem cronologicamente, nem geograficamente!

Ilustrando como a história está muito mais próxima do que pensamos, o fotografo Seth Taras desenvolveu em parceria com o canal History o projeto Know Where You Stand, mostrando imagens atuais sobrepostas a fotografias históricas através de montagens.

Para obter o ângulo exato e reproduzir cada foto em seu local original, o artista viajou por diversos lugares históricos. O resultado são imagens chocantes como Hitler em frente à Torre Eiffel durante a Segunda Guerra Mundial, a chegada dos aliados na praia da Normandia, a queda do muro de Berlim, etc.

Confira abaixo:


Quem curte o tema (e tem alguma noção de inglês) vai querer assistir a estes dois vídeos que tentam explicar resumidamente as duas grandes guerras mundiais enfrentadas pela civilização:




04 novembro 2013

História da Contabilidade: O Inicio da Padronização

Na semana passada mostramos como a padronização com empresas de outros países começou a ser discutida no Brasil na década de cinquenta. Os anos 1950s também foram marcados pela tentativa de padronizar diversos setores da economia. Nestes anos, setores como partidos políticos, futebol, hotéis, entre outros.

Conforme mostrado em Niyama e Silva (2013) existem três formas de fazer a regulação contábil: livre mercado, iniciativa privada e setor público. A padronização da contabilidade brasileira era basicamente originária do livre mercado durante o século XIX. Naquele momento, a existência de poucas obras didáticas facilitava o tratamento contábil mais uniforme. O aumento na quantidade de livros de contabilidade, a mudança de influência econômica, a presença de imigrantes com conhecimento contábil, a entrada das empresas de auditoria e a expansão da economia, com a consequente complexidade, foram fatores que aumentaram a diferença na contabilidade das entidades.

A década de cinquenta do século XX apresentou uma tendência à padronização, originária do setor público. Entretanto, antes disto já era possível perceber um avanço neste sentido. Em 1935 Carneiro de Rezende apresenta um projeto no legislativo federal para padronizar a contabilidade das empresas de transportes (1). Nesta mesma época existia um esforço no sentido de padronizar a contabilidade pública (2). Ou dos depositários judiciais (3).

Outro aspecto interessante é que a padronização da contabilidade começou a ser discutida em congressos específicos de diversos setores. Isto ocorreu com hotéis (V Congresso Nacional Hoteleiro, 1952) (4), com empresas de propaganda (I Congresso de Propaganda, 1957) (5), as ferrovias (Primeiro Congresso Pan-americano de Engenharia, 1949) (6) e (7) e as cooperativas (Segundo Congresso Brasileiro de Cooperativismo Ervateiro, 1957) (8).

Em alguns casos, a padronização foi motivada por autoridades governamentais. Este foi o caso que ocorreu em 1947, onde o delegado regional do trabalho de Alagoas designou uma comissão para estudar a padronização dos sindicatos de classe (9). Outro exemplo ocorreu no município do Rio de Janeiro, que estabeleceu, em 1958, um código de contabilidade para empresas de ônibus e lotações através do decreto municipal 13.884 (10). Um ano antes o Conselho Nacional de Petróleo constituiu um grupo de trabalho em 1957, composto por três engenheiros, três economistas e um contador, para elaborar a contabilização do custo industrial dos derivados de petróleo produzidos no Brasil. A designação indicou que a base do estudo seria o Outline of Petroleum Industry Accounting, do American Petroleum Institute (11).

Entre os diversos casos existentes naquele período, destacamos os partidos políticos, as usinas de açúcar e as companhias aéreas.

Partidos Políticos
O Tribunal Superior Eleitoral passou a atuar para que os diferentes partidos políticos tivessem uma contabilidade organizada. Em outubro de 1950 o TSE apresentou instruções sobre a contabilidade dos partidos políticos (12). Em 1951 o TSE determinou que os partidos usassem dois livros: Caixa e Registro de Contribuições e Auxílio (13). Isto mostra que o regime de competência não era usado por estas entidades. Em 1953 uma estranha indicação foi aprovada:

Ficam os partidos, legalmente registrados, obrigados a informa ao T.S.E., no prazo máximo de 20 dias, se possuem outros livros de contabilidade além dos de “contribuições e auxílios” e “caixa”. Em caso afirmativo, o partido terá de informar ainda qual o estado atual de sua escrituração, devendo também apresentar sugestões no tocante a finanças e contabilidade partidária, bem como quanto a despesas com pleitos eleitorais e candidatos (14)


Usinas de Açúcar
A regulamentação do setor estava sob a supervisão do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool). O problema contábil já tinha sido detectado há anos. Em 1949 uma comissão, comandada pelo General Anápio Gomes, examinou o preço do açúcar cristal e considerou que o problema devia-se a contabilidade das usinas. A comissão sugeriu a padronização da contabilidade das usinas (15). E que “enquanto a referida contabilidade não estiver em ordem e em dia, de acordo com a orientação do I.A.A., nenhuma modificação de preço do açúcar seja levada em consideração (...)” (16). Esta recomendação não era nova. Em 1946, uma mesma comissão que estudou o mesmo problema já tinha recomendado a padronização e nenhuma providência foi considerada (17).

Em 1952 o presidente da República aprovou a padronização das usinas de açúcar, através da Comissão de Padronização da Contabilidade das Usinas do País, que incluía instruções sobre contabilidade industrial (18).

Companhias Aéreas
O setor aéreo brasileiro na época estava sob a supervisão do então Ministro da Aeronáutica. Em 1951 uma comissão presidida pelo engenheiro Alberto de Melo Flores (19) entrega um relatório em novembro com a padronização para empresas de transporte aéreo. Esta comissão foi criada pela Portaria 153, de 4 de agosto de 1949. Isto significa dizer que a comissão levou mais de dois anos para fazer a padronização (20).

A portaria 398, de 14 de novembro de 1951, aprovou o Plano de Padronização da Contabilidade das Empresas de Transporte Aéreo. Durante o primeiro semestre de 1952 o Plano foi adotado em caráter experimental, para aperfeiçoamentos. A Portaria 398 já incorpora estas mudanças (21).

As empresas aéreas eram obrigadas a entregar anualmente o balanço e a demonstração de lucros e perdas. Além disto, trimestralmente a Diretoria da Aeronáutica Civil receberia as despesas por centros de custos, os resultados por linhas e categoria de serviço e por tipo de avião e os custos médios por tipo de avião (22).

Referências
(1) Jornal do Brasil, 18 de setembro de 1935, ed. 223, p. 8.
(2) Vide por exemplo Jornal do Brasil, 10 de outubro de 1939, ed. 240, p. 5. Isto inclui a padronização da contabilidade dos municípios fluminenses (do então estado do Rio de Janeiro) conforme Correio da Manhã, 15 de janeiro de 1938, ed. 13246, p. 4. Vide também Correio Paulistano, 16 de agosto de 1938, ed. 2587, p. 8, sobre tema discutido no Congresso Paulista de Contabilidade.
(3) A Noite, 12 de julho de 1939, ed 9849, p. 18.
(4) Estado de S Paulo, 19 de agosto de 1952, ed 23702, p. 1.
(5) Diário de Notícias, 31 de outubro de 1957, ed 10729, p. 15.
(6) Correio da Manhã, 23 de julho de 1949, ed 17285, p. 3. Vide também Diário de Notícias, 23 de julho de 1949, ed. 8205, p. 2.
(7) Estado de S Paulo, 23 de julho de 1958, ed 25528, p 13.
(8) Diário do Paraná, 16 de julho de 1957, ed 694, p. 10. Sobre isto, veja BELDA FILHO, João. Subsidio á padronização legal da contabilidade nas cooperativas. Estado de S Paulo, 8 de novembro de 1942, ed 22446. A segunda parte do artigo foi publicado na edição 22528, de 14 de fevereiro de 1943.
(9) Diário de Notícias, 23 de novembro de 1947, p. 5.
(10) Diário de Notícias, 25 de maio de 1958, ed 10897, p. 9. Vide também Correio da Manhã, 6 de maio de 1958, ed 19970, p. 3.
(11) Diário de Notícias, 4 de outubro de 1957, ed 10706, p. 8.
(12) Estado de S Paulo, 26 de junho de 1950, ed. 23348, p. 3.
(13) Estado de S Paulo, 24 fev de 1951, ed. 23246, p.3.
(14) Estado de São Paulo, 21 de julho de 1953, ed. 23985, p. 3. Ou seja, o TSE gostaria de saber se algum partido tinha uma contabilidade mais avançada do que aquela exigida na lei.
(15) Correio da Manhã, 21 de julho de 1949, ed 17283, p. 18.
(16) Correio da Manhã, 4 de agosto de 1949, ed 17295, p. 2. Vide também A Manhã, 4 de agosto de 1949, ed 2450, p. 13.
(17) Correio da Manhã, 5 de agosto de 1949, ed 17296, p. 14.
(18) Estado de S Paulo, 10 de abril de 1952, ed. 23592, p. 1.
(19) Estado de S Paulo, 1 de novembro de 1951, ed. 23458, p. 1. Vide Diário de Notícias, 1 novembro de 1951, ed 8902, p 7, com os nomes dos demais integrantes da comissão.
(20) Estado de S Paulo, 16 de dezembro de 1952, ed. 23804, p. 7.
(21) Estado de S Paulo, 16 de dezembro de 1952, ed. 23804, p. 7.
(22) Estado de S Paulo, 16 de dezembro de 1952, ed. 23804, p. 7.

17 junho 2013

História da Contabilidade: os anos 70 do século XIX

Ensino

A Aula do Comércio refere-se a uma escola portuguesa, criada durante o reinado de José I, sob a influência do Marquês de Pombal (1). Sua fundação ocorreu em 1759, em Lisboa. Era um estabelecimento de ensino técnico, com o curso com duração de três anos. É interessante notar que Portugal tentava tirar a diferença das nações mais desenvolvidas, através da intervenção do estado português.
Além de formar profissionais que no futuro repassariam os conhecimentos para outras pessoas, a Aula do Comércio talvez tenha provocado a publicação de obras sobre a contabilidade.

É interessante notar como isto é diferente do que ocorreu no Brasil mais de cem anos depois. Na metade do segundo reinado o ensino de contabilidade ocorria nas escolas, incluindo no ensino primário, ou através de aulas particulares. Ou seja, nesta época o ensino da contabilidade não estava mais atrelado à iniciativa do governo.

Um exemplo disto é uma propaganda publicada diversas vezes nos jornais da época anunciando aula com o professor Menezes (2), que garantia que em um mês transmitiria os conhecimentos das partidas dobradas, balanço geral, encerramento, aberturas de contas, diferentes sistemas de contas correntes, entre outros assuntos.

Naquela época era muito comum nos classificados dos jornais a oferta de cursos de contabilidade. E já existia o ensino que corresponderia ao “técnico”. Mas um texto da Gazeta de Notícias (3) chama a atenção e por este motivo reproduzo a seguir (em linguagem da época):

Em Marselha acaba de ser fundada uma escola superior de commercio, sob os auspícios da commissão da Praça, com o fim de habilitar empregados, negociantes, e administradores capazes de dirigir o commercio interior e desenvolver as relações com os paizes estrangeiros. O ensino, simultaneamente theorico e pratico, abrange a calligraphia, contabilidade, legislação, econômica política, línguas e geografia comercial.
É de uma instituição n´este genero que bem necessitamos entre nós, onde apenas temos o Instituto Commercial que está longe.


Ou seja, naquele momento já existia um curso superior de “negócios” na França e no Brasil teríamos o correspondente no Instituto Comercial.

Livro
Nesta mesma época, a disponibilidade de obras na área era suprida inclusive por livros importados de Portugal. As obras poderiam ser mais completas, como o Curso Commercial de Rodrigo Affonso Paquito, com mais de 500 páginas, ou específicas ao Brasil, como o Compendio Mercantil Brasileiro.
O Compendio prometia [4] que em um mês o leitor poderia ser um guarda-livros. O livro prometia ensinar contabilidade por um método denominado “sistema de números fixos”, que economizava tempo e trabalho. Já o Curso Commercial era dividido em três partes: cálculo e contratos comerciais, escrituração comercial e contabilidade industrial.

Escândalos Contábeis
Naquela época começava a aparecer nos jornais os problemas com os profissionais que manipulavam a escrituração. Em 1875, por exemplo, João Augusto da Silva Porto, empregado da Santos Bastos & Irmão, foi preso por desviar dinheiro e adulterar a escrituração [5]. A notícia divulga que num lançamento, o guarda-livros suprimiu o primeiro algarismo, ficando com o dinheiro. Num outro lançamento, “passou do livro Diario para o Razão uma conta de Fiorita & Tavolara” de 62:510$510 com uma differença de 20 contos menos”.

Em outro caso, uma das mais importantes casas bancárias do País sofreu um desfalque do seu guarda-livros. O Banco Predial empregava o chefe do escritório como caixa, acumulando funções, um erro básico na área de controle [6]. Um “examinador” estava verificando a contabilidade e solicitou documentos do caixa. Este examinador notou a falta de uma conta que já teria sido paga a uma “casa inglesa”. A partir daí o examinador conseguiu apurar um esquema de fraudes.

(1) Via Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Aula_do_Com%C3%A9rcio
(2) Gazeta de Notícias, 1875, edição 33, p. 4, por exemplo. É interessante notar que este jornal chegou a circular com mais de 14 mil exemplares de tiragem, um feito notável quando se considera que a população da capital do país era muito reduzida e quantidade de pessoas alfabetizadas era bem pequena.
(3) Gazeta de Notícias, 1875, edição 69, p. 2.
(4) Gazeta de Notícias, 1876, edição 144, p. 4.
(5) Gazeta de Notícias, 1875, edição 116, p. 2.
(6) Gazeta de Notícias, 1879, edição 139, p. 2. Este jornal descreve o caso de maneira detalhada e apaixonada.

30 maio 2013

Entrevista com Barry Eichengreen

Excelente entrevista retirada do site do Fed de Cleveland com o professor Barry Eichengreen.

To some, the term “economic historian” conjures up images of an academic whose only interests lie deep in the past; an armchair scholar who holds forth on days long ago but has no insights about the present. Barry Eichengreen provides a useful corrective to that stereotype. For, as much as Eichengreen has studied episodes in economic history, he seems more attuned to connecting the past to the present. At the same time, he is mindful that “lessons” have a way of taking on lives of their own. What’s taken as given among economic historians today may be wholly rejected in the future.
Barry Eichengreen is the George C. Pardee and Helen N. Pardee Professor of Economics and Professor of Political Science at the University of California, Berkeley, his hometown. He is known as an expert on monetary systems and global finance. He has authored more than a dozen books and many more academic papers on topics from the Great Depression to the recent financial crisis.
Eichengreen was a keynote speaker at the Federal Reserve Bank of Cleveland’s research conference, Current Policy under the Lens of Economic History, in December 2012. Mark Sniderman, the Cleveland Fed’s executive vice president and chief policy officer, interviewed Eichengreen during his visit. An edited transcript follows.
Sniderman: It’s an honor to talk with you. You’re here at this conference to discuss the uses and misuses of economic history. Can you give us an example of how people inaccurately apply lessons from the past to the recent financial crisis?
Eichengreen: The honor is mine.
Whenever I say “lessons,” please understand the word to be surrounded by quotation marks. My point is that “lessons” when drawn mechanically have considerable capacity to mislead. For example, one “lesson” from the literature on the Great Depression was how disruptive serious banking crises can be. That, in a nutshell, is why the Fed and its fellow regulators paid such close attention to the banking system in the run-up to the recent crisis. But that “lesson” of history was, in part, what allowed them to overlook what was happening in the shadow banking system, as our system of lightly regulated near-banks is known.
What did they miss it? One answer is that there was effectively no shadow banking system to speak of in the 1930s. We learned to pay close attention to what was going on in the banking system, narrowly defined. That bias may have been part of what led policymakers to miss what was going on in other parts of the financial system.
Another example, this one from Europe, is the “lesson” that there is necessarily such a thing as expansionary fiscal consolidation. Europeans, when arguing that such a thing exists, look to the experience of the Netherlands and Ireland in the 1980s, when those countries cut their budget deficits without experiencing extended recessions. Both countries were able to consolidate but continue to grow, leading contemporary observers to argue that the same should be true in Europe today. But reasoning from that historical case to today misleads because the circumstances at both the country and global level were very different. Ireland and the Netherlands were small. They were consolidating in a period when the world economy was growing. These facts allowed them to substitute external demand for domestic demand. In addition, unlike European countries today they had their own monetary policies, allowing them step down the exchange rate, enhancing the competitiveness of their exports at one fell swoop, and avoid extended recessions. But it does not follow from their experience that the same is necessarily possible today. Everyone in Europe is consolidating simultaneously. Most nations lack their own independent exchange rate and monetary policies. And the world economy is not growing robustly.


A third “lesson” of history capable equally of informing and misinforming policy would be the belief in Germany that hyperinflation is always and everywhere just around the corner. Whenever the European Central Bank does something unconventional, like its program of Outright Monetary Transactions, there are warnings in German press that this is about to unleash the hounds of inflation. This presumption reflects from the “lesson” of history, taught in German schools, that there is no such thing as a little inflation. It reflects the searing impact of the hyperinflation of the 1920s, in other words. From a distance, it’s interesting and more than a little peculiar that those textbooks fail to mention the high unemployment rate in the 1930s and how that also had highly damaging political and social consequences.
The larger question is whether it is productive to think in terms of “history lessons.” Economic theory has no lessons; instead, it simply offers a way of systematically structuring how we think about the world. The same is true of history.
Sniderman: Let’s pick up on a couple of your comments about the Great Depression and hyperinflation in Germany. Today, some people in the United States have the same concerns. They look at the expansion of the monetary base and worry about inflation. Do you find it surprising that people are still fighting about whether big inflation is just around the corner because of US monetary policy, and is it appropriate to think about that in the context of the unemployment situation as well?
Eichengreen: I don’t find it surprising that the conduct of monetary policy is contested. Debate and disagreement are healthy. Fiat money is a complicated concept; not everyone trusts it. But while it’s important to think about inflation risks, it’s also important to worry about the permanent damage to potential output that might result from an extended period subpar growth. To be sure, reasonable people can question whether the Fed possesses tools suitable for addressing this problem. But it’s important to have that conversation.
Sniderman: Maybe just one more question in this direction because so much of your research has centered on the Great Depression. Surely you’ve been thinking about some of the similarities and differences between that period and this one. Have you come to any conclusions about that? Where are the congruencies and incongruences?
Eichengreen: My work on the Depression highlighted its international dimension. It emphasized the role of the gold standard and other international linkages in the onset of the Depression, and it emphasized the role that abandoning the gold standard and changing the international monetary regime played in bringing it to an end.
As a student, I was struck by the tendency in much of the literature on the Depression to treat the US essentially as a closed economy. Not surprisingly, perhaps, I was then struck by the tendency in 2007 to think about what was happening then as a US subprime crisis. Eventually, we came to realize that we were facing not just a US crisis but a global crisis. But there was an extended period during when many observers, in Europe in particular, thought that their economies were immune. They viewed what was happening as an exclusively American problem. They didn’t realize that what happened in the United States doesn’t stay in the United States. They didn’t realize that European banks, which rely heavily on dollar funding, were tightly linked to US economic and financial conditions. One of the first bits of research I did when comparing the Great Depression with the global credit crisis, together with Kevin O’Rourke, was to construct indicators of GDP, industrial production, trade, and stock market valuations worldwide and to show that, when viewed globally, the current crisis was every bit as severe as that of the 1930s.
Eventually, we came to realize that we were facing not just a US crisis but a global crisis. But there was an extended period during when many observers, in Europe in particular, thought that their economies were immune.
Sniderman: Given that many European countries are sharing our financial distress, what changes in the international monetary regime, if any, would be helpful? Could that avenue for thinking of solutions be as important this time around as it was the last time?
Eichengreen: One of the few constants in the historical record is dissatisfaction with the status quo. When exchange rates were fixed, Milton Friedman wrote that flexible rates would be better. When rates became flexible, others like Ron McKinnon argued that it would be better if we returned to pegs. The truth is that there are tradeoffs between fixed and flexible rates and, more generally, in the design of any international monetary system. Exchange rate commitments limit the autonomy of national monetary policymakers, which can be a good thing if that autonomy is being misused. But it can be a bad thing if that autonomy is needed to address pressing economic problems. The reality is that there is no such thing as the perfect exchange rate regime. Or, as Jeffrey Frankel put it, no one exchange rate regime is suitable for all times and places.
That said, there has tended to be movement over time in the direction of greater flexibility and greater discretion for policymakers. This reflects the fact that the mandate for central banks has grown more complex – necessarily, I would argue, given the growing complexity of the economy. An implication of that more complex mandate is the need for more discretion and judgment in the conduct of monetary policy—and a more flexible exchange rate to allow that discretion to be exercised.
Sniderman: I’d be interested in knowing whether you thought this crisis would have played out differently in the European Union if the individual countries still had their own currencies. Has the euro, per se, been an element in the problems that Europe is having, much as a regime fixed to gold was a problem during the Great Depression?
Eichengreen: Europe is a special case, as your question acknowledges. Europeans have their own distinctive history and they have drawn their own distinctive “lessons” from it. They looked at the experience of the 1930s and concluded that what we would now call currency warfare, that is, beggar-thy-neighbor exchange-rate policies, were part of what created tensions leading to World War II. The desire to make Europe a more peaceful place led to the creation of the European Union. And integral to that initiative was the effort was to stabilize exchange rates, first on an ad hoc basis and then by moving to the euro.
Whether things will play out as anticipated is, as always, an open question. We now know that the move to monetary union was premature. Monetary union requires at least limited banking union. Banking union requires at least limited fiscal union. And fiscal union requires at least limited political union. The members of the euro zone are now moving as fast as they can, which admittedly is not all that fast, to retrofit their monetary union to include a banking union, a fiscal union, and some form of political union. Time will tell whether or not they succeed.
But even if hindsight tells us that moving to a monetary union in 1999 was premature, it is important to understand that history doesn’t always run in reverse. The Europeans now will have to make their monetary union work. If they don’t, they’ll pay a high price.
I didn’t anticipate the severity and intractability of the euro crisis. All I can say in my defense is that no one did.
Sniderman: Let me pose a very speculative question. Would you say that if the Europeans had understood from the beginning what might be required to make all this work, they might not have embarked on the experiment; but because they did it as they did, there’s a greater likelihood that they’ll do what’s necessary to make the euro system endure? Is that how you’re conjecturing things will play out?
Eichengreen: If I may, allow me to refer back to the early literature on the euro. In 1992, in adopting theMaastricht Treaty, the members of the European Union committed to forming a monetary union. That elicited a flurry of scholarship. An article I wrote about that time with Tamim Bayoumi looked at whether a large euro area or a small euro area was better. We concluded that a small euro area centered on France, Germany, and the Benelux countries made more sense. So one mistake the Europeans made, which was predictable perhaps on political grounds, though no more excusable, was to opt for a large euro area.
I had another article in the Journal of Economic Literature in which I devoted several pages to the need for a banking union; on the importance, if you’re going to have a single currency, single financial market and integrated banking system, of also having common bank supervision, regulation, and resolution. European leaders, in their wisdom, thought that they could force the pace. They thought that by moving to monetary union they could force their members to agree to banking union more quickly. More quickly didn’t necessarily mean overnight; they thought that they would have a couple of decades to complete the process. Unfortunately, they were side-swiped by the 2007-08 crisis. What they thought would be a few decades turned out to be one, and they’ve now grappling with the consequences.
Sniderman: You’ve written about the dollar’s role as a global currency and a reserve currency, and you have some thoughts on where that’s all headed. Maybe you could elaborate on that.
Eichengreen: A first point, frequently overlooked, is that there has regularly been more than one consequential international currency. In the late nineteenth century, there was not only the pound sterling but also the French franc and the German mark. In the 1920s there was both the dollar and the pound sterling. The second half of the twentieth century is the historical anomaly, the one period when was only one global currency because there was only one large country with liquid financial markets open to the rest of the world—the United States. The dollar dominated in this period simply because there were no alternatives.
But this cannot remain the case forever. The US will not be able to provide safe and liquid assets in the quantity required by the rest of the world for an indefinite period. Emerging markets will continue to emerge. Other countries will continue to catch up to the technological leader, which is still, happily, the United States. The US currently accounts for about 25 percent of the global economy. Ten years from now, that fraction might be 20 percent, and 20 years from now it is apt to be less. The US Treasury’s ability to stand behind a stock of Treasury bonds, which currently constitute the single largest share of foreign central banks’ reserves and international liquidity generally, will grow more limited relative to the scale of the world economy. There will have to be alternatives.
In the book I wrote on this subject a couple of years ago, Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System, I pointed to the euro and the Chinese renminbi as the plausible alternatives. I argued that both could conceivably be significant rivals to the dollar by 2020. The dollar might well remain number one as invoicing currency and currency for trade settlements, and as a vehicle for private investment in central bank reserves, but the euro and renminbi could be nipping at its heels.
In the fullness of time I’ve grown more pessimistic about the prospects of those rivals. Back in 2010, when my book went off to the publisher, I didn’t anticipate the severity and intractability of the euro crisis. All I can say in my defense is that no one did. And I underestimated how much work the Chinese will have to do in order to successfully internationalize their currency. They are still moving in that direction; they’ve taken steps to encourage firms to use the renminbi for trade invoicing and settlements, and now they are liberalizing access to their financial markets, if gradually. But they have a deeper problem. Every reserve currency in history has been the currency of a political democracy or a republic of one sort or another. Admittedly the US and Britain are only two observations, which doesn’t exactly leave many degrees of freedom for testing this hypothesis. But if you go back before the dollar and sterling, the leading international currencies were those of Dutch Republic, the Republic of Venice, and the Republic of Genoa. These cases are similarly consistent with the hypothesis.
The question is why. The answer is that international investors, including central banks, are willing to hold the assets only of governments that are subject to checks and balances that limit the likelihood of their acting opportunistically. Political democracy and republican forms of governance are two obvious sources of such checks and balances. In other words, China will have to demonstrate that its central government is subject to limits on arbitrary action – that political decentralization, the greater power of nongovernmental organizations, or some other mechanism – that place limits on arbitrary action before foreign investors, both official and private, are fully comfortable about holding its currency.
I therefore worry not so much about these rivals dethroning the dollar as I do about the US losing the capacity to provide safe, liquid assets on the requisite scale before adequate alternatives emerge. Switzerland is not big enough to provide safe and liquid assets on the requisite scale; neither is Norway, nor Canada, nor Australia. Currently we may be swimming in a world awash with liquidity, but we shouldn’t lose sight of the danger that, say, 10 years from now there won’t be enough international liquidity to grease the wheels of twenty-first-century globalization.
Sniderman: It sounds to me as though you’re also trying to say that the United States should actually become comfortable with, perhaps even welcome, this development, because its absence creates some risks for us.
Eichengreen: I am. The United States benefits from the existence of a robust, integrated global economy. But globalization, in turn, requires liquidity. And the US, by itself, can’t all by itself satisfy the global economy’s international liquidity needs. So the shift toward a multipolar global monetary and financial system is something that we should welcome. It will be good for us, and it will be good for the global economy. To the extent that we have to pay a couple more basis points when we sell Treasury debt because we don’t have a captive market in the form of foreign central banks, that’s not a prohibitive cost.
Sniderman: And how has the financial crisis itself affected the timetable and the movement? It sounds like in some sense it’s retarding it.
Eichengreen: The crisis is clearly slowing the shift away from dollar dominance. When the subprime crisis broke, a lot of people thought the dollar would fall dramatically and that the People’s Bank of China might liquidate its dollar security holdings. What we discovered is that, in a crisis, there’s nothing that individuals, governments and central banks value more than liquidity. And the single most liquid market in the world is the market for US Treasury bonds. When Lehman Bros. failed, as a result of U.S. policy, everybody rushed toward the dollar rather than away. When Congress had its peculiar debate in August 2011 over raising the debt ceiling, everybody rushed toward the dollar rather than away. That fact may be ironic, but it’s true.
And a second effect of the crisis was to retard the emergence of the euro on the global stage. That too supports the continuing dominance of the dollar.
Sniderman: Economists and policymakers have always “missed” things. Are there ways in which economic historians can help current policymakers not to be satisfied with the “lessons” of history and get them to think more generally about these issues?
Eichengreen: It’s important to make the distinction between two questions – between “Could we have done better at anticipating the crisis?” and the question “Could we have done better at responding to it?” On the first question, I would insist that it’s too much to expect economists or economic historians to accurately forecast complex contingent events like financial crises. In the 1990s, I did some work on currency crises, instances when exchange rates collapse, with Charles Wyplosz and Andrew Rose. We found that what works on historical data, in other words what works in sample doesn’t also work out of sample. We were out-of-consensus skeptics about the usefulness of leading indicators of currency crises, and I think subsequent experience has borne out our view. Paul Samuelson made the comment that economists have predicted 13 out of the last seven crises. In other words, there’s type 1 error as well as type 2 error [the problem of false positives as well as false negatives].
Coming to the recent crisis, it’s apparent with hindsight that many economists – and here I by no means exonerate economic historians – were too quick to buy into the idea that there was such a thing as the Great Moderation. That was the idea that through better regulation, improved monetary policy and the development of automatic fiscal stabilizers we had learned to limit the volatility of the business cycle. If we’d paid more attention to history, we would have recalled an earlier period when people made the same argument: They attributed the financial crises of the 19th century to the volatility of credit markets; they believed that the founding of the Fed had eliminated that problem and that the business cycle had been tamed. They concluded that the higher level of asset prices observed in the late 1920s was fully justified by the advent of a more stable economy. They may have called it the New Age rather than the Great Moderation, but the underlying idea, not to say the underlying fallacy, was the same.
A further observation relevant to understanding the role of the discipline in the recent crisis is that we haven’t done a great job as a profession of integrating macroeconomics and finance. There have been heroic efforts to do so over the years, starting with the pioneering work of Franco Modigliani and James Tobin. But neither scholarly work nor the models used by the Federal Reserve System adequately capture, even today, how financial developments and the real economy interact. When things started to go wrong financially in 2007-08, the consequences were not fully anticipated by policymakers and those who advised them – to put an understated gloss on the point. I can think of at least two prominent policy makers, who I will resist the temptation to name, who famously asserted in 2007 that the impact of declining home prices would be “contained.” It turned out that we didn’t understand how declining housing prices were linked to the financial system through collateralized debt obligations and other financial derivatives, or how those instruments were, in turn, linked to important financial institutions. So much for containment.
Sniderman: I suppose one of the challenges that the use of economic history presents is the selectivity of adoption. And here I have in mind things like going back to the Great Depression to learn “lessons.” It’s often been said, based on some of the scholarship of the Great Depression and the role of the Fed, that the “lesson” the Fed should learn is to act aggressively, to act early, and not to withdraw accommodation prematurely. And that is the framework the Fed has chosen to adopt. At the same time, others draw “lessons” from other parts of US economic history and say, “You can’t imagine that this amount of liquidity creation, balance sheet expansion, etc. would not lead to a great inflation.” If people of different viewpoints choose places in history where they say, “History teaches us X,” and use them to buttress their view of the appropriate response, I suppose there’s no way around that other than to trying, as you said earlier, to point out whether these comparisons are truly apt or not.
Eichengreen: A considerable literature in political science and foreign policy addresses this question. Famous examples would be President Truman and Korea on the one hand, and President Kennedy and the Cuban Missile Crisis on the other. Earnest May, the Harvard political scientist, argued that Truman thought only in terms of Munich, Munich having been the searing political event of his generation. Given the perspective this created, Truman was predisposed to see the North Koreans and Chinese as crossing a red line and to react aggressively. Kennedy, on the other hand, was less preoccupied by Munich. He had historians like Arthur Schlesinger advising him. Those advisors encouraged him to develop and consider a portfolio of analogies and test their aptness – in other words, their “fitness” to the circumstances. One should look not only at Munich, Schlesinger and others suggested, but also to Sarajevo. It is important to look at a variety of other precedents for current circumstances, to think which conforms best to the current situation, and to take that fit into account when you’re using history to frame a response.
I think there was a tendency, when things were falling down around our ears in 2008, to refer instinctively to the Great Depression. What Munich was for Truman, the Great Depression is for monetary economists. It’s at least possible that the tendency to compare the two events and to frame the response to the current crisis in terms of the need “to avoid another Great Depression” was conducive to overreaction. In fairness, economic historians did point to other analogies. There was the 1907 financial crisis. There was the 1873 crisis. It would have been better, in any case, to have developed a fuller and more rounded portfolio of precedents and analogies and to have used it to inform the policy response. Of course, that would have required policy makers to have some training in economic history.
Sniderman: This probably brings us back full circle. We started with the uses and misuses of economic history and we’ve been talking about economic history throughout the conversation. I think it might be helpful to hear your perspective on what economic history and economic historians are. Why not just an economist who works in history or a historian who works on topics of economics? What does the term “economic history” mean, and what does the professional discipline of economic historian connote to you?
Eichengreen: As the name suggests, one is neither fish nor fowl; neither economist nor historian. This makes the economic historian a trespasser in other people’s disciplines, to invoke the phrase coined by the late Albert Hirschman. Historians reason by induction while economists are deductive. Economists reason from theory while historians reason from a mass of facts. Economic historians do both. Economists are in the business of simplifying; their strategic instrument is the simplifying assumption. The role of the economic historian is to say “Not so fast, there’s context here. Your model leaves out important aspects of the problem, not only economic but social, political, and institutional aspects – creating the danger of providing a misleading guide to policy.”
Economists reason from theory while historians reason from a mass of facts. Economic historians do both.
Sniderman: Do you think that, in training PhD economists, there’s a missed opportunity to stress the value and usefulness of economic history? Over the years, economics has become increasingly quantitative and math-focused. From the nature of the discussion we’ve had, it is clear that you don’t approach economic history as sort of a side interest of “Let’s study the history of things,” but rather a disciplined way of integrating economic theory into the context of historical episodes. Is that way of thinking about economic history appreciated as much as it could be?
Eichengreen: I should emphasize that the opportunity is not entirely missed. Some top PhD programs require an economic history course of their PhD students, the University of California, Berkeley, being one.
The best way of demonstrating the value of economic history to an economist, I would argue, is by doing economic history. So when we teach economic history to PhD students in economics in Berkeley, we don’t spend much time talking about the value of history. Instead, we teach articles and address problems, and leave it to the students, as it were, to figure how this style of work might be applied to this own research. For every self-identifying economic historian we produce, we have several PhD students with have a historical chapter, or a historical essay, or an historical aspect to their dissertations. That’s a measure of success.
Sniderman: Well, thank you very much. I’ve enjoyed it.
Eichengreen: Thank you. So have I.

28 maio 2013

Partidas Dobradas

Gleeson-White escreveu um livro fascinante sobre a história do método das partidas dobradas (Double entry. New York: W W Norton, 2012). O livro possui o subtítulo de Como os Mercadores de Veneza Criaram as Finanças Modernas e isto indica a profunda admiração do autor pelo método de Veneza.

O livro possui dez capítulos sendo a metade sobre a gênese do método e sua difusão. Os demais se referem da contabilidade no mundo moderno, incluindo aí as contas nacionais. Como a maioria do livro refere-se a Summa, a obra é uma fonte profunda para aqueles que se interessam sobre a história da contabilidade.  Eis uma amostra:

ð  Os primeiros livros contábeis datam em torno de 1300: livros dos mercadores Rinieri Fini e irmãos (entre 1296 a 1305) e de Giovanni Farolfi (entre 1299 a 1300). Nestas obras já se considera o lucro como um incremento do patrimônio líquido, mensurado para um período contábil claramente definido.
ð  A matemática na idade média não era uma matéria específica. Na realidade era ensinada como “astrologia”. O próprio Pacioli se referiu como “astrólogo” para o Papa Leão X
ð  No século XIV era comum que os comerciantes mandassem seus filhos para algumas cidades onde poderiam aprender sobre o comércio, especialmente a operar o ábaco, aprender sobre câmbio e o sistema de escrituração.
ð  Pacioli tornou-se um frei talvez mais por interesse da carreira do que por crença. Durante sua vida ele deixou de cumprir uma série de regras da sua irmandade, tendo inclusive falecido como um homem rico.
ð  Durante a época de Pacioli existiam treze universidades na Itália e em cada uma dela só existia emprego para um ou dois matemáticos. E Pacioli foi considerado matemático para duas delas.
ð  Após a invenção da imprensa, os humanistas pretendiam que a primeira obra fossem os livros de Euclides, mas o primeiro livro foi um livro para mercadores.
ð  A obra de Pacioli foi escrita em italiano, ao contrário da tradição de uso do latim, e encorajada o uso dos números hindus-arábicos e não romanos. Pacioli também criou símbolos para “mais” e “menos”, que são diferentes daqueles que usamos hoje.
ð  A tiragem inicial da Summa tinha uma tiragem de dois mil exemplares, levou de nove a doze meses para ser produzido e tinha 615 páginas. Sobreviveram 99 cópias da edição de 1494 e 36 da edição de 1523. Parte do livro era uma “reprodução” do livro de Fibonacci, que estava “esquecido”.
ð  A Summa media 25 centímetros por 30 e corresponde a um livro de 1500 páginas se fosse impresso hoje.
ð  O livro foi a obra matemática mais lida na Itália por um século e treinou muitos estudantes em matemática e contabilidade.
ð  Pacioli ajudou o pintor Leonado da Vinci na criação da Última Ceia. E o livro De Divina proportione contou com 60 figuras geométricas desenhadas por Da Vinci.
ð  Pacioli escreveu um livro, denominado De ludo Scacchorum que seria o primeiro de livro xadrez. Muitos duvidavam da existência do livro, pois nenhuma cópia foi encontrada. Até 2006, quando uma cópia foi descoberta no norte da Itália.
ð  Parte do Summa foi traduzido para diversas línguas, como inglês, holandês, alemão, francês e russo.
ð  O sistema de Pacioli de lançamento incluía duas palavras básicas: per que significa “de” e a, que indica a conta a ser creditada. Um lançamento típico seria: “Per Banco // A Caixa”.
ð  Todos os livros de contabilidade publicados no século XVI estavam diretamente baseados no trabalho de Pacioli e influenciou, inclusive, obras em língua portuguesa, em 1758. Alguns deles eram cópias, sem a devida referência, como é o caso da obra de Manzoni. O livro de Manzoni teve entre seis e sete edições em quarenta anos.
ð  Uma tentativa de combater o método de PAcioli foi lançado na Inglaterra em 1796 cujo autor propunha um método infalível por partidas simples que causou sensação.

O final do livro não é tão animador. O autor tentar abranger uma série de assuntos, sendo superficial na análise moderna da contabilidade.

Vale a pena? Se você gosta de história ou quer conhecer um pouco mais sobre isto, este livro é altamente recomendado.

(Imagem: Allegory of Commerce and a Debtor's Prison)

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15 abril 2013

Partidas Dobradas e Brasil no início do século XX

Já vimos em diversas postagens anteriores (1) que o método das partidas dobradas era razoavelmente bem difundido no Brasil no final do século XIX. Uma curiosidade importante é que ao contrário dos dias de hoje, o método das partidas dobradas era ensinado junto com as primeiras noções de alfabetização. Um anúncio publicado no jornal A República, no ano de 1889, da Eschola Realista mostra isto:

A escola, localizada na Rua do Riachuelo, na cidade de Curitiba, Paraná, oferecia aulas para meninos de 5 a 14 anos, sendo que o primeiro grau consistia em noções de contabilidade. É bem verdade que isto parece que era uma exceção na época, mas o fato de ensinar contabilidade no ensino regular era algo normal. Um Regulamento da Instrução Pública do Estado do Paraná indicava que o ensino naquele estado teria matérias complementares que incluía “as regras de contabilidade usual e a escripturação mercantil” (2). Também neste mesmo ano já existiam concursos públicos com provas de conhecimento, onde se cobrava “escripturação mercantil por partidas dobradas” (3) para ser funcionário do tesouro do estado do Paraná.

Além do ensino tradicional, existiam professores particulares que ensinavam a contabilidade, como pode ser comprovado por este anúncio publicado em 1896 (4):


Um ano depois, um classificado oferecia serviços de contabilidade, mostrando que já naquele momento existia a terceirização de serviços contábeis (5):

Observe que os serviços eram oferecidos ao público em geral, com ênfase no comércio. E que o profissional fazia a escrituração pelas partidas dobradas ou por partidas simples. No mesmo ano uma piadinha, um tanto quanto sem graça, era publicada no jornal A República (6):

- O senhor quebrou duas vezes
- É exacto, mas peço licença para observar-lhe que todo o bom negociante faz as suas operações por partidas dobradas.

Apesar destas constatações é importante destacar que a adoção das partidas dobradas já era fato corriqueiro no Brasil do final do século XIX. Pelo contrário, em alguns setores as partidas dobradas só foram adotadas no setor público no século XX. As primeiras experiências ocorreram em 1906 no estado do Paraná, através do secretário de Finanças, Coronel Chichorro Junior (7). Logo após, o estado de São Paulo também adotaria as partidas dobradas na área pública. Naquele estado destaca-se os nomes de Carlos de Carvalho (8), Levy Magano e Francisco D´Aurea (9).

Mas somente em 1914 é que o governo central, através de Rivadavia Correa (8), interessa por adotar as partidas dobradas na área pública. Naquela época, os estados de São Paulo e provavelmente Minas, Rio de Janeiro e Pernambuco (10), adotavam o método. Paraná, o pioneiro, tinha abandonado o método, já que os resultados não foram “satisfatórios” (11).

Apesar do atraso na adoção das partidas dobradas, a expansão do método na área pública parece que foi rápida na década de 20. Em 1929 já se tem notícia que a prefeitura municipal da cidade de Palmeira, no Paraná, já o adotava, conforme a seguinte citação:

A escripta da Prefeitura já se encontra sendo feita pelo systema de partidas dobradas e o seu methodo esta organisado muito regularmente (12).

____________________
(1) Vide, por exemplo, A educação nas Províncias na Segunda Metade do século XIX 
(2) A Republica, edição 26, 1890. Trata-se do artigo 3º., paragrafo 3º.
(3) A República, edição 162, 1890, p. 3.
(4) A República, edição 28, 1896, p. 3.
(5) A República, edição 130, 1897, p. 3.
(6) A República, edição 195, 1898, p. 1.
(7) A República, edição 240, 1907, p. 1. Vide também o mesmo jornal, edição 290, 1906, p. 1. Ou, edição 156, 1906, p. 1. São textos longos, onde o articulista informa que o estado do Paraná estaria usando o método adotado no comércio.
(8) A República, edição 290, 1914, p. 1.
(9) A República, edição 132, 1914, p. 1.
(10) A República, edição 27, 1915, p. 2.
(11) A República, edição 14, 1915, p. 1.
(12) A República, edição 107, 1929, p. 3.

08 abril 2013

A educação nas províncias na segunda metade do século XIX

O Brasil sempre foi centralizado. Talvez por este motivo seja uma surpresa agradável descobrir que existia uma vida bastante agitada nas diversas províncias do segundo império. Uma análise nas diversas publicações provincianas permite comprovar que o ensino de contabilidade era algo normal, não uma exceção. As poucas pessoas que tinham condição de fazer o ensino, primário e médio, podiam ter contato com as noções básicas das partidas dobradas e aprender a técnica da escrituração.

Veja o caso da província do Pará. Em 1867 foi fundado o Colégio de Santa Maria de Belém (1), na Rua do Rosário, através de um acordo entre o presidente da província e o Cônego Antonio Feliciano de Souza. O colégio deveria dar instrução primária e entre os conteúdos citados estava a escrituração mercantil.

Vizinho, a província do Maranhão também já tinha o ensino da contabilidade um pouco antes. No Colégio Nossa Senhora da Gloria (2), localizado na Rua Grande, e dedicado a educação das meninas daquela província, a leitura e contabilidade era ensinada pela Dona Raymunda Emilia Abranches Moura. Já no Collegio Episcopal de N. S. dos Remedios (3), localizado na Rua de San Pantaleão 39, a primeira cadeira do ensino primário contava com leitura, escrita e contabilidade. No Liceu Maranhense (4) existia a disciplina de Calculo Mercantil e Escripturação por partida dobrada, ministrada por Luiz José Joaquim Rodrigues Rocha.

Algo comum naquela época, onde os recursos não eram tão fartos, é que a aula poderia ocorrer na escola ou na casa do próprio professor. O Liceu da Bahia (5), cuja disciplina era ministrada pelo professor Antonio Joaquim Damasio. Na mesma Bahia, a Associação Comercial já dispunha de uma sala de aula específica para contabilidade, conforme consta um proclama (6) da Caixa de Economias, “instalada no dia 29 de novembro de 1853, no salão d´aula de contabilidade da associação comercial”.

A mostra que o ensino de contabilidade florescia nas províncias no segundo reinado é a criação do Curso Commercial Pernambucano (7), através da lei provincial 414, de 30 de abril de 1857. O curso tinha três cadeiras somente, uma das quais era contabilidade, escrituração e prática de operações comerciais.

O que se percebe é que no segundo império o ensino de noções de contabilidade era comum nas províncias. Mas não a educação específica e aprofundada, como nós conhecemos hoje.

(1) Almanak: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1868, edição 1, p. 192, Pará.
(2) Almanak: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1858, edição 1, p. 156, Maranhão
(3) Almanak: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1858, edição 1, p. 180, Maranhão
(4) Almanak: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1858, edição 1, p. 39, Maranhão
(5) Almanak: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1854, edição 1, p. 168, Bahia
(6) Almanak: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1854, edição 1, p. 227, Bahia
(7) Almanak: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1860, edição 1, p.581, Pernambuco

01 abril 2013

1812 e o Theatro de S João

O Teatro São João era um edifício localizado em Salvador, Bahia, onde hoje se localiza a Praça Castro Alves. Foi construído em 1806, começando a funcionar em 1808.

O financiamento para construção do teatro foi bastante interessante: inicialmente pensou num sistema de cotas, mas depois surgiu uma loteria para financiar a construção. Em 1812 o jornal Idade D´Ouro, na sua edição 17, divulgava os bilhetes premiados no mês de fevereiro:


Seis dias depois, uma nova lista de premiados é divulgada no mesmo jornal, indicando que o financiamento para pagar as contas do teatro originou-se os incrédulos apostadores em busca de fortuna.

O Teatro de São João também passa para nossa história pelo pioneirismo na evidenciação contábil. Em 30 de janeiro de 1816, por exemplo, Manoel José de Mello, tesoureiro, publica no periódico baiano a conta de Receita e Despesa, que corresponderia a uma demonstração do resultado do exercício da época:


Podemos notar que as receitas provenientes da loteria são relevantes para manutenção do teatro. O balanço de 1815 não apresentava uma evidenciação tão boa quanto a demonstração de 1814, também publicada no Idade d´Ouro. Em duas páginas são evidenciadas as receitas e despesas do Teatro. A seguir a página referente às despesas, onde sobressaem os ordenados:

29 março 2013

RBC

Texto de apresentação da primeira edição da Revista Brasileira de Contabilidade (RBC), que circulou em São em Paulo em Janeiro de 1912.

Atualmente a revista está sob a responsabilidade do Conselho Federal de Contabilidade, que recentemente publicou um livro em ceelbração aos 100 anos da Revista.


O livro pode ser baixado gratuitamente, em formato PDF (59 MB), no site do CFC (clique aqui).

APRESENTAÇÃO
O vigesimo seculo encontrou completamente trans­formada a influencia civilisadora da indústria, do com­mercio eda agricultura, influencia que cresceu e se desenvolveu prodigiosamente com as aperfeiçoadas applicações do vapor e da electricidade.
Nos tempos passados, o industrial preoccupava-se sómente com os negocios de uma reduzida clientela, e, não temendo a concurrencia, perseverava nos se­culares processos de fabricação.
O commerciante, por isso, via-se peado, sem poder desenvolver a propria iniciativa e seu campo de acção.
O agricultor, manietado por uma legislação eco­nomica oppressiva que entre nós, no Brasil colonial, permaneceu durante tres seculos, manteve-se fiel á rotina.
Com o desenvolvimento da navegação a vapor e com a expansão das estradas de ferro, appareceu um novo e consideravel scenario mercantil diante da avi­dez dos homens.
Com estes preponderantes elementos, a industria, transformando-se, centuplicou a sua potencia creadora.
O commercio, então, que assenta, em grande parte, na indústria, expandiu-se e com o auxilio, ainda, da economia financeira, conseguiu uma feição grande­mente sympathica e maleavel, especialmente na per­muta internacional.
Resulta deste estado progressivo das instifuições mercantis, que os industriaes para enfrentarem a con­currencia que diariamente avulta, são obrigados a um grande esforço para a manutenção do equilibrio das suas respectivas situações.
Sob este ponto de vista essencial, a ordem e a economia apparecem como elementos de successo na luta que absorveu os vitaes interesses das sociedades modernas.
E' exactamente, o que os homens de negocio comprehenderam depois de se terem mortificado com as licções da experiencia.
Se a ordem deve preponderar na organisação technica de uma empresa, deve também existir na sua administração; se a contabilidade não é uma causa directa da riqueza, constitue, entretanto, um consideravel elemento de absoluto successo das em­presas em geral.
Impressionados com o predominio da contabili­dade, que é o guia imprescindivel dos negocios, os espiritos dotados de forte individualidade, que pre­ponderam na direcção dos grandes paizes, reconhece­ram-na como a mais util das disciplinas profissionaes incorporadas ao actual regimen commercial.
Assim comprehendido, justifica-se o apparecimento de um periodico especial relativo á contabilidade, que tenha por objecto a defesa da verdade de seus prin­cipias e a discussão de todas as suas applicações.
Com tal escopo, apresenta-se a Revista Brasileira de Contabilidade.

Fonte: Alexandre Alcantara

25 março 2013

1905 e o Curso Comercial no Paraná


No início de 1905, o Chefe do Estado do Paraná baixou um decreto com a criação do Instituto Commercial (Lei 587 de 18 de março de 1905). Em 1906 o instituto estava funcionando com 59 alunos matriculados. Naquela época, Minas (através da Academia de Commercio de Juiz de Fóra, de 1894), São Paulo (Escola de Commercio, de 1902) e o Distrito Federal (ou Rio de Janeiro) já possuíam ensino comercial regular. Destaque-se que somente a Argentina (desde 1872) e os Estados Unidos possuíam ensino comercial na América.

O ensino comercial seria de três anos, com um curso preparatório e um “curso superior”.  O detalhamento do conteúdo encontra-se a seguir:

Curso Preparatório: caligrafia; português – exercício de ortografia e redação; línguas estrangeiras; princípios de contabilidade; aritmética; álgebra elementar; geometria elementar; noções de física e química; história e geografia; desenho.

Curso Superior: caligrafia; línguas estrangeiras; contabilidade; matemática aplicada ao comércio; estudo de mercadorias; análise e manipulações; estudo de transportes; utensílios comerciais; geografia comercial; história do comércio; elementos de direito civil e processo; legislação comercial, marítima e industrial; legislação financeira e aduaneira; economia política; desenho.

Perceba o leitor a ênfase elevada na troca comercial, incluindo aquela com outros países. Na fase de criação, os documentos existentes na Biblioteca Nacional mostram com mais detalhes os conteúdos que eram ministrados no país, através dos parâmetros das “experiências feitas nos diversos países e como é dado na Academia de Commercio de Juiz de Fóra”. Gostaria de destacar particularmente três disciplinas: contabilidade, matemática aplicada e análise e manipulações.

Em contabilidade geral e prática de escritório, os estudos são divididos em três partes: comercial (transportes por terra, operações de compra e venda, instituições especiais do comércio), financeira (bancos, câmbio, bolsa de seguros, contabilidade pública e administrativa e da contabilidade da indústria em geral) e trabalhos práticos (correspondência e conhecimento completo – teórico e prático – dos livros comerciais).

O conteúdo de matemática aplicada era ensinado juros, descontos, contas correntes, cheques, metais preciosos e sistema monetário, operações da Bolsa e cambio, operações financeiras a longo prazo, fundo do Estado, valores industriais, empréstimos, loterias, operações de companhias de seguros.

O nome análise das manipulações é realmente estranho. Mas o conteúdo é bastante atual: “é um curso essencialmente prático, permitindo aos alunos a decomposição dos produtos comerciais, ensaios, reconhecimento das falsificações que constantemente se praticam”.