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08 janeiro 2017

História da Contabilidade: Ensinando contabilidade em meados do século XIX

No final de 1857 a cidade de São Paulo tinha menos de 30 mil habitantes e se concentrava na região da República, Sé e Brás (1). Mesmo com este número reduzido, já existiam jornais diários na cidade, assim como intensa atividade comercial. No final de dezembro de 1857 o Correio Paulistano publicou um anúncio extenso de J. A. T. Romeiro, que oferecia seus préstimos para ensinar contabilidade (2). O título era o seguinte: “J. A. T. Romeiro, guarda livros da caixa filial do banco do Brasil em S. Paulo”. Este banco do Brasil corresponde a instituição financeira de mesmo nome que conhecemos nos dias de hoje. Tinha matriz na capital, o Rio de Janeiro, e provavelmente uma das suas maiores filiais estava localizada em São Paulo. Observe que Romeiro informa ser “guarda livros”, a antiga denominação do profissional contábil.

O primeiro parágrafo apresentava o seguinte trecho (3):

Ensina teoria e pratica de escrituração por partidas dobradas; e de contabilidade aplicada especialmente as operações comerciais, não só em relação aos mercados do Brasil, mas ainda as praças estrangeiras, segundo seu sistema monetário, usos, medidas e câmbios.

Com respeito ao trecho é importante destacar que apesar do país ainda ter sua economia baseada na agricultura e extrativismo, a principal utilização da contabilidade era na atividade comercial. Neste ponto se destacava o comércio com o exterior. Daí a importância de saber o câmbio e entender o que acontecia nas “praças estrangeiras”, denominação da época para as cidades estrangeiras. Isto também aparece no texto acima sob a forma do termo “contabilidade aplicada especialmente as operações comerciais”. Para isto, saber o câmbio e a conversão de medidas era bastante útil. Também é interessante notar que Romeiro apresentava como um professor da teoria e da prática; era importante para o profissional “saber como fazer”, ou seja, ter a noção da prática. Finalmente, Romeiro ensinava as partidas dobradas. Nos dias de hoje é praticamente inconcebível entender a contabilidade sem associar com o lançamento a débito e a crédito. Mas o método veneziano não foi absorvido por todos e em todas as situações. Era muito comum naquela época a utilização das “partidas simples”; esta forma de contabilização era usada na contabilidade pública, por exemplo. Assim, Romeiro avisa que sabe as partidas dobradas, mais comum no comércio.

No parágrafo seguinte do anúncio tem-se:

A pratica gradual de uma escrituração suposta abrangendo o desenvolvimento progressivo de uma casa comercial, dada a grande variedade de especulações durante as diversas gerencias pessoais e sociais até dissolver-se e liquidar-se; e seguidamente a mesma prática, já aperfeiçoada, dirigindo-a as operações de um estabelecimento bancário adstrito a sua lei orgânica: servirá de lição clara e correta – auxiliada pela explicação das regras, pelas fórmulas a seguir nos livros, pela praxe mais geralmente admitida e sobretudo pelas prescrições do código comercial brasileiro.

Romeiro indica neste parágrafo seu método de ensino: através de uma situação simulada, onde o aluno irá trabalhar em exemplos de um comércio, da sua constituição até sua dissolução e liquidação. Nada muito diferente do que temos nos dias de hoje em sala de aula. A seguir, usando também de exemplos fictícios, ensina o que denominamos de contabilidade bancária; nada de se espantar, já que o professor era guarda livros de um estabelecimento deste tipo. Tudo isto é realizado conforme inclusive a prática contábil geralmente usada na época, mas especialmente o código comercial. A adequação da contabilidade as normas legais são bastante antigas, portanto. Continua o anúncio:

Há bem poucos anos, talvez, um semelhante liceu na cidade de S Paulo, fosse considerado supérfluo, estéril e até exótico; hoje, aqueles que raciocinam sobre o progresso da indústria no Brasil e se felicitam de ver o credito territorial e o sistema bancário ramificando-se pelo país e expandindo seus benefícios, reconhecem que a mocidade carece de ser habilitada no estudo e trato mercantil, ao qual é chamada tanto pelas felizes disposições da atualidade como pela insinuação repercutida da tribuna, da imprensa e da administração pública, e que por conseguinte, este meu propósito é tão oportuno quanto pode ser útil.

Gostaria de destacar que o termo “indústria” não corresponde necessariamente a imagem que temos nos dias de hoje, mas muito mais a setor econômico, como é o caso do comércio. Romeiro enfatiza a relevância da proposta. E continua

O método que adotei está estoado (4) de todas as antigualhas e preceitos difusos ou impertinentes: na aplicação aos exercícios bancários alongo-me a apreciar os balanços das diversas instituições de crédito, os orçamentos do império, a riqueza e recursos financeiros de diversos estados e análise de trabalhos estatísticos: de sorte que este ensino compreenda os conhecimentos que se requerem em um guarda-livros ou um funcionário público e os que convém geralmente a gerencia de estabelecimentos de ordem superior.

Observe que Romeiro não somente ensina contabilidade bancária como também orçamento público – já que o governo se vale de empréstimos para financiar suas despesas – assim como análise de dados. No texto acima, Romeiro destaca, portanto, que o ensino é prático, não voltado para assuntos de pouco importância. A seguir, sob o título de Condições, ele destaca os termos do ensino:

Oito mil reis mensais, pagos adiantados.
Duas sessões de ensino em cada semana, nos dias quartas e sábados, começando as 4 horas da tarde.
Às quintas-feiras, para as pessoas que tendo luzes do sistema de escrituração queiram exercitar-se numa determinada aplicação.
Abrem-se as lições no dia 3 de janeiro de 1858; as pessoas que quiserem frequentá-las são rogadas a inscrever-se até este dia, na casa do anunciante, rua da Constituição.

Observe que naquela época não existia luz elétrica. Assim, as aulas começavam no final da tarde e provavelmente avançavam até as seis/sete horas da noite. Também é interessante que o início do calendário era bem cedo no ano: início de janeiro. Como o curso poderia servir para aqueles que já tinham seus negócios, Romeiro faz um alerta interessante:

Para os comerciantes de grande ou pequeno negócio, que desejarem seguir em suas casas a escrita de partidas dobradas = como, sendo aquela que lhes pode mostrar rapidamente o ativo e o passivo isento de erros: ofereço-lhes formar os métodos elaborados conforme o maneio que praticam, representando por algarismos arbitrários os verdadeiros, para ser a escrituração feita por seus caixeiros, escusando-me assim de tomar conhecimento dos haveres reais de suas casas.

Mais adiante ele afirma que:

Escusado parece, mas sempre é bom dizer: que sendo eu empregado em um estabelecimento onde a indiscrição é uma incapacidade destruidora de todos os merecimentos pessoais, pode o meu comitente ter a segurança de que seus negócios não ficarão expostos a esta repreensível veleidade.

Ou seja, não irá usar as informações do curso no seu trabalho de guarda-livros do banco.


(1) Este número refere-se ao censo de 1872, ou seja, quinze anos depois. Veja o histórico demográfico da cidade em http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1872.php
(2) Correio Paulistano, 19 de dezembro de 1857, ano IV, n. 506, p. 4.
(3) Adaptei a grafia da época, para tornar a leitura mais agradável.
(4) Não consegui encontrar o significado desta palavra, mas antigualhas corresponde a antiguidade.

27 novembro 2016

História da contabilidade: Charlatanismo na educação em 1869

Em 1869, no jornal America do Sul, um leitor escreveu uma correspondência sobre a educação primária para as mulheres de uma escola particular comandada por uma senhora de nome Maria Julia e suas duas filhas. O leitor comenta sobre os resultados obtidos na escola e diz:

Onze meninas de 10 a 12 anos foram examinadas em leitura, contabilidade e doutrina, e foi grande a satisfação que tivemos em notar o adiantamento real delas nos estudos, graças ao systema de ensino escoimado do charlatanismo, tão comum entre nós (19 de dezembro de 2869, ano I, n. 43, p. 4, America do Sul) (como no original)


Este trecho chama a atenção das pessoas do século XXI por diversas razões. Primeiro, mostra a existência de escolas femininas no segundo império, com turmas pequenas de onze meninas. O segundo ponto, já comentado aqui nas postagens sobre história da contabilidade, é a presença do ensino da contabilidade na fase inicial da escolarização, juntamente com a leitura. Terceiro, a crítica ao ensino da época, com a presença de charlatães. O trecho “escoimado de charlatanismo” que dizer algo como “longe da picaretagem”

14 setembro 2016

Relevância das universidades

The Conversation reflete sobre a perda de relevância das universidades. Segundo o texto, a academia não consegue impor algumas verdades triviais, como a evolução das especies, a existência do holocausto entre outros.

Para o autor, existe esperança. As universidades devem focar na pesquisa, ensino e serviço. Mas também no impacto no mundo. Isto passaria por melhorar o discurso público da ciência, mas também entender e participar do impacto da mídia social na sociedade. Ou, "engajar nas novas realidades da idade da informação". Isto significa inclusive ir onde as pessoas estão e treinar os professores para esta nova realidade. Isto inclui também ter um blog para divulgar as novas verdades.

Em frente Contabilidade Financeira!

20 março 2016

História da Contabilidade: Ensino da Contabilidade no século XIX

O retrato que temos do ensino da contabilidade no Brasil no século XIX é bastante fragmentado. A partir dos livros, das anotações sobre o conteúdo dos cursos, dos discursos técnicos, das anotações dos livros comerciais é possível ter uma ideia das aulas que eram ministradas.

O fato da contabilidade ser ensinada no nosso país logo após as pessoas aprenderem as primeiras letras e as primeiras noções de matemática mostra que talvez o conteúdo seja um pouco diferente do que ministrados nos dias de hoje. Além disto, aprender a contabilidade era um caminho de ascensão social; certamente as aulas eram práticas, com pouca fundamentação teórica. Outro aspecto é que o número de horas era muito menor do que um curso superior dos dias de hoje. Além disto, a complexidade do ambiente econômico era menor. Tudo isto somado permitir concluir que o ensino da contabilidade no século XIX seria irreconhecível para os alunos dos dias atuais.

Uma possível característica do ensino era o fato da contabilidade ser considerada uma ciência exata. Na realidade, ainda nos dias de hoje algumas pessoas ainda acreditam que isto seja uma verdade. Talvez seja resquícios dos tempos de antigamente.

Os aspectos contemplados anteriormente são decorrentes das pesquisas que já realizei até o presente momento. Um documento recentemente me chamou a atenção. Trata-se da exposição de um livro de contabilidade que se propõe estar ao alcance de muitas pessoas (1). O texto começa com a apresentação da obra:

Trata-se de uma obra popular, para as pessoas que “lidam com algarismos, e carecem conhecer das operações arithmeticas mais geralmente usadas”. Claramente um livro de matemática. O autor é um prático, sendo empregado no comércio e professor de contabilidade e escrituração mercantil. Para tirar a dúvida (“a prova dos noves”, como se dizia antigamente) eis o conteúdo:

Começa com a tabuada, passa pela aproximação, sistema métrico, frações, matemática financeira, câmbio, regra de três e legislação comercial. Mas não resta nenhuma dúvida que o foco da obra é a matemática comercial.


(1) Diário do Maranhão, ano V, n. 187, p. 4, 17 de março de 1874. É importante notar que o Maranhão era uma província desenvolvida naquela época.

29 novembro 2015

História da Contabilidade: Ensino da Contabilidade nos anos 1850s

Trinta anos depois da independência, a educação no Brasil ainda era um privilégio de poucos. Mas para aqueles que tinham condições, era possível obter conhecimentos básicos em diversas escolas existentes no país. Mas em razão da elevada taxa de mortalidade, o ensino deveria preparar o aluno para rapidamente adquirir conhecimentos e criar oportunidades para melhorar a sua vida. Por este motivo, conteúdos de natureza prática era o foco do ensino.

A contabilidade era considerada como um dos elementos necessários na educação da época. De um lado, a contabilidade representava a oportunidade de aplicação prática dos conhecimentos de aritmética e caligrafia, tornando estes conteúdos mais próximos da vida real. Por outro lado, o conhecimento da contabilidade permitia ao estudante um futuro profissional como guarda-livros ou uma profissão assemelhada e, quando não, a utilização da escrituração nos negócios e na vida pessoal.

Em 1858 o Collegio Dromond, situado na cidade de Petropolis, na Rua do Imperador 52, anunciava seus predicados com ensino primário e secundário (1). O seu diretor, Felisberto Alexandre Dromond, informava que na instrução primária:

Considera-se da maneira seguinte, e será o objecto que occupe as primeiras tres horas de cada dia, a saber: instrucção religiosa, leitura, grammatica e analyse da lingua nacional, calligraphia, arithmetica, contabilidade e escripturação comercial, geographia e historia nacional.

Um concorrente do Dromond, o Collegio Kopke, informava que ensinava “latim, francez, alemão, inglez, mathematicas elementares, geographia, historia, escripturação e contabilidade comercial, instrucção primaria e religiosa, desenho, musica e dansa”. (2)

Para que não reste dúvidas que o ensino da contabilidade ocorria nos primeiros anos de vida das pessoas, eis o que afirma um relato de uma publicação oficial (3) da época:

Garotos de até 12 anos já adquiriam as primeiras “noções” de contabilidade.

(1) 1858 O Parahyba, 22 de junho, Ano I, ed 66, p 2.
(2) 1858 O Parahyba, 20 de junho, Ano I, ed 64, p. 2.
(3) 1857 Novo e Completo Indice Chronologico da Historia do Brasil, p 156.

24 setembro 2015

Ensino

É fácil pensar em alunos como um grupo (minha classe das 09:00 ou minha classe das 10:30) e não como indivíduos. Muitas vezes descrevemos esses grupos de forma negativa. Eles são irritantes. Eles são preguiçosos. Eles são frustrantes. Eles não conseguem pensar. Eles não conseguem se preparar. Mas os alunos são indivíduos únicos, com suas próprias esperanças, sonhos, fraquezas e aspirações. Não é importante para eu gostar dos meus alunos, mas é importante para mim se preocupar com eles. Ande em sua próxima aula e olhe para os seus alunos como seres humanos distintos. Eles não fazem parte dos móveis. Eles são as pessoas. Não desperdice tanto tempo em julgá-los. Basta perceber que eles são humanos e, se eles sabem disso ou não, eles precisam de sua ajuda como seu professor. Como Madre Teresa de Calcutá disse: "se você julgar as pessoas, você não tem tempo para amá-los."
Joe Hoyle

Tenho escutado muito dos meus colegas que a qualidade dos alunos caiu nos últimos anos. Penso comigo que não é isto: suas habilidades e prioridades mudaram, pois o mundo mudou. Mesmo com um monte de tarefas que assumi neste semestre na administração da minha universidade, mantive uma disciplina na graduação. Eu preciso deste contato com o jovem aluno de graduação. Preciso saber que o que aprendi até hoje pode fazer diferença para o aluno da UnB. O que Hoyle propõe é muito difícil.

12 setembro 2015

Suki Kim: É assim que se ensina na Coreia do Norte

Durante seis meses, Suki Kim trabalhou como professora de inglês em uma escola de elite para os futuros líderes da Coreia do Norte, enquanto escrevia um livro sobre um dos regimes mais repressivos do mundo. Enquanto ajudava seus alunos a lidar com conceitos como "verdade" e "pensamento crítico", ela se perguntou: "Ensinar esses alunos a buscar a verdade poderia colocá-los em perigo?"

16 agosto 2015

Exemplos da Finlândia para a educação no Brasil

Quatro professores de um grupo de 35 brasileiros capacitados no país nórdico contam o que trouxeram da experiência e que impacto ela pode ter no ensino público do Brasil. A reportagem é de Paula Adamo Idoeta, da BBC Brasil:

Dona de um dos sistemas de ensino mais elogiados do mundo, a Finlândia recebeu, de fevereiro a julho deste ano, 35 professores de institutos federais brasileiros para treinamento e capacitação.

Embora em 2012 o país nórdico tenha caído do topo para a 12ª posição do Pisa, o principal exame internacional de educação (o Brasil ficou na 58ª posição do ranking, entre 65 países), ele ainda é apontado pela OCDE – a entidade que aplica o Pisa – como "um dos líderes mundiais em performance acadêmica" e se destaca pela igualdade na educação, alta qualificação de professores e por constantemente repensar seu currículo escolar.

Os docentes brasileiros foram selecionados pelo programa Professores para o Futuro, do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Educação), para passar cinco meses estudando a educação finlandesa.

A BBC Brasil conversou com quatro desses professores, para conhecer o que viram na Finlândia e saber se lições trazidas de lá podem facilitar seu trabalho em sala de aula e melhorar o aprendizado nas instituições públicas de ensino onde atuam.

Apesar das diferenças com o sistema brasileiro, os professores disseram ver como "pequenas revoluções" o que podem agregar do ensino finlandês em suas rotinas.

"Vou começar com um trabalho de formiguinha, mostrando aos meus colegas o que aprendi, gravando minhas aulas e adaptando (as metodologias) à nossa realidade e aos nossos estudantes", diz a professora Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense.

Os 25 institutos federais que enviaram professores ao país nórdico reúnem cursos de ensino médio, profissional e superior com ênfase em ciência e tecnologia.

Veja o que os professores aprenderam na Finlândia:

1. Usar mais projetos nas aulas

Os professores entrevistados pela BBC Brasil dizem que projetos elaborados por alunos e a resolução de problemas estão ganhando protagonismo no ensino finlandês, em detrimento da aula tradicional.

São as metodologias chamadas de "problem-based learning" e "project-based learning" (ensino baseado em problemas ou projetos). Neles, problemas – fictícios ou reais da comunidade – são o ponto de partida do aprendizado. Os alunos aprendem na prática e buscam eles mesmos as soluções.

"Os projetos são desenvolvidos sem o envolvimento tão direto do professor, em que os alunos aprendem não só o conteúdo, mas a gerir um plano e lidar com erros", diz Bruno Garcês, professor de Química do Instituto Federal do Mato Grosso, que pretende aplicar o método em aulas de experimentos práticos.

Os professores brasileiros visitaram, na Finlândia, cursos superiores baseados inteiramente nessa metodologia.

"Um curso de Administração tem disciplinas tradicionais no primeiro ano. Mas, nos dois anos e meio seguintes, os alunos deixam de ter professores, passam a ter tutores, formam empresas reais e aprendem enquanto desenvolvem o negócio", diz Francisco Fechine, coordenador do Instituto Federal de Tecnologia da Paraíba.

Não é uma estrutura que sirva para qualquer tipo de curso, mas funciona nos voltados, por exemplo, a empreendedorismo, explica Joelma Kremer, do Instituto Federal de Santa Catarina.

"E os alunos têm uma carga de leitura, para buscar (nos livros) as ferramentas que precisam para resolver os problemas."

2. Foco na produção de conteúdo pelos alunos

A resolução de problemas e projetos é parte de um ensino mais centrado na produção do próprio aluno. Ao professor cabe mediar a interação na sala de aula e saber quais metas têm de ser alcançadas em cada projeto.

"Nós (no Brasil) somos mais centrados em o professor preparar a aula, dar e corrigir exercícios. O aluno faz pouco. Podemos dar mais espaço para o aluno avaliar o que ele vai desenvolvendo", diz a professora Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense.

"No modelo tradicional de ensino, quem mais aprende é o professor. Lá (na Finlândia) é o aluno quem tem de buscar conteúdo, e o professor tem que saber qual o objetivo da aula. Para isso você não precisa de muita tecnologia, mas sim de capacitação (dos docentes)", agrega Joelma Kremer.
Professores Fechine, Bruno Garcês e Kelly Santos em sala de aula finlandesa: mais projetos práticos e autonomia dos alunos (Foto: Bruno Garces)

3. Repensar o papel da avaliação

Nesse contexto, a avaliação tem utilidade diferente, diz Kremer: "A avaliação está presente, mas os alunos se autoavaliam, avaliam uns aos outros, e o professor avalia os resultados dos projetos".

"Ao reduzir o número de testes (formais) e avaliar mais trabalhos em grupo e atividades diferentes, os professores têm um filme do desempenho do aluno, e não apenas a foto (do momento da prova)", diz Fechine.

"Conhecemos um professor de física finlandês que avaliava seus alunos pelos vídeos que eles gravavam dos experimentos feitos em casa e mandavam por e-mail ou Dropbox."

4. Usar tecnologia e até a mobília para ajudar o professor

A tecnologia não é parte central desse processo, mas auxilia o trabalho do professor em estimular a participação dos alunos finlandeses.

"Em vez de proibir o celular, os professores os usam em sala de aula para estimular a participação dos alunos – por exemplo, respondendo (via aplicativos especiais) enquetes que tivessem a ver com as aulas", conta Kremer.
Algumas salas têm mobília especialmente projetada para que os alunos possam ser agrupados ou separados (Foto: Giani Bohm)

"Isso torna a aula mais interessante para eles. E é complicado para a gente ficar dizendo, 'desliga o celular', algo que já começa estabelecendo uma relação de antipatia com o aluno."

Os professores brasileiros também conheceram algumas salas de aula com mobília especialmente projetada, diferente do modelo tradicional de cadeiras individuais voltadas à lousa.

"Muitas salas têm sofás, poltronas, mesas ajustáveis para trabalhos individuais ou em grupo e vários projetores", agrega Kremer. "É um mobiliário pensado para essa metodologia diferente de ensino."

Fechine vai reproduzir parcialmente a ideia no Instituto Federal da Paraíba, trocando as carteiras de braço por mesas que possam ser agrupadas para trabalhos.

5. Desenvolvimento de habilidades do século 21

A professora Giani Barwald Bohm conta que o ensino fundamental finlandês continua dividido em disciplinas tradicionais, mas focado cada vez mais no desenvolvimento de habilidades dos alunos, e não apenas na assimilação de conteúdo tradicional.

"(São desenvolvidas) competências do século 21, como comunicação, pensamento crítico e empreendedorismo", diz ela.

Para Fechine, estimular a independência do estudante é uma forma de romper o ciclo de "alunos passivos, que só fazem a tarefa se o professor cobrar, interagem muito pouco".

6. Intervalos mais frequentes entre as aulas

A Finlândia adota aulas de 45 minutos seguidas de 15 minutos de intervalo na educação básica – prática que Bruno Garcês acha que poderia ser disseminada por aqui. "Tira a tensão de ficar tantas horas sentado", diz.

Fechine também considera a ideia interessante, mas aponta que a grande carga horária no ensino médio brasileiro dificulta sua aplicação e lembra que na Finlândia ela é acompanhada de uma forte cultura de pontualidade. "As aulas começam no horário e aluno rapidamente entra na (rotina de) resolução de problemas."

7. Cultivar elos com a vida real e empresas

Muitos dos projetos dos estudantes finlandeses são tocados em parcerias com empresas, para aumentar sua conexão com a vida real e o mercado de trabalho, algo que Garcês acha que poderia ser mais frequente no Brasil.

"Aqui na área rural do Mato Grosso podemos ter uma interação maior com as fazendas locais, ministrando aulas a partir do que os produtores rurais precisam."

A vantagem disso é que o aluno vê sentido prático e profissional no que está aprendendo, explica Giani Barwald Bohm. "Ele desenvolve algo diretamente para o mercado de trabalho, que vai ter relevância para o próprio estudante e é contextualizado com as empresas locais."

Ela destaca também as competições de habilidades práticas desenvolvidas por escolas locais (um preparativo para a competição internacional WorldSkills, que neste ano será realizada em São Paulo, pelo Senai, entre quarta e sábado desta semana).

"As empresas são envolvidas na organização e acompanham os alunos no dia a dia e até ficam de olho para contratá-los depois."

8. Formação mais prática e valorização do professor

A formação dos professores é apontada como a principal chave do sucesso do ensino finlandês. Os brasileiros observaram lá uma capacitação mais prática, voltada ao dia a dia da sala de aula, e mais interação entre o corpo docente.

"Algumas salas têm dois professores - um como ouvinte do outro caso seja menos experiente", relata Fechine.

"Há uma relação mais direta (entre os professores), com muita conversa entre quem dirige o ensino e quem dá aula", agrega Barwald Bohm.

"Além disso, há uma valorização cultural do professor lá, semelhante à de outras profissões. O salário é equivalente e as condições de trabalho dão bastante tempo para o planejamento das aulas", diz Bruno Garcês.

14 setembro 2014

Listas: Ensino, por estado

As melhores notas no Ideb

Rede Pública - Fundamental 1
1. Minas
2. Santa Catarina
3. São Paulo
4. Paraná
5. Distrito Federal

Rede Privada - Fundamental 1
1. Minas
2. Santa Catarina
3. Espírito Santo

Rede Pública - Fundamental 2
1. Minas
2. Goiás
3. São Paulo
4. Acre
5. Santa Catarina

Rede Privada - Fundamental 2
1. Paraná
2. Santa Catarina
3. Minas Gerais

Redes Públicas Estaduais - Médio
1. Goiás
2. São Paulo
3. Rio Grande do Sul
4. Pernambuco
5. Minas Gerais

Rede Privada - Médio
1. Santa Catarina
2. Minas
3. Espírito Santo.

10 agosto 2014

Chris Emdin: Ensine professores a criar mágica



O que shows de rap, barbearias e igrejas têm e comum? Como Christopher Emdin diz, em todos eles reside o segredo da mágica que encanta e ensina ao mesmo tempo, uma técnica que geralmente não é passada aos educadores. Este defensor da ciência (e cofundador do Science Genius B.A.T.T.L.E.S. com GZA do Wu-Tang Clan) oferece uma perspectiva para trazer as salas de aula de volta à vida.

30 janeiro 2014

Mão de obra precária

O Estado de S.Paulo

Dois estudos recentes comprovam que já se tornou crônica a escassez de mão de obra qualificada no Brasil, o que pode comprometer ainda mais a capacidade produtiva nos próximos anos. Se nada for feito urgentemente para começar a reverter esse quadro, o País estará condenado a ter por muito tempo ainda o crescimento econômico pífio que apresenta hoje - com efeitos negativos na distribuição de riqueza.

Um dos estudos, elaborado pelo IBGE, indica que as pessoas de 14 anos ou mais que não tinham terminado o ensino fundamental representam 26,9% dos 90,6 milhões de trabalhadores ocupados, segundo dados do segundo trimestre de 2013. Os ocupados com nível superior são apenas 14,9% do total, e os que não dispunham de nenhuma instrução chegam a 5,4%.

Tais números são próximos daqueles que compõem o perfil educacional do País. Dos brasileiros acima dos 14 anos, isto é, em idade de trabalhar, 31,6% não têm o fundamental completo, 10,7% têm o superior completo e 9,4% não têm nenhuma formação.

As informações constam da nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que mostra dados trimestrais sobre emprego. Desde 2012, conforme o levantamento, o número de trabalhadores menos escolarizados diminuiu, mas os indicadores apontam que a escolarização ainda segue sendo muito precária, insuficiente para atender à demanda cada vez maior por parte das indústrias e mesmo dos setores de serviços e da construção civil, que tradicionalmente exigem menos especialistas na hora de contratar.

Outra pesquisa, esta da Fundação Dom Cabral, mostra que 91% das 167 empresas consultadas manifestaram dificuldades para contratar em 2013. Trata-se de uma situação estável em relação aos 92% verificados na primeira pesquisa, em 2010. No entanto, a fundação alerta que cresceu o número de empresas que mencionaram um conjunto maior de profissões com falta de mão de obra. Isso significa que, antes, a escassez de trabalhadores era mais acentuada em apenas alguns setores; hoje, no entanto, a gama de atividades que enfrentam dificuldade para contratação ampliou-se, com a escassez praticamente generalizada.

A pesquisa mostra que a grande maioria das empresas (83,23%) cita a falta de trabalhadores capacitados como a principal dificuldade na hora de contratar, seguida de deficiência na formação básica dos candidatos, com 58,08% das menções. O responsável pelo estudo, Paulo Resende, diz que "os profissionais chegam ao mercado com dificuldades básicas, como fazer contas ou interpretar textos", uma situação que obriga as empresas a "investir cada vez mais em treinamento e capacitação dos seus funcionários, elevando seus custos e, consequentemente, reduzindo a sua competitividade".

O remédio, para as empresas, é reduzir as exigências. A pesquisa indica que 51% das companhias deixam de requerer experiência dos candidatos, enquanto chega a 13% o porcentual de empresas que aceitam empregados até mesmo sem nenhuma habilidade. Mesmo assim, nem todos os cargos são preenchidos, e então é necessário buscar funcionários no exterior. Segundo Resende, o tempo que as empresas levam para contratar e treinar um profissional de nível técnico e superior pode levar até oito meses, algo que também afeta diretamente a produtividade.

A fartura de trabalhadores foi determinante para que, na década passada, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita se expandisse 20%, enquanto a produtividade cresceu apenas 10%. Agora, no entanto, a disponibilidade de mão de obra estreitou-se, e a maior parte dela é despreparada para o necessário salto da capacidade produtiva.

A solução do problema não passa apenas pelo estímulo aos cursos de capacitação técnica - necessários, porém insuficientes, pois seus resultados, em boa parte dos casos, são apenas paliativos. O importante, reitere-se, seria ter investimentos massivos e duradouros em educação básica, cuja precariedade condena o setor produtivo brasileiro à mediocridade.

15 janeiro 2014

É possível ensinar ética?



Nos últimos anos tivemos uma grande pressão para o ensino de ética nos cursos universitários, incluindo pós-graduação. O ensino geralmente ou é focado no código de ética da profissão ou representa uma discussão teórica, mais próxima da filosofia do que da realidade. A primeira opção é uma perda de tempo, pois basta que o aluno leia o código de ética; o segundo caso também não ajuda muito as pessoas a serem mais éticas.

Jonathan Haidt, da Universidade de Nova Iorque, num longo texto escrito para o Washington Post (Can you teach bussinessmen to be ethical?) trava uma longa discussão sobre o assunto. Haidt também é cético e afirma que

As escolas de negócios, o maior gasoduto para os futuros líderes de bancos e grandes corporações, não sabem realmente o que fazer para tornar os líderes éticos.

A resposta dos dias de hoje é oferecer cursos de ética empresarial e responsabilidade social corporativa. Haidt afirma que

Ainda tenho que encontrar alguma evidência de que uma única aula de ética, por si só, pode melhorar o comportamento ético após o término do curso.

Isto talvez seja um indicio de que obrigar o aluno a estudar ética serve muito mais para aplacar a consciência dos gestores educacionais, não sendo uma estratégia que se deva levar a sério na prática. Em lugar de trabalhar o código de ética ou usar livros filosóficos sobre o assunto, os alunos aprenderiam mais se lessem o último livro de Dan Ariely, que trata do assunto de maneira prática e divertida.

Haidt lembra que a própria forma de condução dos cursos de MBA induz ao comportamento antiético. Especificamente, estes cursos valorizam a participação dos extrovertidos e promove a competição, não a colaboração. Mas Susan Cain mostrou, em O Poder dos Quietos que isto é injusto.

Mas mesmo se usarmos métodos mais modernos e pesquisas recentes sobre o assunto, talvez não seja a solução. O trabalho clássico de Milgram mostrou como as pessoas normais podem agir de maneira inadequada em razão da pressão social. Milgram fez um experimento onde os indivíduos eram incentivos a aplicar choques elétricos em outras pessoas e o faziam em razão da determinação de uma autoridade.

(Charge: aqui)

21 outubro 2013

Universidades de ponta tem menos aulas

Um dos maiores gaps do ensino superior brasileiro veio à tona quando estudantes brasileiros de graduação foram para universidades de ponta pelo Ciência sem Fronteiras.
A maioria deles conta que estranhou a quantidade reduzida de disciplinas das instituições dos países estrangeiros.
Um estudante universitário de uma escola como a Universidade Harvard, nos EUA, considerada a melhor do mundo, tem em média 15 horas/aula por semana.
Para se ter ideia do que isso significa, quem faz engenharia na Poli-USP tem quase três vezes mais aulas.
A filosofia de universidades como Harvard é que cada hora de aula demanda em média uma hora extra de estudos e de leituras do aluno. Ou seja, as 15 horas viram 30 horas.
Além disso, a universidade espera que o aluno se envolva em atividades de pesquisa, empresas-júnior, trabalho sociais e culturais e que faça esporte.
Com tudo isso, a formação fica completa e a grade fica cheia.
Enquanto isso, o aluno da Poli mal consegue ter tempo para estudar para as disciplinas obrigatórias porque elas tomam o dia inteiro.
Fazer atividades fora da engenharia, então, esquece.
Essa questão é comumente abordada pelos chefes do Ciência sem Fronteiras.
Na reunião anual de cientistas da SBPC, que neste ano aconteceu em Recife (PE), o presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, discutiu o assunto e defendeu a redução da grade obrigatória de aulas.
O problema, de acordo com Guimarães, é fazer com que as universidades brasileiras topem essa redução.
O diretor da Poli e candidato à reitor da USP, José Roberto Cardoso, falou sobre o assunto nesta quarta-feira, 16, no primeiro dia de debates dos candidatos à reitoria da universidade.
De acordo com Cardoso, a redução das horas-aulas liberaria os professores para fazer mais pesquisa. E, quem sabe, poderia até fazer com que a quantidade de vagas se expandisse.
Eu não vejo outro caminho para o ensino superior brasileiro que não seja a redução da quantidade de disciplinas obrigatórias.
E você?

Fonte: aqui

27 junho 2013

Áreas de concentração da USP estão classificadas entre as melhores do mundo

A USP (Universidade de São Paulo) teve 29 de suas áreas de concentração classificadas entre as melhores do mundo. O QS World University Rankings by Subject 2013, elaborado pela Quacquarelli Symonds, classificou e avaliou 30 áreas da USP.

Em quatro áreas de concentração, a USP ficou entre as 50 melhores do mundo. São elas: Agricultura e Silvicultura, na 24ª colocação; Filosofia em 41ª; Estatística e Pesquisa Operacional em 41º lugar; Educação na 45ª colocação, e Comunicação e Estudos Midiáticos, que está no 48º lugar.

O ranking, que está em sua terceira edição e foi divulgado no último dia 8 de maio, avaliou 2.858 universidades em todo o mundo e classificou 678 instituições, no total. Com essas classificações, a USP ficou entre as 100 melhores do mundo em 26 áreas de concentração, em duas áreas ficou entre as 150 melhores e, em uma delas, entre as 200 melhores do mundo.

A única área de concentração da USP que não obteve classificação dentre as 30 áreas avaliadas no ranking foi a de Contabilidade e Finanças.

Confira aqui as classificações obtidas pela USP.

Fonte: Aqui

05 junho 2013

Escolas privadas são melhores?

[...]La qualité de l'enseignement est-elle meilleure dans les établissements privés ? Ou d’autres facteurs entrent-ils en jeu ?

Dans les pays de l’OCDE, les enseignements primaire et secondaire restent l’apanage du secteur public même si le secteur privé est plus développé en France par rapport à la moyenne OCDE.

L’offre d’enseignement privé prend différentes formes, depuis les institutions entièrement privées jusqu’aux écoles sous contrat avec l’État, en passant par les écoles gérées par les ONG ou par les communautés. Dans les données de l'OCDE, il existe deux catégories d’établissements privés : ceux subventionnés par l’État (financés à hauteur de 50% au moins par les pouvoirs publics) et les établissements privés indépendants dont le financement public est inférieur à 50%.
Bien que l’on parle beaucoup des écoles privées ces derniers temps, les enseignements primaire et secondaire restent l’apanage du secteur public. De plus, la proportion d’élèves scolarisés dans les établissements privés a peu progressé depuis une dizaine d’année au sein des pays de l’OCDE. En 2010, 90 % des élèves en moyenne fréquentent un établissement public dans l’enseignement primaire dans les pays de l’OCDE (contre 85 % en France). Les pourcentages diminuent légèrement dans l’enseignement secondaire : les établissements publics accueillent 86 % des élèves au collège (contre 78 % en France) et 81 % des élèves pour le second cycle du secondaire(contre 68 % en France).

Le secteur privé est donc plus développé en France par rapport à la moyenne de l’OCDE, notamment pour la scolarisation au second  cycle du secondaire (ce chiffre prend en compte les lycées traditionnels, l'apprentissage en CFA et les lycées agricoles) où seuls l’Australie, la Belgique, le Canada, le Chili, la Corée et le Royaume-Uni ont des proportions d’élèves scolarisés dans les établissements privés égales ou supérieures à la France.

[...]La taille des classes n’est pas primordiale mais une grande tendance ressort de l’étude PISA. Dans 26 des 29 pays de l’OCDE avec des données (voir graphique 2), les élèves de 15 ans scolarisés dans l’enseignement privé sont plus performants en compréhension de l’écrit que leurs homologues dans l’enseignement public. Cet écart est statistiquement significatif dans 16 d’entre eux. En moyenne, les élèves scolarisés dans le privé obtiennent un score supérieur de 30 points (39 points représentent environ une année d’étude dans PISA) à celui des élèves scolarisés dans le public. L’écart dépasse même 60 points en Nouvelle-Zélande, en Slovénie, au Royaume-Uni et aux États-Unis (voir graphique 2).

[...]Cependant, le niveau socio-économique des élèves explique en grande partie les écarts observés …

La première lecture est donc implacable : la scolarisation dans le privé garantit de bien meilleures performances dans la plupart des pays ! Mais la réalité est bien plus complexe. En fait, les établissements privés ont davantage d'élèves provenant de milieux favorisés que les établissements publics dans 21 des 29 pays avec des données.  Quand on sait que le milieu socio-économique des parents est un des facteurs les plus importants pour expliquer les performances des élèves, on comprend mieux. En effet, les établissements privés en attirant des élèves favorisés sont également plus susceptibles d’attirer des élèves plus performants et d’avoir de meilleurs résultats.

D’ailleurs, plus de trois-quarts de l’écart initial de 30 points entre public et privé s’explique par la capacité des établissements privés à attirer des élèves issus de milieux socio-économiques favorisés (voir PISA in focus numéro 7 : http://www.oecd.org/pisa/pisainfocus/48572011.pdf).

… ainsi que les autres avantages qui en découlent.

Et ce n’est pas tout, à travers les études de l’OCDE, les écoles qui regroupent des élèves plus favorisés ont tendance à avoir accès à davantage de ressources en éducation et à moins subir les contrecoups d’une pénurie d’enseignants. De surcroît, ces élèves ont davantage une attitude positive envers l’éducation, ce qui crée un climat en classe plus propice à l’apprentissage comme le montre le tableau 1 dans http://www.oecd.org/pisa/pisainfocus/48572011.pdf. Ainsi, lorsque sont pris en compte dans PISA la situation socio-économique des élèves et les avantages liés au matériel, la différence de performance qui subsiste entre les élèves des écoles privées et publiques n’est plus que de 3 points, c'est-à-dire non significative dans la plupart des pays. 
Ce n’est donc pas la qualité de l’enseignement qui explique les différences observées.
Revenons à la question initiale. On l’aura bien compris, ce n’est pas la qualité de l’enseignement (ou des enseignants) qui est le facteur expliquant en premier lieu la meilleure performance des établissements privés. PISA a d’ailleurs constaté que lorsque les écoles publiques bénéficient du même degré d’autonomie que les écoles privées et que la population d’élèves est similaire dans les deux types d’écoles, l’avantage significatif conféré à l’école privée observé dans 16 pays membres de l’OCDE, disparaît dans 13 de ces pays.

En fin de compte, les écoles privées, mais aussi certaines écoles publiques, dont la majorité des  effectifs provient des milieux favorisés, tirent avantage du type d’élèves qui fréquentent ces écoles.

Fonte: aqui