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21 fevereiro 2011

O que deve ter uma "conclusão" de um trabalho científico? II

Uma leitora faz a seguinte pergunta sobre a conclusão:

Até que ponto podemos dar nossa opinião sincera sobre os achados? Como no Brasil eles prezam muito a impessoalidade, fico sem saber opinar e optava pela receita errada de colocar um resuminho + as sugestões para futuras pesquisas. Eu posso, por exemplo, escrever: "tal resultado ocorreu provavelmente em decorrência a isso e aquilo"? Posso incluir esse provavelmente, como nos textos estrangeiros?`Ou essa opinião é um meio termo entre isso e a impessoalidade?
Observe que não podemos confundir o tempo verbal com a opinião. No Brasil é costume empregar o impessoal (“utilizou-se”), ao contrário dos textos estrangeiros (“utilizamos”). A única regra, em minha opinião, é ser coerente: se começou usando o impessoal no texto, todo o texto deve estar no impessoal.

A opinião sobre os achados deve ser coerente com o que foi encontrado. Neste caso, é importante não deixar nenhuma possibilidade de lado. Como fazemos isto? Em lugar de afirmar que “tal resultado ocorreu em decorrência disto” usar sua sugestão: “tal resultado ocorreu provavelmente em decorrência disto”. A razão para usar o “provavelmente” é simples: o conjunto de limitação existente na sua pesquisa.

18 fevereiro 2011

O que deve ter uma "conclusão" de um trabalho científico?

A conclusão é a parte mais desprezada de um trabalho científico. Geralmente deixamos para o final, quando já estamos exaustos com a pesquisa. E temos dificuldade em escrevê-la. Existe um pesquisador que afirmou que por ele seus trabalhos nunca teriam o item “conclusão”, pois as mesmas são facilmente obtidas a partir da leitura do texto. Mas ele reconhece que isto tornaria difícil a aprovação do artigo num periódico de renome e por isto ele faz uma conclusão suscinta.

Aqui um roteiro sobre o que deve e o que não deve conter uma conclusão

O que não deve estar na conclusão

1. O objetivo do trabalho – Na realidade o objetivo só deve ser enunciado uma vez. Se o texto é claro, não é necessário repetição.
2. Os resultados do trabalho – Novamente o mesmo do anterior. Os resultados já estão no resumo, na introdução (e isto mesmo) e na análise de dados. Repeti-los na conclusão é considerar o leitor um prejudicado mentalmente.
3. O resumo do trabalho – Parece incrível, mas o resumo do trabalho deve estar numa seção chamada “resumo”.
4. As limitações – as limitações devem estar ao longo do trabalho, sempre que o assunto for abordado. Assim, quando se fala da amostra, as limitações decorrentes da amostra podem ser apresentadas.

Observe que as restrições acima fazem com que a conclusão seja algo realmente reduzido. Um trabalho de oitenta folhas poderia ter uma conclusão de no máximo uma página. Num artigo de vinte páginas, dois ou três parágrafos. Entretanto, isto é controverso. Algumas pessoas acham que a conclusão deve ser mais extensa.

O que pode estar na conclusão do trabalho

1. Uma opinião sincera e honesta sobre os achados – Os achados são relevantes para a ciência? Como podem contribuir para a melhoria do conhecimento científico? Quais os novos rumos das pesquisas futuras? Neste caso, as frases devem estar baseadas nos dados que foram analisados.

2. Sugestões de pesquisas futuras – Decorrentes das dificuldades encontradas, o pesquisador pode sugerir novos rumos a serem investigados.

P.S. Veja este link

12 fevereiro 2011

Pecados na Produção Científica

Pecados na Produção Científica - por Isabel Sales

Você sabia que se você formular um problema de pesquisa o qual eu possa responder com um simples “não” diminui a qualidade do seu trabalho? Você sabia também que nas conclusões de sua pesquisa você não pode, na tentativa de valorizá-la, acrescentar informações que não foram trabalhadas ao longo do trabalho?

Ano passado recebi uma indicação de leitura do professor Cláudio Santana que vale a pena ser repassada: Produção Científica em Contabilidade no Brasil: Dez “Pecados” Mais Frequentes.

Os professores Martins e Theóphilo ressaltaram a importância de um artigo bem escrito, bem como os erros que podem prejudicar seriamente sua qualidade:

1. Não atendimento de quesitos fundamentais do assunto-tema-problema: o tema de estudo deve ser importante, original e viável. Não se norteie apenas por um trabalho que seja “publicável”.

2. Inadequação na elaboração do problema de pesquisa: um exemplo de problema de pesquisa mal formulado é aquele que pode simplesmente ser respondido por um “sim” ou “não”; ou que acrescentam algum juízo de valor a pergunta (isso é melhor que aquilo?).

3. Trabalhos sem passado: trabalhos que não apresentam as discussões relevantes sobre o tema ou como o debate se encontra no estágio atual.

4. Trabalhos nem abrangentes, nem aprofundados: uma pesquisa tem que privilegiar um ou outro. Um levantamento, por exemplo, será abrangente. Já de um estudo de caso espera-se aprofundamento.

5. Inadequação na sustentação teórica do estudo: um trabalho precisa de um referencial teórico robusto.

6. Inadequação na utilização das fontes que dão apoio ao estudo: uma pesquisa científica deve utilizar fontes diversas. (Não utilize apenas livros ou leis. Baseie-se em dissertações e teses, assim como artigos científicos publicados em bons periódicos. Se você utilizar a internet da sua Universidade provavelmente terá acesso, por meio do portal de periódicos da Capes, aos journals internacionais que a princípio cobram por seu conteúdo).

7. Pouca atenção para com aspectos de confiabilidade e validade dos estudos.

8. Crença na auto-explicação dos testes estatísticos.

9. Deficiências na enunciação das conclusões dos estudos: muitas vezes são acrescentadas às conclusões análises que ultrapassam o que foi observado no desenvolvimento da pesquisa.

10. Pecado coletivo: é necessário que os pesquisadores não sigam tanto um modelo predeterminado e ousem um pouco mais.

O artigo mencionado foi publicado pela Editora Atlas no livro “Educação Contábil: Tópicos de Ensino e Pesquisa”, organizado por Jorge Lopes, José Ribeiro Filho e Marcleide Pederneiras.

23 janeiro 2011

Mais sobre o projeto de pesquisa

Após a postagem “para começar o projeto de pesquisa”, senti a necessidade de acrescentar mais algumas informações presentes no livro de Nicholas Walliman “Your Research Project”. Isso porque na empolgação do momento embolada com a areia escorrendo pela ampulheta, esquecemos-nos de nos atentar a pontos óbvios e importantes do nosso trabalho.

Para quem esta se iniciando no mundo acadêmico, essa postagem serve como uma rapidíssima aula de metodologia. Para os mais experientes, cairá como uma lista de checagem do que foi utilizado, ou não. Vamos lá!

Título: tem a função de agregar a essência do trabalho. Use poucas palavras: duas linhas bastam. Evite frases com “uma investigação sobre”, “um estudo de”, “aspectos da”, já que são atributos óbvios de uma pesquisa.

Lembre-se: O título será a vitrine do seu trabalho. Com ele, seu público-alvo saberá o que esperar daquela leitura.

Objetivos: são uma introdução ao coração do projeto. Saiba explicar em algumas linhas o que você fará em seu trabalho. Não exagere. Disponha de tempo para que o resultado final não precise ser alcançado em apenas alguns minutos. Permita-se experimentar novas formas, trocar as frases, buscar outras abordagens até que se decida pelos objetivos mais apropriados.

Escolha apenas um objetivo geral. Mais que um significa múltiplas pesquisas. Ao apontar os objetivos específicos, utilize apenas ações principais para a sua pesquisa. “Baixar os dados da amostra”, por exemplo, não deverá ser considerado um objetivo específico. Isso deverá ser descrito na metodologia da pesquisa.

Referencial teórico: é necessário explicar ao leitor a sua proposta e o contexto no qual o problema de pesquisa surge. Você deverá demonstrar que está ciente dos fatores mais importantes que cercam o seu problema e da literatura que significativamente relata isso.
  • Não conclua que seu leitor conhece bem o assunto discutido;
  • Não simplesmente jogue as citações em forma de parágrafos. Saiba tornar o texto fluido e agradável. Utilize uma estrutura lógica.
  • Use as referências de forma eficiente. Não exagere. Seu projeto deve ter em torno de 25 páginas ao todo.
Problema de pesquisa: deve ser o foco da sua proposta, o ponto mais importante. Assim, evite perguntas muito genéricas cujas respostas sejam simplesmente “sim” ou “não”. Saiba valorizar o seu trabalho elaborando uma questão definida e delimitada de forma precisa.

Delineamento da metodologia: essa parte da proposta explica de forma breve o que você pretende fazer para desenvolver sua pesquisa. Pode ser importante que você descreva como terá acesso a certos tipos de informação. Se há problemas de acesso, descreva como serão solucionados. Se você recebeu acesso privilegiado a informações restritas ou obscuras, isso deverá ser reportado.
Cada pesquisa é diferente em sua descrição da metodologia, tendo em vista ser tecida especificamente para a coleta e análise de dados de um problema específico.

Resultados possíveis: o seu projeto é algo como um contrato no qual você se compromete a realizar determinadas tarefas com propósitos definidos. Portanto, controle a sua vontade de exagerar as promessas na tentativa de valorizar o seu trabalho. Apesar de você não conseguir prever quais serão os resultados exatos (se pudesse, pouca razão haveria em continuar a pesquisa), você deverá tentar ser relativamente preciso quanto a natureza e a extensão dos resultados. Certifique-se que os resultados se relacionam diretamente aos objetivos de pesquisa que você relatou no início do projeto. Você poderá ser mais genérico quando descrever o significado geral dos resultados


Lembretes adicionais:
- Sempre verifique as regras formais do seu programa de pós-graduação.

- Preste atenção nos tempos verbais. Seja consistente.

- Peça para que outros colegas de confiança leiam seu trabalho. Comentários diferentes são essenciais, desde que você saiba filtrar corretamente.

- O título, o objetivo e o problema de pesquisa têm necessariamente que estar alinhados entre si.

- Não desperdice tempo. Escreva o seu projeto de uma forma com que ele possa ser utilizado na dissertação sem trabalhos adicionais.

16 janeiro 2011

Para começar o projeto de pesquisa

Para começar o projeto de pesquisa - por Isabel Sales

O primeiro passo para se iniciar uma dissertação é elaborar um projeto de pesquisa. Começar a escrever talvez seja um dos momentos mais difíceis, no qual a ansiedade e o perfeccionismo conspiram para que o “branco de escritor” predomine. Para ajudar, sugiro o passo-a-passo elaborado por Nicholas Walliton em seu livro “Your Research Project”:

- Faça um levantamento de pesquisas diversas para identificar a sua área de estudo.

Postagens anteriores para inspirar:
Como ler um artigo acadêmico
Como achar um tema para uma pesquisa
Como escolher um tema para a monografia ou TCC


- Concentre-se em sua área, defina um problema de pesquisa e o transforme em uma pergunta ou hipóteses. Com base nisso formule também o título.

- Explique como a sua pesquisa irá se dirigir ao problema de pesquisa. (Como exercício, antes de escrever, explique a sua pesquisa em voz alta. Suas ideias poderão ficar mais claras).

- Decida como o problema pode ser pesquisado e desenvolvido na prática:
De que informações você irá precisar? Onde ou com quem conseguir essas informações? Qual equipamento ou software será adequado?

- Descubra quais técnicas de coleta de dados e qual metodologia de pesquisa serão as mais adequadas para te ajudar.

- Descreva, de forma breve, os resultados esperados e como as conclusões serão apresentadas. Verifique quais são os requisitos que seu programa de pós-graduação exige.

- Apresente a projeção de um cronograma de trabalho. E seja realista.

Lembre-se: primeiro escreva as suas ideias. Preocupe-se com forma e gramática em um momento posterior. Se o seu português não for bom, contrate um profissional para corrigir seus deslizes. Mesmo a mais brilhante das ideias será ofuscada por erros de concordância.

17 dezembro 2010

Como achar um tema para uma pesquisa?

Em postagens anteriores já comentei sobre como ler um artigo acadêmico e como escolher um tema para monografia.

Na minha faculdade gosto de orientar alunos que não possuem tema para fazer seu trabalho final de curso (no caso de aluno de graduação) ou que gostem das grandes áreas que eu costumo pesquisar (para alunos da pós-graduação). As pessoas parecem que já sabem da minha capacidade razoável de descobrir temas para uma pesquisa. Qual o segredo?

A palavra-chave é leitura. Através da leitura, de trabalhos científicos a textos de blogs na internet, nós encontramos perguntas interessantes que merecem serem respondidas através de uma pesquisa mais profunda. Mas o termo é muito amplo e irei detalhar mais nesta postagem.

1. Leia as Considerações Finais - A primeira forma de encontrar um tema para uma pesquisa na contabilidade é ler os artigos recentes que foram publicados em bons periódicos ou nos melhores portais de pesquisa. Se você gostou da pesquisa que leu, estude com atenção a parte final do texto. Nela, alguns autores fazem sugestão para pesquisas futuras, abordando aspectos que não foi possível discutir na pesquisa publicada. Geralmente são sutilezas da pesquisa, mas que podem comprovar as conclusões dos autores ou podem refutá-las. Entretanto, muitas vezes, ou os autores não trazem estas sugestões de pesquisas futuras ou as sugestões estão fora do alcance, seja pela dificuldade de executá-las.

2. Leia com atenção o desenho da pesquisa – Verifique o que os autores fizeram e certifique se não é possível alterar algo no método. Por exemplo, os autores compararam o desempenho das vendas com o comportamento do lucro. Ao analisar a pesquisa, você notou que os autores usaram o conceito de receita bruta. Mas você sabe que talvez este não seja a melhor variável de receita que se deve usar (e não é). Você pode refazer a pesquisa, com a receita líquida. Outra forma é verificar se as conclusões dos autores são válidas para outro período de tempo ou para setores específicos.

3. Leia os artigos de áreas correlatas – Ao ler um artigo sobre a maneira como as pessoas reagem a uma notícia do jornal, você pode imaginar uma pesquisa similar, com as mesmas técnicas, para verificar a reação das pessoas as informações contábeis. Esta adaptação pode ser feita, em alguns casos, facilmente. Com uma grande vantagem que você será o desbravador na área de contabilidade sobre aquele assunto.

4. Leia artigos que foram escritos em outros países – A leitura de um texto sobre a cobertura da imprensa e o retorno no mercado acionário, realizada nos Estados Unidos, pode inspirar você a replicar a pesquisa no Brasil.

5. Leia os artigos que ainda estão em produção – Em geral as universidades valorizam mais os artigos que já foram publicados em periódicos. Entretanto, alguns destes artigos levam anos antes que chegarem as páginas de um periódico de renome. No exterior e em outras áreas, os cientistas geralmente publicam seus artigos ainda em fase de elaboração; são os rascunhos, que irão receber as contribuições de outras pessoas. A leitura destes artigos em fase de produção permite que a escolha da sua pesquisa esteja mais coerente com os assuntos que estão sendo investigados agora pelos cientistas.

6. Leia os jornais. Temas atuais estão surgindo a todo o momento. As notícias sobre os problemas do Panamericano serão objeto de interesse dos pesquisadores. A questão da auditoria, sua confiabilidade, a manipulação das informações contábeis e a reação dos reguladores são temas óbvios que podem ser explorados a partir deste fato.

7. Leia a distribuição dos trabalhos nos principais congressos da área. Você irá observar que algumas áreas possuem mais trabalhos. Deve existir razão para isto: provavelmente são os temas do momento na área contábil. Mas atenção: áreas que não possuem trabalhos podem sinalizar que poucas pessoas estão fazendo pesquisas, sendo uma grande oportunidade para destacar seu tema: afinal, a concorrência é menor.

8. Leia a chamada de trabalhos. Existem congressos e periódicos que fazem chamadas específicas para determinados assuntos. Em geral estas chamadas são feitas com meses de antecedência, que permite, se você trabalhar muito, concluir uma pesquisa de qualidade. Assim, no passado, um periódico nacional fez uma chamada para trabalhos na área de saúde. Um bom trabalho de custo em hospital poderia ser interessante para os editores

9. Leia os títulos dos novos periódicos. A existência de um periódico sobre “finanças islâmicas” (que existe) pode indicar a existência de um campo específico de pesquisa: que tal estudar a questão contábil nos países islâmicos? Mas atenção: esta sugestão não é válida para o Brasil, já que nossos periódicos ainda são genéricos demais.

10. Leia tudo, inclusive blogs. Se você chegou ao final desta postagem, imagino que as dicas apresentadas aqui permitiram você pensar em um ou dois temas para sua pesquisa. Isto já é um bom começo.

26 novembro 2010

Sobre metodologia para mensurar evidenciação

Nos últimos tempos têm sido comum artigos sobre nível de evidenciação das empresas. Em geral o pesquisador toma uma legislação, faz uma lista de variáveis e mede, para cada empresa, o que foi encontrado ou não. Este método é chamado de dicotômico, pois para cada item considera que a empresa está ou não está de acordo com a norma. Se a empresa estiver de acordo com o previsto na norma contábil, atribui-se um ponto; caso contrário, recebe zero. Assim, por conseqüência, quanto maior o número de pontos obtidos, maior a evidenciação.

Uma característica do método dicotômico é o fato de cada item receber peso idêntico. Ou seja, cada item é tratado igualmente. Isto pode ser um problema.

Além disto, o número de itens da norma incluídos na listagem a ser verificada em cada entidade pode variar conforme o pesquisador. Para se ter uma idéia, uma pesquisa * pediu a quatro pesquisadores para fazerem uma listagem de itens de diversas normas internacionais do Iasb. No Ias 8 (Accounting Policies, Changes in Accounting Estimates and Errors), um pesquisador considerou seis itens, outro listou oito, um terceiro dezesseis e o quarto vinte e um. Naturalmente que mudando a listagem de itens utilizada, pode alterar os resultados da pesquisa.

Outro problema da abordagem dicotômica ocorre quando a pesquisa é realizada com várias normas ou com uma norma que possui várias divisões. Neste caso, a abordagem dicotômica considera cada item, de ambas as normas, de forma idêntica. Para entender melhor, considere uma pesquisa sobre duas normas internacionais: o padrão um possui três itens e o padrão dois é composto de doze itens. Se uma empresa cumpriu todos os três itens do padrão um e somente quatro itens do padrão dois, o resultado da evidenciação pela abordagem dicotômica seria dado pela soma dos itens obtidos por uma empresa pelo total de itens da listagem do pesquisador. Neste caso: (3 + 4) / (3 + 12), que corresponde a 47% dos itens.

Entretanto, a empresa do exemplo cumpriu todos os itens do padrão um, mas não teve um bom desempenho no padrão dois: quatro itens de um total de doze, o que representa 33%. Uma alternativa seria fazer uma média das médias. Se a empresa cumpriu 100% de um padrão e 33% de outro, em média ela obteve 67% dos padrões estudados ou (100 + 33)/2.

Observe que neste exemplo o resultado obtido pelo pesquisador será bastante diferente. Na abordagem dicotômica a empresa teria uma nota de 47%. Na média das médias o resultado seria 67%.

Quando o pesquisador escolhe a abordagem dicotômica, aparentemente a mais usada, problemas podem ocorrer. O mais adequado seria trabalhar com as duas, pois o resultado seria mais robusto.

* Comparasion of two methods for measuring compliance with IFRS mandatory disclosure requirements – Ioannis Tasalavoutas, Lisa Evans e Mike Smith – Journal of Applied Accounting Research, vol. 11, n. 3, 2010, p. 213-228

18 outubro 2010

Pesquisa no Mundo Virtual

Quando pretendemos responder a uma pergunta de pesquisa, podemos buscar dados no mundo real. É este o tipo de pesquisa que fazemos quando usamos as informações do mercado acionário. Se desejarmos saber se uma empresa de auditoria é mais rigorosa usamos as informações do mercado e fazemos testes para comprovar nossa teoria. O problema neste tipo de pesquisa é que existem uma série de fatores que pode afetar o resultado da pesquisa, como o setor de atuação da empresa e o ano do parecer. Nesta situação, o dilema do pesquisador é comprovar que realmente a empresa de auditoria é mais rigorosa que as outras e que o resultado não foi influenciado ou afetado por outro fator.

Uma forma de fazer certos estudos é reproduzir uma determinada situação de forma “artificial”. Nesta situação, tentamos imitar o que ocorre no mercado através de experimentos. Muitas pesquisas na área de finanças comportamentais são feitas através deste método, chamado de experimental pelos especialistas. Apesar deste método já ser reconhecido por muitos cientistas, graças ao trabalho pioneiro de Vernon Smith, existem muito questionamento se a experiência reproduz, razoavelmente, o mundo real.

Uma tentativa de avançar nesta questão tem sido proposta: usar o mundo virtual como instrumento de pesquisa na área contábil. Robert Bloomfield e Kristina Rennekamp, da Cornell University, consideram que a economia virtual do Second Life poderia ser um importante instrumento de pesquisa na área da contabilidade financeira. Por reproduzir razoavelmente bem o ambiente real, ambiente virtual pode ajudar a entender melhor questões como governança corporativa ou direitos de propriedade. Os pesquisadores acreditam que certas pesquisas poderiam ter uma relação custo-benefício favorável, além de possibilitar ao pesquisador um controle maior sobre as variáveis externas que podem influenciar no comportamento das pessoas.

Para ler mais:
Robert Bloomfield e Kristina Rennekamp. Experimental Reasearch in Financial Reporting. Now the essence of knowledge, 2009.

17 julho 2009

Teste #111

Uma pesquisa estava tentando determinar quantos contadores já tinham realizado algum tipo de fraude contábil. Para isto utilizou-se o procedimento metodológico adequado para ter esta resposta (PAENZA, Adrián. Matemática ... Cadê você? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 156-159): cada entrevista entra numa "cabine cega" e joga uma moeda. Se sair cara, ele irá responder "sim" seja qual for a resposta verdadeira. Se cair coroa, deve responde a verdade. O número de participantes foi muito grande e no final 59% responderam sim, que já participaram de alguma fraude contábil. Com base na metodologia, qual o percentual que o pesquisador deve considerar na sua pesquisa?

Resposta do Anterior: Mateus = Hierapolis/Etiopia; Lay = Snowmass; Buchwald = Washington

06 novembro 2008

Questão de Estilo em Ciência

Acompanho o endereço sobre produtividade na academia com muito interesse. Na postagem denominada “Writing style” vs. “content”: Watson & Crick’s example uma discussão interessante sobre estilo e conteúdo.

O texto compara dois artigos científicos: o trabalho de Watson e Crick (WC), sobre o DNA e o trabalho de Avery et al (AV, também na área de química. O primeiro é largamento conhecido ainda hoje. Qual a razão? Estilo e retórica, responde o blog. WC são concisos (900 palavras é o tamanho do artigo), enquanto AV é verborrágico (7500 palavras). WC usam a primeira pessoa, AV usam “os autores”. WC informam a importância do trabalho no primeiro parágrafo, enquanto AV não informa a sua relevância.

Num trecho, um aspecto importante:

“escrita pobre é quase sempre a razão freqüente para rejeitar um manuscrito”.

25 fevereiro 2008

A questão da metodologia de Finanças Comportamentais


Um dos problemas interessantes de FC é a questão metodológica. Boa parte dos artigos desenvolvidos neste campo tem sua origem em situações experimentais. Geralmente um questionário com uma situação problema é aplicado e solicita-se ao respondente que escolha uma alternativa. Este tipo de metodologia tem recebido críticas - apesar de ter sido coroado recentemente com um Nobel em economia - por não expressar a realidade. Como testar o comportamento dos indivíduos diante de situações reais?

O texto a seguir reconhece os limites dos experimentos em laboratórios e afirma que as evidências sugerem que as anomalias de comportamento são menos pronunciadas na prática do que previamente observada em laboratório.

"Homo Economicus Evolves"

Steven D. Levitt and John A. List on behavioral economics. This is from Science:

Homo economicus Evolves Steven D. Levitt and John A. List, Science 15 February 2008: Vol. 319. no. 5865, pp. 909 - 910 DOI: 10.1126/science.1153640: ...The discipline of economics is built on the shoulders of the mythical species Homo economicus. Unlike his uncle, Homo sapiens, H. economicus is unswervingly rational, completely selfish, and can effortlessly solve even the most difficult optimization problems. This rational paradigm has served economics well, providing a coherent framework for modeling human behavior. However, a small but vocal movement in economics has sought to dethrone H. economicus, replacing him with someone who acts "more human." This insurgent branch, commonly referred to as behavioral economics, argues that actual human behavior deviates from the rational model in predictable ways. Incorporating these features into economic models, proponents argue, should improve our ability to explain observed behavior. ...

Perhaps the greatest challenge facing behavioral economics is demonstrating its applicability in the real world. In nearly every instance, the strongest empirical evidence in favor of behavioral anomalies emerges from the lab. Yet, there are many reasons to suspect that these laboratory findings might fail to generalize to real markets. We have recently discussed [11] several factors, ranging from the properties of the situation--such as the nature and extent of scrutiny--to individual expectations and the type of actor involved. For example, the competitive nature of markets encourages individualistic behavior and selects for participants with those tendencies. Compared to lab behavior, therefore, the combination of market forces and experience might lessen the importance of these qualities in everyday markets.

Recognizing the limits of laboratory experiments, researchers have turned to "field experiments" to test behavioral models [12]. Field experiments ... avoid many of the important obstacles to generalizability faced by lab experiments.

Some evidence thus far suggests that behavioral anomalies are less pronounced than was previously observed in the lab [13] . For example, sports card dealers in a laboratory setting are driven strongly by positive reciprocity, i.e., the seller provides a higher quality of good than is necessary, especially when the buyer offers to pay a generous price. This is true even though the buyer has no recourse when the seller delivers low quality in the lab experiment. Yet, this same set of sports card traders in a natural field experiment behaves far more selfishly. They provide far lower quality on average when faced with the same buyer offers and increase quality little in response to a generous offer from the buyer. ...

Stigler (16) wrote that economic theories should be judged by three criteria: generality, congruence with reality, and tractability. We view the most recent surge in behavioral economics as adding fruitful insights--it makes sense to pay attention to good psychology. At the very least, psychological insights induce new ways to conceptualize problems and provide interesting avenues of research. In their finest form, such insights provide a deeper means to describe and even shape behaviors. One important practical example involves savings decisions, where it has been shown that decision-makers have a strong tendency to adhere to whatever plan is presented to them as the default option, regardless of its characteristics. ... The changes in behavior induced by changing default rules dwarf more "rational" approaches to influence choice such as information provision or financial education.

Behavioral economics stands today at a crossroads. On the modeling side, researchers should integrate the existing behavioral models and empirical results into a unified theory rather than a collection of interesting insights, allowing the enterprise to fulfill its enormous potential. To be empirically relevant, the anomalies that arise so frequently and powerfully in the laboratory must also manifest themselves in naturally occurring settings of interest. Further exploring how markets and market experience influence behavior represents an important line of future inquiry. ...


Grifo meu.

08 maio 2007

Citação própria é interessante?

Uma situação muito comum no mundo acadêmico é um pesquisador fazer uma citação de um trabalho da sua própria autoria.

Durante minha defesa de doutorado fui alertado pela banca para não usar este recurso, pois isto não seria adequado como forma de defender um ponto de vista.

Quando uma pesquisa faz uma citação está usando o chamado “argumento de autoridade”. Num texto, quando se afirma que “segundo Fulano de Tal” está implícito para o leitor que Fulano de Tal, que é uma autoridade no assunto, também concorda com nosso pensamento.

A citação do próprio autor é também uma forma de dizer ao leitor que “sou uma autoridade no assunto”.

A citação própria também tem outra função: é uma forma de valorizar o trabalho do pesquisador perante a comunidade científica.

Uma pesquisa mostrou que um artigo que possui citações do próprio autor tem um efeito positivo sobre os artigos que estão relacionados. Esta é uma conclusão razoavelmente obvia uma vez que quando gostamos de um assunto olhamos as referências para procurar mais textos sobre o assunto.

Para quem trabalha com situações de análise de texto sem saber sua autoria (blind review), analisar as referências ao final do texto pode ser um indício para determinar o potencial autor do artigo.

06 junho 2006

Conselhos para um orientando

Sempre que posso, leio dicas sobre orientação e metodologia. Preferencialmente algo prático, longe do linguajar acadêmico, que seja efetivamente aplicável. Como admiro muito os trabalhos produzidos pelos norte-americanos, a consulta a textos com conselhos é sempre útil.

Além disso, estamos, nós brasileiros, literalmente mudando nosso estilo científico na pesquisa contábil. Já deixamos de lado a pesquisa bibliográfica e produzimos cada vez mais textos empíricos.

Michael Kremer apresenta algumas sugestões interessantes sobre um trabalho empírico e um trabalho de modelagem. Eis alguns conselhos (adaptado):

Trabalho Empírico

1. Descreva os dados. Quantas observações? De onde vieram?
2. Inclua tabela que mostre a média das variáveis e seus desvios.
3. Como regra, é usualmente melhor mostrar os erros padrões do que a estatística "t".
4. Olhe para um artigo publicado para ver como apresentar uma tabela. Evite linhas horizontais.
5. Inclua informações básicas como o tamanho da amostra e o R.
6. Na medida do possível faça a tabela autoexplicativa, inclusive no título e nas notas.
7. Você deve explicar seu trabalho empírico com detalhes suficientes para que alguém o replique.
8. Se você usa um instrumento, explique as razões pelo qual você pensa que é válido.

Exposição

1. A introdução e a revisão não deve tomar mais do que 5 páginas. Depois disso, vá para o modelo.
2. Sempre inclua um resumo.
3. No resumo e na introdução, não somente diga o que você irá examinar, mas também descreva os resultados. (Aqui, uma nota minha: no Brasil não fazemos isso)
4. Não devem ter mais do que 45 páginas. 20 a 30 é o mais apropriado.