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06 novembro 2012

Regulação dos FIDCs


Um dos pontos mais obscuros na fiscalização de operações de crédito no Brasil é o risco oferecido pelos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, os FIDCs. Essa modalidade de investimento consiste em reunir num só fundo diversas carteiras de empréstimos de bancos e empresas. Nas rodas de economistas, os FIDCs têm um apelido nada honroso: ‘subprime’ brasileiro, numa alusão aos derivativos “podres” que originaram a crise americana em 2008.
A desconfiança dos analistas ocorre porque, como se trata de um fundo, sua fiscalização não está no escopo de atuação do Banco Central, mas sim da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O órgão regulador do mercado de capitais brasileiro, contudo, não tem experise para fiscalizar operações de crédito. Com isso, a composição dos FIDCs tampouco é controlada de maneira eficaz pela CVM. Atualmente, esses investimentos possuem nada menos que um patrimônio líquido de 70 bilhões de reais, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
 regulação desses fundos teve alguma melhora em 2012, quando o BC passou a monitorar, a partir de janeiro, as carteiras de crédito dos bancos por meio da criação da Central de Cessão de Crédito, a C3. Operado pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), a C3 registra eletronicamente todas as operações de compra e venda de carteiras entre instituições financeiras, tão logo elas ocorram. Desta maneira, evita-se a repetição de fraudes, como as do Banco PanAmericano, que não comunicava as alienações que fazia, duplicava carteiras, etc. Ainda com a Central, todas as operações de empréstimos que, porventura, acabarem no portfólio de um FIDC já terão sido previamente registradas no BC. Isso garante que os fundos criados daqui para frente possam ter um pouco mais de transparência em relação aos mais antigos. "O problema é que, nos fundos criados há muito tempo, ninguém sabe o que tem dentro", afirma um executivo de uma instituição financeira que não quis ter seu nome citado.
CVM se mexe – Em junho, a CVM anunciou que poderia fazer mudanças relevantes na instrução que regula os FIDCs. "A CVM já vem se dedicando aos aspectos de transparência das estruturas, quer seja dos certificados de recebíveis e de agronegócio, quer seja nos fundos de direitos creditórios. Nesta próxima rodada, vamos tratar das questões de conflitos de interesse e de controles dentro da estrutura de securitização por meio de FIDCs", explicou a então presidente da autarquia, Maria Helena Santana, em entrevista a jornalistas. Em outubro, Maria Helena foi substituída por Leonardo Pereira, que deverá dar sequência às discussões.
A CVM colocou em audiência pública, encerrada em 10 de setembro, uma minuta que altera a Instrução nº 356/07, a qual regula os FIDCs. A autarquia quer que o serviço de custódia dos fundos – de guarda dos documentos que comprovam a existência desses créditos – seja prestado por uma instituição não ligada aos administradores ou gestores do fundo, nem ao grupo que fez a cessão dos créditos. O objetivo é que ao menos duas instituições isentas façam parte da operação dos FIDCs.
Segundo reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, os bancos estão tentando derrubar a minuta, argumentando que, caso seja aprovada, ela aumentará muito os custos de administração dos FIDCs. “A discussão sobre o acompanhamento do risco de crédito dos FIDCs precisa ser levada adiante. A CVM não precisa formar gente para isso. Ela pode decidir credenciar auditorias externas para avaliar o risco desses fundos”, afirma o economista Alberto Borges Matias, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP).
Cruzeiro do Sul – Os FIDCs foram alvo de irregularidades no caso da intervenção do Cruzeiro do Sul. O banco da família Índio da Costa aportava carteiras de crédito nos FDICs e, depois, comprava suas cotas. A instituição também está sendo investigada por criar mais de 300 mil empréstimos fictícios em suas carteiras.
Fonte: aqui

05 novembro 2012

Banco Central e fraudes bancárias


Sob o comando de Alexandre Tombini, o Banco Central do Brasil tem sido alvo de críticas e afagos. Ao mesmo tempo em que desagrada o mercado por aceitar as pressões do governo federal, arranca elogios pelo pulso firme com que tem conduzido a fiscalização de instituições financeiras. Desde o escândalo do PanAmericano, revelada em novembro de 2010, a autoridade monetária reforçou procedimentos internos e colocou em prática novas políticas para tentar coibir a atuação fraudulenta de banqueiros. Contudo, um ano e meio depois, um novo rombo de tamanho semelhante ao do banco fundado pelo empresário e apresentador Silvio Santos veio à luz: o do Cruzeiro do Sul. A sensação de déjà-vu evidencia que, apesar da melhoria regulatória, há ainda um longo caminho a ser percorrido para impedir que fraudes aconteçam e prejudiquem clientes.
Muitas das mudanças adotadas pelo BC em sua área de risco de crédito remontam a 2008 – ano em que começou a mais recente crise financeira internacional. Não é à toa que o foco do aperto ocorre justamente nesse segmento, pois é ele que mais atrai a ação de fraudadores. Afinal, é das operações de financiamento que os bancos, sobretudo os pequenos e médios, tiram a maior parte de seus ganhos. “Crédito não tem preço unitário. Não é igual a um título, ou seja, não tem preço de mercado. E isso abre espaço para muita criatividade por parte dos fraudadores”, explica o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Tadeu de Freitas Lopes. No PanAmericano, as tais ações “criativas” consistiam, entre outras coisas, em contabilizar carteiras de crédito que já haviam sido vendidas a outras instituições como parte de seu patrimônio. Vender e adquirir carteiras são operações corriqueiras e os grandes bancos, os maiores compradores. Neste mercado, o PanAmericano inovou ao não “dar baixa” em ativos que havia repassado a outrem ou até mesmo contabilizá-los, em alguns casos, de forma duplicada.
Avanços – Para evitar incidentes semelhantes, o BC passou a monitorar as carteiras de crédito das instituições financeiras por meio da Central de Cessão de Crédito, a C3, instalada em janeiro de 2012. Trata-se de um sistema eletrônico operado pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP) em que os bancos devem registrar todas as vendas e aquisições de carteiras, tão logo elas ocorram. Desta forma, a CIP consegue detectar, por exemplo, se um mesmo ativo é repassado a mais de um banco, como faziam os fraudadores do banco fundado por Sílvio Santos. “Houve uma pressão da própria Federação dos Bancos, a Febraban, para que a C3 fosse criada. Eles argumentaram com o BC que era inimaginável voltar a acontecer no Brasil uma fraude como a do PanAmericano”, afirma o diretor de uma instituição financeira que preferiu não ter seu nome revelado.
Ainda que a venda irregular de carteiras de crédito, de fato, não tenha voltado a acontecer, o sistema financeiro sofreu outro golpe de fraudadores, revelado em junho deste ano. Dirigentes do banco Cruzeiro do Sul encontraram nos empréstimos de baixo valor uma forma intrigante de drenar ilegalmente recursos da instituição. 
[...]
Aperto intensificado – No final de outubro, o BC veio a público afirmar, mas sem dar muitos detalhes, que ampliará a área de controle de ações ilícitas e fiscalizará questões que vão além dos balanços das instituições. Segundo a autoridade monetária, a análise vai abranger o comportamento dos bancos e compará-los entre si. “Vamos incrementar a área de supervisão de conduta, aperfeiçoar a capacidade de avaliar as instituições financeiras, mesmo nas situações em que não há problemas econômicos”, informou o órgão ao site de VEJA. Ainda de acordo com o BC, novas ferramentas estão em desenvolvimento para aprofundar as avaliações de banco de dados e detecção de fraudes. O banco, contudo, não quis detalhar quais ferramentas são essas.
As fraudes bancárias tão presentes na história do Brasil – sobretudo antes da estabilidade econômica – são tropeços que fizeram, de certo modo, bem à regulação. A partir delas o Banco Central pôde aperfeiçoar seu trabalho e construir um conjunto de normas que transformaram o Sistema Financeiro Nacional (SFN) em um dos mais sólidos do mundo. Bancos como Bradesco, Itaú e Banco do Brasil são hoje instituições das mais confiáveis no que se refere ao cumprimento do índice de Basileia – o principal indicador de risco financeiro que existe. “No que se refere à fiscalização, nenhum banco central que eu conheça é tão minucioso como o brasileiro”, afirmou um alto executivo de um banco estrangeiro com presença no Brasil, que não quis ter seu nome citado.
Elogios à atuação do BC vêm também de ninguém menos que o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em relatório divulgado em julho, a entidade avaliou que, graças ao trabalho da autoridade, os bancos brasileiros são sólidos e têm nível elevado de capital e liquidez, além de boa lucratividade. Eles também passaram com notas altas em todos os testes de stress, isto é, simulações feitas em supercomputadores que buscam antecipar como os bancos reagiriam em situações de turbulência econômica – mesmo no cenário possível de uma grande recessão global. Em uma avaliação feita pela revista americana Global Finance, que dá ao desempenho dos BCs mundiais notas que variam de A a F, a autoridade monetária brasileira figura com nota B, acima do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE).
Aperfeiçoamento – Assim, a despeito das críticas de que tenha deixado para trás o foco no controle inflacionário, não se pode afirmar que o Banco Central não esteja cumprindo seu papel de fiscalizador. Contudo, aperfeiçoamentos são sempre bem-vindos – ainda mais quando do outro lado do jogo estão agentes sempre prontos a “inovar”. O site de VEJA conversou com economistas, banqueiros e outros participantes do mercado para colher opiniões sobre a atuação do BC. Todos concordam com a competência a autoridade, mas colocaram em evidência alguns pontos que podem ser aprimorados.
O BC criou sua estrutura de controle com base em probabilidades. Isso significa que as instituições que oferecem maior risco são as grandes, ou seja, aquelas que detêm maior poder de ferir a credibilidade do sistema financeiro nacional ou causar problemas que podem levá-lo a entrar em colapso (risco sistêmico). É por isso que as maiores instituições possuem equipes exclusivas de técnicos do banco para acompanhar suas operações. Já as menores, de tamanho semelhante ao PanAmericano e ao Cruzeiro do Sul, são fiscalizadas por meio de sistemas eletrônicos e equipes que se revezam em grupos. Em bancos pequenos e médios, por exemplo, uma fiscalização completa do BC – na qual são atribuídas notas de classificação para as instituições – é feita apenas uma vez a cada dois anos e não existe um técnico exclusivo para acompanhá-los individualmente. Nesse caso, um grupo liderado por um supervisor acompanha mais de uma instituição.
O executivo de um banco especializado em crédito para veículos reconheceu ao site de VEJA que o aperto na regulação ocorreu de forma sistemática nos últimos dez anos. Contudo, admitiu que uma presença mais efetiva de técnicos do BC poderia evitar maiores problemas. “O ideal seria que as pessoas não cometessem fraudes. Mas como isso depende da índole de cada um, o BC tem a possibilidade de aumentar sua presença”, diz o diretor. Segundo ele, se houvesse um ou dois técnicos direcionados exclusivamente para uma instituição, rombos poderiam ser mitigados – ou até mesmo evitados. “Com uma pessoa acompanhando de perto, diariamente, cria-se um histórico. E, com esse histórico, é possível detectar irregularidades de maneira mais rápida. Pode ser que a pessoa não impeça a ação do fraudador, mas a perceba muito antes”, afirmou. 
Segundo dados da ONG Contas Abertas, o número de funcionários ativos no BC caiu de 6 205 em 1995 para 4 604 em 2011. Já os ativos que compõem o SFN, passaram de 598,3 bilhões de reais para 5,13 trilhões de reais (dado relativo a junho de 2012) no mesmo período. Ainda de acordo com o BC, 1 055 técnicos trabalham atualmente para supervisionar 1 952 instituições financeiras, entre bancos múltiplos, cooperativas de crédito, bancos de investimento e outros atores do SFN. Os bancos múltiplos e comerciais – principal alvo de fiscalização – somam 137. “Eles ficaram dez anos sem contratar pessoas. Mas não dá para dizer que é erro do BC. Foi, sim, imposição do governo”, afirma o economista Alberto Borges Matias, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP).
Brecha – Outro ponto obscuro, na avaliação de especialistas, é a fiscalização dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que são compostos por carteiras de crédito de bancos e empresas. Nas rodas de economistas, os FIDCs são apelidados de ‘subprime brasileiro’ – uma alusão aos derivativos “podres” que originaram a crise americana em 2008. Como se trata de um fundo, a fiscalização não está no escopo do Banco Central – e sim da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Entretanto, como a expertise do órgão regulador do mercado de capitais não é fiscalizar operações de crédito, sua composição tampouco é controlada de maneira eficaz pela CVM. “A discussão sobre o acompanhamento do risco de crédito dos FIDCs ainda está no começo, mas precisa ser levada adiante. A CVM não precisa formar gente para isso. Ela pode decidir credenciar auditorias externas para avaliar o risco desses fundos”, afirma Matias, da FEA-USP.
[...]



Commodities agrícolas, câmbio e inflação

Não é segredo que o Banco Central trata o recente aumento do preço internacional de commodities agrícolas como um “choque de oferta”, com implicações fortes para a política monetária. Pressupõe-se que seja um fenômeno semelhante à elevação das tarifas de serviços públicos, ou dos preços de petróleo, que tendem a elevar a inflação e reduzir a renda, limitando a propagação do aumento inicial de preços.


[...] A questão é saber se podemos caracterizar a seca nos EUA, que contraiu a produção agrícola naquele país, como um choque de oferta do ponto de vista do Brasil? Tenho dito que não. Os preços se elevaram, mas, como o Brasil é exportador líquido destas commodities, o efeito sobre a renda nacional é positivo: não há plantador nacional de soja chorando pela quebra da safra americana. Na perspectiva deste fazendeiro o que houve foi um aumento na demanda por seu produto, levando a preços internacionais mais elevados.

Na verdade, na visão do fazendeiro brasileiro o motivo para alegria é ainda maior. Não houve apenas aumento dos preços em dólar, mas também um aumento dos preços medidos em reais, elevando adicionalmente sua renda às expensas dos consumidores nacionais, em particular a fração mais pobre da população, cujo gasto com alimentos compromete parcela maior do seu orçamento (argumento algo demagógico, sim, mas não menos verdadeiro).

Alguém poderia imaginar que isto é inevitável: se os preços aumentam lá fora devem também subir por aqui e que, portanto, nada poderia ser feito, mas a evidência sugere precisamente o contrário.

Começo notando que de 2006 a 2010, a despeito de uma elevação considerável dos preços internacionais de commodities (em torno de 35%), os preços em reais subiram consideravelmente menos (9%). O motivo é claro: a elevação dos preços das commoditiescorresponde a um aumento dos preços das exportações brasileiras relativamente às importações. Tal melhora de termos de troca tende a fortalecer a moeda, atenuando o impacto dos preços.

Em contraste, a recente elevação de preços internacionais de commodities se traduziu integralmente sobre preços domésticos porque a taxa de câmbio, ao contrário do ocorrido anteriormente, foi mantida fixa.

[...] Foi, portanto, a política brasileira de manipulação do câmbio que implicou a elevação dos preços domésticos de commodities. Caso a moeda flutuasse de verdade, o real provavelmente teria de apreciado em linha com as demais e estaria hoje entre R$ 1,70-1,80/US$. Neste caso os preços domésticos de commodities seriam em torno de 15% mais baratos e a inflação consideravelmente mais baixa.

Este resultado traz duas conclusões relevantes. Em primeiro lugar que, conforme argumentado, a elevação de preços domésticos de commodities nada tem de choque de oferta. Revela, além disso, os limites muito claros da possibilidade de manter a inflação na meta quando o BC tem como um de seus objetivos principais fixar a taxa de câmbio. Nada que não soubéssemos; apenas o que nossas autoridades resolveram ignorar.

13 julho 2012

Spread Bancário e Retorno sobre Capital


(...)O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do BC é também uma leitura aborrecida. Ao contrário do Relatório de Inflação que, longe de ser um thriller, ainda pode oferecer algumas emoções no que diz respeito à trajetória esperada da inflação e da taxa de juros, o REF lida com temas como testes de estresse, sistema de pagamentos e outros capazes de por para dormir os economistas mais disciplinados. Talvez por isso, da mesma forma que ocorre com o livro dos Números, quase ninguém lê o REF, o que é uma pena, pois há lá uma riqueza de informação, disponível no sítio do BC.

Dentre eles, o que mais me chamou a atenção é sua medida do spread bancário. Conhecia, como todos, as estimativas do spread bancário publicadas mensalmente na nota à imprensa referente à política monetária e operações de crédito, cuja edição mais recente indica que o spread teria caído a 24,7% em maio, enquanto em dezembro de 2011 estaria em 26,9%. São estes dados que alimentam a visão sobre os ganhos do sistema bancário.

O que raramente é dito, porém, é que tais estimativas são baseadas numa amostra relativamente reduzida tanto das operações de crédito como das fontes de financiamento dos bancos. Baseiam-se, ademais, nas novas concessões: se determinado banco concedeu um crédito de 2 anos para uma empresa e um valor equivalente em empréstimos de um mês para consumidores, o spread, naquele momento, será a média dos dois tipos de operações; no mês seguinte, apenas as operações de um mês serão contabilizadas, apesar dos recursos emprestados para a empresa continuarem gerando o mesmo fluxo de receitas.

Os dados do REF contornam estes problemas. Por um lado, englobam todo o universo de crédito bancário, incluindo, entre outros, o imobiliário e os repasses de recursos do BNDES. Da mesma forma, capturam todas as formas de financiamento do setor, de depósitos a linhas do BNDES, tomando o cuidado de excluir os principais efeitos da variação cambial sobre ativos e passivos do sistema.

Adicionalmente, ao invés de se limitar às concessões, o REF estima receitas sobre o estoque de créditos, assim como os custos de captação sobre o estoque de financiamento do setor.

Desta forma, tais dados mostram uma estimativa do spread bancário mais compatível com a rentabilidade efetiva das operações de crédito, assim como o custo real de captação dos bancos (notando, por exemplo, que recursos do BNDES ou do SFH custam tipicamente menos do que um depósito a prazo). Os resultados são mostrados no gráfico (“spread total”), revelando uma realidade bastante distinta daquela sugerida pelas estimativas da nota à imprensa (“spread parcial”).




Com efeito, segundo o REF, o spread total teria ficado ao redor de 10% em 2011 (o último dado disponível), enquanto o spread parcial (acumulado em 12 meses, para fins de comparação) no mesmo período atingiu pouco mais de 27%, uma diferença da ordem de 17%. Entre junho de 2002 e dezembro de 2011 a diferença média entre as duas medidas de spread bancário foi pouco inferior a 14% ao ano.

Além disto, se é difícil discernir uma tendência clara do spread parcial (há momentos de queda assim como de elevação), a tendência do spread total desde o final de 2002 é inequívoca: redução persistente de pouco mais de 18% em 2002 para o supracitado 10% em 2011. Já o retorno dos bancos, segundo o REF, foi da ordem de 16,5% no ano passado, em linha com o observado nos anos anteriores e inferior os níveis que prevaleciam antes da crise. É bom, mas nada excepcional nos termos do setor corporativo brasileiro, principalmente se levarmos em conta que a alavancagem bancária costuma ser maior.

A imagem que emerge dos números é, pois, bem distinta (e mais entediante) do que a sugerida pela mitologia. Os spreads bancários não são tão gordos, nem crescentes, e o retorno dos bancos não é muito distinto do que se observa no restante da economia.

(...)Se queremos entender o setor bancário, também temos que nos ater ao que os números dizem, mesmo que eles não digam aquilo que gostaríamos de ouvir.

11 abril 2012

Ben Bernanke


Um reportagem sobre Ben Shalom Bernanke, o atual preseidente do FED. Eis alguns trechos interessantes:

Ben Bernanke ainda tem quase dois anos pela frente no comando do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mas o seu legado já começa a ser escrito, num momento em que a economia americana dá sinais de se recuperar de forma mais forte do que o esperado, alavancando a candidatura do presidente Barack Obama para um segundo mandato.

Muito mais à vontade no papel de professor do que de "czar monetário", Bernanke deu quatro aulas na Universidade George Washington nas últimas duas semanas, cobrindo a história do século XIX para cá, incluindo as medidas que ele mesmo tomou para evitar que o mundo mergulhasse numa nova Grande Depressão

(...)Menos confortável, o tímido e reservado Bernanke também concedeu entrevistas para alguns dos veículos de comunicação mais importantes do país, incluindo a revista "The Atlantic", que publicou um longo perfil. Na capa, uma foto de Bernanke, com a manchete "O Herói". Lá dentro, outra foto, sob o título "O Vilão".

(...)Bernanke procura acrescentar algumas linhas numa narrativa sobre seu trabalho à frente do Fed, que, num ano de eleições, está sendo escrita num ambiente de alta temperatura. Republicanos acusam Bernanke de empurrar perigosamente os Estados Unidos à beira de um abismo inflacionário. A esquerda diz que ele é fraco porque não foi mais ousado para baixar o desemprego.

(...)"É curioso que Bernanke tenha sido atacado pelos dois lados", diz Donald Kohn, vice-presidente do Fed até 2010, hoje pesquisador da Brookings Institution, centro de estudos de Washington. "Isso não significa que ter uma posição intermediária seja o correto, mas mostra que não há uma decisão clara ou óbvia para um lado ou para o outro."

Muitos acham que, dentro de 10 ou 20 anos, Bernanke será julgado de forma mais generosa. Ele já tem algo a mostrar. Os bancos americanos estão funcionando, enquanto na Europa o crédito segue obstruído. Os Estados Unidos poderão crescer mais de 3% neste ano nos cenários mais otimistas, nada extraordinário, mas melhor do que o risco de recessão da Europa. As empresas americanas estão criando cerca de 250 mil empregos por mês, contribuindo para uma queda do desemprego de 9,8% para 8,3% de novembro para cá, a mais intensa desde a década de 1980. Os preços dos imóveis parecem finalmente ter parado de cair.

Paul Volcker, com seu choque de juros, fez de Jimmy Carter um presidente de um só mandato, na virada dos anos 1970 para os anos 1980. Alan Greenspan derrubou Bush pai pouco mais de uma década depois. Agora, Bernanke ajuda a vitaminar Obama, cuja popularidade começa a encostar na casa de 50% pela primeira vez desde meados do ano passado, quando Osama bin Laden foi morto. "A economia está melhorando, e a aprovação do Obama melhora junto", diz Clifford Young, diretor da Ipsos Public Affairs, empresa de pesquisas de opinião pública. "Hoje, ele tem 85% de chance de ganhar as eleições.

(...)Ben Shalom Bernanke, 58 anos, foi criado em Dillon, pequena cidade na Carolina do Sul, na fase final da segregação racial. Era considerado gênio desde criança - aprendeu Cálculo sozinho e tirou nota 1.590 num total de 1.600 pontos possíveis no teste-padrão para admissão à universidade. Mas seus pais, um farmacêutico e uma professora primária, tinham planos modestos de enviá-lo a uma universidade local, onde ficaria sob vigilância próxima para evitar que se perdesse na vida. Só concordaram com sua ida para o Massachusetts Institute of Technology (MIT) depois de uma conversa com um cliente da farmácia do pai de Bernanke, Kenneth Manning, afroamericano que virou professor da universidade depois de ter estudado numa escola segregada. Manning prometeu ficar de olho no jovem e fazê-lo frequentar uma sinagoga de Boston, onde fica o MIT.

O MIT tem um dos melhores cursos de economia do mundo, com uma tradição que vai de Paul Samuelson, autor do primeiro grande manual de macroeconomia de cursos de graduação, passa por Rudiger Dornbusch, estudioso dos sistemas cambiais, e chega aos Prêmios Nobel Franco Modigliani e Robert Solow, este último ainda vivo e em atividade. Entre os brasileiros, dois pais do Plano Real estudaram por lá, Pérsio Arida e André Lara Resende. O MIT parece dominar as decisões econômicas atuais, com seus quadros em alguns dos cargos mais importantes do mundo. Bernanke comanda o Fed, Olivier Blanchard é o economista-chefe do FMI e Mário Draghi preside o Banco Central Europeu (BCE).

Diferentemente da Universidade de Chicago, que tem uma linha ideológica inclinada à defesa do livre mercado, o MIT é uma escola muito mais pragmática, que transita sem preconceitos entre as várias linhas de pensamento econômico. "Talvez Bernanke tenha aprendido no MIT a ser essa pessoa ponderada, do meio-termo, que se preocupa com o desemprego, mas também com a inflação", diz o ex-aluno do MIT Laurence Ball, hoje professor da Universidade John Hopkins, de Washington.

A primeira grande produção acadêmica de Bernanke foi um trabalho sobre a Grande Depressão, publicado no começo da década de 1980 em parceria com Gertler, quando o hoje presidente do Fed já dava aulas na Universidade de Stanford. Os economistas Milton Friedman e Anna Schwartz haviam descrito, em 1963, como barbeiragens de política monetária do Fed haviam causado a Grande Depressão. Bernanke e Gertlher foram além, descrevendo os mecanismos de transmissão da crise pelo sistema financeiro, que se opera sobretudo pelo canal do crédito, jogando luz sobre um tema que era bastante obscuro para os economistas da época

(...)Preocupado com o risco de deflação durante a recessão causada pelo estouro da bolha acionária da internet, em 2001, Bernanke defendeu uma política monetária bastante relaxada e até o uso de instrumentos monetários não convencionais, caso a coisa ficasse mais grave. Ele ficou conhecido como "Helicóptero Ben", por ter se referido à proposta de Friedman de lançar dinheiro com helicóptero, num discurso feito em 2002 que delineou a chamada "Doutrina Bernanke", um roteiro agressivo para combater riscos deflacionários.

Hoje, ele minimiza a culpa dos juros ultrabaixos na criação da bolha que estourou a partir de 2007. "A política monetária não teve um papel importante no aumento dos preços de imóveis", disse Bernanke na semana passada, numa de suas aulas na universidade. Outros países, como a Inglaterra, tiveram bolhas imobiliárias na mesma época, apesar de ter juros mais altos. Os preços dos imóveis começaram a subir nos Estados Unidos em 1998, argumentou, antes de o Fed baixar os juros.

(...)"O Lehman Brothers era provavelmente grande demais para falir, no sentido de que sua falência teve enormes impactos para o sistema financeiro global", disse Bernanke nesta semana, em outra aula. "Mas estávamos impotentes, pois era essencialmente uma empresa insolvente." Não havia muito espaço legal, nem disposição política, para um resgate puro-sangue com dinheiro público. "Não acho que, no fim das contas, eles tinham outra opção senão deixar o Lehman Brothers falir", afirmou Olson.

Poucos, porém, fazem reparos à atuação de Bernanke a partir de então, quando a crise bancária ganhou contornos dramáticos e exigiu medidas muito mais agressivas. Dois dias depois da quebra do Lehman Brothers, a seguradora AIG recebeu um socorro de US$ 85 bilhões do Fed. Bernanke agiu para que a Merrill Lynch fosse adquirida pelo Bank of America. O governo americano anunciou, numa questão de dias, a criação de um fundo de US$ 700 bilhões para injetar capital e adquirir ativos problemáticos de instituições financeiras debilitadas. "Os Estados Unidos e o mundo foram muito felizes em ter Bernanke à frente das decisões, alguém que aprendeu as lições da história", afirma Olson.

Já a ação monetária de Bernanke, porém, é cercada de controvérsia. Os economistas mais ortodoxos dizem que a maciça emissão de dinheiro pelo Fed, em operações conhecidas como expansões quantitativas, são ineficazes para reanimar a economia e vão levar a uma inexorável aceleração inflacionária. O balanço do Fed atingiu proporções gigantescas, com um volume de US$ 2,9 trilhões. Alguns sustentam que há razões estruturais por trás dos altos índices de desemprego atuais. Trabalhadores estão fora do mercado de trabalho há muito tempo e, por isso, perderam qualificações profissionais. Num ambiente como esse, estímulos monetários só levam a mais inflação.

Uma outra corrente de economistas, menos ortodoxa, diz que Bernanke tinha obrigação de fazer ainda mais para estimular a economia. O Fed tem dois mandatos principais, controlar a inflação e manter o pleno emprego. A inflação anda bem-comportada, com projeções abaixo de 2%, a meta perseguida pelo Fed. Já o desemprego, em 8,3%, está muito acima do nível de longo prazo para a economia americana, que membros do Fed calculam entre 5% e 6%.

Em tese, há muitos outros instrumentos monetários não convencionais à disposição para estimular a economia, considerando o que escreveu o próprio professor Bernanke antes de virar banqueiro central. Na década de 1990, o Japão passou por uma experiência bastante semelhante à dos Estados Unidos. Depois de uma crise financeira, o Banco do Japão baixou agressivamente a taxa de juros até virtualmente zero, um limite para as políticas monetárias convencionais. Em 1999, Bernanke criticou o Banco Central do Japão por não fazer mais e propôs um agressivo roteiro aos japoneses num famoso texto, "Política monetária japonesa: um caso de paralisia autoinduzida".

A caixa de ferramenta incluía deliberada desvalorização cambial, emissão de moeda para expandir gastos fiscais e uma meta de inflação mais alta, entre 3% e 4%, acima dos 2% que os bancos centrais de economias avançadas costumam perseguir. Em 2008, quando Bernanke se deparou com a "armadilha monetária" no mundo real, preferiu seguir um roteiro mais bem-comportado. "Tenho mais simpatia pelos banqueiros centrais agora do que há dez anos", brincou Bernanke no ano passado, respondendo a uma pergunta de um jornalista japonês sobre sua aparente mudança de posição. Ele sustentou que fez o necessário para enfrentar o risco deflacionário nos Estados Unidos.

"Ele ficou muito mais cauteloso", disse Ball, da Universidade John Hopkins, autor de um trabalho recente que comparou as visões do professor Bernanke com a do banqueiro central Bernanke. "Algumas pessoas dizem em tom de brincadeira que o real Bernanke foi sequestrado por extraterrestes e, no seu lugar, foi colocado alguém com exatamente a mesma aparência física, porém bem mais cauteloso."

(...)Hoje, a política monetária de Bernanke é criticada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como uma das peças da chamada "guerra cambial". O dinheiro impresso pelo Fed estaria reforçando os fluxos internacionais de capitais e levando à depreciação do dólar ante moedas de países emergentes, como o real. O dólar fraco seria um motor adicional da recuperação americana, enquanto o real forte leva à desindustrialização no Brasil.

"Acho que os brasileiros não têm muita razão nesse argumento", afirma Edwin Truman, do Peterson Institute for Internacional Economics, que dedicou a carreira a temas de finanças internacionais e exerceu uma alta posição no assessoramento no Fed de Volcker. "Se Bernanke tivesse sido menos agressivo na política monetária, talvez o dólar fosse mais forte, mas a economia americana ficaria mais fraca e a demanda dos Estados Unidos por exportações brasileiras seria menor." Se o Fed de Volcker tivesse tolerado inflação maior, argumenta, o resto do mundo também acabaria prejudicado.

Decisões de Bernanke mexem com o mundo todo, mas uma década em Washington não o mudou muito. Seu principal passatempo nos fins de semana é resolver palavras cruzadas com a mulher. Ele volta para casa todas as noites para ler livros em formato eletrônico no Kindle. Quando sai, é para assistir a jogos do time local de beisebol, o Washington Nacionals. Sua maior satisfação, porém, parece ser dar aulas e responder a perguntas de estudantes da Universidade George Washington. "É o que fiz por 23 anos, antes de entrar nessa linha de trabalho", disse, ao começar o curso.

20 fevereiro 2012

BC coloca em audiência pública regras de Basileia III

O Banco Central (BC) anunciou que colocou em audiência pública por 90 dias as propostas para regulamentação das regras de Basileia III. O novo acordo, que regula o capital dos bancos, tem o propósito de evitar que futuras crises bancárias causem efeitos negativos sobre a economia real.

“As novas regras aprimoram a estrutura e os requerimentos de capital aplicáveis às instituições financeiras, conforme assumidos no âmbito do G-20”, informou o BC em nota.

De acordo com a autoridade reguladora, as novas recomendações têm como objetivo “aperfeiçoar a capacidade das instituições financeiras de absorver perdas vindas de choques do próprio sistema financeiro ou dos demais setores da economia, auxiliando a manutenção da estabilidade financeira e a promoção do crescimento econômico sustentável”.

A nova metodologia de apuração do Patrimônio de Referência (PR), dos requerimentos mínimos de manutenção de PR, nível I e capital principal, além da introdução do adicional de capital principal, estão detalhados no documento disponível do site do BC.

Fonte: Murilo Rodrigues Alves Valor Economico

04 fevereiro 2012

Debate: O fim do FED


O debate sobre o fim do Banco Central americano (o Fed) vem crescentemente ganhando tração, e ainda bem. Porém, assim como vários debates políticos, este é mais um debate que sequer deveria ser necessário. Tampouco deveria ser algo tido como controverso. Isso porque, se você parar para pensar a respeito, a simples ideia de existir um banco central em uma economia não faz absolutamente nenhum sentido.

Não existe hoje, graças aos céus, um repositório central — gerido pelo governo — para planejar e administrar a distribuição de sapatos. O mercado cuida desta tarefa com perfeição. Não há escassez de nenhum tamanho ou tipo de sapato. Da mesma maneira, não há nenhuma agência responsável por planejar e administrar a produção e a distribuição de alfaces, de teclados ou de cortinas. De alguma maneira, todos nós conseguimos obter livros, roupas, serviços de limpeza e tudo o mais de que necessitamos e desejamos sem que nenhuma agência de planejamento central administre a quantidade disponível destes itens e serviços, especifique os preços dos produtos e socorra as empresas quando elas se expandirem mais do que deveriam e se tornarem insolúveis.

Por que então a realidade deveria ser distinta para o dinheiro e para o setor bancário? O dinheiro é uma mercadoria. O setor bancário é um empreendimento como qualquer outro. Nenhum deles é criação do estado. Ambos surgiram no mercado e assim deveriam ter permanecido, pois somente assim a qualidade do produto poderia estar constantemente sujeita à disciplina imposta pelo mercado. Em uma economia de mercado, as coisas funcionam por si sós, sem a necessidade de nenhuma supervisão de um comitê central. Há demanda e há oferta para satisfazer esta demanda. Empreendedores atentos descobrem oportunidades de lucro no mercado e se apresentam para fazer com que haja oferta para satisfazer uma determinada demanda.

28 dezembro 2011

BC estimula grandes bancos a comprar carteiras de pequenos

O Banco Central (BC) decidiu prorrogar indefinidamente os atuais estímulos e ainda induzir os grandes bancos a melhorarem a liquidez das instituições financeiras menores, via aquisição de carteiras de crédito, depósitos interfinanceiros e, partir de agora, também por meio da compra de letras financeiras. Para tanto, deixará de remunerar 36% dos recolhimentos compulsórios sobre depósitos a prazo captados pelas instituições, o mesmo percentual que elas podem destinar a essas três finalidades.

Anunciada na noite de ontem, a medida será implementada em duas etapas até o dia 27 de abril de 2012 e tem potencial para elevar em cerca de R$ 30 bilhões o volume de recursos aplicado pelas grandes instituições em bancos menores, a partir dos estímulos criados na crise de 2008/2009.

Hoje, 100% dos recursos que ficam recolhidos no BC a título de compulsório sobre captações a prazo são remunerados pela Selic. Em 24 de fevereiro, esse percentual cairá para 73% e, em 27 de abril, para 64%.

Para resolver o problema de liquidez sofrido pelos pequenos, na crise financeira que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, a autoridade monetária permitiu que até 36% do valor exigido em recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo fosse destinado à compra de carteiras e à depósitos financeiros de instituições com patrimônio de referência de até R$ 2,5 bilhões – limite que agora cai para R$ 2,2 bilhões. O diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, informa que, em tese, essa regra permitiria usar atualmente perto de R$ 61 bilhões. Mas somente R$ 31 bilhões estão efetivamente aplicados dessa maneira pelos bancos grandes.

A medida anunciada acaba com o prazo para utilização do mecanismo de estímulo adotado na crise, que terminaria no fim deste ano. Não há mais prazo limite para compra de carteira nem para aquisição de letras financeiras com recursos do compulsório. Somente os depósitos interfinanceiros não poderão mais ser feitos como modo alternativo de cumprir a exigibilidade sobre recursos a prazo, mesmo assim depois de 29 de junho de 2012.

Aldo Mendes afirma que, diferentemente do que ocorreu em 2008 e 2009, hoje não há bancos com dificuldade de liquidez. O objetivo agora, diz, é estimular as operações de crédito dos bancos pequenos, aumentando o “funding” de longo prazo.

Com a medida anunciada na quinta-feira, as grandes instituições terão de escolher entre deixar o dinheiro parado no Banco Central sem um centavo de juro ou ganhar comprando carteiras de crédito ou aplicando em letras financeiras, modalidade que não estava prevista na regra anterior de estímulo.

“Essa é uma medida que otimiza a liquidez do sistema financeiro”, diz Aldo Mendes, explicando que enquanto os grandes bancos são “eminentemente captadores”, os pequenos são “eminentemente aplicadores” em operações de crédito.

Fonte: Mônica Izaguirre, Valor Economico

21 dezembro 2011

Caixa

Segundo maior banco estatal do país, a Caixa Econômica Federal está no centro de uma série de transações financeiras suspeitas que podem gerar perdas de R$ 1 bilhão para os cofres públicos.

Graças a uma omissão misteriosa ocorrida na própria Caixa, uma corretora carioca chamada Tetto vendeu papéis da dívida pública de baixo ou nenhum valor por preços acima do mercado.

Entre os compradores, há empresas e pelo menos um fundo de pensão estatal.

No período em que foram realizadas as transações, de setembro de 2008 a agosto de 2009, o sistema de informática da Caixa responsável por informações relativas aos papéis ficou fora do ar.

O banco público classificou a pane como "erro", atribuindo-o a uma empresa de informática terceirizada.

Ou seja, foi como se um carro tivesse sido vendido sem que o vendedor informasse que ele tinha multas justamente no momento em que o sistema do Detran estava fora do ar.

O que sumiu do sistema correspondia a R$ 1 bilhão que deveria ser descontado do valor dos papéis (veja quadro nesta página).

(...) No período do apagão no sistema da Caixa, cerca de 12 mil créditos imobiliários foram negociados, quase 90% deles pela Tetto.

Caixa diz que houve erro em seu sistema e investiga o caso

Corretora que vendeu os títulos no mercado atribui ao banco estatal os problemas com os papéis que negociou

Suspeita de fraude na Caixa pode causar perda de R$ 1 bi - Folha de S Paulo - 18 dez 2011

Questionado sobre o fato, o presidente do Banco Central disse que a instituição está atenta. Afirmou que "foi o BC, na sua atuação, que identificou as inconsistências contábeis e determinou adoção de providências". Fonte do infográfico, aqui

24 novembro 2011

Panamericano


A questão do Panamericano tem sido objeto de notícia da imprensa. Tudo leva a crer que a história é nebulosa. Segundo o jornal Estado de São Paulo, a partir de informação do depoimento do vice-presidente de finanças do banco à Polícia Federal, não ocorreu pressão política do governo para compra por parte da Caixa.  Este executivo disse que foi uma “surpresa” as fraudes contábeis; ou seja, o ocupante deste cargo não sabia do que estava acontecendo no Banco.

Ontem o jornal divulgou que o Banco Central aprovou a venda, mesmo tendo desconfiança que algo errado estava ocorrendo. A operação foi aprovada em julho, mas funcionários do Banco Central já desconfiavam de algo errado em maio.

Em resposta a esta denúncia o ministro da fazenda afirmou que o BC não tinha suspeita quando deu autorização para a operação.  Este ministro chegou a afirmar que não existia “dinheiro público nessa história” e que a Caixa não teve perda.

Com diz Paulinho da Viola, a frase do ministro é lapidar:

“O Panamericano era auditado por vários anos, é que a fraude era de nível internacional, escapou a todos. Acho difícil que o BC soubesse. Caso contrário, teria cometido uma infração, mas quem deve responder a isso é o BC”

07 outubro 2011

Pior Banco Central

A presidenta do Banco Central da Argentina, Mercedes Marcó del Pont, ganhou o título de Worst Central Bankers In The World. Sua nota foi “D”, repetindo a nota do ano anterior. Sua gestão produziu inflação alta e juros negativos.

Estão na lista o presidente do Catar, da Coréia do Sul, do Japão, da Hungria, dos Estados Unidos, da Índia, da Suiça e da Comunidade Européia.

Fonte: aqui

07 setembro 2011

Modelos de banco central

Há consenso de que a crise financeira de 2008 foi em boa medida resultado de uma combinação de política monetária e ambiente regulatório excessivamente relaxados nas economias maduras, em especial nos Estados Unidos.

Os Estados Unidos, por sinal, não praticavam nem praticam o regime de metas para a inflação, e atribuem um mandato amplo à política monetária, que, além da estabilidade de preços, deve também zelar pelo crescimento/emprego, bem como conter as taxas de juros de longo prazo. Dessa forma, fica difícil atribuir ao regime de metas a responsabilidade pela crise.

Não obstante, o pós-crise tem ensejado um aumento do experimentalismo entre os bancos centrais, inclusive os que praticavam o regime de metas para a inflação. Isso deriva de cobranças da sociedade por ações que mitiguem os efeitos da crise, o que tende a se intensificar à medida que a margem de manobra da política fiscal se estreita.

Uma das características gerais desse experimentalismo é a maior tolerância para com a inflação. Certos bancos centrais, aparentemente abstraindo as lições do desastre macroeconômico dos anos 1970, parecem crer que vale a pena aceitar taxas de inflação mais altas por mais tempo, no afã de evitar maiores declínios da atividade.

Isso é verdade mesmo em economias como o Reino Unido, nas quais problemas setoriais, como a falta de competitividade de segmentos do setor industrial, parecem bem impermeáveis aos efeitos da política monetária. A propósito, o modelo britânico combina certo grau de leniência na política monetária com um genuíno e severo ajuste fiscal, implementado por um governo que visa reduzir o tamanho do Estado.

Um dos experimentos mais curiosos ocorre na Turquia. Naquele país, o banco central, ainda que nominalmente continue implementando um regime de metas para a inflação, aproveitou a crise para alterar profundamente o arcabouço da política monetária.

Em especial, o Banco Central turco adicionou a doses robustas de leniência inflacionária uma estratégia de redução “estrutural” das taxas de juros. Estas, que estavam em 16,75% ao ano em outubro de 2008, encontram-se em 5% ao ano (para depósitos no BC) e 8% (para empréstimos) atualmente, com expectativas de inflação de 6,8% para os próximos 12 meses. Com isso, a taxa de juros real, que era de 7,4%, passou para algo entre -1,7% e 1,1% ao ano. O controle da demanda tem sido conduzido basicamente por meio de uma bateria de medidas de controle de crédito.

A política do BC turco tem sido bem-sucedida em reduzir a taxa real de juros -por quanto tempo, não se sabe. Tal posição, que certos analistas atribuem às preferências políticas do atual governo, de orientação religiosa, tem contribuído para reduzir a atratividade dos investimentos denominados em liras turcas.

De fato, a moeda teve depreciação de 15% neste ano -mesmo assim, as elevações de custos têm erodido os potenciais ganhos de competitividade daí derivados.

De resto, os resultados do experimento turco têm deixado bastante a desejar.

Do ponto de vista da situação econômica interna, apesar dos expressivos cortes das taxas de juros na crise, o PIB teve crescimento médio de apenas 1,4% em 2008-10, com contração de quase 5% em 2009.

Por sua vez, a inflação média foi de 7,7% entre 2008 e 2010, e deve mostrar aceleração no corrente ano, segundo as projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). No que se refere ao setor externo, o deficit em conta-corrente, que havia baixado de 5,7% para 2,3% do PIB entre 2008 e 2009, voltou a se ampliar nos últimos anos, e, segundo os economistas do FMI, pode chegar a 8% do PIB em 2011 -embora esse resultado seja muito influenciado pelas importações de energia.

Não será surpresa se os resultados do experimentalismo turco se mostrarem decepcionantes.

Afinal, a maioria dos economistas há de reconhecer que não existem soluções macroeconômicas para problemas estruturais, como investimento insuficiente na qualificação da mão de obra e treinamento, logística deficiente e taxa de poupança baixa.

Fonte: MARIO MESQUITA, 45, doutor em economia pela Universidade de Oxford, escreve às quartas-feiras, a cada 14 dias, para a Folha de S.Paulo

28 maio 2011

CMN aprova mais um ajuste às normas internacionais de contabilidade

As instituições financeiras poderão relatar em notas explicativas, fatos subsequentes ao fechamento do balanço semestral, como aquisições ou fusões ou erros contábeis. A medida foi aprovada hoje pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e já vale para as demonstrações financeiras deste primeiro semestre.

De acordo com a resolução 3.973, as instituições poderão publicar, em nota explicativa, os chamados "fatos subsequentes", por exemplo alguma aquisição que ocorrer entre o fechamento do balanço e o período obrigatório para a publicação, que é de três meses. A demonstração financeira relativa a junho pode ser publicada, por exemplo, até o fim de setembro.

Por meio da assessoria de imprensa, o Banco Central (BC) explicou que trata-se de mais uma adaptação para convergência às normas contábeis internacionais do International Accounting Standards Board (IASB), determinada pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

"Trata do registro contábil dos eventos ocorridos entre a data do balanço e a data de autorização para a emissão das demonstrações contábeis. Fatos já existentes na data do balanço devem ter seus efeitos reconhecidos nas demonstrações financeiras. Fatos ocorridos entre a data do balanço e a de publicação devem ser evidenciados em notas explicativas.", diz nota do BC

"A medida contribui ainda para o aprimoramento do arcabouço regulamentar em termos de transparência e disciplina de mercado", concluiu a nota do BC sobre o voto aprovado pelo CMN.

Fonte: Valor via UOL

27 maio 2011

Pan Americano

O Banco PanAmericano --socorrido em 2010 após apresentar rombo de R$ 4,3 bilhões-- já havia sido autuado pelo Banco Central em 2002 por ter cometido infrações consideradas graves.

Na época, o BC multou o banco em R$ 25 mil (cerca de R$ 39 mil em valores de hoje) e impôs pena de inabilitação para cargo de direção no mercado financeiro a Rafael Palladino, então responsável pela área de crédito.

As punições, no entanto, nunca foram colocadas em prática. Em 2005, o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, a quem o PanAmericano apelou contra a decisão do BC, cancelou as punições impostas.

Depois disso, Palladino acabou sendo promovido e se tornou o principal executivo do PanAmericano.

Segundo o BC, o PanAmericano realizou 3.943 empréstimos a pessoas físicas, para a compra de automóveis, disfarçadas de financiamento de capital de giro para empresas no fim da década de 1990. O objetivo da camuflagem era permitir que os clientes do banco pagassem menos impostos.

Fonte: aqui

17 maio 2011

Basileia 3

Com as novas regras para alavancagem dos bancos chamadas de Basileia 3, há especialistas que acreditam que mesmo os grandes bancos de capital brasileiro vão passar a vender créditos inadimplentes, o que não acontece hoje. Nessas novas regras o crédito tributário decorrente do crédito corporativo em atraso passará a exigir mais reserva de capital do banco.

Hoje, pelas regras do Banco Central brasileiro, crédito de valor até R$ 5 mil inadimplente por mais de seis meses tem de virar prejuízo no balanço dos bancos. A Receita Federal também aceita que essa perda seja dedutível para Imposto de Renda. No crédito de valor acima de R$ 5 mil, com atraso acima de um ano, os bancos têm de declarar como perda contábil, mas a Receita, no entanto, não aceita que essa perda seja deduzida do IR até que sejam esgotadas todas as tentativas de recuperar o crédito, inclusive judiciais, o que pode levar anos. O banco fica com crédito tributário por muito tempo consumindo o seu capital. Se vender esse crédito da empresa, porém, a perda é imediata tanto pelo BC como pela Receita Federal. Não há credito tributário, portanto.

Os grandes vendedores de crédito podre hoje são Santander, Citi, HSBC, Banco Mercantil, Banco Votorantim e agora também banco Pine. Segundo investidores, há muitos bancos que evitam esse crédito tributário e inclusive o prejuízo contábil ao registrar crédito de empresas em atraso como se fosse renegociação normal de dívida. Há também empresas que vendem carteiras de crédito em atraso de seus clientes, como a Telefônica, a Brasil Telecom, o Ponto Frio, a Lojas Colombo, a Lojas Marisa e o Magazine Luiza.

Fonte: Cristiane Perini Lucchesi, Valor Economico

15 abril 2011

BC estimula consolidação de bancos

Postado por Pedro Correia

O Banco Central, com uma ajuda do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), está “estimulando” uma consolidação no sistema financeiro nacional, segundo executivos de bancos. Tem chamado informalmente instituições financeiras em situação mais confortável a comprar os bancos com mais necessidade de capital e perdas recorrentes. Em troca, o FGC oferece empréstimos com juros mais baixos do que os do mercado. Muitas vezes os empréstimos se tornam dívida subordinada, que entra como capital no balanço da instituição financeira compradora, ajudando a dar para a instituição compradora mais espaço para criar ativos e emprestar.


Razões políticas, econômicas e pressões diversas podem levar o banco consolidador a concordar com a aquisição. Fundos de private equity estrangeiros interessados em bancos médios, que têm visto o preço de suas ações cair, podem ajudar no processo de consolidação. Até mesmo a investidores estratégicos nacionais e estrangeiros o BC tem oferecido bancos menores em situação mais difícil e com pouco capital em troca de uma licença imediata. O processo de aprovação de licença de um banco pelo BC, depois de colocado o pedido, pode durar mais de um ano.


Segundo apurou o Valor, o estímulo do BC é parte determinante no processo de compra de diversos bancos médios como:o Banco Schahin que estava com o índice de Basileia de 10,97% em dezembro;O Banco Morada que tinha o índice de alavancagem de 11% e patrimônio de R$ 69,4 milhões em dezembro;O Banco Matone, comprado pelo JBS em março, estava em dezembro com um índice de Basileia de 4,3%, muito abaixo do mínimo exigido pelo BC.


...O caso do Banco Panamericano e o aperto de liquidez decorrente para os bancos pequenos e médios, principalmente os que fazem cessão de carteiras de crédito consignado, só tornou o processo mais urgente. A retirada imediata de estímulos à captação dos bancos menores colocados na época da crise de 2008 tem agravado a preocupação mais urgente com o caixa dessas instituições financeiras no curto prazo e acelerado o processo de consolidação. Para completar, mudanças contábeis previstas para o início de 2012 vão apertar mais o patrimônio dos bancos que vivem de conceder crédito consignado e vender carteiras.


...Em janeiro do ano que vem, os bancos médios terão ainda de reduzir em 20% ao ano os limites de captação dos depósitos a prazo com garantia do FGC. O estoque dessas transações era de mais de R$ 20 bilhões em abril. Para completar, os bancos médios têm de lidar com medidas macroprudenciais do BC, que impactam o crédito de longo prazo, e mudanças contábeis que vão impedir o negócio no qual se especializaram: produzir crédito consignado para vender e contabilizar os ganhos na hora da venda.


Fonte: Cristiane Perini Lucchesi, Valor Economico via Marcos Assis


03 dezembro 2010

Fiscalização do Banco Central

Dos 1,3 mil funcionários do Banco Central (BC) responsáveis pela fiscalização de operações do sistema financeiro, pelo menos um terço está apto a se aposentar nos próximos três anos.

Parte deles deve sair em fevereiro do ano que vem. O presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central, Sergio Belsito, está preocupado pois não há perspectivas claras de novos concursos para repor esses profissionais de formação altamente técnica.

Quando esses funcionários serão repostos?

Novas vagas dependem da aprovação de concursos pelo Ministério do Planejamento. Para uma área como a de fiscalização que já contou com 2,3 mil pessoas dez anos atrás, a perspectiva de enxugar ainda mais seus quadros é temerosa, diante da recente fraude detectada nas contas do Banco Panamericano.

Quantas pessoas trabalham no BC?

São 4,7 mil pessoas, quase metade do que houve na ativa há 15 anos (eram 8 mil).

O BC decidiu ter um papel mais de orientador de políticas, um trabalho de inteligência, não quer ser fiscalizador do mercado financeiro, o que abriu espaço para análise indireta, de auditorias contratadas, como no Panamericano.

Quando foi a última contratação de novos funcionários?

O último concurso realizado este ano trouxe 500 novos funcionários, que repuseram parte de profissionais que também saíram da fila pela aposentadoria.

Antes deste concurso mais recente houve apenas um outro em 2006. Ou seja, levamos o ciclo de um governo para repor equipe. Sem reposição, a qualidade do trabalho pode cair.

Área de fiscalização do Banco Central está enxuta - Carla Jimenez - Brasil Econômico - 01/12/10 17:59

18 novembro 2010

Banco Central e o Panamericano II

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, exibiu uma estranha interpretação do papel da instituição: ele acha que se o Banco Central fizesse um trabalho de supervisão mais amplo provocaria “risco moral”, ou seja, as instituições de mercado relaxariam. O Fundo Garantidor de Crédito emprestou sem juros e tem pressa em vender o PanAmericano, que está quase estatizado.

Em entrevista, ontem, ao “Estado de S.Paulo”, Meirelles falou pela primeira vez sobre o rombo do banco do grupo Silvio Santos. Defendeu a tese de que seria “operacionalmente inviável substituir os controles internos e a auditoria externa.” Mas ninguém pede que o BC seja a Delloite ou a KPMG. Quer que ele seja o Banco Central. E as auditorias externas que sejam cobradas pelo seu mau trabalho de análise das contas.

Meirelles entende que, se o BC for minucioso em sua análise, “os gestores, auditores, e investidores passam a não fazer seu trabalho, baseado no preceito de que o governo fará por eles.” Essa defesa de que a fiscalização do BC seja perfunctória para que os outros se esforcem é de difícil compreensão. Melhor é fazer a mais eficiente fiscalização possível e exigir do mercado os mais rigorosos controles através da regulação imposta às instituições privadas. O trabalho da fiscalização bancária tem que aprender a cada evento, aperfeiçoar-se a cada erro, duvidar de si mesmo, sempre.

Segundo Meirelles, o “único prejudicado foi o acionista controlador, que assumiu o prejuízo de acordo com a lei.” Há pelo menos mais um: os contribuintes, que são, através do Tesouro, donos da Caixa Econômica, que agora tem 49% do capital votante de um banco que perdeu 45% de seu valor em pouco mais de um mês e está perdendo investidores. A Caixa, na prática, assumiu a instituição. Tem cinco diretorias e a presidente da CEF será a presidente do Conselho de Administração. Se novos rombos forem encontrados, como é comum em episódios assim, de quem será o prejuízo? A questão permanece em aberto até porque o banco já perdeu R$200 milhões de resgate de CDBs e fundos desde que a crise aconteceu e sofre crise de imagem. Segundo disse o diretor Celso Antunes da Costa, ao “Valor Econômico”, “o PanAmericano ainda tem em carteira 90% dos investidores institucionais do país.” Isso quer dizer que lá estão os grandes fundos de pensão.

Desde o início do episódio, a autoridade monetária tenta se desvencilhar do problema. Quem comunicou o fato foi o próprio Banco PanAmericano à Comissão de Valores Mobiliários, como se fosse apenas uma questão do mercado acionário. O BC demorou 24 horas para falar e insistiu que o assunto estava resolvido sem recursos públicos.

É mais complicado. O BC estava dentro do banco havia várias semanas dimensionando o tamanho do sinistro; nenhum assunto que envolve solvência de instituição financeira pode ser estranho ao Banco Central; uma instituição estatal recebeu o sinal verde para comprar o ativo, por isso mais diligente ainda tinha que ser o BC; a entrada da Caixa torna parte do custo inegavelmente público.

Foi o Proer que estabeleceu que o maior responsável em casos de desequilíbrio patrimonial ou liquidação de bancos passasse a ser o acionista controlador. Antes, o dono do banco escapava do sinistro com seus bens preservados. O que o programa protegeu foi o dinheiro dos depositantes. Apesar disso, o programa de recuperação financeira foi execrado pelo partido que hoje está no poder, como sendo benesse aos banqueiros. O PT entrou na Justiça contra seus formuladores e executores. Algumas ex-autoridades ainda respondem a processos. Imagina o escândalo que o PT faria se um daqueles bancos — o Econômico, Nacional ou Bamerindus, entre outros — tivesse tido parte de suas ações compradas pela Caixa Econômica, no meio do processo de descoberta das tais “inconsistências contábeis”.

Meirelles disse aos jornalistas que a atual regulação das auditorias externas “não se revelou inadequada.” Óbvio que se revelou. Do contrário, não aconteceria o que aconteceu. É preciso a cada caso como este rever a regulação evitando os furos pelos quais as auditorias deixaram escapar o que deveriam ter visto. O BC deve agora apertar a fiscalização e fazer teste de estresse em outras instituições.

O Fundo Garantidor de Crédito, felizmente criado em 1995 pelo Conselho Monetário Nacional, também na esteira do Proer, funcionou, emprestou recursos para manter o banco aberto. Ele é formado por uma fração de cada depósito de cada cliente de banco. Os bancos recolhem e administram o fundo, mas o custo é repassado aos correntistas. Somos nós, os clientes, que capitalizamos o fundo que agora socorreu o PanAmericano. E o empréstimo foi dado nas seguintes condições: três anos de carência, dez anos para pagar, sem juros, com apenas a correção pelo IGP-M. Na verdade, o que os gestores do FGC querem é vender o banco e liquidar as garantias o mais rapidamente possível para reaver o dinheiro.

O episódio mostra que o Proer continua sendo útil por ter criado instrumentos que ainda são usadas como o FGC e a ideia da responsabilidade do controlador. Mostra também que a fiscalização bancária tem que ser aperfeiçoada sempre; aqui, como em qualquer país do mundo.


Papel do BC - 18 Nov 2010 - O Globo

09 fevereiro 2010

CVM versus Banco Central

Contabilidade: Cruzeiro do Sul expõe regras diferentes de BC e CVM

Fernando Torres, de São Paulo - Valor Econômico - 9/2/2010

O registro contábil de cessão de carteiras de crédito e a divergência de normas entre o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) voltaram a dar dor de cabeça para o Banco Cruzeiro do Sul. Por determinação da CVM, o banco teve de republicar o balanço consolidado de 2008, com uma diferença negativa de R$ 14 milhões no resultado e patrimônio. Assim, o prejuízo do banco conforme essa regra subiu de R$ 116,4 milhões para R$ 130,6 milhões.

Esse entendimento levou à interrupção da oferta primária e secundária de ações que o banco queria fazer neste início de ano. Mas nada mudou no balanço enviado pelo Cruzeiro do Sul ao BC, que segue com lucro de R$ 178,9 milhões em 2008. É esse balanço que é usado como referência para dividendos e cálculo de limite de alavancagem da instituição.

A discrepância nos números existe desde 2007 quando, por ocasião da sua abertura de capital, o Cruzeiro do Sul passou a ter que seguir as normas contábeis da CVM para o balanço consolidado. A Instrução nº 408/04 da CVM diz que, independentemente da participação societária, as entidades de propósito específico devem ser consolidadas nos balanços das empresas quando, na essência, a relação entre as entidades for de controle. Essa instrução foi uma antecipação da norma internacional de contabilidade (IFRS).

Na prática, ela muda a forma de baixa do ativo e de reconhecimento do resultado quando um banco vende uma carteira de crédito para outro banco ou para um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), mas retém a maior parte dos riscos e benefícios.

Na regra antiga e ainda válida para o BC, o lucro com a operação é registrado todo de imediato e o ativo sai do balanço do banco vendedor. Pela regra da CVM e também do IFRS, o ganho com a operação passa a ser diferido ao longo do tempo do contrato de crédito e o ativo permanece no balanço.

Segundo nota explicativa, o motivo da republicação do balanço foi que a CVM entendeu que havia um FIDC a mais que deveria ter sido consolidado, por ser considerado entidade controlada. "A premissa adotada pela administração (...) era que a detenção de cotas seniores de um fundo, pelas suas características, não configurava o controle do mesmo", diz o banco.

Dessa forma, segundo a CVM, o ganho de R$ 29,4 milhões com a cessão de carteira feita pelo banco em 2008 ao Prosper Flex FIDC Multicedentes, que estava em constituição, não poderia ser registrado no balanço consolidado. Segundo uma fonte, já havia investigação na CVM sobre o caso, o que coincidiu com o pedido de registro da oferta pública. A KPMG, que havia emitido parecer sem ressalvas para o balanço, disse no novo relatório que a opinião anterior tinha se baseado nas informações recebidas da administração do banco.

A diferença entre os números divulgados ao BC e à CVM diminuiria nos próximos balanços, não fosse a Resolução 3.803, editada em outubro pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A norma adiou do início deste ano para 2011 a adoção da Resolução 3.533 que aproximaria a regra contábil de cessão de crédito usada pelo BC daquela adotada pela CVM.

Só que o tema ficou ainda mais complicado. Isso porque até então o CMN tinha autorizado que os bancos adotassem antecipadamente a Resolução 3.533. Mas a Resolução 3.803 vedou essa antecipação, embora tenha permitido que as operações já registradas nos balanços fiquem como estão. Isso significa que algumas instituições terão dois tipos de registro contábil para operações semelhantes convivendo nos balanços individuais.

Para João Santos, sócio da PricewaterhouseCoopers, não é boa essa "dualidade" da regra do BC. Para ele, se há preocupação com o nível de alavancagem dos bancos, a contabilidade poderia ser preservada e o regulador faria um ajuste no patrimônio de referência.

28 setembro 2009

Auditoria e FED

O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, estuda trabalhar com parlamentares norte-americanos em formas para divulgar nomes de companhias que tomam dinheiro emprestado junto à instituição. As informações seriam liberadas com um certo atraso para que não altere o comportamento dos mercados, segundo um representante do Fed.

Scott Alvarez, advogado-geral do Fed, disse ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos EUA que a ideia é “algo que estamos levando seriamente em consideração e na qual estamos felizes de trabalhar em conjunto”.

Em testemunho sobre a proposta de legislação que iria sujeitar o Fed, de novo dirigido por Ben Bernanke a auditorias realizadas pelo Escritório de Contabilidade do Governo (GAO, na sigla em inglês), Alvarez afirmou que permitir o acesso às decisões de política monetária do Fed iria minar a independência e a credibilidade do banco central.

Mas o advogado foi questionado pelo presidente do comitê, Barney Frank, se o Fed cooperaria em mudanças na legislação que forneceriam mais dados sobre companhias que acessam empréstimos suas linhas de crédito para as operações de mercado aberto.

– Acredito que é importante que exista um espaço de tempo antes da informação ser divulgada sobre quem compra o quê, e quem vai para onde, para que isso não se transforme em informação com a qual as pessoas operam no mercado – disse Frank.

– Eu diria, entretanto, que é diferente de divulgar após um tempo. Você não tem o direito de ir a uma agência federal, pegar dinheiro emprestado e manter isto em segredo para sempre, pois tratam-se de recursos públicos – concluiu Barney Frank.

Empréstimos do Fed sob auditoria - Jornal do Brasil - 27/9/2009