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24 março 2017

Curso de Contabilidade Básica: Dívida Líquida

Em muitas demonstrações contábeis divulgadas pelas empresas surge o conceito de Dívida Líquida. No capítulo 4 do volume 2, do nosso livro Curso de Contabilidade Básica, abordamos as principais contas do passivo e apresentamos o cálculo desse e de alguns outros indicadores que o analisam. No final de 2014 já fizemos uma postagem sobre o assunto também (veja no link), mas é sempre bom voltar a esse tema.

Tradicionalmente consideramos o passivo como o valor das dívidas de uma empresa. Entretanto, algumas obrigações apresentam algum tipo de ônus, mas isto não ocorre com outros passivos. Um empréstimo gera pagamento de despesas financeiras; já numa obrigação com o fornecedor isto não ocorre. No primeiro caso, temos um passivo com ônus ou passivo oneroso; no segundo exemplo, é uma situação onde temos um passivo não oneroso.

A dívida bruta corresponde ao total dos passivos onerosos de uma empresa. É a soma dos empréstimos, financiamentos, debêntures e qualquer outro tipo de passivo que gera despesa financeira. Muitas empresas podem ter um determinado valor de dívida bruta, mas também podem ter recursos financeiros de elevada liquidez capazes de quitar esta dívida. Surge, então, o conceito de dívida líquida, que corresponde à dívida bruta menos caixa e equivalentes.

Pela sua natureza, a dívida líquida pode ser positiva ou negativa. Em algumas situações, pode ser uma informação valiosa sobre a empresa. Em outras, pode levar a enganos, já que induz ao pensamento de que a empresa usará todo o caixa e equivalentes para quitar estas obrigações. E, muitas vezes, o caixa e equivalentes já estão comprometidos, no planejamento financeiro da empresa, com algum tipo de desembolso futuro.

Veja a seguir algumas informações da Neoenergia, uma empresa do setor elétrico, retiradas do balanço do exercício findo em 31/12/2016:

O Ativo Total da empresa era de quase 28 bilhões, para o PL de 9,3 bilhões. Isto significa um passivo de R$18,7 bilhões. Mas como nem todo passivo é oneroso, a empresa apresentou um valor de dívida bruta de 11,347 bilhões.

Aqui uma ressalva importante: como não existe uma definição normativa para desse termo, cada empresa pode calcular o valor da dívida bruta que achar mais adequado. Se considerarmos no balanço patrimonial da empresa somente “empréstimos, financiamentos e encargos” e “debêntures”, tanto a curto quanto a longo prazo, o valor total seria um pouco maior, de 11,96 bilhões.

Como o valor de “caixa e equivalentes” foi de 1,383 bilhões, o valor da dívida líquida seria:

Dívida Líquida = 11,347 – 1,383 = 9,964 bilhões

Observe que o valor que calculamos aqui também é um pouco maior que aquele constante da figura. Novamente, a empresa pode realizar os cálculos da forma que achar mais conveniente. Se usarmos os valores do balanço somente, o valor da dívida líquida seria de 10,577 bilhões ou 693 milhões a mais.

Na figura, é possível observar que a empresa ainda usa tal conceito para calcular dois “indicadores financeiros da dívida”. A relação entre “dívida líquida/Ebitda” mostra que a empresa tem capacidade de quitar o passivo oneroso com o caixa gerado por suas atividades operacionais. Já o endividamento demonstra quanto do ativo está sendo financiado com capital de terceiros. Como o valor da dívida líquida calculado e apresentado na figura foi menor, isso gera uma situação mais favorável para a empresa.

Finalmente, este texto mostra que devemos olhar com cuidado as informações analíticas que a empresa fornece nos resultados. Nesse exemplo da Neoenergia, usar o valor fornecido pela empresa subestimaria a dívida da empresa.

Rir é o melhor remédio


23 março 2017

MF e PwC

No final de 2011 a empresa de investimento MF Global apresentava sérios problemas de liquidez. Os recursos novos de investidores eram usados para cobrir problemas que estavam ocorrendo em filiais em diversas partes do mundo. O presidente da empresa, um ex-senador chamado Corzine, tinha sido contratado meses antes.

O colapso da MF Global deu origem a uma batalha judicial. Aqueles que foram prejudicados e perderam dinheiro com a liquidação da empresa entraram com processo na justiça para tentar reduzir parte do prejuízo. Hoje foi anunciado um acordo com a PwC, a big four. Este acordo originou-se de um julgamento técnico iniciado no início do mês de março.

A acusação contra a PwC é que a MF Global construiu uma estrategia de investimento baseado nos conselhos errados da big four. A PwC comentou que o processo atingia a cifra de US$ 1 bilhão. Por duas vezes a empresa de auditoria tentou parar o processo, aparentemente demonstrando desespero. No depoimento de Corzine parecia claro que a MF Global não tinha controle de risco. Mais um ponto contrário a PwC.

Além disto, muitas operações da MF estavam fora de balanço, num procedimento que a acusação chamou de negligência profissional. PWC tentou culpar o executivo Corzine, mas este se defendeu dizendo que confiou na PwC por conta da sua reputação.

É interessante notar que o julgamento ocorreu logo após a confusão dos envelopes do Oscar. Num julgamento tão técnico, será que o juri foi influenciado por um erro prosaico?

Medo das auditorias

Recebi o seguinte e-mail de um colega:

As auditorias externas estão bem pressionadas e temerosas, vejam que parágrafo:

"Nossos objetivos são obter segurança razoável de que as demonstrações financeiras, tomadas em conjunto, estão livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro, e emitir relatório de auditoria contendo nossa opinião. Segurança razoável é um alto nível de segurança, mas não uma garantia de que a auditoria realizada de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria sempre detecta as eventuais distorções relevantes existentes. As distorções podem ser decorrentes de fraude ou erro e são consideradas relevantes quando, individualmente ou em conjunto, possam influenciar, dentro de uma perspectiva razoável, as decisões econômicas dos usuários tomadas com base nas referidas demonstrações financeiras."


Mansões em Big Little Lies

As casas das "mulheres ricas de Monterey" foram pensadas dentro do contexto socioeconômico da trama.



Big Little Lies estreou na HBO chamando a atenção do público por um fato: o elenco estelar que reuniu. A série é protagonizada por Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern, Zoë Kravitz, Alexander Skarsgard e Adam Scott; mas há ainda um oitavo elemento que não passa despercebido ao longo dos episódios: as belíssimas locações.

A revista People entrevistou o responsável pelos sets, Gregory Alpert, o gerente designado para encontrar e alugar as casas que serviriam de cenário para a temporada. Isso mesmo: todas aquelas mansões existem de verdade. Alpert explica que até mesmo a localização de cada uma delas tem um motivo específico dentro da trama, sobretudo as residências de Renata Klein (Dern), Celeste Wright (Kidman) e Madeline MacKenzie (Witherspoon). Todas elas se localizam de frente para o mar, mas é a altura que conta; a casa de Renata é localizada mais no alto, e a intenção é justamente sugerir que ela está olhando de cima para baixo para os seus vizinhos de Monterey, Califórnia. A mansão de Celeste é rodeada de árvores e fica literalmente em um penhasco. Já a de Madeline é a que fica no nível do mar. “[O diretor] Jean-Marc [Vallée] tinha uma ideia de como as casas iriam jogar baseadas no nível sócioeconômico dos personagens”, explicou.

A New York Magazine chegou até a apurar o valor real de cada uma das mansões. É interessante observar que apenas uma delas fica realmente em Monterey, e as outras ficam em Malibu. Quanto ao valor real, também não correspondem exatamente ao que representam na série. Veja abaixo.


Madeline e Ed Mackenzie
Localizada em: Malibu
Custa: US$ 14,8 milhões (R$ 46 milhões)







Celeste e Perry Wright
Localizada em: Península de Monterey
Custa: US$ 6 milhões (R$ 18 milhões)







Renata e Gordon Klein
Localizada em: Malibu
Custa: US$ 12,4 milhões (R$ 38,5 milhões)





Jane Chapman
Localizada em: Pasadena
Custa: US$ 520 mil (R$ 1,6 milhões)



Big Little Lies é produzida por Jean-Marc Vallée e David E. Kelley, com base no livro homônimo de Liane Moriarty (“Pequenas Grandes Mentiras”, em edição nacional). Os episódios inéditos vão ao ar na HBO, todos os domingos, às 23h. A temporada contará ao todo com oito episódios.

Fonte: Aqui

Curso de Contabilidade Básica: Estrutura de Custo e o Resultado de uma empresa

No capítulo 7 do volume 1 do nosso livro de Contabilidade Básica, deixamos de lado apenas a contabilidade financeira, que é voltada aos usuários externos, e mergulhamos um pouco na contabilidade gerencial, que busca gerar informações aos usuários internor. Lá, nós discutimos como a estrutura de custo é relevante para a análise de uma empresa. Mostramos que existem duas classificações de custos e despesas: o(a) fixo(a), que não muda conforme a atividade da empresa, e o(a) variável, que se altera se o nível de atividade for maior ou menor.

Para o usuário externo, a estrutura de custo de uma empresa é um mistério, já que ele não possui acesso a tais informações. Para o usuário interno, separar os custos nestes dois grupos pode ser muito complicado. Vamos mostrar hoje como fazer uma estimativa dos custos fixos e variáveis de uma empresa com as informações divulgadas para fins externos. Antes de prosseguir, é importante ressalvar que o método que vamos mostrar a seguir é uma supersimplificação e deve ser adotado com muita cautela. Mas na ausência de mais informações, pode ser uma possível saída para conhecermos a estrutura de custos da empresa. O aspecto mais relevante é que a forma de cálculo a seguir parte da suposição de que a estrutura não se altera com o tempo, o que nem sempre ocorre.

Feita essa ressalva, vamos ao trabalho. A seguir temos um extrato das demonstrações dos resultados da empresa Kepler Weber, publicado no dia 21 de março de 2017:

Nós iremos usar os dados do consolidado da empresa e o custo dos produtos vendidos e dos serviços prestados. O método a seguir também pode ser usado para as despesas e receitas operacionais.

Em primeiro lugar, é possível notar que a empresa teve um recuo na receita, de 706 milhões de reais para 475 milhões de reais. Possivelmente, a crise afetou fortemente os negócios da empresa, que consiste em montar silos de armazenagem de grãos.

Vamos imaginar inicialmente que todos os custos seriam fixos. Isto significa que, independente da quantidade de receita, a empresa teria o mesmo custo. Se fosse assim, a linha do custos deveria ter o mesmo valor; neste caso, o valor de 2016 seria 615 milhões e não 443 milhões como está demonstrado.

Se, por outro lado, todos os custos fossem variáveis, a relação entre os custos e as receitas deveria ter um percentual constante. Em 2015, a relação entre os custos e a receita foi de 87,11% ou 615/706. Em 2016, este percentual foi de 93,05% ou 443/475. Perceba que, embora esse percentual de 2016 seja superior ao de 2015, a empresa obteve uma margem bruta em 2015 quase o dobro da calculada em 2016. A dúvida que surge é: como isso pode ter ocorrido?

Voltando à análise, juntando os dois parágrafos, podemos concluir que os custos não são totalmente fixos nem totalmente variáveis. Esta é a situação mais comum, onde uma parte dos custos assume uma parcela variável e outra uma parcela fixa. Como resolver isto? O método a seguir é uma forma simplificada de ter um valor aproximado.

Em 2015, os custos de 615 tinha uma parcela variável, que representava um percentual da receita, e uma parcela fixa. Podemos representar isto da seguinte forma:

615 = % do Custo Variável na Receita x Receita + Custo Fixo => % Custo Variável x 706 + Custo Fixo

Para 2016, os custos de 442 podem ser segregados da seguinte forma:

442 = % Custo Variável na Receita x Receita + Custo Fixo => % Custo Variável x 475 + Custo Fixo

Temos duas expressões. Iremos assumir que a estrutura de custos não se alterou no tempo. Assim, a percentagem do custo variável na receita é idêntica em 2016 e 2015, assim como o valor do custo fixo não se alterou. Lembrando a matemática que aprendemos no ensino médio, temos duas equações e duas incógnitas. A resolução será a seguinte:

615 = % Custo Variável x 706 + Custo Fixo (1)
442 = % Custo Variável x 475 + Custo Fixo (2)

Trabalhando a segunda equação (podemos resolver isto usando a primeira equação também):

Custo Fixo = 442 – % Custo Variável x 475

Substituindo na primeira equação:

615 = % Custo Variável x 706 + 442 – % Custo Variável x 475
615 – 442 = % Custo Variável x 706 – % Custo Variável x 475
173 = % Custo Variável x 231
% Custo Variável = 173 / 231 = 0,75

Custo Fixo = 442 – 0,75 x 475 = 86

Assim, o custo fixo é de 86 milhões e o custo variável representa 75% da receita. Podemos conferir o resultado com os dados de 2015 e 2016:

615 = 0,75 x 706 + 86
442 = 0,75 x 475 + 86

Agora que sabemos o valor do custo fixo e do custo variável, como percentagem da receita, podemos calcular a receita mínima para que o lucro bruto seja zero. É o conceito de ponto de equilíbrio, que vimos também no nosso livro.

Receita = 0,75 x Receita + 86
0,25 x Receita = 86
Receita = 86 / 0,25 = 344 milhões

(Faça a prova para mostrar que com uma receita de 344 milhões e a estrutura de custos a empresa não terá lucro bruto).

O modelo apresentado têm dois problemas: (1) assume que a estrutura dos custos permaneceu constante nos dois exercícios, o que pode não ocorrer de fato na prática; e (2) a variação de preços ao longo do ano. Uma forma de melhorar a qualidade dos dados é corrigir os valores de 2015 para valores médios de 2016 usando um índice de preço. Isto poderia gerar dados mais consistentes.

Moda e Balanço


A página inicial das demonstrações contábeis merece destaque aqui no blog: "Para estar na moda tem que ter balanço". No meio de tanta falta de criatividade, a empresa realmente se destacou.

Aumenta a provisão dos grupos de ensino

A tabela é do texto "Com inadimplência, grupos de ensino aumentam provisões", de Beth Koike (Valor Econômico, 23 de março de 2017). O texto diz,

"As companhias de ensino superior Anima, Estácio, Kroton e Ser Educacional - que juntas têm 1,6 milhão de alunos e representam um quarto do setor - foram obrigadas a aumentar suas provisões em 2016 para cobrir a alta inadimplência dos alunos e a redução do programa de financiamento estudantil do governo, o Fies."

O ponto mais relevante não é destacar o aumento da provisão, já que estamos vivendo a maior recessão da história econômica brasileira e isto tem reflexo sobre os pagamentos e o ingresso de novos alunos. O que interessa são os números da Ser Educacional. Neste ponto o texto destaca que a empresa foi beneficiada pela entrada de recursos atrasados de Fies, que melhorou a receita financeira.

Tegma

Dois aspectos interessantes nas demonstrações contábeis da Tegma, empresa na área de logística:

a) na nota 9 a empresa informou o seguinte:


Provisão para passivo a descoberto - Em 31 de dezembro de 2016, a Controlada em Conjunto Tegma Venezuela apurou patrimônio líquido negativo no valor de R$784 [mil]. A companhia registrou a provisão a descoberto de R$196 [mil] na totalidade do patrimônio líquido negativo conforme a participação (25%). 

b) No testes de ágio para verificação de impairment, a empresa divulgou os parâmetros usados, que inclui PIB de 2,2%, inflação anual de 4,6%, crescimento em perpetuidade de 2,5% e taxa de desconto de 12,19% (faltou dizer se esta taxa é nominal ou real). Valores razoáveis, que dão credibilidade ao teste.

Rir é o melhor remédio


22 março 2017

O prefeito e o cidadão: quem devemos aplaudir?

Postagem escrita para o blog por Victor Godeiro, Mestre em Ciências Contábeis

Vamos imaginar duas situações distintas: (a) um cidadão doa R$ 216.000 durante o ano de 2017 para instituições de caridade; e (b) um prefeito consegue melhor aplicar 0,0005% da receita arrecadada em um ano com uma ação específica.

Ambos os casos são vivenciados simultaneamente pelo cidadão paulista. O prefeito recém-empossado do município mais rico do Brasil, João Doria Júnior (PSDB), prometeu doar o salário (R$ 18.000) para uma instituição de caridade por todo seu mandato. E a maioria dos cidadãos achou a atitude louvável.

Agora vamos detalhar as duas situações, separadamente, do ponto de vista de repercussão social.

O fato de qualquer cidadão doar qualquer quantia para uma instituição de caridade é um ato digno, ainda mais em se tratando de R$ 216.000/ano, um dinheiro que com certeza ajudará diversas pessoas necessitadas. Esse ato provavelmente receberá atenção e será divulgado e a sociedade o aplaudirá – e nada mais correto. Enfim, o que podemos argumentar? O dinheiro é dele.

Um gestor que aplica de forma mais eficiente 0,0005% da sua receita arrecadada – sim, São Paulo arrecadou em 2016 quase R$ 44 bilhões, e é isso que o salário anual do prefeito representa - será ovacionado ou receberá grande cobertura midiática? Com certeza não. Primeiro, a melhor aplicação de qualquer quantia na administração pública é obrigação do gestor, é primar pelos princípios constitucionais, inclusive. Segundo, uma quantia tão pequena não é relevante aos cofres públicos de São Paulo. Pois bem, essa é uma prática elogiável? Uma prática que mudará a cidade para melhor?

O Prefeito responsável pela 10ª cidade mais rica do mundo tem assuntos mais urgentes e relevantes para tratar e algo tão insignificante não deveria sequer ser noticiado, muito menos aplaudido como uma grande ação pelos paulistanos e brasileiros.

João Doria ainda deve provar seu valor como prefeito e tem muito tempo para o fazer, porém, esse ato não pesará na balança que mede sua boa ou má gestão dos recursos públicos e, lembrem-se, “a caridade deve ser anônima, do contrário é vaidade”.

Resenha: Big Little Lies

Em 2014, eu comentei que li Big Little Lies. Nele a personagem Jane é uma contadora. Esse foi o primeiro livro da Liane Moriarty que li e a achei uma ótima autora. E com um sobrenome muito legal heim *.* #SherlockHolmes

O livro agora está sendo apresentado em forma de minissérie pela HBO e, milagre, a protagonista ainda é apresentada como uma contadora e não seguiu a linha tradicional de Hollywood que substitui contadores por advogados ou atuários. (Confesso que esse foi o principal motivo para eu correr para assistir a série.)

Na verdade eu tenho um emprego de meio período

O que você faz?

A melhor profissão de todas... Sou uma super-heroína e cuido sozinha do meu filho, além de ser contadora...
A história tem uma visão ampla de diversos personagens, mas fixa basicamente três mulheres. As três têm filhos iniciando a primeira série naquele ano e uma delas acabou de chegar na cidade. E há um assassinato. Alguém morre na noite de jogos realizada pela escola. Você não sabe quem morre. Você não sabe quem é o assassino.

A narração se inicia mais ou menos duas semanas antes do crime e apresenta alguns trechos de depoimentos feitos após aquela noite. Há intercalação entre o passado, desde quando Jane chegou à cidade, e o presente, quando a polícia está apurando os fatos.

Quando li o livro fiquei mais voltada para o mistério que ocorre na história: alguém morreu. Mas como? Quem? Foi a Jane que ocultava o seu passado e acreditava que bullying no parquinho não se tratava apenas das crianças? Foi a Madeline, que se esforçava tanto para se conectar à sua filha do primeiro casamento? Foi a bela Celeste, cuja vida perfeita esconde um segredo horrível?

Na série percebi melhor a parte sobre o relacionamento entre mulheres, entre casais, entre pais e filhos. Trata também da inocência, ou não, de lindas e abastadas criancinhas e de escândalos domésticos de uma forma curiosa, que não segue os clichês habituais.

De forma geral, e acho que era de se esperar, a série é um pouco devagar. Frequentemente eu me pegava fazendo alguma outra coisa enquanto a assistia, por ficar um pouco entediada. Acho que a Reese Whiterspoon, uma atriz eu adoro, me ajudou a continuar assistindo aos episódios. A série não é fantástica, mas não é ruim. O livro é ótimo e faz com que você não consiga parar de ler para descobrir os mistérios... e como ao invés da tradicional adaptação para filme, escolheram a minissérie, muita coisa é enrolada para preencher os sete ou oito episódios.


Há algumas mudanças em relação ao livro. Nada muito aberração até agora. Fiquei desanimada ao ler que talvez mudem a pessoa que foi assassinada. Na época em que li achei a trama muito bem elaborada, com um ótimo fim. Gosto de pensar que a autora fez relevantes ponderações e colocou pistas bem pensadas ao longo do caminho para que a solução do mistério fizesse sentido. Se simplesmente mudarem isso, perde um bocado da emoção. Dá a impressão que as pistas devem ser desconsideradas... Eles podem randomicamente escolher qualquer um. E fãs de mistérios “quem fez?” (whodunnit) não apreciam muito isso. Há razão para ódio entre os personagens, mas ter a natureza assassina e motivo o suficiente para isso não é tão comum. Vamos ver no que dá...

Até no mudo fictício está difícil arrumar emprego
Vale a pena: Sim, se você conseguir assistir o primeiro episódio até o final, vale continuar para ver a solução da história, mesmo sendo a um passo lento. Se você gostar muito de suspense, recomendo o livro.