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17 janeiro 2022

Como cometer uma fraude

Há algumas regras que um fraudador típico explora dos incautos. No Stumbling and Mumbling uma relação de várias delas que não deixa de ser um alerta para as pessoas. O texto lá também tem uma conotação política, que também pode ser aplicado. Fizemos algumas adaptações no texto

Explore o otimismo – Experimentos mostraram que as pessoas que recebem incentivos na previsão de ativos para preços mais elevados tendem a fazer previsões mais otimistas do que as pessoas que recebem incentivos para preços em queda. As pessoas são otimistas e gostam de receber informações com este tom. Isto inclui saber que a tecnologia permite saber da saúde de uma pessoa com uma gota de sangue (vide Theranos) ou que a empresa encontrou nova jazida de petróleo (caso do Eike Batista)

Medo de ficar de fora é poderoso – A síndrome do medo de ficar de fora ou síndrome de FOMO (fear of missing out) é algo real para muitas pessoas. Cerca de dois terços dos usuários de redes sociais padecem de FOMO, o que faz com que tenham o vício de se manter atualizado, inclusive em tempo real. Para a área de finanças, o medo de ficar de fora acontece quando o investidor não quer perder a próxima oportunidade de investimento, o que inclui starups (Theranos), bolha do mercado de ações ou modismo.

Glamour importa muito – Três pesquisadores chegaram a criar o emotion beta na tentativa de mensurar com ações de “alta emoção” possuem uma atração especial. Elizabeth Holmes é glamourosa, com sua voz rouca, roupas à la Jobs e juventude. A Theranos, de Holmes, era uma empresa glamourosa. Investir em tecnologia – mesmo que não faça sentido – também possui um glamour.

Similaridade – Ou “like atrai like” ou fraudes são mais fáceis quando conquista a confiança das pessoas que possuem uma similaridade com você. Este é inclusive um verbete da Wikipedia: Affinity Fraud. Madoff conquistou muitos investidores entre os judeus ricos e respeitáveis, como ele. Mas há muitos exemplos de fraude que ocorreu entre os membros de uma igreja ou de uma comunidade.

Histórias são poderosas – as finanças comportamentais já mostraram que as histórias são mais poderosas do que os dados frios. Narrativas são tão poderosas que o prêmio Nobel de Economia Robert Shiller escreveu um livro, chamado Economic Narratives, sobre elas. Damodaran, um especialista em avaliação de empresas, também dedicou uma obra, Narratives and Numbers para discutir as histórias. Até no meio acadêmico isto funciona: ao escrever um artigo, contar histórias pode ajudar nos argumentos. Isto não é muito científico, mas funciona. Os políticos adoram sair da objetividade de sua proposta para contar uma história. O fraudador sabe disto e usa a seu favor: você certamente já ouvi falar do bilhete premiado da loteria esportiva.

Deferência – Em 1968 experimentos mostraram que motoristas são menos propensos a buzinar para outros automóveis quando o veículo é caro. Fingir que é um policial ou funcionário de um banco faz com que as pessoas tenham uma “deferência” para o fraudador. O filho de alguém – que na língua portuguesa virou fidalgo – tem um poder de persuasão maior que um simples mortal. O pai de Eike Batista era figurão no governo e isto abriu muitas portas.

Ser diferente, mas não tanto, é bom – Os vendedores de tônicos prosperam quando diferenciam seu produto. Holmes era uma mulher no meio de um ambiente predominantemente masculino. Batista era um “empreendedor” em um ambiente cheio de regras. Derek Thompson alerta para o poder de ser inovador e, ao mesmo tempo, familiar (similaridade, acima) para ser um Hit Makers. O projeto da Theranos era realmente uma tecnologia nova, mas familiar para o leigo.

Ao final do texto do Stumbling and Mubling o autor chama a atenção: as pessoas são fraudadas não por serem estupidas. A história ensina de Isaac Newton e Jonatham Swift investiram seu dinheiro, e perderam, na bolha do South Sea. Mesmo pessoas brilhantes podem cair em lorotas, pois existem muitas maneiras de enganar as pessoas.

Foto: The Day Book, 30 de dezembro de 1913

17 junho 2021

Como ganhamos uma vida extra

Parece que a vida está bem ruim agora. Talvez seja o momento de ler Factfulness, de Hans Rosling, para aumentar nosso otimismo. Ou então ler um texto de Steven Johnson para o New York Times. Johnson escreveu um livro chamado Extra Life: a Short History of Living Longer e o artigo é um resumo, creio, do seu livro. Johnson, por sinal, é autor do excelente O Mapa Fantasma, sobre a descoberta de como tratar da cólera. 

Como o título informa, nossa geração ganhou uma vida a mais. O motivo? A expectativa de vida em 1918 era de 41 anos. Hoje, mesmo com a pandemia, nossa expectativa de vida é de 80 anos. Estes dados são para os países ocidentais, mas o mesmo é válido para as nações como China, Índia e até mesmo o Brasil. Um habitante de Bombaim há cem anos deveria viver um pouco mais de 20 anos. Hoje vive 70 anos. 

Com efeito, durante o século desde o fim do surto da Grande Influenza, a expectativa de vida humana média dobrou. Existem poucas medidas de progresso humano mais surpreendentes do que isso. Se você fosse publicar um jornal que saiu apenas uma vez por século, a manchete do banner certamente seria - ou deveria - ser a declaração desse feito incrível. Mas é claro que a história de nossa vida extra quase nunca aparece na primeira página de nossos jornais diários reais, porque o drama e o heroísmo que nos deram esses anos adicionais são muito mais evidentes em retrospectiva do que no momento. Ou seja, a história de nossa vida extra é uma história de progresso em sua forma usual: ideias brilhantes e colaborações desdobrando-se longe dos holofotes da atenção do público,

Outra razão pela qual temos dificuldade em reconhecer esse tipo de progresso é que ele tende a ser medido não em eventos, mas em não eventos: a infecção de varíola que não matou você aos 2 anos; o arranhão acidental que não causou uma infecção bacteriana letal; a água potável que não te envenenou com cólera. Em certo sentido, os seres humanos têm sido cada vez mais protegidos por um escudo invisível, que foi construído, peça por peça, ao longo dos últimos séculos, mantendo-nos cada vez mais seguros e longe da morte. Ele nos protege por meio de inúmeras intervenções, grandes e pequenas: o cloro em nossa água potável, as vacinações em anel que livram o mundo da varíola, os centros de dados que mapeiam novos surtos em todo o planeta. Uma crise como a pandemia global de 2020-21 nos dá uma nova perspectiva sobre todo esse progresso. As pandemias têm uma tendência interessante de tornar esse escudo invisível repentina e brevemente visível. Pela primeira vez, somos lembrados de como a vida cotidiana é dependente da ciência médica, hospitais, autoridades de saúde pública, cadeias de suprimento de medicamentos e muito mais. E um evento como a crise da Covid-19 também faz outra coisa: ajuda-nos a perceber os buracos naquele escudo, as vulnerabilidades, os lugares onde precisamos de novos avanços científicos, novos sistemas, novas maneiras de nos proteger de ameaças emergentes.

Como essa grande duplicação da expectativa de vida humana aconteceu? Quando os livros de história tocam no assunto da melhoria da saúde, muitas vezes apontam para três descobertas críticas, todas apresentadas como triunfos do método científico: vacinas, teoria dos germes e antibióticos. Mas a história real é muito mais complicada. Essas descobertas podem ter sido iniciadas por cientistas, mas foi necessário o trabalho de ativistas, intelectuais públicos e reformadores jurídicos para levar seus benefícios às pessoas comuns. Nessa perspectiva, a duplicação da expectativa de vida humana é uma conquista que se aproxima de algo como o sufrágio universal ou a abolição da escravidão: um progresso que exigiu novos movimentos sociais, novas formas de persuasão e novos tipos de instituições públicas para criar raízes. E exigiu mudanças de estilo de vida que ocorreram em todos os escalões da sociedade:

Nem sempre é fácil perceber o impacto cumulativo de todo esse trabalho, toda essa transformação cultural. O resultado final não é um daqueles ícones visíveis da modernidade: um arranha-céu, um pouso na lua, um caça a jato, um smartphone. Em vez disso, ela se manifesta em inúmeras conquistas, muitas vezes rapidamente esquecidas, às vezes literalmente invisíveis: a água potável livre de microorganismos ou a vacina recebida na primeira infância e na qual nunca mais pensamos. O fato de essas conquistas serem tão miríades e sutis - e, portanto, sub-representadas nas histórias que contamos a nós mesmos sobre o progresso moderno - não deve ser uma desculpa para manter nosso foco nos astronautas e pilotos de caça. Em vez disso, deve nos inspirar a corrigir nossa visão. (...)

Imagem: aqui

Contabilidade? Fico imaginando o atuário e seus cálculos. E as estimativas das aposentadorias. 

26 agosto 2020

Lideranças narcisistas e a empresa


Sobre líderes narcisistas, um ponto interessante é o dilema confiança e competência:

A questão é que é mais comum olharmos para a “confiança” do que para a “competência”, diz. “A maioria das organizações não é tão meritocrática ou centrada no talento quanto poderia ser. Os preconceitos, o nepotismo e a política superam as evidências e a ciência”, diz Chamorro-Premuzic. “As pessoas são bastante previsíveis, mas você precisa confiar em dados e ferramentas com base científica, e não na sua intuição”. Atualmente, ele avalia que a maioria das empresas que se diz “people analytics” usa dados e tecnologia para prever resultados positivos, como engajamento. No nível do funcionário, no entanto, há muitos exemplos de como os dados podem prever o absenteísmo, a rotatividade, comportamentos contraproducentes ou antissociais. “A tendência é começar a fazer isso com os líderes com mais frequência. Imagine que um líder corrupto tenha um efeito muito corrosivo e um impacto tóxico na empresa. Culturas tóxicas são o resultado direto de liderança antiética”. 

(Lideranças narcisistas não enxergam sua incompetência.  Por Barbara Bigarelli - 24/08/2020, Valor)

E a contabilidade? - Há muito os pensadores da contabilidade perceberam que o profissional poderia ser um bom contrapeso para empresa, com o seu conservadorismo. Mas a "virtude" da representação fiel (?) e neutra (?) começou a colocar a contabilidade em um nível muito mais próximo da "confiança" dos executivos. Até ser freada, em parte, com a ginástica que o IFRS fez para adequar a "prudência" dentro da representação fiel. Talvez no Brasil isto não seja um problema tão sério, pois as empresas são tipicamente familiares. Mas o problema da confiança persiste. 

Imagem: aqui

13 abril 2017

Executivos são descalibrados nas suas previsões

Usando mais de dez mil previsões realizadas por executivos, três pesquisadores concluíram que estas pessoas são descalibradas nas suas estimativas. Segundo Ben-David, Graham e Harvey as pesquisas já tinham mostrado que as pessoas possuem excesso de confiança, superestimando a precisão das previsões e subestimando a variância. Gestores tomam decisões diariamente e a pesquisa procura determinar se as previsões são boas ou não.

Usando dados trimestrais por mais de dez anos sobre o comportamento do mercado acionário, os pesquisadores imaginaram que os gestores deveriam ter, pelo menos, um bom senso na estimativa do grau de risco, definindo intervalos de confiança razoáveis. Os pesquisadores pediram aos executivos uma estimativa dentro de um limite de confiança de 80%. A figura mostra o resultado:

A linha tracejada mostra o valor esperado ou 80% de acerto. A linha em vermelho o valor observado, cerca de 36%, bem abaixo da meta. As previsões estavam descalibradas. Mas a pesquisa trouxe um achado interessante: nos momentos de incerteza, quando geralmente o mercado é mais volátil, as respostas deveriam ter um intervalo de confiança maior, em razão da variância maior. Isto ocorreu durante a crise de 2008, quando o mercado apresentou uma elevada volatilidade. Mas nestes momentos parece que o nível de acerto piorou.

Outra conclusão interessante do estudo é que aparentemente os executivos com limites de confiança menor são de empresas com políticas mais agressivas. Isto pode indicar que a política da empresa contamina o executivo ou o contrário, o executivo contamina a empresa.

16 julho 2016

Resenha: Vies Otimista

O Vies Otimista é um livro da cientista Tali Sharot. Com onze capítulos e 334 páginas, a obra pretende discutir as consequências das pessoas serem otimistas. São mesmo?

Um teste simples mostra isto: pergunte a um grande grupo de pessoas quantas acreditam que são melhores motoristas do que a média da população. De uma maneira geral, de 70 a 80% das pessoas irão responder que são melhores motoristas. Isto não faz sentido, já que provavelmente metade de nós deveria pensar que somos piores no volante que a média e somente a metade que seriam melhores. Mas as pessoas geralmente acreditam que nas habilidades na direção. Somos otimistas por natureza.

O livro mostra as consequências, para o bem e para o mal, deste vies. Mas será que tem fôlego para explorar em 334 páginas este assunto? Apesar de reconhecer a importância do tema e da qualidade científica de Sharot, a minha resposta é não. O grande problema da obra é que este deveria ser um livro de divulgação científica, mas em diversos trechos lembra mais um livro técnico. A obra não consegue transitar entre os exemplos diários e didáticos e o tratamento mais científico. Fica a impressão que faltou um ghost-writer que ajudasse nesta tarefa. Alguém como Dubner no Freakonomics ou Gardner para Superprevisores. Além disto, não existe uma discussão adequada sobre como mensurar o otimismo.

Quando o leitor tem a vontade de pular páginas (e faz isto) é um sinal que obra não consegue atrair sua atenção.

Vale a Pena? Se você não estiver pesquisando sobre o assunto minha sugestão é ler obras mais agradáveis, como os livros de Dan Ariely.

SHAROT, Tali. O Vies Otimista. Rocco, 2015.

Evidenciação: o livro foi adquirido com recursos do blogueiro. 

26 setembro 2014

Boa e Má Notícia

Eu tenho uma boa notícia e uma má notícia. O que você gostaria de escutar em primeiro lugar? Se é a má notícia, você está em boa companhia - é o que a maioria das pessoas escolhe. Mas porquê?

Eventos negativos nos afeta mais do que os eventos positivos. Nós nos lembramos deles forma mais vívida e desempenham um papel maior na formação de nossas vidas. Despedidas, acidentes, maus pais, perdas financeiras e até mesmo um comentário malicioso aleatório ocupa a maior parte do nosso espaço psíquico, deixando pouco espaço para elogios ou experiências agradáveis para nos ajudar ao longo do caminho difícil da vida. (...)

Centenas de estudos científicos de todo o mundo confirmam nossa viés da negatividade: enquanto um bom dia não tem efeito duradouro no dia seguinte, um dia ruim afeta mais. Nós processamos dados negativos mais rápido e mais profundamente do que os dados positivos, e eles nos afeta mais. Socialmente, investimos mais em evitar uma má reputação do que a construção de uma boa. (...) Em nossa era do politicamente correto, observações negativas destacam-se e faz parecer mais autêntica. As pessoas - até mesmo bebês de até seis meses de idade - são rápidos para detectar uma cara de brava em uma multidão, mas são mais lentas para escolher uma feliz; na verdade, não importa quantos sorrisos vemos naquela multidão, vamos sempre notar um rosto zangado primeiro.

O mecanismo pelo qual reconhecemos a emoção facial, localizada em uma região do cérebro chamada amígdala, reflete nossa natureza como um todo: dois terços dos neurônios na amídala são voltados para uma má notícia, responder imediatamente e armazená-la em nossa memória de longo prazo, aponta neuropsicólogo Rick Hanson, membro sênior do Centro de Ciências Greater Good na Universidade da Califórnia, Berkeley.

Nosso lado sombrio encontra o seu caminho na linguagem falada, com quase dois terços das palavras inglesas transmitem o lado negativo das coisas. No vocabulário que usamos para descrever pessoas esse número sobe 74 por cento. E o inglês não é a única [neste aspecto]. (...)
Estamos tão sintonizados com a negatividade que ela penetra nos nossos sonhos. O psicólogo americano Calvin Hall, que analisou milhares de sonhos ao longo de mais de 40 anos, encontrou que a emoção mais comum era a ansiedade, com sentimentos negativos (vergonha, perder um voo, ameaças de violência) muito mais frequentes do que os positivos. (...)

Um dos primeiros pesquisadores a explorar o nosso cunho negativo foi o psicólogo Daniel Kahneman, de Princeton, vencedor do Prêmio Nobel de 2002, conhecido pelo pioneirismo no campo da economia comportamental. Em 1983, Kahneman cunhou o termo "aversão à perda" para descrever a sua constatação de que há a lamentar a perda de mais do que desfrutar de benefício.

(...) Depois de analisar centenas de artigos publicados, [o psicólogo] Baumeister e equipe relatou que o achado de Kahneman estendida a todos os domínios da vida - amor, trabalho, família, aprendizagem, redes sociais e muito mais. “Bad is stronger than good”, declararam em seu artigo seminal, de mesmo nome.

(...) os psicólogos Paul Rozin e Edward Royzman da Universidade da Pensilvânia, invocou o termo "viés da negatividade" para refletir sua constatação de que eventos negativos são particularmente contagiosos. Os pesquisadores da Penn deram o exemplo de um breve contato com uma barata, que 'normalmente torna uma deliciosa refeição em algo intragável´, como se diz em um artigo de 2001. (...) considere um prato de comida que você está inclinado a não gostar: feijão, peixe ou qualquer outra coisa. O que você poderia tocar para que os alimentos se tornem desejáveis para comer - ou seja, qual é o anti-barata? Nada! Quando se trata de algo negativo, o mínimo de contato é tudo que é necessário para transmitir a essência, eles argumentam.

De todos os vieses cognitivos, o viés negativo pode ter mais influência sobre nossas vidas. No entanto, os tempos mudaram. Já não estamos vagando pela savana, enfrentando o castigo cruel da natureza e uma vida em movimento. O instinto que nos protegeu durante a maior parte dos anos de nossa evolução é agora muitas vezes um entrave - ameaçando nossos relacionamentos íntimos e desestabilizar as nossas equipas de trabalho.

Foi na Universidade de Washington que o psicólogo John Gottman (...) descobriu uma fórmula para prever o divórcio com uma taxa de precisão de mais de 90 por cento, gastando apenas 15 minutos com um casal recém-casado. Ele passou o tempo avaliando a proporção de expressões positivas e negativas trocadas entre os casais, incluindo gestos e linguagem corporal. Gottman relatou mais tarde que os casais precisavam de um "coeficiente mágico" de pelo menos cinco expressões positivas para cada negativa para um relacionamento sobreviver. Então, se você acabou de chatear o seu parceiro sobre o trabalho doméstico, não se esqueça de elogiá-lo cinco vezes mais em breve. Casais que se divorciaram tinham quatro comentários negativos a cada três positivos. (...)

Adaptado daqui. Cartoon aqui

24 agosto 2014

Excesso de otimismo

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu processar o empresário Eike Batista e sete executivos da petroleira OGX pela divulgação de boletins exageradamente otimistas e omissos sobre a real situação dos reservatórios da empresa, podendo "induzir o mercado a erro". De acordo com a investigação, dois executivos –Paulo Mendonça e Marcelo Faber Torres, respectivamente ex-presidente e ex-diretor de relações com investidores– são suspeitos ainda de, com a divulgação dos comunicados ao mercado (os chamados fatos relevantes), terem manipulado preços e, na sequência, vendido ações. Segundo o processo da CVM, ao qual a Folha teve acesso, o relatório da investigação foi encaminhado ao Ministério Público Federal por trazer indício de crime de manipulação de mercado.

Folha de S Paulo

15 abril 2014

Otimismo e Fluxo de Caixa

Há muito os pesquisadores decidiram analisar as informações textuais que são apresentadas pelas empresas. E eles descobriram que por trás da linguagem e do conjunto de informações, existe uma mensagem escondida que pode escapar ao usuário da contabilidade.

Uma das informações que chamam a atenção dos pesquisadores é o Relatório de Administração (RA). Isto ocorre pelo fato desta informação ser apresentada pelas empresas sem nenhum padrão pré-definido. Ou seja, cada empresa faz o seu relatório, da forma que acha mais conveniente. Por ter esta liberdade, o RA tem mostrado muitas vezes algo que o gestor não diz claramente no seu texto.

Tivemos diversas pesquisas sobre este assunto já realizadas no Brasil. O número não é expressivo já que este tipo de investigação exige muito mais trabalho do cientista, seja na coleta dos dados ou no seu tratamento. Em algumas delas foram produzidas na Universidade de Brasília, no programa Multi de contabilidade. Os resultados destas pesquisas mostram que o RA fornece algumas informações realmente relevantes sobre a empresa. E que seu texto é bastante otimista da situação real das empresas. (Por este motivo, costumo dizer que se você estiver deprimido, o melhor remédio é ler um RA. Resolve logo seu problema.)

Uma pesquisa recentemente publicada concentrou-se nas empresas que foram premiadas pela Anefac e Fipecafi. Ou seja, são empresas com elevadas práticas de evidenciação das informações contábeis. Seria de esperar que seus RAs fossem isentos. Entretanto, das dez empresas analisadas, todas apresentaram um texto otimista. Os autores foram além: classificaram o otimismo em diferentes níveis. E fizeram uma comparação com os índices obtidos da DFC. O resultado mostrou a princípio pouca correlação.

Numa segunda etapa, os autores classificaram as empresas segundo seu desempenho dos índices e calcularam a correlação de Spearman. Esta pequena mudança na metodologia mostrou que as empresas com pior desempenho são as mais otimistas do grupo. Ou seja, exageram na dose.

Leia mais em:
BACHMANN, Ramon; TONIN, Joyce; COLAUTO, Romualdo; SCHERER, Luciano. Reflexos do desempenho financeiro nas boas notícias. Revista Contemporânea de Contabilidade. UFSC, v. 11, n. 22, p. 49-72, jan/abr 2014

12 fevereiro 2014

Pessoas Ruins vencem na Vida

Stumbling and Mumbling apresenta a receita para ser bem sucedido, baseado em pesquisas empíricas. Eis as recomendações:

1. Não seja bom. Um trabalho de Guido Heineck encontrou que pessoas menos agradáveis ganham mais.

2. Seja irracionalmente confiante. Pessoas com excesso de confiança parecem demonstrar mais competência que os outros. Eles falam mais alto e tem uma linguagem mais firme, que as pessoas confundem com competência.

3. Seja narcisista. Executivos mais narcisistas recebem mais, embora não desempenhe melhor seu trabalho.

4. Seja psicopata. As pessoas levemente psicopatas estão representadas em excesso nos conselhos das empresas.

Ou seja, o mundo do trabalho é um local de pessoas ruins.

03 dezembro 2013

Efeito do Excesso de Otimismo

A questão do excesso de otimismo tem sido estudada pela ciência. Já se comprovou que em geral as pessoas são confiantes. Isto é conhecido como efeito Lake Woebegone. Um exemplo prático disto ocorreu com as empresas do grupo X. Veja a seguinte notícia (dica de Adriana Steppan, grato):

O conselho de administração da MMX, mineradora do grupo de Eike Batista, aprovou a revisão do plano de negócios da companhia e uma perda contábil relativa às operações da unidade de Serra Azul e aos direitos minerários de Bom Sucesso. O registro será feito no balanço do terceiro trimestre.

Segundo fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa fez revisão dos ativos do empreendimento de Serra Azul, localizada no quadrilátero ferrífero mineiro. A reavaliação foi autorizada pelos conselheiros em reunião ocorrida ontem.

A baixa contábil total será de R$ 913 milhões, valor que inclui redução de R$ 314 milhões em relação aos direitos de exploração no projeto de Bom Sucesso, no Centro-Oeste de Minas Gerais. O chamado “impairment” foi realizado exatamente por conta da revisão no planejamento. O montante relativo à Serra Azul, portanto, é de R$ 599 milhões.

05 novembro 2013

O mundo está cada vez melhor...

Ao contrário do que os ambientalistas, os militantes anti -globalização e outros rabugentos econômicos gostam de pensar, o mundo não está indo para o inferno.

Imensos problemas permanecem, é claro (...) Mas a humanidade como um todo está melhor do que nunca: o mundo está se tornando mais próspero, mais limpo, mais pacífico e saudável. Estamos vivendo mais, e uma vida melhor. Praticamente todos os nossos problemas existentes são menos ruim do que em qualquer outro momento na história. (...)


O autor faz uma análise das guerras no tempo e a evolução das condições de vida. Estamos melhor e cada vez mais.

No cômputo geral, porém, o mundo é facilmente um melhor lugar do que jamais foi, apesar da crise financeira e da ameaça do terrorismo. Graças ao capitalismo, a globalização, a tecnologia e uma tolerância reduzida para a violência, a humanidade nunca esteve tão bem.

08 outubro 2013

Estimativa de ativos

Um dos problemas das empresas X foi o excesso de otimismo. Particularmente na empresa de petróleo, esta questão estava relacionada com a quantidade de reservas que a empresa possuía. Em abril de 2012 a empresa afirmava ter 285 milhões de barris de óleo. Na quinta feira, uma empresa de consultoria divulgou um relatório com uma informação de 87,9 milhões. Isto representa 30% da estimativa de 2012.

Os níveis de certeza sobre a viabilidade dos poços variam entre reservas provadas (1P), prováveis (2P) ou possíveis (3P), com garantias que variam entre 10% e 60%, segundo especialistas. Somadas as três categorias, as reservas da petrolífera de Eike Batista nos blocos BM-C-39 e BM-C-40, na Bacia de Campos, somam 108,5 milhões de barris.


Isto chega a 38% do valor inicial. A estimativa exagerada pode atrair investidor, mas perde a credibilidade das informações da empresa. (Cartoon adaptado daqui)

Informação privilegiada

Um texto, com trechos de uma entrevista com Ildo Sauer, ex-funcionário da Petrobras, sobre como a OGX conquistou alguns blocos de petróleo:

Sauer lembra que, em 2007, OGX e Petrobras disputaram de forma acirrada blocos de óleo, mesmo considerando que a petroleira de Eike tinha apenas "alguns meses" de existência. "A empresa já se sentiu habilitada", opina.

Criada em julho daquele ano, a OGX arrematou poucos meses depois, em novembro, 21 blocos na 9ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Para Sauer, há suspeitas de atos ilícitos. "A empresa pode ter tido acesso à informação privilegiada sobre modelo geológico e reservas potenciais nos blocos, já que muitos gestores da Petrobras foram recrutados progressivamente pela OGX", diz.

No momento em que a OGX começou a perfurar os poços para produzir óleo, não contava com dois problemas, na visão do engenheiro: petróleo pesado, muito viscoso, e um reservatório com matriz fechada, que dificultam a exploração. "A empresa deveria ter uma equipe específica para tecer estas considerações. Parece que não tinha, bem como a tecnologia necessária".

Para Sauer, o sucesso de Eike em festas e eventos criou expectativa, junto com a publicação sucessiva de comunicados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Aonde estavam os órgãos reguladores para fiscalizar estes anúncios?", questiona Sauer. "Me surpreende a incompetência de todos. A expectativa gerada especialmente no mercado de capitais deu a impressão de que tudo fosse um passeio".

Ele ressalta que a auditoria das reservas de óleo, realizada pela Degolyer Macnaughton, se limitavam à quantidade de óleo que poderia ser explorado. "Sabemos que tem muito nos blocos. Mas é difícil produzir, exige tecnologia especial para conseguir recuperar o óleo, retirá-lo".

Sauer lembra que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) declarou a comercialidade do campo. Segundo a própria ANP, declaração de comercialidade é unilateral da empresa. "Se for assim, não precisamos da ANP. Cada um declara o que quer", opina.E agora?

Sauer decreta: a incompetência superou o otimismo e oportunismo. "Resta saber: quem é o maior responsável por este espetáculo todo? Foi uma aventura que abalou a confiança no sistema regulatório de petróleo e no mercado de capitais. É uma situação constrangedora, para dizer o mínimo, que deve passar por investigação do Senado, Ministério Público e até da polícia".

14 janeiro 2012

Projeção 1

O gráfico apresenta as projeções do Lucro por Ação de empresas dos Estados Unidos, de 1985 a 2008. Observe que as projeções realizadas por avaliadores são otimistas no início. Em alguns anos, a decepção com as projeções foi significativa, como ocorreu em 2008 (a última linha do gráfico), onde o valor projetado foi muito superior ao valor real. Poderíamos imaginar que isto ocorreu em razão da crise financeira. Mas se observarmos atentamente veremos que isto não foi uma exceção: pelo contrário, é uma regra.

O que poderia explicar isto? Talvez o viés do excesso de otimismo dos analistas?

Fonte da Figura: The Four Cornerstones of Corporate Finance, Tim Koller, Richard Dobbs e Bill Huyett, Wiley, 2011.

15 dezembro 2010

Excesso de Confiança

Mais de 90% das decisões e reações feitas atrás do volante dependem de boa visão. Enquanto muitas pessoas acham que dias claros e ensolarados são ótimos para dirigir, a verdade é que o brilho cegante do sol, da neve e dos outros veículos é um fator que contribui muito com o número de acidentes de carro fatais. Além disso, pesquisa recente encomendada pela Essilor of America, Inc., líder mundial em lentes para óculos, revelou o fato perturbador de que 20% das pessoas que usam óculos às vezes dirigem sem os óculos de grau e usam óculos escuros sem grau, deixando a direção diurna perigosa sem necessidade.


Uma em cinco pessoas que usam óculos dirigem sem, informa pesquisa - PR Newswire

Isto recebe o nome de excesso de confiança, em finanças comportamentais.

21 maio 2008

Confiança Gerencial e Efeito sobre a Empresa


Pesquisa de Ben-David, Graham e Harvey (Managerial Overconfidence and Corporate Policies) empresas com executivos mais confiantes tendem a usar uma taxa de desconto para o seu fluxo de caixa menor. Isso significa que essas empresas investem mais, usam mais dívidas, pagam menos dividendos, compram mais ações e usam mais dívidas de longo prazo. Na primeira parte do texto, os autores investigam se os CFO são confiantes nas previsões. Na segunda parte, associam essa confiança as políticas das empresas. A pesquisa sobre a confiança é muito interessante. Os autores perguntaram o provável comportamento do mercado (SP 500).

Mais uma pesquisa que comprova que o comportamento dos indivíduos afeta as políticas das empresas. (Foto: Flick)