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06 junho 2022

Teoria da Agência e a Contabilidade - 2

Apesar disso, a teoria da agência é bastante popular na literatura, inclusive na literatura contábil (1). Mas a teoria da agência também está no radar daqueles que fazem as normas contábeis. King, no livro More than Numbers Game (2), afirma que a Declaração de Conceitos da Contabilidade Financeira, conhecida como SFAC 1 tem suas raízes no Relatório Trueblood e que a discussão sobre a responsabilidade da administração está vinculada aos problemas de agência, conforme citados por Jensen e Meckling (3).

A aplicação da Teoria da Agência é bastante ampla, mesmo sendo um ramo da teoria dos jogos (4). Uma dessas aplicações é a estruturação de contratos, de forma a motivar uma pessoa a agir em nome de outra, mesmo não sendo de seu livre interesse.

Em termos resumidos (5), há um principal, que delega certas tarefas e responsabilidades para uma outra pessoa, chamada de agente. A Teoria estuda as situações onde os interesses do principal são divergentes dos interesses do agente.

Vejamos uma situação comum em uma grande empresa. Os acionistas contratam um administrador para executar as funções necessárias para que a empresa possa atingir os seus propósitos. No exemplo, o principal são os acionistas e o agente é o executivo. Ao fazer a contratação, os acionistas esperam que a gestão do administrador possa gerar pagamento de dividendos. Mas o administrador pode estar interessado em reter o lucro na empresa, pois isto permite que tenha maior margem de manobra.

Ao final de um exercício social, com a apuração do lucro, o executivo irá propor uma distribuição para os acionistas. Estes podem estar interessados em ter o maior volume de dividendos possível; já o executivo terá interesse em reter o lucro, aumentando sua margem de manobra para o futuro (6). Uma forma de resolver esta situação, tornando os interesses do principal e do agente convergentes, é fazer um contrato com o executivo, onde parte da remuneração seja paga com a apuração dos resultados da empresa. Parece ser uma boa ideia, pois incentiva o executivo a não acumular lucro.

Considere agora a situação onde um executivo, o agente, tem um contrato de trabalho de dois anos com uma empresa. Agora é de sua responsabilidade a decisão sobre investir em pesquisa e desenvolvimento. Sua remuneração é composta por um salário fixo, mais uma participação nos lucros da empresa. A análise do investimento em P&D mostra que o gasto é importante e necessário no longo prazo da empresa. Mas os frutos do investimento são de longo prazo. O gestor, ao optar pela decisão de efetuar gastos com P&D poderá reduzir o lucro de curto prazo e, por consequência, sua remuneração (7).

***

Os exemplos citados neste texto e no anterior mostram como a Teoria da Agência ajuda a entender a realidade e o comportamento das pessoas. Antes do surgimento da Teoria da Agência, assumia que as empresas eram administradas pelo seu dono. Ou quando existia uma separação entre o proprietário e o administrador, as coisas ocorriam como uma única pessoa no comando (8). Entretanto, no mundo atual, é cada vez mais comum a separação entre a gestão e a propriedade.

As atitudes do gestor podem ser diferentes daquelas esperadas pelo proprietário. O gestor corresponde ao agente, tendo seus próprios interesses. Enquanto o gestor opta por não fazer investimento em pesquisa e desenvolvimento, para o proprietário esta decisão é a correta. Conforme irei detalhar mais adiante, a Teoria da Agência ajuda a entender muitos aspectos da contabilidade. Conforme afirma Donleavy (9),

A contabilidade tem várias teorias relevantes (...); no entanto, essa teoria [teoria da agência] é muito mais importante do que todas as outras e é central para a compreensão da prática contábil, especialmente a prática contábil financeira.

A Teoria da Agência melhora nosso entendimento dos interesses do administrador na informação contábil, nos planos de remuneração e seu papel na motivação e no controle da operação da empresa. Os gerentes possuem um grande interesse na escolha da política contábil. Muitos deles querem influenciar as escolhas possíveis na contabilidade, afetando os resultados apresentados (10).

***

Neste ponto já é possível explicitar duas condições necessárias para que exista um problema na relação entre o principal e o agente. Este problema, de forma resumida chamado de problema de agência, ocorre na presença de conflito de interesse e da assimetria da informação.

A primeira condição é bastante razoável. Se o principal e o agente possuem os mesmos interesses, não há um “problema” na relação. Isto pode acontecer, muitas vezes, na empresa familiar, onde a administradora é a filha e a proprietária é a mãe (11). A situação de conflito de interesse é possível de ser observada na figura que apresentamos anteriormente. Lá há uma seta que inicia e começa no principal e outra que tem o mesmo desenho no agente.

A segunda condição é o reconhecimento do fato de que as pessoas possuem não somente interesses, mas informações diferentes. O gestor sabe coisas que estão ocorrendo na empresa que o acionista não sabe. Isto também é válido para os exemplos que citamos no texto anterior. O fato de que as pessoas possuem informações diferentes sobre um determinado evento ou um determinado objeto ou uma empresa recebe o nome de informação assimétrica.

A informação assimétria é nomal na vida das pessoas. A famosa história de Salomão e as duas mulheres que afirmavam ser a mãe de uma criança é um exemplo de informação assimétrica. As mulheres sabiam quem estava falando a verdade, mas o rei Salomão não tinha esta informação. A famosa sabedoria de Salomão revelou-se quando ele solicitou que partissem a criança e desse uma parte para cada mulher (12). Uma das mulheres imediatamente abriu mão da criança, revelando ser a mãe verdadeira. Antes da decisão de Salomão, existia uma informação assimétrica. Após a sentença, a atitude da mãe fez com que a informação torna-se simétrica.

A Teoria da Agência reconhece que algumas pessoas possuem uma vantagem de informação sobre outras. Em razão disso, entendemos agora que o gestor tem interesse nos pronunciamentos contábeis pois diz respeito a assimetria da informação. Considere o caso do gestor e do proprietário. Em razão da separação da propriedade, o esforço do agente, o gestor, será difícil de ser observado pelo principal. A existência de assimetria de informação permitirá que o gestor não cumpra os interesses do principal. Um contrato de trabalho entre o proprietário e o gestor pode ajudar a reduzir este problema. Uma possível solução é relacionar a remuneração do gestor com medidas de desempenho que sejam observáveis pelo principal e pelo agente. O lucro é uma destas medidas. A comissão de vendas é outra.

A delegação de autoridade, do principal para o agente, com uma remuneração baseada no lucro é somente uma possibilidade que pode fazer com que os interesses do agente aproximem-se dos interesses do principal. É uma tentativa de fazer com que o agente comporte no sentido de também tentar maximizar os benefícios do principal. Uma solução como esta tem um custo, denominado de custo de agência, mas faz sentido quando pensamos que pode ajudar a resolver o problema de agência. Iremos comentar sobre os custos de agência a seguir.

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A Teoria da Agência estuda a relação entre um principal, que delega uma tarefa para um terceiro, o agente. Os interesses de ambos são divergentes e existe assimetria informacional. Isto cria um problema de agência, onde o agente não busca executar a tarefa visando os interesses do principal, mas sim os seus interesses. A solução do problema pode envolver alternativas que possuem um custo para o principal, o custo de agência. A contabilidade tem um papel importante na solução do problema de agência, assim como este problema explica certas situações contábeis.

De uma maneira simplificada resumimos o entendimento sobre a teoria da agência no parágrafo anterior (13). Um gestor pode desejar um padrão de vida elevado, financiado por salários elevados, sala com conforto e pessoal de apoio, passagens grátis na primeira classe, acesso a restaurantes caros pagos pela empresa e um bom fundo de pensão. Mas talvez não interessa ao proprietário arcar com essas despesas, pois diminui o seu lucro. Para solucionar o dilema, a remuneração do executivo pode ser atrelada ao lucro da empresa. Mas veja que o contrato de trabalho acrescentou um custo para a empresa. A literatura costuma classificar os custos relacionados com o problema de agência em custos de monitoramento e custos de ligação (14). Vamos detalhar os dois a seguir.

Os custos de monitoramento incluem mecanismos de governança corporativa, planos de compensação, auditoria interna e externa, comitês internos e as demonstrações contábeis. A auditoria é um exemplo bem interessante de custo de monitoramento (15). A auditoria, ao dar credibilidade para as informações contábeis, termina por monitorar os gestores.

Os custos de ligação estão relacionados com a tentativa de mudar os interesses do agente. É uma forma de modificar os seus interesses. As empresas podem fazer isto entregando aos gestores opções de ações; espera-se que os gestores possam se esforçar para valorizar as ações da sua empresa, pois isto resultará em um aumento da sua riqueza pessoal. Para evitar que os esforços dos gestores estejam voltados para o curto prazo, esses só podem usufruir das ações no médio prazo.

A soma dos custos de ligação e de monitoramento resulta nos custos de agência. É importante notar que os custos de agência representam uma solução intervencionista, ao contrário da proposição de que o mercado consegue resolver os problemas de agência (16).

***

A literatura cita duas situações importantes da Teoria da Agência: os contratos de trabalho e os contratos de dívida (17).

Nos contratos de trabalho, a empresa, representando os seus donos, estabelece que os gerentes irão receber bônus, usualmente relacionados com o lucro líquido. Isso desperta o interesse dos administradores nos padrões contábeis, já que sua remuneração irá depender da apuração do resultado da empresa. Ademais, o gestor exerce uma grande influência sobre o sistema contábil; em alguns casos, podemos até dizer que o gestor controla a contabilidade. Isto traz a possibilidade de gerenciamento de resultados.

Mas os contratos devem também prever que as decisões do gestor podem ser afetadas pela relação com o principal. O exemplo da decisão de fazer um projeto de investimento, que renderá frutos no futuro, é uma situação possível. O gestor pode optar por investimentos com um retorno mais imediato, de modo a não afetar na apuração do lucro. Este exemplo mostra que a proposição de um contrato de trabalho como uma solução para o problema de agência entre gestor e proprietário pode ser mais complicado na prática do que parece. De qualquer forma, é importante salientar que a solução do problema de agência, via contrato de trabalho, possui, nos números contábeis, uma grande aplicação.

A figura a seguir mostra as duas situações de relação agente-principal em uma empresa. Já comentamos sobre a primeira, que ocorre na empresa, entre o acionista e o gestor. Agora vamos falar um pouco sobre a segunda situação, do financiamento.

Relação entre Principal e Agente em uma empresa (18).

O emprestador de recursos de dívida para uma empresa estaria na posição do principal. Seu desejo é que a empresa quite suas obrigações no prazo. Significa dizer que o financiador irá torcer para que a empresa tome decisões corretas que permita, no futuro, gerar recursos suficientes para isso. Mas são seus recursos que estão em jogo e o financiador pode tomar algumas medidas para isto. No contrato de empréstimo, o financiador pode exigir que a empresa tenha um desempenho compatível de quem pode cumprir suas obrigações. Os covenants da dívida, algumas cláusulas existentes nos contratos, são criados para fazer esta função (19).

No contrato de empréstimo, o financiador pode exigir que a empresa tenha um desempenho mínimo. Pode estabelecer, por exemplo, que o patrimônio líquido não seja negativo, que a empresa gere lucro ou que tenha um nível mínimo de liquidez. Estas cláusulas são criadas usando variáveis contábeis. Por este motivo, os credores são favoráveis a políticas contábeis confiáveis e conservadoras (20).

De certa forma, as cláusulas dos empréstimos restringem as ações do agente, a empresa, no caso. Isto pode incluir restrição aos investimentos, ao pagamento de dividendos. Mas também pode exigir que a empresa forneça informações sobre sua situação para os financiadores.

***

Nesta altura já ficou claro que a contabilidade tem um papel importante na resolução do problema de agência. Em um artigo considerado clássico, Akerlof (21) mostrava que em certas situações isto poderia inviabilizar a existência do próprio mercado.

A auditoria, por exemplo, é um mecanismo para tentar resolver, ou reduzir, o problema de agência. A pesquisa usando a Teoria da Agência na contabilidade analisa o efeito da informação contábil em termos de incentivos das partes e ajuda a entender estas situações (22). A contabilidade ajuda a reduzir a assimetria da informação e permite afetar as ações do agente. Uma vez que a contabilidade financeira é altamente regulada, com entidades que emitem seus padrões, as exigências detalhadas, associada ao mecanismo de governança na empresa, assegura uma informação com uma razoável credibilidade (23). Em termos técnicos, a contabilidade mitiga o problema de agência.

Este papel da contabilidade não é recente. A auditoria da informação existe há milhares de anos. Quando o empregado do Faraó no Egito informava a quantidade de grãos existentes nos silos do reino, o governante enviava auditores para fazer a verificação da informação. Se não houvesse uma coincidência entre os relatos, do empregado e do auditor, alguém estava roubando. Neste sentido, a contabilidade é uma maneira importante de aumentar a confiança nos negócios; a contabilidade surgiu também para facilitar a indução da confiança. Desde os tabletes de argila da história antiga até as cláusulas dos empréstimos do mercado financeiro, a contabilidade (24).

Se “débito” tem sua origem em “dever”, a palavra crédito está associada a “confiar”.

***

(1) Uma pesquisa no Google Scholar, onde temos o acesso a um grande número de trabalhos acadêmicos, revelou que os termos “agency theory” e “accounting” resultaram, na data que escrevia estas linhas, 173 mil resultados. Usei os termos em língua inglesa já que esta é a língua usada na pesquisa científica. Em língua portuguesa o resultado é um pouco acima de 6 mil trabalhos. É um número respeitável.

(2) O livro de King é uma pequena obra histórica da contabilidade. King, T. A. (2011). More than a numbers game: a brief history of accounting. John Wiley & Sons.

(3) Há uma questão histórica interessante aqui. O relatório Trueblood é do início dos anos 70, enquanto o trabalho de Jensen e Meckling é posterior. Além disto, geralmente uma pesquisa demora um certo tempo para adquirir importância. Uma possível explicação é que King estaria fazendo a afirmação como sendo relacionada com o contexto geral do SFAC 1 e não especificamente do parágrafo 50. Ver Jensen, M. C., & Meckling, W. H. (1976). Theory of the firm: Managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of financial economics, 3(4), 305-360.

(4) A parte final da frase é de Scott. Scott, William (2015). Financial Accounting Theory, 7a. ed. Pearson.

(5) Isto foi apresentado em um texto anterior. Aqui temos uma breve consideração sobre o assunto.

(6) Poderia argumentar que o executivo propõe a destinação do resultado, mas cabe ao acionista a palavra final. No entanto, o executivo conhece bem melhor a empresa e pode influenciar nas políticas contábeis e na apuração do lucro.

(7) Os dois exemplos apresentados são bastante citados. Vide, por exemplo, Godfrey, J., Hodgson, A., Tarca, A., Hamilton, J., & Holmes, S. (2010). Accounting Theory. John Wiley & Sons, Inc.

(8) O termo em língua inglesa é “one man band” que corresponde a “banda de um homem só” ou “homem orquestra” para indicar uma pessoa tomando todas as decisões. Conforme o Cambridge Dictionary, disponível em https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/one-man-band

(9) Donleavy, Gabriel (2016). An Introduction of Accounting Theory. Bookboon

(10) Esta ideia está presente na literatura. Vide Scott, William (2015). Financial Accounting Theory, 7a. ed. Pearson. No livro Teoria da Contabilidade, de Niyama e Silva, o primeiro capítulo é dedicado parcialmente a este assunto. No texto não está explicitado a contribuição da Teoria da Agência para o entendimento da importância do administrador para a contabilidade. Niyama, J; Silva, C. A. T. (2020). Teoria da Contabilidade. Atlas.

(11) Mesmo aqui pode, em uma situação eventual, existir problema de agência: a filha pode ter menos apego à empresa e tomar decisões mais arriscadas que a mãe.

(12) O livro da Bíblia que conta a história recebeu o nome de Livro da Sabedoria.

(13) As duas últimas frases do parágrafo serão detalhadas a seguir.

(14) Do inglês bonding costs.

(15) Conforme Wolk, H. I., Dodd, J. L., & Rozycki, J. J. (2016). Accounting theory: conceptual issues in a political and economic environment. Sage Publications.

(16) A citação é de Eugenne Fama, um defensor do livre mercado, conforme Godfrey, J., Hodgson, A., Tarca, A., Hamilton, J., & Holmes, S. (2010). Accounting Theory. John Wiley & Sons, Inc.

(17) Conforme Scott, William (2015). Financial Accounting Theory, 7a. ed. Pearson.

(18) Adaptado de Wagenhofer, A. (2015). Agency theory: Usefulness and implications for financial accounting. In The Routledge companion to financial accounting theory (pp. 361-385). Routledge.

(19) O termo poderia ser traduzido por pacto, aliança ou convênio. Mas na literatura é comum encontrar o termo em língua inglesa. Aqui o termo cláusula seria uma opção também.

(20) Novamente Scott, William (2015). Financial Accounting Theory, 7a. ed. Pearson.

(21) Akerlof, G. A. (1978). The market for “lemons”: Quality uncertainty and the market mechanism. In Uncertainty in economics (pp. 235-251). Academic Press.

(22) Inspirado em Wagenhofer, A. (2015). Agency theory: Usefulness and implications for financial accounting. In The Routledge companion to financial accounting theory (pp. 361-385). Routledge.

(23) Usei o termo “razoável” pois nem sempre a contabilidade cumpre esta função. Entretanto, dado o número de negócios e empresas existentes no mundo, acredito que os “escândalos” contábeis são reduzidos. Muitos destes escândalos acontecem quando algumas das recomendações não foram seguidas pelos atores envolvidos.

(24) O parágrafo foi inspirado em Donleavy, Gabriel (2016). An Introduction of Accounting Theory. Bookboon.

19 março 2016

Não a melhor oferta

Apesar da necessidade de recursos, a Petrobrás está disposta a ganhar menos com a venda de ativos para evitar contratos que levem a empresa a ter de assumir passivos trabalhistas e tributários no futuro. (...) Na Argentina, a subsidiária está sendo negociada exclusivamente com a Pampa Energia, que ofereceu US$ 1,5 bilhão à Petrobrás. Segundo fontes da estatal, a proposta em análise superou outra oferta, mais atrativa, mas que continha cláusula de “escrow account”, uma garantia financeira à nova dona do ativo para cobrir eventuais passivos tributários ou trabalhistas após a venda. A mesma posição é mantida nas negociações com os três interessados na subsidiária de gasodutos Nova Transportadora do Sudeste (NTS), que encaminharam propostas no início do mês. O banco Santander é o assessor financeiro da transação e a previsão é que a escolha do comprador seja fechada em até 90 dias. (...) “Não adianta nada decidir pelo preço se ele representa condições contratuais difíceis de serem cumpridas. O que estamos vendo é a qualidade da proposta. Quando você vende algo, não quer estar amarrado a eventuais garantias”, informou uma fonte próxima às negociações. (Estado de S Paulo, Petrobrás dá desconto na ..., 18 de março de 2016)

A lógica da informação assimétrica indicaria que o vendedor conhece mais do ativo que está sendo negociado que o comprador. Se a empresa não aceita a garantia de cobrir eventuais passivos, isto pode indicar que a Petrobras sabe que estes passivos existem e também pode ter conhecimento que "não tem conhecimento" do tamanho do passivo. Seria de esperar que a segunda oferta, diante da recusa da empresa, apresentasse um valor bem menor para cobrir este risco.

Será que a perda de valor decorrente desta atitude compensou?

26 dezembro 2014

Auditoria

A revista The Economist publicou um longo artigo sobre auditoria. Para aqueles que são da área a recomendação é: leia. A revista analisa os recentes escândalos, a função da auditoria (“não são detetives, mas cão de guarda”) e seu papel na economia capitalista (“auditores desempenham um papel central no capitalismo moderno”), a relação com a informação assimétrica, os problemas das auditorias no mundo de hoje (a concentração do mercado), o papel do PCAOB e a solução para os maiores problemas:

A solução mais elegante vem de Joshua Ronen, professor da Universidade de Nova York. Ele sugere um "seguro de demonstrações financeiras", em que as empresas iriam comprar cobertura para proteger os acionistas contra perdas decorrentes de erros da contabilidade e as seguradoras, então, contratariam auditores para avaliar as chances de uma demonstração [contábil] ruim. A proposta alinha perfeitamente os incentivos dos auditores e acionistas, sendo que uma seguradora provavelmente iria oferecer bônus generosos para descobrir uma fraude. Infelizmente, nenhuma seguradora ofereceu tal cobertura voluntariamente. Pode ser necessária nova regulamentação para incentivá-las.

14 dezembro 2011

Sadia

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) condenou hoje dez dos onze acusados de uso de informação privilegiada em operações com ações da Sadia em 2008, com aplicação de multas somando quase R$ 5 milhões. As transações precederam a divulgação do fato relevante em que a companhia admitia perdas milionárias em arriscadas apostas com derivativos cambiais, em 2008.


Foram acusadas 11 pessoas, alguns ex-administradores da Sadia e pessoas ligadas a eles, muitos moradores da cidade de Concórdia, em Santa Catarina. Eles foram investigados de operarem no mercado de posse de informação privilegiada, um crime contra o mercado de capitais. A suspeita era que estas pessoas sabiam do rombo que estava por vir e foram ao mercado para se beneficiar da informação.


A maioria das multas aplicadas equivale a duas vezes o prejuízo que os investidores conseguiram evitar com as operações.

(Continue lendo aqui)

28 março 2011

Os motivos econômicos dos terroristas

O blog de Tyler Cowen comenta a decisão de um terrorista da Al Qaeda em atacar um alvo em Detroit, em vez de Houston e Chicago, pois a passagem aérea era mais barata. Ele sugere que " este exemplo mostra como é difícil entender os motivos dos terroristas". (...) Jacob Shapiro e David Siegel num artigo de 2007 fazem exatamente este argumento
Pouco depois de meio-dia de 26 de fevereiro de 1993, cerca de 1.500 quilos de bombas caseiras foram detonadas no segundo nível da estrutura do estacionamento do World Trade Center. Seis pessoas foram mortas e mais de mil ficaram feridas. Poderia ter sido muito pior, o F-350 Econoline van alugada pelos terroristas tinham uma capacidade de carga de mais de 4.000 libras. Ramzi Yousef, líder do ataque, depois declarou que não tinha dinheiro suficiente para comprar material suficiente para construir uma grande bomba
Fonte: aqui

15 janeiro 2011

Casamento

Estudos recentes mostram que as pessoas casadas têm menos probabilidade de pegar pneumonia, fazer uma cirurgia, ter câncer ou ataques cardíacos, escreve o colunista do New York Times Tara Parker-Pope. O casamento pode até diminuir o risco de demência. Mas os relacionamentos problemáticos são outra história. Eles podem enfraquecer o sistema imunológico e aumentam o risco de pneumonia de ataque cardíaco e câncer.

O texto é do blog Spousonomics, especializado em casamento e economia, que descobri recentemente. As postagens traz casos reais de economistas no seu casamento e algumas discussões interessantes. Veja a seguinte informação:

Uma em cada cinco mulheres casadas, ou 22%, disse que, se pudesse voltar no tempo, elas mudariam seu marido. Apenas 12% dos homens casados afirmaram que havia escolhido a mulher errada.

Esta constatação é discutida sob a ótica econômica. Para o blog, os homens estão mais conscientes da assimetria de informação e, diante do compromisso de longo prazo, fazem uma investigação mais profunda. Mas a atitude dos homens parece "medo do compromisso", quando na verdade estão fazendo uma investigação para evitar os problemas da informação.

07 janeiro 2011

Informação Assimétrica

O cliente do Goldman disse que também recebeu um demonstrativo financeiro de seis páginas contendo informações sobre a rede social.

O documento revela que durante os primeiros nove meses de 2010 o Facebook gerou US$ 1,2 bilhão em receita. O lucro líquido da companhia no período foi de US$ 355 milhões.

Os demonstrativos financeiros não passaram por auditoria e continham poucos detalhes sobre como o Facebook gera sua receita, segundo a fonte, que pediu para permanecer em anonimato uma vez que assinou um acordo que a proíbe de divulgar os dados.


Clientes do Goldman recebem detalhes financeiros do Facebook - REUTERS

13 novembro 2008

Assimetria da Informação e Crise

Um artigo muito interessante e claro sobre o assunto:

Uma crise internacional no mercado de abacaxis
Valor Econômico – 12/11/2008
Daniel Augusto Motta
Ano de 1970. O mundo coroava Pelé como o maior jogador de futebol de todos os tempos. No mesmo ano, talvez indiferente ao sucesso canarinho, o economista americano George Akerlof publicava o artigo "The Market for Lemons: Quality Uncertainty and the Market Mechanism" que lhe daria o Prêmio Nobel de Economia em 2001. O seu tema de pesquisa: o complexo mercado de abacaxis! Sob a perspectiva crítica de Akerlof, a atual crise internacional originada pelo colapso dos créditos "subprime" e a agitada feira de automóveis usados no Campo de Marte no bairro paulista de Santana sofrem essencialmente do mesmo problema: os malditos abacaxis! Loucura? Na verdade não. Ambos os mercados estão caracterizados pela existência de assimetria de informações entre os agentes econômicos envolvidos nas transações. Considere inicialmente a animada feira de automóveis usados.

Você deve concordar que o vendedor tem um acesso privilegiado às informações mais relevantes sobre seu automóvel: batidas disfarçadas no martelinho, problemas mecânicos, falhas elétricas, bancos encardidos, embreagem desgastadas, ruídos irritantes, amortecedores maltratados, etc. Ao comprador resta analisar superficialmente a mercadoria para invariavelmente levar "gato por lebre" e concluir que adquiriu um abacaxi espinhoso e azedo com quatro rodadas. Tal assimetria de informações não seria necessariamente um problema, caso os vendedores dos poucos bons automóveis disponíveis pudessem sinalizar aos potenciais compradores a qualidade de seus automóveis por meio de um certificado de qualidade, ou por intermédio de um rating fornecido por uma entidade idônea. A analogia entre o ambiente competitivo das feiras de carros usados e o mercado de capitais internacional é irresistível. Dada a existência de significativa assimetria de informações entre gestores e cotistas de fundos de investimento, estes últimos depositaram forte crença nas agências de rating ao tomarem decisões de alocação de suas carteiras de investimentos. Esqueceram-se apenas que um simples rating custa algumas dezenas de milhares de dólares e que, sob o ponto de vista de tais agências, os grandes bancos internacionais e fundos de investimento são valiosos clientes continuamente demandando ratings para produtos diversos. Durante décadas, as agências de rating têm sido capazes de influenciar opiniões sobre o nível de solvência de países, o nível de risco de uma carteira de investimentos e sobre os títulos emitidos por bancos e empresas, afetando sobremaneira o fluxo internacional de divisas entre países e o humor das bolsas de valores em economias desenvolvidas e emergentes. Seu papel: classificar abacaxis como abacaxis, e nectarinas como nectarinas. Simples? Nem sempre. Mais recentemente, enquanto o mercado imobiliário americano já apresentava sinais claros de colapso, poderosos bancos internacionais e fundos de investimento continuaram comprando ratings favoráveis das melhores agências de rating para seus fundos abarrotados de créditos podres. Curiosamente, tais agências preferiram classificá-los como uma saborosa salada de frutas, ignorando a existência de grandes abacaxis azedos no meio de poucas nectarinas doces, aveludadas e suculentas. Assim como um avião comercial cai por uma combinação infeliz de sucessivas falhas, também uma grande crise financeira internacional sem precedentes raramente é resultado de apenas um problema. A crise internacional dos "subprimes" tem sido essencialmente associadas à securitização de empréstimos fornecidos a clientes insolventes, à queda vertiginosa dos preços dos imóveis nos EUA, à ausência de uma regulação mais severa sobre atuação de bancos de investimento e fundos hedge e à política monetária de baixos juros defendida pelo banco central americano nos últimos anos. Na sombra dos fatos estão as agências de rating, cuja atuação desastrosa ludibriou milhões de investidores em todo mundo. Aos milhares de cotistas de fundos e acionistas prejudicados e amargurados diante das perdas milionárias em seus fundos aparentemente com razoáveis ratings, cabe uma justa pergunta: se o papel das agências de rating era minimizar a assimetria de informações, quais são as penalidades num caso de notória imperícia e irresponsabilidade?

31 julho 2008

Vida privada numa empresa aberta

A recente doença de Steve Jobs levantou uma questão interessante para a contabilidade: qual o limite para divulgação de informação sobre a vida privada de um executivo de uma empresa. O caso de Jobs é interessante, pois esse executivo tem sua vida vinculada a Apple, e vice-versa.

Até que ponto isso é importante? Em alguns casos é sabido que a presença (ou ausência) de um executivo pode ser crucial para o desempenho futuro de uma entidade. Informar ao mercado sobre a doença de Jobs faz com que a informação deixe de ser assimétrica.

Para ler mais, clique aqui

22 julho 2008

Seleção Adversa

A questão da seleção adversa já possibilitou que um dos seus fundadores ganhasse um Nobel de Economia. Diz respeito àquela situação onde uma pessoa possui uma informação que outro não tem e isso faz com que o mercado não funcione adequadamente.
O modelo também ficou conhecido como Limão e foi descrito originalmente para o mercado de carros usados. Quando uma pessoa compra um automóvel usado o preço está abaixo do valor justo, pois pressupõe que existam informações sobre o ativo que o comprador não sabe.

Esse assunto possui um vínculo estreito com a contabilidade. Tanto é assim que no Doutorado da UnB-UFRN-UFPB existe uma matéria sobre esse assunto (serei o responsável por ela no próximo semestre).

No entanto, como todo modelo, isso traz algumas constestações. Aqui um link para uma pesquisa recente.

18 julho 2008

Dividendos

A principal mensagem que os investidores e gestores de empresas devem reter é que o pagamento de dividendos não é, em si, algo necessariamente positivo. É verdade que imperfeições de mercado como impostos, custos de transacção e informação assimétrica implicam que o pagamento de dividendos não é neutro, e por isso não é irrelevante. No entanto, o pagamento de dividendos não é em si um acto e criação de valor para o accionista, devendo sempre ser analisado no contexto da política de financiamento da empresa e das oportunidades de investimento lucrativas de que a empresa dispõe.
A segunda mensagem a reter, e que já é claramente visível desde os anos 80 nos EUA e mais recente- mente na Europa Ocidental, é que a recompra de acções é uma alternativa para distribuir resultados aos accionistas, com maior flexibilidade e com bastantes vantagens em relação ao pagamento de dividendos. A maior parte das empresas portuguesas continua alheia a este facto.
Maria Rosa Borges - autora do livro “A Política de Payout das Empresas” em “O pagamento de dividendos não é algo necessariamente positivo” - 11 July 2008
Vida Económica

27 março 2008

Rir é o melhor remédio

Esta propaganda é sobre a informação relevante que faz falta. O aluno quer entregar a prova após ter terminado o tempo. O professor não aceita. O jovem pergunta se o professor sabe qual o nome do aluno. Com a resposta negativa, o aluno coloca sua prova misturada com a dos colegas.

Muita informação


O estudo, "Influence Through Ignorance", é o primeiro a examinar minuciosamente situações em que o poder está no controle do fluxo de informação pública, em oposição à posse de informações privadas.

Como explica Brocas e Carrillo [os autores do estudo], existem segredos - fatos, que são deliberadamente retidos - e há fatos que não são conhecidos por ninguém.

"Não é necessário dispor de informações adicionais", diz Brocas. "Você pode induzir as pessoas a fazer o que você deseja apenas por deter o fluxo de informações ou sua continuidade. Isso é o suficiente." (...)


É o fluxo da informação que interessa. Não a sua quantidade. Clique aqui para ler mais.

06 setembro 2007

Uma pesquisa importante

Executivos lucram com informação privilegiada
Ganho na Bolsa é, em média, 3,8% maior que o do investidor comum
Agnaldo Brito
O Estado de São Paulo - 04/09/2007

Diretores e membros dos conselhos de administração de empresas de capital aberto faturam mais que os investidores comuns na venda e na compra de ações de empresas que administram. E o uso de informação privilegiada é apontado como a principal razão para os ganhos adicionais desse grupo, revela uma pesquisa inédita no Brasil feita pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (CEF/FGV), à qual o Estado teve acesso.

Os pesquisadores Willian Eid e Ricardo Rochman analisaram dados sobre as transações feitas por diretores e membros do conselho de administração e descobriram que, na média, esses acionistas ganharam 3,85% mais do que os investidores fora desse círculo. "Parece um porcentual pequeno, mas em transações milionárias isso representa um excepcional ganho", diz Rochman.

O uso de informação privilegiada no mercado de ações - quem faz essa operação é conhecido como insider - é crime com punição prevista na nova Lei das S.A. A pena varia de 1 a 5 anos de prisão. Casos rumorosos ocorridos recentemente no Brasil são alguns dos exemplos de como a prática pode gerar ganhos espetaculares.

Entre os episódios sob investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estão operações suspeitas ocorridas antes da compra da Suzano Petroquímica pela Petrobrás, do Grupo Ipiranga pela Petrobrás, Braskem e Ultra e da tentativa frustrada da Sadia de adquirir a Perdigão.

Segundo o ex-presidente da CVM, Luiz Leonardo Cantidiano, o sistema que fiscaliza esse tipo de prática precisa de atualização. Ele avalia, no entanto, que houve avanços nas regras e nas normas para o mercado de capitais. "O aperfeiçoamento da fiscalização, no momento em que o mercado se tornou mais forte, trouxe ao conhecimento público casos de uso de informação privilegiada."

UNIVERSO

No estudo, foram avaliadas 6.969 operações no período de março de 2001 a janeiro de 2005, feitas por diretores de 44 companhias abertas. A pesquisa observou os valores de compra e venda dos papéis. Apenas nessa amostra, esse grupo ganhou R$ 248,6 milhões a mais do que o grupo de investidores comuns. A evolução do mercado de ações e a valorização dos papéis nos últimos anos pode ter transformado grupos inteiros em milionários.

Segundo os pesquisadores, a amostra revela mais do que sorte ou talento para faturar mais do que o investidor comum. "Seria ingênuo dizer que esses operadores possuem só talento. Há indícios claros de se opera com informações privilegiadas", diz Willian Eid.

A pesquisa também apurou que essas pessoas são investidores muito mais ativos do que os comuns. Vendem e compram os papéis de empresas que representam com muito mais velocidade do que os demais. "Na média, apuramos que eles realizam sete operações diárias de compra ou de venda dos papéis. A freqüência dos investidores comuns é de no máximo uma operação por dia", explica Rochman.

Todas as operações avaliadas pelos pesquisadores da FGV são de empresas do chamado Novo Mercado, uma denominação que em princípio confere à companhia algum nível de governança corporativa. "Uma coisa é dizer que a empresa adota conceitos reconhecidos como de governança. A outra é praticá-la", diz Rochman. O uso de informação privilegiada por acionistas ligadas às empresas é uma das práticas condenadas na governança.


Esta é uma pesquisa importante e mostra que a idéia de inocência no mercado deveria ser repensada. A exigência de divulgação das operações dos executivos com ações das empresas resolveria?

04 julho 2007

Sobre avaliação de empresas

Dois links. O primeiro, sobre o número crescente de negócios entre empresas (aqui).

O segundo é um exemplo interessante, do El País de hoje, sobre como são realizados alguns negócios de aquisição no mundo: sem informação suficiente (ou seja, "no escuro"). Aqui

15 fevereiro 2007

Teoria da Agência

A Teoria da Agência é um importante instrumento para explicar certas questões que ocorre na prática empresarial. No link a seguir, um interessante exemplo de teoria da agência na Varig, onde os dirigentes usaram do seu posto em benefício próprio. Clique aqui para ler