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04 dezembro 2017

Bitcoin na visão de quatro economistas

Quatro textos sobre o Bitcoin, numa visão de excelentes economistas. Primeiro, John Cochrane, que afirma que o que está ocorrendo com o Bitcoin é algo “normal”: uma demanda temporária especulativa, com uma oferta temporária reduzida e ausência temporária de substitutos. Para ele, Bitcoin não é um bom dinheiro (gráfico ao lado extraído da sua postagem).

Tyler Cowen, do Marginal Revolution, estima uma demanda por moeda digital em 600 bilhões de dólares; atualmente a capitalização do mercado é de 300 bilhões de dólares. O que significa que há espaço para crescimento.

Stiglitz associa o Bitcoin a evasão e a falta de fiscalização. Para ele, o Bitcoin deveria ser banido.

Jean Tirole, no Financial Times (e traduzido pelo Valor Econômico), pergunta se o Bitcoin é sustentável e se contribui para o bem comum. Segundo ele, as respostas seriam: provavelmente não (a conferir) e definitivamente não.

Finalmente, o grande "economista" Maduro, e também presidente da república, anuncia a criação de uma moeda digital na Venezuela.  

13 setembro 2012

Fogo no Barraco

Tudo começou em março, quando a jornalista [Patricia Cornils] resolveu levantar números sobre incêndios em favelas na cidade de São Paulo. (...)

Na semana passada, após o incêndio da Favela do Piolho, ela se lembrou da planilha incompleta, que havia começado a tabular. Postou no Facebook e pediu ajuda. “Muita gente entrou. Não faço ideia de quantas pessoas”, diz. O programador Diego Rabatone organizou os dados por ano; outra pessoa completou com as informações da Defesa Civil. E, então um outro programador, Pedro Ivo Moraes – que Patrícia nem conhece pessoalmente – pegou os dados e cruzou com a valorização por metro quadrado. O código, aberto, foi postado no Github.

Patrícia começou a divulgar. O mapa mostra uma evolução do número de incêndios em favelas nos últimos anos. Em 2004, não houve nenhum incêndio. O número só aumentou até 2012. Ainda é cedo para especular sobre a relação entre os dados, mas há convergência. Em 2008, por exemplo, houve um incêndio na Água Branca no mesmo ponto em que começou, naquele ano, uma das maiores valorizações imobiliárias da cidade.

(...) Segundo ela, o trabalho está só começando. “Falta buscar dados da CPI dos Incêndios, das operações urbanas, dos projetos de parque lineares e mapear. Entender o que o mapa nos diz. Por exemplo, há lugares onde os incêndios são recorrentes (de cabeça me lembro do Jaguaré. Todo ano tem… por que?). Falta ir aos lugares e entender, se a dinâmica de valorização realmente tem relação com os acidentes”, diz.


Fonte: Aqui

08 março 2010

Internet 2

O que restou da bolha da internet
Renato Cruz
O Estado de São Paulo - 8/3/2010

Dez anos depois do pico da Nasdaq, a internet se popularizou, mas ganhar dinheiro com ela ficou mais difícil

“A internet ficou velhinha”, afirma Marcelo Lacerda, que vai completar 50 anos, pioneiro da internet brasileira. Ao lado de Sérgio Pretto, ele criou a NutecNet, que depois se transformou no ZAZ, ao se associar à Rede Brasil Sul (RBS), e finalmente foi vendida para a Telefônica, em 1999, dando origem ao provedor Terra. “Hoje, quando vou lá no Terra, sou quase o tiozão.”

Na próxima quarta-feira, fará 10 anos que a bolsa americana Nasdaq, que concentra as ações das empresas de tecnologia, alcançou a maior pontuação de sua história. Nunca mais chegou perto dos 5.048,62 pontos atingidos em 10 de março de 2000. Na última sexta-feira, a Nasdaq fechou em 2.326,35 pontos, bem longe dos momentos de glória da década passada.

Durante a bolha da internet, parecia que as empresas e o mercado financeiro viviam num mundo paralelo, em que não era importante ter retorno financeiro e nem mesmo faturamento. Os empreendedores buscavam crescer rápido para se tornarem bilionários na abertura de capital de suas empresas. A preocupação era com o “burn rate” (tempo que levaria para zerar o caixa antes de um novo aporte) no lugar do “break even” (momento em que a operação deixa de ser deficitária). A internet parecia um mercado de crescimento infinito, em que tudo se tornaria possível a um clique do mouse.

Esse otimismo exagerado gerava distorções bizarras, que só pareciam fazer sentido naquele período. Nos EUA, a Priceline, que vendia passagens aéreas pela rede, chegou a valer, no dia de sua abertura de capital (30 de março de 1999), quase US$ 10 bilhões, o que correspondia a mais do que a United Airlines, a Continental Airlines e a Northwest Airlines combinadas, mesmo registrando perdas três vezes maiores que seu faturamento.

O fim da bolha foi marcado por uma escalada de aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano, para combater riscos inflacionários. As empresas que dependiam de uma nova rodada de investimentos para continuar funcionando viraram pó. Apesar disso, houve pontos positivos na bolha. Sem a animação desenfreada do mercado, a infraestrutura que poderia levar décadas para ser criada acabou se desenvolvendo em poucos anos.

“A internet foi uma promessa que se cumpriu não só nas pontocom, mas em toda a economia”, diz Lacerda, um dos casos de maior sucesso da internet brasileira. Ele continua investindo em tecnologia e prepara o lançamento de uma empresa de banda larga.

Outro pioneiro que atravessou bem os altos e baixos foi Aleksandar Mandic. Filho de imigrantes iugoslavos, ele criou, em 1990, a primeira Bulletin Board System (BBS) brasileira e a batizou com seu nome, Mandic. As BBSs eram serviços online anteriores à internet, em que as pessoas participavam de listas de discussão e trocavam correio eletrônico. A Mandic virou provedor em 1995 e foi vendida para a argentina Impsat, quatro anos depois.

Depois de passar pela criação do iG, acabou fundando uma nova empresa com seu nome, especializada em e-mail. “O iG chegou a ser avaliado em US$ 7 bilhões”, lembra Mandic. “Era uma ciranda financeira. Hoje, a internet é coisa do passado, deixou de ser alvo de interesses especulativos. Quem fez a crise não foi o técnico, foi o banco.”

Internet

Ícones de uma era de excessos
O Estado de São Paulo - 8/3/2010

AOL Time Warner

O principal símbolo da loucura que tomou conta do mercado mundial foi a compra da gigante de comunicação Time Warner pelo provedor America Online (AOL), em janeiro de 2000, por US$ 166 bilhões em ações. Na época, a AOL valia duas vezes mais que a Time Warner. Três meses depois, com o estouro da bolha, as ações da empresa caíram 75%. Com o tempo, a AOL acabou sendo tirada do nome da companhia, virou uma divisão de internet e, no fim do ano passado, já era uma empresa à parte.

Telecom Italia e Globo.com

No Brasil, o maior negócio da internet foi a compra de 30% da Globo.com pela Telecom Italia, por US$ 810 milhões, em junho de 2000. Na época, a Globo havia investido US$ 12 milhões no portal, que tinha 60 dias de vida. Em fevereiro de 2002, a Telecom Italia anunciou que havia dado baixa contábil no investimento, reduzindo seu valor a US$ 18 milhões. Depois de tentar vender - sem sucesso - a sua participação na Globo.com, a empresa italiana acabou trocando-a por espaço publicitário em outras empresas da Globo.

StarMedia

O uruguaio Fernando Espuelas vendeu a Wall Street o sonho da internet latino-americana, com seu portal StarMedia. Em maio de 1999, a empresa abriu capital na Nasdaq, a US$ 15 por ação. Em dois meses, os papéis subiram para US$ 70 e a StarMedia chegou a valer US$ 3,7 bilhões. Mas a bolha estourou e, em fevereiro de 2002, a empresa deixou de ser listada na Nasdaq, quando suas ações já valiam menos de US$ 1. Em julho de 2002, foi comprada pelo grupo espanhol EresMas, por US$ 8 milhões.

Aeron

A cadeira Aeron foi sinônimo de sucesso na época da bolha. Criada pelos designers Bill Stumpf e Don Chadwick, fez parte de uma exposição no Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York em 2000, e custava US$ 1,3 mil. A agência on-line Razorfish tinha mais de 200 em sua sede em Nova York. “Um site brasileiro de viagens entrou nessa onda, mandou importar 60 e acabou fechando em sete meses”, lembra o jornalista Eduardo Vieira, autor do livro Os bastidores da internet no Brasil.

06 janeiro 2010

Bolha no Mercado Brasileiro

A existência do componente de bolha na formação dos preços pode ser indicada pelo seu desvio em relação ao seu valor fundamental. O presente estudo buscou encontrar evidências sobre ocorrência de bolhas de preços no mercado acionário brasileiro no período de 1994 a 2007. Foram feitos testes no mercado de forma geral e em 17 setores classificados pelo banco de dados Economática®. Para testar a evidência de bolhas no mercado como um todo, foi utilizado o Ibovespa como proxy do preço médio das ações, e como indicador médio da distribuição de dividendos, foi construído um índice, de dividendos distribuídos, baseado nas próprias carteiras do Ibovespa no período. Foram feitos os testes de cointegração Engle-Granger e Johansen, com o objetivo de verificar se os citados índices mantiveram uma relação de equilíbrio de longo prazo. O resultado encontrado demonstra que não há cointegração entre o Ibovespa e o Idividendos, indicando a possibilidade de terem ocorrido uma ou mais bolhas na formação dos preços das ações. Os testes setoriais demonstram o mesmo resultado do teste geral, havendo fortes indícios da possibilidade de bolhas de preços nos 17 setores pesquisados. Os testes de causalidade Granger indicam que os dividendos não “Causam Granger” o Ibovespa e nos 17 setores, ao nível de significância de 1%, 82% dos setores não apresentaram nenhuma causalidade na direção dividendos–preços das ações, reforçando os resultados encontrados nos testes de cointegração.

EVIDÊNCIAS DE BOLHAS DE PREÇOS NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO
Bruno Vinícius Ramos Fernandes & Otavio Ribeiro de Medeiros (UnB)

09 maio 2009

Especulação

(...) Especulação é a pesquisa que se faz em busca da melhor alternativa econômica, e a decisão seguinte mera consequência. Especulação é o cerne da atividade econômica. Trata-se de necessidade de indivíduos, empresas e Estados. Em quaisquer negócios visa o crescimento de patrimônios ou, no mínimo, sua proteção. De fato, todo agente econômico é um especulador.

Apesar de ser instituição natural, a especulação traz o estigma da vilania. Trata-se de pecado original que lhe aplicou a cultura ocidental, impregnada dos princípios cristãos. Para fugir ao sinal infamante, os mercados batizaram novo personagem: o investidor, tipo distinto que, também segundo Houaiss, surgiu em nossa língua na década de 1950. Suas decisões seriam fundamentadas, as operações sérias e o timing jamais imediatista. Foi a fórmula para transformar especulação em atividade que, hoje, dir-se-ia politicamente correta. É comum ouvir de governantes que investidores são bem vindos e especuladores indesejáveis. (...)


A especulação e os especuladores - 30 ABril 2009 - Valor Econômico - Ney Carvalho foi corretor de Bolsa, é historiador e escritor

Na prática todo agente econômico faz especulação. Uma situação comum ocorre quando aproveitamos uma oferta num supermercado.

06 maio 2009

Efeito Manada

BC tenta conter efeito manada no câmbio
Folha de São Paulo - 6/5/2009
SHEILA D'AMORIM

(...) Segundo a Folha apurou, a forte atuação do BC no mercado de câmbio ontem teve dois objetivos. O primeiro foi tentar conter um efeito manada no mercado, que se traduz em aumento das apostas a favor do real e que poderia fazer a cotação cair abaixo do R$ 2,10, alimentando ainda mais o movimento de baixa do dólar.

O outro foi aproveitar a oferta de dólares e, com a compra de cerca de US$ 3,4 bilhões, neutralizar contratos de venda no valor de US$ 3,3 bilhões que o BC assumiu no auge da crise internacional e que vencerão no início de junho.

Segundo o comunicado de ontem, o BC "decidiu fazer leilão de swap reverso [contratos especiais de câmbio, veja quadro nesta página] agindo em função de alterações nas condições de fluxo prevalecentes no mercado nas última semanas". (...)


Tenho dúvidas se esta situação representa efetivamente um efeito manada. Acho que se trata de especulação.

26 novembro 2008

Apostaram no pânico

O texto a seguir mostra como a crise do Morgan Stanley pode ter sua origem na especulação de investidores gananciosos.

Anatomia do pânico com o Morgan Stanley
Susan Pulliam, Liz Rappaport, Aaron Lucchetti, Jenny Strasburg e Tom McGinty, The Wall Street Journal - 25/11/2008 - The Wall Street Journal Americas - 2

Dois dias depois que a Lehman Brothers Holdings pediu concordata, espalhou-se um boato explosivo: outra grande firma de Wall Street, o Morgan Stanley, estava prestes a quebrar. O que se dizia no mercado naquele 17 de setembro é que o Deutsche Bank AG tinha cancelado uma linha de crédito de US$ 25 bilhões para o banco de investimento.

Não era verdade, mas o boato ajudou a desencadear uma cascata de apostas contra o Morgan Stanley. O diretor-presidente John Mack queixou-se amargamente de que operadores desejosos de lucros estavam semeando o pânico. Mas faltava uma informação essencial: quem, exatamente, estava por trás dessas transações?

Registros de transações examinados pelo Wall Street Journal oferecem agora uma resposta parcial. Esses documentos revelam que algumas das maiores firmas de Wall Street — Merrill Lynch & Co., Citigroup Inc., Deutsche Bank e UBS AG — estavam apostando pesado contra o Morgan. A estratégia dessas firmas era usar complicados instrumentos financeiros chamados swaps de crédito, uma forma de seguro contra perdas com crédito.

Um exame dessas transações feito pelo WSJ também revela que os swaps tiveram papel importante ao amplificar a avaliação pessimista do mercado sobre o Morgan Stanley, o que, por sua vez, levou os operadores a investir contra as ações da firma, vendendo-as a descoberto. A inter-relação entre as transações com swaps e a venda a descoberto acelerou a espiral descendente da firma.

Este relato foi elaborado a partir dos registros das transações e de mais de 70 entrevistas com executivos de Wall Street, operadores, corretores, administradores de fundos de hedge, investigadores e autoridade reguladoras.

Durante anos, a venda de swaps de crédito foi uma mina de ouro para Wall Street. Mas, por ironia, naqueles dias tumultuados de setembro, o mercado de swaps virou-se contra o Morgan Stanley como um Frankenstein financeiro. Esse mercado se tornou um termômetro bem visível do Pânico de 2008, insuflando a crise que acabou exigindo a intervenção do governo.

Outras firmas também estavam negociando com swaps do Morgan em 17 de setembro: Royal Bank of Canada, Swiss Re e vários fundos de hedge, como King Street Capital Management LLC e Owl Creek Asset Management LP.

A pressão também se intensificou em outra frente: houve um aumento nas vendas a descoberto — apostas contra as ações da Morgan — por parte de grandes fundos de hedge. No fim do dia, a ação do Morgan tinha caído 24%, e as autoridades temiam que investidores com práticas predatórias estavam mirando os bancos de investimento.

Esse tipo de transação, que já havia derrubado Bear Stearns Cos. e Lehman, fez com que as ações do Citigroup desabassem 60% na semana passada, o que forçou novo socorro do governo.

Os investigadores estão tentando identificar o que causou o caos do mercado em meados de setembro e saber se os swaps de crédito ou as ações do Morgan Stanley foram negociados de forma imprópria. O procurador-geral de Nova York, Andrew Cuomo, o escritório em Manhattan da Procuradoria-Geral dos Estados Unidos e a comissão de valores mobiliários americana (SEC) estão investigando se houve manipulação do mercado por parte de corretores que teriam divulgado intencionalmente falsos boatos para lucrar com suas apostas. As investigações também querem verificar se os operadores compraram swaps por altos preços para provocar o medo quanto à estabilidade do Morgan e assim lucrar em outras aplicações, e se as transações envolveram cotações falsas e fechamento de negócios inexistentes, segundo pessoas a par do assunto.

Ainda não surgiu publicamente nenhuma prova de que qualquer firma tenha feito algo de errado em relação às ações ou swaps do Morgan Stanley. A maior parte das firmas afirma que comprou os swaps simplesmente para se proteger contra eventuais prejuízos com vários tipos de negócios que estavam fazendo com o Morgan. Algumas garantem que suas aplicações em swaps foram pequenas em relação a todas as transações desse tipo ocorridas naquele dia.

Provar que o preço de qualquer papel foi manipulado é extraordinariamente difícil. O mercado de swaps não é nada transparente: as transações são feitas por telefone e email entre os corretores, sem cotações públicas.

Erik Sirri, um diretor de mercados da SEC, afirma que o mercado de swaps é vulnerável à manipulação. "Transações de baixo volume em um mercado relativamente pequeno podem ser usadas para (...) sugerir que um crédito é considerado fraco pelo mercado", disse ele em depoimento ao Congresso americano no mês passado. Sirri disse que a SEC temia que as transações com swaps estivessem causando investimentos prejudiciais às ações.

O Morgan tinha começado setembro em boa forma. Teve lucro nos dois primeiros trimestres fiscais, até 31 de maio. Ao contrário da Lehman, não tinha muita exposição aos créditos imobiliários residenciais de alto risco, embora estivesse exposto ao mercado de imóveis comerciais e de empréstimos alavancados. Mack sabia que os lucros do terceiro trimestre seriam maiores do que o esperado.

Em 14 de setembro, enquanto a Lehman se preparava para pedir concordata, Mack disse aos funcionários, em memorando interno, que o Morgan estava "em uma posição única para ter sucesso neste ambiente tão cheio de desafios". No dia seguinte, a firma conseguiu alguns novos clientes de fundos de hedge que estavam fugindo da Lehman.

Mas os rumores corriam soltos, com operadores preocupados com qual firma de Wall Street seria a próxima a cair. A conversa nos fundos de hedge, segundo alguns operadores, é que o Morgan Stanley tinha US$ 200 bilhões em risco devido às suas transações com a seguradora American International Group Inc., então prestes a pedir concordata. Isso não era verdade. O Morgan informou à SEC que sua exposição à AIG era "irrelevante".

Alguns corretores do J.P. Morgan Chase & Co. estavam sugerindo a clientes do Morgan Stanley que era arriscado manter contas nessa firma, segundo pessoas a par do assunto. Mack queixou-se a James Dimon, diretor-presidente do J.P. Morgan, que pôs fim às conversas, segundo essas pessoas. Deutsche Bank, UBS e Credit Suisse também ofereceram seus serviços a fundos de hedge atendidos pelo Morgan, segundo pessoas a par do assunto.

No dia 16, a ação do Morgan desabou durante o dia, mas com uma recuperação no final do pregão. Alguns fundos de hedge retiraram seus recursos da firma, temendo que o Morgan seguisse os passos da Lehman no tribunal de falências, com risco de imobilizar os ativos dos clientes. Em um esforço para amainar as preocupações, o Morgan divulgou seus resultados naquela tarde, às 16h10, um dia antes do previsto.

"É muito importante devolver um pouco de sanidade ao mercado", disse Colm Kelleher, diretor financeiro do Morgan, em teleconferência com investidores. "As coisas estão realmente saindo de controle, e boatos ridículos estão sendo repetidos."

Glenn Schorr, analista do UBS, perguntou a Kelleher sobre o alto custo de proteção da dívida do Morgan Stanley no mercado de swaps. A proteção para US$ 10 milhões em dívidas do Morgan tinha subido para US$ 727.900 por ano, ante US$ 221.000 em 10 de setembro, segundo a CMA DataVision.

"Certas pessoas estão se concentrando nos swaps de crédito como desculpa para olhar para as ações", respondeu Kelleher, sugerindo que os operadores que investiam nos swaps também estavam vendendo a descoberto ações do Morgan Stanley, apostando que elas cairiam.

É impossível saber com certeza qual era a motivação dos que compravam swaps do Morgan. Eles receberiam pagamentos caso o Morgan não pagasse títulos e empréstimos. Alguns desses compradores, sem dúvida, possuíam créditos do banco e estavam simplesmente tentando proteger-se contra uma eventual insolvência.

Mas os swaps também eram uma boa maneira de especular, para operadores que não detiam esses créditos. O valor do swap aumenta com o medo da inadimplência. Os operadores que apostavam no aumento dos temores sobre o Morgan Stanley podiam usar os swaps para obter um lucro rápido.

Em meio às incertezas daquele 16 de setembro, a Millennium Partners LP, fundo de hedge com US$ 13,5 bilhões, pediu para retirar US$ 800 milhões dos mais de US$ 1 bilhão que mantinha no Morgan, segundo pessoas a par dessas retiradas. Em separado, a Millennium também tinha vendido a descoberto ações do Morgan Stanley — parte de uma série de apostas na queda das ações de firmas financeiras, disse uma dessas pessoas. Além disso, a fundo de hedge comprou opções de venda, que lhe davam o direito de vender ações do Morgan no futuro a um preço determinado.

"Escute, nós precisamos proteger nossos ativos", disse Israel Englander, presidente da Millennium, a um executivo do Morgan Stanley, segundo uma pessoa a par da conversa. "Não é nada pessoal." Essas apostas na queda das ações, pequenas em comparação com o volume total de transações da Millennium, subiam de valor à medida que caíam as ações do Morgan.

Na manhã do dia 17, David "Tiger" Williams, presidente da Williams Trading LLC, que presta serviços de transações para fundos de hedge, ouviu um de seus operadores dizer que certo fundo havia transferido uma conta de US$ 800 milhões do Morgan Stanley para uma firma rival. O operador, que estava ao telefone com o gestor do fundo que retirou o dinheiro, perguntou por quê. O Morgan estava quebrando, respondeu o cliente.

Pressionado a dar detalhes, o administrador do fundo repetiu o rumor sobre o cancelamento da linha de crédito de US$ 25 bilhões por parte do Deutsche Bank. Williams passou a dar vários telefonemas, mas suas fontes no mercado opinaram que se tratava de um boato falso.

Mas o estrago já estava feito. Às 7h10, um operador do Deutsche Bank cotou em US$ 750.000 a compra de proteção para US$ 10 milhões em dívida do Morgan. Às 10h, o Citigroup e outros operadores já cotavam preços de US$ 890.000. E à medida que se alastrava o boato sobre o Deutsche, as ações do Morgan despencaram, de cerca de US$ 26 às 10h para perto de US$ 16 às 11h30.

Antes do meio-dia, operadores de swap começaram a cotar o custo de seguro para o Morgan em "pontos adiantados" — jargão de Wall Street para transações em que os compradores têm de pagar pelo menos US$ 1 milhão adiantado, mais um prêmio anual, para segurar US$ 10 milhões em dívida. No caso do Morgan Stanley, alguns operadores estavam exigindo mais de US$ 2 milhões adiantados.

Durante o dia, a Merrill comprou swaps para cobrir US$ 106,2 milhões em dívida do Morgan Stanley, segundo os documentos das transações. A King Street comprou swaps que cobriam US$ 79,3 milhões; o Deutsche Bank, US$ 50,6 milhões; a Swiss Re, US$ 40 milhões; a Owl Creek, US$ 35,5 milhões; UBS e Citigroup; US$ 35 milhões cada; Royal Bank of Canada, US$ 33 milhões; e ACM Global Credit, um fundo de investimento operado pela AllianceBernstein Holding, US$ 28 milhões, segundo os documentos.

No dia seguinte, 18 de setembro, algumas dessas mesmas firmas estavam de volta ao mercado. A Merrill comprou proteção para outros US$ 43 milhões em dívida do Morgan; o Royal Bank of Canada, US$ 36 milhões; a King Street, US$ 30,7 milhões; e o Citigroup, US$ 20,7 milhões, indicam os registros.

Nenhuma das firmas comenta quanto pagou pelos swaps, ou se lucraram com as operações.

"A proteção que compramos foi um simples hedge, não baseado em nenhuma visão negativa do Morgan Stanley", diz John Meyers, um porta-voz da AllianceBernstein. Um porta-voz do Royal Bank of Canada diz que o banco comprou os swaps para administrar seu "risco de crédito" com o Morgan Stanley e que não estava "apostando contra o Morgan Stanley nem realizou apostas na baixa de sua ação".

A King Street, um fundo de hedge com US$ 16,5 bilhões, comprou os swaps para cobrir sua exposição ao Morgan Stanley, que incluía títulos de renda fixa, segundo uma pessoa ligada ao fundo. O fundo não tinha uma posição vendida na ação, diz essa pessoa.

Porta-vozes de Deutsche Bank e Citigroup dizem que as transações deles foram relativamente pequenas e com o propósito de proteger contra perdas em outros investimentos relacionados ao Morgan, e para atender a ordens dos clientes. Um porta-voz da Owl Creek diz que ela comprou os swaps "para segurar o colateral que tínhamos no Morgan Stanley na época", e que continua a fazer negócios com a firma.

Merrill, UBS e Swiss Re negaram-se a prestar comentários.

Durante o frenesi de transações em 17 de setembro, Mack havia começado a discutir uma fusão com o Wachovia Corp. Quatro dias depois, o Morgan Stanley alterou o curso, tornando-se uma holding bancária e ganhando maior acesso a recursos do governo. No mês passado, depois de captar US$ 9 bilhões do japonês Mitsubishi UFJ Financial Group, o Morgan recebeu US$ 10 bilhões do governo americano.

O Morgan Stanley precisa agora revisar sua estratégia para lidar com um ambiente avesso a risco e com a supervisão mais rígida do governo que acompanha a condição de holding bancária. Este mês, o banco anunciou que demitiria 2.300 empregados, ou 5% do total.

O custo de segurar sua dívida caiu. Ontem sua ação subiu 33,13% e fechou a US$ 13,38.

13 junho 2008

Inbev e Bud 2


O gráfico compara as cotações da Inbev e da Anheuser-Busch. Observe que o mercado já sabia que algo estava acontecendo (vide aqui)

Isso significa dizer que o prêmio de 14% sobre as cotações recentes representava um prêmio de 35% da média antes da especulação, segundo o WS Journal. O mesmo jornal lembra que na constituição da Inbev, a operação foi considerada uma aquisição dos belgas sobre a Ambev e que na prática, hoje, é vista como uma aquisição contrária (aqui)

11 março 2007

China

Na Bolsa de Xangai, vermelho é positivo
Folha de São Paulo - 11/03/2007
CLÁUDIA TREVISAN

Cor preferida dos chineses, o vermelho indica as ações que estão em alta nos painéis eletrônicos da Bolsa de Xangai, enquanto o verde marca os papéis que perdem valor.

Além da peculiar escolha das cores, a principal Bolsa da China possui traços que a diferenciam de instituições de outros países. Altamente especulativa, ela é dominada por empresas estatais, que fornecem ao mercado informações financeiras consideradas pouco confiáveis e nada transparentes. (...)

Seus movimentos não são pautados pela performance das companhias nas quais investem, mas pela busca de sinais que possam indicar se os painéis da Bolsa ficarão vermelhos ou verdes -como o rumor de que o governo adotaria um imposto de 20% sobre ganhos de capital, que deu origem à desvalorização de 9% no dia 27 de fevereiro, batizado de "terça-feira negra" na China. [Comentário: isso não ocorre nas outras bolsas?]

"A Bolsa chinesa é puramente especulativa. É impossível investir com base nos fundamentos das companhias, porque não há acesso à informação", afirma o norte-americano Michael Pettis, professor de Finanças Internacionais da Universidade de Pequim.(...)

Interesses distintos

Os objetivos que orientam as decisões dos administradores nem sempre coincidem com o interesse dos acionistas minoritários e podem incluir preocupações como manter o nível de emprego em determinada região ou realizar investimentos por razões políticas. [Comentário: Isso não ocorre nas outras bolsas?]

A falta de profissionais especializados em contabilidade também conspira contra a qualidade das informações divulgadas pelas empresas abertas chinesas. Pettis diz que o país necessita de 250 mil auditores para analisar os balanços das companhias, mas conta somente com cerca de 70 mil.

O brasileiro Sit Sei Wei, da consultoria Oping Group, de Xangai, concorda que não é a análise dos dados das empresas que faz o mercado subir ou cair, até porque os balanços não são confiáveis. "É um mercado especulativo. A característica do investidor chinês é a busca de ganhos no curto prazo."