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20 novembro 2022

Os problemas contábeis da FTX

Tenho mais de 40 anos de experiência jurídica e de reestruturação. Fui Diretor de Reestruturação ou CEO em várias das maiores falhas corporativas da história. Eu supervisionei situações envolvendo alegações de atividade criminosa e má conduta (Enron). Eu supervisionei situações envolvendo novas estruturas financeiras (Enron e Capital Residencial) e recuperação e maximização de ativos transfronteiriços (Nortel e Overseas Shipholding). Quase todas as situações em que estive envolvido foram caracterizadas por defeitos de algum tipo nos controles internos, conformidade regulatória, recursos humanos e integridade dos sistemas. Nunca em minha carreira vi uma falha tão completa dos controles corporativos e uma ausência tão completa de informações financeiras confiáveis como ocorreu aqui. Desde a integridade dos sistemas comprometidos e a supervisão regulatória defeituosa no exterior, até a concentração de controle nas mãos de um grupo muito pequeno de indivíduos inexperientes, pouco sofisticados e potencialmente comprometidos, essa situação é sem precedentes.

Novo CEO e diretor de reestruturação da FTX, John Ray. Parece um exagero, mas no documento que Ray encaminhou para a justiça há alguns fatos sobre a contabilidade da empresa: não existia controle sobre gastos como compra de imóveis e outros itens pessoais para funcionários e consultores, não há registro de passivos de clientes no balanço, não existia controle centralizado do dinheiro, não existia uma lista precisa de contas bancárias e os responsáveis - o que torna impossível saber qual o valor do caixa da empresa, não existia um departamento de contabilidade, assim como não há uma lista de recursos humanos da empresa e não foram localizados todos os ativos digitais da empresa. 


A solicitação pede para mudar o fórum da falência uma vez que transações foram feitas após a solicitação de falência. 

Foto: Ricardo Viana

27 fevereiro 2018

Weinstein Company

A Weinstein Company foi fundada em 2005 e tinha como dono Bob Weinstein, irmão do mais conhecido Harvey. Mas desde o segundo semestre de 2017, Harvey tem sido acusado de uma série de crimes sexuais, que inclui assédio com várias mulheres. Até então, a Weinstein Co era uma empresa “respeitável”, responsável pela produção de filmes como Django, O Discurso do Rei, Bastardos Inglórios, entre outros.

Com o escândalo, o procurador-geral apresentou uma ação judicial contra a empresa. A acusação é que a empresa, incluindo o irmão Bob, não tomaram medidas preventivas contra o assunto, apesar de existirem provas há anos. Os gestores da entidade perceberam que a solução para evitar o desemprego e preservar ativos seria a sua venda. Entretanto, o efeito do escândalo foi maior e afetou a própria venda planejada.

Agora, anuncia-se a falência ordenada da empresa, como “unica opção viável para maximizar o valor restante da empresa”.

09 setembro 2012

Golpes 2


O Royal Bank of Scotland foi multado em entre 200 milhões e 300 milhões de libras (US$ 481 milhões ou R$ 884 milhões) pela participação em um escândalo global de manipulação da taxa de juros, informou o Financial Times neste sábado, sem citar fontes.

Segundo o jornal, o banco britânico está sofrendo penalidades similares às aplicadas ao Barclays, que pagou 290 milhões de libras em multas, após chegar a um acordo coletivo junto a autoridades do Reino Unido e dos Estados Unidos, envolvendo tentativas de manipular a taxa interbancária Libor.

A Reuters informou em 24 de agosto que o Royal Bank of Scotland deveria firmar um acordo similar nos próximos dois meses.

Matt Scuffham, Reuters

22 novembro 2011

Olympus 3

No centro da ação da Olympus está uma técnica que já foi comum no Japão para ocultar prejuízos, chamada tobashi, que os reguladores financeiros japoneses toleravam antes de coibi-la no fim dos anos 90.


O esquema permitia que as companhias ocultassem prejuízos sobre ativos podres vendendo esses ativos para outras empresas, para depois recomprá-los mediante pagamentos, com frequência disfarçados em honorários de consultoria ou outras transações, quando as condições de mercado ou de lucratividade melhorassem.


O memorando dos investigadores japoneses historia os esforços da Olympus para saldar seus prejuízos anteriores com pagamentos camuflados como aquisições e honorários de consultoria supostamente afins para comprar companhias que pareciam ter pouca relação com suas atividades principais.


O documento confirma algumas informações previamente noticiadas pelo New York Times, segundo as quais boa parte dos pagamentos dos negócios foi feiro por meio da empresa de consultoria de gestão Global Company, chefiada por NobumasaYokoo, um ex-banqueiro do banco de investimento Nomura.


Segundo novas reportagens, o memorando também ajudou a arranjar esses acordos a ITX, uma empresa adquirida pela Olympus em 2003 e anteriormente chefiada pelo irmão mais velho de Yokoo, Akinobu Yokoo.


Ele é presidente de uma empresa de peças e serviços de aviação, a Jalux, que informou na quinta-feira que Yokoo não estava acessível para comentar.


Os escritórios de Tóquio da Global Company foram desocupados no começo de outubro.


Em outra companhia pertencente a Yokoo, um homem que se identificou somente como "Yamamoto" disse que Yokoo não era visto "fazia algum tempo" e havia dado instruções "para não falar com estranhos" sobre a Olympus.


Ninguém atendeu a campainha em seu endereço pessoal registrado em Tóquio, uma mansão protegida por cercas e câmeras.

/TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK - Empresa tinha esquema para ocultar prejuízos - Estado de S Paulo

27 maio 2010

Dono da Parmalat condenado

O escândalo da Parmalat foi um dos mais famosos dos últimos anos. A empresa italiana, então com atuação no Brasil na área de laticínios, fraudou suas demonstrações contábeis. Agora a condenação do dono. Eis a notícia:

O Tribunal de Apelações de Milão confirmou nesta quarta-feira (26) a condenação a dez anos de prisão do ex-dono da Parmalat, Calisto Tanzi, no processo de falência do grupo agroalimentar italiano, informou a agência de notícias Ansa.

A Corte, no entanto, não acatou o pedido do Ministério Público de uma pena mais alta, de 11 anos e um mês de prisão.

Acusado de especulação na bolsa, de dificultar a atividade dos órgãos de vigilância e de ser cúmplice de falsificações em relatórios, Calisto Tanzi, fundador e ex-dono do grupo, foi condenado no fim de 2008.

O advogado de Tanzi, Giampiero Biancolella, informou que seu cliente irá recorrer.

O tribunal ainda condenou Giovanni Bonici, ex-presidente da Parmalat da Venezuela, a dois anos e meio de prisão e Luciano Silingardi, antigo administrador independente do grupo, a três anos, mesmo com os dois tendo sido absolvidos em primeira instância.

Por outro lado, as absolvições de três antigos dirigentes do banco americano Bank of America e de dois administradores do grupo foram confirmadas, apesar de irem contra a solicitação do Ministério Público, que queria as condenações.

Tanzi deve ainda pagar € 100 milhões para ressarcir 32 mil investidores afetados pela falência da Parmalat.

O processo de Milão começou em 2005 e é o primeiro de uma longa série de problemas com a Parmalat.

O maior processo, relativo à falência, em número de prejuízos e penas aplicadas foi aberto em março de 2008 em Parma, cidade sede do grupo. Tanzi foi julgado por falência fraudulenta.

Referência da economia italiana, a Parmalat empregava, na época, 36 mil pessoas em 30 países, reunia diversas empresas e estava presente no futebol, com o clube Parma, e no turismo.

Sua falência em 2003 representou um dos escândalos financeiros mais graves da Europa e engoliu as economias de 135 mil investidores, deixando um buraco de cerca de € 14 bilhões
.


Ex-dono da Parmalat é condenado a 10 anos de prisão
Brasil Econômico - Por AFP - 26/05/10 14:39

Todas as notícias da Parmalat deste blog aqui

03 maio 2009

O caso Sadia

Seria interessante que os professores de controladoria pudessem discutir em sala de aula o caso Sadia. Como uma empresa deste porte permitiu um prejuízo de 2,5 bilhões de reais com derivativos.

Após a notícia, a providência da empresa foi demitir do diretor financeiro, providenciado um culpado. Mas esta medida é muito simplista, pois certamente a ausência de controles é de responsabilidade da presidência. É sempre bom lembrar um conceito importante da teoria administrativa:

Você delega funções, mas não responsabilidades


Isto diz muito sobre o fato da diretoria imputar no ex-diretor a culpa pelo prejuízo. Um texto da Gazeta Mercantil (Ex-diretor da Sadia diz que se reportava ao conselho, 8/4/2009, p. 1, Fabiana Batista) mostra que o ex-diretor, Adriano Lima Ferreira, afirmou que reportava diretamente ao Conselho de Administração. Uma consulta a página da empresa na internet mostra que são as pessoas que compõe este Conselho.

Mais ainda, Ferreira afirmou que as operações que trouxeram prejuízo em 2008 foram as mesmas que corresponderam a 60% do lucro da empresa nos últimos seis anos.

Mas observe o que afirmou o ex-diretor para Folha de São Paulo ("A Sadia sabia de tudo", afirma ex-diretor, 9/4/2009, Cristiane Barbieri)

FOLHA - As de derivativos tóxicos também?
FERREIRA - As operações dois para um começaram em meados de 2007. A empresa ficou mais de um ano fazendo essas operações, que tiveram várias auditorias. Quando se fechava uma operação desse tipo, a boleta ia para nossos operadores, para a contabilidade e à controladoria da companhia, que era separada da área financeira. Ia também para a auditoria interna e para o conselho de administração. Pela atipicidade da cultura financeira da empresa, a auditoria independente, a KPMG, tinha uma equipe financeira destacada para auditar a área financeira da Sadia.

FOLHA - Não era uma auditoria de empresa não financeira?
FERREIRA - Havia uma auditoria principal para a área de alimentos, que buscava apoio numa equipe de auditores de bancos, corretoras e instituições financeiras, porque a Sadia tinha uma cultura financeira forte, operava todos os instrumentos disponíveis no mercado. As operações, sejam derivativos ou não, sempre foram contabilizadas, auditadas e aprovadas em várias instâncias. Havia alçadas rigorosamente atendidas e relatórios mensais.

FOLHA - Eles eram detalhados?
FERREIRA - Não havia o nível de detalhamento [de todas as operações] porque não fazia parte da cultura da companhia. Você apresentava resultados que as operações deram, a exposição dessas operações, simultaneamente com apresentações da área de risco. Em 2003, determinou-se que o limite de risco do câmbio era de 20% sobre o patrimônio, equivalente a R$ 600 milhões ou R$ 700 milhões de perda assumida. Só que havia 95% de confiança nessas operações e 5% de risco. Esse "modus operandi" era o dia a dia da companhia. Agora, de um dia para outro, dizer que não sabia dessas operações? Como não sabia? Tinha diversas auditorias e formas de controle que eram apresentados todo mês.

FOLHA - O conselho de administração e a presidência executiva sabiam das operações?
FERREIRA - As operações eram apresentadas a eles. Todas foram registradas, auditadas e aprovadas. Quando aconteceu uma crise desse tamanho, não só a Sadia, mas centenas de empresas no Brasil, no México e na Ásia, principalmente, tiveram os mesmos problemas. Quando se faziam essas operações, usavam-se como base cenários e probabilidades que, quando colocados nos modelos [econométricos], era difícil de a perda não compensar seu uso. Tanto é que centenas de empresas os utilizavam.

FOLHA - Por que a área financeira não se reportava à presidência executiva?
FERREIRA - Nos seis anos em que eu estive lá, 60% dos resultados da companhia eram de operações financeiras. Se olhar para trás, o percentual era maior. A empresa só teve lucro em alguns anos por causa da área financeira. Até o primeiro semestre de 2008, 80% dos lucros vieram dessas operações específicas. A estrutura de governança da companhia espelhava uma cultura financeira, de uma empresa que tinha uma corretora, que tinha uma tesouraria ativa, que tinha um projeto de criar um banco, que aconteceu. A companhia sempre teve um risco financeiro. A estrutura, quando o presidente-executivo assumiu, em 2004, tinha forma do reporte da diretoria financeira para o conselho [por causa dessa cultura]. Mas contabilidade, controladoria e jurídico, que aprovava as operações, estavam sob a área executiva. Se fechasse uma operação [de derivativo] hoje, no mesmo dia o boleto estava na mão dele [do presidente-executivo].
(...)


Aproveitem estudiosos da controladoria. Este é um excelente caso para discutir sobre controles, auditoria, responsabilidade, etc.

07 abril 2009

Contabilidade e Crise

A reputação manchada dos EUA
Paul Krugman, The New York Times *
O Estado de São Paulo - 31/3/2009

Há dez anos, a capa da revista Time estampava Robert Rubin, então secretário do Tesouro, Alan Greenspan, então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e Lawrence Summers, então vice-secretário do Tesouro. A revista chamou a trinca de “comitê para salvar o mundo”, creditando-lhe a condução do sistema financeiro global numa crise que parecia aterrorizante na época, embora pareça um pequeno solavanco comparada ao que estamos enfrentando hoje.

Os três homens naquela capa eram americanos, mas ninguém estranhou isso. Afinal, em 1999, os Estados Unidos eram o líder inconteste da resposta global à crise. Esse papel de liderança só em parte se baseava na riqueza americana; num grau importante, ele refletia também a estatura da América como um modelo exemplar. Todos achavam que os EUA eram o país que sabia lidar bem com as finanças.

Como os tempos mudaram.

(...) É penoso ler hoje uma palestra feita por Summers no início de 2000, quando a intensidade da crise econômica dos anos 1990 estava diminuindo. Discutindo as causas daquela crise, Summers apontou coisas que faltavam aos países em crise - e que, por implicação, os EUA possuíam. Essas coisas incluíam “bancos bem capitalizados e supervisionados”, e “contabilidade corporativa transparente e confiável”. Bem, bem. (...)


Grifo meu.

Observe como isto é coerente com a citação seguinte:

Cada uma das três contrações passadas nos Estados Unidos - a recessão de julho de 1990 a março de 1991, a recessão de março a novembro de 2001 e a recessão que começou em dezembro de 2007 - envolveram escândalos de corrupção. (...) Elas são simples pois sempre envolvem a violação de princípios elementares de contabilidade (...)


George Akerlof e Robert Shiller - Animal Spirits - p. 29-30

26 fevereiro 2009

Para Justificar a Contabilidade

José Carlos Batista, ex-sócio da Guaranhuns Empreendimentos, envolvida no caso do mensalão, afirmou à Justiça em dezembro que a empresa produziu um contrato fictício em 2005 para justificar valores recebidos da agência SMP&B, do empresário Marcos Valério.

Segundo a Procuradoria Geral da República, a Guaranhuns repassou os recursos oriundos da SMP&B em 2003 e 2004 ao PL (atual PR), então sob o comando de Valdemar da Costa Neto, num esquema montado por dirigentes do PT para comprar o apoio de políticos do PL.

Os R$ 6,1 milhões foram repassados a Costa Neto, segundo a Procuradoria. Após o escândalo do mensalão, Costa Neto renunciou ao mandato de deputado federal, mas foi eleito novamente à Câmara em 2006.

Em depoimentos anteriores à CPI dos Correios e à PF, Batista não havia apontado que o contrato com a SMP&B era de fachada. O relato dele à Justiça reforça o conjunto de indícios sobre a existência de uma estrutura financeira para fazer repasses do PT para o PL. Em depoimento à PF, Marcos Valério já havia afirmado que o contrato foi feito "para justificar a entrada de recursos na contabilidade da Guaranhuns".

Empresa do mensalão diz que fez contrato fictício
Folha de São Paulo – 23/2/2009 – Flávio Ferreira

Para Justificar a Contabilidade

José Carlos Batista, ex-sócio da Guaranhuns Empreendimentos, envolvida no caso do mensalão, afirmou à Justiça em dezembro que a empresa produziu um contrato fictício em 2005 para justificar valores recebidos da agência SMP&B, do empresário Marcos Valério.

Segundo a Procuradoria Geral da República, a Guaranhuns repassou os recursos oriundos da SMP&B em 2003 e 2004 ao PL (atual PR), então sob o comando de Valdemar da Costa Neto, num esquema montado por dirigentes do PT para comprar o apoio de políticos do PL.

Os R$ 6,1 milhões foram repassados a Costa Neto, segundo a Procuradoria. Após o escândalo do mensalão, Costa Neto renunciou ao mandato de deputado federal, mas foi eleito novamente à Câmara em 2006.

Em depoimentos anteriores à CPI dos Correios e à PF, Batista não havia apontado que o contrato com a SMP&B era de fachada. O relato dele à Justiça reforça o conjunto de indícios sobre a existência de uma estrutura financeira para fazer repasses do PT para o PL. Em depoimento à PF, Marcos Valério já havia afirmado que o contrato foi feito "para justificar a entrada de recursos na contabilidade da Guaranhuns".

Empresa do mensalão diz que fez contrato fictício
Folha de São Paulo – 23/2/2009 – Flávio Ferreira

24 fevereiro 2009

Novo escândalo e novamente auditoria

O escândalo da instituição Stanford revela, novamente, a fragilidade da auditoria como uma aliada dos fraudadores. Segundo o The Times (Hunt for Stanford and his billions as regulators unravel 'worldwide fraud', Suzy Jagger, Christine Seib, David Brown, Laura Dixon, 19/2/2009, 1, 6,7)

“uma pequena empresa contábil na Antigua [CAS Hewlett & Co] é responsável pela auditoria do multibilionária carteira de investimento. A comissão [SEC] tentou contato por telefone, mas ninguém respondeu.”

28 janeiro 2009

Satyam

Na medida em que as investigações na empresa Satyam prosseguem indícios passados começam a aparecer. É o famoso “eu avisei” (ou o corolário, “estava muito claro, só não viu quem não quis”).

Além disto, as investigações também mostram que a semelhança com a Enron está talvez somente na grandeza dos valores. Tudo leva a crer que os problemas contábeis da empresas eram mais graves e envolviam inclusive a criação de lançamentos contábeis.

(...) Em setembro, senhor Mukherjea [analista do Noble Group, um banco britânico de investimento] usou um modelo computacional para examinar as 500 maiores empresas abertas com sinais de manipulação contábil. Ele encontrou que mais de 20% delas estavam potencialmente engajadas em contabilidade agressiva, mas Satyam não estava na lista.

Isto porque as telas automatizadas que analistas como o Sr. Mukherjea usam para obter sinais de fraude começa pela busca de grandes discrepâncias entre os lucros reportados e fluxo de caixa. No caso da Satyam, o dinheiro parece acompanhar o ritmo com os lucros.

Mas Kawaljeet Saluja, um analista de Kotak Securities, um banco de investimento indiano, avistou um fenômeno enigmático. De dezembro de 2006 a setembro de 2008, os depósitos bancários da empresa indiana mantiveram-se mais ou menos plano. Mas durante este período a parte do dinheiro mantido em contas correntes, o que permite fácil acesso ao dinheiro, mas ganham poucos juros, aumentou mais de sete vezes.

Sr. Saluja questionou à administração da empresa durante uma conferência telefônica setembro. O ex-diretor financeiro da Santyam, Vadlamani Srinivas, disse que o dinheiro iria em breve ser transferido para contas de alto rendimento. (...)

In India, Clues Unfold To a Fraud's Framework - JEREMY KAHN; 27/1/2009 - The New York Times - Late Edition – Final - 1

16 janeiro 2009

Visão da auditoria

Um economista de jornal, Celson Ming, faz no Estado de S. Paulo, uma observação sobre auditoria (Confiança é quase tudo, 16/1/2009):

Ao gosto do freguês - Está generalizada a percepção de que o principal negócio do auditor é fazer uma contabilidade ao gosto do dono da empresa.

Foi esta, em síntese, a reação de muitos leitores que comentaram as críticas desta coluna ao comportamento dos auditores nesta crise.

Mas alguém reclamou de que eu tivesse poupado uma das gigantes do setor, a PriceWaterhouseCoopers.

Não houve a intenção. Aliás, a Price foi afastada da auditoria do escândalo bilionário na indiana Satyam Computer Services, do setor de tecnologia.


Agora substitua na primeira frase a palavra "auditor" por "economista" e "contabilidade" por "previsão" e veja se não ficou melhor.

15 janeiro 2009

Escândalo Contábil e a Contabilidade

Um novo escândalo e novamente a discussão sobre o papel da contabilidade, mais especificamente da auditoria.

O que não enxerga é o Mizaru. O que não escuta é o Kikazaru. E o que não fala é o Iwazaru. Estes são os Três Macacos Sábios esculpidos na porta do Estábulo Sagrado do templo xintoísta do século 17 que está na cidade de Nikko, Japão.

Pois já passou da hora para que as empresas de auditoria adotem os três macacos como símbolos da corporação. São tantos os casos de fraude contábil e de desastres relacionados a elas que um dia alguém precisa se perguntar para que mesmo servem os auditores.

(...) Esta é uma lambança velha de guerra. Aqui no Brasil, eles não enxergaram a megafraude que até agora não se sabe se foi de R$ 10 bilhões ou de R$ 15 bilhões, no antigo Banco Nacional que quebrou em 1986. Em 2007, o auditor Marco Aurélio Diniz, que assinou os balanços em nome da KPMG, foi condenado por omissão. No naufrágio do Banco Econômico, o auditor que até a véspera avisava que tudo ia bem a bordo era a Ernest & Young.

Atrás do escândalo Enron, em 2001, nos Estados Unidos, estava a Arthur Andersen. E foi este caso que levou o Congresso americano a aprovar novas normas contábeis, muito mais severas, que ficaram conhecidas com a Lei Sarbanes Oxley. Duas outras gigantes do ramo, a Grant Thornton e a Deloitte & Touche deixaram acontecer outra fraude e tanto, desta vez na Parmalat italiana, caso também conhecido como o Enron da Europa.

Para todos os fins, uma auditoria serve para atestar a confiabilidade dos balanços das empresas. Qualquer condomínio tem quem se encarregue da conferência das contas de responsabilidade do síndico. Se essa exigência é necessária até mesmo para organizações simples, imagine o que não seria das complexas se não houvesse gente capacitada para aferir essa numerália toda.

Nesta crise foram inúmeros os casos em que os dados constantes nos balanços de tantos bancos, seguradoras, sociedades de crédito imobiliário, fundos de investimento, etc. foram escrutinados por auditores e que depois se revelaram nem um pouco confiáveis. Eles não enxergaram nem relataram, por exemplo, que os bancões e outras instituições dos Estados Unidos e do resto do mundo estavam excessivamente alavancados e que, por isso, trilhões de dólares corriam risco de virar pó, como depois viraram.

Os cartolas da contabilidade vão recitar o mantra de sempre: que todas as normas e procedimentos da profissão foram religiosamente cumpridos.

Mas, se é assim, para que servem eles se os atestados que assinam não valem nada? Os três macacos pelo menos são mais sinceros. Dizem que enxergar, ouvir e falar não é com eles.

Mizaru, Kikazaru e Iwazaru
O Estado de São Paulo - 15/01/2009