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06 abril 2020

Redundância no comércio global

As técnicas modernas de gestão de estoques enfatiza a relação do custo de estocagem e o custo da falta (vide capítulo do livro Administração do Capital de Giro, Assaf e Silva, onde isto é tratado usando o lote econômico de compra). A literatura enfatizou que o custo de estocagem deveria ser melhor avaliado - ou seja, seu valor é substancial.
 Assim, o custo da falta em situações como a da pandemia global não estava previsto. Shannon O´Neil destaca este ponto.Para Shannon, a palavra chave talvez seja redundância. E esta questão da redundância talvez não esteja adequadamente destacada no livro. Eis um trecho do artigo de O´Neil:

Mas a pandemia de coronavírus iluminou os riscos que as cadeias de suprimentos globais representam para as pessoas, as economias e a segurança das nações. Quando um componente é produzido exclusivamente em um país ou região, ou em alguns casos, mesmo em uma fábrica, as empresas em todo o mundo podem repentinamente se encontrar sem insumos vitais. Além disso, enfatizou-se as técnicas de manufatura enxuta, que buscam reduzir estoques, trabalhadores, momentos de inatividade e erros. Todas as escolas de administração ensinam esses métodos e os conselhos e acionistas corporativos os recompensam. Mas em tempos de crise, as práticas deixam empresas com estoques escassos e poucos substitutos viáveis ​​para quando as cadeias de suprimentos são cortadas. Em muitas empresas, os estoques caíram do "suficiente para as próximas semanas" para o "suficiente para os próximos dias" e, em alguns casos, o suficiente para durar apenas algumas horas, pois software sofisticado, sensores e inteligência artificial permitem que as peças cheguem imediatamente antes de serem inseridas em carros, máquinas de ressonância magnética, computadores ou empilhadeiras acelerando ao longo das linhas de montagem. A margem para erro, em outras palavras, é muito fina.

A pandemia de coronavírus iluminou os riscos que as cadeias de suprimentos globais representam para as pessoas, as economias e a segurança das nações.


Isto se tornou muito claro nos dias atuais, onde se construiu uma dependência do fornecimento de alguns países, em especial a China:

As interrupções na produção de suprimentos médicos já são evidentes. Como hospitais e profissionais de saúde dos EUA enfrentam ondas crescentes de doenças, máscaras e equipamentos de proteção são escassos, em grande parte porque a maioria é fabricada na China. Muitos temem que os produtos farmacêuticos sejam os próximos. Certamente, fábricas em todo o mundo produzem pílulas, pomadas e xaropes. Mas muitos dos ingredientes ativos de antibióticos, analgésicos, insulina, antidepressivos e outros medicamentos também vêm da China. Se o envio desses itens for atrasado por causa do coronavírus, a saúde de dezenas de milhões de pessoas poderá sofrer.

Praticamente todos os setores e sistemas que alimentam a economia americana podem ser afetados. O lítio essencial para telefones celulares e baterias de computadores, os minerais de terras raras integrados a painéis solares e turbinas eólicas, e os semicondutores e telas de LCD em eletrônicos são todos fabricados em um ou apenas em alguns lugares. Se os suprimentos falharem por muito tempo, a comunicação poderá falhar, a energia poderá sair e os avanços tecnológicos dos EUA poderão parar. Também podem desaparecer produtos mais prosaicos: peças para carros, máquinas de lavar, geladeiras, misturadoras de cimento e muito mais dependem de fábricas que estão na fronteira ou no mar.

Talvez nos próximos meses, quando a situação se normalizar, alguns destes métodos poderão ser revistos. Saberemos quando compararmos os níveis de estoques e insumos antes e depois da crise.

01 fevereiro 2013

Dificuldade de pagamento

Segundo a agência Reuters, a Petrobras está atrasando o pagamento a fornecedores.

A Petrobras tem atrasado pagamentos a fornecedores e provocado dificuldades financeiras na cadeia de prestadores de serviços, após ter adotado uma política de redução de custos em meio a prejuízos na sua divisão de Abastecimento, aumentos de custos e produção estagnada.

Há também o atraso de pagamento para fundos de recebíveis criados para financiar esses prestadores de bens e serviços, observando que a estatal alterou sua política de pagamentos recentemente e vem olhando com mais rigor os contratos.

Com isso, a estatal tem demorado mais tempo para liberar os recursos. Em uma espécie de efeito dominó, os prestadores de serviços também atrasam seus compromissos financeiros.

"Não vou dizer que a Petrobras é inadimplente, mas que está em atraso. Enquanto algumas companhias estão sofrendo, estou confiante que os pagamentos serão feitos", disse Fernando Werneck, gestor de um portfólio de fundos creditórios na BI Invest, exclusivos de fornecedores da Petrobras.

Alguns dos fundos de investimento dedicados exclusivamente aos fornecedores da Petrobras registraram aumento da inadimplência.

Os pagamentos em atraso em cinco Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) saltaram 58,6%, para R$ 18,4 milhões, em 31 de dezembro, ante R$ 11,6 milhões, segundo uma pesquisa da agência Reuters junto à Comissão de Valores Mobiliários.

O FIDC existe para ajudar a Petrobras a terceirizar o negócio de financiamento aos fornecedores. Fundos de investimento fazem empréstimos às empresas que possuem contratos com a estatal utilizando como garantia os recebíveis junto à Petrobras.

Ao longo dos últimos dois anos a Petrobras aportou cerca de R$ 7 bilhões para ajudar os fornecedores.

PEDIDOS DE FALÊNCIAS

Problemas financeiros já empurraram algumas empresas fornecedoras da estatal menores, como a GDK, a um processo de recuperação judicial. Grandes empresas, tais como a Lupatech, tiveram que vender ativos e levantar capital novo para evitar o pior.

Preocupações sobre como fazer negócios no Brasil, onde a Petrobras é responsável por mais de 90% da produção de petróleo, levaram a uma queda de 34% nas ações da italiana Saipem na quarta-feira.

A empresa prestadora de serviços e equipamentos offshore disse que os problemas do Brasil poderiam ajudar a cortar o seu lucro em 80% em 2013. As concorrentes Subsea 7 e Technip França, ambas também fornecedoras da Petrobras, chegaram a cair mais de 6% na quarta-feira.

O programa de redução de despesas, que visa cortar custos de R$ 32 bilhões no período de 2013 a 2016, foi anunciado no final do ano passado, após a Petrobras ter acumulado nos nove primeiros meses de 2012 mais de R$ 17 bilhões em prejuízo na área de Abastecimento (combustíveis), ao mesmo tempo que tem um plano de cinco anos de investir mais de US$ 200 bilhões.

Nessa conjuntura que favorece o crescimento do passivo, a agência de classificação de risco Moody's alterou em dezembro para negativo o rating da dívida da companhia.

DIFICULDADE PARA RECEBER

Segundo fontes de empresas que prestam bens e serviços à estatal, a Petrobras tem demorado mais tempo para liberar os aditivos aos contratos.

Nas licitações, as empresas ganhavam oferecendo um orçamento abaixo do valor de mercado e depois recorriam aos aditivos, uma prática comum, já que depois esses aditivos eram liberados com mais facilidade.

"Agora há um rigoroso processo de avaliação por parte da estatal e sempre há a necessidade de mais e mais documentos. Enquanto isso, o dinheiro não sai", disse uma fonte de uma empreiteira de médio porte que presta serviço à Petrobras.

Com a demora na liberação dos pagamentos, as empresas precisam tomar empréstimo de curto prazo, disse a fonte, a custos altos, gerando um desequilíbrio nas contas.

"Em geral tem demorado uns meses a mais. Como dois terços do nosso faturamento depende de contratos com a Petrobras, há um desajuste", disse à Reuters o executivo, na condição de não ter seu nome divulgado.

Algumas empresas têm quase a totalidade das receitas atreladas aos contratos com a Petrobras e podem acabar falindo com o atraso dos pagamentos.

É o caso da Tenace Engenharia, que com 90% de faturamento oriundo da estatal pediu falência no fim do ano passado.

A empresa tinha um grande contrato de construção de uma unidade de gasolina e diesel no Polo de Guamaré, no Rio Grande do Norte. Também prestava serviços para a estatal em Urucu, no Amazonas.

Segundo uma fonte da empresa, a Petrobras não concordou em renegociar aditivos aos contratos. A Tenace enviou um comunicado aos seus credores responsabilizando a estatal pelo seu fechamento, segundo a fonte, que preferiu não ser identificada.

A construtora GDK, também grande fornecedora da estatal, teve o seu pedido de recuperação judicial aprovado no dia 10 de janeiro pela Justiça da Bahia, segundo nota enviada pela empresa à Reuters.

E a construtora Egesa, responsável por parte das obras de uma unidade de fertilizantes da Petrobras, também anunciou recentemente aos seus funcionários e credores que "está passando por uma reestruturação financeira em função do cenário econômico atual".

OUTRO LADO

Segundo a Petrobras, os pagamentos de seus compromissos "reconhecidos" são realizados de acordo com os prazos estabelecidos contratualmente.

Procurada, a estatal disse em nota que os eventuais pleitos de pagamentos adicionais aos contratados por parte dos fornecedores são submetidos a uma avaliação técnica por uma comissão constituída para este fim, bem como a uma avaliação jurídica.

"Após a conclusão deste processo, que está de acordo com contrato e com a legislação vigente, a negociação é submetida à aprovação das instâncias corporativas competentes. Dessa forma, eventuais pleitos não representam a existência de dívida por parte da Companhia", disse a estatal.

25 novembro 2011

Gafisa


Uma extensa reportagem do Estado de São Paulo mostra o que ocorreu com a Gafisa, uma das maiores construtoras do país, nos últimos anos. De estrela da bolsa, com direito a abrir capital nos Estados Unidos, a empresa teve redução no lucro, aumento no endividamento e redução no valor de mercado (leia-se, queda na cotação das ações). O trecho a seguir poderia, perfeitamente, ser usado numa aula de análise de balanços. Recomendo a leitura para aqueles que gostam do assunto:

(...) Consultores, analistas, concorrentes e conselheiros da própria empresa consultados pelo Estado concordam que o principal erro da Gafisa foi sua pressa em crescer. "O setor imobiliário utiliza capital intensivo. Quanto mais a empresa cresce, mais ela precisa colocar capital e aumentar sua alavancagem financeira", diz o analista de mercado imobiliário do Santander, Flávio Queiroz. "A Gafisa captou recursos e saiu comprando terrenos e lançando empreendimentos sem ter capacidade para executar", diz um consultor, que não quis se identificar.


No meio dessa corrida, comprou a Tenda, em setembro de 2008. Seria uma forma de entrar mais rápido no celebrado segmento de imóveis econômicos. Mas o legado de problemas da Tenda se mostrou maior do que a Gafisa imaginava. "Olhando para o passado, é fácil perceber que a aquisição da Tenda foi um erro", diz o conselheiro da Gafisa, Guilherme Affonso Ferreira. [Na foto abaixo, o grande erro da Tenda]


Segundo ele, muitos empreendimentos da construtora popular, principalmente os lançados antes de 2008, tiveram os custos subestimados, problemas para repassar os clientes para o banco e até entraves na documentação. "O sistema de triagem da Tenda não era o mesmo da Caixa Econômica Federal. A companhia tem cerca de 15 mil contratos que devem ser renegociados, de clientes ou projetos que não se enquadram no financiamento do banco", diz Ferreira.


No mercado imobiliário, em geral, os clientes pagam até 30% do preço do imóvel durante a obra, mas o custo para a construção do empreendimento pode chegar a 60% do valor geral de venda (VGV). A construtora só recebe o restante dos recursos após a entrega das chaves, quando transfere os clientes para o banco. Para os imóveis oferecidos à baixa renda, há uma linha de crédito associativo da Caixa Econômica que permite à construtora antecipar recursos durante a obra. Mas a maioria dos imóveis que a Gafisa herdou da Tenda não atendia aos pré-requisitos do banco e teve de ser financiada com dinheiro da empresa.


Isso atrasou as entregas dos projetos da Tenda, consumiu caixa e reduziu as margens da Gafisa. A empresa encerrou o mês de setembro com R$ 912 milhões em caixa, um volume 26% menor do que no mesmo período de 2010. Até setembro, a margem Ebitda atingiu 16%, o mínimo do guidance de 2011 e 3,6 pontos porcentuais abaixo dos nove primeiros meses de 2010.


‘Basta’. Mas agora a empresa resolveu dar um basta nessas perdas. No terceiro trimestre, foram lançados apenas dois empreendimentos com a marca Tenda, com 324 unidades e um VGV de R$ 49 milhões - uma redução de 90% em relação ao mesmo período do ano passado. E o corte pode crescer ainda mais, "De agora em diante, os novos projetos da Tenda serão realizados somente com o processo de repasse imediato para a Caixa", informou o presidente da companhia, Duilio Calciolari, em comunicado divulgado no último dia 14. Na prática, isso significa parar d empreendimentos da Tenda, com raras exceções, até reestruturar a operação, segundo o conselheiro Ferreira.


No mercado financeiro, a notícia de segurar os lançamentos foi bem recebida. "A compra da Tenda não funcionou como a Gafisa planejava. Insistir no erro é pior. Eles devem focar na geração de caixa", diz Queiroz, do Santander. Para ele, o plano de reestruturação da Gafisa deve surtir efeito e elevar a rentabilidade da empresa.


Uma das apostas da companhia para recompor o caixa é aumentar a participação da marca Alphaville. Os empreendimentos da marca, adquirida pela Gafisa em 2006, têm rentabilidade média de 50%, mais que o dobro da média da companhia. No terceiro trimestre deste ano, o volume de lançamentos cresceu 56% e somou 33% do total. A empresa já identificou 60 cidades com potencial de receber loteamentos da Alphaville em até cinco anos.


Ranking. Antes de a Gafisa divulgar que pretende enxugar sua operação, a ação da companhia derreteu. Só neste ano, os papéis caíram 55%. Hoje, está avaliada em R$ 2,4 bilhões. Em 2007, antes da aquisição da Tenda, o valor de mercado de Gafisa era de R$ 4,3 bilhões, segundo a Economática (veja quadro acima).


A Gafisa está há 57 anos no mercado, mas mudou de patamar depois da entrada da GP Investimentos. O fundo tirou a empresa de um período de crise e reestruturou sua gestão. À GP, em 2005, uniu-se o investidor americano Sam Zell, que comprou cerca de 30% da empresa - ele anunciou a venda de todas as ações neste ano.


Mas foi a abertura de capital que trouxe fôlego financeiro para o negócio. A empresa lançou suas ações na Bovespa em fevereiro de 2006 e, cerca de um ano depois, na Bolsa de Nova York. Em cada um dos IPOs arrecadou cerca de R$ 1 bilhão. Agora, vai dar dois passos para trás para depois dar um para frente.

07 outubro 2011

Capital de Giro

Estamos, eu e meu eterno orientador, Alexandre Assaf Neto, finalizando a quarta edição do livro Administração do Capital de Giro. Terminei ontem a revisão dos exercícios e as soluções. Na nova edição teremos:

=> ao final de cada capítulo, exercícios e estudos de casos

=> Sincronia do ciclo financeiro e necessidade de capital de giro

=> Risco na decisão de crédito (RAROC e Duration)

Para manter o número de páginas, abreviamos a abordagem de inflação e estoques. Espero que ainda este ano o livro esteja à venda.

23 agosto 2011

Economizando caixa

Em meio a reclamações de atrasos de pagamentos a funcionários e fornecedores, a Rede TV! está incomodando mais um parceiro comercial. A emissora não está pagando em dia a Espn pelos direitos de transmissão do campeonato inglês. Vale lembrar a filosofia de Amilcare Dallevo, exposta em entrevista para a Folha de S. Paulo na semana passada. Disse Amilcare sobre os atrasos de pagamentos na emissora: 


- Foi uma estratégia de caixa para comprar a parte do Marcelo (Marcelo Carvalho, sócio de Amilcare na Rede TV!).


Fonte: Aqui

05 fevereiro 2010

Cobrança

O empresário Marcio Goldfarb, dono da Lojas Marisa, rede nacional de roupa feminina, descobriu uma boa maneira de reduzir o prejuízo com a inadimplência de seus clientes, que chegou a 3,8% das vendas em 2007. Simplesmente dispensou a empresa terceirizada que executava o serviço de recuperação do crédito, passando a fazer o trabalho dentro de casa. Resultado: o calote caiu à metade, para os 1,9% registrados no final de 2009, irrigando o caixa da empresa. Já para incrementar as vendas neste ano, Goldfarb resolveu apostar na popularização entre a clientela dos cartões de crédito, que respondem por 56% de suas receitas - a Marisa trabalha com duas bandeiras, uma própria e outra do Itaú. A rede pretende emitir mais 2,5 milhões de cartões, elevando para 15,4 milhões o número de usuários.

Segundo ele, a operação é um negócio lucrativo. “Ela contribuiu com 20% do nosso Ebtida”, diz Goldfarb. Com 227 lojas espalhadas pelo País, a Marisa faturou R$ 1,5 bilhão no ano passado.


ECONOMIA & NEGÓCIOS - FATO RELEVANTE - O segredo da Marisa contra calote - Estado de São Paulo - 5/2/2010

02 setembro 2009

Capital de Giro

Grande empresa cobra cedo e paga tarde
Serena Ng e Cari Tuna, The Wall Street Journal
The Wall Street Journal Americas - 1/9/2009

As grandes empresas americanas estão apertando as menores, agora que a escassez de crédito faz com que todas intensifiquem os esforços para conservar caixa.

Em um exemplo de darwinismo empresarial em ação, a recente rodada de resultados trimestrais mostrou que as empresas com faturamento anual de mais de US$ 5 bilhões aceleraram a cobrança dos clientes, e ao mesmo tempo demoraram mais para pagar seus fornecedores. [1]

Por outro lado, as firmas com menos de US$ 500 milhões em vendas anuais em geral demoraram mais para receber pagamentos e pagaram suas dívidas mais depressa do que no mesmo período de um ano atrás, segundo uma análise realizada para o Wall Street Journal pela REL Consultancy, divisão de capital de giro da firma de consultoria Hackett Group.

Como os mercados de crédito continuam apertados e os bancos dificultam os empréstimos, as empresas estão sendo obrigadas a conseguir mais caixa das suas operações diárias, em um momento em que as receitas estão caindo e a economia americana continua fraca. As empresas estão descobrindo que podem depender menos dos financiamentos externos e linhas de crédito bancário se conseguirem cobrar os clientes mais rápido e conservar o dinheiro mais tempo. O dinheiro economizado pode ser usado para pagar dívidas ou investir em outras áreas do negócio.

As empresas maiores e em melhor situação muitas vezes fazem valer seus recursos financeiros, beneficiando-se às custas das menores e mais fracas.

"Está havendo uma luta pelo poder, agora que a crise do crédito atingiu o público geral", diz Sung Won Sohn, ex-economista-chefe do Wells Fargo e agora professor da Universidade Estadual da Califórnia em Channel Islands. "As grandes empresas conseguem forçar os fornecedores e clientes a aceitar as suas condições. E se você tem uma pequena empresa, ou uma pequena loja em um shopping, não tem poder de barganha e precisa aceitar aquilo que lhe oferecem, que hoje em dia não é muito."

Algumas das maiores empresas do mundo já endureceram suas condições de pagamento aos fornecedores. No primeiro semestre a Anheuser-Busch Cos., de propriedade da cervejaria belgo-brasileira InBev NV, informou aos fornecedores que levaria até 120 dias para pagar seus pedidos, sendo que antes levava 30. A General Electric Co. liberou US$ 3,8 bilhões em caixa no último trimestre por meio de medidas como redução do prazo de cobrança, cobrança de contas atrasadas e prolongamento do prazo dos seus próprios pagamentos, segundo uma porta-voz. A Procter & Gamble Co. informou recentemente que está "implacavelmente focada" em administrar o fluxo de caixa, o que implica, entre outras coisas, acelerar a cobrança.

As empresas com mais de US$ 5 bilhões em faturamento anual levaram em média 55,8 dias para pagar a seus fornecedores de produtos e serviços no segundo trimestre, um aumento de 5% ante 53,2 dias um ano antes, segundo a REL. Também cobraram seus clientes mais depressa, levando em média 41 dias, ante 41,9 dias um ano antes.

As firmas com menos de US$ 500 milhões em vendas pagaram os fornecedores em 40,1 dias em média, uma queda de 6,5% ante os 42,9 dias anteriores, segundo a REL. Elas demoraram cerca de 8% mais tempo para cobrar os clientes, em média 58,9 dias, ante 54,4 dias um ano antes.

Os dados mostram que mesmo antes da atual recessão as empresas menores já pagavam suas contas mais depressa e esperavam mais tempo para receber dos clientes, mas a recessão exacerbou essa divisão. "Isso demonstra até que ponto as pequenas empresas são vítimas da escala, pois têm um balanço mais fraco e menos capacidade de obter empréstimos", diz Mark Tennant, diretor-geral da REL para as Américas.

Na Hertz Corp., que aluga veículos e equipamentos, um esforço feito por toda a empresa durante dois anos resultou em mais rapidez nas cobranças e prazos mais dilatados para pagamento. A Hertz vinculou a remuneração de alguns funcionários a objetivos de gestão de caixa, e renegociou contratos com alguns fornecedores, segundo a diretora financeira Elyse Douglas.

Agora, se os contratos permitem pagar em 60 dias, a Hertz aproveita essas condições e paga só no fim do período. "Descobrimos que estávamos pagando mais rápido do que os termos de nossos contratos", disse Douglas. O resultado: a Hertz reduziu em 10% seu tempo médio de cobrança e prolongou em 3% seu prazo médio de pagamento.

A Point.360, pequena prestadora de serviços de pós-produção de vídeos, informou em maio que os clientes agora demoram, em média, 66 dias para pagar, frente a 54 dias um ano antes. O motivo: os grandes estúdios "de modo geral atrasaram os pagamentos, em resposta à desaceleração econômica geral", informou a Point.360 em um relatório financeiro. Um porta-voz da Point.360 não quis dar detalhes.

Entre os clientes da Point.360 estão a Walt Disney Co. e a Paramount Pictures. Uma porta-voz da Disney disse que a política da empresa "é pagar os fornecedores em tempo hábil". Uma porta-voz da Paramount não quis comentar.

Tesoureiros e diretores financeiros há muito procuram reduzir o caixa comprometido com as despesas do dia-a-dia, como folha de pagamento e aluguel. Mas a crise do crédito intensificou esse foco em muitas empresas, agora que as fontes externas de financiamento, como "commercial papers" e linhas de crédito bancário, estão menos disponíveis ou mais caras.

Se as empresas conseguirem administrar bem seus estoques, cobrar suas contas mais rápido e demorar mais para pagar aos fornecedores, podem depender menos dos empréstimos e liberar caixa para outros fins.

Mas na prática isso muitas vezes envolve negociações agressivas entre as empresas e seus clientes e fornecedores. Há também um delicado equilíbrio envolvido na questão. Se as empresas forçarem seus fornecedores a aceitar condições insustentáveis, arriscam-se a fazê-los quebrar, o que pode acabar prejudicando suas próprias atividades.

Algumas grandes empresas tentam tirar proveito concordando em pagar mais rápido se seus fornecedores acelerarem as entregas ou oferecerem descontos.

Na Hero Arts Inc., de Richmond, Califórnia, o diretor-presidente Aaron Leventhal se vê nos dois lados da mesa de negociações. A firma, que fornece tintas, carimbos e outros artigos tanto para lojas de materiais artísticos como para grandes varejistas, vem recusando pedidos dos clientes menores para estender de 30 para 60 dias o prazo de pagamento.

"Nós fixamos um limite, sabendo que, potencialmente, poderíamos estar arriscando nosso negócio", diz Leventhal.

Contudo, Leventhal diz que há pouca coisa a fazer quando um grande cliente decide atrasar o pagamento. As grandes empresas "têm poder sobre os pequenos fornecedores. Neste ponto nós já mais ou menos engolimos e aceitamos essa indignidade", diz, acrescentando: "Temos tido mais problemas para administrar nosso fluxo de caixa este ano do que em qualquer outro da história da empresa."


[1] Reduziram o ciclo financeiro. No modelo de Necessidade de Capital de Giro - vide o livro Análise do Capital de Giro - isto significa menos recursos no NIG.

04 agosto 2009

A questão do capital de giro na Avaliação

Em processos de avaliação, a estimativa do capital de giro é importante na determinação do fluxo de caixa. Como em geral parte-se da estimativa da receita, encontrando o valor projetado do resultado, é necessário fazer uma operação para levar em consideração o investimento em capital de giro.

Para o melhor entendimento de como o processo funciona, suponha, a título de exemplo, uma empresa que possui uma projeção de receita de R$100 mil para os próximos anos. Entretanto, no próximo exercício, a empresa não deverá receber todo este valor, pois uma parcela é venda a prazo. Considere que do valor vendido, R$10 mil não serão recebidos no exercício. Este valor irá aumentar o ativo, representando um "investimento" por parte da empresa nos seus clientes. Deste modo, após a apuração do lucro é necessário somar a variação no capital de giro, que representaria uma redução de R$10 mil no valor obtido. Isto corresponde efetivamente ao valor recebido pela empresa por parte dos seus clientes.

O mesmo raciocínio é válido para os casos de giro no lado direito do balanço patrimonial. Só que nestes casos o valor será somado pois representaria uma redução no desembolso da empresa.

Para os métodos de avaliação que não trabalham com o fluxo de caixa, o capital de giro torna-se um problema. Os múltiplos - de lucro ou de receita - trabalham com estimativas constantes de valores no futuro, sem variação no capital de giro. A suposição é que a política de capital de giro não irá afetar o preço da empresa. Isto nem sempre é verdadeiro e este é um dos motivos que os métodos de múltiplos geralmente devem ser usados como ferramenta auxiliar, em alguns casos de comprovação, e não como base para avaliação.

28 janeiro 2009

A falta que faz a venda a crédito

O trecho a seguir mostra como é importante para uma empresa a venda a crédito. Obviamente que a situação atual da Casa & Vídeo não é decorrente somente deste aspecto, mas a ausência de venda a prazo afasta clientes.

Restrita a cheque e dinheiro, venda da Casa & Vídeo cai

26/1/2009
Valor Econômico

Passados dois meses da prisão dos dois proprietários, acusados de crimes de sonegação fiscal, evasão de divisas, contrabando, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, a rede de varejo popular Casa & Vídeo tenta sobreviver. Com as contas bancárias bloqueadas, dívidas de pelo menos R$ 100 milhões em impostos e de R$ 40 milhões à Previdência Social, a rede só recebe em dinheiro vivo ou em cheque.

As vendas a prazo se limitam a um crediário próprio cujas parcelas precisam ser pagar em dinheiro nas lojas. Com a dificuldade de oferecer a venda parcelada, um de seus principais atrativos, as vendas caíram de 10% a 15% nos meses de novembro e dezembro, segundo o novo presidente da empresa, o consultor Fernando Luzio, que já havia auxiliado a elaborar o plano estratégico da rede em 2004.

(...) Luzio prepara um plano de reestruturação que prevê cortes de funcionários e a possibilidade de fechamento das lojas menos rentáveis. "É absolutamente natural que nesse momento esteja, sim, sendo estudada a possibilidade de se fechar. Não está definido ainda", disse Luzio. "Se fecharmos lojas, serão pouquíssimas."

Outra estratégia de sobrevivência será a adoção de uma oferta menor de produtos, privilegiando os com margens de lucro maiores. Com as contas bloqueadas pela Justiça, a empresa tem sofrido dificuldades para pagar os fornecedores. Alguns deles desistiram de fazer negócios com a rede, mas outros mantiveram os contratos e facilitam prazos e preços, segundo o consultor.

(...) As demissões ainda não estão definidas, mas devem acontecer diante da situação crítica. Em carta enviada ao Sindicato dos Comerciários do Rio, a empresa informa que pretender cortar 1.668 funcionários no Rio entre os 6 mil que possui em toda a rede. Neste mês, já foram demitidos 400 empregados, mas segundo a direção, foram apenas os contratados temporariamente para as vendas de Natal. (...)

09 janeiro 2009

Capital de Giro

Um texto, enviado por Alexandre Alcântara, discute o capital de giro. Fiz comentários em alguns trechos, entre colchetes.

A importante questão do capital de giro
por Ralf Seifert e Daniel Seifert
19/12/2008

Especialistas internacionais questionam pressão a fornecedores e sugerem, em vez disso, criação de portfólio de estratégias

Com o aprofundamento da crise financeira e o encolhimento do crédito bancário, o capital de giro tornou-se uma questão importante. Reportagens recentes indicam que fornecedores das empresas automobilísticas alemãs estão sendo pressionados ao limite da falência em um momento em que os bancos desistem ou encurtam o crédito.
O mesmo se passa nos EUA. Com a comunidade financeira rapidamente perdendo confiança em suas grandes empresas automobilísticas, os fornecedores de autopeças enfrentam dificuldades para assegurar fundos e sofrem nas mãos de mercados com pouco crédito e com declínio na demanda. Duas situações que não representam boas notícias para as montadoras, que correm o risco de parar a produção por que seus fornecedores podem não conseguir entregar as mercadorias a tempo.
[A questão da cadeia de valor na gestão do ciclo financeiro, a exemplo do texto anterior]

No setor metalúrgico, notícias dão conta que as empresas estão negociando contratos com seus fornecedores de matéria-prima já que a demanda na construção e na indústria automotiva está diminuindo o ritmo. Em alguns casos, clientes estariam pedindo aos fornecedores para atrasar ou até cancelar entregas, enquanto outros optam por comprar suas matérias-primas no mercado à vista, onde os preços caíram dramaticamente.
Trade-Credit – O lubrificante da economia global
O crédito está difícil de ser conseguido nos dias atuais. Nos EUA, empresas geram mais de 15% de seus financiamentos a partir de contas a pagar. Internacionalmente, esses níveis podem ser ainda maiores. E já que mais de 80% das transações são "vendor financed" (negociação de valores a receber), fornecedores e outras companhias estão corretamente preocupadas se vão ser pagas. Afinal de contas, essas empresas têm que suportar os custos até que seus clientes as paguem.
Esse intervalo financeiro é conhecido como trade-credit, o que, junto com o inventário, forma o principal componente do capital de giro. Esse último é um significativo condutor à lucratividade. Em uma companhia comum, diminuir o capital de giro em 30% leva a um aumento de 16% nos retornáveis, descontados os impostos, do capital investido.

[O texto está confuso aqui. O que seriam os “retornáveis”?]

Com isso, não é de se espantar que o Deutsche Post tenha anunciado um programa para diminuir o capital de giro em €700 milhões até o fim de 2009. Enquanto isso, a rede de varejo Tesco, há muito tempo, estabeleceu seu trade-credit abaixo de zero ao assegurar o pagamento de seus clientes antes de ter de pagar seus fornecedores.
Pressionar os fornecedores – uma estratégia sensível?

Mas é questionável se o melhor comportamento é o de pressionar seus fornecedores. Primeiramente, processos de pagamento e trade-credit variam em cada país, indústria e até mesmo companhias. Enquanto empresas geralmente aderem às normas da indústria, a questão do crédito pode variar de cliente para cliente. Na verdade, um dos gerentes que entrevistamos para esse artigo descobriu que sua empresa tinha mais de 1.000 diferentes condições de crédito ao redor do mundo.


[O autor faz questão de destacar que medidas não podem ser extrapoladas para todo tipo de empresa. Não é fácil ter uma fórmula mágica.]

Em muitas ocasiões, as empresas acumulam condições de pagamento no momento em que adicionam parceiros da cadeia de fornecedores e não os consolida regularmente. Pesquisadores financeiros investigaram essas diferenças e a principal razão para que as companhias ofereçam o trade-credit parece ser a pressão da competitividade, informação de crédito e descriminação de preço (no lado do fornecimento) e "transaction pooling", proteção de controle e avaliação de crédito, (no lado da demanda).
Segundo, o trade-credit impacta a relação da cadeia de fornecedores e gerenciar isso agressivamente pode prejudicar essas relações. Companhias que provocam uma situação de hostilidade com seus fornecedores ao atrasar o pagamento arriscam não apenas perder as inovações e diminuir sua capacidade, mas também conturbar a cadeia de suprimentos. Isso pode impactar a parte financeira. Empresas conhecidas por suas transações, que enfrentam problemas em sua cadeia de suprimentos, reportaram reações negativas nesses anúncios, com a capitalização no mercado caindo até 10%.
[Muito boa a posição do autor, ao destacar que medidas podem afetar relacionamentos de longo prazo.]

Três estratégias de "trade-credit"

Uma série de três perguntas pode ajudar:
1) Primeiro, os gerentes têm que pensar em qual tipo de relação eles querem construir. O fornecedor é um parceiro estratégico? O cliente é uma peça-chave? Esse parceiro estará trabalhando com você por mais de um ano? Se existe a possibilidade dessa interação se repetir, espere um tempo para entender os custos do seu parceiro e tente criar uma situação em que todos possam sair satisfeitos.
2) Se a relação é uma questão mais transacional, os gerentes devem determinar a posição competitiva de sua empresa. Os produtos ou serviços são inovadores e únicos? A empresa foi bem em negociações anteriores? Se a resposta é não, há uma pequena margem para ajustar os termos do crédito. A negociação deve ser baseada nos padrões da indústria.
3) Mesmo se a empresa está em uma posição favorável, ainda deve considerar sua base de custos. Qual a proporção de custos que varia com a produção? Se a maioria dos custos é fixa, as empresas devem confiar no trade-credit para atrair os clientes. Se a maioria dos custos for variável e a empresa correr o risco de sofrer perdas em vendas, ela deve minimizar seu capital de giro e se adaptar.
No curto-prazo, alguns passos imediatos devem ajudar a prevenir as empresas de se tornarem vitimas da crise financeira.
•Monitorar pagamentos atuais e as mudanças dos termos de créditos acordados
•Informar-se da situação financeira dos principais fornecedores e clientes
•Oferecer liquidez em determinados casos
Conversações e diálogos em tempos de crise irão não apenas prevenir transtornos, mas também gerar boa vontade e salientar o interesse nesse relacionamento – muito mais valioso a longo prazo do que apenas para economizar gastos.


[Para a maioria das empresas eu incluiria o “sentar no caixa” do texto anterior. Ou seja, o acompanhamento de perto do fluxo de caixa. Por incrível que pareça, isto não é prática comum de muitas empresas, onde o gestor não acha interessante a área financeira]

Capital de Giro

O texto a seguir mostra a dificuldade de se fazer administração de capital de giro num momento de crise. Entre colchetes, minhas observações.

Em tempos de crise, o caixa é rei
Executivos redobram a vigilância sobre o entra-e-sai de dinheiro das empresas para evitar surpresas
Patrícia Cançado

Durante anos, nove entre dez empresas americanas cresceram guiadas pelo princípio de caixa curto e alto endividamento. Com o fim da hiperinflação no Brasil, a equação passou a fazer a cabeça de muitos financistas e empresários por aqui. Essa tal "alavancagem" era uma atitude não só estimulada pelos bancos como aplaudida pelos acionistas.

[Discordo. Alguns bancos não estimulam a alavancagem. Não é tão simplista assim]

A quebra do Lehman Brothers inverteu a regra do jogo. Muitas acordaram nos dias seguintes - e não é apenas modo de dizer - sem dinheiro disponível para tocar suas operações com folga. "Com os bancos e a bolsa fechados, o caixa passa a ser o principal ativo das empresas em qualquer lugar do mundo", afirma o diretor da Boston Consulting Group, Fernando Machado. "No curtíssimo prazo, o caixa é rei. Quem tiver, vai passar melhor por essa situação."

[É questionável a afirmação que o caixa é o principal ativo. Existe aqui uma confusão entre a idéia de “estoque”, que está expresso no balanço, e a idéia de “fluxo”, que estaria nas demonstrações do Resultado e dos Fluxos de Caixa. O principal ativo é aquele que permite gerar – no sentido de fluxo – caixa]

Ninguém está a salvo, embora alguns tenham mais urgência em recompor ou preservar o capital que os outros. Desde que as perdas com derivativos de quase R$ 700 milhões vieram à tona, o presidente do Conselho de Administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, não encerra o expediente sem antes verificar o fluxo de caixa da companhia. Nos tempos de fartura, essa função era do gerente de tesouraria das empresas. O que Furlan tem feito é o que os especialistas em reestruturação de empresas chamam de "sentar no caixa". Ou seja, controlar o entra-e-sai de dinheiro tal como um dono de padaria, calculando cada centavo.

[Aqui neste parágrafo refere-se ao fluxo de caixa.]

Outros executivos - com mais ou menos pressa - estão no mesmo barco. "Se você não fizer isso, o dinheiro vai embora rápido porque o horizonte é incerto. É preciso estar preparado para mais 12 meses sem crédito fácil", diz José Carlos Aguilera, especialista em reestruturação de empresas e atual presidente da Brasil Ecodiesel. "A Vale tem R$ 14 bilhões em caixa e, mesmo assim, está reduzindo produção e demitindo funcionários para se adequar à nova realidade de consumo de minério. O ideal seria fazer conta para ver se vale a pena demitir. Mas, em crise de caixa, as soluções são imediatistas."

[Não é possível afirmar – ou deixar implícito – que 14 bilhões de caixa da Vale é elevado. A determinação do volume de dinheiro que deve ser retido no caixa é muito difícil e depende de cada empresa]

O remédio não é igual para todos. Em primeiro lugar, as empresas tentam renegociar contratos e dívidas, alongar prazo de pagamento a fornecedores e encurtar o de clientes, cortar custos (inclui demissões), liberar estoques, cancelar investimentos e liquidar ativos não operacionais, como aviões e imóveis. Nos últimos meses, tanto aqui quanto lá fora, não houve um dia sequer sem que uma empresa - as montadoras, em particular - anunciasse medidas nesse sentido.

[Observe que as medidas dizem respeito ao ciclo financeiro da entidade – fluxo da atividade operacional - e ao fluxo de investimento.]

Quando nada disso é suficiente, parte-se para doses mais radicais, como a venda de unidades que não fazem parte do negócio principal ou de participação minoritária.

[O problemas das medidas citadas é a crise. O dinheiro é curto e não aparecem compradores para as unidades colocadas à venda. Neste momento, a demanda de caixa para fins especulativos, na definição de Keynes, torna-se importante. Os 14 bilhões da Vale, por exemplo, podem ser usados para adquirir boas oportunidades que estão sendo colocadas a venda por outras empresas. Mas quantas empresas podem fazer isto hoje?]

Foi o que fez, por exemplo, a InPar ainda no começo do semestre. Ela colocou à venda imóveis não residenciais com o objetivo de levantar R$ 400 milhões. Não foi o bastante para estancar a sangria. Estrangulada pelo furo bilionário, a Sadia estaria disposta a abrir mão de até 20% das ações para recompor seu caixa. Até aqui, 18 fundos se interessaram pelo negócio, segundo o próprio Furlan.

A Brasil Ecodiesel, maior produtora de biodiesel do País, é outro caso dramático. A situação já era difícil antes da crise e só piorou depois dela. Quando Aguilera foi convidado para assumir o comando do negócio, em maio deste ano, a dívida era de R$ 290 milhões. Em agosto, ele conseguiu esticar o prazo de 85% desse valor. "Tirei parte do problema da frente. Mas não resolvi o capital de giro. Os bancos estão nos financiando, mas o custo é alto e o dinheiro não é garantido", explica Aguilera.

[Ficou confuso o texto. Afirma, em primeiro lugar, que a empresa aumentou o prazo da dívida. Mas teve que assumir financiamentos de capital de giro, tipicamente de curto prazo. Afinal, a empresa aumentou ou não o prazo da dívida]

A Ecodiesel tem poucas saídas. Alongar o prazo de pagamento dos fornecedores, como têm feito as usinas de açúcar e álcool, é impossível. Ela só pode pagar à vista. Por outro lado, encurtar o prazo para clientes também não resolve, porque o jogo de forças é desequilibrado. O cliente da Ecodiesel é ninguém menos que a Petrobrás. "No meu caso, sobram duas alternativas: adequar as vendas ao tamanho do caixa atual ou aumentar o capital, com novos e antigos acionistas", revela Aguilera. A meta é a segunda opção. "Em setembro, não conseguia falar com ninguém. Em dezembro, vários investidores se interessaram por analisar."

[Este é o problema das medidas elencadas quando a empresa é o elo mais fraco da cadeia de valor, como é o caso da Ecodiesel. Quem determina o sucesso de medidas de alongamento do ciclo financeiro é a empresa mais forte, no caso a Petrobrás.]

Hoje, o poder está do lado do comprador. Ele tem agora a oportunidade de pagar barato por um negócio que pode se valorizar mais adiante. As ações das companhias brasileiras de capital aberto estão depreciadas, o que abre o apetite de fundos de participações, os chamados private equity. Quem tem cacife para comprar está de olho, aguardando o fundo do poço. "É um jogo de forças. Quem piscar primeiro, leva. A sensação é que esse tempo de espera passou", diz Aguilera.

01 dezembro 2008

Problemas de caixa na Petrobrás

Empréstimo da Caixa à Petrobras preocupa, diz especialista
Bianca Pinto Lima (com Gerusa Marques, da Agência Estado)

O socorro de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal para a Petrobras soa como um sinal de alerta para o mercado, afirma o presidente do Centro Brasileiro de infra-estrutura (CBIE), Adriano Pires. Para ele, a principal questão é em relação ao valor, considerado pequeno se comparado aos números da estatal. Segundo o governo, somente neste ano, os investimentos da Petrobras devem ficar em torno de US$ 60 bilhões. "O que a gente percebe é que esse dinheiro deve ter sido tomado para capital de giro. Nesse sentido é que preocupa, pois chama a atenção de que a Petrobras deve estar com algum problema de caixa."

(...) "Acho que essa explicação que está sendo dada [pelo governo] de que a situação está complicada e que a Petrobras precisa manter os investimentos não explica muito", alerta Pires. Segundo ele, o custo operacional da empresa, que não aparecia quando o preço do barril estava mais de US$ 100, está ficando evidente agora. "Acho que vale a pena uma explicação. Pegar dinheiro em banco emprestado para investir faz parte do negócio, agora R$ 2 bilhões não é para investimento." (...)

28 novembro 2008

Bancas

Ontem participei de cinco bancas de meus orientandos.

Rafael Koifman, do mestrado, pesquisou as notas explicativas e os relatórios de administração. Como estas peças são textos, a pesquisa de Rafael foi no sentido de verificar se a maneira como o texto é produzido pela empresa possui relação com o desempenho da mesma.

Higor, da graduação, fez uma análise nos clubes de futebol do Brasil, tentando verificar se a qualidade da evidenciação está relacionada com o desempenho do clube (ranking da CBF) e o tamanho da receita. Não para o primeiro e sim para o segundo.

Amanda, também aluna da graduação, relacionou o índice retorno sobre o estoque (RSIE ou GMROI) com a elasticidade-inelasticidade do produto. Este é um trabalho teórico interessante que poderá alguns desdobramentos futuros interessantes.

Vanessa replicou uma pesquisa que realizei no início desta década sobre a relevância da correção monetária das demonstrações contábeis. Ela empregou duas técnicas adicionais, mas constatou que a relação entre os números com e sem correção monetária é elevada, indicando dificuldade em aceitar que a correção é útil nos dias atuais.

E finalmente Eber tentou verificar se a análise de balanços é útil, mensurando se os indices de capital de giro podem ser usados para antecipar agregação ou não de valor.

21 novembro 2008

Caixa: eis a questão


A revista The Economist discute a questão da necessidade que as empresas possuem de “ter caixa”. Em All you need is cash (The Economist, 20/11/2008) o texto faz um retrospecto da história recente das empresas, onde ter caixa era sinal de ineficiência. Hoje o foco é a “queima de caixa”, ou seja, o quanto as empresas estão consumido do seu caixa e a duração que este caixa terá nos próximos meses (o índice “queima de caixa” e sua explicação pode ser encontrado no livro de Administração do Capital de Giro, de Assaf Neto e Tibúrcio Silva, pela Atlas).

Em termos macro-econômicos, como as empresas estão cortando o gasto discricionário, o resultado será o que Keynes denominava de “paradox of thrift”: cada empresa corta seu gasto e isto influencia no processo de recessão da economia. O ótimo individual não corresponde ao ótimo coletivo.

Além disto, o momento é ótimo para as empresas predadoras, que possuem recursos, como é o caso da Microsoft, que atualmente tem 21 bilhões, e as empresas farmacêuticas (Eli Lilly, Roche, Merck e Bristol-Myers Squibb), que podem adquirir as empresas de biotecnologia.

É interessante notar que um texto da CFO (GM Controller to Peers: Watch Your Assets, David McCann, CFO.com, 20/11/2008) mostra a situação da empresa General Motors. E comenta que a empresa está sendo gerenciada, nos dias atuais, pelo caixa. O raciocínio é: tenho pagamentos a fazer e devo tomar medidas para converter meus ativos em caixa.

Foto: Life

19 novembro 2008

Estoques de Mercadorias e Crise

A crise trouxe algumas mudanças na gestão de estoque de algumas empresas. Como a cadeia de suprimento tornou-se mais global nos últimos anos, a crise terminou por atingir tanto pequenos quanto grande fornecedores. O Brasil como um país dependente das commodities para ter o seu equilíbrio financeiro, pode sentir os efeitos dos acontecimentos.

No jornal Financial Times de 17/11/2008 (Sum of the parts, Richard Milne, Asia Ed1, 12) este aspecto da crise mereceu uma análise detalhada e interessante. Uma frase de Aaron Davis, da Schneider Eletric, é interessante: “é fantástico como a conversação mudou nos últimos meses”.

As linhas de crédito nos bancos estão mais caras e a crise em grandes empresas pode impor corte no preço dos fornecedores e aumento de prazo para recebimento. Mas para evitar que a crise atinja a cadeia de suprimentos, algumas empresas estão pensando em criar linhas de crédito especiais para reduzir o risco dos fornecedores. Um exemplo ocorreu em 2002 com a Land Rover, quando o fornecedor de chassi faliu e a empresa parou a produção, a um custo de 12 milhões de libras.

Neste momento, as fraquezas do Just-in-time aparecem pois o problema com um elo da cadeia pode levar ao caos em todo sistema, afirma Milne. E os fabricantes ocidentais começam a analisar a substituição de empresas asiáticas distantes por produtores da Europa oriental e México. O efeito é o fechamento de mais de 67 mil indústrias na China no primeiro semestre do ano.

O texto afirma que a crise também pode induzir a redução nos níveis de estoque por dois motivos. Primeiro, é a expectativa de redução de preço dos insumos. Além disto, na crise, ter dinheiro em caixa é um sinal de saúde financeira; então, as empresas estão tentando aumentar caixa, sacrificando os estoques.

28 setembro 2008

Caixa negativo: exemplo

A Varig, que permanece em recuperação judicial sob o nome de Flex, inicia o mês que vem com um caixa negativo de R$ 2,7 milhões, o que na teoria poderia significar sua falência. O resultado permanecerá no vermelho até julho de 2009, quando o caixa da empresa deverá estar com saldo negativo de R$ 28,6 milhões.

As projeções constam do último relatório sobre a recuperação judicial entregue no final de agosto, com dados de julho. A Flex não se pronuncia sobre o assunto.

De acordo com fontes do setor, porém, a Flex deverá ganhar uma sobrevida até dezembro, pois deve receber receitas extras de renegociações de apólices de seguros e de serviços prestados a outras empresas, por exemplo.

No relatório, a Flex informa que ainda tenta negociar uma dívida de R$ 814,5 milhões referentes a créditos de Imposto sobre Cirulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não repassados por diversos Estados brasileiros, além de cerca de R$ 48 milhões da VarigLog.


Varig tem caixa negativo de R$ 2,7 milhões - O Estado de São Paulo - 27/9/2008

Em pequenas e médias empresas o caixa pode eventualmente ser negativo. Mas numa empresa de maior porte isto é raro.

06 agosto 2008

Caixa na Apple

Um texto do Valor Econômico mostra a questão da razão de se manter dinheiro em caixa (vide Administração do Capital de Giro, Atlas, São Paulo) e também permite estudar a receita antecipada, um conceito da disciplina de contabilidade introdutória.

Os acionistas da Apple não têm muito do que se queixar, já que o preço da ação da companhia acumula uma valorização de 1.474% desde 2003. Mas se existe alguma reclamação, ela se refere à recusa da companhia em fazer qualquer coisa com os US$ 20,8 bilhões em dinheiro e investimentos de curto prazo que tem guardado. O dinheiro fica lá, rendendo pouco mais que uma conta poupança. "Nossa preferência é por manter um balanço patrimonial forte para preservar nossa flexibilidade", disse este ano a investidores o diretor financeiro da companhia, Peter Oppenheimer.

E a Apple vai ficar ainda mais flexível. Embora a empresa esteja acrescentando à conta cerca de US$ 1 bilhão em dinheiro todos os trimestres, analistas prevêem que o tesouro da companhia poderá crescer para quase US$ 30 bilhões no próximo anos, por causa das vendas vigorosas de computadores, iPods e iPhones. A empresa poderá muito bem superar a Microsoft, que tem US$ 23,7 bilhões em caixa.

"A Apple poderá ter US$ 40 bilhões no banco em dois anos", afirma o analista Gene Munster, do banco de investimento Piper Jaffray.

Esse grande acúmulo pode não ser óbvio para os investidores. Um dos motivos é a maneira como a Apple contabiliza das vendas do iPhone. A empresa lança na contabilidade a receita de cada iPhone sobre 24 meses porque os telefones são vendidos como parte de uma assinatura da AT&T e de outras companhias de telecomunicações. Mas a Apple recebe todo o dinheiro assim que um iPhone é comprado, de modo que ele entra no balanço bem antes das receitas aparecerem. Um segundo motivo é que a Apple parece estar conseguindo mais por iPhone vendido que os analistas esperavam. A AT&T e outras operadoras cobram dos clientes US$ 200 pelo modelo de entrada, mas alguns analistas estimam que as companhias de telecomunicações pagam entre US$ 500 e US$ 600 à Apple por telefone, pelo direito de cobrar taxas de serviços lucrativas dos usuários. (...)

Dinheiro no colchão cria oportunidades para a Apple
Valor Econômico - 06/08/2008 (Grifo meu)

04 agosto 2008

GM 3

Zac Bissonnnette (How does General Motors CEO Richard Wagoner still have a job?) pergunta qual a razão de Wagoner, atual presidente e CEO da General Motors, ainda continuar no cargo.

Apresenta alguns dados interessantes, mas destaco o preço da ação, que caiu de $60 para 11,07. Além disto, conforme a Merril Lynch, a falência da GM não é impossível.

Wagoner recebeu, em 2007, 14 milhões de dólares, ou 41% a mais que em 2006.

Na conferência para os analistas, Wagoner não compareceu. Nesta conferência, Frederick A. Henderson mostra que “claramente a operação da América Latina está gerando caixa” e que este caixa está sendo repatriado para os Estados Unidos. A questão do caixa, por sinal, foi muito debatida nesta conferência, mostrando a preocupação com a incapacidade da empresa em gerar caixa.

Heidi Moore (Is General Motors Fixable?) apresenta pontos positivos e negativos sobre o futuro da GM

02 julho 2008

Ford está queimando o Caixa?

Um dos índices mais interessantes de fluxo de caixa é a “taxa de queima” (aqui).
Segundo o Wall Street Journal (Ford Reels as Truck Sales Plunge --- Soaring Gas Prices Force New Production Cuts; Big Three Facing a Cash Drain, Matthew Dolan, John D. Stoll & Kate Linebaugh, 21/06/2008, A1) questiona se a Ford não estaria queimando seu caixa.

Em 31 de março as reservas de caixa da empresa eram de 33,8 bilhões (GM tinha 23,9 bilhões) e estava gastando muito nos novos modelos. Os executivos dizem que possuem caixa para muitos anos, apesar dos problemas atuais.