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29 janeiro 2014

Crédito a Cuba

Patrícia Campos Mello
Folha de S.Paulo, 26/02/2014

O governo brasileiro está oferecendo cerca de US$ 500 milhões de crédito por ano (aproximadamente R$ 1,2 bilhão) para Cuba comprar produtos e serviços brasileiros. Segundo levantamento feito pela Folha, o governo brasileiro desembolsou US$ 152,7 milhões pelo BNDES até setembro de 2013 (foram US$ 220,58 milhões em todo o ano de 2012), mais US$ 221,2 milhões pelo Banco do Brasil.

Disponibilizou ainda uma linha anual de US$ 70 milhões do programa Mais Alimentos Internacional, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, para a compra de implementos agrícolas brasileiros. O foco brasileiro em Cuba se traduz nos números –no ano passado, o país de 11 milhões de habitantes, mesma população do Rio Grande do Sul, foi o terceiro maior destino de financiamentos do BNDES para exportação de bens e serviços brasileiros. Recebeu mais recursos do que o Peru, país com PIB de US$ 196 bilhões, quase três vezes maior que o cubano. O BB não forneceu dados para essa comparação.

21 janeiro 2014

A abertura em Cuba


Na palavra dos gerontocratas de Cuba, acredita quem quer. A expectativa dos incautos de que a "abertura econômica" promovida por Raúl Castro pudesse sinalizar uma mudança mais ampla na ilha - digamos, ao estilo chinês - não resiste aos fatos. O último golpe de propaganda do regime foi o anúncio do fim das restrições à venda de carros. Como Cuba, além das praias, dos charutos e da ditadura, é conhecida por seus imensos carros americanos dos anos 50 - os últimos que puderam entrar no país antes da revolução de 1959 -, a medida soou como um avanço e tanto. Na prática, tudo não passou de mais um escárnio da ditadura cubana.

Quem foi a alguma das lojas de carros autorizadas pelo Estado, na esperança de, enfim, conseguir trocar seu decrépito Buick por um automóvel mais moderno, deparou-se com preços sem paralelo em nenhum lugar do mundo. Um Peugeot 508, modelo 2013, custava nada menos que US$ 262 mil - seu equivalente em lojas capitalistas não passa de US$ 30 mil. A média salarial em Cuba é de US$ 20. Logo, a venda de carros pode até estar autorizada, mas não haverá ninguém em Cuba rico ou louco o bastante para comprá-los. "O que eles pensam que estão vendendo? Aviões?", disse à revista The Economist um dos frustrados clientes. "Eles não querem vender nenhum carro. É tudo um show", reclamou outro.

A The Economist especula que, na verdade, a autorização para a venda de carros é apenas uma forma de acabar com o mercado paralelo de licenças para compra de automóveis novos. Essas licenças eram concedidas pelo governo como prêmio a esportistas, artistas e destacados militantes do Partido Comunista Cubano (PCC). Em vez de comprar o carro, porém, o laureado passava adiante a preciosa autorização, faturando cerca de US$ 12 mil, segundo a última cotação. Como agora, em tese, todos podem comprar um carro, a licença não vale mais nada.

Seja como for, está claro que a economia de Cuba não passa por nenhum processo de liberalização, nem mesmo simbólica. E o discurso de Raúl Castro no 55.º aniversário da revolução, em 1.º de janeiro passado, deixou claro que a intenção é, ao contrário, reforçar os controles estatais.

Ele não fez menção senão marginal aos ajustes do modelo econômico anunciados no 6.º Congresso do PCC, em 2011, e rechaçou "tentativas de introduzir sutilmente plataformas de pensamento neoliberal e de restauração do capitalismo neocolonial" em Cuba. Em lugar disso, cobrou a adesão incondicional aos compromissos ideológicos assumidos no 6.º Congresso, a respeito dos quais, disse ele, "não se avançou o necessário". Deve-se esperar, portanto, uma radicalização ainda mais acentuada do comunismo na ilha, a despeito do fato, notório, de que foi essa radicalização que condenou Cuba à paralisia econômica depois que a fonte soviética secou.

Mas o instinto de sobrevivência dos Castros manda que Cuba alivie um pouco a carga do depauperado Estado - e essa é a razão pela qual Raúl permitiu que os cubanos abrissem pequenos negócios e pudessem vender seus imóveis, pois dessa maneira deixarão de ser funcionários públicos, que são mais de 90% da força de trabalho no país.

Também é o que explica a aposta na chamada Zona Especial de Desenvolvimento, na qual, tal como em seu similar chinês, são permitidas experiências de perfil capitalista. Nas palavras do Granma, "nessa zona serão colocadas em prática políticas especiais, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento econômico sustentável, estimulando o investimento estrangeiro e nacional, a inovação tecnológica e a concentração industrial". Essa zona engloba o Porto de Mariel - cuja construção, feita pela Odebrecht, contou com mais de US$ 600 milhões de crédito do BNDES. Como se nota, trata-se de uma boa oportunidade de negócios, tanto para investidores externos - o Brasil, em particular - quanto para a nomenklatura comunista cubana.

Já os cubanos comuns, sem condições de investir em nada que não seja a sua sobrevivência cotidiana, terão de continuar a se contentar com seus carros velhos e com os favores do Estado.

Fonte: aqui

14 julho 2012

Carmen Reinhart


Um pouco da história de Carmen Reinhart:

Born in Havana as Carmen Castellanos, she is quick-witted and favors bright, boldly printed blouses and blazers. As a girl, she memorized the lore of pirates and their trade routes, which she says was her first exposure to the idea that economic fortunes — and state revenue in particular — “can suddenly disappear without warning.”

She also lived with more personal financial and social instability. After her family fled Havana for the United States with just three suitcases when she was 10, her father traded a comfortable living as an accountant for long, less lucrative hours as a carpenter. Her mother, who had never worked outside the home before, became a seamstress.

“Most kids don’t grow up with that kind of real economic shock,” she says. “But I learned the value of scarcity, and even the sort of tensions between East and West. And at a very early age that had an imprint on me.”

With a passion for art and literature — even today, her academic papers pun on the writings of Gabriel García Márquez — she enrolled in a two-year college in Miami, intending to study fashion merchandising. Then, on a whim, she took an economics course and got hooked.

When she went to Florida International University to study economics, she met Peter Montiel, an M.I.T. graduate who was teaching there. Recognizing her talent, he helped her apply to a top-tier graduate program in economics, at Columbia University.

05 julho 2012

Cuba


Primavera em Cuba
Luiz Eduardo Vasconcelos e Odemiro Fonseca
O Globo, 25/05/2012
Luiz Eduardo Vasconcelos é engenheiro e Odemiro Fonseca é empresário.


Visitar Havana é ver que o tempo pode parar. A arquitetura de casas e prédios parou no modernismo dos anos cinquenta. Os carros pararam nos rabos de peixe. Os bares pararam nos mojitos e daiquiris. Nas pessoas, há languidez na forma de agir. E os costumes à mesa, nas roupas, na linguagem, no conhecimento e na forma de argumentar mostram que o longo isolamento criou um fosso comportamental entre a ilha e o mundo.

Essa ilha linda, habitada por um povo alegre e musical, nunca foi independente em economia. Primeiro os colonizadores espanhóis, com seus portos fechados e legitimando a escravidão, que somente acabou em 1886. As lutas anticoloniais devastaram os barões de açúcar e tabaco e entraram os americanos comprando tudo. Já se manifestava então o espírito antiamericano na aristocracia rural e entre os intelectuais.

Depois da revolução de 1959, vieram os russos, construindo usinas a óleo diesel e grandes obras. E autoestradas, até hoje vazias. Infraestrutura ajuda se for usada. Como no comunismo não existe custo de capital, é em tais países onde se veem os melhores exemplos de desperdício de capital. Agora Cuba vive de ajuda chinesa, do petróleo de Chaves e dos turistas — que este ano vão ser três milhões. Os canadenses patrocinaram o horrendo aeroporto internacional de Havana e o mundo patrocinou a restauração da bela Havana Velha, patrimônio da Humanidade.
Não se vê atividade agrícola, industrial, transporte nas estradas. A principal fonte cambial são os turistas, pelo uso do peso conversível, comprável em moeda estrangeira, cuja cotação fixada pelo governo força todos a usar tal moeda para pagar por tudo. Os preços ficam perto dos internacionais (o governo já aprendeu), mas quase tudo é da pior qualidade. O charme de Cuba atrai estranhas tribos de turistas, todas muito complacentes.

Os cubanos recebem salários em pesos nacionais, que consomem em produtos muito racionados, em mercados pessimamente mantidos e supridos, que abrem poucas horas por dia. Como acontecia na Rússia, há roubo nas fábricas, que alimentam mercados informais. Educação superior é dada como alta, mas observa-se que muitos universitários não trabalham ou trabalham fora das profissões. E a qualidade da medicina é impossível de ser verificada por um estrangeiro. Sem liberdade, as pessoas não têm como usar educação.

A revolução cubana foi salva por um bônus populacional. Eram 7,1 milhões em 1960. Hoje são 11,1 milhões, com população declinante. A população em 1960 já crescia pouco e havia boa infraestrutura. Se a população cubana tivesse crescido como a mexicana ou a brasileira, Cuba seria hoje uma favela de 22 milhões de pessoas. Se a população cubana tivesse crescido como a do Equador ou da Venezuela, Cuba seria hoje uma favela de 30 milhões de pessoas. Mas mesmo com o bônus populacional, o resultado não é animador. As séries de Angus Maddison mostram que a renda per capita de Cuba em 1950 era a quinta entre os 22 maiores latino-americanos, depois de Venezuela, Argentina, Uruguai e Chile. Em 2001, Cuba estava entre os quatro piores, adiante de Honduras, Nicarágua e Haiti.

O importante porto de Havana definhou a partir de 1960. Mas agora Cuba tem um novo patrocinador — o Brasil. O BNDES financia (85% do investimento mais linhas de crédito para Cuba importar alimentos e máquinas agrícolas) e a Odebrecht constrói o porto de Mariel, para ser uma zona franca. Fomos detidos, longe do canteiro, por um guarda armado, por tirarmos fotos. Retiveram nossos documentos, e quando a novela terminou o nosso motorista, antes exaltando “o maior porto da América Latina”, estava muito silente e preocupado.

Vários destes episódios de controle social (paradas em postos policiais, ameaças aos guias dos turistas — “cuidado com o que falas”, lorotas incríveis), potencializados pela ridícula TV e imprensa estatal, ausência de livros e internet, impossibilidade de viajar e os ainda existentes CDRs (Comitês de Defesa da Revolução — que são por quarteirão e participação compulsória), mostram que a primavera cubana está longe de acontecer. Depois de 53 anos de ditadura, o povo cubano tem medo dele mesmo. A liderança cubana parece inerte e misteriosa. Ninguém sabe como e onde vivem e o que fazem. Mas fala-se à boca pequena sobre Chaves. Hospeda-se na antiga residência do embaixador brasileiro. Este palácio residencial foi expropriado quando as relações diplomáticas foram cortadas, e, depois de restabelecidas, o Brasil nunca solicitou a devolução.

27 setembro 2010

Contabilidade em Cuba

Para Sanguinetty [presidente da Associação para Estudos da Economia Cubana, um grupo de pesquisa], que foi funcionário do alto escalão do governo cubano para assuntos econômicos até junho de 1966, quando renunciou ao posto, Cuba pode estar iniciando um longo e meticuloso processo de restabelecimento das relações econômicas mais básicas. Ele ainda observou que a ilha acabou com as escolas de contabilidade, na primeira década após a revolução, porque, para as autoridades, dinheiro seria desnecessário e muitos cubanos não tinham nenhuma experiência com cartões de crédito, bancos ou cheques.


Cubanos desconfiam de novo rumo da ilha - Damien Cave /The New York Times - 27 Set 2010 - O Estado de São Paulo

11 maio 2007

Contabilidade e Auditoria em Cuba

Cuba também utiliza auditoria e contabilidade para combater a corrupção. Segundo notícia da Agencia EFE (11/05/2007 - Cuba empieza a destapar la caja de los truenos de la corrupción, por José Luis Paniagua)

(...) Los problemas de auditoría y contabilidad han sido denunciados reiteradamente en la isla, pero el diario "Granma", órgano oficial del Partido Comunista de Cuba, hizo el miércoles una escueta referencia a los problemas bancarios por primera vez.

La directora de Verificaciones de la Fiscalía General de la República, Sabó Herrera, reveló al diario la existencia de "grietas en el sistema bancario que facilitan operar cuentas sin el debido control".

El vicepresidente del Banco Central de Cuba, Jorge Barrera, indicó a Efe que "casos de fraude existen en todos los sistemas financieros, incluso en los países más avanzados" y que "aunque se tenga un control bueno de una situación, fraude siempre hay".

"En nuestra opinión está bien controlado" en Cuba, señaló Barrera, que consideró que los casos de fraude que se puedan dar en en la isla son limitados.

El Ministerio de Auditoría y Control reconoció a mediados de abril las deficiencias de los actuales controles de contabilidad, fundamentalmente de carácter financiero, la necesidad cambiar la "mentalidad" de los auditores y la puesta en marcha de mecanismos para hacer más efectivo el control.

"Esa pregunta nos la estamos haciendo. ¿Cómo hacer más útiles las auditorías para nuestra realidad?, ¿cómo evitar que a una empresa le pasen en el año a veces dos o tres auditorías y aparentemente está bien y después estalla la bomba?", dijo la entonces ministra de Auditoría, Lina Pedraza, destituida del cargo un mes después.

(...) Un experto señaló que "no se puede inferir el tamaño del problema" por la información de "Granma", aunque "confirma la sospecha que tenemos de que hay un problema en el sistema financiero". (...)

15 fevereiro 2007

Contabilidade em Cuba

Do El Cronista Comercial

La economía cubana padece desorganización crónica y baja productividad; precios estatales altos y salarios estatales bajos; contabilidad mala; disciplina laxa y corrupción.


(Cuba se acerca al modelo económico chino, tradução do texto de Marc Frank, originalmente publicado no Financial Times, 15/02/2007)

16 novembro 2006

Cuba quer aprender contabilidade


A mudança provável no comando de Cuba, de Fidel para Raúl Castro, deve trazer também alterações sob a forma como os negócios são feitos na ilha. Reportagem de hoje do Wall Street Journal informa que Raúl tenderia a adotar o modelo chinês, sendo que os militares teriam um papel importante no controle da economia. O texto afirma que nos anos 90 Raúl enviou militares para diversos países para aprender contabilidade. As fábricas controladas pelos militares estão utilizando a contabilidade e os incentivos à gerência.

Abaixo, a reportagem completa:

Sob comando de Raúl Castro, militares cubanos erguem império empresarial
November 16, 2006 4:05 a.m.

Por José de Córdoba
The Wall Street Journal

No auge da Guerra Fria, os soldados de Cuba viraram uma lenda na ilha quando avançaram sobre linhas inimigas, derrotando o exército sul-africano em Angola. Agora, os generais cubanos estão aplicando táticas capitalistas para tentar melhorar o lucro em negócios que vão de plantar feijão a administrar hotéis e companhias aéreas.

As Forças Armadas Revolucionárias de Cuba alugam quartos para turistas por meio da Gaviota SA, o conglomerado hoteleiro de crescimento mais rápido na ilha. Eles vendem charutos Havana, mascateiam produtos diversos por meio de uma rede varejista em toda a ilha e servem jantares com lagosta no restaurante Divina Pastora, no Castelo do Morro, um dos principais pontos turísticos de Havana. Os militares também têm uma mão forte na alocação de minas de níquel e no arrendamento de lotes marítimos para exploração petrolíferas. O Instituto de Estudos Cubanos e Cubano-Americanos da Universidade de Miami estima que os militares controlem mais de 60% da economia da ilha.

O papel econômico dos militares deve provavelmente ficar ainda mais crítico depois da morte do adoecido líder de Cuba, Fidel Castro, que tem 80 anos e muitos acreditam estar morrendo de câncer. Embora Castro tenha se oposto decididamente a reformas econômicas durante os 47 anos de seu regime comunista, seu irmão mais novo e sucessor designado, Raúl, mostrou um profundo interesse em experiências de livre mercado no passado. Como ministro da Defesa desde a revolução de 1959, ele freqüentemente viu os militares como seu laboratório.

Com Raúl e os militares no comando da economia, o país pode estar prestes a seguir o que os cubanos chamam de "modelo chinês" de liberalização. Isso significa fazer experiências com incentivos de mercado numa das poucas economias comunistas que ainda restam no mundo, e ao mesmo tempo tentar manter um rígido controle político. Está longe de ser uma certeza que um possível governo Raúl Castro possa realizar uma transformação ao estilo chinês. A China, por exemplo, não está localizada a somente 150 quilômetros dos Estados Unidos e de uma abastada comunidade de exilados que querem remoldar sua terra natal seguindo uma linha americana. E é possível que os militares possam agir para aumentar o monopólio — e as oportunidades de corrupção — depois da morte de Fidel, sufocando toda concorrência.

Mas as sementes da reforma econômica em Cuba podem ser mais fortes do que muitos suspeitam. Uma prova: Raúl viajou para a China várias vezes para estudar as políticas econômicas de Pequim e em 2003 convidou o principal assessor econômico do então primeiro-ministro chinês Zhu Rongji, que teve um papel importante na abertura da China ao comércio e investimentos externos, para dar uma série de palestras em Cuba. Fidel Castro, que se opõe radicalmente a reformas, foi uma ausência notável, diz Domingo Amuchástegui, um ex-oficial de inteligência cubano que atualmente mora nos EUA e acompanha de perto os acontecimentos políticos na ilha.

Nos anos 90, Raúl enviou oficiais, que tinham sido treinados em prestigiosas escolas militares soviéticas, para aprender administração hoteleira na Espanha e contabilidade na Europa, América Latina, Ásia e Canadá. Durante um tempo, livros de administração de empresas como Vencendo a crise: como o bom senso empresarial pode superá-la, de Tom Peters e Robert H. Waterman, viraram leitura obrigatória para oficiais que quisessem avançar na hierarquia, diz Eugenio Yañez, um economista que deu aulas de administração a oficiais do exército no Instituto Superior de Direção da Economia, de Havana.
[cuba]

Raúl, atualmente com 75 anos, também adotou uma contabilidade e incentivos à gerência de estilo capitalista para gerir fábricas controladas pelos militares que fazem desde uniformes até munição. Em alguns casos, os trabalhadores receberam um incentivo financeiro. Essas reformas, chamadas em espanhol de "perfeccionamiento empresarial", embora modestas pelos padrões de países desenvolvidos, foram reformas de ponta para Cuba.

Na maior parte de sua carreira, Raúl Castro foi considerado um comunista durão, até brutal, cuja mão, como ele mesmo diz, "não tremeu" em 1989 quando ordenou a execução de um ex-colega próximo que passou a ser tido como perigoso para o regime. Alguns analistas não acham que ele tenha mudado muito desde então. "Ele é um stalinista", diz Jaime Suchlicki, um analista de Cuba da Universidade de Miami, que prevê que Raúl vá recorrer a mais repressão depois que Fidel morrer.

Nas últimas semanas, cresceu a especulação sobre os problemas de saúde de Fidel.

Com o irmão incapacitado, Raúl adotou uma retumbante linha comunista. "Quando os EUA dizem que deve haver transição em Cuba, eles querem dizer uma volta vergonhosa ao lixo neocolonial do capitalismo que eles impuseram a este país durante 60 anos", disse ele a uma platéia de líderes sindicais estatais em setembro.

Mas muitos observadores de Cuba acreditam que declarações assim tenham por objetivo dar cobertura política a Raúl, que ficou mais pragmático com a idade e tem buscado maneiras de melhorar o fraco desempenho econômico de Cuba, especialmente depois que a União Soviética acabou com os subsídios à ilha em 1990. Entre 1989 e 1993, o produto interno bruto de Cuba caiu 35%, enquanto o comércio externo do país despencou 75%, diz Carmelo Mesa-Lago, um economista da Universidade de Pittsburgh.

Com o padrão de vida afundando, moradores de Havana começaram a comer os gatos da cidade. Uma epidemia de neuropatia óptica, causada por deficiências na nutrição e que provoca cegueira temporária, derrubou cerca de 35.000 cubanos. Para Raúl, a segurança econômica tornou-se uma parte crítica da segurança nacional. "O feijão é mais importante que o canhão", disse a soldados em 1994.

Desesperado para cortar custos, Raúl reduziu o número de militares de cerca de 300.000 em 1990 para cerca de 45.000 atualmente, de acordo com Frank O. Mora, um especialista em forças armadas cubanas da Universidade da Defesa Nacional, de Washington. Para revitalizar a economia, ele promoveu inovações, como feiras livres e a condição de autônomo para bombeiros, cabeleireiros e outros pequenos empreendedores.

À época, Fidel Castro autorizou relutantemente as mudanças, porque Cuba tinha pouca alternativa. Os irmãos Castro nomearam oficiais militares e de inteligência, que eram seus defensores de mais confiança e mais leais, para atrair capital estrangeiro.

Um estudo do Fundo Monetário Internacional em 2000 disse que as limitadas reformas promovidas por Raúl foram "instrumentais" em ajudar a recuperar a economia em meados dos anos 90. Mas então Fidel Castro reprimiu as reformas, argumentando que elas estavam enfraquecendo a revolução. A economia começou a estagnar novamente. Agora, Cuba depende de cerca de US$ 2 bilhões anuais em subsídios para combustível fornecidos pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e centenas de milhões de dólares de investimentos chineses em minas de níquel.