Translate

Mostrando postagens com marcador Corinthians. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Corinthians. Mostrar todas as postagens

07 setembro 2020

Corinthians e o nome do estádio

 Recentemente comentamos sobre a dívida do Corinthians. Ilustramos o texto com a seguinte figura:


Logo depois, o clube anunciou que tinha conseguido comercializar o nome do seu estádio com a empresa Hypera Pharma. Logo após o anúncio, as ações da empresa tiveram um aumento no preço:


Aparentemente o mercado entendeu que houve um ganho para a empresa. Basicamente:

O acordo com a Hypera Pharma renderá R$ 300 milhões pelos próximos 20 anos [para o Corinthians], R$ 15 milhões por ano, reajustados pelo índice IGP-M anualmente. O estádio deixa de ser Arena Corinthians para ser batizado como Neo Química Arena, laboratório do grupo. (Felipe Lobo, Trivela, 4 set 2020)

Talvez o fim não esteja tão próximo assim. Para o Corinthians. 

21 agosto 2020

A dívida do Corinthians

A revista Época traz uma reportagem sobre a dívida do clube de futebol Corinthians com a Odebrecht. Confesso que achei bastante confusa a reportagem, com um viés bem acentuado para o clube. O texto afirma que a dívida com a construtora deve "virar pó". Este passivo refere-se à construção do estádio e o valor ultrapassa a 1 bilhão de reais. Na realidade, o valor exato é questionável, conforme o próprio texto afirma: 

Em agosto do ano passado, o Conselho Deliberativo do Corinthians nomeou uma comissão para levantar o custo da obra. Essa comissão chegou ao valor total de R$ 1,030 bilhão de dívida com a construtora Odebrecht: R$ 985 milhões gastos na obra, mais encargos financeiros. (...) Um anos depois, no entanto, essa dívida enorme praticamente 'virou pó'.

A razão, segundo o texto, é a seguinte:

Para os representantes do clube, não parecia razoável nem correto contabilmente que a construtora mantivesse em seu balanço os créditos de R$ 1,030 bilhão, sem nenhuma perspectiva de serem quitados, já que a fonte de recursos para saldá-los era apenas e tão somente as receitas da arena, com valores muito abaixo do esperado. (...) Os créditos de R$ 1,030 bilhão seriam somente uma previsão não realizada. Tecnicamente, poderiam ser considerados créditos inexistentes e alocados em perdas e danos. Contabilmente deveriam ter sido classificados como um ativo contingente, na prática, uma conjectura. Sem a certeza e probabilidade de que fosse tornada real, tratava-se apenas de uma estimativa. Ela não se tornou concreta e, portanto, deveria ficar fora do balanço patrimonial, no entender de especialistas. Seria o chamado princípio da prudência, defendido por normas contábeis, a partir do artigo 49 da lei 11.101, de 2005, que regula a recuperação judicial, a extra-judicial e a falência de empresas, argumentavam os conselheiros.

Pelo meu entendimento do texto, o raciocínio é o seguinte: o Corinthians devia à Odebrecht 1 bilhão e esta dívida seria paga com os direitos de arena. Como a estimativa do valor dos direitos da área estava superestimada, "não existiria" o ativo na Odebrecht, nem o passivo no Corinthians. Nas palavras do texto:

Assumindo o erro de planejamento e a inexistência dos créditos, não havia mais os débitos da outra parte. Não havendo credor, não há devedor.

Isto faz sentido? 

Fonte da Imagem: aqui


12 maio 2017

Corinthians: exemplo para contabilidade?

O Sport Club Corinthians Paulista divulgou suas demonstrações contábeis no final de abril. Uma análise das demonstrações permite notar, de imediato, um aumento substancial nos seus ativos, de 1,351 bilhão para 2,164 bilhões, em razão dos contas a receber de longo prazo (mais 487 milhões) e imobilizado (mais 395 milhões). Ao mesmo tempo, aumentou o valor de receitas a realizar de longo prazo (mais 481), que representa, de certa forma, a contrapartida do contas a receber, e o ajuste de avaliação patrimonial (mais 407).

Em termos de resultado, destaca-se o substancial aumento da receita de futebol decorrente dos direitos de transmissão de TV (mais 90 milhões), que ajudou no superavit registrado e que reverteu o deficit de 2015.

O que chama atenção é realmente o imobilizado. O detalhamento da nota explicativa revela que ocorreu um aumento líquido de terrenos, de 79 milhões para 422 milhões, o que explica a grande variação no imobilizado. De onde surgiu estes valores? O aumento de terrenos teve como contrapartida a conta de ajuste de avaliação patrimonial, que como escrevemos anteriormente, aumentou em 407 milhões. Eis o que informa a demonstração:

Em 2016, a administração optou por fazer o ajuste de avaliação do seu patrimônio (edificações/terrenos) do Clube, através do laudo técnico de avaliação realizado em 05/12/2016 pela empresa Pontes & Peteado (sic) - Empreendimentos, Consultoria e Perícias Ltda, conforme demonstrado abaixo”


(Confesso que procurei pela empresa no cadastro do CFC e não localizei) Logo após o detalhamento, o clube informa o seguinte:

A administração do Clube optou por considerar o laudo patrimonial com a data de dezembro de 2016 para realização dos lançamentos em 31 de dezembro de 2016 e decidiu não retroagir para a data de adoção inicial da ITG 2003, aprovada pelo Conselho Federal de Contabilidade por meio da Resolução 1.429/2013 que previa os registros desses valores a partir de 1o. de janeiro de 2013, por entender que os esforços e custos envolvidos nesse trabalho excedem os benefícios proporcionados pelas novas informações para o ano de 2015. Por essa razão, não houve a reapresentação dos saldos do imobilizado em 2015, o que gerou o registro na conta do patrimônio líquido - Ajuste de Avaliação Patrimonial.


Entenderam? O clube não usou o deemed cost no passado, fez uma reavaliação em 2016 e resolveu não reapresentar as demonstrações, alegando a relação custo-benefício da informação. Afinal, a reavaliação adicionou somente 422 milhões ao ativo do clube ou 31% a mais em relação ao ativo existente no final de 2015. Observe que estamos usando o termo reavaliação.

Auditor - A empresa Parker Randall Brasil foi a responsável pela auditoria do clube. E fez um relatório com ressalva, informando o seguinte:

Conforme mencionado (...) o Clube contabilizou a reavaliação de determinados bens do ativo imobilizado ao seu valor justo (...) tendo como contrapartida a rubrica “Ajuste de avaliação patrimonial” no patrimônio líquido. A contabilização dessa reavaliação está em desacordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil (Pronunciamento Técnico CPC 27 - “Ativo Imobilizado”. Consequentemente em 31 de dezembro de 2016, o saldo do imobilizado e do patrimônio líquido (...) estão apresentados a maior em R$407.738 mil cada.


Ou seja, o auditor foi direto ao ponto e indicou que o clube fez uma reavaliação. Mas não foi somente isto. O auditor aponta dois outros fatos que ajudaram na ressalva. O primeiro é a falta de confirmação dos saldos ou circularização. Quando um auditor faz seu trabalho, ele espera receber a informação dos credores e devedores sobre os valores informados pelo clube. Pois a empresa não conseguiu confirmar estes valores, de assessores jurídicos e de pessoas jurídicas. E isto inclui patrocinadores, como Caixa Econômica e Nike, além da rede de televisão (TV Globo). Ou seja, as maiores entidades que apoiam o clube não confirmaram os valores envolvidos nesta relação. Finalmente, os auditores tiveram dúvidas relacionadas com o fundo de investimento relacionado com a construção do estádio do clube. O clube registrou o estádio como cotas de investimento, mas existem dúvidas sobre a questão jurídica e seus valores.

Exemplo - Há anos venho comentando que o Corinthians é um exemplo de apresentação das demonstrações contábeis num clube de futebol. Não mais, depois destas demonstrações contábeis com ressalva. O que temos aqui parece mais um exemplo de um relatório dos auditores independentes, que indica os pontos cruciais, sendo preciso na indicação para o usuário externo dos motivos da ressalva.