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13 março 2016

História da Contabilidade: Contadores e Política

Já mostramos em postagens anteriores diversos momentos ao longo da história da contabilidade no Brasil a ligação com a política. Nunca é bom lembrar que durante a fase do Brasil Colônia a grande divulgação contábil deve ter ocorrido durante o domínio holandês no Nordeste. Conforme já comentamos anteriormente, o príncipe de Nassau implantou da Holanda e suas colônias a contabilidade pelo método das partidas dobradas.

Somente com a ruptura política provocada pelo Marques de Pombal foi possível a criação da Escola de Comercio, que por sua vez permitiu a tradução da obra de Pacioli, séculos depois de sua publicação.

Durante o Brasil Império uma das classes que tinha direito a voto era os guarda-livros. A criação da associação destes profissionais foi pioneira. Anos depois, a proclamação da república permitiu a efetiva implantação do método das partidas dobradas na área pública. Isto ocorreu no início do século.

É bom lembrar que o primeiro grande encontro de profissionais da área ocorreu na década de vinte do século XX, com o apoio de um senador da república. Anos depois, durante a revolução constitucionalista, as entidades de classe dos advogados e guarda-livros da província de São Paulo se uniram para apoiar a revolta. Já no final do governo Vargas alguns profissionais apoiaram o governo explicitamente em troca de uma possível criação de uma associação de classe. Esta criação só ocorre na fase da democracia, durante o governo Dutra. Mas o primeiro presidente do Conselho Federal de Contabilidade era um funcionário do Ministério do Trabalho, escolhido pelo governo.

Os profissionais contábeis, através de suas entidades, foram discretos, para não dizer omissos, no processo de redemocratização. Apoiaram os planos econômicos, tentando ajustar as normas contábeis aos planos econômicos mirabolantes. Foram discretos, novamente, na discussão sobre o fim da correção monetária dos balanços. E nos anos recentes apoiaram a mudança ocorrida na política brasileira a partir de 2003. Em certos momentos chegou a circular boatos que um ex-presidente do CFC seria indicado para ministro no governo da Dilma Rousseff. No governo anterior, a proximidade de um contador com o presidente permitiu a aprovação rápida da Lei 11.638. E tentou forçar a adoção de um sistema de custo no governo federal, sem sucesso.

Recentemente, quando um ex-candidato chamou a política fiscal do governo de contabilista ocorreu uma reação exagerada por parte da entidade de classe, com uma nota de desagravo. Mas durante todo o processo de pedaladas fiscais nenhum comentário.

Neste domingo tivemos uma grande manifestação popular. Qual a posição da sua entidade de classe? (Leia-se conselho federal, conselho regional e sindicato) (será que a opção é pela omissão?)

7 comentários:

  1. Qual a sua definição de "popular"? E por que deveria uma associação profissional, que congrega interesses de indivíduos com as mais diversas convicções políticas, tomar posição em relação a movimentos de caráter nitidamente partidário?

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  2. Discordo quando afirma que a manifestação teve caráter partidário. O ato de domingo foi o maior já registrado, conforme afirmam os dados do Datafolha e Polícia Militar. Isto é um sinal de que se trata de um assunto relevante para sociedade. Uma associação profissional deveria ficar inerte diante da situação do país? Acredito que não.

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    1. Toda hora falavam em manipulação de livros contabeis e não vi ninguém entrando nesse assunto.

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    2. Considerando os dados do Datafolha sobre o perfil dos manifestantes, "popular" é um termo que eu não usaria para descrever as manifestações de ontem.

      Quando manifestantes vestem camisas com o escudo da CBF para protestar contra a corrupção, aliados a figuras como Agripino Maia, Eduardo Cunha, Ronaldo Caiado, celebrando efusivamente representantes do que há de mais retrógrado na sociedade brasileira, como Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, sem se envergonhar de ter a seu lado quem peça a volta da ditadura, vejo-me forçado a concluir que há um caráter eminentemente partidário em tais manifestações: é gente que se indigna com as mazelas de apenas um dos lados do espectro político.

      Mas revendo minha posição, acho que a partir do momento em que sedes de partidos políticos e entidades estudantis começam a ser vandalizadas, que entidades sindicais passam a sofrer batidas de forças policiais, que segmentos do aparelho estatal passam a atropelar o Estado de Direito para perseguir adversários políticos, caberia sim a uma associação profissional manifestar-se em defesa da manutenção da ordem democrática.

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    3. Mas aí vocês se esquecem do mais interessante: nosso Presidente CFC (e esposa, ex-Presidente CFC) não estão na lava-jato mas tem a podridão da corrupção impregnada. Temos um presidente condenado por fraude no poder. Dizer que a nossa classe profissional é submissa ainda é ser bem educado.

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  3. Postagem muito bem escrita. Gostei demais. Parabéns ao autor e ao blog.

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