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10 agosto 2013

Caça ao efeito Eike

A temporada de balanços e teleconferências de bancos deste segundo trimestre teve um ingrediente adicional: a caça a eventuais estragos deixados por empréstimos concedidos às empresas do grupo EBX, controlado por Eike Batista.

A busca - que não é uma tarefa fácil, por causa do sigilo bancário - encontrou vestígios. Mas nada que tenha abalado os gigantes do sistema financeiro local.

Embora as empresas X não tenham atrasado o pagamento de seus empréstimos (até onde se sabe), os bancos são obrigados a constituir provisões para perdas mesmo antes disso, em caso de evidências da piora da qualidade de crédito de cliente.

Indo além dos releases de resultados (onde costuma parar a maioria dos investidores) e fazendo uma leitura detalhada de notas explicativas e dos relatórios de administração completos, foi possível notar uma piora nas carteiras voltadas para grandes empresas tanto do Itaú como do Bradesco, tidos como os mais expostos ao grupo EBX.

No caso do BTG Pactual, a constituição de provisões no segmento de empréstimos corporativos não teve qualquer alteração. E os executivos disseram abertamente que "não esperam eventos negativos vindos do grupo EBX" que possam ter impacto no balanço da instituição.

Segundo o BTG, sua maior exposição está na MPX, empresa de energia, que tem a melhor estrutura de capital entre as companhias X e que tem agora a alemã E.ON como maior acionista, dividindo o controle com Eike. Olhando o histórico recente das provisões do BTG, o principal movimento relevante de piora da qualidade de crédito ocorreu no terceiro trimestre do ano passado, quando a carteira com rating "E", que exige provisão de 30% do saldo, subiu de R$ 71 milhões para R$ 536 milhões. Contudo, não é possível identificar o motivo.

O Itaú não foi tão direto quando o BTG sobre Eike Batista. Disse apenas que o aumento de 39% das despesas com provisões para perdas em empréstimos no banco de atacado (que reúne operações com grandes empresas) ante igual trimestre do ano passado, para R$ 1,02 bilhão, não se deve a um risco sistêmico, mas a "casos específicos".

Analistas ficaram intrigados com uma reclassificação de rating feita pelo Itaú, que moveu cerca de R$ 30 bilhões da carteira com nota de risco "A", que exige provisão de 0,5%, para a carteira "AA", a mais alta, que não exige nenhuma provisão. O efeito da mudança seria positivo em R$ 150 milhões no resultado.

Embora não tenham sido explícitos nas perguntas, analistas e investidores queriam saber se a melhora na avaliação de parte da carteira de crédito teria sido feita para anular a deterioração de outra parcela do portfólio, esta ligada às empresas de Eike Batista. Mas o Itaú garantiu que não.

O diretor de relações com investidores do banco, Rogério Calderón, disse ao Valor que foi feito "um aprimoramento no sistema de avaliação das garantias" nas linhas de financiamento de veículos, crédito imobiliário e empréstimos para pequenas e médias empresas. Nos casos em que o valor atualizado da garantia superava o saldo a receber, houve uma elevação do rating. Quando o colateral estava inferior ao valor registrado no balanço, houve rebaixamento.

Embora admita que a migração dos R$ 30 bilhões para o rating "AA" teria efeito positivo no resultado, Calderón ressalta uma mudança de aproximadamente R$ 900 milhões do rating "D" para o "E", que teve efeito contrário e praticamente anulou o impacto. Nesse caso, de "D" para "E", a provisão precisa subir de 10% para 30% do valor total, com impacto negativo de R$ 180 milhões. "O efeito total líquido, considerando essas e outras reclassificações menores, é imaterial", disse ele.

No caso do Bradesco, foi possível notar um aumento de R$ 2,4 bilhões entre março e junho nas operações com nota "D", que exigem provisão de 10%, dentro da carteira de grandes empresas. Em junho, esse rating passou a representar 2,5% do total de empréstimos para o segmento corporativo (que costuma ter inadimplência baixa), ante uma fatia de apenas 1% em março e que costuma se manter abaixo disso.

Chama atenção que o Bradesco, assim como o principal rival, também fez uma reclassificação que fugiu ao padrão histórico nas notas de crédito de alguns empréstimos no segundo trimestre. Houve redução de R$ 7 bilhões nas operações com rating "C", e de outros R$ 4 bilhões com nota máxima "AA", enquanto subiram os empréstimos com notas "A", "B" e "D".

Em nota, o diretor executivo do Bradesco, Luiz Carlos Angelotti, disse que a qualidade dos ativos é avaliada mensalmente e que tanto operações específicas como grupos de operações "têm seus riscos agravados ou melhorados, conforme as novas informações que estão sendo capturadas no mercado, ou mesmo pelo aprimoramento das nossas ferramentas de análise". Segundo ele, "o efeito líquido em resultados desses procedimentos foi irrelevante".

Caça a "efeito Eike" nos balanços encontra apenas vestígios - Fernando Torres - Valor Econômico - 09/08/2013

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