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09 janeiro 2013

Os dez maiores erros na citação


Quando Nash apresentou seu texto revolucionário de teoria dos jogos, o economista estadunidense usou duas citações. Nos dias de hoje isto seria impensável: um texto com menos de cinco referências dificilmente seria aceito num congresso ou periódico. Assim, temos artigos que exageram nas citações, pecando às vezes pelo excesso. A lista a seguir começou com sete erros. Depois que escrevi os sete pecados num guardanapo e estava preparando para fazer este texto, eu percebi que estava incompleta e acrescentei mais três problemas.

Os problemas apresentados a seguir são baseados na minha experiência como leitor de artigos, avaliador e professor.

1 – Maiúscula e minúscula – infelizmente temos que respeitar as normas de citações. E estas normas muitas vezes não fazem muito sentido. A norma de citação brasileira diz que um autor citado ao longo de uma frase deve ser escrito em letras minúsculas; se não citamos o autor na frase, mas o mesmo foi fonte do pensamento, o nome deve estar entre parêntese, em letras maiúsculas. Veja os exemplos:

Segundo Paes (2011), a norma da ABNT é uma grande bobagem.
A norma da ABNT é uma grande bobagem (PAES, 2011)

As duas frases são similares e mostram quando devemos usar maiúsculas e minúsculas. Realmente isto é uma grande bobagem da ABNT, a responsável pelas normas de citação no Brasil, mas os avaliadores consideram isto na sua análise.

2 – Esquecer o nome do co-autor (também conhecido como erro Van Breda) – Em obra de dois ou mais autores supõe-se que os mesmo ajudaram a escrever o texto. Assim é necessário citar todos os autores. Já analisei artigo onde o segundo autor, certo Silva, num livro de capital de giro, não foi citado, apesar de ter sido responsável por muitas linhas do livro. Obviamente fiquei chateado com o grande esquecimento. Neste ponto, o grande campeão na área de contabilidade é Van Breda. Assim, devemos citar

Para Hendriksen e Van Breda (1999) nunca devemos esquecer o nome do co-autor

3 – Não saber usar apud e et alii – Estas duas expressões de origem latinas são fontes de grande confusão. O apud é usado quando pegamos uma citação de outro autor, não tendo consultado a fonte original. Isto pode ocorrer quando não temos acesso à obra. A ordem é citar o autor original primeiro, ligado por um apud – em itálico – ao autor onde você encontrou o texto. Desta forma:

Pacioli apud Niyama e Silva (2011) afirmou que o dono deve contabilizar todos os eventos

Já o et alii  indica a existência de vários autores. A maior confusão é imaginar que seria et alli com dois “eles”. Para evitar o risco, cite et al. Eis um exemplo:

Segundo Sales et alii (2012) a contabilidade é divertida

4 – Página – Em algumas ocasiões gostamos de citar um autor de maneira literal. Neste caso devemos usar as aspas e indicar a página onde o texto foi encontrado. Quando a citação não é literal, não é necessária a página. Eis dois exemplos;

Segundo Correia (2012, p. 1), “o universo contábil é diversificado”.
Para Correia (2012) o mundo contábil é diversificado.

Ambas as frases dizem aproximadamente a mesma coisa. Na primeira, uma citação exatamente como estava no texto original, merece aspas e a página.

5 – Citação e referências – este é um erro muito comum. Todo trabalho citado ao longo do texto deve constar das referências e aquele que estiver nas referências deve ter sido citado no texto. De outra forma, um autor citado ao longo do seu texto não deve estar ausente das referências (afinal, queremos saber detalhes da obra) e um item constante da referência deve ter sido usado no trabalho. Este tipo de erro é muito comum nos trabalhos que passaram por uma intensa revisão.

6 – Citar um nome errado – se você tiver o azar do seu trabalho ser avaliado pela vítima do seu erro, ou de alguém próximo a ele, este erro será muito grave. Além disto, se for um nome amplamente conhecido na área, o erro também poderá ter consequências. Revise o nome que consta do livro ou do artigo para ter certeza que não cometeu este engano. Na nossa área é muito comum encontrar frases como:

Lidicibus (1997) afirmou que o pesquisador merece respeito.

7 – Citar uma obra pouco relevante sobre o assunto – se você estiver fazendo um trabalho sobre a história dos negócios durante a segunda guerra não faz sentido citar uma obra genérica como História do Brasil Resumida. O assunto é muito específico e merece uma citação como O Brasil e a II Guerra, por exemplo. Uma obra genérica pode ser relevante para você tomar conhecimento do assunto, mas você não precisa dizer isto para seu leitor. No passado este tipo de erro deveria ser conhecido como Manual da Fipecafi: esta obra – excelente, por sinal – era muito citada nas dissertações e teses da USP. Mas provavelmente é muito genérica para merecer tanta citação. Outra forma de cometer este erro é usar um pequeno trecho de um artigo cujo foco não é aquele. Por exemplo:

Para Moraes (2008), a contabilidade é a ciência da informação.

E o trabalho de Moraes é algo como “Fluxo de Caixa Descontado”. Ora, Moraes não fez uma grande reflexão sobre o que é a contabilidade; simplesmente fez esta afirmação “de passagem”. Quando citamos estamos usando o “argumento de autoridade”. Este tipo de erro é uma falha neste argumento: o que citamos não é a melhor autoridade sobre o assunto.

8 – Deixar de citar um trabalho seminal – o trabalho seminal é aquele que mudou a área que você está escrevendo. Se você estiver fazendo um texto de finanças comportamentais, provavelmente você deverá citar Kahneman e Tversky e os trabalhos que mudaram o que pensamos sobre o assunto da década de 70. Mas atenção: não seja muito genérico; não é necessário citar a obra de Freud, por exemplo.

9 – Colocar palavras na boca do autor que ele não disse – Ao ler um trabalho e traduzir as principais ideias, muitas vezes distorcemos a visão do texto. A citação que usei no item 2 é um exemplo disto: obviamente eles não disseram isto no livro.

10 – Não citar – depois de tantos problemas, talvez a melhor solução fosse não citar. Mas este é o mais grave dos erros. Isto inclui não reconhecer que não lemos as obras originais – erro do universitário que não lê as obras obrigatórias para o vestibular, mas sim os resumos – ou que aquela ideia não é nossa. Considero este um erro gravíssimo, sujeito a “fogueira da inquisição” na acadêmica. É roubo, desonestidade. Não perdoo este tipo de erro.

Quais os erros mais comuns? Acredito que o uso errado de maiúsculas e minúsculas, a falta de sincronia entre os autores citados ao longo do texto e aqueles que constam das referências e a citação de uma obra com pouca aderência sobre o assunto. 

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