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25 abril 2011

Buffett e o modelo moral

O bilionário Warren Buffett tem sido um modelo para muitas pessoas, inclusive em termos morais. Em geral suas atitudes são elogiadas pela transparência com que conduz seus negócios. Recentemente um diretor saiu da sua empresa sob a suspeita de utilização de informação privilegiada. Um artigo de Jonathan Weil, da Bloomberg (Buffett mostra que está longe de ser um modelo moral) questiona o comportamento do investidor e faz um resumo de alguns problemas passados. Eis o trecho:

Buffett, cujo histórico em termos de arranhões de reputação é longo e variado, não é exceção.
 Ele estava no comitê de auditoria do conselho de administração da Coca-Cola quando a SEC descobriu que a empresa tinha ludibriado os investidores sobre seus lucros durante a década de 1990. Ele silenciou sobre a Moody's quando ela enganou a opinião pública com incontáveis notas AAA para todo aquele lixo de bônus de crédito imobiliário "subprime", quando a Berkshire era sua maior acionista.
 Quatro ex-executivos da divisão Gen Re da Berkshire receberam sentenças de prisão por ajudar o American Internacional Group (ING) a cometer fraude contábil uma década atrás. Pelo menos nesse caso, depois que a Gen Re pagou US$ 92 milhões, no ano passado, para encerrar com acordo denúncias dos investidores e pôr fim às investigações do governo, Buffett reconheceu publicamente que a empresa tinha feito coisa errada.
 E qual será, na verdade, o grau de importância que o conselho de administração da Berkshire atribui ao uso de informações privilegiadas por pessoas de sua confiança, afinal?
 A empresa manteve a Deloitte & Touche como sua auditoria externa depois de saber, em 2008, que o vice-presidente da Deloitte comprou e vendeu freneticamente ações da Berkshire quando era um dos sócios consultivos na auditoria da Berkshire. Isso fez com que a Deloitte e a Berkshire infringissem as normas da SEC sobre a independência dos auditores, disse o órgão no ano passado.
 Em vez de mudar de empresa, no entanto, a Berkshire concluiu que a Deloitte era independente, de qualquer maneira. A SEC aceitou isso, o que, em última instância, era o que interessava, e não alguma virtude maior da Berkshire em manter aparências impolutas. (O ex-sócio da Deloitte pagou no ano passado cerca de US$ 1 milhão para encerrar com acordo as acusações de fraude interpostas pela SEC.)
 Às vezes as grandes mentiras da Berkshire são mais sutis. A última declaração para voto por procuração da empresa arrola Bill Gates, presidente do conselho de administração da Microsoft, como um conselheiro "independente", embora Buffett tenha comprometido a maior parte de sua fortuna de US$ 47 bilhões com a Fundação Bill & Melinda Gates. Isso pode estar certo pela definição de "independente" da SEC, mas não pelos padrões do senso comum.
 Outro conselheiro supostamente independente é Walter Scott, que detém 9,4% das ações com poder de voto na MidAmerican Energy Holdings, subsidiária da Berkshire, da qual Sokol está pedindo afastamento como presidente do conselho de administração. A declaração para voto por procuração da Berkshire nos assegura que essas questões foram devidamente examinadas.
 A Berkshire encaminha milhões de dólares de honorários, todos os anos, para a Munger, Tolles & Olson, o velho escritório de advocacia do vice-presidente de seu conselho de administração, Charlie Munger, onde o diretor da Berkshire Ronald Olson é um dos sócios. Entre os demais conselheiros estão o filho de Buffett, Howard. Na maioria das empresas com ações negociadas em bolsa esses acordos seriam tidos como exemplos de má governança. Pelo fato de se tratar de Buffett, a Berkshire normalmente tem salvo-conduto.
 Existe um parâmetro pelo qual Buffett, de 80 anos, tem sido enormemente bem-sucedido: "No caso da Berkshire, lhe dissemos muito tempo atrás que nossa tarefa é aumentar o valor intrínseco por ação a uma taxa superior ao aumento (incluindo dividendos) da S&P 500", escreveu Buffett em sua mais recente carta anual aos acionistas.
 Isso, ao lado de encontrar um sucessor capacitado, é o padrão pelo qual os investidores deveriam julgá-lo e vão julgá-lo. Alguém que esteja à cata de um herói para idolatrar deve procurá-lo em outro lugar. 

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